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EXERCÍCIOS SOBRE A COLONIZAÇÃO DO BRASIL
TESTE DE ATENÇÃO
Perguntas
1. Assinale a alternativa que indica somente nações indígenas brasileiras.
2. Indique a alternativa que completa a frase corretamente: “As nações indígenas do Brasil...”
3. Para que os portugueses queriam a madeira do pau-brasil?
4. O que é escambo?
5. Quem era o Caramurú?
Respostas
A. Para fazer móveis e navios.
B. O chefe da tribo tupinambá.
C. Tukano, Karib e Pano.
D. São muito diferentes entre si.
E. Para extrair a tinta vermelha.
F. Tupi-Guarani, Jê e Apache.
G. O local onde índios e portugueses se encontravam.
H. A troca que os índios faziam de pau-brasil por objetos.
I. São todas iguais.
J. O português, Diogo Álvares, que morou entre os tupinambás.
Perguntas
6. O que são capitanias hereditárias?
7. Indique a alternativa que indica corretamente obrigações e direitos do Capitão Donatário.
8. O que os portugueses produziam em São Vicente?
9. Onde os escravos de um engenho dormiam?
10. Qual era a missão dos padres jesuítas?
Respostas
A. Açúcar.
B. Na senzala.
C. Ensinar os índios a serem católicos.
D. São grandes porções de terra que formavam a América Portuguesa.
E. Na Casa Grande.
F. Julgar criminosos e cobrar impostos.
G. Fundar cidades.
H. São cidades portuguesas na América.
I. Pagar impostos, defender o território contra estrangeiros e escolher deputados.
J. Café.
PRÉ-DESAFIO
O trecho abaixo foi extraído de um livro de humor, mas é baseado em parte em acontecimentos
históricos, leia para responder à questão.
As capitanias hereditárias marcaram nossa história. Muitos estados brasileiros guardam o nome da
capitania e se assemelham no tocante ao espaço físico. Mas o que ficou marcado mesmo em nossa alma é
a certeza de que, se você pretende ser dono de longas extensões de terra, é preciso ser amigo do rei ou
herdar de alguém. Fonte: NUNES, Jovane. A Outra História do Brasil – a versão sem cortes e desavergonhada que explica tudo.
Editora Planeta, 2009.
1. Sobre a propriedade de terras é correto afirmar que:
A) Nunca alguém que nasceu pobre no Brasil conseguiu comprar grandes porções de terra e sobreviver
da agricultura.
B) Na história brasileira, algumas pessoas conseguiram durante a sua vida sair da pobreza e tornar-se um
grande proprietário de terras.
C) A maioria dos grandes proprietários de terra do Brasil colonial eram descendentes de famílias
humildes que enriqueceram com o suor do próprio rosto.
D) Todos os grandes proprietários de terra do Brasil colonial só conseguiram as suas terras depois de
comprarem com suas economias.
Leia os textos a seguir.
Somente os chamados homens-bons (proprietários de terras e de escravos, que eram portugueses ou
seus descendentes) podiam ser eleitos vereadores das Câmaras Municipais. Aqueles que exerciam
trabalhos manuais, os degradados e os não-cristãos não podiam ser eleitos. Fonte: Projeto Araribá – História. Pág. 173. São Paulo: Editora Moderna, 2006.
Título de eleitor é o documento que comprova que um determinado cidadão está inscrito na Justiça
Eleitoral do Brasil e se encontra apto a exercer tanto o eleitorado ativo (votar num candidato), quanto o
eleitorado passivo (ser votado como candidato) em eleições municipais, estaduais e federais. É também
condição fundamental para sua obtenção que o eleitor possua a nacionalidade brasileira. (...)
O documento é obrigatório a todos os cidadãos com mais de 18 anos e facultativo para aqueles entre
16 e 18, ou com mais de 70. O título é também opcional para cidadãos não alfabetizados. O eleitor que
não possui o título, ou se este se encontra cancelado, não pode solicitar a emissão de passaporte ou do
cartão do CPF, bem como inscrever-se em concurso público, renovar a matrícula em estabelecimentos
oficiais de ensino e obter empréstimos em caixas econômicas federais e estaduais. Fonte: Wickpedia, verbete “título eleitoral”. (Com adaptações) Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%ADtulo_eleitoral Acesso em 08/10/2010.
2. Comparando os dois textos anteriores é correto concluir que:
A) As condições para votar no Brasil colônia são: ser brasileiro e maior de 18 anos.
B) No Brasil colonial, diferentemente do Brasil contemporâneo, o comando político das vilas e das
cidades estava nas mãos de uma minoria.
C) Menores de 16 anos, analfabetos e maiores de 70 anos não podem votar.
D) As condições para se eleger vereador no Brasil colonial eram as mesmas para se eleger governador.
Observe a imagem a seguir para responder à próxima questão.
3. A imagem representa:
A) A indústria de móveis que empregava índios no Brasil trazendo a civilização até eles.
B) Os índios construindo suas casas.
C) A indústria de construção e reparo de navios dos portugueses no Brasil.
D) Índios cortando madeira de pau-brasil para trocar por tecidos com os portugueses.
Martim Afonso de Souza fundou a primeira vila do Brasil, São Vicente, em 1532. Ali construíram as
primeiras casas, uma capela e o primeiro engenho para produzir açúcar.
4. Assinale a alternativa correta sobre o Brasil colonial.
A) As fazendas de cana-de-açúcar e seus engenhos eram centros econômicos e administrativos do Brasil
colonial, eram fontes de renda e poder.
B) Os portugueses já plantavam cana-de-açúcar no Brasil antes de 1532.
C) A primeira atividade econômica dos portugueses no Brasil foi a produção de açúcar.
D) A colonização do Brasil por Portugal nada tem a ver com a política do mercantilismo.
5. Sobre a relação entre Brasil e Portugal no século XVI assinale a alternativa correta.
A) Os colonizadores do Brasil fabricavam muitas coisas e vendiam para Portugal.
B) Portugal só podia fazer comércio com o Brasil.
C) Portugal e Brasil assinaram um acordo para o livre comércio entre si, assim os preços dos produtos
eram iguais nos dois países.
D) O Brasil produzia açúcar porque em Portugal não havia clima e nem espaço para produzir esta
mercadoria mas ela era muito cara.
O açúcar é a principal coisa com que todo este Brasil se enobrece e faz rico. Os capitães-mores, cada
um na capitania de sua jurisdição, repartem as terras com os moradores, dando a cada um deles uma
extensão segundo suas forças e possibilidades. As pessoas a quem se dão semelhantes terras, tendo
cabedal para fabricarem nela engenho de fazer açúcares, os fabricam. [...] No Brasil, em três capitanias
que são a de Pernambuco, a de Itamaracá e a da Paraíba [...] tanto açúcar que basta para carregar, todos os
anos, cento e trinta ou cento e quarenta naus. Sua Majestade não gasta de sua fazenda um só vintém. A
carga de açúcares que se leva ao Reino paga os direitos devidos a Sua Majestade. Ambrósio Fernandes Brandão. Diálogo das Grandezas do Brasil. 1618. In: Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo. Coletânia de documentos históricos para o 1º grau – 5ª a 8ª séries. São Paulo: CENP, 1979. p.18
6. A forma como o Brasil foi cultivado, descrita no texto anterior, originou naquele século
A) Uma justa distribuição de terra e renda entre todos os que viviam no Brasil.
B) Uma estrutura latifundiária agro-exportadora que permaneceria por muito tempo.
