grupo de estudos aristofÂnicos: a comÉdia e a … · paulo césar de b. teles júnior6 resumo ......
Post on 10-Nov-2018
216 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 31
CULTURA
GRUPO DE ESTUDOS ARISTOFNICOS:
A COMDIA E A CIDADE EM CAVALEIROS DE ARISTFANES
Ana Maria Csar Pompeu1
Mrcio Henrique V. Amaro2
Jos Andr Ribeiro3
Solange Maria S. de Almeida4
Renata de Oliveira Lara5
Paulo Csar de B. Teles Jnior6
RESUMO
A sobrevivncia de Aristfanes pela leitura de suas peas at a atualidade se explica
principalmente pela diversidade temtica tratada em sua obra e a importncia que o
gnero cmico d arte potica, formando sua prpria identidade atravs do dilogo
pardico com os mais variados tipos de discursos da plis, na qual est inserido o
prprio Teatro. O Grupo de Estudos Aristofnicos tratar, neste estudo, dos mais
diversos aspectos da plis ateniense em conexo com a mobilidade genrica promovida
pela comdia aristofnica.
PALAVRAS-CHAVE: Potica cmica; Aristfanes; Cavaleiros; Plis ateniense
ABSTRACT
The survival of Aristophanes by reading their pieces until today is mainly explained by
the diversity of themes treated in his work and the importance it gives to the comic
genre poetics, forming their own identity through the parodic dialogue with all kinds of
discourses of the plis, where the Theatre itself is inserted. The Study Group on
Aristophanes treats in this study of various aspects of the Athenian polis in connection
with the generic mobility promoted by the Aristophanic comedy.
KEY-WORDS: Comic poetic; Aristophanes, Knights; Athenian Plis
1Professora associada da Universidade Federal do Cear-UFC. Tem experincia na rea de Letras
Clssicas, com nfase em Teatro Clssico, atuando, entre outros, nos seguintes temas: Aristfanes,
Comdia Antiga, Aristfanes e Plato, Plis e Comdia.
2 Mestrando em Letras
3 Doutorando em Filosofia
4 Doutoranda em Letras
5 Mestre em Filosofia
6 Graduando em Letras e Bolsista PIBIC/UFC-FUNCAP 2013-2014
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 32
1. INTRODUO
O Grupo de Estudos Aristofnicos GEA foi cadastrado como projeto de
extenso em 2011. A pea Os Cavaleiros vem sendo traduzida, do grego para o
portugus, objetivando uma expressividade maior para os mais diversos tipos de leitores
e, consequentemente, uma maior divulgao da obra do nico representante da Comdia
Antiga Grega que nos legou peas completas. Os integrantes do GEA so de reas de
estudo diversas. Portanto, cada integrante tem um objetivo prprio ao estudar a comdia
de Aristfanes. Todos, entretanto, se interessam pelo contexto em que as peas foram
elaboradas e encenadas, e elas so a mais rica fonte de informaes acerca da vida
ateniense do final do sculo V a.C.
Em 486 a.C. a comdia entrou oficialmente nas Dionsias urbanas, logo depois
de ter sido acolhida no festival das Leneias. Segundo Byl (1991, p. 54), conhecemos o
nome de aproximadamente 50 poetas que tiveram representadas uma ou vrias de suas
obras de 486 a 388 a.C., mas somente um nome passou a posteridade tendo parte das
obras integralmente conservadas: Aristfanes, com 11 comdias de 425 a 388 a.C.
totalizando 15.290 versos e com centenas de fragmentos (BYL, 1991, p. 54). Como
explicar a sobrevivncia do comedigrafo diante dos seus predecessores e
contemporneos? a pergunta de Byl (1991, p. 54), afirmando que a questo delicada,
no entanto segundo o estudioso, ns podemos pensar que a arte de Aristfanes deve ter
sido particularmente apreciada por seus contemporneos. Pelos Argumentos nos
manuscritos dos textos que nos chegaram, sabemos que algumas de suas peas
ganharam o primeiro prmio nos concursos que disputou. Uma de suas peas, As Rs,
seu grande sucesso, foi representada duas vezes, algo muito raro para a poca.
Byl (1991, p. 54-66) apresenta sucintamente o sucesso que conheceu
Aristfanes nas geraes que o seguiram. Transcreveremos de forma mais sucinta ainda
os principais argumentos do estudioso da comdia aristofnica. Em primeiro lugar,
existem fortes indcios de que Aristfanes era muito apreciado pelo filsofo Plato.
Apesar de alguns afirmarem o contrrio, pode-se verificar que, se Plato realmente
execrasse o poeta, ele no teria jamais concordado em lhe dar um lugar no Banquete,
uma obra composta aproximadamente em 385 a.C. pouco tempo aps a morte de
Aristfanes.
