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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
Cap Inf DANIEL HENRIQUE AGUILAR PEREIRA
A COMPANHIA DE FUZILEIROS BLINDADA DOTADA DE VIATURA BLINDADA
DE TRANSPORTE DE PESSOAL M113-BR EM OPERAÇÕES EM AMBIENTE
URBANO NO CONTEXTO DE OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS
GOVERNAMENTAIS: UMA PROPOSTA DE TÉCNICAS, TÁTICAS E
PROCEDIMENTOS
Rio de Janeiro
2017
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
CAP Inf DANIEL HENRIQUE AGUILAR PEREIRA
A COMPANHIA DE FUZILEIROS BLINDADA DOTADA DE VIATURA BLINDADA
DE TRANSPORTE DE PESSOAL M113-BR EM OPERAÇÕES EM AMBIENTE
URBANO NO CONTEXTO DE OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS
GOVERNAMENTAIS: UMA PROPOSTA DE TÉCNICAS, TÁTICAS E
PROCEDIMENTOS
Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Militares.
Orientador: Cel Inf Manoel Márcio Gastão
Rio de Janeiro
2017
436c
2017 Pereira, Daniel Henrique Aguilar
A Companhia de Fuzileiros Blindada dotada de Viatura Blindada
de Transporte de Pessoal M113-BR em operações em ambiente
urbano no contexto de operações de apoio a órgãos governamentais:
uma proposta de técnicas, táticas e procedimentos / Daniel Henrique
Aguilar Pereira. – 2017.
224 f. : il.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais,
Rio de Janeiro, 2017.
1. VBTP M113-BR. 2. Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais. 3. Blindados de Transporte de Pessoal. I. Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais II. Título.
CAP Inf DANIEL HENRIQUE AGUILAR PEREIRA
A COMPANHIA DE FUZILEIROS BLINDADA DOTADA DE VIATURA BLINDADA
DE TRANSPORTE DE PESSOAL M113-BR EM OPERAÇÕES EM AMBIENTE
URBANO NO CONTEXTO DE OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS
GOVERNAMENTAIS: UMA PROPOSTA DE TÉCNICAS, TÁTICAS E
PROCEDIMENTOS
Dissertação de mestrado apresentada à
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais,
como requisito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em Ciências Militares.
Data de aprovação:
Banca Examinadora
____________________________________________
LUIZ HENRIQUE GONÇALVES PLUM – Ten Cel Mestre em Ciências Militares
Presidente/EsAO
________________________________________________
FREDERICO ALTERMANN NETO– Cap Mestre em Ciências Militares
1º Membro/EsAO
_______________________________________________
MANOEL MÁRCIO GASTÃO – Cel Doutor em Ciências Militares
2º Membro/EsAO
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela a oportunidade de enfrentar este desafio, iluminando-
me durante toda a caminhada.
À minha esposa, Vanessa, dedicada e compreensiva em todos os momentos,
oferecendo amor e apoio, mesmo quando não teve a merecida atenção.
Aos meus pais, Urbano e Márcia, pela educação e amor.
Aos Cap Dos Santos, Villela, De Paula e Pimentel, camaradas que apoiaram
de diversas formas o cumprimento desta missão e que buscaram me motivar quando
faltava o ânimo necessário para continuar.
Ao Sr Cel Márcio, orientador deste oficial, pelas observações oportunas que
nortearam a confecção deste trabalho, pela compreensão e pelo apoio incondicional.
Aos companheiros que participaram das entrevistas e questionários relativos
à pesquisa.
RESUMO
Este estudo analisa se o emprego da Viatura de Transporte de Pessoal M113-BR, recentemente modernizada, influencia a adoção de técnicas, táticas e procedimentos (TTP) da Companhia de Fuzileiros Blindada (Cia Fuz Bld) em ambiente urbano, em Operações de Apoio a Órgãos Governamentais, preenchendo uma lacuna na doutrina militar terrestre brasileira. Constata-se que a Cia Fuz Bld ainda não possui TTP para o emprego dessa viatura. A VBTP M113-BR sofreu um processo de modernização e foi empregada na Operação São Francisco, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, o que aponta para sua utilização em futuras operações, devido a sua proteção blindada e mobilidade em vias urbanas. Casos históricos de embates de forças regulares contra facções criminosas em ambiente urbano retratam a necessidade de proteção blindada e uso oportuno de viaturas de transporte de pessoal sobre lagartas, por sua mobilidade e dimensões reduzidas, nas comunidades brasileiras. Identifica-se, ainda, a necessidade de favorecer o emprego mais otimizado do conjunto blindagem-mobilidade da Cia Fuz Bld. Este estudo se torna relevante para a melhor adaptação da tropa blindada ao material bélico existente, visando à adequação das ações para garantir a lei e a ordem em situações nas quais as Forças Armadas vêm sendo frequentemente empregadas. O tema é desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica sobre aspectos relacionados ao histórico da VBTP M113-BR, seu processo de modernização, a atuação das Forças Armadas na Operação São Francisco e o emprego de blindados em ambiente urbano. Posteriormente, foram aplicados questionários e realizadas entrevistas com militares com experiência em emprego de blindados, e com militares que integraram a Cia Fuz Bld, na da Operação São Francisco e utilizaram a viatura em ambiente urbano. Analisando os resultados desta pesquisa, conclui-se que a modernização da VBTP M113-BR possibilita a adoção de TTP por parte de uma Cia Fuz Bld. Por fim, apresenta-se uma proposta de TTP para futuras operações nesse cenário.
Palavras-chave: VBTP M113-BR. Operações de Apoio a Órgãos Governamentais. Blindados de Transporte de Pessoal.
ABSTRACT
This study analyzes whether the employment of the newly modernized M113-BR Personnel Transport Vehicle influences the adoption of techniques, tactics and procedures (TTP) of the Armored Marines Company (Cia Fuz Bld) in the urban environment, in Operations Supporting Government Bodies, filling a Brazilian military ground doctrine. It can be seen that the Cia Fuz Bld does not yet have TTP for the use of this vehicle. The VBTP M113-BR underwent a modernization process and was employed in São Francisco Operation, in the Maré Complex, in Rio de Janeiro, which points to its use in future operations due to its armored protection and mobility in urban roads. Historical cases of clashes of regular forces against criminal factions in urban environments portray the need for armored protection and timely use of personal transport vehicles on caterpillars, due to their mobility and small size, in Brazilian communities. It also identifies the need to favor the more optimized use of the armored-mobility set of the Cia Fuz Bld. This study becomes relevant for the better adaptation of the armored troops to the existing war material, aiming at the adequacy of the actions to guarantee law and order in situations in which the Armed Forces are frequently employed. The theme is developed from a bibliographical research on aspects related to the history of VBTP M113-BR, its modernization process, the performance of the Armed Forces in Operation São Francisco and the use of armored vehicles in urban environments. Subsequently, questionnaires were applied and interviews were carried out with soldiers with experience in the use of armored vehicles, and with soldiers who were part of the Cia Fuz Bld, participated in São Francisco Operation and used the vehicle in an urban environment. The analysis of results led to the conclusion that the modernization of VBTP M113-BR makes it possible for a Cia Fuz Bld to adopt TTP. Finally, we propose some TTP for future operations in this scenario.
Keywords: VBTP M113-BR. Supporting Operations to Governmental Organs. Armored Vehicle for Personnel Transportation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Facções criminosas presentes na Maré......................................... 27
Figura 2 - Modelos de áreas urbanas.............................................................. 38
Figura 3 - Vista aérea da favela da Maré............................................................ 43
Figura 4 - Divisão das principais comunidades na Maré................................. 45
Figura 5 - Histórico da VBTP M113-BR........................................................... 48
Figura 6 - Novo motor Detroit Diesel .............................................................. 52
Figura 7 - M113A2Mk1- configuração ......................................................................... 53
Figura 8 - Ocupação do Gc na VBTP M113-BR....................................................... 55
Figura 9 - Apresentação da VBTP M113-BR............................................................. 57
Figura 10 - Instalação das alavancas de pivoteamento .......................................... 58
Figura 11 - VBTP realizando teste de pivoteamento................................................. 59
Figura 12 - VBTP M113-BR com a lagarta de borracha.................................... 60
Figura 13 - VBTP-MR GUARANI.......................................................................... 64
Figura 14 - VBTP MOWAG PIRANHA III....................................................................... 66
Figura 15 - VBTP M113 A1 TP ........................................................................................ 67
Figura 16 - VBTP EE-11 URUTU...................................................................... 69
Figura 17 - Operações no Amplo Espectro....................................................... 87
Figura 18 - VBTP sendo empregada como plataforma para difusão de
informações à população................................................................
100
Figura 19 - VBTP sendo empregada em um Check-Point ............................... 102
Figura 20 - VBTP sendo empregada na disseminação de mensagens por
alto-falantes.....................................................................................
103
Figura 21 - Operação de cerco na Op São Francisco....................................... 104
Figura 22 - VBTP M113-BR sendo empregada em uma ação.......................... 105
Figura 23 - Viatura Blindada Stryker dos EUA.................................................. 110
Figura 24 - Viatura Blindada BMR 600 da Espanha.......................................... 112
Figura 25 - VCTP- TAM da Argentina................................................................ 114
Figura 26 - Instalação retrovisores de moto na VBTP M113-BR....................... 146
Figura 27 - Destacamento de FE empregando a VBTP M113-BR.................... 147
Figura 28 - Modelo de capacete balístico empregado pelo Destacamento de
Forças Especiais............................................................................
161
Figura 29 - Diferença entre um fuzil FAL e um Para FAL cano reduzido.......... 166
Figura 30 - Adaptador para instalação da Metralhadora MAG.......................... 212
Figura 31-
Figura 32 -
Proteção balística para Motorista e para o atirador........................
Instalação retrovisores de moto na VBTP M113-BR.......................
213
214
Figura 33 - Lagarta de borracha instalada na VBTP M113-BR......................... 215
Figura 34 - Utilização de saco de areia sobre o chassi da VBTP...................... 215
Figura 35 - Banda de borracha lateral da VBTP M113-BR .............................. 216
Figura 36 - Viatura sem a banda de borracha lateral da VBTP M113-BR ........ 217
Figura 37 -
Figura 38 -
Figura 39 -
Figura 40 -
Figura 41 -
Figura 42 -
Figura 43 -
Figura 44 -
Diferença entre um fuzil FAL e um Para FAL cano reduzido........
Vtr Marruá sendo empregada com a VBTP M113-BR....................
Realização de Patrulhamento misto com a VBTP M113-BR.........
VBTP M113-BR sendo empregada como disque denúncia..........
Emprego de capacete balístico com headset.................................
Modelo de capacete balístico empregado pelo DOFEsp...............
Instalação de câmera de ré na VBTP M113-BR.............................
Instalação de lâmina frontal para remoção de obstáculos..............
217
219
220
221
222
222
223
224
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Posto ou graduação da amostra ....................................... 133
Gráfico 2 - Quantidade de adestramentos realizados empregando a
VBTP M113-BR..................................................................
135
Gráfico 3 - Quantidade de missões reais realizadas empregando a
VBTP M113-BR .................................................................
137
Gráfico 4 - Eficiência da VBTP M113-BR ........................................... 138
Gráfico 5 - Aprovação sobre a utilização da VBTP M113-BR em
OAU, no contexto de OAOG .............................................
140
Gráfico 6 - Formas de Emprego da VBTP M113-BR em OAU, no
contexto de OAOG ............................................................
142
Gráfico 7 - Efeito de dissuasão causado pelo emprego da VBTP
M113-BR ...........................................................................
143
Gráfico 8 - Adaptações necessárias para emprego da VBTP M113-
BR .....................................................................................
145
Gráfico 9 - Efetivo ideal para realizar patrulhamento empregando a
VBTP M113-BR..................................................................
149
Gráfico 10 - Duração ideal para realizar patrulhamento empregando a
VBTP M113-BR..................................................................
153
Gráfico 11 - Efetivo ideal para realizar Check Point/ Static Point
empregando a VBTP M113-BR..........................................
154
Gráfico 12 - Duração ideal para realizar Check Point empregando a
VBTP M113-BR .................................................................
156
Gráfico 13 - Grau de satisfação da tropa sobre a blindagem da VBTP
M113-BR............................................................................
158
Gráfico 14 - Nível de eficiência das comunicações utilizando a VBTP
M113-BR ...........................................................................
160
Gráfico 15 - Meios de comunicações utilizando a VBTP M113-BR na
Operação São Francisco ...................................................
162
Gráfico 16 - Armamentos que devem ser utilizados pela Cia Fuz Bld
utilizando a VBTP M113-BR ..............................................
164
Gráfico 17 - Formas de emprego da VBTP M113-BR por Forças
Policiais/ Forças Especiais.................................................
167
Gráfico 18 - Uso de EVN em conjunto com a VBTP M113-BR.............. 169
Gráfico 19 - Tipos de dano colateral causados pelo emprego da
VBTP M113-BR .................................................................
170
Gráfico 20 - Formas de manutenção da VBTP M113-BR em OAU, no
contexto de OAOG...........................................................
172
Gráfico 21 - Manobrabilidade da VBTP M113-BR em áreas de favela.. 174
Gráfico 22 - Tipo de viatura blindada mais apta para operar em
ambiente urbano................................................................
175
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tipos e características das ruas de acordo com a doutrina
americana...................................................................................
39
Quadro 2 - População do Complexo da Maré.............................................. 43
Quadro 3 - Informações técnicas da VBTP M113-BR.................................. 55
Quadro 4 - Características das viaturas empregadas na Operação São
Francisco....................................................................................
70
Quadro 5 - Organização do Pel Fuz Bld....................................................... 80
Quadro 6 - Contingentes empregados na Op São Francisco....................... 94
Quadro 7 - Efetivo Orgânico (F Pac da 11ª Bda Inf Lev e Elm CMSE)........ 95
Quadro 8 - Efetivo de Elmentos de outras OM que não pertenciam à 11ª
Bda Inf L.....................................................................................
96
Quadro 9 - Efetivo total empregado pela F Pac IV....................................... 96
Quadro 10 - Efetivo empregado pela Cia Fuz Bld.......................................... 97
Quadro 11 - Ações táticas nas operações de apoio a órgãos
governamentais..........................................................................
105
Quadro 12 - Características das viaturas empregadas pelos Exércitos
Brasileiro, Americano, Espanhol e Argentino em OAU..............
115
Quadro 13 - Variável “Emprego do M113-BR em OAU”, no contexto de
OAOG.........................................................................................
120
Quadro 14 - Variável “Técnicas, Táticas e Procedimentos da Cia Fuz Bld”... 121
Quadro 15 - Tamanho amostral (n) em função do tamanho populacional..... 123
Quadro 16 - Comparação entre as TTP da F Pac e das facções criminosas. 133
LISTA DE ORGANOGRAMAS
Organograma 1 - Organograma de um BIB................................................... 74
Organograma 2 - Organograma de uma Cia Fuz Bld..................................... 75
Organograma 3 - Organização do BtlBldFuzNav........................................... 82
Organograma 4 - Organização da CiaVtrBldSL............................................. 83
Organograma 5 - Organização geral da F Pac e do GptOpFuzNav-Maré..... 95
LISTA DE ABREVIATURAS
AF Alto-falante
APC Armoured Personnel Carrier
Ap F Apoio de Fogo
APOP Agente Perturbador da Ordem Pública
BIB Batalhão de Infantaria Blindado
Bld Blindado
Btl Batalhão
Cb Cabo
CC Carro de Combate
CFN Corpo de Fuzileiros Navais
Cia Companhia
Cia Fuz Bld Companhia de Fuzileiros Blindada
Cl Bld Centro de Instrução de Blindados
CML Comando Militar do Leste
CMS Comando Militar do Sul
CV Comando Vermelho
DOFEsp Destacamento Operacional de Forças Especiais
EB Exército Brasileiro
EM Estado-Maior
EUA Estados Unidos da América
F Pac Força de Pacificação
FA Forças Armadas
FACE Forças Armadas Convencionais na Europa
FDI Forças de Defesa de Israel
FMS Foreign Military Sales
FT Força-Tarefa
F Ter Força Terrestre
Fuz Fuzileiro
GC Grupo de Combate
GCB Gerenciamento do Campo de Batalha
GE Guerra Eletrônica
GLO Garantia da Lei e da Ordem
GM Guerra Mundial
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
MB Marinha do Brasil
MC Manual de Campanha
MD Ministério da Defesa
MEM Material de Emprego Militar
Nr Número
OAOG Operações de Apoio a Órgãos Governamentais
OAU Operações em Ambiente Urbano
Op Operações
PEEx Plano Estratégico do Exército
Pel Pelotão
Pel Ap Pelotão de Apoio
Pel Fuz Bld Pelotão de Fuzileiros Blindado
PMERJ Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
QDM Quadro de Distribuição de Material
QO Quadro Organizacional
RCC Regimento de Carros de Combate
SU Subunidade
TCP Terceiro Comando Puro
TTP Técnicas, Táticas e Procedimentos
U Unidade
UPP Unidade de Polícia Pacificadora
VB Viatura(s) Blindada(s)
VBTP
Vtr
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal
Viatura
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 17
1.1 PROBLEMA............................................................................................... 23
1.1.1 Antecedentes do problema..................................................................... 23
1.1.2 Formulação do problema........................................................................ 25
1.2 OBJETIVOS............................................................................................... 28
1.3 QUESTÕES DE ESTUDO......................................................................... 29
1.4 JUSTIFICATIVA......................................................................................... 30
2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................... 34
2.1 AMBIENTE URBANO................................................................................ 34
2.1.1 O Complexo da Maré............................................................................... 40
2.2 CARACTERÍSTICAS DA VBTP M113-BR................................................. 47
2.2.1 Histórico da VBTP M113.......................................................................... 47
2.2.2 VBTP M113-BR......................................................................................... 49
2.2.3 Apresentação viaturas blindadas empregadas Op São Francisco..... 62
2.2.3.1 VBTP-MR Guarani..................................................................................... 63
2.2.3.2 Viatura Mowag Piranha III......................................................................... 64
2.2.3.3 VBTP M113 A1 TP da Marinha do Brasil.................................................. 66
2.2.3.4
2.2.4
VBTP EE-11 Urutu 11...............................................................................
Comparação das viaturas empregadas na Op São Francisco...........
68
69
2.3 A COMPANHIA DE FUZILEIROS BLINDADA........................................... 72
2.3.1 A Brigada Blindada.................................................................................. 72
2.3.2 O Batalhão de Infantaria Blindado......................................................... 74
2.3.3 A companhia de Fuzileiros Blindada..................................................... 75
2.3.4 O Pelotão de Fuzileiros Blindado........................................................... 78
2.3.4.1 Motorista da VBTP M113-BR.................................................................... 80
2.3.5 Batalhão de blindados de fuzileiros navais.......................................... 81
2.3.6 A Companhia de Viaturas Blindadas sobre Lagartas.......................... 82
2.4 OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS................... 84
2.4.1 Amplo espectro dos conflitos................................................................ 84
2.4.2 Operação São Francisco......................................................................... 91
2.5 EMPREGO DE BLINDADOS EM AMBIENTE URBANO........................... 98
2.5.1 Principais blindados empregados em OAU por outros exércitos...... 108
2.5.1.1 Stryker do Exército dos EUA..................................................................... 108
2.5.1.2 BMR 600 do Exército da Espanha............................................................. 112
2.5.1.3 VCTP-TAM do Exército da Argentina........................................................ 113
3 METODOLOGIA........................................................................................ 117
3.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO…........................................................... 117
3.1.1 Definição conceitual da variável............................................................ 119
3.2 AMOSTRA................................................................................................. 122
3.3 DELINEAMENTO DE PESQUISA............................................................. 124
3.3.1 Procedimentos para a revisão da literatura.......................................... 125
3.3.2 Procedimentos metodológicos.............................................................. 126
3.3.3 Instrumentos............................................................................................ 127
3.3.4 Análise dos dados................................................................................... 130
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 131
4.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS............................... 131
4.1.1 Levantamento do posto ou graduação da amostra.............................. 133
4.1.2 Nível de adestramento............................................................................ 134
4.1.3 Eficiência da VBTP M113-BR.................................................................. 137
4.1.4 Formas de emprego da VBTP M113-BR................................................ 141
4.1.5 Efeito de Dissuasão da VBTP M113-BR................................................ 143
4.1.6 Adaptações na VBTP M113-BR.............................................................. 144
4.1.7 Patrulhamento e estabelecimento de Check Point.............................. 149
4.1.8 Blindagem e Comunicações................................................................... 157
4.1.9 Armamentos empregados e utilização por Forças Especiais............. 163
4.1.10 Uso de Equipamento de visão noturna e danos colaterais................. 168
4.1.11 Manutenção da VBTP M113-BR.............................................................. 171
4.1.12 Manobrabilidade da VBTP M113-BR...................................................... 179
5 CONCLUSÃO............................................................................................ 185
REFERÊNCIAS......................................................................................... 185
APÊNDICE A – Questionário em apoio à pesquisa de campo................. 194
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista...…................................................. 203
APÊNDICE C – Proposta de técnicas, táticas e procedimentos para
uma Cia Fuz Bld dotada da VBTP M113-BR em OAU, no contexto de
OAOG........................................................................................................
208
17
1 INTRODUÇÃO
A intrincada história militar do século XX registrou uma série de conflitos
bélicos, desde guerras assimétricas de baixa intensidade até duas conflagrações de
nível mundial. Um traço marcante, contudo, foi verificado na maioria delas: a
presença de veículos blindados.
Durante a 1ª Guerra Mundial (GM)1, conhecida também por "guerra de
posição", teve início o pensamento sobre a mobilidade como característica dos
novos conflitos. Tal mobilidade só seria alcançada com o emprego de um meio de
combate blindado à prova de projéteis, com adequado poder de fogo e capacidade
de se deslocar fora dos "caminhos" e através do campo.
Com o advento dessa máquina no teatro das operações, começou uma nova
fase do combate terrestre, na qual o soldado de Infantaria passaria a ser
transportado com relativa proteção dos tiros das temidas metralhadoras e da
artilharia no campo de batalha, a fim de cumprir sua missão principal: a conquista do
terreno (SANDERSON, 2007, p. 9). A proteção blindada começava, assim, a ser
fundamental nas operações militares.
Após a 2ª GM2 e o início da Guerra Fria, o desenvolvimento de viaturas
blindadas sofreu enorme impulso, fruto das inovações tecnológicas que surgiam.
Apesar desse avanço, as crises surgidas no mundo exigiam veículos mais leves e
adaptáveis aos novos cenários. Viaturas rápidas e baratas passaram a constituir a
ordem do dia, e muitos veículos automotores de uso civil foram convertidos em
viaturas blindadas, para preencher as necessidades de transporte de pessoal e de
viaturas de combate de infantaria (RIBEIRO, 2013, p. 2).
A maioria da população mundial está vivendo em áreas urbanas e, dessa
forma, muitos exércitos encontram dificuldades para evitar ou desbordar áreas
1 Na 1ª GM, predominou a guerra de 2ª geração, desenvolvida pelo Exército francês, cujo objetivo era
o atrito, e a doutrina foi resumida pelos franceses como sendo “a artilharia conquista – a infantaria ocupa” (LIND, 2005, p. 13). 2 Na 2ª GM, foi desenvolvida pelo Exército alemão a “blitzkrieg” ou a guerra de manobra. A guerra de
3ª geração é baseada não no poder de fogo e atrito, mas na velocidade, surpresa e no deslocamento mental e físico (LIND, 2005, p. 13).