C) Uma marinha brasileira completa e com muitos navios.
D) Muitas receitas de doces para aproveitar tanto açúcar.
Leia as afirmações de um índio yanomami na época da comemoração dos 500 anos da descoberta do
Brasil.
Os brancos mentem quando dizem que descobriram o Brasil. Isso porque todas as terras, a dos
brancos e a dos yanomamis, foram criadas ao mesmo tempo. Um yanomami nunca diz “esta terra é
minha” ou “descobri esta terra”, porque ela sempre esteve ali, no mesmo lugar.
E foi mentindo que os brancos conquistaram as terras que hoje formam o Brasil.
Quando chegaram aqui, os brancos eram poucos, não tinham casas e mostraram-se amigos. Tudo
mudou quando começaram a construir suas moradias, a fazer plantações, a cavar a terra para procurar
ouro. Esqueceram então a amizade e começaram a matar as pessoas da floresta. Fonte: Projeto Araribá – História. Pág. 176. São Paulo: Editora Moderna, 2006.
7. Concluí-se após a leitura do trecho anterior que:
A) Para os yanomamis a chegada do homem branco ao Brasil foi uma coisa positiva porque desta
amizade surgiram muitas melhorias para os brasileiros.
B) Os yanomamis preservam a memória de quando os portugueses chegaram ao Brasil e isso permite que
sua identidade também mantenha-se diferente da dos homens brancos.
C) A história que os yanomamis contam sobre a época que os europeus chegaram ao Brasil não pode ser
levada em consideração pelos historiadores porque foi passada de pai para filho e não foi escrita.
D) O principal objetivo dos europeus no Brasil era promover a saúde, educação, moradia, segurança,
cultura e lazer entre os povos indígenas.
8. Ainda sobre o texto podemos afirmar que:
A) Os portugueses não lutaram contra os índios para tomar posse do Brasil porque os índios eram
amistosos e receberam a colonização de bom grado.
B) Os yanomamis lutaram contra os europeus porque não queriam perder suas terras para eles.
C) Para os índios a terra não tinha dono e era muito estranho os portugueses quererem tomar posse dela.
D) Os portugueses descobriram o Brasil, antes deles chegarem nessas terras elas eram desconhecidas por
todo mundo.
(SIADE 2009) Leia o texto.
Não podemos esquecer os sofrimentos impostos às populações do continente na época da conquista
e da colonização. Temos que reconhecer toda a verdade, os abusos e a falta de amor daqueles que não
souberam ver nos indígenas os irmãos e os filhos do mesmo Deus e pai. Fonte: DISCURSO do Papa João Paulo II, dirigido aos povos indígenas. In: CONFERÊNCIA DOS BISPOS CATÓLICOS DA AMÉRICA LATINA, 4, 1992, Santo Domingo. Trabalhos apres... Santo Domingo, 1992.
9. Assinale a interpretação mais condizente com a mensagem acima.
A) A sociedade européia com sua cultura superior fez bem em dominar os povos indígenas pouco
desenvolvidos.
B) As consequências da dominação européia demonstravam ser passageiras e hoje os países latinos
figuram entre as potências globais.
C) A expansão colonialista européia causou o extermínio de milhares de membros de povos nativos da
América.
D) Os indígenas deixaram-se dominar pelo seu espírito indolente.
(SIADE 2009) Leia os textos e responda à questão.
Texto 1 – Durante as duas primeiras décadas, desinteressada em colonizar a terra à qual Cabral chegara, a
Coroa portuguesa acabou por transformá-la numa imensa fazenda de pau-brasil, logo arrendada à
iniciativa privada. Fonte: BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002. P.34
Texto 2 – A roça também não é de um dono só. Ninguém faz a roça sozinho. Ninguém come as coisas da
roça sozinho. As coisas da roça a gente sempre divide com os parentes. Divide com quem está
precisando. Cada povo divide de um jeito. Fonte: PAULA, E.D.; PAULA, L.G.; AMARANTE, E (Org.). História dos povos indígenas: 500 anos de luta no
Brasil. São Paulo: Vozes: CIMI, 1987. P. 40.
10. As atitudes expressas nos dois textos são justificadas por diferentes concepções de propriedade.
Assinale a alternativa correta sobre tais concepções.
A) Para os europeus a terra era coletiva, por isso todos podiam explorá-la; de maneira semelhante, os
índios usavam a terra para a comunidade.
B) Os povos indígenas exploravam as terras fazendo roças comunitárias, bem como os europeus, em suas
fazendas coloniais.
C) A propriedade de terra para os europeus era privada e servia para gerar riquezas, enquanto que para os
índios seu uso era coletivo.
D) A exploração das terras pelos europeus seguia o princípio da propriedade privada, assim como faziam
os índios no Brasil.
(SIADE 2009) Lei o texto e responda à questão.
Todo mundo fala
Língua de índio
Tupi Guarani
O índio andou pelo Brasil
Deu nome pra tudo que ele viu
Jabuticaba Caju Maracujá
Pipoca Mandioca Abacaxi
É tudo tupi
Tupi guarani Fonte: ZISKIND, H. Tu Tu Tu Tuoi. Disponível [2008] em: http://letras.terra.com.br/helio-ziskind/387577/. Acesso
em: 24 de maio, 2009. Adaptado.
11. Conclui-se, após a leitura do trecho da canção acima, que no Brasil
A) foram eliminados todos os traços da cultura indígena após a colonização européia.
B) houve grande influência da cultura indígena na formação da cultura nacional.
C) os índios não contribuíram em nada no processo de formação da cultura nacional.
D) a utilização da cultura dos índios restringiu-se aos seus próprios descendentes.
(SIADE 2009) Leia o texto abaixo e responda a questão.
Os primeiros relatos que possuíamos sobre o Brasil e seus habitantes foram deixados por europeus
que aqui estiveram depois de 1500. Pero de Magalhães Gandavo escreveu assim sobre os habitantes do
Brasil:
“Os índios andavam nus sem nenhuma cobertura. Vivem em aldeias com sete ou oito casas. Cada
casa está cheia de gente e nela cada um tem sua rede de dormir armada. Não há entre eles nenhum Rei,
somente em cada aldeia tem um chefe que é como um capitão, ao qual obedecem por vontade e não por
força.” Fonte: GANDAVO, P.M. Tratado da Terra no Brasil. (1570). Belo Horizonte: Itatiais, 1980. Adaptado.
12. O texto relata a maneira como um português do século XVII percebeu as aldeias indígenas no Brasil.
Sobre o encontro entre os índios e os europeus, em 1500, podemos afirmar que
A) os habitantes indígenas brasileiros não tinham organização alguma. Toda organização política e social
foi construída pelos portugueses.
B) os habitantes indígenas do Brasil tinham seu modo de governar próprio e conseguiram convencer os
portugueses a utilizar o seu modo de governo.
C) os habitantes indígenas brasileiros tinham seu modo de vida particular, sua organização e seus
costumes. Os europeus, vindos de outro continente, perceberam estes costumes, mas mudaram a forma
de governar, trabalhar e viver dos índios.
D) os habitantes indígenas do Brasil tinham uma maneira particular de viver e de governar. Os europeus
perceberam e aceitaram estes costumes utilizando a mesma maneira de governar.
(SIADE 2010) Observe o mapa abaixo
Capitanias Hereditárias no século XVI.
Fonte: www.acd.ufrj.br/fronteiras/mapas.