Duas histrias narradas sobre a vida de Aristfanes testemunham tambm a
estima na qual Plato tinha o poeta cmico. Plato teria, ele mesmo, composto para a
morte do poeta o seguinte epitfio: As graas procurando um templo para habitar o
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 33
encontraram na alma de Aristfanes. Uma segunda anedota nos conta que Denis de
Siracusa pediu informaes sobre a natureza da vida poltica ateniense, Plato teria
enviado uma obra de Aristfanes e o aconselhado a estudar todas as suas peas.
Aristteles se mostrava fortemente severo ao que ns denominamos Comdia
Antiga: O que fazia os antigos rir (na comdia) era a linguagem obscena. Infelizmente
ns no tivemos conservado o livro da potica que Aristteles dedicou comdia, mas
ns podemos observar que o filsofo em uma passagem do clebre tratado cita
Aristfanes como o representante mais ilustre da poesia cmica ao lado de Homero e
Sfocles, que representam respectivamente a poesia pica e a poesia trgica. Ccero, trs
sculos mais tarde, citar vrias vezes o nome de Aristfanes o qual tinha em alta
estima. Quanto a Horcio, ele cita Aristfanes como pertencente a uma trade que
conheceu grande sucesso: Os poetas Epolis, Cratino, Aristfanes e os outros que
foram mestres da comdia antiga tiveram mrito de criarem ladres, adlteros, infames
que gozaram de grande liberdade. Na comparao de Aristfanes e Menandro, Plutarco
ir formular ao primeiro poeta a principal crtica que j tinha sido feita por Aristteles, a
obscenidade, e ele considerar de longe Menandro como o melhor. O veredicto no
deve nos surpreender, pois veremos que Plutarco condenar a comdia antiga
considerando-a cheia de palavras imprprias e chocantes. Luciano, que em sua obra faz
vrias referncias ao incio das Nuvens, qualifica Aristfanes como homem sbio e
digno, mas ele teme que sua estima pelo cmico o faa imit-lo.
Um pouco mais tarde, Eliano em sua coleo Histrias Diversas narrar que
durante a apresentao das Nuvens em 423 a.C. Scrates teria ficado de p para que os
espectadores o vissem durante toda a apresentao. Digenes Larcio faz parte da
grande tradio que v Aristfanes como um dos principais responsveis pelo processo
contra Scrates em 399 a.C. Por essas razes morais, o imperador Juliano defender o
banimento da leitura da comdia antiga com suas grosserias e suas conversas obscenas.
Aristfanes ser banido do mundo das letras at restaurao do Helenismo. no ano de
1498 que aparece a primeira edio das obras de Aristfanes, em Veneza. A partir da
renascena no cessaro as condenaes da obra de Aristfanes nem o estudo de sua
obra. Nietzsche em 1886 narra uma anedota antiga que diz que Plato em seu leito de
morte no tinha nenhum livro da Bblia, nenhum livro egpcio, nenhum livro de
Pitgoras e nenhum platnico, mas uma pea de Aristfanes. Essa anedota se encontra
na Vita Platonis de Olimpiodoro, filsofo da nossa era. Ernest Renan proclamou sua
admirao pela Grcia e escreveu que o maior dos milagres da histria a Grcia. Ele
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 34
tambm, em sua biblioteca no possua nem Homero nem Sfocles, mas sim
Aristfanes.
Byl (1991, p.66) volta a explicar a perenidade da obra de Aristfanes e diz crer
que a razo pela qual Aristfanes foi maltratado durante mais de dois milnios
exatamente o que o fez ser admirado: sua agressividade e sua obscenidade. E Freud j
apresentou que o bero do riso o esprito da agressividade e o da obscenidade.
2. DIVERSIDADE TEMTICA DA COMDIA ARISTOFNICA
A sobrevivncia dos estudos sobre Aristfanes e da leitura de suas peas at os
nossos dias se explica especialmente pela diversidade temtica tratada em sua obra e a
importncia que o gnero cmico d arte potica, formando sua prpria identidade
atravs do dilogo pardico com os mais variados tipos de discursos da plis, na qual
est inserido o prprio Teatro. Nosso estudo tratar dos mais diversos aspectos da plis
ateniense em conexo com a mobilidade genrica promovida pela comdia aristofnica.
2.1. Aristfanes e Plato - A Imagem do Filsofo em Eutidemo: Homem Cmico
e Srio
Estabeleceremos um dilogo entre as obras As Nuvens de Aristfanes e
Eutidemo de Plato, por meio de uma anlise do uso do cmico nesta obra, para
interpretar os recursos dramticos e dialticos utilizados por Plato para construir uma
imagem do filsofo como homem cmico, porm srio ().
De algum modo, se aposta que Plato promove uma reestruturao da comdia
aristofnica para construir a imagem do filsofo. No Eutidemo, encontramos uma
utilizao abundante de elementos cmicos que reeditam o aristofnico em uma
roupagem filosfica. Halliwell (2008) compreende que o aristofnico pela relao entre
o vergonhoso e o risvel estabelece contedos polticos que encontram significao na
plis, o que recorre de modo significativo nos dilogos de Plato; mas, alm disso, com
algumas reconfiguraes do aristofnico.
