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Homeopatia
Profa. Rosa Fátima de Oliveira RodriguesUniversidade São Francisco – Bragança Paulista
O Nascimento da Homeopatia
“ É impossível compreender o presente sem que se conheça o passado” – Goethe
Visão do contexto médico na época Século XVIII = pensamento médico dividido entre 2 correntes:
Mecanicistas percepção do organismo humano como uma máquina,
relacionando a doença com alterações fisiológicas e com foco para as áreas de anatomia, fisiologia e posteriormente bioquímica
Vitalistas entendiam a doença como sendo provocada por um desequilíbrio
da energia vital do ser vivo e definiam energia vital como aquilo que animava um ser vivo, ou seja, aquilo que lhe conferia a vida
Estas duas correntes de pensamento refletiam tradições provenientes da medicina grega primitiva, através das escolas médicas de Cnido e Cos, cada uma com concepções filosóficas e condutas médicas diferenciadas
Escola Médica de Cnido a patologia e a terapêutica eram de índole localizada, com
o que faziam uso de um raciocínio médico mais analítico e estabeleciam terapêutica mais intervencionista que expectante
Escola Médica de Cos (onde pontificou Hipocrates (460-375 a.C.))
interpretava as doenças dentro do quadro específico e peculiar de cada paciente, abordando-o como uma totalidade indivisível, apoiando a terapêutica mais nas reações defensivas naturais, que eram respeitadas
Atribui-se a Hipocrates a sistematização dos três grandes princípios de cura que se mantêm ainda até os dias atuais:
Contraria contrariis curantur os contrários são curados pelos contrarios, base da
terapêutica medicamentosa galênica (origem da atual alopatia)
Similia similibus curantur os semelhantes são curados pelos semelhantes, base da
terapêutica medicamentosa homeopática
Vis naturae medicatrix a força curativa da natureza, o poder do organismo de
acionar seus mecanismos de defesa sem nenhum auxílio exterior, favorecendo uma conduta expectante
Sinteticamente:
para a escola de Cnido - havia doenças que precisavam ser tratadas
para a escola de Cos - havia doentes e não doenças
Várias idéias fantasiosas sobre como se originam as doenças no interior dos indivíduos levavam a prática médicas nocivas e prejudiciais aos pacientes
Era a época da chamada “ medicina heróica”, que adotava a estratégia de provocar a eliminação dos venenos internos através do aumento das diversas excreções orgânicas
Formas de tratamento: (por + de meio século = 1780-1850 ensinada em todas as escolas médicas do EUA e muitas
da Europa) Sangrias (sanguessugas, ventosas ou secção das veias) Prescrição de substâncias muito tóxicas
Calomelano (HgCl2 ) = atuaria como purgativo e emético Substâncias cáusticas e irritantes sobre a pele = vesiculação – supuração
George Washington, falecido em 1779, “seguramente curado” pela intervenção médica da época
Neste ambiente, que o médico alemão, Samuel Hahnemann (1755-1843) inicia, em 1779, a sua prática médica, após se formar em Erlangen, Viena
De 1780 a 1789, Hahnemann também prescrevia diarréicos e eméticos como calomelano e arsênico.
Aos 34, com diversas publicações sobre química, medicina preventiva e patologia, membro de sociedades científicas médicas e dono e clientela que cada dia crescia mais
Em 1789 abandona a profissão médica e passa a viver como tradutor de obras científicas nas áreas de química e medicina
família humilde – filho de mestre vidreiro, dominava alquimia casou-se com a filha de um farmacêutico – aprendeu a dominar técnicas
farmacêuticas da época traduziu livros de grandes expoentes da química e medicina da sua época –
dominava vários idiomas (grego, latim, inglês, francês, árabe, hebraico, espanhol, italiano)
Hahnemann
dotado de capacidade muito acurada de observação e senso crítico muito pronunciado
extremamente obstinado e decidido naquilo que acreditava dominava vários idiomas lia muitos documentos e revistas médicas de sua época,
ampliando seu campo de conhecimento
A homeopatia começou a nascer quando Hahnemann realizava a tradução da Matéria médica, de Cullen – livro onde o autor descrevia as principais substâncias então em uso na prática médica e tentava explicar o mecanismo de ação delas
Hahnemann discordou da explicação dada para a ação da quina e movido pela sua curiosidade e intuição, decidiu realizar o experimento em si mesmo ingerindo a quina diariamente, em doses recomendadas na sua época
Sensível a quina, observa atentamente todos as modificações que se seguiram à ingestão da droga e conclui que os sintomas resultantes da intoxicação a que se submetera eram bastantes semelhantes aos sintomas da malária, para cujo tratamento a quina era medicamento de eleição
Segue rigorosamente os conselhos do grande fisiologista e botânico Albrecht von Halleer, que já havia preconizado em livro traduzido por Hahnemann a necessidade de estudar em homem aparentemente são antes de ser prescrito ao doente
Repetiu novamente a experimentação e estendendo-a depois a outras substâncias como beladona, mercúrio. A digital, o ópio, o arsênico e mais 13 medicamentos de uso corrente na época.