18
edificadas em suas operações. Consequentemente, a opção mais viável para os
comandantes será, de acordo com a situação, operar em ambiente urbano. Em
virtude desse panorama, surgiram viaturas blindadas mais leves e rápidas, aptas a
operar nas cidades.
Já no final da década de 60, tornava-se evidente a necessidade de viaturas mais leves do que os carros de combate para atuarem em ambiente urbano, como na crise política social ocorrida na Irlanda do Norte. Os carros de combate exerciam uma ação de choque desproporcional sobre a população local que manifestava-se nas ruas. Além disso as viaturas eram muito lentas, pesadas para as ruas das cidades e com uma potência de fogo muito além da necessária para a ocasião além de um custo muito elevado para se manter em operação diariamente. Por isso, o número de viaturas blindadas mais leves passou a dominar o comércio de materiais de defesa mundial para fazer frente as ameaças nacionalistas que eclodiram no mundo exemplificadas através das reivindicações apresentadas por insurgentes locais em regiões como os Bálcãs e o Afeganistão (RIBEIRO, 2013, p. 1).
Atualmente, as operações militares estão voltadas para o ambiente urbano. O
aumento significativo nas populações das cidades teve como consequência o
aumento de centros de médio e grande porte, que, aliado à grande influência da
opinião pública mundial nas operações urbanas, tem sido determinante na busca de
Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP) mais adequados para esse ambiente
operacional (OLIVEIRA, 2011, p. 12). O crescimento populacional gerou mudanças
nos planejamentos das Operações em Ambiente Urbano (OAU), sobretudo em
virtude do fator de decisão “considerações civis”.
A crescente urbanização e o crescimento acelerado da população nas cidades aumentaram tanto nos últimos anos do século XX, que suas influências nas operações militares tornaram-se significativas no cenário mundial tornando-se um dos mais importantes fatores da decisão (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1993, p. 1-5).
Dessa forma, cresce a importância de realizar estudos sobre operações
militares em ambiente urbano e, por consequência, sobre como empregar o meio
blindado nesse cenário.
Em razão do crescimento demográfico mundial, há cidades em todos os
continentes do planeta, o que leva, invariavelmente, os conflitos para dentro das
localidades. Aumentam, assim, os combates urbanos, a exemplo de conflitos
recentes, como a Guerra do Iraque, Afeganistão e Síria. Ademais, após o ataque
19
terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001,
surgiu um novo tipo de conflito, no qual um Estado é atacado por oponentes não
estatais. A este tipo de guerra denominou-se guerra de 4ª geração3 (LIND et al.,
1989, p. 25).
O combate moderno transformou-se em uma tarefa complexa, sendo
resumidamente caracterizado por:
a) maior necessidade de inteligência militar;
b) combate continuado;
c) uso intensivo da Guerra Eletrônica (GE);
d) emprego de operações psicológicas;
e) maior capacidade de sobrevivência no campo de batalha;
f) ênfase nas considerações civis;
g) maior profundidade nas ações; e
h) grande mobilidade, rapidez e sincronização das operações
características marcantes da tropa blindada.
Os meios blindados, sejam sobre lagartas ou sobre rodas, quer sejam
veículos blindados de combate ou de transporte de tropa, têm como uma de suas
principais características a rapidez de deslocamento. Tal rapidez está relacionada
não só à motorização, mas também à proteção blindada, que irá permitir ao veículo
transpor resistências com maior facilidade, não se detendo por tempo excessivo na
tarefa de reduzi-las. Essa rapidez é desejável em todo e qualquer ambiente de
combate, mas em ambiente urbano ela é essencial para manter a agressividade e
diminuir o tempo de exposição ao inimigo, garantindo a segurança da tropa
(MESQUITA, 2009, p. 4).
O crescimento desorganizado das cidades acabou gerando desigualdades
econômicas e elevada taxa de desemprego, levando aos habitantes das grandes
cidades a migrarem para o crime organizado e o tráfico de drogas.
3 Na guerra de 4a geração, o Estado perde o monopólio sobre a guerra. Em todo o mundo, os
militares se encontram combatendo oponentes não estatais, tais como a al-Qaeda, o Hamas, o Hezbollah e as Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia. A guerra de 4
a geração é também
marcada por uma volta a um mundo de culturas, não meramente de países, em conflito (LIND, 2005, p. 14).
20
Com relação ao Brasil, o emprego das Forças Armadas (FA) em ambiente
urbano também sofreu algumas modificações. Segundo Fonseca (2012, p. 7), ao
analisar a atual conjuntura brasileira em relação à segurança pública, verifica-se
uma crise no setor, principalmente nos grandes centros urbanos como São Paulo e
Rio de Janeiro, onde as forças auxiliares nem sempre estão preparadas para
controlar a violência e combater o tráfico de drogas.
No passado, os militares consideravam como ameaça, quase que
exclusivamente, a invasão de seu território pátrio por outro Estado. No entanto, essa
percepção de ameaça exclusiva mudou ao longo do tempo. As forças armadas
contemporâneas procuram identificar e combater as chamadas novas ameaças.
Assim,
[...] desafios secundários como terrorismo internacional e o tráfico de drogas e armamentos sugeriram a alguns autores que novas ameaças à segurança nacional e internacional estão tomando o lugar das velhas ameaças da guerra nuclear e da guerra convencional (VILLA; REIS, 2006, p. 38).
No ambiente interno, essas novas ameaças são denominadas de Agentes
Perturbadores da Ordem Pública (APOP). Dessa maneira, cresce a participação do
Exército Brasileiro (EB) em OAU no contexto de Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais (OAOG), nas quais as FA acabam deixando em segundo plano sua
atribuição principal de defender o país de uma ameaça externa e trabalham, em
conjunto com as forças auxiliares, em prol da segurança interna.
O Brasil é, de acordo com o artigo primeiro da Constituição de 1988, uma
República Federal “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal”. A Carta Magna dispõe também, em seu artigo 144, que
[...] a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. (BRASIL, 1988).
No entanto, o artigo 142 do mesmo estatuto prevê que as Forças Armadas,
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
21
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República. Destinam-se à
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
destes, da lei e da ordem.
Assim, chega-se à ideia fundamentada de que o Brasil é uma República
Federativa na qual a segurança pública é responsabilidade direta das polícias
federais e estaduais, mas que admite, em situações excepcionais, o emprego das
Forças Armadas para garantir a lei e a ordem. Diante dessa situação, as operações
militares do EB estão cada vez mais focadas no ambiente urbano no contexto de
OAOG.
De acordo com Fagundes (2008, p. 27), a atual conjuntura mundial torna os
centros urbanos um fator decisivo no combate. Em OAU, são inúmeros os meios
disponíveis pelo EB no combate a grupos de APOP.
As operações em ambiente urbano possuem diversas características
especiais, segundo Oliveira (2011, p. 11): “necessidade do estudo detalhado do
terreno (interior da localidade) e do inimigo; comando e controle complexos;
necessidade de regras de engajamento detalhadas, proteção blindada, entre outras”.
Dessa maneira, a tropa blindada, cujas TTP são diferentes da tropa convencional,
pode e deve ser empregada nesse cenário.
Segundo Mesquita (2009, p. 3), falar em guerra moderna sem se referir ao
combate urbano é praticamente impossível, e combater em localidade sem
considerar o emprego do meio blindado (Bld) é uma decisão extremamente
temerária. O adequado emprego desse nobre meio influencia diretamente o sucesso
das operações militares.
O grande avanço tecnológico mundial, particularmente no setor bélico, se
traduz no surgimento de blindados cada vez mais sofisticados, o que torna o
emprego destes meios fator decisivo para o combate e traz para o exército que
detém esta tecnologia vantagens significativas no campo de batalha e em especial
em OAU.
As Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal (VBTP), também
denominadas internacionalmente como Armoured Personnel Carrier (APC), são
veículos de combate blindados projetados para transportar a infantaria para o campo
de batalha. O Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa (FACE), de
22
19 de novembro de 1990, define blindados de transporte de pessoal como “um
veículo de combate blindado projetado e equipado para transportar um grupo de
combate de infantaria e que, via de regra, está dotado com armamento orgânico de
calibre inferior a 20mm” (RIBEIRO, 2013, p. 2).
As VBTP podem possuir rodas ou lagartas e são geralmente armadas com
apenas uma metralhadora. Em geral, não são projetadas para tomar parte em
combates que se caracterizam pela execução de fogos diretos, mas para transportar
tropas para o campo de batalha a salvo de estilhaços e emboscadas. Incluem-se
como exemplos desta categoria de viaturas os modelos M113 americano e brasileiro
M113-BR (sobre lagartas), o VAB francês (sobre rodas), o holandês-alemão GTK
Boxer (sobre rodas), o BTR soviético (sobre rodas), o Urutu e o Guarani brasileiros
(sobre rodas).
Considerando as novas necessidades impostas pelo combate moderno, o EB
vem procurando adequar-se à nova realidade, concebendo metas estratégicas.
Nesse contexto, o Plano Estratégico do Exército (PEEx) 2016-19 prevê a
restruturação das tropas blindadas, e para atingir parte dessa meta, a Viatura
Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113-BR passou por um projeto de
modernização (BRASIL, 2015f, p. 11).
O Parque Regional de Manutenção/5, localizado na cidade de Curitiba/
Paraná, apresentou oficialmente a VBTP M113-BR de número 150, em dezembro de
2013, o que caracterizou o encerramento da primeira fase do projeto de
modernização desse modelo de viatura. As VBTP M113-BR vêm sendo distribuídas
aos Batalhões de Infantaria Blindados (BIB) - 7º BIB, 13º BIB, 20º BIB e 29º BIB –
desde dezembro de 2013, já tendo sido empregadas na Operação São Francisco,
no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro (MURMEL, 2015, p. 1).
O emprego da viatura blindada em ambiente urbano no contexto de
Operações de Apoio a Órgãos Governamentais exige TTP das frações de forma
específica, como por exemplo: o emprego da proteção blindada, das comunicações,
dirigibilidade, adaptação da viatura ao ambiente urbano e manutenção das viaturas.
Nesse sentido, a presente investigação pretende analisar as Técnicas,
Táticas e Procedimentos do emprego da VBTP M113-BR em OAU, a fim de fornecer
dados que permitam o correto emprego da Companhia de Fuzileiros Blindada (Cia
23
Fuz Bld) em ambiente urbano no contexto de Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais (OAOG), na Operação São Francisco.
1.1 PROBLEMA
Esta seção tem por objetivo apresentar o problema levantado, que deverá ser
respondido durante a execução deste trabalho.
Para cumprir suas missões, a Companhia de Fuzileiros Blindada, orgânica do
Batalhão de Infantaria Blindado, conta com a VBTP M113-BR. As Cia Fuz Bld foram
empregadas na Operação São Francisco, uma operação em ambiente urbano que
teve o contexto de Operações de Apoio a Órgãos Governamentais.
É imperativo que o comandante da fração conheça as TTP para o emprego
da viatura blindada disponibilizada para sua fração, tendo em vista a complexidade
das operações em ambiente urbano, particularmente em áreas de favela, ambiente
que enfrenta problemas que geram insatisfação em grande parte da população e
ocasionam frequentes manifestações populares.
Como ator participante de operações em ambiente urbano, o EB deve buscar
a adoção das TTP do emprego do meio blindado no contexto de Operações de
Apoio a Orgãos Governamentais, em particular a VBTP M113-BR, devido a sua
recente modernização.
1.1.1 Antecedentes do problema
Segundo Calixto (2015, p. 13), os veículos blindados, criados na década de
1910, vêm sendo cada vez mais utilizados como forma de obter vantagem no campo
24
de batalha. Com o passar do tempo, esses veículos deixaram de ser somente
ferramentas de ultrapassagem de obstáculos e posicionamento de tropa a pé e se
tornaram cada vez mais sofisticados, recebendo armas e equipamentos eficientes,
aumentando a letalidade e a proteção dos tripulantes. Estes, então, deixaram de ser
meros fuzileiros e passaram a ser motoristas de blindados, atiradores, municiadores,
combatentes capacitados a operar essas máquinas de guerra, conforme prevê o
Quadro Organizacional (QO) do Batalhão de Infantaria Blindado. Surgiu assim a
necessidade de realizar estudo sobre esse meio nobre e decisivo nas operações em
ambiente urbano no contexto de OAOG.
De acordo com Bastos (2015, p. 109), o dia 25 de novembro de 2010 será
lembrado como marco histórico importante para as operações de blindados no
Brasil, em ambiente urbano. Naquele ano, uma verdadeira guerra civil atingiu a
cidade do Rio de Janeiro- RJ e foi exibida ao vivo pelas redes de televisão, sendo
acompanhada por milhões de telespectadores. A Marinha do Brasil (MB), por meio
de seu Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), inovou ao ceder seus blindados, entre
eles a VBTP M113 A1 TP, para as Forças de Segurança Pública daquele estado.
Teve início, assim, o emprego de blindados em ambiente urbano no contexto de
Operações de Apoio a Órgãos Governamentais.
Além da Marinha do Brasil, os Batalhões de Infantaria Blindados orgânicos
das Brigadas Blindadas do Exército Brasileiro são equipados com as VBTP M113-B
e, recentemente, têm recebido as novas VBTP M113-BR. O projeto de
modernização dessa viatura é resultado de parceria firmada entre o Governo
Brasileiro, o Governo Americano e a empresa British Aerospace Systems.
Cada processo completo de modernização de uma viatura dura cerca de
quatro meses, passando por etapas encadeadas e precisas que, ao final, levam o
blindado ao estado novo, totalmente modificado e reforçado, com características
únicas e potência compatível às novas demandas da Força Terrestre (F Ter),
segundo Murmel (2015).
Os trabalhos começaram com o protótipo feito em 2012 com mão de obra
americana. Em 2013, foi estabelecida a linha de montagem que, naquele ano,
completou 42 unidades. Em 2014 foram modernizadas mais 60, e no ano de 2015
25
somaram-se 48, fechando o lote previsto no primeiro contrato, totalizando 150
viaturas.
Após sua modernização, a VBTP M 113-BR foi empregada de forma inédita
pelo EB em ambiente urbano, na Operação São Francisco, no Complexo da Maré,
no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2015. Verificou-se então o emprego de uma viatura
blindada sobre lagartas em OAOG, que, no entanto, reuniu características comuns a
um conflito de 4ª geração, empregando amplamente o binômio homem-carro.
1.1.2 Formulação do problema
Uma das estratégias utilizadas pelo Governo Federal para reduzir o tráfico de
drogas foi a ocupação as favelas do Rio de Janeiro, com o apoio efetivo das Forças
Armadas, em especial o Exército Brasileiro, seguida da implantação das Unidades
de Polícia Pacificadora (UPP). Essa foi e continua sendo a solução do governo para
levar a presença do Estado a regiões antes entregues ao tráfico.
As UPP, conforme conceituado pela Secretaria de Segurança Pública do Rio
de Janeiro, têm como objetivo central proporcionar uma aproximação entre a
população local e a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). Esse novo
modelo de Segurança Pública foi a forma encontrada pelo Governo do Rio de
Janeiro para recuperar territórios perdidos para o tráfico e levar a inclusão social à
parcela mais carente da população.
Pode-se dizer que o EB, auxiliado pela MB e pelos órgãos de segurança
pública do Estado do Rio de Janeiro, participou de duas grandes OAOG desde 2010.
Essas duas grandes operações tiveram por objetivo pacificar áreas violentas da
cidade do Rio de Janeiro, ambas dominadas por traficantes de drogas: os
Complexos do Alemão e da Penha e o Complexo da Maré.
O emprego das FA no contexto das comunidades do Complexo da Maré
iniciou-se com a autorização da Presidente da República, atendendo à solicitação do
governo do Estado do Rio de Janeiro, em 05 de abril de 2014, por meio da
Operação São Francisco, sob coordenação do Comando Militar do Leste (CML). A
26
finalidade era cooperar no processo de pacificação, preservação da ordem pública,
contribuição do restabelecimento da paz social na região e a incolumidade das
pessoas e do patrimônio dessas comunidades (CAMPOS, 2016, p. 12). A VBTP
M113-BR, que já havia sido empregada pela MB na Operação Arcanjo, no morro do
Alemão, foi empregada pela primeira vez pelo EB nesse tipo de operação no
território brasileiro.
No âmbito do EB, a utilização das VBTP M113-BR se deu por intermédio da
Forças de Pacificação da Maré (Operação São Francisco), no Rio de Janeiro, a
partir de abril de 2014, onde operaram blindados da 5ª Brigada de Cavalaria
Blindada e posteriormente veículos da 6ª Brigada de Infantaria Blindada. Os
blindados foram empregados em área urbana, densamente povoada, em conjunto
com forças da Marinha, através dos Fuzileiros Navais e Forças Policiais (BASTOS,
2015, p. 111).
O Complexo da Maré é uma das comunidades mais carentes do município do
Rio de Janeiro, um ambiente com alta periculosidade e baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Constituía um reduto de criminalidade, sendo
formada por uma urbanização irregular, com muitos becos. Tornou-se uma área
propícia ao homizio de organizações criminosas, o que impôs a realização de ações
por parte das FA para restabelecer a lei e a ordem.
Nessa localidade havia gangues e facções criminosas, como o Comando
Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP) e as milícias, dotadas de diversos
armamentos, como fuzis 7,62mm e 5,56mm. Esses grupos passaram a hostilizar os
militares, instalando principalmente seteiras nas construções de alvenaria. Sendo
assim, era muito difícil localizar as posições de onde eram realizados disparos pelos
APOP.
A figura 1, abaixo, mostra as fações criminosas presentes no Complexo da
Maré antes da Operação São Francisco (na cor azul, áreas dominadas pelas
milícias; em vermelho, do CV; e em verde, regiões a comando do TCP).
27
FIGURA 1 - Facções criminosas presentes na Maré antes da Operação São Francisco Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Na Operação São Francisco foram empregadas inicialmente as viaturas
motorizadas, como caminhões e viaturas ¾ toneladas (Ton), pelos pelotões de
fuzileiros, orgânicas dos batalhões de infantaria. Entretanto, estes, quando recebiam
disparos na sua direção, tinham necessariamente que desembarcar das viaturas e
abrigar-se ao terreno, a fim de se protegerem, uma vez que não contavam com
proteção blindada.
Além disso, no ambiente urbano, sobretudo em favelas, a maioria das
confrontações ocorrem a curtas distâncias, o que faz com que os projéteis dos fuzis
ainda retenham energia suficiente para penetrar o colete à prova de balas dos
combatentes e as construções, permitindo que os APOP ocupem sítios cobertos e
abrigados para executarem disparos em direção à tropa. Nesse sentido, a utilização
de uma plataforma blindada torna-se necessária para oferecer proteção aos militares
em OAU no contexto de OAOG.
Para solucionar esse problema, houve a necessidade de empregar uma
viatura blindada, com características de combate compatíveis com tropa de
Habitantes: Aprx 130.000
Domicílios: Aprx 42.000
Comunidades: 15
Área: 7Km²
28
infantaria. Considerando essas características, a viatura disponível nos Quadros de
Distribuição de Material (QDM) das Unidades de Infantaria do EB aptas a cumprir
esse tipo de missão é a VBTP M113-BR, de dotação dos BIB.
Devido a sua recente modernização, há relatos de que poucas são as
publicações que descrevem os pontos fortes e oportunidades de melhoria no
emprego de tropa blindada, especificamente sobre as TTP empregando a VBTP
M113-BR, em OAU no contexto de OAOG, como na Operação São Francisco,
enquadrada em uma Cia Fuz Bld.
Tendo em vista a recente utilização da VBTP M113-BR nas favelas do Rio de
Janeiro e a especificidade de TTP a serem adotados pela tropa blindada, aliada à
falta de documentação que aborde o emprego de tropa blindada em OAU, em
particular no contexto de OAOG, surge a seguinte situação-problema: em que
medida as possibilidades e limitações da VBTP M113-BR influenciam na adoção de
TTP de uma Cia Fuz Bld, em OAU no contexto de OAOG?
1.2 OBJETIVOS
A fim de propor as TTP adotadas pela utilização da VBTP M113-BR pela Cia
Fuz Bld, em OAU no contexto de OAOG, como na Operação São Francisco, o
presente trabalho teve por finalidade reunir os ensinamentos, relatórios e
experiências vivenciadas pelos militares que participaram das ações de preparação
e emprego dos contingentes do EB que integraram essa Operação. Assim, o objetivo
geral foi propor técnicas, táticas e procedimentos para uma Cia Fuz Bld, dotada de
VBTP M113-BR operando em ambiente urbano em um contexto de OAOG.
A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral de estudo, foram
formulados os objetivos específicos, abaixo relacionados, que permitirão o
encadeamento lógico do raciocínio descritivo aqui apresentado:
a) descrever as particularidades do ambiente urbano e sua influência
29
nas operações militares;
b) apresentar as características da VBTP M113-BR;
c) explicar a composição, a organização e as missões da Companhia
de Fuzileiros Blindada;
d) identificar a composição, a organização e as missões da
Companhia de Viaturas Blindadas Sobre Lagartas (CiaVtrBldSL) do
Corpo de Fuzileiros Navais;
e) descrever os principais conceitos relativos a OAOG;
f) apresentar os principais aspectos doutrinários do emprego
blindados em OAU pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do
Brasil;
g) apresentar uma comparação entre as viaturas blindadas
empregadas na Operação São Francisco;
h) apresentar os principais aspectos doutrinários do emprego de
blindados em OAU pelos Exércitos dos EUA, da Argentina e da
Espanha;
i) descrever as TTP adotadas pela Cia Fuz Bld com o emprego VBTP
M113-BR durante a Operação São Francisco e concluir sobre os
ensinamentos e as melhores práticas; e ainda, como essa
experiência poderia melhorar o adestramento da tropa blindada;
j) propor as TTP para uma Cia Fuz Bld empregando VBTP M113-BR
em OAU no contexto de OAOG.
1.3 QUESTÕES DE ESTUDO
Partindo do questionamento acerca de qual seriam as TTP para o emprego
do VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG, algumas questões de estudo
foram formuladas:
a) Quais as principais características do ambiente urbano, nas
operações militares?
30
b) Quais as características da VBTP M113-BR após sua
modernização?
c) Quais as características da Companhia de Fuzileiros Blindada?
d) Como são empregados os blindados pela Marinha do Brasil em
OAU?
e) Quais viaturas blindadas foram empregadas pelas FA na Operação
São Francisco?
f) Quais são os principais conceitos relativos a OAOG?
g) Como os blindados são empregados nos Exércitos dos EUA, da
Espanha e da Argentina em OAU?
h) Como a VBTP M113-BR poderá ser empregada pela Cia Fuz Bld
em OAU no contexto de OAOG?
i) Quais os equipamentos, adaptações e requisitos necessários para o
emprego da VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG?
j) Quais TTP foram adotados durante o emprego da VBTP M113-BR
pela Cia Fuz Bld na Operação São Francisco?
k) Quais TTP utilizadas durante a Operação São Francisco,
empregando VBTP M113-BR, poderiam ser aplicadas em futuras
OAU no contexto de OAOG?
1.4 JUSTIFICATIVA
O ambiente operacional urbano apresenta especificidades únicas que o
diferenciam totalmente de qualquer outro, resultando em relevantes consequências
táticas, cujos efeitos se fazem sentir nas táticas, técnicas e procedimentos a serem
adotados.