Como afirma Luisa Buarque (2011, p. 46), em Plato, podem ser apontadas as
seguintes proximidades com o aristofnico: em primeiro lugar, o uso dos personagens
para representar teses e posies polticas; em segundo lugar, o uso de nomes e
situaes nos personagens que adquirem sentido; em terceiro lugar, a utilizao de
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 35
aspectos anedticos e caricaturais; por fim, o uso da composio dramtica como
recurso didtico para finalidades polticas.
Por isso, no Eutidemo, encontramos no apenas uma simples utilizao do
cmico, no sentido de despertar o riso, por meio de cenas que nos levam a ver os seus
personagens como vergonhosos (). Alm disso, o dilogo constri uma imagem
da prpria comicidade como sendo, s vezes, ridcula, isto , usado fora de um ambiente
que lhe adequado, o prprio cmico vergonhoso (). Uma espcie de
localizao do riso: ridculo ser cmico ao discutir coisas srias.
O Eutidemo um dos dilogos socrticos ( ), no uma
comdia. Nele encontramos, alm dos risos, argumentos de mbito filosfico. Com
certeza, h no seu contexto dramtico uma iniciativa de situar a brincadeira () em
meio a uma discusso cujo contedo srio (), para mostrar que os sofistas
so pessoas despreocupadas com a verdade. De incio, pode-se avaliar que Plato abusa
dos elementos cmicos para distanciar Scrates das brincadeiras dos argumentos
sofsticos. Se, por um lado, o dilogo , em seus recursos, aristofnico, por utilizar do
vergonhoso (), como meio para o riso (); por outro, o modo como Scrates
narra e Crton avalia a brincadeira () anti-aristofnico, pois recria o ridculo
() e o risvel () dos sofistas, para mostrar que as discusses filosficas
so srias. Os sofistas, nesses termos, so ridicularizados a partir da imagem de dois
homens srios (), estimveis, preocupados com a educao dos jovens, que
so Scrates e Crton. Respectivamente, o Eutidemo seria uma aceitao da imagem dos
sofistas de As Nuvens de Aristfanes; mas, ao mesmo tempo, um confronto, ao encenar
que Scrates e Crton tem um modo diferente de se comportar, no vergonhoso e srio,
para o qual tentam dar o nome de filosofia.
como se a partir do prlogo do dilogo a apresentao dos personagens
guiasse o contexto no qual a narrativa de Scrates vai determinar a postura dos dois
irmos; o que nos leva a ver no Eutidemo um exerccio em torno de uma luta pela
demarcao de linhas diferenciadoras entre sofistas, de um lado, e filsofos, de outro,
no que diz respeito ao cmico, como vergonhoso, e ao srio, como digno de valor.
Certamente, no havia uma demarcao ntida, uma fronteira (), aos olhos da
maioria ( ), que diferenciasse a filosofia daquela habilidade () dos
sbios (), polticos e oradores (), a erstica. Essa a percepo de Crton e
Scrates no final do Eutidemo (305c-306d), que encena como concluso do dilogo
uma certa desventura dos dois amigos frente ao problema da educao () dos
filhos ( ) e do como lev-los ao amor sabedoria.
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 36
Desde o incio do dilogo (271a-272d), Scrates apresenta os personagens,
Eutidemo e Dionisodoro, como refutadores, o que parece estabelecer uma confuso
entre os dois sofistas e a filosofia socrtica. No final do dilogo, o annimo citado por
Crton estabelece uma relao semelhante, de um modo que incapaz de compreender
a diferena entre Scrates e os Sofistas (SCOLNICOV, 2000, p. 152). Com efeito,
pode se dizer que Scrates parece no estabelecer uma distino rgida entre o que eles
ensinam, a erstica, e o amor sabedoria. Acreditamos, por conseguinte, que
perceptvel, pelo movimento que a narrativa traz, que o fato de o dilogo ridicularizar os
dois irmos no suficiente para estabelecer uma rgida diviso entre filosofia e erstica.
Scrates no procura descaracterizar os irmos, como se estivesse impondo previamente
o significado da narrativa a Crton. o prprio Crton que v nos irmos algo de
ridculo e que, detalhadamente, coloca-se no papel de avaliador.
2.2.As Personagens Aristofnicas e o Rstico Estrepsades de As Nuvens
caracterstico de Aristfanes nomear seus personagens de acordo com o
carter de cada um, o heri de As Nuvens ganha seu nome a partir de , verbo
que significa girar, revirar, revolver algo em seu esprito. Logo no incio da pea, o
velho aparece na cama, girando de um lado ao outro, sem conseguir dormir: Ai, ai!