Após 6 anos de constante experimentações, em si mesmo e no seus familiares - Hahnemann publica em 1796 – um Ensaio sobre um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das substâncias medicinais, seguida de alguns comentários a respeito dos princípios aceitos na época atual, na mais importante revista médica em língua alemã de sua época, o Jornal de Hufeland
Estava aberto o caminho para uma das mais influentes controvérsias do mundo médico da época, e que ainda persiste até os nossos dias
O ano de 1796 marca, portanto, o nascimento da homeopatia, embora Hahnemann só viesse a chamar o seu sistema de tratamento médica desta forma alguns anos mais tarde, para diferenciá-lo da prática medicamentosa abusiva, agressiva e pouco eficaz do seu tempo, a que denominou de alopatia
Em 1810 publicou o Organon da arte de curar – onde expõe as bases filosófica e metodológicas da homeopatia – (6 ed. – última póstuma)
De 1811 a 1821 publica suas experiências com 67 substâncias diferentes (6 v.) sob o título Matéria médica pura
Em 1828 publicou o Tratado das doenças crônicas
“ O privilégio do gênio é o de se antecipar ao seu tempo”
Foi muito criticado e perseguido
Aos 80 anos (1835) quando se transferiu da Alemanha para a França, os médicos franceses quiseram impedí-lo de exercer a medicina
Guizot – ministro de Luís Felipe escreveu à Academia de Medicina na França:
“ Hahnemann é um sábio de grande mérito. A ciência deve ser para todos. Se a homeopatia é uma quimera ou um método sem valor própria, ela cairá por si mesma. Se é, ao contrário, um progresso, expandir-se-á apesar de todas as medidas contrárias, e a Academia deve desejá-lo antes de qualquer outra, ela que tem por missão impulsionar a ciência e encorajar as descoberta”
(E aí está a homeopatia com mais de 200 anos)
Os fundamentos da homepatia
Homeopatia é uma terapêutica médica que consiste em curar os doentes valendo-se de remédios preparados em diluições infinitesimais e capazes de produzir no homem aparentemente sadio sintomas semelhantes aos da doença que deve curar num paciente específico.
Com este conceituação pode-se distinguir os seus três fundamentos básicos:
Princípio ou lei da semelhança Experimentação no homem sadio Ação de diluições infinitesimais (Medicamento único)
Princípio ou lei dos semelhantes
“Similia similibus curentur” = os semelhantes sejam curados pelos semelhantes: este é o princípio básico e alicerce maior da terapia homeopática
enunciado por Hipócrates, pai da medicina, tida como válida por Paracelsus e admitida por muitos antes de Hahnemann, somente veio a ser convenientemente entendido e aplicado a partir dos trabalhos dele
“Qualquer substância capaz de provocar em um homem são, porém sensível, determinados sintomas (físicos e mentais) é capaz de curar, em doses adequadas, um homem que apresente um quadro mórbido semelhante, com exceção das lesões irreversíveis”
Experimentação no homem sadio
“Consiste na administração repetida de uma única substância medicinal e o registro de todos os sintomas provenientes de sua administração, criteriosa e precisamente observados”
Também chamada experimentação patogenética, homeopática ou pura
Patogenesia É o conjunto de sinais e sintomas, objetivos (físicos) e subjetivos
(emocionais e mentais), que um organismo sadio apresenta ao experimentar determinada substância medicinal
Simillimum: é o “remédio” que abrange a totalidade dos sintomas de um homem doente, ou seja, aquele medicamento cuja patogenesia melhor coincide com os sintomas apresentados pelo doente.