A experiência do emprego do EB durante a Operação São Francisco, no
Complexo da Maré, vem sendo analisada por meio de artigos e reportagens que
demonstram a evolução e a importância do trabalho das FA em prol da sociedade
31
brasileira. Porém, na mesma proporção, não se encontram muitos registros
científicos de como essa evolução acompanhou o emprego da tropa, particularmente
o meio blindado em ambiente urbano. Novos manuais do EB estão sendo criados ou
atualizados; assim, cresce de importância o estudo sobre como empregar a tropa
blindada nesse ambiente operacional.
As experiências vivenciadas pelos militares em todos os níveis durante a
Operação São Francisco, entre os anos de 2014 e 2015, estão presentes nas
memórias dos Comandantes (Cmt) e Batalhão (Btl) membros do Estado-Maior (EM),
dos comandantes de Companhia (Cia), Pelotão (Pel), Grupo de Combate (Gc) e
Motoristas de VBTP que empregaram de forma inédita a VBTP M113-BR em
ambiente urbano no contexto de OAOG.
As OAU exigem a adoção das TTP da tropa blindada para atuar nas cidades,
especialmente nas favelas, como as existentes na cidade do Rio de Janeiro. De
acordo com Mesquita (2009, p. 3), essas adaptações nas operações em ambiente
urbano estão relacionadas à realidade atual, em função da franca urbanização que o
mundo vem enfrentando desde a década de 1950. A migração de áreas rurais para
áreas urbanas é uma clara tendência. Além disso, a população vem crescendo
exponencialmente nos últimos 25 anos, criando concentrações urbanas
desordenadas. Esse cenário indica que é muito difícil que em conflitos modernos
seja possível evitar que forças terrestres conduzam operações dentro ou nos
subúrbios de áreas urbanas. Dessa forma, torna-se fundamental o estudo de
operações militares em ambiente urbano.
A tendência do combate moderno, especialmente no vetor terrestre, é o
amplo emprego de tropas blindadas, dotadas de maior potência de fogo, proteção
blindada, velocidade, mobilidade e de um sistema de comunicações amplo e flexível.
Assim sendo, é necessário considerar o emprego de tropas dotadas de viaturas
blindadas em OAU, desde pequenas localidades até grandes centros. No contexto
de OAOG, no qual os oponentes possuem armamento similar às FA, a proteção
blindada torna-se necessária para fazer frente às ameaças.
Segundo Zuchino (2004, p. 65), os blindados não só podem operar em
ambiente urbano, como também prevalecer; assim, em todas as operações militares
em ambiente urbano deve ser levado em consideração o emprego dos meios
32
blindados, devido a suas características específicas.
A constante evolução tecnológica vem dinamizando a integração dos
sistemas de armas no campo de batalha. As forças blindadas ainda permanecem
como um fator decisivo no combate, graças a suas características. Face a esta
modernização, cresce de importância a questão de estudo das TTP para o emprego
da VBTP M113-BR, uma vez que são os novos blindados das Unidades de Infantaria
do Exército Brasileiro. Os constantes avanços doutrinários e tecnológicos obrigam a
estudar o material a ser empregado pelos vários escalões - no caso em questão, a
VBTP M113-BR -, de modo que a viatura seja empregada com eficiência em OAU no
contexto de OAOG.
O presente estudo justifica-se, portanto, por promover uma discussão
embasada em procedimentos científicos a respeito de um tema atual e de suma
importância para a modernização e atualização do emprego da tropa blindada em
OAU. Pretende-se ampliar o cabedal de conhecimento acerca das TTP para o
emprego da VBTP M113-BR em ambiente urbano no contexto de OAOG, servindo
como pressuposto teórico para outros estudos que sigam nesta mesma linha de
pesquisa. Além disso, também como forma de se buscar melhor planejamento e
adestramento da Cia Fuz Bld, este estudo permitirá que o EB evolua com sua
doutrina de emprego de blindados em um cenário cada vez mais frequente na
atualidade.
Cabe ressaltar que o resultado desta pesquisa poderá servir como
instrumento facilitador para os cursos do Centro de Instrução de Blindados (CIBld),
como o Curso de Operador de VBTP M113 e o Curso Tático de Blindados, para
cursos e estágios no Centro de Instrução de Garantia de Lei e da Ordem (CI GLO), e
para as diversas escolas de formação, como a Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN), a Escola de Sargentos das Armas (EsSA) e a Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais (EsAO), contribuindo com o aprimoramento da Doutrina Militar Terrestre.
Este estudo pretende dar ferramentas às frações da Companhia de Fuzileiros
Blindada, durante o cumprimento de suas missões em ambiente urbano no contexto
de OAOG, de modo a evitar o desgaste da tropa e para que se alcance o mínimo de
efeitos colaterais na população.
33
A correta utilização da VBTP M113-BR, bem como a adoção de TTP
adequados, além de gerar economia de recursos financeiros, facilitará o trabalho dos
órgãos de apoio logístico e contribuirá para a melhoria da imagem do Exército.
34
2 REVISÃO DE LITERATURA
Com a finalidade de analisar as TTP do emprego da VBTP M113-BR em OAU
no contexto de OAOG, serão abordadas as bases teóricas mais relevantes para o
presente estudo. Assim, esta seção será dividida nos seguintes tópicos: ambiente
urbano, características da VBTP M113-BR, a Companhia de Fuzileiros Blindada,
conceito de OAOG e o emprego de blindados em OAU.
2.1 AMBIENTE URBANO
Devido ao crescente processo de urbanização, será cada vez mais frequente
o emprego de forças militares em epicentros político, econômico, social e cultural em
todo o mundo. A realidade é que muitas das operações militares, senão todas, serão
conduzidas em arredores ou no interior do ambiente urbano. O controle de grandes
áreas urbanas será crítico, nos futuros conflitos, para a consecução dos objetivos
táticos, operacionais e estratégicos (BRASIL, 2008a, p. 1).
No que tange à dimensão física, os elementos da F Ter devem ser aptos a operar em áreas estratégicas previamente definidas como prioritárias, dentro ou fora do Território Nacional. Além disso, os ambientes com características especiais (terreno difícil, clima extremo, vegetação peculiar, áreas edificadas etc.), incluindo condições meteorológicas altamente desfavoráveis, exigem tropas com capacidades peculiares. Como exemplo, destacam-se o a selva; a caatinga; a montanha; o pantanal; o “ambiente urbano”, o deserto; a savana; dentre outros. (BRASIL, 2014c, p. 2).
As tropas blindadas fazem parte da Força Terrestre, sendo essenciais em
operações em área urbana, como a Operação São Francisco. Assim, devem ser
capazes e preparadas para operar em ambiente urbano.
As operações militares em ambiente urbano não significam novidades dentro
do cenário mundial. A História demonstra que exércitos guerrearam em áreas
35
urbanas no decurso dos tempos, desde a antiguidade até dias atuais, podendo ser
citadas inúmeras batalhas: a Segunda Guerra Mundial; Saigon, em 1975; Beirute,
em 1982; Cidade do Kwait, em 1991; Mogadíscio, em 1993; Grozny, em 1994;
Bagdá, em 2003; Fallujah, em 2004; e recentemente, a Síria. E ainda, são exemplos
da participação do EB nas OAU a Missão das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH)
e até as operações ocorridas no Rio de Janeiro em 2010, no Complexo do Alemão e
nos anos 2014 e 2015, no Complexo da Maré.
Com relação ao conceito de ambiente urbano, a doutrina do Exército do
Estados Unidos da América (EUA) define área urbana como um complexo
topográfico onde há predominância de construções realizadas pelo homem ou onde
há grande densidade populacional (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006a, p. 2-
2). Nessas condições, muitas vezes é necessário que as tropas dividam o espaço
com as populações urbanas, normalmente mais densas que as populações rurais, o
que confere ao combate caráter assimétrico.
Para a doutrina do Exército da Espanha (ESPANHA, 2010, p. 2), as principais
características das áreas urbanas são a presença da população civil e de não
combatentes, estruturas feitas pelo homem e infraestrutura associadas às mesmas.
As ações táticas possíveis para operar em uma área urbana podem ser orientadas
tanto para o terreno (ataque ou defesa de uma cidade) como para o inimigo. Para
atuar nesse cenário, existem variáveis como distribuição, densidade, tipo de
construção e altura dos edifícios, bem como os meios de comunicação periféricos.
Outra definição do Exército Americano, com relação a sua doutrina de OAU,
prescreve que área urbana é uma concentração de estruturas, facilidades e pessoas
que dão forma à economia e à cultura de determinada área (ESTADOS UNIDOS,
2006b, p. 1-2, tradução nossa).
O referido manual descreve, ainda, as cinco categorias de áreas urbanas:
- vila (população de 3.000 habitantes ou menos);
- pequenas cidades (população de 3.000 a 100.000);
- cidade (população de 100.000 a 1 milhão de habitantes);
- metrópole (população de 1 milhão a 10 milhões de habitantes); e
- megalópoles (população acima 10 milhões de habitantes).
36
Nos manuais do EB, não existe ainda uma classificação específica com
relação às áreas urbanas.
Em OAU, o estudo do terreno e das condições meteorológicas é um dos
principais fatores de decisão. É realizado por meio da análise detalhada das
condições de observação e campos de tiro, das cobertas e abrigos, dos obstáculos
que restringem ou impedem o movimento, dos acidentes capitais, dos corredores de
mobilidade, das vias de acesso e das condições meteorológicas locais. Como
conclusão, são levantados os efeitos de todos esses fatores sobre nossas
operações e as do inimigo (BRASIL, 2014c, p. 3-12).
Essa análise é importante para selecionar que tipo de blindado é o mais
adequado para operar em ambiente urbano. Os conhecimentos das peculiaridades
deste ambiente operacional devem sempre estar na mente do Estado-Maior (EM) e
do Comandante de Unidade (Cmt U) e comandantes das pequenas frações, para
que seja alcançado o êxito na missão.
Além disso, a doutrina americana, de acordo com o manual FM 03-06.11
(ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006b, p. 2-3) para estudo do ambiente urbano,
ao analisar o aspecto do terreno para integrar o Processo Integração Terreno,
Condições Meteorológicas, Inimigo e Considerações Civis (PITCIC), leva em conta a
densidade de construção e a densidade populacional, os padrões de rua e tipos de
urbanização. Os bairros são divididos segundo etnia e desenvolvimento econômico,
modernização, presença de sistemas industriais e de utilidade, diferentes técnicas e
materiais de construção. Assim, o modelo das áreas urbanas é classificado em:
a) Centro da cidade e área comercial: é o coração da área urbana do
distrito comercial do centro. É relativamente pequeno e compacto,
mas contém uma porcentagem maior de lojas, escritórios e
instituições públicas. Normalmente contém a maior densidade de
edifícios de vários andares e áreas subterrâneas. Na maioria das
cidades, o centro passou por um desenvolvimento mais recente do
que a periferia. Como resultado, as duas regiões são muitas vezes
bastante diferentes. Os centros de cidade típicos de hoje são feitos
de edifícios que variam muito em altura.
b) Subúrbios residenciais: estão localizados na periferia do centro da
37
cidade, sendo compostos por ruas de 12 a 20 metros de largura,
com frentes contínuas de prédios de tijolos ou concreto. As alturas
de construção são bastante uniformes.
c) Áreas residenciais: consistem em casas geminadas ou moradias
familiares com quintais, jardins, árvores e cercas.
d) Área residencial densamente povoada: típica construção moderna
nas grandes cidades é composta por prédios de apartamentos de
vários andares, separados por áreas abertas e edifícios, com ruas
largas dispostas em padrões retangulares.
e) Áreas industriais: são geralmente localizadas sobre ou ao longo das
principais rotas de transporte ferroviário e rodoviário nos complexos
urbanos. A identificação de meios de transporte dentro dessas
áreas é fundamental, porque estas instalações, especialmente as
ferroviárias, podem ser obstáculos significativos para o movimento
militar.
f) Fortes: são instalações construídas com intuito de defesa, podendo
ser feitas de terra, pedra, madeira, tijolo, concreto, concreto armado
ou materiais combinados. Alguns fortes recentes são construídos no
subsolo, tipo bunker, e empregam blindagem pesada,
comunicações internas e sistemas de defesa química, biológica e
nuclear.
g) Favelas: não necessariamente seguirão qualquer um dos modelos
acima e podem ser encontradas em muitas zonas diferentes dentro
de áreas urbanas. Podem ser construídas com materiais que vão
desde papelão, passando aos barracos de lata ou zinco, até
construções de concreto.
A figura abaixo descreve uma cidade de acordo com a doutrina americana.
38
FIGURA 2 – Modelos de áreas urbanas. Fonte: ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (2006b, p. 2-1).
A doutrina militar americana, ainda de acordo com o manual FM 03-06.11
(ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006b, p. 2-9), também faz a análise do tipo de
material utilizado nas construções no ambiente urbano, para poder identificar os que
estão presentes em suas zonas de ação, objetivos e áreas de influência. Essa
análise tem por objetivo compreender os efeitos das armas empregadas contra as
construções e edifícios. A capacidade de identificar os tipos de material de
construção e de compreender os efeitos das armas permite que os comandantes
deem instruções claras a seus subordinados sobre a execução da missão. Tal
análise também leva em conta o risco de danos colaterais.
Esse estudo também é importante no caso do emprego de viaturas blindadas,
pois os veículos precisam ser usados de forma precisa para evitar danos colaterais e
evitar a destruição de carros e habitações, o que gera a falta de apoio da população
nas operações em ambiente urbano.
O ambiente operacional tornou-se congestionado, uma vez que as operações tendem a ser desenvolvidas prevalentemente em áreas humanizadas ou no seu entorno. A presença da população e de uma miríade de outros atores dificulta a identificação dos contendores e aumenta a possibilidade de danos colaterais decorrentes das operações militares. Isso não quer dizer que a letalidade de um exército deva ser reduzida, mas
Periferia
Centro
Periferia
Favela
Área industrial
Periferia de centro
Residenciais (prédios)
39
que ela deve ser seletiva e efetiva. Somado aos aspectos da dimensão humana, esse fator impôs que as “Considerações Civis” assumissem a condição de fator preponderante para a tomada de decisão em todos os níveis de planejamento e condução das operações. (BRASIL, 2014b, p. 4-5).
Assim, o emprego de plataformas blindadas como a VBTP M113- BR deve
ser feito para atingir a letalidade seletiva da força oponente e evitar danos colaterais
desnecessários.
Ainda com relação à doutrina do Exército americano, outro valioso
conhecimento que a doutrina vigente brasileira não aborda é a classificação dos
tipos de ruas e avenidas. O conhecimento dos padrões das ruas e avenidas
possibilita aos comandantes verificar a existência ou não de corredores de
mobilidade e/ ou vias de acesso, por exemplo, para realizar o processo de
integração terreno, condições meteorológicas, inimigo e considerações civis durante
o estudo de situação do comandante tático. No caso da tropa blindada, o
conhecimento do tipo de rua ou viela onde irá ocorrer a operação promove maior
segurança para a fração e permite que o motorista tenha consciência situacional
sobre terreno no qual a viatura irá trafegar. O quadro 1 informa os tipos de ruas
encontradas em OAU segundo a doutrina americana.
Forma Tipos ruas Características
Retangular Ruas paralelas e perpendiculares, em formato de
quadrículas.
Raiada
Ruas que se desenvolvem a partir de um ponto
central, formando ângulos menores que 360º.
Radial Ruas que se desenvolvem a partir de um ponto
central, formando ângulos maiores que 360º.
QUADRO 1 – Tipos e características das ruas de acordo com a doutrina americana (Continua)
40
Anel radial Similar ao radial, porém apresenta anéis interligando
as ruas.
Contornada Influência do terreno na construção das ruas,
contornando as curvas de nível das elevações.
Irregular Sem padrão e forma definida.
Combinada Combinação de um ou mais tipos.
Linear Única avenida com construções regulares em ambos
os lados.
QUADRO 1 – Tipos e características das ruas de acordo com a doutrina americana (Conclusão) Fonte: ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (2006b, p. 2-9).
2.1.1 O Complexo da Maré
O Complexo da Maré, ou simplesmente Maré, assim denominado pela
prefeitura do Rio de Janeiro, é um bairro com conglomerado de pequenos bairros da
Zona Norte da capital fluminense.
A Maré, de acordo com Alem (2008, p. 6), teve seu território delimitado pelo
Decreto nº 7.980, de 12 de agosto de 1988, da seguinte forma: da Baía de
Guanabara, na Foz do Canal do Cunha, seguindo pelo leito deste até a Avenida
Brasil, por esta (incluído apenas o lado par, excluindo o Viaduto de Manguinhos) até
a Rua Pirangi; daí, pelo prolongamento do alinhamento desta até a Baía de
Guanabara, e pela orla ao ponto de partida.
41
Além disso, segundo Teodosio (2006, p. 75), o complexo ocupa uma região
às margens da Baía de Guanabara, caracterizada primitivamente por vegetação de
manguezal. Ocupada desde meados do século XX por palafitas, os manguezais, que
sofriam os efeitos das marés, aos poucos foram sendo aterrados com entulhos
(rejeitos de obras) doados pela população vizinha e eventualmente pelo poder
público, despejando lixo.
A Lei nº 2.119, de 19 de janeiro de 1994, incluiu-o na XXXª Região Administrativa (Região Administrativa da Maré). Essa lei cria o bairro da Maré na XXXª Região Administrativa, e altera o limite dos bairros de Olaria; Ramos; Bonsucesso e Manguinhos e dá outras providências. O complexo da Maré constitui-se num agrupamento de várias favelas, sub-bairros com casas, e conjuntos habitacionais. Com cerca de 130.000 moradores, possui um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, consequência dos baixos indicadores de desenvolvimento social que caracterizam a região (ALEM, 2008, p. 7).
Quanto a sua localização, de acordo com Pinto Homem (2015, p. 58), a Maré
é também limitada por grandes vias expressas locais. A Oeste, pela Avenida Brasil e
a Leste, pela Linha Vermelha. É ainda cortada transversalmente pela Linha Amarela
e pela Avenida Brigadeiro Trompowski, que terminam por interligar-se com a Av.
Brasil e Linha Vermelha, constituindo a mais importante conexão rodoviária urbana
do município, rota obrigatória para o aeroporto internacional Tom Jobim, para a
cidade de São Paulo e para as zonas norte, oeste e sul da cidade. Assim, o
Complexo da Maré é uma área estratégica, que tem influência em toda cidade do
Rio de Janeiro.
Além disso, em termos de circunvizinhança, o Complexo da Maré se
posiciona adjacente à Cidade Universitária, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), que reúne dezenas de milhares de estudantes; está, ainda, muito
próxima do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), tornando-se parte da rota
principal de passagem para os visitantes da cidade do Rio de Janeiro.
Segundo Rohling (2015, p. 70), o Complexo da Maré é um conjunto de 16
comunidades de moradores, formado por ruelas, becos e construções apinhadas, de
acabamento e infraestrutura precários, que foram sendo erguidas em meio a
pequenas ilhas e manguezais às margens da Baía de Guanabara, a partir dos anos
1940. Famílias desalojadas por obras urbanísticas e viárias no centro da cidade do
Rio de Janeiro passaram a construir casas sobre palafitas naquele local, vivendo
42
sobretudo da pesca. A região foi sendo paulatinamente aterrada, com rejeitos de
obras e entulho transportados de outros pontos da cidade por caminhões do serviço
público. Hoje, a Maré abriga cerca de 130.000 pessoas e é considerada o maior
complexo de favelas da capital carioca.
Toda a região da Maré era ocupada por pântanos e manguezais junto à orla da Baía de Guanabara. Vários deles desapareceram com os sucessivos aterros. O termo “Maré” tem origem no fenômeno natural que afligia os moradores das palafitas que ocuparam a região. A mais antiga das comunidades que compõem o chamado “Complexo da Maré” é o Morro do Timbau, cuja ocupação se iniciou em 1940. A expansão do Timbau surgiu sobre palafitas no manguezal contínuo ao morro, na localidade conhecida como Baixa do Sapateiro, datada de 1947. Na década de 1950 surgiram as comunidades Parque Maré, uma expansão sobre palafitas da Baixa do Sapateiro, e Parque Roquete Pinto, uma série de aterros sobre um manguezal no final da Rua Ouricuri junto à Baía. Na década de 1960, surgem as comunidades de Parque Rubens Vaz, Parque União, Parque Nova Holanda e Praia de Ramos. Em 1982, é implementado o “Projeto Rio”, grande intervenção pública para reassentar os moradores das palafitas em conjuntos habitacionais. Os prédios residenciais foram erguidos sobre aterros dos manguezais do antigo saco de Inhaúma e da Ilha do Pinheiro. Os principais conjuntos habitacionais do Complexo da Maré são Vila Do João (1982), Conjunto Esperança (1982), Vila Do Pinheiro (1983), Conjunto Pinheiro (1989), Conjunto Bento Ribeiro Dantas (1992), Conjunto Nova Maré (1996) e Salsa e Merengue (2000), oficialmente, denominada Novo Pinheiro. O Bairro da Maré foi criado, delimitado e codificado pela Lei Nº 2119, de 19 de janeiro de 1994, com alterações nos limites de bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso e Manguinhos (OLIVEIRA; SILVEIRA; SOUZA,, 2016).
Quanto a sua origem, por estar às margens da Baía de Guanabara, a região
da Maré é ocupada desde os tempos coloniais. A urbanização definitiva, no entanto,
começou a ser estabelecida nos anos 1930. Naquela época, as habitações eram
palafitas, sujeitas às marés – daí decorre o nome do local. A região se expandiu com
o passar dos anos e o número de habitantes cresceu vertiginosamente. Chegaram
migrantes de outras regiões do país e até mesmo estrangeiros, usualmente
africanos, que deixavam suas pátrias em função das violentas guerras de
independência (ARAÚJO, 2012, p. 68). Dessa forma, devido a sua ocupação
desorganizada desde do século passado, a região convive com a criminalidade.
De acordo com a doutrina do Exército americano, pela quantidade de
habitantes e sua constituição, o Complexo da Maré seria considerado uma cidade
(possui mais de 100.000 moradores); e de acordo com o modelo de área urbana da
mesma doutrina, seria considerada uma favela, o que demonstra a complexidade de
43
planejamento para operações nesse cenário. A figura 3 retrata a vista de cima do
Complexo da Maré.
FIGURA 3- Vista aérea da favela da Maré Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Já o quadro 2 apresenta a divisão das comunidades e conjuntos, com
respectiva população e número de domicílios. Para fins de planejamento das
pequenas frações, é de grande valia conhecer o tamanho da população e a
quantidade de domicílios na sua área de operações, com a finalidade de planejar
qual efetivo será empregado em determinada região, bem como definir qual blindado
é mais compatível com aquele terreno.