13. Considerando o tamanho atual do Brasil, podemos afirmar que a colonização portuguesa no século
XVI
A) ultrapassou a “fronteira” de Tordesilhas, ocupando territórios espanhóis na região central do
continente.
B) ocupou basicamente as áreas centrais do continente, não ultrapassando os limites do litoral.
C) ocupou apenas a região norte do continente americano, ultrapassando a “fronteira” de Tordesilhas.
D) limitou-se a ocupar as regiões litorâneas, não ultrapassando a “fronteira” de Tordesilhas em direção às
terras espanholas.
(SIADE 2010) Leia os textos abaixo sobre a questão indígena.
I. A respeito dos povos indígenas, a Constituição diz que: “São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças, tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens”.
II. A revista FORUM trouxe, em setembro de 2006, artigo sobre a condição de povos indígenas do
estado de Mato Grosso: “(...) o principal problema enfrentado pelos diversos grupos indígenas na
região é a questão da terra, já que os índios foram expulsos de seus espaços tradicionais durante o
processo de ocupação de suas terras”. Fonte: Revista FORUM nº 42. (Adaptado). Disponível: http://www.revistaforum.com.br
Acesso em 03/05/2009.
14. Considerando os textos, podemos afirmar que
A) A Constituição, ao reconhecer o modo de vida dos povos indígenas, considera que eles são inferiores
na nossa sociedade. A reportagem aponta que a questão da terra não é um problema dos povos indígenas.
B) A Constituição, ao reconhecer o modo de vida dos povos indígenas, considera a importância deles na
nossa sociedade. A reportagem mostra violações da Constituição e desses direitos.
C) Os direitos sociais indígenas não estão garantidos na Constituição. A reportagem não trata de violação
dos direitos indígenas.
D) A Constituição não reconhece o direito dos povos indígenas à terra. A reportagem não trata de
violação dos direitos dos indígenas.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
Conselho Ultramarino - Representação legal
“Pede o Conselho que Vossa Majestade mande passar ordem ao governador das Minas pelas quais se
lhe que não possa daqui em diante ser eleito vereador ordinário, nem andar na administração das vilas
daquela capitania, homem que seja mulato dentro de quatro graus em que o mulatismo é impedimento, e
que também não possa ser eleito […]. Desta forma, ficarão aqueles ofícios dignamente ocupados e se
conseguir que homens daquele país procurem deixar descendentes não defeituosos, impuros […]”.
15. Por meio do documento, não podemos afirmar que:
A) O Conselho preocupava-se em livrar o governo de três categorias distintas de pessoas: mulatos,
indivíduos com deficiências físicas e indivíduos com deficiências morais.
B) O Conselho considerava aptas a ocuparem cargo público apenas as pessoas brancas.
C) Tratava-se da lógica da “limpeza de sangue”, ainda vigente na colônia no século XVIII.
D) O pedido do Conselho Ultramarino ao rei indica que era possível que indivíduos mulatos pleiteassem
cargos públicos.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
Carta do Brasil (1549)
“Parece-me cousa mui conveniente mandar Sua Alteza algumas mulheres que lá têm pouco remédio
de casamento a estas partes, ainda que fossem erradas, porque casarão todas mui bem, com tanto que não
sejam tais que de todo tenham perdido a vergonha a Deus e ao mundo. E digo que todas casarão mui bem,
porque é terra muito grossa e larga (…) De maneira que logo as mulheres terão remédio de vida, e os
homens [daqui] remediariam suas almas, e facilmente se povoaria a terra”.
16. Assinale a conclusão errada:
A) Seria conveniente que o rei enviasse mulheres para o Brasil, pois havia poucas no território.
B) Enviando mulheres da Europa, mesmo as de má reputação, seria evitada a miscigenação com as
indígenas.
C) O matrimônio sugerido seria benéfico para os colonos e para as mulheres de “pouco remédio de
casamento”.
D) O casamento entre mulheres portuguesas e colonos ajudaria a povoar a terra e daria “remédio à vida”
das indesejadas na Europa.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
Viagem à terra do Brasil de Jean de Lèry
Texto de viajante
– Por que vindes vós outros, maírs e perôs buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes
madeira em vossa terra?
Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o
supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e
suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente:
– E porventura precisais de muito?
– Sim – respondi-lhe – pois no nosso país existem negociantes que possuem panos, facas, tesouras,
espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que
muitos navios voltam carregado.
– Há! – retrucou o selvagem – tu me contas maravilhas – acrescentando depois de bem compreender o
que eu lhe dissera.
– Mas esse homem tão rico não morre?
– Sim – disse eu – morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso
perguntou-me de novo:
– E quando morrem para quem fica o que deixam?
– Para seus filhos se os têm – respondi – na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos.
– Na verdade – continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo – agora vejo que vós outros
maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui
chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem!
Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem
amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por
isso descansamos sem maiores cuidados.
O diálogo acima teria se passado na década de 1550 entre um tupinambá, do grupo nativo da costa
brasileira, e o pastor calvinista Jean de Léry(1534-1611). O indígena queria saber por que os europeus
vinham de terras longínquas a fim de buscar madeira para a extração de tintas.
17. Assinale a conclusão equivocada.
A) O diálogo mostra visões de mundo muito diferentes em relação a temas como a natureza, o comércio,
herança e riqueza.
B) Ao falar em “maírs” e “perôs”, o tupinambá mencionava franceses e portugueses, que disputavam a
exploração da região.
C) Pelo diálogo, podemos perceber indígenas e europeus em negociação, numa imagem distante da
tradicional, marcada apenas por conflitos e destruição.
D) O diálogo nos mostra como, em suas origens, os indígenas têm um modo de vida nômade, caçador e
coletor, pouco afeito ao trabalho e ao cuidado com seus descendentes.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
Arredores do Rio Araguari ou Rio das Velhas. Viagem à Província de Goiás. Auguste de Saint-Hilaire.
Texto de viajante
“O Capitão da aldeia da Estiva tinha-me hospedado em sua casa. Ao anoitecer os habitantes do lugar
reuniram-se ali, de volta de suas lavouras, e pude observá-los à vontade (…) eram todos mestiços de
índios com negros (…) falavam a (…) ‘língua geral’ e se dedicavam ao cultivo da terra, demonstrando
pelo seu modo de vestir que não viviam na indigência. Enquanto me encontrava entre eles chegou à aldeia
um agricultor das redondezas com alguns burros carregados de lingüiças, de carne de porco salgada, de
cachaça e de rapaduras (…). O homem encontrou fácil saída para os seus produtos, seja vendendo-os, seja
trocando-os por algodão fiado ou peles de veado.”
Diário de uma Viagem ao Brasil. Maria Graham.
Texto de viajante
“Tomei chá em casa da Baronesa de Campos e lá encontrei uma grande reunião de família que se
realiza sempre aos domingos para tributar homenagens à velha senhora. O chá foi feito por uma das
moças com o auxílio da irmã, tal como se daria na Inglaterra. Uma grande urna de prata, bules de chá
também com prata, jarras de leite e pratos de açúcar, com elegantes porcelanas da China, estavam
colocados numa grande mesa, em volta da qual se reuniam diversas moças. De lá mandavam servir o chá
em torno de nossa roda (…). Em seguida, ofereceram-se doces de todas as espécies, após o que todo
mundo tomou um copo d’água.”
18. Após ler os dois textos acima, selecione a alternativa errada:
A) Os dois textos se referem a um conjunto diversificado de hábitos de alimentação em diferentes regiões
do Brasil nas primeiras décadas do século XIX.
