fios condutores...caminante, no hay camino se hace camino al andar [...] antónio machado (1875 -...

Post on 05-Aug-2020

8 Views

Category:

Documents

0 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

JOÃO CUTILEIRO

C E N T R O C I R Ú R G I C O D E C O I M B R A

FIOS CONDUTORES

[...]

Caminante, no hay caminose hace camino al andar [...]

António Machado(1875 - 1939)

3

EDIÇÃO©Edições CLR - ÉVORANOVEMBRO 2012

EDIÇÃO LIMITADA

AUTORJOÃO CUTILEIRO

TÍTULOFIOS CONDUTORESJOÃO CUTILEIRO

CONCEPÇÃO, EXECUÇÃO E IMPRESSÃOHENRIQUE LAGARTOEmail: hlagarto@lagarto.pt

COORDENAÇÃO DE TEXTOSCONCEIÇÃO ABREU

DEPÓSITO LEGAL350116/12

MIOLO IMPRESSO EM PAPEL RENOVAPRINTE BRANCO 180 gCAPA E SOBRECAPA IMPRESSA EM PAPEL SAVANNA MATT - AREIA 100 g

Este livro foi executado à mão e produzido em exclusivo para o CENTRO CIRÚRGICO DE COIMBRA, numa edição única e limitada a 100 exemplares e 10 provas de autor, todos numerados e assinados pelo Autor.

4

A todos os que saboreiam arte,

Centro Cirúrgico de Coimbra

5

JOÃO CUTILEIRO

C E N T R O C I R Ú R G I C O D E C O I M B R A

6

JOÃO CUTILEIRO

C E N T R O C I R Ú R G I C O D E C O I M B R A

FIOS CONDUTORES

©Edições CLRÉVORA • 2012

8

FIOS CONDUTORES

O que têm em comum um lápis e um bisturi? Um e outro abrem caminhos e seguem Fios Condutores. Há criação numa qualquer cirurgia. Há criação num desenho. Não basta o dom, é preciso juntar-lhe a genialidade.O defeito e a imperfeição são a matéria da cirurgia. Nos desenhos de João Cutileiro são a inspiração. Em ambos, há vida, força e matéria. A cirurgia exige talento e arte para corrigir o corpo imperfeito e para provocar o alívio. João Cutileiro despe as mulheres para provocar o traço.

A matéria é a mesma: o corpo.Desenho e cirurgia são actividades de risco.

Fios Condutores levam-nos pelo caminho traçado por João Cutileiro. São 42 desenhos.

António Travassos

9

10

Este es el prologo

Desejaría en este librotoda mi alma.Este libro que há vistoconmigo los paisajesy vivido horas santas.

Qué pena de los librosque nos llenam las manosde rosas y de estrelasy lentamente pasan!

Qué tristeza tan Hondaes mirar los retablosde dolores y penasque un corazón levanta!

Ver passar los espectros de vidas que se borran,ver al hombre desnudoin Pegaso sin alas

ver la vida y la muerte,la sínteses del mundo,que en espácios profundosse miran y se abrazan.

(….)Desejaría en el libroEste, toda mi alma

Frederico García Lorca, in “Poemas sueltos”

11

12

13

14

15

16

Todo ao animal da calma repousava,só Liso o ardor dela não sentia;que o repouso do fogo, em que ele ardia,consistia na Ninfa que buscava.

Os montes parecia que abalavao triste som das mágoas que dizia.Mas nada o duro peito comovia,que na vontade de outro posto estava.

Cansado já de andar pela espessura,no tronco de uma faia por lembrançaescreve estas palavras de tristeza:

Nunca ponha ninguém sua esperançaem peito feminil, que de naturasomente em ser mutável tem firmeza.

Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

17

18

19

20

Desenho, actividade de risco.

21

22

23

24

25

Dá a Surpresa de Ser

Dá a surpresa de ser.É alta de um louro escuro.Faz bem só pensar em verSeu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem(Se ela tivesse deitada)Dois montinhos que amanhecemSem Ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço brancoAssenta em palmo espalhadoSobre a saliência do flancoDo seu relevo tapado.

Apetece como um barco.Tem qualquer coisa de gomo.Meu Deus, quando é que eu embarco?Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”

26

27

28

29

30

A um corpo perfeito

Nenhum corpo mais lacteo e sem defeitoMais roseo, esculptural e femenino,Pode igualar-se ao seu, branco e divinoImmovel, nù, sobre o comprido leito!--

Nada te eguala! O ferro do assassinoPodia, hoje, matal-a, que o meu peitoSeria o esquife embalsamado e finoD’aquelle corpo sem rival, perfeito.

Por isso é muito altiva e apetecida;--E o goso sensual de a vêr vencidaHa de ser forte, extranho e singular...

Como o das cousas dignas de castigo;--Ou d’um amante sacerdote antigo,Derrubando uma deusa d’um altar.

Gomes Leal, in “Claridades do Sul”

31

32

[...]

Despenteia os cabelos e sorri-me,minha alta e constante namorada.Embora talvez isso seja um crimeenquanto o mundo mau se não redime,agora quero não pensar mais nada.Despenteia os cabelos e sorri-me,minha alta e constante namorada.

Armindo Rodrigues, in “Despenteia os cabelos”

33

34

35

36

37

38

39

Initium

Adán Y Eva.La serpientepartió el espejo en mil pedazos,y la manzanafué la piedra.

Frederico Garcia Lorca, in “Poemas Sueltos”

40

41

42

43

44

45

46

[...]

Volvendo o rosto, já seguro e santo,Toda banhada em riso e alegria,Cair se deixa aos pés do vencedor,Que todo se desfaz em puro amor.

Luís de Camões, in “Lusíadas, Canto IX”

47

48

49

50

51

52

53

54

[...]

Olhando estes nus, perde sentido a conhecida e apaziguadora asserção de que a nudez total é casta. Estas mulheres e estes homens não se despiram para serem mostrados num templo grego ou num museu moderno: estão nus para o amor. Que é, confessemo-lo, a melhor razão que pode haver para que nos dispamos.

José Saramago, excerto do texto para a exposição “Amantes” de João Cutileiro no Centro Cultural de S. Lourenço em Almancil, 1985.

55

56

57

Rasgados os sexosmamas pendentesguerreiros em erecçãoaté aos dentes

Dirá a geração futuraera uma vez um Bocageda escultura

João Cutileiro, Lagos 1964

58

59

60

61

Levanta da marreta,que não há tempo para mais, João!

A carne espera, mas a pedra não...

Alexandre O’Neill

62

63

64

65

[...]

Caminante, no hay caminosino estelas sobre el mar. [...]

António Machado

66

©Edições CLRÉVORA • 2012

top related