COMUNIDADES E CONJUNTOS POPULAÇÃO DOMICÍLIOS
Parque Roquete Pinto 7.488 2.382
Parque Rubens Vaz 5.154 1.710
QUADRO 2 – População do Complexo da Maré (Continua)
44
Parque União 19.662 6.621
Ramos 3.073 932
Comunidade Vila do Pinheiro 388 108
Avenida Canal 319 105
Parque Roquete Pinto 7.488 2.382
Avenida Canal II 12 5
Timbau 5.916 1.964
Pata Choca 1.536 538
Baixa do Sapateiro 7.562 2.499
Parque Maré 12.421 4.018
Maré (Rua Guilherme Frota) 273 94
Nova Holanda 13.341 4.085
Conjunto Bento Ribeiro Dantas 2.898 719
Conjunto Esperança 3.994 1.332
Conjunto Nova Maré 3.174 850
Conjunto Pinheiros 4.117 1.337
Conjunto Salsa e Merengue 6.926 2.021
Conjunto Vila do João 12.970 4.435
Conjunto Vila Pinheiros 14.418 4.679
Joana Nascimento 64 24
Paraibuna -- --
QUADRO 2 – População do Complexo da Maré (Continuação)
45
Área Formal 4.064 1.301
Total 129.770 41.759
QUADRO 2 – População do Complexo da Maré (Conclusão) Fonte: Oliveira, Silveira e Souza (2016)
Além disso, na figura 4 é possível visualizar as principais comunidades e
avenidas situadas no Complexo da Maré.
FIGURA 4 – Divisão das principais comunidades do Complexo da Maré Fonte: Nascimento et al. (2016)
O Complexo da Maré, quanto ao terreno, por ser uma área de favela,
caracteriza-se por vias estreitas e de traçado irregular, pela construção de moradias
nas encostas dos morros e pela existência de lajes interligando moradias. A maioria
das casas são obras de estrutura precária, com pouca ou nenhuma resistência à
penetração de projéteis. As facções criminosas empregam vigias e mensageiros, e
dominam as partes altas dos morros. Possuem armamento de calibre militar e
46
desfrutam de posições de tiro que permitem bater os pontos de acesso através de
seteiras nas casas (BRASIL, 2015e, p. 7).
Dessa forma, o estudo do terreno é fundamental para o emprego do meio
blindado, em particular a VBTP M113-BR, em área favelizada como o Complexo da
Maré, pois as vias de acesso são restritas e dificultam o deslocamento das viaturas
nesse tipo de localidade.
Com relação ao crime organizado, o complexo da Maré era aterrorizado
durante a Operação São Francisco pela ação violenta de três facções criminosas
rivais que utilizavam táticas, técnicas e procedimentos de grupos de violência
extremista – o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP) e as
milícias.
De acordo com Rohling (2015, p. 71), esses grupos criminosos eram
constituídos, na sua maioria, por jovens do sexo masculino, na faixa etária de 15 a
35 anos. Muitas crianças e mulheres, inclusive grávidas, estão envolvidas
diretamente com o tráfico – são olheiros, mensageiros, “fogueteiros” e vendedores
de droga. Algumas delas participavam dos enfrentamentos. As armas utilizadas
contra a tropa por esses grupos variaram desde pistolas e fuzis de diversos calibres
até pedras, tijolos, garrafas, fogos de artifício e estilingues. Foram identificados
também simulacros de armas feitas com canos e armas de pressão que utilizam
projéteis plásticos não letais, que se assemelham a fuzis verdadeiros, conhecidos
como airsoft.
A análise do fator de decisão inimigo é de suma importância em OAU no
contexto de OAOG, e o levantamento das peculiaridades do oponente – nesse
cenário, os APOP e as facções criminosas – servirá de base para determinar suas
vulnerabilidades. As deficiências do inimigo devem ser exploradas pelos escalões
considerados, superior e subordinado, devendo ser alvo de estudo pormenorizado
pela Inteligência. O emprego da VBTP M113-BR pela Cia Fuz Bld é um meio de
explorar a deficiência da força oponente, que não possui meios blindados.
47
2.2 CARACTERÍSTICAS DA VBTP M113-BR
O presente tópico tem por finalidade abordar o histórico da VBTP M113-BR e
suas principais características.
2.2.1 Histórico da VBTP M113
A VBTP M113 surgiu nos anos 1950 nos Estados Unidos. De acordo com
Bastos (2015, p. 11), os veículos blindados foram sendo aprimorados, até que o
fabricante Food Machinery and Chemical Corporation (FMC Corporation) criou um
veículo com blindagem de alumínio, grande mobilidade e variada gama de modelos
e versões, que recebeu a denominação standard de VBTP M-113. Tornou-se um
ícone ocidental, alcançando uma produção de 80.000 unidades e transformando-se
em importante ferramenta para ajudar a infantaria na sua árdua luta em ocupar o
terreno e transportar o pessoal em segurança.
No início da década de 50, o Brasil estabeleceu um acordo militar com os
EUA, segundo o qual o Exército Brasileiro adquiriu 584 unidades da VBTP M113,
que foram efetivamente utilizadas até 1972, ainda na versão a gasolina. Desde
então, a Infantaria Blindada do Exército Brasileiro possui como viatura de dotação a
VBTP M-113. Após uma década de utilização na versão a gasolina, houve
necessidade de modernização, pelo alto consumo e preço do combustível. A
empresa Motopeças Transmissões S.A, de Sorocaba-SP, foi a responsável pela
tarefa. Suas principais modificações consistiram na troca do motor a gasolina por
outro a diesel Mercedes–Benz de 172 HP e na colocação de uma torreta que o
48
diferencia das demais VBTP M113 usadas no mundo, recebendo assim o nome de
VBTP M113B (BRASIL, 2016a, p. 1).
Concebido para dar mobilidade à infantaria, que podia viajar protegida em seu interior, a VBTP M113 se converteu em um autêntico “taxi para o campo de batalha”, o mais famoso de sua categoria, pois possui características ímpares, como ser fácil de dirigir, fácil de manter, econômico de se operar, e com uma política de venda muito ampla, através Foreign Military Sales (FMS). Os Estados Unidos promoveram sua exportação a países considerados amigos, a preços módicos, e, em alguns casos, sem qualquer custo, na atualidade ainda é enorme, podendo ser adquirido também de diversos outros países, os quais possuem estoques de vários modelos, alguns oferecendo modernização e peças de reposição. Enfim, uma cadeia logística confiável, algo muito atraente para países sem muitos recursos financeiros para investirem em um substituto, extremamente caro e complexo (BASTOS, 2015, p. 13).
A figura 5 apresenta o histórico da VBTP M113 desde a década de 60,
quando inicialmente se empregava a versão a gasolina, e sua evolução com
previsão de emprego pelo Exército americano até 2032.
FIGURA 5 - Histórico da VBTP M113 Fonte: Brasil (2015d) Curso de Operador de VBTP M113-BR
49
O Exército Brasileiro, por conta dos conflitos que ora se sucediam (Iraque,
Afeganistão, Somália, Síria, Haiti, entre outros), passou a integrar suas frações em
Força-Tarefa (FT), isto é, um combinado de carros de combate (CC) e fuzileiro
blindado e demais armas de apoio, resultando assim em maior eficiência no
emprego da tropa blindada. Com a chegada do carro de combate Leopard 1A5 nos
Regimentos de Carros de Combate (RCC), verificou-se que as viaturas que
transportavam os fuzileiros numa FT, isto é, a VBTP M113B, não acompanhavam os
Leopard, perdendo assim os fuzileiros parte de sua mobilidade na FT.
Após vários projetos de modernização e através de diversos protótipos,
finalmente em 2012 chegou-se a um resultado positivo. O Brasil, por intermédio do
Parque Regional de Manutenção/5, (Pq R Mnt/5), com sede em Curitiba-PR, e em
parceria com a empresa norte-americana BAE Systems, iniciou o trabalho de
modernização da VBTP M113B (BRASIL, 2016a, p. 1). Assim, foi criada a VBTP
M113-BR.
De acordo com a Diretriz de Instrução de Blindados do Comando Militar do
Sul (BRASIL, 2016c, p. 3), a adoção de novos meios blindados, em particular a
VBTP M113-BR, pela força terrestre, repercute de maneira abrangente na
preparação de recursos humanos, sejam estes vocacionados para o emprego em
campanha, seja para a logística de manutenção. Essa realidade impele ao
desenvolvimento de uma nova mentalidade, adaptada à tecnologia e às
possibilidades do material, direcionando a instrução para ser realizada da maneira
mais fiel e realística possível.
O conhecimento detalhado das características, capacidades e
vulnerabilidades dos Meios de Emprego Militar (MEM) blindados garante seu melhor
emprego, propicia que as operações sejam conduzidas de acordo com os
planejamentos e maximiza as possibilidades de que seja alcançada a vantagem
necessária no campo de batalha.
50
2.2.2 VBTP M113-BR
O CMS é um Grande Comando Operacional no qual se concentram a maioria
das viaturas blindadas (VB) do Exército Brasileiro; por isso, tem decisiva importância
para a implementação da Estratégia da Dissuasão presente na Estratégia Nacional
de Defesa (END) (BRASIL, 2016b, p. 3).
De acordo com a Diretriz de Instrução de Blindados do CMS (BRASIL, 2016c,
p. 82), as definições são as seguintes:
a) Viaturas blindadas: são as viaturas operacionais, motorizadas, que
possuem carroceria (chassi) com características peculiares, de
modo a permitir relativa proteção a seus componentes mecânicos e
à guarnição ou fração transportada, contra o fogo do inimigo, além
de serem dotadas organicamente de armamento e equipamentos
adequados à missão a que se destinam;
b) Viatura Blindada de Transporte de Pessoal: são viaturas blindadas,
de rodas ou de lagartas, destinadas ao transporte de militares o
mais próximo possível do local de seu emprego no campo de
batalha. Podem ainda apoiar pelo fogo as ações desembarcadas.
De acordo com o manual Doutrina Militar Terrestre (BRASIL, 2014b, p. 6-6),
as grandes unidades (GU) pesadas do Exército são as Brigadas Blindadas (Bda
Bld), protagonistas na decisão do combate terrestre e integrantes da reserva
estratégica da força terrestre, de atuação vocacionada para o extremo do espectro
dos conflitos que exija grande ação de choque (guerra). No sentido de auferir
melhores condições a essas GU, o Exército Brasileiro tem realizado projetos
estratégicos, dentre os quais o Projeto Leopard, firmado junto à República
Federativa da Alemanha, e a modernização das Viaturas Blindadas de Transporte
de Pessoal M113-B (VBTP M113-BR), firmado junto à empresa British Aerospace
Systems (BAE Systems).
Segundo Bastos (2015, p. 68), tudo isto foi implementado através do
Programa Foreign Military Sales (FMS), promovido pelo Governo dos Estados
Unidos (USG). Na verdade, trata-se de um acordo governo a governo: USG/FMS e
Governo Brasileiro/Exército Brasileiro (EB), cujo resultado foi a contratação, pelo U.S
51
Army Tank-Automotive & Armaments Comand (TACOM), em 21 de dezembro de
2011, da empresa americana BAE Sytems, reponsável por todo o processo de
modernização.
O conceito de modernização, de acordo com Brasil (2015a, p. 175), aborda a
modificação introduzida no material ou sistema, ou sua total substituição, com a
finalidade de atualizá-lo e readequá-lo às necessidades operacionais ou atividades
de pesquisa e desenvolvimento, incorporando melhoramentos tecnológicos ao
material, em fase de utilização e objetivando melhor desempenho operacional.
Devido à necessidade de os BIB se adaptarem às novas exigências do combate
moderno, a VBTP M113 passou por esse processo de transformação, dando origem
ao M113-BR.
Em 2010, foi aprovada a Diretriz de Implantação do Projeto de Modernização
da VBTP M113-B (BRASIL, 2010b, p. 21). Segundo Bastos (2015, p. 68), assim
surgiu o maior e mais completo processo de modernização da VBTP M-113 já
realizado no país, muito embora o mesmo não seja realizado por uma empresa
brasileira. Buscou-se uma empresa capacitada, com larga experiência, que no caso
foi a BAE Systems. Essa empresa tem fornecido os kits de modernização, os
manuais técnicos, o maquinário e o ferramental especializado, além de treinamento
de pessoal, utilizando as infraestruturas do PqRMnt/5 de Curitiba-PR. Lá foi criada
uma moderna linha de produção, como se fosse uma fábrica, que muito lembra as
linhas de produção de nossa indústria de defesa em seu período áureo dos anos
1980.
Uma das justificativas principais do projeto de modernização residiu no fato de
as VBTP, distribuídas aos elementos dos Batalhões de Infantaria Blindados e dos
Regimentos de Cavalaria Blindada (RCB), não possuírem as características
necessárias a uma viatura blindada de combate de fuzileiros, segundo os atuais
conceitos dos combates blindados. A modernização incluiu substituição do motor e
transmissão, caixa de câmbio automático, suspensão, sistema de arrefecimento,
sistema de navegação anfíbio e sistema de extinção de incêndio, aproximando-se da
versão M113 A2 Mk1, versão dessa viatura blindada da Marinha do Brasil. Além
disso, a empresa selecionada providenciará instalação para permitir o emprego de
sistemas de rádio, a ser fornecido pela Elbit Systems (ARRUDA, 2015, p. 40).
52
Além disso, o novo sistema de alimentação é do tipo injeção direta e possui
um reservatório de combustível de 360 litros, com maior capacidade de
armazenamento que a versão VBTP M113-B, cujo tanque de combustível possuía
apenas 310 litros – consequentemente, houve aumento da autonomia da viatura.
Segundo Santos Lima (2011, p. 1), seu motor antigo a diesel da Mercedes-
Benz OM352A (180HP) foi substituído pelo motor turbo diesel 6V53T de 265HP da
Detroit Diesel Corporation (DDC) e a transmissão original Allinson TX200 foi
substituída por uma unidade de transmissão cross drive Allison TX100-1A,
permitindo uma velocidade máxima de 61 Km/h (uma pequena perda em relação à
velocidade anterior, que girava em torno de 64 a 66 Km/h) com alcance máximo de
483Km (um pouco mais do que os 480Km anteriores). Seu peso bruto também foi
reduzido de mais de 12.000Kg para 11.440Kg, permitindo mais mobilidade ao
veículo blindado, visando prover maior capacidade de sobrevivência, tanto em
cenários de operações em ambiente urbano como em campo aberto.
FIGURA 6 - Novo motor Detroit Diesel de 6 cilindros em V e 265 HP de potência Fonte: Brasil (2015d) Curso de Operador de VBTP M113-BR
A VBTP M113-BR corresponde, em termos de motor e suspensão, à versão
A-2Mk1, mas já customizado para as necessidades do Exército Brasileiro. A figura 7,
a seguir, mostra a configuração da VBTP M113A2Mk1.
53
FIGURA 7 - M113A2Mk1- Configuração Fonte: Brasil (2015d) Curso de Operador de VBTP M113-BR
O processo de modernização da VBTP M113-BR envolve 13 etapas. De
acordo com Bastos (2015, p. 71), o projeto é extremamente complexo, pois é muito
mais do que uma manutenção de 4º Escalão, implicando diversas modificações
introduzidas, em versões posteriores e em todos os seus sistemas integrados,
obedecendo a uma sequência de diversos processos, a saber:
a) desmontagem;
b) primeira lavagem;
c) jateamento com partículas de aço inox, que proporciona melhor
rendimento e pouca suspensão no ar;
d) segunda lavagem;
e) soldagem;
f) terceira lavagem;
g) primer de fundo;
h) montagem;
i) início dos testes para ver o funcionamento de todo o sistema, o qual
obedece a um teste de rodagem de 80 km, testes de aclividades,
inclinação lateral, flutuabilidade e semipivoteamento;
j) quarta lavagem;
54
k) aprovado, recebe a pintura camuflada;
l) acabamento final, recebendo novos assentos, assoalhos; banco do
atirador e chefe de carro, marcações internas e externas, bolsas
com os manuais, mais todo ferramental e kit de primeiros-socorros;
m) é enviado para as unidades que se encontram na sequência de
recebimento das novas VBTP M-113 BR.
Resumidamente, cada carro é desmontado, lavado, jateado para remoção da pintura antiga, lavado novamente, soldado para reparar danos no casco, e lavado uma terceira vez para remover resíduos de graxa, jateamento e solda. Em seguida recebe o conjunto de força (motor e suspensão) e a pintura verde provisória. Então são acrescentados demais componentes e o carro sai do pavilhão rodando para receber a lagarta. Após rodar pelo asfalto e concreto dentro das instalações, o blindado entra na fila para o teste. Só após o teste de pivoteamento e de flutuação, realizado no campo de instrução a 33 km de Curitiba, é que o blindado recebe a pintura camuflada e vai para a preparação final, onde o interior é completado, são colocados avisos e é feita mais uma checagem, e então vai para o pátio onde aguarda distribuição para a OM de destino (MURMEL, 2015, p. 1).
Com relação aos custos envolvidos no complexo contrato para modernização
de 150 VBTP-M113, o mesmo foi orçado em mais de U$53 milhões de dólares,
ficando o custo unitário em torno de U$ 331.000,00. Deve-se levar em conta que o
custo de cada viatura, para fins patrimoniais, é da ordem de R$740.000,00, também
incluídos todos os insumos, aquisições locais, energia elétrica, água, etc. (BASTOS,
2015, p. 70).
VBTP M113-BR é um veículo sobre largatas, com capacidade anfíbia limitada
a pequenos cursos de água, grande capacidade de deslocação todo-o-terreno e alta
velocidade em estradas de terra batida. A família M113 engloba uma ampla gama de
versões e modificações tanto para combate como para apoio de combate. Além
disso, essa plataforma blindada pode atuar em terra ou água, a temperaturas de -
10°C a 50°C, e pode ser transportada por via aérea, férrea ou rodoviária. Seu
principal armamento é uma metralhadora Browning 12,7 mm (.50). (BRASIL, 2015d,
p. 15).
A família de veículos M113 pode ser utilizada como plataforma de morteiros,
na versão ambulância, de comando e outros. Não existem versões específicas para
essas missões no Brasil, sendo os M113-BR modificados mediante improviso,
conforme a necessidade.
55
Com relação às operações com a viatura, a tripulação pode ficar sentada no
seu interior, com um militar de frente para o outro ou com a escotilha aberta, com os
atiradores de pé, realizando segurança em 360 graus, para proporcionar maior
capacidade de observação e potência de fogo em todas as direções. A tripulação
pode embarcar e desembarcar da viatura através de uma rampa hidráulica.
FIGURA 8 - Ocupação do Grupo de combate (Gc) em uma VBTP M113-BR Fonte: Brasil (1980, p. 2-29)
O quadro 3 apresenta as principais informações da VBTP M113-BR.
ITEM INFORMAÇÃO
Armamento Metralhadora Browning 12.7mm (.50 pol) M2
Comprimento 4.851 mm
Largura 2.686 mm (com as saias de borracha e ferragens instaladas)
Altura 2.560 mm (até o topo da proteção balística frontal da Mtr.50)
Distância do solo 434.8 mm (parte dianteira)
QUADRO 3 – Informações técnicas da VBTP M113-BR (Continua)
56
Velocidade máxima à frente 61 km/h
Velocidade máxima à ré 9,5 km/h
Rampa máxima 60%
Inclinação lateral 30%
Obstáculo máximo vertical 0,70 m
Transposição de fosso até 1,67 m
Motor Detroit 265 HP 6V53T
Consumo através campo 15 L/h
Consumo através estrada 1,8 km/h
Capacidade do tanque de combustível 360 litros
Autonomia 540 km
Carga máxima rebocável 6,583 Ton a 2,5 km/h
Pressão sobre o solo (peso de combate): 59 kPa (8.57 PSI).
Valor U$ 2.300.000,00
Guarnição 02 homens
Efetivo 09 homens
QUADRO 3 – Informações técnicas da VBTP M113-BR (Conclusão) Fonte: Brasil (2015d).
Essas informações são fundamentais para os comandantes de fração,
especialmente em áreas de favelas, que possuem restrições ao movimento de
viaturas.
Segundo Brasil (2015d, p. 15) a VBTP M113-BR apresenta como
possibilidades:
a) possibilidade de transposição imediata de cursos d'água com a
devida preparação da viatura;
b) possibilidade de emprego em temperaturas rigorosas, negativas e
positivas;
c) grande adequabilidade a todos os modais de transportes,
possibilitando inclusive o lançamento aeroterrestre;
d) proporciona relativo apoio de fogo (Ap F) às tropas
desembarcadas, bem como relativa proteção blindada a armas
automáticas de pequenos calibres;
e) grande necessidade de suprimentos Sup Cl III e IX.
57
A figura a seguir apresenta as principais características com relação às
dimensões e peso da VBTP M113-BR. O peso de embarque considera a viatura
abastecida, sem acessórios, sem equipamento de comunicações, armamento e sem
pessoal/carga. Já peso sem pessoal prevê o veículo abastecido, com acessórios,
equipamento de comunicações, armamento e sem pessoal/carga. O peso de
combate é caracterizado pelo veículo abastecido, com acessórios, equipamento de
comunicações, armamento e pessoal com equipamento.
FIGURA 9 - Apresentação da VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015d) Curso de Operador de VBTP M113-BR
Quanto às dimensões em OAU, não há como se vislumbrar o emprego de
viaturas blindadas sobre lagartas sem que haja danos no seu deslocamento. Pelas
características das Operações em Ambiente Urbano no contexto de OAOG, esses
danos ocorrem principalmente contra calçadas e veículos civis que se encontram
parados nas ruas estreitas. Dessa forma, é necessário ter um conhecimento sobre
os dados técnicos da viatura para minimizar os danos colaterais nesse cenário.
58
Umas das principais mudanças da VBTP foram as instalações das alavancas
de pivoteamento. Essa inovação é usada para girar a VBTP em torno do próprio
eixo. Puxando a alavanca, o disco de freio existente na saída do diferencial
controlado é bloqueado, permitindo que toda força seja utilizada na outra lagarta.
FIGURA 10 - Instalação das alavancas de pivoteamento na VBTP M113- BR Fonte: Brasil (2015d) Curso de Operador de VBTP M113-BR
As mudanças mecânicas do M113-B para o M113-BR conferiram ao veículo
um menor raio de curva através do seu semipivoteamento, manobra na qual uma
das lagartas é travada para que o carro faça uma curva fechada e desenhe um
círculo no chão, permitindo maior trafegabilidade a essa plataforma blindada
(MURMEL, 2015, p.1). O pivoteamento é de suma importância em OAU, uma vez
que o motorista consegue fazer manobras para entrar e sair das vielas nas áreas
favelizadas sem que a viatura fique presa nos becos. Aumenta-se, assim, a
segurança da fração que está em operações.
Outra característica essencial em ambiente urbano é a mobilidade, que
também está relacionada à rapidez de deslocamento. É alcançada principalmente
pela aptidão que o veículo tem de superar obstáculos, tanto verticais, quanto
horizontais. Nesse mister, os veículos sobre lagarta apresentam vantagem em
59
relação àqueles sobre rodas, inclusive em ambiente urbano. Normalmente, os
veículos sobre lagarta são mais manobráveis do que aqueles sobre rodas, por
realizarem curvas com raios menores e por vezes realizarem o pivoteamento (giro
sobre o eixo vertical). Soma-se a isso o fato de os trens de rolamento serem menos
vulneráveis, por serem constituídos de lagartas.
FIGURA 11 - VBTP M113- BR realizando teste de pivoteamento Fonte: Murmel (2015)
De acordo com relatório da Força de Pacificação V (BRASIL, 2015b), a
natureza da VBTP M113-BR – leve em comparação a outras VBTP existentes no
Exército Brasileiro, como a VBTP Guarani, sobretudo devido a sua blindagem em
duralumínio - minimizou os danos que poderiam decorrer de uma viatura com grande
peso, principalmente pela pressão que as lagartas exercem no solo. Verificou-se
ainda que a lagarta garantiu grande mobilidade ao carro, transpondo obstáculos que
poderiam ser impeditivos a veículos sobre rodas. Esses fatores permitem um
planejamento de operações mais seguras, usando a proteção blindada do carro até
o ponto mais próximo dos objetivos das missões.