B) Os textos dos viajantes estrangeiros nos informam como viviam nossos antepassados e os costumes
característicos desta época.
C) A vida cotidiana em partes distintas do Brasil indica as diferenças de economia, sociedade e cultura
entre as vilas rurais do interior e os padrões burgueses europeizados dos grupos sociais abastados da
Corte.
D) Os viajantes estrangeiros estavam mais interessados na economia brasileira do que em mostrar
costumes nacionais.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
Leia o documento abaixo atentamente e observe os mapas que elaboramos para esta questão,
procurando localizar as colônias que o texto cita.
Documento do Conselho da Fazenda,1657
“As índias acham-se hoje miseravelmente reduzidas a seis praças principais, que são: Moçambique,
sem defesa; Goa, pouco segura; Diu, arriscada; Cochim, dependente da amizade do rei; Columbo,
invadida pelos holandeses; Macau, sem comércio, desesperada; Angola, nervo dos engenhos do Brasil,
necessita de prevenção contra os desejos que os espanhóis, ingleses e holandeses têm de nos tirarem os
negros […]. A costa da Guiné, donde saía tanta riqueza […] é toda dos estrangeiros […]. O Brasil,
reforço principal desta Coroa, pede socorros […]. O Maranhão, mal se sustenta no que é, e receia a cobiça
dos estrangeiros que o ameaçam […]. Portugal, enfim, se acha sem forças, sem ânimo para se sustentar
[…]; não só falta para grandes despesas e para pagar o que deve de justiça, mas ainda para as despesas
miúdas.”
19. A alternativa errada é a:
A) A metrópole colonial possuía vários portos importantes no território brasileiro, mas estavam todos em
situação precária.
B) Portugal havia estabelecido colônias em diversos territórios durante as Grandes Navegações, que se
viam ameaçados por outros impérios coloniais.
C) O autor do texto alerta que as posses portuguesas, ainda que ricas, passavam por dificuldades.
D) No século XVII, o Brasil já era uma colônia importante do mundo português.
(1ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2009)
Texto de Domingos Jorge Velho
“(…) e se ao depois de dominá-los nos servimos deles para as nossas lavouras; nenhuma injustiça
lhes fazemos; pois tanto é para os sustentarmos a eles e a seus filhos como a nós e aos nossos; e isto bem
longe de os cativar, antes se lhes faz hum importante serviço em os ensinar a saberem lavrar, plantar,
colher e trabalhar para seu sustento, coisa que antes os brancos lho ensinem, eles não sabem fazer”.
Texto de Antonio Vieira (1694)
“São pois os ditos índios aqueles que vivendo livres e senhores naturais das suas terras, foram
arrancados delas com suma violência e tirania, e trazidos em ferros com as crueldades que o mundo sabe,
morrendo natural e violentamente muitos nos caminhos de muitas léguas até chegarem às terras de São
Paulo onde os moradores serviam e servem deles como de escravos. Esta é a injustiça, esta é a miséria,
isto o estado presente, e isto o que são os índios.”
20. Depois de ler ambos os documentos, podemos negar que:
A) O uso do trabalho indígena é interpretado de formas diferentes pelo religioso e pelo bandeirante.
Enquanto o primeiro o vê como injustiça e crueldade, o segundo o vê como serviço prestado, que resulta
em aprendizado para os índios.
B) Apesar de proibida, a escravidão indígena era prática corrente em toda a colônia.
C) Tanto a posição do jesuíta como a do bandeirante fazem parte de uma mesma lógica: a da colonização.
D) Os dois textos consideram que apenas a escravidão pode civilizar os indígenas.
(3ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2011)
“Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão não trato, porque até agora não houve quem a
andasse por negligencia dos portuguezes, que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam
delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos. (…)
Já (…) comecei a murmurar da negligencia dos portugueses que não se aproveitavam das terras do
Brasil que conquistam, e agora me é necessário continuar com a murmuração, havendo de tratar das
minas do Brasil, pois, sendo contigua esta terra com a do Peru, que a não divide mais do que uma linha
imaginária indivisível, tendo lá os castelhanos descobertas tantas e tão ricas minas, cá nem uma passada
dão por isso, e quando vão ao sertão é a buscar índios forros (…) ainda que de caminho achem mostras ou
novas de minas, não as cavam nem ainda as vêm ou as demarcam.”
21. Após a leitura de trecho da História do Brasil por Frei Vicente do Salvador, escrito 1627, assinale a
conclusão errada.
A) Os portugueses ignoravam as minas encontradas uma vez que os metais e pedras preciosas não eram,
naquele momento, importantes para a economia europeia.
B) A comparação entre portugueses e caranguejos se explica pela ocupação exclusivamente litorânea do
território.
C) Os portugueses são retratados como os que souberam conquistar, mas não souberam explorar de forma
satisfatória, as terras conquistadas.
D) A linha imaginária indivisível a que se refere o texto é a estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas em
1494.
(3ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2011)
A partir da leitura do documento a seguir, escolha a alternativa incorreta.
Regimento de Tomé de Souza, 1548
“Eu o Rei faço saber a vós Tome de Souza fidalgo de minha casa que Vendo Eu quanto serviço de
Deus e meu é conservar e enobrecer as capitanias e povoações das terras do Brasil e dar ordem e maneira
com que melhor e mais seguramente se possam ir povoando para exalçamento da nossa Santa Fé e
proveito de meus reinos e senhorios e dos naturais deles ordenei ora de mandar nas ditas terras fazer uma
fortaleza e povoação grande e forte em um lugar conveniente para daí se dar favor e ajuda às outras
povoações e se ministrar Justiça e prover nas coisas que cumprirem a meu serviço e aos negócios de
minha fazenda e a bem das partes e por ser informado que a Bahia de Todos os Santos é o lugar mais
conveniente da costa do Brasil para se poder fazer a dita povoação e assento assim pela disposição do
porto e rios que nela entram como pela bondade abastança e saúde da terra e por outros respeitos hei por
meu serviço que na dita Bahia se faça a dita povoação e assento e para isso vá uma armada com gente
artilharia armas e munições e todo o mais que for necessário. E pela muita confiança que tenho em vós
que em caso de tal qualidade e de tanta importância me sabereis servir com aquela fieidade e diligência
que se para isso requer hei por bem de vós enviar por governador às ditas terras do Brasil no qual cargo e
assim no fazer da dita fortaleza tereis a maneira seguinte da qual fortaleza e terra da Bahia vós haveis de
ser capitão”.
Vocabulário:
Exalçamento: ato de exaltar; elevar.
Fieidade: fidelidade. Em: Raphael Bluteau. Vocabulário Português e Latino. Coimbra, 1712-1789. Disponível em:
http://www.ieb.usp.br/online/index.asp;
22. Assinale a conclusão errada.
A) A construção de uma fortaleza e a fundação de uma povoação na Baía de Todos os Santos era uma
forma de assegurar a presença administrativa da Coroa portuguesa.
B) O documento revela uma estrutura de poder baseada em confiança e fidelidade na relação entre o Rei e
o Governador Geral, que atuaria como representante do poder real em terras coloniais.
C) O sucesso encontrado por Tomé de Souza na execução do Regimento imposto pelo rei D. João III na
região da Bahia fez com que ele ficasse no Nordeste e não estendesse seus compromissos para as demais
capitanias.