Zeus soberano! Como so compridas as noites! Uma coisa interminvel! ... (v. 1-3).
possvel dizer que Estrepsades , tambm, o homem que se vira, neste caso, para no
pagar o que deve. O velho busca todas as maneiras de se livrar dos credores e aps uma
tentativa fracassada de fazer com que o seu filho se torne um discpulo da escola de
Scrates, resolve que ele mesmo ir ao Pensatrio aprender o raciocnio fraco, com o
qual acredita ser possvel vencer qualquer causa nos tribunais. S mais adiante, que o
nome do velho que falava no incio na pea revelado: O filho de Fido, Estrepsades
de Cicina! (v. 134). Um nome que poderia muito bem ser traduzido como Enrolo e
que, certamente, para o pblico pareceria bem apropriado.
Estrepsades um novo heri cmico: em alguns aspectos, parecido com os
heris das peas anteriores; em outros, bem diferente. Com Dicepolis, de Os
Acarnenses, encontramos semelhanas por serem, ambos, agricultores e terem o mesmo
desejo de voltar para o campo. Mas, enquanto Dicepolis mostra-se, no incio,
interessado pela cidade de Atenas e pelo que justo e certo, tanto que o seu nome
reflete esses interesses; Estrepsades, ao contrrio, no demonstra patriotismo algum e,
abertamente, deseja o que injusto e errado. O vendedor de salsichas, de Os Cavaleiros,
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 37
parece um pouco mais com Estrepsades, porque atravs de trapaas e enrolaes, tenta
superar seu adversrio. Mas, ainda assim, encontramos algumas diferenas: enquanto o
vendedor de salsichas vence por meio de sua prpria esperteza e, s vezes, ingenuidade,
Estrepsades incapaz de aprender as sutilezas das palavras precisas, por ser um
velho esquecido e bronco (v.129-30).
Durante toda a pea, Aristfanes cria situaes para apresentar ao pblico o
carter de Estrepsades e mostrar que o seu maior objetivo na vida livrar-se, a qualquer
custo, de suas dvidas. Depois de muito pensar sobre como se livrar de suas dvidas, ele
encaminha-se sozinho para a casa de Scrates e apresenta uma resoluo louvvel na
tentativa de fazer algo a respeito delas: Bem, mas no por ter cado que ficarei no
cho... Vou invocar os deuses e instruir-me eu mesmo, frequentando o Pensatrio
(v.127-28).
Estrepsades o nico heri aristofnico a se arrepender do que fez, pois
embora ele ponha fogo na escola de Scrates (pelo menos na segunda verso da pea),
acaba no conseguindo enganar os credores e, com isso, livrar-se das dvidas. Pela
primeira vez, no conseguimos ver uma mudana ocorrida no destino do nosso heri,
ou, poderamos dizer, que Estrepsades sofre duas transformaes (ao e reao). Uma
primeira, na qual ele torna-se discpulo de Scrates e passa a defend-lo. O pai, tentando
mostrar sua sapincia, usa com o filho uma das mximas dos sete sbios gravadas nas
paredes do templo de Apolo em Delfos . Adiante, Estrepsades passa
por uma nova transformao, ao tomar conscincia da loucura que tentava fazer e ao
sentir-se enganado pelos ensinamentos de Scrates.
Contra o nosso heri usado todo o preconceito que um homem do campo
poderia sofrer nas mos de um homem da cidade. Estrepsades no consegue aprender
porque alm de ser campons, velhote, esquecido e imbecil (v. 790). Vendo que ele
no tem condies de ser educado, Scrates logo desiste de ensin-lo. extremamente
difcil para Estrepsades compreender toda a abstrao do pensamento filosfico.
Embora sabendo que Estrepsades buscava algo desonesto, atravs do
aprendizado da arte da oratria, o pblico acabava torcendo por ele, pois sabia que o
discurso hbil era fundamental para o poder individual e a impunidade em Atenas. As
outras peas de Aristfanes, especialmente Os Acarnenses, Os Cavaleiros e As Aves,
tambm retratam o poder da persuaso. Pode at ser que os espectadores no
admirassem Estrepsades, mas podemos supor que eles simpatizariam mais com ele do
que com os outros personagens da pea. Essa simpatia facilmente compreensvel, se
pensarmos no fato de que a grande maioria do pblico e dos jurados era composta de
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 38
moradores da zona rural, gente simples como o velho campons. Em contrapartida, uma
identificao com o jovem nobre cavaleiro Fidpides ou com o filsofo nefelibata
Scrates seria bem mais difcil.
2.3.Metfora e Alegoria em Cavaleiros de Aristfanes
A pea Cavaleiros foi apresentada nas Leneias de 424 a.C. Pela primeira vez, o
autor corria o risco de se habilitar a concurso em seu prprio nome, sendo reconhecido
com o xito em primeiro lugar. Aristfanes, comedigrafo de origem aristocrata, tem o
propsito de denunciar a corrupo da demagogia vigente, o contexto aps o momento
ureo da democracia seguido da decadncia da plis grega. A pea foi elaborada em
carter bem especfico, usando uma abordagem metafrica, por analogias, comparando
os personagens da pea com figuras que compem o cenrio poltico referido.