60
Outra adaptação importante foi a troca das lâmpadas incandescentes nos
faróis por LED, que emite mais luz e dura mais tempo, permitindo maior visibilidade
ao motorista nas operações noturnas.
Outro acessório importante que poderá ser utilizado em futuras OAU no
contexto de OAOG são as lagartas de borracha, “band track”, que estão sendo
instaladas nas VBTP M113-BR. No ano de 2014, foram adquiridas no Canadá, da
empresa Soucy International Inc., uma tradicional produtora de lagartas de borracha
desde 1967. Desde 2004, essa empresa produz kits para o M113, um conjunto de
lagartas de borracha, composto por um reforço de metal envolto por uma malha de
aço contínua, que evita que a lagarta ceda e necessite de constantes ajustes de
tensão, como ocorre na lagarta convencional de aço (T-130).
FIGURA 12 - VBTP M113- BR com a lagarta de borracha instalada Fonte: Murmel (2015)
Segundo Bastos (2015, p. 91), as características técnicas desse veículo
proporcionam redução na vibração e no ruído. Com relação ao peso, a lagarta de
borracha canadense pesa, cada conjunto, 1.029 Kg contra 1.406 kg das metálicas,
além de trazer maior conforto aos tripulantes, menor consumo de combustível,
61
preservação do equipamento e maior capacidade de carga em função do menor
peso. O fabricante garante que ela possui uma durabilidade de 7.000km, numa
otimização de 65% em estrada pavimentada e 35% de estrada de terra, reduzindo
em muito os custos de manutenção, por não haver necessidade de substituição
periódica das almofadas amovíveis nem trocas de buchas internas, como as lagartas
metálicas.
Pelo fato de o PqRMnt/5 ser o responsável pela modernização das VBTP
M113-B, transformando-as em M113-BR, acabou sendo responsável por realizar
testes com o kit adquirido, juntamente com o 20º BIB.
De acordo com o relatório de informações técnicas (RIT), observou-se que,
durante o teste de rodagem, obteve-se uma resposta rápida da viatura nas curvas e
redução muito significativa na vibração no ruído interno. Isso traz melhor ergonomia
para o operador e para a tripulação, além de preservar os equipamentos eletrônicos
embarcados e o trem de rolamento da VBTP M113-BR. O nível de ruído interno,
medido com decibelímetro, foi 3dB menor que a lagarta de aço T-130 (BRASIL,
2014, p. 6).
Os testes ainda comprovaram que a lagarta de borracha seria uma boa opção
para terreno asfáltico ou seco, com uma redução de 4,8 a 10% no consumo de
combustível. O custo de aquisição é mais alto do que as tradicionais em metal, mas
tem uma vida útil 40% maior e menor custo de manutenção.
As lagartas de borracha não foram empregadas durante a Operação São
Francisco, mas poderão ser de grande valia em futuras OAU no contexto de OAOG.
Além disso, foram instalados recentemente a rádio Falcon III, que permite
estabelecer ligações da VBTP M113-BR, o escalão superior e o intercomunicador
Sotas, que possibilita as ligações internas da guarnição da viatura.
A Harris, tradicional fabricante de sistemas e de tecnologia de comunicações,
recebeu uma encomenda de 14 milhões de dólares do Brasil para fornecer rádios
táticos das famílias Falcon II e Falcon III para as Forças Armadas brasileiras.
Segundo Guerra Neto (HARRIS..., 2011, p.1), o transceptor RF-7800V ou Falcon III,
que equipa a VBTP M113-BR, tem capacidade de transmitir/receber dados de alta
velocidade até a taxa de 192kbps, na faixa de frequências de 30 MHz a 108MHz,
com 50 Watts de potência, tornando-o o mais avançado transceptor militar em VHF.
62
A aquisição desse novo equipamento irá permitir a comunicação entre os
comandantes de fração, facilitando as coordenações e o posicionamento dos
blindados em OAU no contexto de OAOG.
O Rádio Falcon III está interconectada ao intercomunicador Sotas. O sistema
permite uma comunicação clara, com eliminação de ruídos e interferências entre os
membros do grupo de combate. De acordo com Guerra Neto (THALES – SOTAS...,
2014, p.1), o Sotas é um sistema completo para intercomunicação em campo de
batalha digital. Ele integra roteadores, estações de usuário e outros dispositivos que
fazem parte de uma completa família de produtos. Trata-se de um sistema de
arquitetura flexível que proporciona suporte total de informações desde o centro de
operações até o combatente no campo. O Sotas confere aos combatentes uma
percepção situacional conjunta e, com seu conceito modular, pode ser facilmente
adaptado e expandido a qualquer momento, sem interferir na instalação inicial. Cabe
destacar que o Intercomunicador Sotas não estava instalado nas viaturas na
Operação São Francisco.
No combate moderno, em que a consciência situacional é importante em
todos os níveis, a instalação da Falcon III e do intercomunicador proporcionará a
ligação interna e com escalão superior das frações que utilizarem a VBTP M113-BR.
Assim, verificou-se que foram feitas mudanças na VBTP M113-BR que poderão
influenciar diretamente nas TTP da Cia de Fuz Bld em OAU no contexto de OAOG.
2.2.3 Apresentação das outras viaturas blindadas empregadas na Operação
São Francisco
Serão apresentadas aqui as características das viaturas blindadas
empregadas pelas forças militares durante a Operação São Francisco.
63
2.2.3.1 VBTP-MR Guarani
A VBTP-MR Guarani é um veículo blindado de transporte de pessoal 6x6
atualmente em desenvolvimento pela IVECO-FIAT do Brasil, como parte do
programa de modernização da frota blindada.
O Projeto Guarani tem por objetivo transformar as Organizações Militares de
Infantaria Motorizada em Mecanizada e modernizar as Organizações Militares de
Cavalaria Mecanizada. As viaturas foram entregues à 15ª Brigada de Infantaria
Mecanizada, sediada em Cascavel-PR, para mobiliar as Companhias de Fuzileiros
do 30º Batalhão de Infantaria Mecanizado com sede em Apucarana, do 33º Batalhão
de Infantaria Mecanizado, com sede em Cascavel-PR, e o 34º Batalhão de Infantaria
Mecanizado, com sede em Foz do Iguaçu, unidades orgânicas dessa Brigada.
As viaturas incorporarão as seguintes inovações tecnológicas: baixa assinatura térmica e radar; capacidade de navegação por GPS ou inercial; proteção blindada para munição perfurante incendiária em especial antiminas terrestres (que conta também com assentos suspensos no teto do veículo que visam diminuir os danos em caso de um impacto vindo por baixo). O Guarani ainda traz diversos recursos tecnológicos de primeira linha. Dentre eles encontram-se o sistema automatizado de pressurização dos pneus, as suspensões independentes em cada uma das seis rodas, ar-condicionado com sistema de filtros contra armas químicas, biológicas e nucleares, sistema de Gerenciamento de Campo de Batalha, sistema de Consciência Situacional, torre automática com canhão 30mm, visão noturna, e reparo automatizado para metralhadora .50 ou 7,62mm (FAN, 2014, p. 1).
Possui capacidade anfíbia, podendo transportar até 11 militares (2+9). No
quesito segurança, possui proteção antiminas sob as rodas, couraça e assentos
individuais suspensos, além de possuir cinto de segurança de cinco pontas. Sua
proteção balística é composta de blindagem contra tiros de 7,62mm perfurante e
estilhaços de granadas de artilharia 155 mm, sendo preparada para receber
blindagem adicional (RIBEIRO, 2013, p. 10).
64
FIGURA 13 - VBTP-MR Guarani Fonte: Ribeiro (2013, p.9)
Segundo Ribeiro (2013, p. 9), a viatura possui as seguintes características:
- Efetivo: 2+9;
- Peso: 14,5t;
- Peso em ordem de marcha: 18,3t;
- Capacidade de carga: 3,8t;
- Velocidade máxima: 100 km/h;
- Autonomia: 600 km;
- Motor: Cummins PFT;
- Potência: 514hp; e
- Relação peso por potência: 28,39 hp/t.
2.2.3.2 Viatura Mowag Piranha III
A viatura Piranha Mowag é um veículo blindado de combate desenvolvido
pela Mowag, empresa suíça (desde abril de 2010, o nome mudou para General
65
Dynamics European Land Systems – Mowag GmbH). Cinco gerações desses
veículos já foram produzidas, fabricadas pela Mowag ou sob licença por outras
empresas, e as variantes estão em serviço com as forças militares ao redor do
mundo, inclusive na Marinha do Brasil (RIBEIRO, 2013, p. 7).
Mesmo sendo uma viatura sobre rodas, possui boas condições de
deslocamento através de campo, devido à existência de um sistema central de
calibragem dos pneus (central tire inflation system – CTIS), que ajusta a pressão dos
pneus à natureza do solo. Possui ainda elevada mobilidade, particularmente sobre
eixos apoiados por estradas e em ambiente urbano, proporcionada pelo seu sistema
de tração 8x8, aos dois eixos direcionais e elevada potência do motor (BRASIL,
2008b, p. 6-2).
De acordo com Brasil (2008b, p. A-1), a viatura possui as seguintes
características:
a) Guarnição: 2 militares
b) Tropa embarcada: 11 militares
c) Velocidade máxima: 105 Km/h
d) Capacidade de combustível: 320 litros
e) Autonomia: 700 km
f) Peso (Kg): 18500
g) Comprimento: 7,57 m
h) Largura: 2,68 m
i) Altura: 2,93 m
66
FIGURA 14 - VBTP MOWAG Piranha III Fonte: Brasil (2008b, p. 6-1)
2.2.3.3 VBTP M113 A1 TP da Marinha do Brasil
A Viatura Blindada Sobre Lagartas M-113A1, em uso no CFN, dispõe de uma
metralhadora de .50” que, em base de fogos, pode apoiar a tropa de infantaria no
assalto às posições inimigas e, na defensiva, bater, com fogos rasantes e de
flanqueamento, as possíveis vias de acesso do inimigo (BRASIL, 2008b, p. 4-1).
A ação de choque é consideravelmente ampliada quando essas viaturas são
empregadas emassadas, produzindo um acentuado impacto físico e psicológico
sobre o inimigo, principalmente quando obtida a surpresa.
Segundo Bastos (2015, p. 96), vale destacar que em 06 de setembro de 2013
foi aprovada, pelo Comando da Marinha, a criação da nova especialidade do Corpo
de Fuzileiros Navais, a de Blindados. Isto deveu-se ao acentuado crescimento do
emprego de blindados pelo CFN, em Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais, bem como em razão do conceito de seu emprego nas mais
modernas forças militares de diversos países, onde a mobilidade, proteção blindada
e poder de choque têm proporcionado a utilização de tais meios.
67
Os blindados acabaram por representar importantes características dos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais e, no caso do M-113, esses se mostraram de grande utilidade nas recentes e inusitadas operações de apoio às Forças de Segurança Pública, no Rio de Janeiro, desde 2010, na Operação Arcanjo, no Morro do Alemão, onde sua utilização, juntamente com outros tipos de blindados sobre rodas e lagartas operados pelo CFN, foram decisivos para o sucesso alcançado, mostrando a grande importância na criação desta especialidade (BASTOS, 2015, p. 96).
De acordo com Brasil (2008b, p. 4-2) a viatura possui as seguintes
características:
a) Guarnição: 2 militares
b) Tropa embarcada: 11 militares
c) Velocidade máxima: 64,3 Km/h
d) Capacidade de combustível: 360 litros
e) Autonomia: 483 km
f) Peso (Kg): 11000
g) Comprimento: 4,86 m
h) Largura: 2,69 m
i) Altura: 2,20 m
FIGURA 15 - VBTP M113 A1 TP Fonte: Brasil (2008b, p. 4-2)
68
Segundo Bastos (2015, p. 95), a VBTP M113 A1 TP, próxima de seus 40
anos de operação, apresentou considerável desgaste, sendo que apenas 66%
estavam em condições operacionais. Como não seria viável sua substituição, partiu-
se para uma modernização, assim como no Exército Brasileiro. A empresa
selecionada foi a Israel Military Industries (IMI), que atua em parceria com a Marinha
do Brasil, através do Centro de Reparos e Suprimentos do CFN, parte integrante do
Centro Tecnológico do CFN, cujo programa prevê a modernização das 24 VBTP
M113 A1 TP.
Após o processo de modernização, as viaturas blindadas especiais sobre
lagartas M113 receberam a denominação de VBTP M113-MB1 (MB- Marinha do
Brasil e 1- primeiro modernizado).
2.2.3.4 VBTP EE-11 Urutu
No final dos anos 80, surgia no Brasil o EE-11 Urutu, construído pela empresa
Engenheiros Especializados S/A (ENGESA). Trata-se de um equipamento pensado
dentro da realidade do parque automobilístico nacional, que se tornou um sucesso
de vendas, equipando tanto o EB e Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) como
exércitos de outros países, da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio (SILVA,
2010, p.51).
De acordo com Fonseca (2012, p.18), esse blindado foi desenvolvido pela
ENGESA em 1970 e começou a ser produzido em 1976, com o objetivo de mobiliar
as FA. Devido a sua grande adaptabilidade, foi exportado para diversos países de
Oriente Médio, América Latina e África. Foram produzidas cerca de 1.500 unidades,
em diversas versões.
O Urutu é um blindado leve para transporte de tropa, podendo acolher de 12 a
14 homens equipados, e possui uma blindagem constituída de duas camadas. Em
seu projeto, buscou-se utilizar grande parte de tecnologia nacional, para garantir a
durabilidade e reposição de peças.
69
Segundo Fonseca (2012, p.18), a viatura possui as seguintes características:
- Peso: 11.000 kg a 14.000 Kg
- Motor: Detroit Diesel 6V-53T 6cyl (260 cv)
- Velocidade máxima: 105 Km/h
- Autonomia máxima: 850 km
- Blindagem: 6 mm a 12 mm
FIGURA 16 - VBTP EE-11 Urutu. Fonte: Fonseca (2012, p.18)
2.2.4 Comparação da Viaturas Blindadas empregadas na Operação São
Francisco
Quanto à comparação das viaturas blindadas empregadas na Operação São
Francisco, o quadro 4 traz as dimensões e peso das plataformas blindadas utilizadas
nessa missão.
70
VIATURAS/
CARACTERÍS-
TICAS
VBTP
M113-BR
VBTP
M113-A1
(Marinha do
Brasil)
VBTP
EE 11
URUTU
VBTP
MOWAG
PIRANHA III
VBTP-MR
GUARANI
COMPRIMENTO 4,85 metros (m) 4,86m 6,10m 7,57 m 6,91 m
LARGURA 2,67 m 2,69m 2,39 m 2,68 m 2,70 m
ALTURA 2,53 m 2,20m 2,12 m 2,93 m 2,34 m
PESO 11 toneladas (t) 11 t 13 t 18,5 t 14,5 t
QUADRO 4 - Características das viaturas empregadas na Operação São Francisco Fonte: Brasil (2015c), Relatório da F PAC V
Além disso, de acordo com o relatório de desempenho de material emprego
militar, confeccionado junto com o Relatório da Força de Pacificação (F PAC) V
(BRASIL, 2015c), a VBTP M113-BR apresentou:
a) quanto ao efeito dissuasório: excelente efeito, causado pela ação
de choque (efeito das lagartas e do barulho do deslocamento);
b) quanto à flexibilidade, a viatura foi utilizada tanto para o transporte
de tropa convencional, de policiais e destacamento de Forças
Especiais. Além disso, foi empregada no carregamento de
materiais, veículos (motocicletas) apreendidos, criminosos presos
durante as operações e transporte de feridos;
c) quanto à facilidade para o desembarque, a VBTP M113-BR
apresenta acesso regular para a tropa, com uma porta de
emergência na rampa traseira e a escotilha do compartimento de
tropa. O acesso pode ser feito tanto pela porta quanto pela rampa;
d) quanto às medidas de combate a incêndio: a possui sistema interno
para extinção de incêndios, bem como extintores convencionais;
e) - quanto ao espaço de manobra: essa viatura necessita de pouco
espaço para manobra, devido a sua capacidade de realizar o
pivoteamento e devido a suas dimensões reduzidas, enquanto as
71
outras viaturas blindadas empregadas necessitavam de um espaço
considerável para realizar manobras na zona de ação da operação;
f) quanto à proteção para o atirador: o veículo possui uma torreta de
proteção que protege lateralmente em 360º, mas não para o alto,
assim o atirador fica parcialmente exposto;
g) quanto à segurança para tropa: a VBTP M113-BR apresentou bom
nível de proteção/segurança para a tropa. Sua blindagem de liga
leve (mistura de alumínio e magnésio) suportou os calibres
utilizados pelas organizações criminosas, tendo sido registrados
diversos casos de perfuração parcial.
Cabe destacar que, quanto ao uso, a VTBP Guarani foi considerada de difícil
operação, sendo necessário treinamento especializado no CI Bld. Já a VTBP M113-
BR e a Urutu foram avaliadas como de fácil utilização pela tropa, sendo apenas
necessário instruções técnicas aos militares que empregaram as viaturas e não
pertenciam a SU Bld.
Como limitações, a VBTP M113-BR apresentou:
a) Quanto à visão noturna: não possui sistema de visão noturna;
quando necessário, a tripulação teve que usar OVN, que não
pertencia à viatura. Já o Guarani possui sistema de visão termal
para o motorista e o comandante do carro.
b) Quanto ao armamento de dotação: necessita de adaptação para
receber a metralhadora (Mtr) MAG 7,62 mm; já a VTBP Guarani
possui reparo adaptado para receber a Mtr MAG 7,62 mm.
c) Quanto ao gerenciador do campo de batalha (GCB): este é um
software desenvolvido para integrar o sistema de comando e
controle embarcado na viatura blindada e tem finalidade de prevenir
o fratricídio, uma visão noturna eficiente, particularmente visão
termal, que permite a visualização da assinatura térmica do
oponente. A VTBP M113-BR, assim como o Urutu, não possui esse
equipamento, sendo necessário que a tripulação empregue GPS
para orientações ou outros aplicativos disponíveis nos celulares dos
72
militares. Já o Guarani possui esse sistema, assim o Cmt da fração
possui maior consciência situacional.
d) Quanto ao dano colateral: devido ao emprego da lagarta metálica
na Operação São Francisco, a VBTP M113-BR causou maior dano
colateral que o Urutu e o Guarani, destruindo calçadas e causando
avarias em veículos civis que se encontravam na área de
operações.
2.3 A COMPANHIA DE FUZILEIROS BLINDADA
Neste tópico, antes de ser abordada a Companhia de Fuzileiros Blindada
propriamente dita, será apresentada a constituição da Brigada Blindada, do Batalhão
de Infantaria Blindado, da Companhia de Fuzileiros Blindada e do Pelotão de
Fuzileiros Blindado. Além disso, também será descrita a constituição do Batalhão de
Blindados de Fuzileiros Navais e da Companhia de Viaturas Blindadas Sobre
Lagartas do Corpo de Fuzileiros Navais.
2.3.1 A Brigada Blindada
De acordo com o Manual de Fundamentos Doutrina Militar Terrestre (2014, p.
6-2), a Infantaria blindada, em função de sua mobilidade tática, potência de fogo,
proteção blindada e ação de choque relativa, pode executar operações continuadas:
ofensivas, defensivas, realizar manobras de desbordamento de grande amplitude,
limitadas às condições do terreno, buscando atuar à retaguarda do inimigo; participar
de operações de aproveitamento do êxito e perseguição; operar em condições de
visibilidade reduzida e/ou sob condições meteorológicas adversas; integrar forças
73
conjuntas em operações anfíbias; participar de operações de pacificação e de “apoio
a órgãos governamentais”. Permite ações rápidas em locais previamente escolhidos,
para desequilibrar o combate em virtude das seguintes características: emprego da
plataforma veicular blindada; armamento com alta letalidade e precisão; e
comunicações eficazes e interativas. Sendo assim, as tropas blindadas devem estar
em condições de serem empregadas em OAU no contexto de OAOG.
Ainda de acordo com o referido manual, as Grande Unidades (GU) Pesadas,
são as Brigadas Blindadas, constituídas pelas unidades de Regimentos de Carros
de Combate (RCC) e Batalhões de Infantaria Blindados. Como força potente e
altamente móvel, são as GU da F Ter mais aptas ao emprego no extremo do
espectro dos conflitos, como o elemento de decisão do combate terrestre. Sua
missão é cerrar sobre o inimigo, a fim de destruí-lo ou neutralizá-lo, utilizando o fogo,
a manobra, a ação de choque e a proteção blindada. São aptas para as ações
ofensivas altamente móveis e com grande profundidade. Além disso, são aptas a
realizar operações de apoio a órgãos governamentais, especialmente com os
Batalhões de Infantaria Blindado, que possuem a VBTP M113-BR e já foram
empregados nesse tipo de missão na Operação São Francisco.
As Brigadas Blindadas (Bda Bld) existentes atualmente no Exército Brasileiro
são a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada (Bda C Bld) e a 6ª Brigada de Infantaria
Blindada (Bda Inf Bld), formada com base nos BIB e RCC com os necessários
apoios de fogo, ao movimento, de comunicações e logístico.
A 5ª Bda C Bld e a 6ª Bda Inf Bld constituem a reserva estratégica da Força
Terrestre, estando assim desdobradas no território nacional:
- 5ª Bda C Bld em Ponta Grossa, Paraná;
- 6ª Bda Inf Bld em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
De acordo com Souza Junior (2010, p. 60), observa-se que os principais
conflitos armados recentes, como a 1ª Guerra do Golfo, a Guerra do Iraque, entre
outros, se caracterizam sobretudo pela rapidez das ações, curta duração e pelas
operações em ambiente urbano. Desse modo, é lícito supor que devam existir tropas
blindadas em locais estratégicos, como reserva estratégica, e em plenas condições
operacionais para, caso haja necessidade, serem rapidamente empregadas. A
concentração de tropas dessa natureza demanda grande operação logística, cujo
74
fator da decisão tempo é preponderante e depende, assim, das vias e meios de
transportes existentes na região.
2.3.2 O Batalhão de Infantaria Blindado
O Exército Brasileiro possui apenas quatro Batalhões de Infantaria
Blindados (BIB), a saber: 7º BIB, em Santa Cruz do Sul-RS; 13º BIB, em Ponta
Grossa-PR; 20º BIB, em Curitiba-PR e 29º BIB, em Santa Maria-RS.
O Batalhão de Infantaria Blindado é a unidade tática orgânica de Brigadas
Blindadas de Cavalaria e Infantaria. O BIB possui como organização: uma
companhia de comando e apoio, e quatro companhias de fuzileiros blindadas
(BRASIL, 2007a, p. A-1).
ORGANOGRAMA 1 – Organograma de um BIB Fonte: Brasil (2007a, p. A-1)
Para o transporte das VBTP M113-BR nos Batalhões Blindados, existem
carretas específicas para estradas pavimentadas. As carretas normalmente rebocam
uma prancha, que tem capacidade para duas VBTP M113-BR. Essas pranchas
foram essenciais para deslocar os blindados para a guarnição do Rio de Janeiro
C Ap
75
durante a Operação São Francisco, já que o deslocamento através estrada exige
elevado consumo de combustível e gera desgaste das almofadas das lagartas.