D) O rei D. João III discorre sobre sua expectativa em relação à atuação de Tomé de Souza em terras
brasileiras, indicando seus compromissos em conservar, fortalecer e povoar as capitanias hereditárias.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
“Na história administrativa do Brasil na primeira metade do século XVI pode-se distinguir,
nitidamente, duas fases bem caracterizadas; a do reconhecimento e exploração das costas, a base de
feitorias e do comércio de pau-brasil, e a das capitanias ou da colonização propriamente dita. Na primeira
reproduziu-se a experiência portuguesa na África e na Índia. Na segunda houve um período inicial de
descentralização administrativa, representado pelo regime de capitanias hereditárias. (…)
As primeiras expedições portuguesas à América foram em busca de metais preciosos e especiarias que
substituíssem os produtos da Índia já a esse tempo pouco rendosos. No novo continente, porém, logo se
desvaneceram as lendas sobre os índios. Era uma população primitiva e os únicos gêneros de valor para a
exploração encontrados, foram o pau brasil e a cana fístula. (…)
Esta madeira tintorial não rendia bastante para manter e promover a prosperidade das feitorias. A
concorrência dos piratas e das colônias espanholas da América Central ainda diminuíam a margem de
lucro. Se Portugal não lançasse mão de outro sistema perderia a colônia. D. João III resolveu enviar uma
expedição, a de Martin Afonso de Souza (1530), que marcou a transição entre o regime das feitorias e o
das capitanias.
Assim terminava a primeira fase da exploração da costa brasileira, baseada no mesmo sistema
econômico adotado na África e Índia, e que se revelava ineficaz no Novo Mundo.”
23. Indique a alternativa incorreta.
A) A expedição de Martim Afonso de Souza em 1530, referida pela autora do texto, marca a mudança no
processo de colonização do Brasil, culminando em 1534 na divisão da América Portuguesa em Capitanias
Hereditárias.
B) Até 1530 os portugueses utilizavam o litoral do Brasil apenas como ponto de parada e abastecimento
em suas viagens rumo às feitorias africanas.
C) O pau-brasil era o principal produto comercializado na costa brasileira no período que compreende
1501-1530 e, além disso, esse comércio não era exclusivo dos portugueses.
D) O ano de 1530 marca uma mudança quanto à colonização do Brasil, deixando de ser uma feitoria,
tornando-se uma colônia, como ocorria nas ilhas atlânticas e na América Espanhola.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
O desenho de Laerte:
500º aniversário do descobrimento
24. Indique a alternativa incorreta.
A) Faz um jogo entre passado e presente por meio da fala do indígena que expõe a expectativa de
moradia, algo próprio do Brasil contemporâneo.
B) O comentário conformista do indígena mostra a docilidade com que as populações nativas receberam
os conquistadores portugueses.
C) Faz referência ao contexto da conquista das terras americanas pelos portugueses, o que pode ser
percebido por meio dos personagens indígenas e das caravelas ao fundo.
D) Apresenta um humor crítico ao mostrar os indígenas como já cientes de que os portugueses que ali
chegavam conquistariam suas terras.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
Membro de uma expedição francesa no atual Maranhão, o padre capuchinho Claude d’Abbeville assim
descreveu as terras que visitou no ano de 1612:
“Antes de falarmos dos costumes dos povos do Maranhão e suas circunvizinhanças, creio que devo
fazer em primeiro lugar a descrição da dita Ilha, mormente quando nem a mencionam os geógrafos que
escrevem sobre o Brasil, e apenas tratam de um rio com esse nome, o qual não se encontra em todo o
país, a não tomarem eles a enseada ou Baía do Maranhão por esse rio, ou por alguns outros que nela
desembocam.
Não há razão, pois cada rio tem o seu nome próprio como diremos ainda, e, além disso, com tal nome
não conhecem os Índios rio algum na sua terra, e sim uma Ilha, a que chamam Ilha Grande do Maranhão
(…)
Tudo (…) concorre para fortalecer muito a Ilha Grande do Maranhão, além dos bancos, e recifes
semeados por todos os lados, e especialmente na foz da Baía, os quais a fazem inacessível não só aos que
não são bons Pilotos, ou não adquiriram experiência do canal pela prática de muitas viagens, mas também
a tornam de impossível entrada (…)
Além do Cabo das Tartarugas até ao das Árvores Secas, todo esse espaço é formado de bancos e
recifes, que entram pelo mar adentro algumas vezes 4 ou 5 léguas, e até a 6, 7, 8 e 10 léguas, de maneira
que ninguém pode aproximar-se de terra nem embarcado, nem a nado, e nem a pé.
São também areias, bancos e recifes o que existe entre os dois Cabos da Baía desta Ilha, e se não
houver grande experiência das duas únicas passagens, ali existentes, não há homem por mais destemido,
que seja, que se atreva a passar por esse lugar. (…)
Por outro lado desde o Cabo de Tapuytapera, próximo ao Maranhão, até o rio das Amazonas, há tantas
Ilhas ao longo da costa, que é impossível por ali chegar-se à terra firme, além de estarem carregadas de
certas árvores chamadas Mangues, que seus galhos deitam muitos renovos ou olhos, os quais se estendem
para baixo, tocam a terra e criam raízes, donde se formam outras árvores, que fazem igual curso.
A criação e crescimento destas árvores fazem com que se entrelacem muito umas nas outras, bem
como suas raízes também, de forma que se pode dizer haver em todas estas Ilhas uma só árvore e uma só
raiz.
Quando não houvesse outra coisa mais, bastava só isto para torna-la impenetrável, e só vendo é que se
pode imaginar.
Ninguém pode atravessar estas trincheiras, colocadas por Deus e mãe natureza ao redor desse país
(…)
O ingresso ainda é mais difícil nas Ilhas pequenas, e debaixo dos mangues, pois ali só existem coroas
e areias movediças, e nelas fica-se coberto até a cintura ou até o alto da cabeça, e uma vez enterrado nelas
não há poder algum de safar o sujeito de tais coroas.
A maré ou o reflexo do mar cobre todos os dias, duas vezes, todas as coroas e areias, e passa por cima
das raízes dos mangues, erguidas além da superfície da terra em muitos lugares como se fossem muralhas
altas.
Se alguém pretender entrar deste país, e quiser ir para a terra firme, convém entrar primeiro na Ilha
Grande do Maranhão (…) porque daí pode ir em canoas ou cascos até a foz dos rios no fundo da Baía,
depois ganhar a terra firme, e seguir para onde lhe aprouver.
Para chegar à Ilha Grande, só existem duas entradas, uma entre o Cabo das árvores secas, e a
Ilhazinha de Santa Anna, a qual embora muito conhecida dos navegantes, nem todos se atrevem a guiar
um navio, e nem os próprios Pilotos, ainda mais os mais experientes, o fazem com certeza ou pleno
conhecimento.
Vi marinheiros muitos velhos (…) tremerem 15 dias antes da viagem, a que se pode chegar até a Ilha
de Santa Anna (…)
Por outro lado podem entrar navios de 1.000 à 1.200 toneladas e chegar até ao pé do Forte da Ilha
Grande, porém ainda o caminho não é muito conhecido, e é bem difícil.
Já se vê, que é tolice o pensar expelir-se os Franceses destes lugares, quando neles bem estabelecidos,
e querer acreditar isto, além de procurar rebaixar assim a coragem deles, e exaltar muito o valor e valentia
dos contrários, é pura malícia, senão temeridade, a menos que não se seja cego.