Aristfanes recorre ao jogo de linguagem alegrico, em caricatura, descrevendo a
realidade social com elementos crticos. O autor de modo sarcstico sugere como o
povo se encanta com a vulgaridade, e quando o poeta quer estimular o intelecto busca
ser sagaz, debocha do povo, mas para criticar e suscitar uma reflexo sobre a
manipulao da plis. Segundo Pompeu, Sua crtica era parte de sua tentativa de
convidar o povo a olhar mais criticamente para si mesmo, para refletir sobre os males,
os quais o governo democrtico e seus cidados poderiam causar a si prprios, pelas
ms deliberaes (2011, p. 67).
O tema e a trama central da pea seguem em torno do agn (disputa) entre O
Paflagnio e o Salsicheiro, mestres em baixaria... Enfim qualquer semelhana com as
nossas eleies, no mera coincidncia! Os personagens na pea Cavaleiros
representam figuras importantes na denncia poltica, a saber: 1 Escravo (Demstenes)
seria o mais esperto, o 2 Escravo (Ncias), mais submisso, e podemos dizer que seria
o escravo do escravo, o Paflagnio (Clon), servo do Povo, o Salsicheiro (que ir
tornar-se o Agorcrito no fim da pea), o Coro de Cavaleiros (da o ttulo da pea) e o
Povo. O argumento crtico central contra o Clon, que o popular demagogo criticado
na figura do Paflagnio. Este nome Paflagnio est associado a quem vem da
Paflagnia, ou seja, para ns seria a ideia de algum que vem de um lugar muito
distante e desconhecido tipo da Conchinchina, um estrangeiro e por isso ningum
sabe nada sobre a vida precedente deste. No contexto real o Clon foi o grande heri de
Pilos, uma parte do imprio de Atenas, territrio conquistado com grandes investidas
dos exrcitos, mas usando de ambio e explorando o seu patro que o povo ateniense.
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 39
Conseguiu cativar a confiana do povo e uma vez que assim sucedeu, segue conduzindo
com desonestidade, roubando o povo abusando de sua ingenuidade, devorando o
patrimnio pblico. um homem que no tem origem aristocrtica e assim no tem as
virtudes necessrias de um poltico instrudo, tem origem no povo, mas que no governa
para o povo. Nesse sentido at o prprio Aristfanes contraditrio, pois pensa como
aristocrata, isto , que para ser poltico tem que ser de formao nobre. Por esse motivo
a figura do Clon na pea um escravo Paflagnio, servo do povo. Seus companheiros
de escravatura so os dois escravos, seus subalternos, denominados Demstenes e
Ncias, que so na realidade os generais do exrcito vitorioso, capachos do demagogo.
Por meio do orculo, que o Paflagnio escondia com unhas e dentes, tm a
revelao de que h um destinado, que iria destronar o Paflagnio (Clon, o demagogo).
interessante destacar que pela primeira vez na dramaturgia o orculo no fora lido,
mas relatado o contedo em interpretao cnica, destacando a relao imagem e
linguagem na temtica crtica. Depois entra o coro de Cavaleiros (da o nome da pea)
que so os guerreiros e nobres, representantes da aristocracia (os virtuosos) que vo
surgir em apoio ao Salsicheiro e iro dar uma surra no Paflagnio colocando-o para
correr!
Assim dizia o orculo: o primeiro demagogo fora o comerciante de gado, o
segundo o comerciante de estopa, o terceiro o comerciante de curtumes (curtidor de
couro) e o quarto que o prximo destinado a destronar o Paflagnio: um vendedor de
midos, um salsicheiro. isso mesmo, um salsicheiro! Porque a linhagem dos polticos
em termos de formao foi decaindo, e agora a disputa no era de quem era o melhor,
mas de quem era o pior, o menos apto em competncias polticas, mas o mais hbil em
enrolar o povo, ou seja, encher linguia ou salsicha, que no caso d no mesmo. J vem,
da essa histria de brincar com a ideia de que na poltica e na cozinha tudo acaba em
pizza, neste caso em linguia ou salsicha. uma disputa de que tem a origem mais rasa,
a performance mais preparada para o bom governo em artimanhas para enganar
melhor o povo.