2.3.3 A Companhia de Fuzileiros Blindada
A Companhia de Fuzileiros Blindada é a unidade tática orgânica dos BIB para
as quatro operações básicas: ofensiva, defensiva, pacificação e operações de apoio
a órgãos governamentais. Esta subunidade possui a seguinte organização: uma
seção de comando, três pelotões de fuzileiros blindados e um pelotão de apoio.
ORGANOGRAMA 2- Organograma de uma Cia Fuz do BIB Fonte: Brasil (2007a, p. A-3)
A Cia Fuz é uma tropa valor Subunidade (SU), elemento de manobra dos
batalhões de infantaria. É particularmente apta para realizar o combate a pé, ainda
que utilizando meios de transportes terrestres (dentre os quais os blindados, sendo
Ap
Cmdo
76
um deles a VBTP M113-BR), aéreos ou aquáticos para seu deslocamento. É, por
excelência, a tropa do combate aproximado, com capacidade de operar em qualquer
terreno e sob quaisquer condições climáticas ou meteorológicas (BRASIL, 2005, p.
1-2).
O emprego de uma Cia Fuz Bld em OAU apresenta as seguintes
características, segundo Brasil (2002b, p. 1-3): mobilidade (resultante de serem
todos os seus elementos transportados em plataformas blindadas); flexibilidade
(produto da mobilidade, estrutura e constituição em pessoal e meios); potência de
fogo (função do armamento orgânico, a metralhadora .50); proteção blindada
(proporcionada pela blindagem de suas VBTP); ação de choque (resultante do
aproveitamento simultâneo de suas características de mobilidade, potência de fogo
e proteção blindada); e sistema de comunicações amplo e flexível.
De acordo com Brasil (2014a, p. 24), no Quadro de Distribuição de Material
(QDM), a companhia de Fuzileiros blindada possui:
- 02 VBTP M113-BR para seção de comando;
- 04 VBTP M113-BR para cada Pelotão de Fuzileiros Blindado;
- 02 VBTP M113- BR para o Pelotão de Apoio;
- 02 viaturas blindadas de combate – morteiro.
Cabe destacar, no entanto, que o EB ainda não possui esse tipo de viatura
para os morteiros nos Batalhões de Infantaria Blindado. Dessa forma, normalmente
são substituídas por VBTP M113-BR, quando há necessidade de empregar o
morteiro orgânico da Cia Fuz Bld. No caso de OAU no contexto de OAOG,
normalmente o morteiro não será empregado devido ao fator de decisão
“considerações civis”. Assim, essas viaturas blindadas poderão ser utilizadas para
outras finalidades, como reforçar um pelo Pelotão de Fuzileiros Blindado (Pel Fuz
Bld) em determinada área ou operação.
No que diz respeito a possibilidades e limitações, a Cia Fuz Bld apresenta
alguns aspectos importantes. De acordo com Brasil (2002b, p.1-4), são
possibilidades da Cia Fuz Bld:
a) conduzir operações ofensivas, defensivas continuadas;
b) aproveitar o êxito e perseguir o inimigo;
c) conduzir operações de segurança;
77
d) atacar e contra-atacar sob fogo inimigo;
e) conduzir ou participar dos movimentos retrógrados e das ações
dinâmicas da defesa;
f) participar de envolvimentos e desbordamentos;
g) efetuar operações de junção;
h) executar ações contra forças irregulares;
i) acompanhar o ataque dos carros de combate para destruir as
resistências inimigas remanescentes;
j) conquistar e manter o terreno;
k) realizar a transposição de oportunidade e imediata de cursos
d’água;
l) cerrar sobre o inimigo para destruí-lo, neutralizá-lo ou capturá-lo;
m) cumprir missões no quadro da defesa interna, entre elas OAU no
contexto de OAOG.
Já como limitações, a Cia Fuz Bld possui:
a) Quanto ao inimigo:
- vulnerabilidades a ataques aéreos;
- relativa sensibilidade ao emprego de minas e armas anticarro e aos
obstáculos artificiais.
b) Quanto ao terreno:
-terrenos montanhosos, arenosos, pedregosos, cobertos e
pantanosos reduzem sua mobilidade e sua ação de choque;
- necessidade de rede rodoviária para prover seu apoio logístico;
- sensibilidade às condições meteorológicas adversas, reduzindo sua
mobilidade.
c) Quanto aos meios:
- necessidade de volumoso apoio logístico, particularmente dos
suprimentos de classe III, V e IX e de manutenção;
- limitada capacidade de transporte de seus trens;
- dificuldade em assegurar o sigilo desejável, em virtude do ruído e
da poeira produzidos por suas viaturas, quando em deslocamentos;
78
- necessidade de transporte rodoviário ou ferroviário para seus
blindados nos deslocamentos administrativos a grandes distâncias;
- mobilidade estratégica limitada, devido ao elevado peso e ao
desgaste nos trens de rolamento de seus blindados;
- em operações, elevada dependência do apoio prestado pela
engenharia, artilharia, logística, aviação do exército e força aérea;
- o material blindado exige manutenção permanente e dispendiosa.
Segundo Brasil (2005, p. 1-2), a companhia de fuzileiros apresenta como
missões básicas:
a) Na ofensiva: cerrar sobre o inimigo, para destruí-lo ou capturá-lo,
utilizando-se, para isto, do fogo, do movimento e do combate
aproximado. Pelo fogo, procura neutralizar o inimigo permitindo o
movimento. Pela combinação do fogo e do movimento, coloca-se
nas melhores condições possíveis em relação às defesas inimigas.
Finalmente, pelo combate aproximado, é concretizado o
cumprimento da missão, lançando-se violentamente sobre o
inimigo, a fim de, pelo assalto, ultimar sua destruição ou capturá-lo.
b) Na defensiva: manter o terreno, impedindo, resistindo ou repelindo
o ataque inimigo, por meio do fogo e do combate aproximado, e
expulsando-o ou destruindo-o pelo contra-ataque.
Cabe destacar que o Manual C7-10 da Companhia de Fuzileiros (BRASIL,
2005) não apresenta as missões da companhia em OAOG e em operações de
pacificação. Dessa forma, cresce de importância o estudo das TTP da Cia Fuz Bld
em OAU no contexto de OAOG visando a futuras atualizações doutrinárias.
2.3.4 O Pelotão de Fuzileiros Blindado
O pelotão de fuzileiros blindado (Pel Fuz Bld) é o elemento básico da Cia Fuz
Bld, constituindo a peça de manobra da SU Fuz Bld, empregado geralmente como
79
um todo. Seu emprego mais comum, entretanto, é como integrante de uma força-
tarefa (FT).
O Pel Fuz Bld é comandado por um 1º ou 2º Tenente, sendo organizado em
cinco grupos: um Grupo de Comando (Gp Cmdo), um Grupo de Apoio (Gp Ap) e três
Grupos de Combate (GC), totalizando 41 militares. O Gp de Cmdo e o Gp de Apoio
ocupam a VBTP do Cmt de Pel. Cada GC possui para si uma VBTP M113-BR,
dotando o Pel um total de quatro VBTP M113-BR (BRASIL, 2001, p.1-3). A
Guarnição das Viaturas é composta pelos Cabo Motorista (Cb Mot) e o Soldado
Atirador da Metralhadora .50 (Sd At Mtr .50).
O Pelotão de Fuzileiro Blindado não tem em sua organização viaturas sobre
rodas, e sim a Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP M113-BR), viatura
sobre lagartas, que tem todo seu compartimento destinado ao transporte do Grupo
de Combate.
O pelotão de apoio é a fração de apoio de fogo da SU. É constituído por um
grupo de comando, por uma seção de morteiros médios (com duas peças) e por
uma seção de canhões sem recuo anticarro (com três peças) (BRASIL, 2001, p.1-7).
Devido ao seu elevado poder de fogo, normalmente em OAU no contexto de
OAOG, não será empregado nesse tipo de operação, mas suas VBTP M113-BR
poderão ser aproveitadas para outras finalidades. Na figura abaixo, é possível
verificar a organização do Pel Fuz Bld.
80
QUADRO 5 - Organização do Pel Fuz Bld Fonte: Brasil (2001, p. 1-5)
2.3.4.1 Motorista da VBTP M113-BR
O motorista da VBTP M113-BR é peça fundamental tanto no Pel Fuz Bld
quanto na Cia Fuz Bld, uma vez que é o militar responsável por guiar a viatura nas
operações. De acordo com a Diretriz de Blindados do CMS (BRASIL, 2016b), o
motorista da VBTP M113-BR é um cabo, sendo requisitos para sua formação: o
curso de formação de cabos (CFC) e a carteira nacional de habilitação (CNH)
categoria B.
81
O Programa-Padrão (PPT 17/1) de treinamento específico do motorista de
viaturas blindadas regula a formação do motorista de VBTP M113-BR e a instrução
destinada à habilitação dos cabos e dos soldados possuidores do CFC para o
desempenho dos cargos específicos de motorista de viaturas blindadas de combate,
transporte, especial e reconhecimento, previstos nos QO das Organizações Militares
Blindadas (BRASIL, 2002a, p.8). Além de guiar a viatura nas operações, o Cabo
Motorista (Cb Mot) auxilia diretamente na manutenção da viatura.
2.3.5 Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais
O CFN possui para diversas missões e para as OAU no contexto de OAOG, o
Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais (BtlBldFuzNav). Para cumprir suas
tarefas, o BtlBldFuzNav é organizado com um Estado-Maior (EM) e quatro
subunidades: a Companhia de Carros de Combate (CiaCC), a Companhia de
Viaturas Blindadas Sobre Lagartas (CiaVtrBldSL), a Companhia de Viaturas
Blindadas sobre Rodas (CiaVtrBldSR) e a Companhia de Comando e Serviços
(CiaCSv).
82
ORGANOGRAMA 3 – Organização do BtlBldFuzNav Fonte: Brasil (2008b, p.2-2)
Comparando o Batalhão de Infantaria Blindado com Batalhão de Blindados
dos Fuzileiros Navais, é possível verificar algumas diferenças, tais como: o BIB
possui apenas viaturas sobre lagartas (VBTP M113-BR), já o BtlBldFuzNav possui,
além da companhia de viaturas blindadas sobre lagartas, viaturas blindadas sobre
rodas e uma companhia de carros de combate, permitindo maior flexibilidade e
poder de combate ao batalhão. Existem, no entanto, quatro BIB no EB, enquanto
que na MB existe apenas um Batalhão Blindado.
2.3.6 A Companhia de Viaturas Blindadas sobre Lagartas
De acordo com Brasil (2008b), a Companhia de Viaturas Blindadas sobre
Lagartas (CiaVtrBldSL) possui:
a) Finalidade
A CiaVtrBldSL tem a finalidade de prover apoio de transporte blindado aos
Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav), cumprindo tarefas de
83
apoio ao combate e apoio de serviços ao combate. Para alcançar esse propósito,
cabe à CiaVtrBldSL as seguintes tarefas:
- ampliar a mobilidade das organizações por tarefas nucleadas por
tropa de infantaria, particularmente aquelas que requeiram
proteção blindada;
- apoiar pelo fogo a tropa de infantaria;
- ampliar a capacidade de comando, controle e comunicações dos
GptOpFuzNav;
- realizar o transporte de material e de pessoal em terra; e
- participar de ações de reconhecimento e segurança e economia
de forças.
b) Organização
A organização da CiaVtrBldSL compreende uma Seção de Comando
(SeçCmdo) com duas Viaturas Blindadas sobre Lagartas Comando (VtrBldSLCmdo),
duas Viaturas Blindadas sobre Lagartas Morteiro e três Pelotões de VtrBldSL, cada
um com duas SeçVtrBldSL a quatro VtrBldSLTP cada.
ORGANOGRAMA 4 - Organização da CiaVtrBldSL Fonte: Brasil (2008b, p.3-4)
84
Dessa forma, é possível verificar que existem diferenças entre o Pel Fuz Bld
do EB, que possui quatro viaturas blindadas, e o PelVtrBldSL da MB, que tem na
sua constituição oito VBTP.
Já a Cia Fuz Bld do Exército Brasileiro possui 18 VBTP M113-BR, enquanto a
Companhia de Viaturas Blindadas sobre Lagartas da Marinha do Brasil é composta
por 28 viaturas blindadas.
2.4 OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS
Antes de explorar o conceito de Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais, é preciso ter o entendimento sobre o amplo espectro dos conflitos.
2.4.1 Amplo espectro dos conflitos
O século XXI tornou-se palco de uma era de conflitos assimétricos e difusos.
Segundo Gray (2006, p. 32), a assimetria deste novo tipo de conflito é descrita da
seguinte forma: os combates podem travar-se contra grupos de inimigos formados e
reconhecíveis que se movimentam entre civis, contra inimigos disfarçados de civis e
– com e sem intenção – contra civis (SMITH, 2005, p. 325). Em conjunto com os
combates em ambiente urbano, podem ocorrer operações de pacificação e OAOG.
As operações desencadeadas na atualidade são caracterizadas pela
interdisciplinaridade (militares, policiais e civis) e pela multidimensionalidade
(abordagem integral das expressões do poder), concentrando diversos atores e
implicando grande esforço interagência. Tal tendência será, por exemplo, como
realidade no escopo das missões estabelecidas pela Organização das Nações
Unidas (ONU) no século XXI. De forma similar, o termo “Full Spectrum Operations”,
cunhado pelos EUA, ou amplo espectro dos conflitos adaptado para a Doutrina
85
Militar Terrestre, remete à condução de operações militares com propósitos
combinados ou simultâneos, em qualquer tipo de cenário e com a presença das
agências civis.
O Espectro dos Conflitos representa uma escala na qual se visualizam os diferentes graus de violência politicamente motivada. Abrange desde a Paz Estável, em um extremo, até a situação de Guerra, no outro. Ao longo desse espectro, a Paz Instável é a situação na qual ocorre violência localizada e limitada, que não comprometa a segurança do Estado como um todo; e a Crise, caracterizada por grave ameaça ao Estado cujo nível de violência não implique no envolvimento de toda a capacidade militar da Nação (contingência limitada) (BRASIL, 2014b, p. 4-1).
No amplo espectro dos conflitos, podem ser conduzidas as quatro operações
básicas: ofensiva, defensiva, de pacificação e de apoio a órgãos governamentais.
É o Conceito Operativo do Exército, que interpreta a atuação dos elementos da F Ter para obter e manter resultados decisivos nas operações, mediante a combinação de Operações Ofensivas, Defensivas, de Pacificação e de Apoio a Órgãos Governamentais, simultânea ou sucessivamente, prevenindo ameaças, gerenciando crises e solucionando conflitos armados, em situações de Guerra e de Não Guerra. Requer que comandantes em todos os níveis possuam alto grau de iniciativa e liderança, potencializando a sinergia das forças sob sua responsabilidade (BRASIL, 2014c, p. 3-6).
Segundo Bassolli (2013, p. 44), o amplo espectro dos conflitos deve ser
entendido como toda a gama de possibilidades de emprego da Força, desde as
ações militares realizadas em situação de paz estável, até o extremo oposto do
espectro: a guerra total entre Estados. Entre os dois extremos, estariam situações de
ajuda humanitária, ações de GLO e atendimento a calamidades; instabilidade
interna; “paz instável”; insurgência; e ações de guerra irregular. A Força deve estar
apta a realizar, portanto, operações clássicas (ofensiva e defensiva), operações de
pacificação e operações em apoio a órgão governamentais.
Assim, o emprego das FA na defesa da nação, segundo a Doutrina Militar de
Defesa (2007b, p. 43), constitui a atividade finalística das instituições militares e visa
primordialmente à garantia: da soberania; da integridade territorial e patrimonial; e da
consecução dos interesses estratégicos nacionais. De forma sintética, o emprego
das FA pode ocorrer nas situações de:
- Guerra: são aquelas que empregam o Poder Militar, explorando a plenitude de suas características de violência (defesa da Pátria).
86
- Não Guerra: são aquelas que, embora empregando o Poder Militar, no âmbito interno e externo, não envolvem o combate propriamente dito, exceto em circunstâncias especiais, onde este poder é usado de forma limitada – garantia dos poderes constitucionais; garantia da lei e da ordem; atribuições subsidiárias; prevenção e combate ao terrorismo; ações sob a égide de organismos internacionais; emprego em apoio à política externa em tempo de paz ou crise (BRASIL, 2007, p. 43, grifo nosso).
Quanto aos princípios e procedimentos empregados pela Força Terrestre nas
OAU no contexto de OAOG se classificam como Operações de Não Guerra
(BRASIL, 2014c, p. 2-8).
Além disso, de acordo com o manual A Força Terrestre Componente nas
Operações (BRASIL, 2014d, p. 2-2), ao atuarem em qualquer parte do espectro, as
forças estarão envolvidas na assistência ou na proteção da população; na proteção
de estruturas críticas; na dissuasão de ameaças; e/ou na destruição de oponentes.
Tais ações podem demandar capacidades que extrapolem as existentes nas forças,
normalmente resolvidas por meio da integração com outros órgãos governamentais.
Assim, além de operações defensivas e ofensivas, serão desenvolvidas, em um
mesmo ambiente operacional, as OAOG.
As Operações no Amplo Espectro têm por característica, portanto, a
combinação (simultânea ou sucessiva) de diferentes atitudes: ofensivas, defensivas,
de pacificação e de apoio a órgãos governamentais, caso necessário, e a máxima
integração entre as forças e com outras agências, tudo isso aplicado em uma escala
variável de violência.
A figura a seguir demonstra as operações no amplo espectro.
87
FIGURA 17 - Combinação de atitudes, característica das Operações no Amplo Espectro Fonte: Brasil (2014c, p. 4-1)
As Forças Armadas Brasileiras são constituídas pela Marinha, pelo Exército e
pela Aeronáutica. São instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, que pauta suas ações no que prescreve o Artigo 142 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. No Art. 142, está prescrito que as Forças
Armadas se destinam à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e à
garantia da lei e da ordem.
Segundo Souza Neto (2015, p. 19), o Ministério da Defesa vem ampliando o
emprego das Forças Armadas nas Operações de Apoio a Órgãos Governamentais,
em particular nas ações voltadas para a garantia da lei e da ordem (GLO) na cidade
do Rio de Janeiro. O incremento dessas ações ocorreu em razão dos compromissos
assumidos pelo Brasil em sediar grandes eventos internacionais, como a Copa do
Mundo de Futebol em 2014, e as Olimpíadas, em 2016.
Sob este enfoque, no escopo das Operações de “Não Guerra” será
encontrada uma categoria de operações que engloba as operações de GLO e as
operações interagências, consolidando um formato próprio da aplicação do Poder
Nacional e envolvendo a participação de diversos atores estatais. São as chamadas
Operações de Apoio a Órgãos Governamentais.
88
As Operações de Apoio a Órgãos Governamentais compreendem o apoio prestado por elementos da F Ter, por meio da interação com outras agências, definido em diploma legal, com a finalidade de conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos e que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, dispersão de recursos e a divergência de soluções. No território nacional, esse apoio é regulado por diretrizes baixadas em ato do Presidente da República. (BRASIL, 2014c, p. 4-21).
Como exemplos atuais desse tipo de operação, ocorreram a Operação
Arcanjo, no Morro do Alemão, e a Operação São Francisco, no Complexo da Maré,
ambas na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Durante Operação São Francisco, a Polícia
Militar do Estado do Rio de Janeiro continuou operando na Maré mas de forma
insuficiente, caracterizando uma operação militar em ambiente urbano no contexto
de OAOG.
Segundo Brasil (2014c, p. 4-21), essas operações de apoio podem ser
efetivadas no país e/ou no exterior e contribuem para a garantia da soberania
nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem – depois de esgotados os
instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio –, salvaguardando os interesses nacionais e cooperando
para o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. A integração interagências é
condição sine qua non nesse tipo de operação e, em algumas ocasiões, são
semelhantes às Operações de Pacificação. Diferem, contudo, por serem
desencadeadas em situações e áreas onde, por destinação legal, os órgãos
governamentais permanecem no seu exercício funcional, mas de forma insuficiente,
ou quando os meios são inexistentes ou indisponíveis ao desempenho regular de
sua missão constitucional. Esse tipo de operações não é exclusividade do EB; outros
exércitos também utilizam operações similares a OAOG.
O Exército dos EUA emprega em sua doutrina as operações ofensivas,
defensivas, operações de apoio civil e de estabilização ou stability operations.
As forças do Exército realizam operações de Estabilização e apoio civil para dissuadir a guerra, resolver conflitos, promover a paz, fortalecer os processos democráticos, manter a influência dos EUA ou acessar o exterior, ajudar as autoridades civis dos EUA e apoiar imperativos morais e legais. As operações de Estabilização promovem e sustentam a estabilidade regional e global. As operações de apoio civil atendem às necessidades urgentes de civis designados dos EUA até que as autoridades civis possam
89
realizar essas tarefas sem assistência militar. Quase todas as operações urbanas envolverão algum tipo ou forma de operação de Estabilização ou operação de apoio civil combinada e sequenciada com operações ofensivas e defensivas (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006a, p. 9-1, tradução nossa).
De acordo com os EUA (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006b, p. 14-1),
vários tipos de operações de estabilidade são conduzidos por muitas razões. As
finalidades das operações de estabilidade são:
- proteger os interesses nacionais;
- promover a paz ou impedir a agressão;
- cumprir as obrigações dos tratados internacionais ou impor acordos
e políticas;
- ajudar países aliados, governos amigáveis e agências;
- incentivar um governo estrangeiro fraco ou vacilante;
- manter ou restaurar a ordem;
- proteger a vida e a propriedade;
- deter ou responder ao terrorismo;
- reduzir a ameaça de armas convencionais e armas de destruição
em massa para a segurança regional; e
- eliminar ou conter subversão, anarquia e insurgência.
Com relação aos tipos de operações de estabilidade segundo a doutrina do
Exército dos EUA, existem os seguintes: operações de paz, defesa interna
estrangeira, apoio às insurgências, apoio às operações contra o tráfico de drogas,
combate ao terrorismo, operações de evacuação de não combatentes, controle e
destruição de armas e demonstração de força.
Cabe destacar que como os EUA possuem forte estrutura de defesa interna,
com a polícia bem equipada e recursos financeiros, essas operações ocorrem
geralmente fora do país. E quanto ao Exército da Espanha, este adota nomenclatura
idêntica à doutrina americana, recebendo a denominação de Estabilización.
De acordo com o Manual PD3-303, do Ejército de Tierra Español, (Espanha,
2010, p. 1-4), operações de estabilização são aquelas que através do uso
equilibrado das capacidades coercivas e construtivas de uma força de ajuda militar
contribuem para estabelecer um ambiente seguro e estável, favorecendo a
90
reconciliação entre adversários locais e regionais. E ainda, apoiam o
estabelecimento e o desenvolvimento das instituições políticas, sociais, legais e
econômicas, facilitando a assunção plena das responsabilidades do governo pela
autoridade legítima da nação anfitriã.
Atividades de estabilização, segundo a doutrina espanhola, são agrupadas
em quatro categorias:
- suporte para a segurança;
- o apoio a reforma do setor de segurança;
- suporte para a restauração inicial de serviços; e
- apoiar as tarefas iniciais do governo.