Os que viram a posição desta ilha, e que por experiência conhecem a dificuldade de suas entradas não
partilham tal pensamento, gerado sem duvida em algum espírito tímido (…)”
Glossário
Renovo: Botão; broto; ramo novo que nasce quando um galho é cortado; broto que origina outra planta;
Olhos: Broto; gema; protuberância no caule da planta que dá origem a folhas, flores, ramos etc; AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria
Pereira, 1925, Disponível em: http://www.auletedigital.com.br/
25. Indique a alternativa incorreta.
A) Claude D’Abbeville descreve em detalhes o território visitado, dando especial destaque à composição
fluvial da região, às rotas de acesso e às dificuldades de locomoção.
B) O mangue, vegetação característica da região, é descrito pelo padre como trincheira que funcionava
tanto como proteção da região quanto como elemento que dificultava muito o acesso à mesma.
C) A descrição tinha por objetivo mapear a região ainda desconhecida por franceses e portugueses, e
garantir um melhor domínio na luta pela conquista de uma colônia francesa na América Equatorial.
D) O relato demonstra que não havia intenção do governo português em deter o avanço dos franceses
naquela região inóspita e de difícil acesso, o que facilitou o domínio francês por décadas.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
Mostra do Redescobrimento é inaugurada em SP
“A inauguração para convidados da Mostra do Redescobrimento, a maior exposição de arte nos 500
anos de história do país, programada para acontecer na noite de domingo, dia 23, reflete as desigualdades
dos 500 anos da história do Brasil: 10% dos convidados participaram de um coquetel VIP com a presença
de políticos no edifício da Pinacoteca, enquanto o restante dos 3.000 convidados participou de festa na
marquise do parque.
Os presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, e de Portugal, Jorge Sampaio, abriram
oficialmente a mostra, na noite de ontem. São cerca de 15 mil obras divididas em 13 módulos, reunidos
em quatro edifícios no parque Ibirapuera: o pavilhão da Bienal, a Pinacoteca, a Oca e o Cinecaverna,
construído especialmente para a exposição.
No sábado, a montagem que demandou maior cuidado foi a instalação do manto tupinambá. A
operação envolveu mais de 20 pessoas. A peça permaneceu 48 horas fechada em uma caixa de alumínio
para se aclimatar às condições de tempo locais.
O manto tem 1,2 metro de comprimento e foi confeccionado com fibras naturais e penas de guará. Ele
foi instalado dentro de uma vitrine, ao fim de um corredor branco de 30 metros.
Para se aproximar dele, os visitantes cumprirão uma espécie de ritual. Segundo o curador do módulo
‘Artes Indígenas’, José Antônio Fernandes Dias, a importância do manto é ‘justamente o seu valor
sagrado, pois ele era usado pelo pajé dos povos tupis’.
É um dos cinco mantos existentes, todos em museus europeus. O Museu da Dinamarca possui dois
mantos. A peça que veio para a exposição é a que está em melhor estado de conservação.
O manto foi levado de Pernambuco para a Europa por Maurício de Nassau durante a ocupação
holandesa do Nordeste brasileiro, entre 1637 e 1644, e foi presenteado ao rei da Dinamarca. O valor do
seguro da peça não pode ser divulgado, seguindo orientação do museu dinamarquês.
Antes da abertura oficial, a mostra era marcada pela polêmica. Ao escolher encenadores para trabalharem
juntos com os curadores dos módulos, a exposição corria o risco de tornar-se uma Disneylândia das artes
plásticas.
Não foi o que aconteceu, porém, na maioria dos módulos. Em ‘Arte Popular’, ‘Arte Moderna’, ‘Ar te
Contemporânea’ ou ‘Imagens do Inconsciente’ foram criados espaços onde as obras podem ser apreciadas
sem competir com o ambiente. Ganham, assim, novas possibilidades de leitura.”
26. Indique a alternativa incorreta.
A) A abertura da mostra chamou atenção pela grandiosidade do evento, que ofereceu destaque a artefatos
pouco conhecidos pelos brasileiros, como o Manto Tupinambá.
B) O Manto Tupinambá é importante por manter a sua utilização original como objeto de ritual indígena.
C) A presença do Manto Tupinambá gerou polêmicas sobre sua posse por parte de povoados indígenas na
Bahia, que reivindicaram o direito natural sobre a peça.
D) Na trajetória do Manto Tupinambá nota-se diferentes significados culturais: símbolo de culto
religioso, um presente diplomático e objeto de inestimável valor artístico.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
Confissões da Bahia
“Confissão de Maria Lopes, cristã-nova, no tempo da graça, em 3 de agosto de 1591: Disse ser cristã-
nova, natural de Monsaraz termo d’Évora em Portugal, filha de Fernão Lopes, alfaiate do duque de
Bragança, e de sua mulher Branca Rodrigues, defuntos, viúva, mulher que foi de Afonso Mendes,
cirurgião del Rei, de idade de sessenta e cinco anos, moradora nesta cidade.
E confessando-se, disse que em todo o tempo que teve casa até agora, quando mandava matar alguma
galinha para rechear ou para mandar de presente, a mandava degolar e, degolada, pendurar a escorrer o
sangue por ficar mais formosa e enxuta do sangue, e que sempre, quando em sua casa se cozinha, digo se
assa, quarto traseiro de carneiro ou porco, lhe manda tirar a landoa [gordura] porque se assa melhor e fica
mais tenro, e não se ajunta na landoa o sangue, e assim mais, quando a carne de porco é magra, alguma
vez a manda cozinhar lançando-lhe dentro azeite ou grãos na panela com ela, e isto mesmo mandou fazer
alguma vez à carne de vaca quando era magra.
E outrossim, disse que tinha nojo e asco às galinhas e qualquer outra ave que morria de doença.
Disse mais, que quando morreu seu filho Manuel Afonso, cônego da Sé desta cidade, estando ela
confessante no [luto] e pranto pela morte do dito seu filho que ainda estava morto em casa pediu um
púcaro de água e que dona Leonor, mulher de Simão da Gama, defunto, moradora nesta cidade que
presente estava, disse às outras mulheres que aí estavam que aquela água vinha de fora.
Outrossim, disse que haverá doze ou quinze anos que, saindo ela do confessionário de se confessar no
Colégio de Jesus, lhe disse Isabel Correa, que ora é viúva, mulher que foi de Francisco Álvares Ferreira,
moradora nesta cidade, que se confessava de muitas mentiras e malícias e pecados que nela havia, e
depois disto veio à notícia dela confessante que a dita Isabel Correa, trocando-lhe suas palavras, dizia que
ela lhe dissera que ia confessar que tudo eram mentiras, porém que ela confessante não disse senão como
dito tem.
E assim, disse mais, que haverá cinco anos, em dias das cadeias de São Pedro, no qual dia se costuma
guardar nesta cidade, por estar esperando por um seu filho casado de pouco que vinha com sua mulher,
ela confessante mandou caiar a casa tendo as portas abertas, sem má intenção de desprezo, mas por lhe vir
nova que vinha o dito filho, por não acharem a casa suja.
Outrossim, disse que haverá ano e meio que, estando para comer com a mesa posta, chamando por um
seu sobrinho por nome de Matias Rodrigues, que andava sempre com as contas na mão, ela confessante
lhe disse, por algumas vezes, que não andasse sempre com as contas na mão que tempo havia de rezar e
tempo de comer.
E que todas as ditas coisas tem feito e dito sem malícia e má intenção, e sem saber que eram
cerimônias de judeus, pelo que se algumas pessoas que dela sabem isto têm recebido escândalo e tem
cometido (ela) culpa no sobre dito da maneira que diz, pede perdão e misericórdia e penitência saldável.