2.4.O Mito do Destronamento em Hesodo e squilo e a Pardia de Cavaleiros
Prometeu, considerado uma divindade do fogo, foi um dos filhos do tit Jpeto
e da ocenide Clmene. Sua figura representa o esprito humano que aspira ao
conhecimento e liberdade. Ele foi castigado por entregar aos homens o fogo, smbolo
do conhecimento, da cincia, e por ter desafiado os deuses. Prometeu possua
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 40
informaes de quem poderia destronar Zeus, pai dos homens e dos Deuses. Em Os
trabalhos e os dias, de Hesodo, o primeiro poeta de que temos conhecimento a se
inspirar nesse mito, Prometeu aparece como guardio dos homens a quem - contra a
vontade de Zeus - concede a chama. Como castigo, o Deus envia terra a primeira
mulher, Pandora. Ela desposa Epimeteu, irmo de Prometeu, e tida como a origem de
todos os males. A utilizao do mito de Prometeu tambm realizada pelo
tragedigrafo squilo para a criao da pea Prometeu Cadeeiro, ttulo em portugus
segundo a traduo de Jaa Torrano. Essa tragdia, de data de composio incerta,
considerada uma das grandes obras do Teatro Antigo, ainda que sua autoria seja
contestada por alguns estudiosos. Ela entendida como a primeira pea de uma trilogia
da qual a segunda seria Prometeu Libertado e a ltima, Prometeu Portador do Fogo. Em
Prometeu Cadeeiro, temos a imagem de Zeus tirano, implacvel e imbatvel, assumindo
o poder aps a Titanomaquia. Poder e Violncia (Krtos e Bia) juntamente com
Hefestos castigam Prometeu a comando de Zeus por t-lo desrespeitado. Prometeu
agrilhoado, preso a um rochedo. O coro formado pelas Ocenides, filhas de Oceano,
rio que circunda a terra, e, na tragdia, tem a capacidade de dar conselhos e oferecer
mediaes. Io, que, nessa pea, a representao da condio humana, filha do rio
naco. Na esticomtia de Io e Prometeu, o tit fala sobre o fim do poder supremo de
Zeus (v.752-769). No mito, Zeus destronou o prprio pai, Cronos, mas ficou atordoado
com a profecia que anunciava a perda de seu trono por um filho. Tendo como primeira
companheira Mtis (Astcia), filha de Oceano e de Ttis, Zeus a engole, esperando um
filho, depois de saber daquele prenncio de destronamento. Em uma das variantes, aps
sentir uma enorme vertigem, Zeus tem a cabea perfurada por Prometeu e dali surge a
Deusa Atena, armada e com capacete.
O tema do destronamento ainda utilizado pelo comedigrafo Aristfanes na
pea Os Cavaleiros (424 a.C.). Contrariamente tragdia, que se baseia nos mitos para
construir seu enredo, a comdia funda-se na stira poltica, social, ou mesmo literria.
Sendo assim, a comdia estabelece um discurso sobre um outro discurso. O gnero
cmico apropria-se de elementos da tragdia para atingir seu objetivo esttico e critica
os fatos da plis, levando o pblico ao riso. Atravs desses recursos, o autor expe as
instituies pblicas e a forma de encarar o direito na cidade.
A pea Os Cavaleiros uma comdia poltica, dirigida contra o demagogo
Clon, designado como Paflagnio, tido como servo do povo. A desonestidade e
ambio deste servo tiram vantagens da ingenuidade do patro, o povo ateniense, cuja
confiana incondicional to bem soube cativar (SILVA, p.13, 1985).
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 41
Companheiros de escravatura, Demstenes e Ncias procuram descobrir uma
maneira de destronar o poderoso inimigo atravs dos orculos divinos. Segundo um
desses orculos, Paflagnio seria substitudo por um Salsicheiro. Aps observar um
vendedor de chourios a caminho do mercado com os utenslios de seu ofcio, os dois
escravos tentam persuadi-lo de sua predestinao. Os Cavaleiros, coro de jovens da
melhor estirpe e inimigos ferozes do demagogo, unem-se ao Salsicheiro para uma causa
comum: derrotar Clon.
Com denncias, afrontas e intimidaes, o agn se estabelece em planos
sucessivos entre o Salsicheiro e o Paflagnio. Este acaba recorrendo ao Povo, juiz
supremo, e h um encontro final na Pnix. Frente a frente, os dois apelam ainda aos
orculos para auxili-los. Ao utilizarem-se de vocabulrio relacionado culinria,
metaforizando a vida pblica, ambos colocam prova saborosos pratos que desafiam a
fome do Povo. Finalmente, Clon derrotado em substituio do novo vencedor.
2.5.A Crtica Aristofnica a Clon e Demagogia Ateniense em Cavaleiros
Em Cavaleiros, Aristfanes tece uma forte crtica democracia e corrupo
dos demagogos de sua poca, seu principal alvo, no entanto, o famoso poltico Clon
o qual, alis, o autor, no cessa de atacar em diversas de suas peas de que temos
notcia. Tentaremos fazer uma breve exposio a respeito da figura histrica de Clon,
do contexto especfico pelo qual Atenas passava na poca que a pea em questo foi
encenada, bem como dos ataques feitos pelo comedigrafo ao demagogo.
A partir das notcias que temos dos fragmentos das outras peas de Aristfanes,
que no sobreviveram at nossos dias, sabemos que a perseguio a Clon comea com
a pea perdida Os Babilnios, de 426 a.C., em que o autor tece crticas contra a plis
grega. No conhecemos muito de seu enredo, mas certamente os ataques foram grandes
j que isso serviu para que o demagogo o processasse. Fato que contribuiu bastante para
a escritura de Cavaleiros. Portanto, nessa pea, o autor joga todas as caractersticas ruins
dos demagogos de sua poca na figura de Clon e sem freios, talvez, o ataque mais
violento feito pelo comedigrafo. Curioso nisso tudo que nesse momento o poltico
gozava de uma grande popularidade por conta de seus sucessos na batalha de Pilos.