Já com relação à doutrina Argentina, as questões atinentes à Defesa
Nacional, será necessário levar permanentemente em conta a diferença entre a
Defesa Nacional, voltada para a defesa externa, e a segurança interior ou defesa
interna.
Segundo a Lei de Defesa Nacional Argentina (ARGENTINA, 1988, p. 2), os
membros do Sistema Nacional de Defesa são:
a) o Presidente da Nação;
b) o Conselho de Defesa Nacional;
c) o Congresso Nacional, no exercício dos poderes conferidos pela
Constituição para o tratamento das Comissões de Defesa de ambas
as casas;
d) o Ministro da Defesa;
e) o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas;
f) as Forças do Exército, da Marinha e Aeronáutica da República
Argentina.
Já de acordo com a Lei de Segurança Interior da Argentina (1991, p. 1),
fazem parte do sistema de segurança interna:
a) o Presidente da Nação;
b) os governadores das províncias que aderem a esta lei;
c) o Congresso Nacional;
d) os Ministros do Interior, Defesa e Justiça;
91
e) a Polícia Federal, a Polícia de Segurança Aeroporto e a polícia
província
f) Guarda Nacional e Prefeitura Naval Argentina.
Dessa maneira, as Forças Armadas da Argentina não fazem parte da defesa
interna do país e ainda não executam Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais como o EB, sendo seus militares empregados exclusivamente para
defesa externa. Já as Forças Armadas americanas e espanholas desenvolvem
operações de estabilização que são similares a OAOG. Assim, a Doutrina Militar
Terrestre se encontra alinhada com os Exércitos americano e o espanhol.
2.4.2 Operação São Francisco
A Operação de Apoio a Órgãos Governamentais realizada durante 2014 e
2015, no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro, recebeu a denominação
de Operação São Francisco.
Segundo Pilar, Dória e Pinto Homem (2014, p. 45), em face da atual política
de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, que tem instalado
periodicamente UPP nas comunidades dominadas por APOP, e em decorrência da
solicitação do governador do Estado do Rio de Janeiro, foi autorizado pelo Aviso nº
106 do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, em 31 de
março, o “emprego temporário e episódico de meios das Forças Armadas em ações
na Garantia da Lei e da Ordem (GLO)”, para a preservação da ordem pública e
incolumidade das pessoas e do patrimônio, no Complexo da Maré (Diretriz
Ministerial nº 9/2014). O Governador do Estado do Rio de Janeiro solicitou o
emprego das Forças Armadas naquela unidade federativa, dando continuidade ao
processo de pacificação do estado, em razão da momentânea insuficiência de
recursos da Polícia Militar do Estado. Cabe destacar que as operações de apoio a
órgãos governamentais englobam as ações de GLO.
Os Agentes de Perturbação da Ordem Pública, que estavam presentes no
92
meio da população moradora do Complexo da Maré, são pessoas ou grupos de
pessoas cuja atuação momentaneamente comprometa a preservação da ordem
pública ou ameace a incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Em decorrência, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, o Ministério da
Defesa (MD) e o Ministério da Justiça firmaram acordo segundo o qual as partes se
comprometeram, com base em uma OAU no contexto de OAOG, com ações de
Garantia da Lei e da Ordem, a empregar, no Complexo da Maré, os meios
necessários para a prestação de segurança e serviços em benefício da população.
De acordo com Escoto (2016, p. 4), em abril de 2014, após diversos ataques
a UPP que causaram inúmeras mortes de policiais militares e danos a suas
instalações, material e viaturas, o EB foi empregado na difícil missão de pacificar o
maior complexo de favelas do Rio de Janeiro. Havia várias comunidades e uma
população de cerca de 130.000 habitantes, equivalente a uma cidade brasileira de
médio porte, aterrorizada pela ação violenta de três facções criminosas rivais que
utilizam táticas, técnicas e procedimentos de grupos de violência extremista – o
Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP) e as milícias. Esse foi o
cenário da Operação São Francisco.
Esse evento, associado ao Acordo para o emprego dos militares na Cidade do Rio de Janeiro, assinado pelo Ministro de Estado da Defesa e pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, propiciou o arcabouço legal para, pela primeira vez, ser empregado um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav) da Marinha do Brasil em uma operação conjunta com o Exército Brasileiro sob a égide da Garantia da Lei e da Ordem com amplo espectro de poderes policiais, sendo os principais: o de condução de presos e o de inspeção e revista (PILAR; DÓRIA; PINTO HOMEM, 2014, p. 45).
De acordo com Brasil (2015h, p. 2-4), as operações de pacificação são
desencadeadas no contexto de um “Estado de exceção”, caracterizado por um
período em que parcelas da ordem jurídica – sobretudo aquelas reservadas à
proteção das garantias fundamentais – são suspensas por medidas advindas do
Estado, para o atendimento de necessidades urgentes e específicas. É uma
situação temporária de restrição de direitos e concentração de poderes que, durante
sua vigência, permite presteza no processo decisório e nas medidas essenciais a
serem tomadas em situações emergenciais.
Dessa maneira, e considerando que as ações das Forças Armadas na
93
Operação São Francisco não ocorreram mediante decretação de Estado de exceção
por nenhuma das autoridades competentes. Fica claro que o termo “Operação de
Pacificação” não se encaixa doutrinariamente na questão como uma operação de
pacificação, encaixando-se melhor nesse cenário, uma operação de apoio a órgãos
governamentais.
Desta forma, após receber e analisar a solicitação do governador do Estado
do Rio de Janeiro, a Presidente da República determinou o emprego das Forças
Armadas, segundo o extrato abaixo transcrito, enviado para o Ministro da Defesa:
Incumbiu-me a Excelentíssima Senhora Presidente da República de informar que, atendendo à solicitação contida na Exposição de Motivos nº 00039/GSI de 28 de março de 2014, fundamentada no Art. 142 da Constituição Federal, nos § 1º a § 6º do Art. da Lei Complementar nº 97/1999 e nos Art. 2º a 4º do Decreto nº 3.897/2001, autorizou o emprego das Forças Armadas, nas seguintes condições: a. Missão: A fim de cooperar com o governo do Estado do Rio de Janeiro em seu processo de pacificação, empregar temporariamente, militares das Forças Armadas em garantia da lei e da ordem, em coordenação com os órgãos de segurança pública federais, estaduais e municipais. b. Órgãos envolvidos: Ministério da Defesa, Ministério da Justiça, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e órgãos de segurança pública situados no Estado do Rio de Janeiro e outros que, eventualmente, venham a tomar parte nas atividades. (SOUZA NETO, 2015, p. 19, grifo nosso).
Coube ao Exército Brasileiro assumir o comando das OAU no contexto de
OAOG, em apoio ao Estado do Rio de Janeiro na região delimitada do Complexo da
Maré, dentro de uma área de aproximadamente 10 km², na cidade do Rio de
Janeiro. Para tal, foram empregadas tropas do Exército e da Marinha do Brasil
enquadradas por uma Brigada denominada “Força de Pacificação”, com um efetivo
aproximado de 3.500 militares, por um período inicial de quatro meses.
Segundo Souza Neto (2015, p. 20), a missão da tropa consistia em realizar,
24 horas por dia, todos os dias da semana, o patrulhamento ostensivo a pé e
motorizado nas ruas, becos e vielas da área da Maré e o estabelecimento dos
Postos de Bloqueio e Controle de Vias Urbanas (PBCVU) nos principais acessos de
entrada da comunidade, onde seriam realizadas abordagens de pessoas e revistas
de veículos e motos.
No total da Operação São Francisco, houve seis contingentes, sendo que
cada tropa operou num período aproximado de dois a três meses. O quadro 6
94
apresenta a tropa e o respectivo período na Operação São Francisco.
CONTINGENTE TROPA PERÍODO
I Brigada de Infantaria Paraquedista 04 de abr a 30 maio 14
II 6a Brigada de Infantaria Blindada 30 maio a 06 ago 14
III 4a Brigada de Infantaria Montanha 06 de ago a 15 out 14
IV 11a Brigada de Infantaria Leve 15 out a 15 dez 14
V 14a Brigada de Infantaria Motorizada 15 de dez a 19 fev 15
VI 10a Brigada de Infantaria Motorizada 19 fev 15 a 31 mar 15
QUADRO 6 - Quadro de contingentes empregados na Operação São Francisco Fonte: Souza Neto (2015, p. 21)
Com relação ao emprego da VBTP M113-BR na Operação São Francisco, a
viatura foi empregada a partir da F PAC V, com uma Cia Fuz Bld, em reforço ao
comando da F PAC, devido à necessidade de maior proteção blindada e ação de
choque a tropa que estava operando na Maré.
Pode-se dizer que a ação do Exército Brasileiro trouxe bons resultados.
Conforme a nota de imprensa do Centro de Comunicação Social do Exército
(BRASIL, 2015i), os resultados obtidos durante a operação no Complexo da Maré
foram altamente positivos:
As metas estipuladas para esta Operação foram atingidas pela retomada da área enquadrada e pela perda da liberdade de ação das organizações criminosas. Não há espaço na comunidade que não foi patrulhado, o uso ostensivo de armas diminuiu e o comércio ilegal de entorpecentes teve uma forte redução. Destaca-se o apoio da população, que deixou de ser explorada de forma impune pelo crime e passou a se beneficiar da crescente presença do Estado, sob a forma de melhorias nas áreas sociais.
Desde o início da operação foram realizadas mais de 65.000 ações, 583 prisões, 228 apreensões de menores por cometimento de atos infracionais e 1.234 apreensões de drogas, armas, munições, veículos, motos e materiais diversos. Destaca-se a prisão de integrantes importantes na estrutura do crime organizado, causando desestruturação organizacional nas facções e uma perda significativa nos lucros com o comércio de entorpecentes (BRASIL, 2015i).
95
O organograma abaixo demonstra a complexidade da organização geral da
força de pacificação durante a Operação São Francisco.
ORGANOGRAMA 5 - Organização Geral da F Pac e do GptOpFuzNav-Maré Fonte: Pinto Homem (2015, p. 60).
Como exemplo de efetivo empregado por um contingente durante a Operação
São Francisco, os quadros 6, 7, 8 e 9 apresentam dados da Força de Pacificação IV.
FRAÇÃO OFICIAIS PRAÇAS Total
Cmdo F Pac 32 56 88
2º BIL 29 467 496
5º BIL 32 478 510
28º BIL 35 453 488
Esqd C Mec 5 130 135
QUADRO 7 - Efetivo orgânico (F Pac da 11ª Bda Inf Lev e Elm CMSE) (Continua)
96
Dst Log 13 102 115
Pel Eng 2 46 48
Dst Ap 8 164 172
Total 156 1.896 2.052
QUADRO 7 - Efetivo orgânico (F Pac da 11ª Bda Inf Lev e Elm CMSE) (Conclusão) Fonte: Brasil (2015c)
FRAÇÃO OFICIAIS PRAÇAS Total
DOFEsp 6 19 25
DOAI 1 1 2
GE 2 6 8
CIE 3 0 3
Assessoria Jurídica 5 2 7
Total 20 28 45
EFETIVO TOTAL DO EXÉRCITO
TOTAL EB 173 1.924 2.097
QUADRO 8 - Efetivo de Elementos de Outras OM que não pertenciam à 11ª Bda Inf Leve Fonte: Brasil (2015c)
FRAÇÃO OFICIAIS PRAÇAS Total
Gpt Op FN 32 560 592
Cia MARÉ PMERJ
4 192 196
TOTAL DE TROPA EMPREGADA
TROPA 2.692
QUADRO 9 - Efetivo total empregado pela F Pac IV Fonte: Brasil (2015c)
Em virtude de alguns incidentes com militares feridos e um militar morto
durante a F Pac IV, e devido ao poder de combate das facções criminosas, uma
companhia de fuzileiro blindada foi passada em reforço a comando da Brigada
responsável pelo contingente que estava operando na Maré. O quadro 10 exibe o
efetivo da Cia Fuz Bld durante a F Pac V.
97
FRAÇÃO Seção de Cmdo Pel Fuz Bld Total
Cia Fuz Bld 32 37 x 4 180
QUADRO 10 - Efetivo total empregado pela Cia Fuz Bld durante a F Pac V Fonte: Brasil (2015c)
Para a Operação São Francisco, a Cia Fuz Bld sofreu algumas modificações
no seu quadro organizacional (QO). Os Pel Fuz Bld perderam seu grupo de apoio e
o pelotão contou com o efetivo de 37 militares. Já o pelotão de apoio transformou-se
em um Pel Fuz Bld, assim a companhia possuía quatro pelotões de fuzileiros dando
maior flexibilidade ao Cmt Cia.
De acordo com Pinto Homem (2015, p. 57), no nível operacional, na
Operação São Francisco a Força se viu diante de um desafio similar ao dos Conflitos
de Quarta Geração. Considerando as características peculiares a tais conflitos,
muitos aspectos coincidiram com aquela versão da guerra dos quais,
fundamentalmente, destacam-se: a presença ativa de opositores não estatais
(representados pelos APOP) em um ambiente incerto e difuso; questões de
segurança alinhando-se às de defesa, formando um campo político mais amplo,
complexo e de caráter permanente (Segurança e Defesa do Estado), que
transcende a esfera militar, torna interdependentes todos os campos do Poder
Nacional e faz interagir diversas agências públicas (Polícia, Defesa Civil,
Inteligência, dentre outras); a influência de organizações não governamentais
(ONGs), movimentos sociais, instituições filantrópicas e grupos sociais diversos; a
impossibilidade de controle sobre os meios de comunicação de massa e o acesso
irrestrito à informação digital, limitando a capacidade estatal de moldar a opinião
pública; a indefinição geográfica da linha de contato (ausência de linearidade no
campo de batalha); a extrema assimetria entre as Forças Armadas e seus
oponentes; e a simultaneidade de ações de naturezas distintas em um espaço de
manobra fisicamente limitado: ofensiva, defensiva, pacificação e OAOG (Operações
em Amplo Espectro).
98
2.5 EMPREGO DE BLINDADOS EM AMBIENTE URBANO
As operações em ambiente urbano têm diversas características específicas
que fazem deste um dos ambientes operacionais mais difíceis de combater. O
manual americano FM 3-06.11 (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2006b, p. 1-2)
descreve algumas características do combate em área urbana:
a) constantes mudanças das situações táticas e logísticas,
influenciadas pelos fatores da decisão;
b) as unidades que lutam em áreas urbanas tornam-se
frequentemente isoladas ou sentem-se como isoladas;
c) as OAU requerem o planejamento centralizado e a execução
descentralizada – consequentemente, as comunicações verticais e
horizontais são de difícil estabelecimento e manutenção;
d) presença de população civil (não combatentes);
e) alto consumo de munição;
f) grande número de vítimas (ricochetes, quebra de vidro, queda de
alturas e outros);
g) espaço limitado de manobra, sendo que os veículos blindados,
como a VBTP M113-BR, têm dificuldade de operar nestas áreas;
h) terreno tridimensional onde as forças amigas e inimigas conduzirão
operações em superfície, acima da superfície, ou abaixo da
superfície da área urbana;
i) ocorrência de danos colaterais de grande vulto, principalmente nos
conflitos de grande intensidade;
j) grande importância da inteligência humana;
k) necessidade do emprego de caçadores; e
l) necessidade de isolamento de pontos críticos.
Os blindados serão amplamente empregados nas OAU, no contexto de
OAOG, devido ao seu poder dissuasório e à proteção blindada que conferem à
tropa. Assim, são necessárias Técnicas, Táticas e Procedimentos para o emprego
eficiente das viaturas blindadas.
99
Dentro desse contexto, um termo que vem sendo empregado recentemente é
o de “táticas, técnicas e procedimentos” (TTP), assim definido segundo o Glossário
das Forças Armadas (BRASIL, 2015a, p. 267-226):
- tática: arte de dispor, movimentar e empregar as forças militares
em presença do inimigo ou durante o combate. Cuida do
emprego imediato do poder para alcançar os objetivos fixados
pela estratégia, compreendendo o emprego de forças, incluindo
seu armamento e técnicas específicas.
- procedimento: forma específica de executar uma atividade.
- técnica: conjunto de métodos e processos de uma arte ou
profissão.
Com relação ao emprego de blindados em OAU, de acordo com Brasil
(2010a, p. 6-8), os meios blindados devem ser empregados principalmente como:
(1) elementos de demonstração de força na ação de dissuasão;
(2) plataformas para difusão de informações à população na campanha
psicológica;
(3) estabelecimento de postos de bloqueio e controle de vias urbanas
(PBCVU), check point e static point; e
(4) proteção blindada nas ações de investimento.
Na figura a seguir, é possível verificar a VBTP M113-BR sendo empregada
para difundir informações para a população do Complexo da Maré.
100
FIGURA 18 – VBTP sendo empregada como plataforma para difusão de informações à população. Fonte: Brasil (2015c).
Atualmente, a proteção da tropa assume papel fundamental, uma vez que os
APOP, como na Operação São Francisco, possuem diversos tipos de armamentos.
Como reflexos da importância da dimensão humana, torna-se necessário adotar
soluções que priorizem a redução do custo em vidas humanas, a proteção do
homem e a preservação do bem-estar físico e mental – como, por exemplo,
equipamentos de proteção individual, “plataformas blindadas” e sistemas de
proteção ativa e passiva (BRASIL, 2014b, p. 7-2).
A proteção blindada é essencial em praticamente todas as ações em
ambiente urbano. Há um caso histórico do Exército da Espanha, na Missão das
Nações Unidas no Congo, no qual a proteção blindada, além de salvar os militares
evitou danos colaterais na população civil e conquistou o apoio da população.
Em 21 de agosto de 2006, durante a missão da União Europeia de apoio à MONUC, no Congo, militares do Exército Espanhol tiveram que acudir com veículos blindados ao resgate um grupo de embaixadores e funcionários da ONU que estavam no residência do candidato Jean-Pierre Bemba, devido aos conflitos armados ao redor de entre várias facções. Durante o resgate, os soldados foram atacados pela multidão, recebendo impactos de fuzil em alguns blindados, BMR-600. Em vez de responder ao fogo, o que provavelmente teria causado vítimas inocentes e um aumento nos
101
confrontos os militares abstiveram-se de usar suas armas, mantendo uma atitude firme e calma por causa de um perfeito cumprimento da sua missão e conseguiram controlar os agressores, adotando medidas de proteção e intimidatórias (apontando armas e usando a plataforma blindada para se desengajar, etc.). Graças a esta capacidade de proteção das tropas espanholas, os diplomatas foram capazes de deixar a residência de Bemba sem ferimentos, e melhoraram de forma mensurável relações com a população civil, que viu como a atuação dos soldados espanhóis justificada presença da União Européia para evitar uma possível escalada de combates naquele país. Este desempenho foi qualificado pelo Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas, pelo comandante da força, pelo ministro de relações Exteriores e pelo chefe do Estado-Maior do Congo, como vital para o acontecimento do segundo turno das eleições naquele país (ESPANHA, 2010, p. 4-4, tradução nossa).
O caso acima atesta a importância da proteção blindada em OAU, que além
de proteger a tropa, a pode persuadir os oponentes, evitando o aumento da
escalada de confrontos.
Não se pode deixar de considerar que as características dos meios blindados
impõem um efeito psicológico extremamente favorável a quem os emprega,
sobretudo em função da sua ação de choque. Essa situação cria uma condição
dissuasória determinante para o sucesso em operações em ambiente urbano,
permitindo inclusive um desengajamento mais fácil de tropas à pé que estejam face
a tropas com armamento automático, como o exemplo do caso histórico citado.
Outra forma de empregar a VBTP M113-BR no Complexo da Maré se deu
através do estabelecimento de check point nas ruas suspeitas de crime organizado.
Na figura 19, é possível observar o emprego da VBTP M113-BR no estabelecimento
de um check point.
102
FIGURA19 – VBTP M113-BR sendo empregada durante a Op São Francisco em um check point Fonte: Brasil (2015c)
Além disso, de acordo com o Manual de Blindados dos Fuzileiros Navais
(BRASIL, 2008b, p. 6-13), no interior do ambiente urbano, os blindados também são
extremamente úteis na tarefa de desobstrução de ruas e avenidas por meio da
adaptação de lâminas e do uso de correntes nas viaturas blindadas de transporte de
pessoal. O poder de choque do blindado é grande valia nas áreas de favelas, uma
vez que os APOP constroem obstáculos para dificultar a passagem das tropas e da
polícia.
Podem-se utilizar os blindados para transporte alternativo de pessoal,
material, água, munição, etc. As viaturas blindadas também são utilizadas para
demonstração de força, principalmente em conflitos de baixa intensidade como
operações de apoio a órgãos governamentais, distúrbios civis, operações de polícia
e pontos de controle.
Além do emprego de blindados pelo Exército e pela Marinha, a Infantaria da
Aeronáutica tem um estudo para o emprego de blindados em ambiente urbano no
contexto de OAOG. Nessa situação, segundo Silva (2010, p. 52), o emprego de
blindados em tais operações apresenta um poder dissuasório elevado, uma vez que
os veículos intimidam os elementos adversos, à mercê do seu tamanho, velocidade,
blindagem e capacidade de lançamento de agentes não letais.
Com relação ainda ao emprego de blindados pela Aeronáutica, os mesmos
poderão ser utilizados para a autodefesa de superfície de bases aéreas e outras
103
instalações e meios de interesse da Força Aérea, a fim de contrapor-se a um grande
espectro de forças inimigas.
Em tal cenário, a utilização de uma viatura blindada como a VBTP M113-BR
garantiria à tropa de infantaria da Aeronáutica segurança em suas operações
defensivas e ofensivas, meios de mobilidade e proteção balística capazes de
assegurar a execução das ações de reação, retardamento e contra-ataque. Isso
permitiria o engajamento, neutralização ou destruição da força inimiga antes que os
recursos da Força Aérea a serem defendidos fossem danificados ou destruídos por
ataques de infiltração à distância (morteiros, foguetes, etc.) ou assaltos de infantaria.
Além disso, proporcionaria o lançamento rápido de postos de vigilância avançados,
negando, assim, ao inimigo, a utilização de acidentes capitais do terreno para fogo e
observação sobre as instalações aeronáuticas. A perda de uma aeronave em termos
materiais e financeiro é enorme para a Aeronáutica, assim o uso de uma plataforma
blindada como a VBTP M113-BR pode aumentar a proteção das bases aéreas.
Outra utilização da VBTP M113-BR eficaz é o emprego do blindado pelo
Destacamento de Operações de Apoio à Informação na disseminação de
mensagens por alto-falantes (AF) e por panfletos. Durante a Operação São
Francisco, a viatura leve AF (sem blindagem) teve que ser substituída por uma
VBTP M113-BR porque estava sendo alvo frequente de disparos das facções
(ESCOTO, 2016, p.11). A figura 26 apresenta uma VBTP M113-BR sendo
empregada como viatura alto-falante.
FIGURA 20 – VBTP M113- BR sendo empregada na disseminação de mensagens por alto-falantes Fonte: Brasil (2015c)
104
Além disso, de acordo com Mesquita (2009, p. 4), a utilização da ação de
choque nas ações de investimento é confirmada pelos principais exércitos do
mundo, como foi o exemplo do norte-americano que empregou uma brigada
blindada na conquista de Bagdá, em 2003, em detrimento do emprego de forças
leves. Estas últimas, embora extremamente aptas ao combate casa a casa, não
possuem poder de fogo suficiente para garantir a ação de choque necessária à
decisão do combate no menor tempo possível. Além disso, a pouca ou nenhuma
proteção blindada as tornam vulneráveis a pequenas resistências.