E por não dizer mais, dizendo que lhe não lembrava mais nada, e que lembrando-lhe o viria confessar,
foi-lhe dito pelo senhor visitador que algumas das ditas coisas eram conhecidas muito notoriamente serem
cerimônias da lei de Moisés e, assim, o mandar trabalhar no dia santo, e dizerem dela que dizia confessar
mentiras, e mandar também ao dito seu sobrinho que não rezasse sempre com as contas na mão, são
coisas que mostram não ser ela boa cristã, maiormente sendo ela mulher de tão bom entendimento como
é, e que não é de crer que ela não soubesse que fazer as ditas coisas do quarto de carneiro, tirando-lhe a
landoa [gordura] e de cozinhar a carne com azeite e grãos eram cerimônias dos judeus, e que, portanto,
com muita caridade admoesta que declare e confesse a verdade de suas culpas e a intenção que teve em
fazer as ditas coisas porque, fazendo-o assim, está em tempo de graça no qual merecerá larga misericórdia
da Santa Madre Igreja”
Glossário
cristão-novo: O que se converteu recentemente ao cristianismo, ou o que descende de pais ou avós
convertidos do judaísmo à fé cristã.
landoa: Fruto do carvalho ou azinheira que servia para dar de comer aos porcos; gordura retirada no
preparo das carnes cozidas e assadas.
púcaro: Vaso com uma asa, metálico ou feito de barro, e que serve ordinariamente para tirar ou conter
pequenas porções de líquido
contas: Terço, rosário.
saldável: Que se pode saldar, igualar débito. AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria
Pereira, 1925, Disponível em: http://www.auletedigital.com.br/
SILVA, Antonio Moraes. Diccionario da lingua portugueza – recompilado dos vocabularios impressos ate agora, e
nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado, por ANTONIO DE MORAES SILVA. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/00299210
27. Indique a alternativa incorreta.
A) O processo inquisitorial realizado pela visita do Santo Ofício à Bahia mostra o aumento da
perseguição aos “cristãos novos” promovido pela União Ibérica.
B) A prática da delação era um fato comum nos processos inquisitoriais, baseada na observação de
atitudes cotidianas como “trocar a água da casa”, “não consumir gordura animal”, “caiar a casa” e
“cozinhar com azeite”
C) A inquirida, Maria Lopes, é acusada de realizar práticas da “lei de Moisés”, o que designava a
“heresia” de cripto-judaísmo.
D) É possível inferir que os processos inquisitoriais apresentavam eminentemente um caráter de
perseguição política aos “cristãos novos”, o que demonstra a perda das intenções morais e religiosas
originais do movimento contra-reformista católico.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
O astrônomo italiano Giovanni Angelo Brunelli (1722-1804) foi convidado pela Corte Portuguesa para
participar da primeira “Comissão Demarcadora de Limites” portuguesa na região do rio Amazonas, que
chegou a terras brasileiras em 1753 e perdurou até 1761. Das suas observações, foram produzidos alguns
registros referentes à região do rio Amazonas. Leia a carta endereçada a Eustachio Zanotti (diretor do
Observatório Astronômico de Bolonha, na época) e assinale a alternativa mais pertinente:
Saudações.
Há tempo tenho pensado cá comigo, caríssimo Zanotti, que nada daquelas coisas que acontecem no
mundo pode passar despercebido dos que apreciam dedicar-se à contemplação da natureza. (…) Pois
então conhece agora o que ninguém, e por isso com maior prazer, encarregou-se, até aqui, que eu saiba,
de tratar. Há uma cidade na América do Sul chamada Pará [Belém], ao lado de um rio, que dista um grau
e quase meio ao sul do Equador; e do oceano, na verdade, para o qual se volta, entre as regiões oriental e
norte, cinquenta milhas e mais. O rio que banha a cidade situada no litoral meridional, acrescido, eu diria,
antes, com muitas águas que são trazidas através de torrentes de todas as partes e por rios menores que
para aí confluem ao entrar no oceano. Por outro lado, o litoral extremo do Amazonas, que entra no mesmo
oceano, dista da cidade espalhado num longo espaço com inúmeras ilhas, das quais uma, que os índios
chamam Marajó, se concentra num círculo traçado em torno de quase 500 milhas.
(…). Entre aqueles menores rios que, como disse pouco antes, trazem águas para a cidade do Pará, há
um que se chama Guamá, na linguagem americana. (…) Aí, como acontece com outros rios que estão
mais perto do oceano, diariamente acontecem duas cheias e duas vazantes do mar, quando a Lua não está
longe da sizígia. No seguinte, no outro e no terceiro dia após a Lua nova ou Lua cheia, quando as maiores
de todas as ondas chegam longe, um pouco além daquela ilha que mencionei há pouco, de repente uma
força enorme e um volume de águas exuberante irrompe tão rapidamente que, num tempo curtíssimo, se
elevam todas impulsionadas até lá onde antes ou depois de outros dias sobem num intervalo de seis ou
sete horas. Os índios chamam esse súbito e violento ímpeto das águas de ‘pororoca’. Com esse vocábulo
exprimem bastante convenientemente a velocidade da água, o medo dos navegantes e, quem sabe também
o perigo. Na verdade, chamam ilha da ‘pororoca’ a ilha onde a pororoca começa. Em resumo, um
horrendo fragor começa a ser ouvido, quando três a três, ou quatro a quatro, as ondas brancas em espuma
se precipitam com todo o ímpeto daquela ilha, abatendo-se sobre elas mesmas, e, lançadas para o alto e a
toda volta, inundam amplamente os campos, num enorme espaço. Então, arrebatam consigo, com grande
força, troncos de árvores, cadáveres de animais, canoas, enormes pedras e tudo o que encontram no meio
do caminho. Onde o rio tem um leito mais estreito ou se dispersa em rios menores, tamanho é o ímpeto da
pororoca e tamanha a força que as águas parecem enfurecer-se inteiramente. Assim, a pororoca lança-se
para o alto através dos rios que encontra, até que, pouco a pouco, perdidas as forças, volta finalmente ao
repouso e desvanece completamente, quando as águas já atingem a maior altura. (…) No tempo que dura
a pororoca, principalmente a maior, que vem logo depois da própria união ou da oposição, quem estiver
navegando naquele trecho do rio situado acima da ilha da ‘pororoca’ deve tomar extremo cuidado para
que ela não o surpreenda e ele se condene pelo ato. (…)
Até agora expus aquela ‘pororoca’ que ocorre no rio Guamá, no qual tive a oportunidade de navegar
duas vezes, e quase todos os habitantes da vizinhança da cidade podem facilmente ver e observar. Mas,
em outros lugares mais distantes da cidade também acontecem outras ‘pororocas’ quase nas mesmas
épocas; dessas, a maior de todas, sem dúvida, é a que se desencadeia com uma rapidez sobremaneira
gigantesca e com a maior força, a mais temível de todas, quase na própria foz do rio Amazonas, perto
daquele promontório que chamam de Cabo do Norte. (…) Agora, então, Zanotti ilustríssimo, antes de
começar a expor-te o que pensei sobre a causa desse fenômeno, queria que soubesses que contam os
habitantes daquele lugar muitas coisas de caráter muito obscuro e dificílimas de explicar, que me parecem
mais ridículas do que dignas de crédito, para que sejam trazidas a exame. Alguns acreditam que a
‘pororoca’ se origina constantemente por causa da força do mar, as águas são impelidas para o alto com
maior ímpeto do que com o que costuma o rio desaguar no oceano. Se isso fosse assim, em qualquer parte
das terras, o mar se enchendo com a agitação, os rios teriam sua ‘pororoca’, que seria observada
facilmente por todos, duas vezes todos os dias. (…)
Estou omitindo muitas outras coisas sugeridas por aqueles homenzinhos ignaros, para não te provocar
mau humor e náusea. (…)
O que se pode ter como certo, acima de tudo, e que está solidamente conforme a observação, é que a
própria ‘pororoca’ está ligada com a agitação do mar (…). Como eu poderia dizer com poucas palavras
como isso acontece? Acho que, pouco acima da ilha da ‘pororoca’, há uma abertura muito ampla de um
canal oculto e que sai no mar, não longe da costa, por baixo das terras, em passagens invisíveis. É
certíssimo que existem esses canais assim subterrâneos, pelos quais as águas ocultas são levadas aos
lugares tão bem descritos, e só pode ignorar isso quem nada tiver ouvido. Penso, pois, que por esse canal
aquela tão grande quantidade de água e tanta força com que a ‘pororoca’ se manifesta são levadas até
aquela ilha pela própria gravidade, e que se lançam para fora, de forma, entretanto, a não sair alta em
frente, mas subindo por um caminho oblíquo, por causa do duto do canal, com uma rapidez gigantesca
contra a força do rio. E deve-se dizer que isso acontece incontinente, e aquela ameaça da maior agitação
do mar acima da abertura do canal abate-se toda por onde ela mesma acaba no mar.