Mas agora vejamos quem era esse Clon e quais fatos histricos serviram para
inspirar Aristfanes na composio dessa comdia.
Nunca demais assinalar algumas caractersticas do novo regime democrtico
de Atenas, afinal as crticas que Aristfanes tecia sobre a sociedade ateniense dirigiam-
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 42
se principalmente a essa nova forma de governo. das classes mais humildes quelas
de comerciantes portanto, no to humildes assim j que deveriam dispor de boa
quantidade de dinheiro graas a seus ofcios de vendedores - que saem as figuras que
sucedero Pricles. Familiarizados ento com o comrcio esto bem aptos a enganar o
povo. Atravs de sua boa oratria escondem-se atrs de uma imagem humilde,
preocupada em satisfazer os desejos de todos, sempre dando esmolas, literalmente
empanturrando os menos esclarecidos a fim de que fiquem de boca fechada e
apenas agradeam. Para melhor servir ao povo, o poltico ainda persegue os mais
abastados (no com intenes maiores do que ficar com todo o dinheiro para si) e mais
uma vez os agradecimentos por parte da populao.
Mas passemos a Clon. Quem era ento esse to agredido por Aristfanes?
Alm de poltico era um general ateniense que participou da Guerra do Peloponeso,
sendo cria exatamente desse novo regime democrtico, filho de um grande curtidor de
peles foi um dos primeiros a representar os novos comerciantes e ir contra aos interesses
da antiga aristocracia. Por muito tempo o demagogo se ops ao governo de Pricles e
tentou de diversas formas derrub-lo, conquistando cada vez mais a populao
ateniense. Com a morte de Pricles em 429 a.C. estava aberto, ento, definitivamente o
caminho para ele. Suas aes eram quase sempre dirigidas para que obtivesse lucros
custa dos outros gregos no importando o que fosse necessrio fazer. Para termos uma
pequena ideia da falta de escrpulos do estratego, por volta de 425/424 a.C. ele
aumentou o salrio dos juzes para trs bolos, atraindo assim a admirao das camadas
mais populares, e abrindo mais espao para os demagogos aproveitarem-se dos pobres e
multiplicarem as acusaes cada vez mais, fazendo da justia um simples meio de
aumentar seus poderes e riquezas. Esse ltimo fato inclusive inspirou Aristfanes a
investir mais uma vez contra Clon, escrevendo a comdia As Vespas, que foi encenada
por volta de 422 a.C.
Como podemos perceber, a pea tem como funo denunciar a corrupo
instaurada na Grcia - mais especificamente em Atenas e a ocasio era bastante
propcia, pois Clon gozava de muito sucesso e cada vez mais aprimorava suas
tcnicas demaggicas. O irnico que, apesar de a pea ter vencido o concurso de
comdias, o povo no deixou de eleger Clon como estratego do ano, pouco tempo
depois. O que nos faz refletir sobre o real entendimento da populao ao assistir as
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 43
comdias de Aristfanes7. Ser que aos olhos do povo elas no passariam de
pasteles que distraam e dessa forma acabavam at mesmo ajudando os corruptos a
se instalarem cada vez mais? bastante notvel, principalmente no sistema em que
vivemos atualmente, o poder que os governantes tem de se apropriar das boas e
fundamentadas crticas e us-las a seu favor. Transformando tudo em uma bela
comdia. Parece-nos ento que a poltica do po e circo existe desde que se tem
notcias de sociedade ocidental, e esses demagogos, logo percebendo isso, junto com
seus trs bolos davam ao pblico um pouco de diverso inofensiva nos seus
festivais de teatro, j que ao que parece um mau costume do povo ficar calado
quando est de boca cheia.
3. RESULTADOS
O estudo das comdias de Aristfanes nos apresenta um ponto comum que
pode ser determinado como estrutural do gnero: a presena de Dioniso como o
Libertador. A cidade teve que instituir cultos ao deus delirante para apaziguar o
indomvel. Atravs dos rituais dionisacos, a plis se regenera e segue seu curso,
apesar das guerras e maus polticos. O Teatro, como templo de Dioniso e instituio da
Plis o lugar em que todos os aspectos se fundem e se renovam numa ressignificao
de vida, nas suas formas trgica e cmica.
3.1.Dioniso Libertador em Os Acarnenses e em Os Cavaleiros
As peas Os Acarnenses (425 a.C.) e Os Cavaleiros (424 a.C.) foram
apresentadas ao pblico de Atenas nos Festivais das Leneias (festival popular dionisaco
realizado durante o inverno, em janeiro, somente ao pblico ateniense). Atenas ainda
estava em guerra com os espartanos e exatamente a guerra, como a convivncia com
os outros povos gregos, e os malefcios causados populao grega pelos anos de
guerra o tema central de Os Acarnenses. J em Os Cavaleiros, Aristfanes aponta mais
para conflitos da prpria poltica interna de Atenas, controlada por demagogos, e seu
conflito, tambm, pessoal com Clon.
