o anuncio do messias no profeta miqueias
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Estudo 8: O Anúncio do Messias no Profeta Miquéias
Tercio Machado Siqueira
Suely Xavier dos Santos
Texto bíblico: Miquéias 5.2-4 O anúncio do messianismo continua a percorrer as páginas da Bíblia, principalmente na
literatura profética, e neste estudo veremos como este pronunciamento é feito através do
profeta Miquéias. Este profeta reforça a expectativa messiânica em uma outra
perspectiva, a saber, do campo. Neste sentido, a profecia aponta para um novo olhar
sobre quem seria o salvador por excelência, ou o messias. Vamos observar um pouco
mais de perto a vida do texto.
A vida do texto
Cenário histórico
Miquéias, cujo nome significa quem é como Javé, foi o último profeta bíblico do século
VIII a.C. Natural de uma aldeia da região do Sefelá, em Judá, chamada Morasti-Gati
(1.1; Jr 26.18) localizada a 35 km oeste de Jerusalém. Miquéias profetizou durante os
reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá (1.1), o que remonta ao período de 722
a 701 a.C. O contexto da palavra profética de Miquéias é a queda de Samaria (722 a.C.),
o agressivo e inescrupuloso domínio assírio e as demonstrações de infidelidade do povo
israelita. Além disso, ele também falou sobre o Messias que haveria de salvar o povo.
Miquéias foi um profeta contemporâneo de Isaías. Havia, porém, uma diferença entre
eles: o contexto político-social. Isaías atuava na cidade de Jerusalém. Por outro lado,
Miquéias vivia e profetizava no campo, isto é, nas regiões do interior de Judá. Vem
desse profeta o anúncio esperançoso da vinda de um Messias. Miquéias não citou,
diferentemente de Isaías, o nome Imanuel, mas sua esperança girava em torno da figura
deste que chegaria para salvar o povo. Apesar de sua proximidade com Isaías, no tempo
e no espaço, Miquéias divergiu em um ponto fundamental na interpretação do messias.
Ele caracterizou o messias de uma maneira singular, bem próxima da tradição dos
moradores do interior de Judá. Ele insistiu em caracterizar o messias como um pastor:
ele governará... ele se erguerá e apascentará o rebanho com a força de Javé... e este
será a paz (Mq 5.2-4a.
As expressões empregadas pelo profeta caracterizam o messias com uma nova
roupagem. Enquanto o povo de Jerusalém esperava um messias guerreiro (conforme o
Salmo 2), Miquéias define-o como um governo que carrega os dons da sabedoria para
governar. A raiz hebraica do verbo governar é mxl, governar, é a mesma do substantivo
maxal, dito de sabedoria. Porém, o sentido mais significativo que Miquéias dá para o
messias é a ação de apascentar o rebanho pela força de Javé, e não pela atuação do
exército (v. 3). Os verbos hebraicos maxal, governar, e ra´ah, pastorear, estão em
paralelos. Na poética hebraica, este paralelismo denota sinônimo. A intenção do profeta
fica mais clara quando ele completa o seu pronunciamento sobre a ação do messias: este
trará paz (v.5a).
O evangelista Mateus tomou esta perícope de Mq 5.2-4 para completar outras
informações sobre o messias e para compará-lo a Jesus: o messias nasceu em Belém
Efrata (v.2; Mt 2,6; Jo 7,42). Esta informação é importante para a legitimação do
messias-pastor (Jo 10,11).
Enquanto em Miquéias 5.3, há a representação do messianismo do campo como aquele
que “apascentará o rebanho pela força de Javé, pela glória do nome de seu Deus”, em
Isaías 9.5 a criança surge para que a justiça e o direito sejam estabelecidos num
ambiente de paz proporcionado pelo próprio Javé. Assim, o texto apresenta o fato de
que Javé é o provedor de um novo tempo, no qual o messias surge, para dar
continuidade aos projetos salvíficos de Deus para seu povo. Observe o texto de
Miquéias 5.2-4:
2) E tu, Belém-Éfrata, pequena entre os clãs de Judá,
De ti sairá para mim aquele que governará Israel. Suas origens são de tempos antigos, de dias imemoráveis.
3) Portanto, o Senhor os entregará até o tempo em que a que está em dores tiver dado à luz; então, o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
4) Ele erguerá e apascentará o rebanho pela força de Javé, pela glória do nome de seu Deus. Eles se estabelecerão, pois então ele será grande até os confins da terra.
É interessante ver que Miquéias continuava afirmar que o Messias veio de Belém e que
ele possuía as características de um pastor. Assim, crescia e fortalecia a esperança de
um governo justo que conduziria o povo com um cajado de pastor, negligenciando o uso
do cetro de ferro. Esse pronunciamento do profeta sugere que havia uma forte tensão
entre os que esperavam um messias guerreiro que comandaria a nação com o cetro de
ferro e os que aguardavam um messias que viesse governar o povo com as
características de um pastor. Para o profeta Miquéias, o novo tempo esperado marcará o
fim do sofrimento. A característica desse novo tempo messiânico será o governo de paz.
Na perspectiva do profeta Miquéias, o Messias seria um condutor para a vida plena,
através do pastoreio e do cuidado em favor do povo. Este cuidado acontece pela força
do Senhor, e não por sua capacidade bélica. Isso demonstra a confiança que o Messias
teria em Deus. Assim, esta profecia marca uma nova perspectiva em relação a tradição
messiânica israelita, pois, se antes, o messias viria para guerrear em nome de Deus e
vencer os inimigos para trazer paz sobre Israel, agora, ele vem para apascentar o povo
na força do Senhor.
O texto na vida
Como vimos, a tradição messiânica de Miquéias, em Judá, difere da tradição messiânica
de Isaías, em Jerusalém. Porém, é importante observar que há um ponto de
convergência entre estas duas tradições: trata-se do Messias que vem para a paz.
Miquéias e Isaías anunciam a chegada de um novo tempo a partir do surgimento do
Messias. O Novo Testamento compreendeu muito bem esta questão messiânica, fazendo
uma releitura tanto de Isaías, quando relata que seu nome será Imanuel (Mt 1.23), e de
Miquéias, ao descrever o lugar de nascimento de Jesus: E tu, Belém, terra de Judá... (Mt
2.6). Porém, o que sobressai é a figura do Messias-pastor (Jo 10.11), e Jesus se auto-
intitula: Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.
Às vezes, nós nos esquecemos da dimensão do pastoreio que a comunidade também
deve desenvolver. E isso nos faz lembrar que Jesus, ao enviar seus discípulos, manda-os
ir, fazer discípulos, batizar e ensinar (Mt 28-18-20). O Messias-Cristo, assim, os
comissionou para continuar sua missão. Somos, portanto, responsáveis igualmente pelo
pastoreio da comunidade do Senhor, do cuidado mútuo para que haja vida plena.
Para refletir:
1. Como temos vivenciado a expectativa messiânica em nossos dias?
2. A Igreja, como um todo, também tem que desenvolver o cuidado pastoral. Como
podemos, na prática, demonstrar que o Messias-Cristo nos enviou para
pastorear seu rebanho? Que atitudes demonstram este pastoreio?
3. Para praticar: combine com o grupo de estudo a prática de pastoreio no
decorrer da semana através da vida de Jesus (seja visitando doentes,
encarcerados, anunciando as boas-novas... enfim realizando atividades que
demonstrem e vivenciem a dimensão do cuidado).
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