(…) Agora tens, ilustríssimo Zanotti, meu julgamento sobre a ‘pororoca’, ou, antes, alguma conjectura;
que mesmo que agrade pouco, não a exponho com má vontade, nem, acredite-me, me irrito. Por que não
relatar essas ideias com as quais, quaisquer que sejam, esta minha conjectura pode ser derrubada? O que é
preciso esconder quem procura mais a verdade do que o louvor da inteligência? (…)
Mas, caríssimo Zanotti, eu próprio não tive que esconder essas coisas, eu que reconheço ignorar a
causa verdadeira de um fenômeno admirável, no entanto, desejo veementemente conhecê-la. É o que
tinha para te escrever sobre a ‘pororoca’. Se tratares dessa tarefa com nossos acadêmicos, não só deixar-
me-ás grato, como também ter-me-ás cada vez mais obrigado a ti. Na verdade, acho que aqueles grandes
homens, por causa da novidade do assunto, ouvirão de bom grado essas coisas.
Se com a maior inteligência, em que eles se sobressaem, perscrutarem alguma causa que pareça ser
pertinente ao assunto, coloca-me imediatamente a par. Adeus”.
Glossário
Sizígia: Conjunção ou oposição de um planeta com o Sol; diz-se das posições do Sol e da Lua quando
estão em conjunção; cada um dos pontos em que a Lua é nova ou cheia. Maré de sizígia: maré que ocorre
na lua nova e na lua cheia, quando, devido à conjunção da Lua e do Sol, as marés altas são maiores e as
marés baixas são menores.
Ignaro: Sem instrução, ignorante; estúpido, insensato. AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria
Pereira, 1925, Disponível em: http://www.auletedigital.com.br/
28. Indique a alternativa incorreta.
A) A presença de Brunelli na primeira expedição organizada após o estabelecimento do Tratado de
Madrid tem como propósito oferecer critérios de cientificidade para o estudo de uma região
economicamente importante à Coroa Portuguesa.
B) A explicação técnica oferecida por Brunelli para descrever o fenômeno da pororoca não se atesta tanto
quanto algumas justificativas da população local, as quais ele criticava duramente.
C) Brunelli retrata o fenômeno da pororoca aos europeus, buscando descrever a região em que ela ocorre,
as condições cosmológicas que a favorecem e os motivos físicos que a provocam.
D) Por ser um fenômeno que só ocorre no Brasil, era alvo da preocupação da Coroa Portuguesa que
buscava conhecer suas características para que seus navegadores não tivessem o mesmo destino do
espanhol Vicente Pízon em 1500.
(4ª Olimpíadas Nacional de História do Brasil – 2012)
A história, o índio e o livro didático
“[A] imagem do índio na literatura sobre o passado colonial brasileiro ultrapassou as fronteiras dos
institutos, gabinetes e bibliotecas (…) Elaborou uma categoria – índio – na qual incorrem certos atributos:
submissão – ao europeu, à natureza -, sensualidade, preguiça e uma valentia que não serviu para a
afirmação de seus valores e, sim, para o seu desaparecimento. Gestada nos meios acadêmicos, ela ganhou
o cancioneiro popular e assumiu um lugar na cultura: fala-se hoje de programa de índio, indicando-se uma
situação em tudo desfavorável. Índio passou, assim, a denominar uma categoria associada à desvantagem,
à derrota antecipada. (…)
O que se verifica na análise dos livros [didáticos] é uma gritante ambiguidade: enquanto, por um lado,
se percebe um processo de redimensionamento do lugar das populações indígenas na composição dos
conteúdos, em tudo atento às pesquisas mais recentes, por outro, nota-se a permanência de aportes que se
aproximam daquela antiga vocação: as populações indígenas são representadas conforme aquela cultura
histórica que as via como ingênuas, vítimas dos colonizadores, cujo traço cultural fundamental era, fora a
preguiça, a relação com a natureza (…)
Um dos pontos que permanecem inalterados (…) é a crença de que as populações indígenas viviam
em um mundo idílico, cujas principais características seriam o uso coletivo da terra e usufruto comum dos
bens (…) Esse caráter [ingênuo] é salientado (…) pela representação do índio como um ignorante que não
domina a lógica das coisas. Assim, ao tratarem das primeiras relações de troca envolvendo nativos e
europeus, referentes ao pau-brasil, os livros ressaltam o fato de a troca ser desigual: madeiras preciosas
(…) eram trocadas por pedaços de espelhos, penas, tintas (…) não raro classificados como bugigangas. O
fato de espelhos, penas, tintas e enfeites terem sido importantes para as cerimônias rituais, adquirindo um
significado novo no âmbito das culturas nativas, não é considerado (…)
Essa simplificação corresponde ao objetivo de apresentar uma visão dicotômica e moralizante do
plexo de relações havidas entre nativos e europeus. Não raro, lê-se que a matriz do problema seria a
presença da ambição no caráter europeu e a sua ausência no caráter nativo. Assim, os europeus são
caracterizados como praticantes de um desvio moral e as populações indígenas (…) como suas vítimas.
As populações são classificadas como sacrificadas, perdidas, massacradas e submissas. As narrativas (…)
concentram toda a ação nas mãos europeias.”
29. Indique a alternativa incorreta.
A) Sublinhar o aspecto da vitimização dos indígenas e da cobiça dos europeus acaba por associar o
conhecimento histórico a uma análise simplista dos atos dos homens do passado.
B) O texto indica que os livros didáticos repetem os mitos de identidade nacional e de comunhão com a
natureza criados ainda no século XIX.
C) A vitimização indígena é um argumento coerente, pois o trabalho compulsório e as relações de
dominação eram desconhecidas pelos nativos da América antes da chegada dos europeus.
D) As narrativas que “concentram toda a ação nas mãos europeias” negam às populações indígenas o
caráter de sujeitos históricos e reforçam sua imagem de submissão e apatia.
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