Deus do vinho, Dioniso era o deus do entusiasmo, do xtase em delrio que
fazia o homem sentir o prprio deus incorporado. A festa para os gregos seria
7 Na sua comdia As Nuvens, inclusive, o autor faz uma censura ao povo que no soube
reconhecer a sua melhor comdia (que fazia uma crtica ento educao vigente).
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 44
abenoada e incentivada pelo prprio deus, o patrocinador do Teatro, do espetculo. Os
concursos dramticos so parte de seus festivais, que contm muitos outros concursos:
procisses, msica, bebedeira, corrida, entre outros. Dioniso era o prprio smbolo da
unio do divino com o homem, quando se une ao humano, em corpo, em consequncia
de ser bebido, como vinho. Dioniso, assim, seria o prprio vinho; o Teatro, a
conscincia da festa e do sacrifcio, e a comdia, que a cano do vinho, cura e
revigora a cidade enferma. Dicepolis busca, alerta e, no final, sente por si exatamente
aquilo que a comdia prope ao espectador: estar em paz, apesar da guerra, pela
influncia do Teatro e os dons de Dioniso. A Comdia a cidade pacfica e justa, que
sobrevive no por guerras e vitrias, mas por sua prpria regenerao.
Em Os Acarnenses, o deus exaltado, atravs de duas alegorias presentes
durante toda a pea: os festivais dionisacos celebrados por Dicepolis, e o prprio
vinho do qual Dioniso o deus. Dioniso est presente do incio ao fim da pea.
Dicepolis, maltrapilho, ao imitar Tlefo, diz este o concurso das Leneias; as
trguas que o prprio bebe o inspiram a celebrar as Dionsias Rurais, que tinham
como acontecimento principal um cortejo falofrico (cujos membros, os solistas dos
cantos flicos, Aristteles cita, como origem da comdia) em culto fertilidade; depois,
j no final da pea, h as Antestrias que acontecia durante trs dias e tinha na Festa
dos Cngios (concurso de bebedores), celebrada em um desses dias seu ritual mais
conhecido.
Em Os Cavaleiros, como j vimos, Dioniso inspira a salvao dos dois
escravos do Povo, atravs do vinho. Apreciemos a cena na traduo do GEA8 (vv.81-
87):
DEMSTENES [...]
O vinho tu te atreves a censurar pela inveno?
Do que o vinho encontrarias algo mais prtico?
Olha, quando bebem os homens ento
So ricos negociam vencem processos
So felizes so teis aos amigos.
Mas traz-me logo uma caneca de vinho,
Para a cabea regar e eu dizer algo hbil.
8 Alm dos autores deste artigo, participaram da traduo os seguintes integrantes do GEA:
Carlos Getlio de Freitas Maia, Dary Alves Oliveira, Luiz Souza de Almada, Maria Helena da Silva, Maria Socorro Oliveira, Nazareno de Paulo do Amaral Accio, Sara Maria Tavares Almada e Valdsio Vieira da Silva.
-
Extenso em Ao,Fortaleza,V.2 n. 7,p.31-45 Jul/Dez 2014 45
4. CONSIDERAES FINAIS
Pelo estudo e traduo da pea Os Cavaleiros de Aristfanes, o Grupo de
Estudos Aristofnicos GEA vem se aproximando cada vez mais da verdadeira plis
grega do final do sculo V a.C., que foi palco vivo de transformaes polticas e sociais
que at hoje nos so apresentadas e exigem de ns uma mobilidade s alcanvel pelo
dilogo com a permanente (re) instaurao e ressignificao da plis trgica e cmica
que a vida humana.
REFERNCIAS
ARISTFANES. As Nuvens. Traduo de Gilda Maria Reale Starzynski. In: Scrates.
Nova Cultural, 1987.
_____________. Os Cavaleiros. Introduo, verso do grego e notas de Maria de
Ftima de Sousa e Silva. Coimbra: Instituto Nacional de Investigao Cientfica, 1985.
ARISTOPHANES. Comoediae, ed. F.W. Hall and W.M. Geldart, vol. 1. F.W. Hall and
W.M. Geldart. Oxford. Clarendon Press, Oxford. 1907.
BUARQUE, Luisa. As armas cmicas: os interlocutores de Plato no Crtilo. Rio de
Janeiro: Hexis, Fundao Biblioteca Nacional, 2011.
BYL, Simon. La survie de la comdie dAristophane. Une face du miracle grec. Les
tudes Classiques, tome LIX, n. 1, 53-66, 1991, pp. 53-66.
SQUILO. Tragdias. Estudo e traduo de J.A.A. Torrano. So Paulo: Iluminuras /
FAPESP, 2004
HALLIWELL, S. Greek laughter: a study of cultural psychology from Homer to
Early Christianity. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
SCOLNICOV, S. A filosofia da linguagem de Eutidemo. Hypnos, 6, 2000, p. 144-
153.
top related