Matéria médica É constituída pelo conjunto das patogenesias. São incluídos os
sintomas extraídos dos livros de toxicologia e os sintomas que desapareceram depois que o medicamento produziu a cura
A ação de diluições infinitesimais ou doses mínimas
Após muitos experimentos, Hahnemann, além de diluir os medicamentos, passou a imprimir agitações violentas, chamadas de sucussões e notou que além de diminuir os efeitos negativos de agravação dos sintomas ocorria um aumento da reação orgânica
ou seja o medicamento homeopático passaria a não ser mais um agente puramente químico e sim físico
Quanto maior for a diluição do “remédio”, mais profunda e permanente será sua ação – a ação é função da qualidade do remédio e independe da dose (número de glóbulos ou gotas) administrada
Medicamento único
Pelo princípio da similitude, apenas um medicamento deve cobrir a totalidade dos sintomas apresentados pelo doente
Ideal homeopático Na experimentação patogenética testa-se uma
droga por vez
Na prática nem sempre é possível encontrar o simillimum
Os medicamentos homeopáticos Medicamento homeopático é toda apresentação
farmacêutica destinada a ser ministrada segundo o principio da similitude com finalidade preventiva e terapêutica, obtida pelo método de diluições seguidas de sucussões e/ou triturações sucessivas (Farm Hom. Bras. II)
Os medicamentos homeopáticos são preparados partir de substâncias pertencentes aos três reinos:
Vegetal – Atropa belladona, Allium cepa, Coffea cruda Animal – Apis mellifica, Formica ruffa, Lachesis muta Mineral – Aurum metallicum, Sulphur, Natrium muriaticum
Formas farmacêuticas
Triturações e tinturas-mães são preparações fundamentais .Constituem etapas básicas na preparação das formas farmacêuticas aviadas aos pacientes
Apresentação: forma de pós – chamados “ papéis” comprimidos, tabletes líquida glóbulos
Farmacotécnica homeopática
Preparação das formas farmacêuticas derivadas = que representam o resultado do processo de dinamização
= consiste na concentração decrescente de insumos ativos por meio de diluições seguidas de sucussões ou triturações sucessivas
Formas farmacêuticas derivadas (para o preparo empregamos)
Escalas: decimal centesimal cinqüenta milesimal
Métodos: hanemanniano korsakoviano fluxo contínuo
As escalas
A escala decimal: diluição preparada na proporção de 1:10
(1 parte de insumo ativo é diluído em 9 partes de insumo inerte)
criada por Hering (EUA) difundida por Vehsemeyer (Alemanha) pretexto de diminuir as distâncias entre as grandes quantidades
de insumo ativo e insumo inerte tornando a diluição mais uniforme e fácil de preparar
símbolos: X (dez em algarismo romano), D, DH
(DH = significa dinamização na escala decimal preparada 2º. o método hahnemanniano (Brasil ) – mais interessante)
exemplos: Arnica montana 2X, Arnica montana D2,
Arnica montana 2DH
correspondem a 2ª. dinamização decimal
As escalas
A escala centesimal: diluição preparada na proporção de 1:100
(1 parte de insumo ativo é diluído em 99 partes de insumo inerte)
criada por Hahnemann, única escala citada até a 5 ed. do Organon da Arte de Curar
escala mais empregada no Brasil (influência da escola francesa) símbolos: C, a, nenhum indicação, CH
(CH -significa dinamização na escala decimal preparada 2º. o método hahnemanniano (Brasil) – mais interessante)
exemplos: Kalium bichromicum C1 ou Kalium bichromicum 1 a ou Kalium bichromicum 1 ou Kalium bichromicum 1CH
1 g de K2Cr207 (dicromato de potássio)+ qsp 100ml de H2O dest + 100 sucussões = correspondem a 1ª. dinamização centesimal
As escalas
A escala cinqüenta milesimal: diluição preparada na proporção de 1:50.000
(a cada potência elevada temos uma proporção de 1/50.000 entre insumo ativo e de insumo inerte)
criada por Hahnemann parágrafo 270 da 6 ed. do Organon da Arte de Curar
publicado somente em 1921- 78 anos após sua morte símbolos: Q – qüinquagiesmilesimal
LM = cinqüenta milesimal ( L = cinqüenta em algarismos romanos)
exemplos: Nux vomica 3 Q ou Nux vomica 3 LM
Apesar da correspondência matemática não podem ser realizadas conversões entre as escalas porque o número de dinamizações são diferentes
Escala Proporção Símbolo
decimal 1/10 DH
centesimal 1/100 CH
cinqüenta milesimal 1/50.000 LM
Ex.: 1DH = 1/10 2DH = 1/100
3DH = 1/1.000 4DH = 1/10.000
1CH = 1/100 2CH = 1/10.000
3CH = 1/1.000.000 4CH = 1/100.000.000
12CH = 1/1.1023
São 2 os processos básicos para a preparação das formas farmacêuticas:
Diluição da TM ou do insumo ativo solúvel em insumo inerte adequado, seguida de sucussões = dinamização líquida
- sucussão manual
- sucussão mecânica
Trituração do insumo inerte insolúvel realizada em lactose = dinamização sólida
Métodos
Método Hahnemanniano (H): pode ser dividido em 3 outros métodos:
- Método clássico ou dos frascos múltiplos – insumo solúvel
- Método da trituração = insumo insolúvel
- Método da cinqüenta milesimal = insumo sol. e insol
Método Korsakoviano (K)- Medicamento a partir de 30CH
Método de Fluxo contínuo (FC)- Medicamento a partir de 30CH
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