Durante a Operação São Francisco, a VBTP M113-BR foi empregada em
operações de investimento com finalidade de demonstração de força e realizar o
cerco em áreas suspeitas de crime organizado. As figuras abaixo demonstram a
tropa utilizando a proteção blindada em uma ação de investimento durante a
Operação São Francisco.
FIGURA 21 – Operação de Cerco realizada na Operação São Francisco. Fonte: Brasil (2015c)
105
FIGURA 22 – VBTP M113- BR sendo empregada em uma ação de investimento Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Além disso, em OAU no contexto de OAOG, as tropas devem estar aptas a
combater. De acordo com o Manual EB60-ME- 12.401 (BRASIL, 2016d, p. 2-8) as
ações táticas nas Operações de Apoio a Órgãos Governamentais são apresentadas
no quadro 11.
Proteger Apoiar Preservar
Restaurar Garantir Combater
QUADRO 11 – Ações Táticas nas Operações de Apoio a Órgãos Governamentais Fonte: Brasil (2016d, p. 2-8).
Analisando o quadro acima, dada a presença da ação tática “combater”, é de
grande valia o emprego de blindados em OAU no contexto de OAOG, em particular
a VBTP M113-BR, que aumentará a ação de choque e a proteção blindada contra os
APOP, uma vez que além das ações de proteger e apoiar a população, restaurar,
106
garantir e preservar as leis e a ordem, haverá confrontos até que esses objetivos
sejam alcançados.
Com relação ao emprego da VBTP M113 em OAU, pode-se destacar algumas
operações marcantes. Segundo Calixto (2015, p. 39) o Exército Brasileiro empregou
essa plataforma blindada em 2007, durante o 7º contingente brasileiro da
MINUSTAH, a fim de pacificar a área ao redor da chamada “Casa Azul”, em Port Au
Prince, no Haiti, com VBTP M-113 cedidas pelo Exército jordaniano. Essa operação
foi denominada Operação Jauru Sudamericano e foi considerada como uma das
maiores OAU realizadas no Haiti naquela década. A operação foi desencadeada
quando se decidiu neutralizar a ação de APOP naquela região, pois o oponente
contava com armamento e tinha considerável organização. Graças à concentração
de meios e à proteção blindada, foi realizada uma operação com enorme
complexidade e que resultou num grande sucesso.
Outra OAU no contexto de OAOG em que a VBTP 113 foi empregada foi a
Operação Arcanjo, na Vila Cruzeiro e no Morro do Alemão, em 25 de novembro de
2010. Em resposta à solicitação enviada pelo governador do Estado do Rio de
Janeiro, o Presidente da República determinou que as Forças Armadas fossem
empregadas para garantir a ordem pública na capital daquele estado.
Segundo Carvalho (2013, p. 48) após a autorização presidencial, a Secretaria
de Segurança Pública estadual passou a coordenar o emprego da Polícia Militar, em
particular do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), da Polícia Civil, de membros
da Polícia Federal (PF) e dos recursos logísticos do Ministério da Defesa solicitados
ao Governo Federal. Foram empregados inicialmente veículos da Marinha do Brasil
(blindados sobre lagartas e sobre rodas, além de blindados anfíbios e alguns
caminhões e veículos leves) e 127 fuzileiros navais na operação. Durante a
operação utilizaram-se blindados, em particular a VBTP M113 da MB, em
patrulhamentos, estabelecimento de pontos de controle e defesa de pontos
estratégicos.
De acordo com Bastos (2015, p. 109), a Operação Arcanjo mostrou que
qualquer operação policial daquela envergadura necessita de meios blindados de
transporte de pessoal que possa dar a mobilidade necessária, a proteção e a pronta
107
resposta que os obsoletos “caveirões” não conseguem, devido, principalmente, a
sua falta de mobilidade e capacidade de pronta resposta.
Os “caveirões” empregados pelo BOPE são improvisos que, num primeiro
momento, acreditava-se, poderiam ser instrumento que garantiria o transporte de
tropas até os locais nos quais seria necessária pronta resposta. No entanto, devido a
seu peso excessivo e suas limitações mecânicas, e por se tratar de veículos
originalmente criados como transportes de valores, em alguns casos construídos
sobre chassi de ônibus urbano, não conseguem atingir seus objetivos.
A partir de 2011, os blindados da MB voltaram a ser empregados em
operações na Rocinha, Maré, Morro do Alemão, Vila Cruzeiro e outras favelas do
Rio de Janeiro, em diversas OAU no contexto de OAOG. Dentre os diversos
blindados que tomaram parte nessas operações, o de maior quantidade e que se
tornou o mais popular foram as VBTP M113 da Marinha do Brasil.
Segundo Bastos (2015, p. 111), no ano de 2010, durante a Operação Arcanjo
no Morro do Alemão, diversas VBTP M113 do CFN foram atingidas por tiros de
7,62mm, embora nenhum tenha perfurado o veículo. Dessa forma, a proteção
blindada é destacada, uma vez que nas favelas do Rio de Janeiro as facções
criminosas possuem fuzis e outros armamentos, como granadas.
Após essas operações, as forças policiais não só do Rio de Janeiro, mas
também de outros estados da Federação, passaram a se preocupar em se equipar
com blindados modernos e desenvolvidos para OAU, adquirindo-os de países como
África do Sul, Estados Unidos e Israel.
Em abril de 2014, foi assinado o contrato entre a Polícia Militar do Estado de
São Paulo (PMESP) e as empresas israelenses Plasan Security Solutions e Hatehof
Armored Veichles Ltd., para aquisição de 14 novos blindados antidistúrbios que irão
substituir os veículos em uso e dar nova dimensão e proteção às forças policias em
operações antidistúrbio em OAU, tão frequentes nas grandes cidades brasileiras.
Ainda segundo Bastos (2015), o modelo adquirido da empresa Plasan, num
total de seis unidades, é usado para controle de distúrbios civis de alta capacidade.
Pode transportar até 24 soldados totalmente equipados, mais dois tripulantes. Sua
proteção balística no compartimento da guarnição, motor e vidros obedece a norma
NIJ Padrão 0.108,01, nível 04, sendo a blindagem nível NIJ IV+; no piso, possui
108
proteção antiminas, além de proteção contra explosivo improvisado (IEDs)
detonados sobre o veículo.
Já os modelos adquiridos da Hatehof, num total de oito (sendo quatro de cada
tipo) são: Riot Control Vehicles, equipados com um canhão de água como
capacidade de 2.500 litros. Possuem leve proteção blindada, são 4x4 e sua
tripulação é de três homens. O outro modelo é o WOLF, amplamente utilizado pelas
forças de defesa de Israel e outras forças militares e policiais em diversos países,
em missões como: transporte de pessoal, patrulhamento na fronteira, garantia da lei
e da ordem, intervenção rápida, manutenção da paz, evacuação médica, dentre
outros. É um blindado multiuso 4x4, pode transportar até nove soldados e o acesso
ao seu interior se dá através de cinco portas amplas que facilitam o embarque e o
desembargue da tropa; possui pneus run flat, motor diesel V-8, 325 HP.
A aquisição de tais veículos pelas forças policiais brasileiras demonstra a
importância atual da proteção blindada em OAU.
2.5.1 Principais blindados empregados em OAU por outros exércitos
A seguir, serão apresentados os blindados empregados em OAU pelos
Exércitos dos EUA, da Espanha e da Argentina.
2.5.1.1 Stryker do Exército dos EUA
De forma similar ao Exército Brasileiro, as brigadas blindadas, GU pesadas, o
Exército americano possui as Heavy Brigade Combat Team (HBCT), que têm como
missão cerrar sobre o inimigo para destruí-lo ou capturá-lo através do fogo e
movimento. Repelem os ataques de seus oponentes por meio de contra-ataques,
109
poder de fogo e combate aproximado, sendo suas características principais ação de
choque e grande poder de fogo.
De acordo com Souza Junior (2010, p. 96), os norte-americanos organizam
suas unidades blindadas de forma semelhante à dos Regimentos de Cavalaria
Blindados brasileiros, isto é, com subunidades de carros de combate e de fuzileiros
blindados, chamando-as de Batalhões de Armas Combinadas (CAB). É normal a
formação de forças-tarefas (FT) nível SU para o cumprimento das diversas missões.
A HBCT é composta por dois CAB, uma unidade de cavalaria – recon
squadron esquadrão de reconhecimento), com missões de reconhecimento, um
grupo de artilharia 155 mm autopropulsado (field artilery battalion), um batalhão
logístico, uma companhia de comunicações e uma companhia de inteligência.
Ressalta-se que cada CAB possui uma companhia de engenharia blindada e
também uma companhia de apoio avançado, sob controle operacional, que fornece
suprimento, realiza reparos, manutenções e a recuperação de veículos.
Com relação ao emprego de blindados em OAU, o Stryker é a viatura
americana mais empregada nesse cenário atualmente. Segundo Ribeiro (2013, p. 9)
o Stryker é um veículo blindado de oito rodas derivado do veículo canadense LAV III
e produzido pela General Dynamics Land Systems para o Exército dos Estados
Unidos. Um dos principais objetivos delineados como parte do plano de
transformação do exército norte-americano foi a capacidade de desdobrar uma
brigada em qualquer lugar do mundo dentro de 96 horas, uma divisão em 120 horas
e cinco divisões dentro de 30 dias. Assim, requisitos de mobilidade operacional
ditaram que o veículo deveria ser transportável por aeronaves C-130.
De acordo com o manual americano FM 3-21.31, (2003, p. 1-1) a missão da
Brigada da Stryker do Exército dos Estados Unidos é desdobrar-se globalmente, em
todo tipo de ambiente operacional, em particular nas operações em ambiente
urbano. Seu deslocamento deve ser realizado de forma rápida, por ar, em condições
de conduzir operações de forma independente ou integrando uma força de escalão
superior. A Bda Stryker deve realizar o primeiro combate e apoiar o desdobramento
das demais brigadas que chegam ao teatro de operações (TO).
Com a exceção de algumas variantes especializadas, o armamento básico do
Stryker é uma estação de armas remotamente controlada, Protector M151, equipada
110
com uma metralhadora M2 de calibre .50 ou com uma metralhadora M240 de
7,62mm; ou ainda, um lançador de granadas automático Mk-19. Em agosto de 2005,
Kongsberg firmou um contrato para fornecer uma câmera de imagem térmica não
refrigerada, TIM1500, para a estação de armas.
O Stryker pode alterar a pressão em todos os oito pneus para atender às
condições do terreno: estrada, campo, lama, areia ou neve. O sistema avisa ao
motorista quando a viatura ultrapassa a velocidade recomendada para aquela
situação de pressão dos pneus. Então, automaticamente, infla os pneus para o
próximo ajuste de pressão mais elevada. O sistema também pode avisar o motorista
de um pneu furado, embora o Stryker seja equipado com pneus run flat, que
permitem que o veículo se mova vários quilômetros antes de o pneu se deteriorar
completamente.
O Stryker possui proteção contra fogos de armamento leve e estilhaços de
artilharia. A principal função da viatura Stryker é transportar os fuzileiros o mais à
frente possível, onde desembarcarão e conduzirão o combate a pé. Seu armamento
destina-se à proteção aproximada dos fuzileiros desembarcados.
FIGURA 23 - Viatura blindada Stryker Fonte: (STRYKER..., [s.d.])
111
De acordo com Ribeiro (2013, p. 9), outras características dessa viatura são:
- fabricante: General Dynamics Land Systems;
- efetivo: 2 (guarnição) + 9 militares;
- peso: 16,47 t;
- capacidade de carga: 3,2t;
- velocidade máxima: 100 km/h;
- autonomia: 530 km;
- motor: Caterpillar 3126 diesel
- potência: 350hp; e
- armamento: metralhadora 12.7mm
2.5.1.2 BMR 600 do Exército da Espanha
Segundo Ribeiro (2013, p. 2), o Exército espanhol adota em sua formação
básica, no nível brigada e inferiores, a composição mista de meios blindados (lagarta
e roda), o que facilita o adestramento e a integração da tropa. Desta forma, busca
adequar-se às demandas que surgirão no combate moderno, podendo responder de
maneira mais rápida e oferecer flexibilidade ao planejamento.
O protótipo do BMR600 (blindado médio sobre rodas) foi construído em 1975.
Foi aprovado para prestar serviço ao Exército Espanhol e sua produção teve início
em 1979. Mais de 1.500 veículos de transporte de pessoal BMR600 foram
construídos para o Exército Espanhol e exportados para Egito, México, Marrocos,
Peru e Arábia Saudita.
O BMR600 é um veículo 6x6 sobre rodas e possui como armamento uma
metralhadora 12.7mm. Sua blindagem de alumínio oferece proteção contra armas
pequenas de pequeno calibre e estilhaços de artilharia. O BMR600 tem uma
tripulação de dois homens e pode levar 11 militares. As tropas entram e saem do
veículo através das portas traseiras ou escotilhas na parte superior. O BMR600 é
alimentado pelo motor Pegaso 9157/8 diesel, desenvolvendo 310 HP. A viatura está
112
equipada com suspensão hidropneumática com distância ao solo ajustável. O
BMR600 é uma viatura de transporte de pessoal totalmente anfíbio, sendo
impulsionado na água por dois waterjets.
O emprego do BMR 600 tem sido fundamental para o desempenho das forças
espanholas em operações de estabilização internacionais na antiga Iugoslávia, no
Afeganistão, Iraque e Líbano. Em virtude do aumento de poder de combate dos
oponentes, as viaturas estão sendo equipadas com blindagem passiva adicional e
com ar condicionado, devido ao calor excessivo da área de operações em que são
utilizadas.
De acordo com site oficial do Exército de Terra da Espanha (2017), outras
características dessa viatura são:
- fabricação: Santa Bárbara (Espanha)
- efetivo: 2 (guarnição) + 9 militares;
- peso: 15,4t;
- altura: 2 m;
- comprimento: 6,15 m;
- velocidade máxima: 96 km/h;
- largura: 2,5 m
- autonomia: 800 km.
FIGURA 24 - Viatura blindada BMR 600 do Exército da Espanha. Fonte: (BMR-600…, [s.d.])
113
2.5.1.3 VCTP-TAM do Exército da Argentina
O Exército da Argentina possui duas brigadas blindadas, a “I” e a “II”. O
Regimento de Infantaria Mecanizado (RI Mec) é a principal tropa de infantaria da
brigada blindada argentina, estando organizado em três companhias de fuzileiros
mecanizada e uma companhia de comando e apoio.
Segundo o manual a Companhia de Infantaria Mecanizada ROP 01-08 (2003,
p. 11), a SU é composta por três pelotões de fuzileiros e seção de comando. As
principais viaturas blindadas dessa companhia são:
- Tanque Médio Argentino (TAM) – na versão veículo de combate de
transporte de tropa (VCTP);
- VBTP M113 – viatura de transporte de pessoal.
Com relação ao emprego de blindados em OAU, de acordo com manual, o
Regimento de Infantaria Mecanizado ROP 01-02 (2004, p. 271) faz algumas
considerações com relação ao emprego de blindados em OAU:
Junto com as áreas arborizadas, as OAU serão um dos ambientes de
combate mais restritivos, do ponto de vista tático, para o desenvolvimento da
manobra com blindados.
As características essenciais em ambiente urbano, em relação ao emprego de
blindados para a doutrina argentina são:
a) canalização absoluta na manobra dos blindados e canalização
relativa do progresso da infantaria a pé;
b) redução da observação e dos campos de tiros pela presença de
edifícios;
c) facilidade do ocultamento de armas anticarros para emboscar os
blindados;
d) facilidade de construção de todos os tipos de obstáculos contra as
viaturas blindadas;
e) lenta progressão das operações;
f) isolamento lateral que dificulta a condução dos elementos e produz
perturbações nas comunicações de rádio;
114
g) alto risco de incêndio.
Segundo o referido manual, em virtude das características do ambiente
operacional, o RI Mec deve evitar sempre que possível o combate em ambiente
urbano. Entretanto, quando apresentar necessidade de operar em cidades, o RI Mec
possui uma aptidão considerável para o combate em cidades pequenas, mas
encontrará dificuldade em cidades com certo grau de urbanização e terá de ser
reforçado com infantaria motorizada nas grandes localidades.
A VBTP M113 do Exército Argentino é similar a nossa VBTP M113-B. Assim,
será abordada neste tópico apenas a VCTP-TAM, que pode ser também empregada
em OAU.
O TAM é o veículo blindado padrão do Exército Argentino, desenvolvido a
partir do modelo alemão Rheinstahl Marder, por uma equipe de engenheiros
argentinos e alemães. Seu desenvolvimento começou em 1974 e resultou na
construção de três protótipos, sendo que a produção seriada se deu a partir de 1979
pela Tanque Argentino Médio Sociedade de Estado (TAMSE), fundada pelo governo
argentino com o propósito de produzir esse modelo. Dificuldades econômicas
interromperam a produção em 1986, com 256 entregues. Foi retomada em 1994,
com um total de 657 veículos de todos os modelos, sendo 376 TAM (carro de
combate) e 216 VCTP-TAM.
FIGURA 25 - VCTP- TAM Fonte: (BLINDADO VCTP..., 2012)
115
Segundo o site oficial do Exército Argentino (2017), a VCTP-TAM possui as
seguintes características:
- motor: MTU MB833, V6 diesel;
- potência: 720 HP;
- permite a ultrapassagem de vaus até 2 m;
- possui sistema de visão noturna;
- guarnição: 2 (guarnição +10 militares);
- altura: 2,67 m;
- comprimento: 6,90 m;
- largura: 3,29 m
- peso: 28,2t;
- velocidade máxima: 75 Km /h;
- armamento – possui 01 (um) canhão automático 20 mm Rh 202 e
02 (duas) metralhadoras MAG 7,62 mm;
- capacidade de operar em todas as regiões do país, montanha até
4.500 metros acima do nível do mar, floresta tropical, deserto da
Patagônia e planícies desertas.
Finalizando este tópico, o quadro 12 faz uma comparação entre as dimensões
e o peso das viaturas blindadas dos Exércitos brasileiro (VBTP M113-BR),
americano, espanhol e argentino empregadas em OAU.
VIATURAS/
CARACTERÍSTICAS
VBTP M113-BR STRYKER BMR 600 VCTP-TAM
COMPRIMENTO 4,85 m 6,95 m 6,15 m 6,90 m
LARGURA 2,69 m 2,72 m 2,50 m 3,29 m
ALTURA 2,56 m 2,64 m 2,00 m 2,67 m
PESO 10 t 16,47 t 15,4 t 28,2 t
QUADRO 12 – Características das viaturas empregadas pelos Exércitos brasileiro, americano, espanhol e argentino em OAU Fonte: o autor
116
Observando-se o quadro acima, verifica-se que a VBTP M113-BR possui
medidas similares às das viaturas dos exércitos estudados, mas com relação ao
peso é bem mais leve. Cabe destacar que em um ambiente de área favelizada,
como o Complexo da Maré, viaturas muito pesadas poderão causar grandes danos
colaterais, causando transtorno para os habitantes locais e perdendo assim o apoio
da população.
117
3 METODOLOGIA
Esta seção tem por finalidade apresentar detalhadamente o caminho que se
pretende percorrer para solucionar o problema levantado, especificando os
procedimentos necessários para atingir os objetivos da pesquisa, além da coleta e
análise das informações de interesse.
Foram contemplados não só a fase de exploração de campo, mas também a
escolha do espaço e do grupo de pesquisa, o estabelecimento dos critérios de
amostragem, a construção de estratégias para entrada em campo, assim como a
definição de instrumentos e procedimentos para análise dos dados. Desta forma,
para um melhor encadeamento de ideias, esta seção foi dividida nos seguintes
tópicos: objeto formal de estudo, amostra e delineamento de pesquisa.
3.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO
O estudo pretende verificar em que medida as possibilidades e limitações da
VBTP M113-BR influenciam na adoção de TTP de uma Cia Fuz Bld em OAU no
contexto de OAOG, a fim de aumentar a operacionalidade da Cia Fuz Bld, e como
esse novo processo poderá contribuir para um melhor adestramento da tropa
blindada em futuras OAU. O contexto estudado será “OAOG” – no caso, a Operação
São Francisco, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2015. O
espaço a ser considerado na presente pesquisa se limitará ao emprego dessa
viatura em “ambiente de urbano”.
As peculiaridades das OAU no contexto de OAOG e a demanda pelo
emprego da tropa blindada levarão em consideração as características do combate
moderno, utilizando, para tal, casos recentes da história do emprego de viaturas
blindadas em OAU. O estudo está limitado ao consentimento voluntário de
118
participação por parte dos militares selecionados na amostra, bem como através de
seus conhecimentos e experiências profissionais.
A revisão de literatura tem apontado, até então, para o aumento da ocorrência
de operações em ambiente urbano, particularmente as OAOG, utilizando, por via
terrestre, meios blindados do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil. Com base
na revisão, o estudo será dedicado a avaliar um dos meios empregados pelas tropas
– a VBTP M113-BR. Nas condições supracitadas, esse veículo é utilizado para
proteção blindada e transporte da tropa e diversas outras finalidades. Assim,
pretende-se analisar de que maneira as possibilidades e limitações do emprego da
VBTP M113-BR irão influenciar na adoção de TTP de uma Cia Fuz Bld.
Em um primeiro momento, a partir do estudo da Operação São Francisco no
Complexo da Maré, considerando as particularidades do ambiente urbano, procurou-
se focalizar os aspectos doutrinários de emprego dos meios blindados, os
ensinamentos colhidos e as evoluções instituídas nos Exércitos argentino, espanhol
e norte-americano, e do CFN, enfocando o emprego de SU Bld e suas TTP em OAU
no contexto de OAOG.
O alcance da pesquisa ficou limitado ao estudo dos blindados empregados
pelo Exército Brasileiro, pela Marinha do Brasil e por EUA, Argentina e Espanha. A
escolha desses países não foi aleatória. Ela se deu pelo destaque que tais nações
têm no cenário internacional e regional, ou por já terem participado de operações de
estabilização, que são semelhantes às OAOG do Exército Brasileiro.
O estudo limitou-se à pesquisa de operações militares exclusivamente em
ambiente urbano. Fixou-se no emprego do EB para os dias atuais e futuros, em
situações de não guerra e em território nacional no contexto de OAOG.
Ainda como limitação à pesquisa, cabe ressaltar a falta de manuais brasileiros
sobre emprego da tropa blindada em OAOG, uma vez que os manuais de campanha
do EB, até o presente momento, abordam apenas as operações convencionais
ofensivas e defensivas. Assim, torna-se necessária a complementação ou obtenção
de dados com especialistas e militares que participaram desse tipo de operação.
Para manter a objetividade, a pesquisa se limitou a buscar somente as
contribuições das OAU no contexto de OAOG que incidiram diretamente no emprego
119
de SU Bld, em particular as possibilidades e limitações da VBTP M113-BR e sua
influência na adoção de TTP de Cia Fuz Bld.
Cabe salientar que este trabalho abordou sobretudo a função de combate
Movimento e Manobra da tropa blindada, em particular da Cia Fuz Bld, empregando
a VBTP M113-BR. Portanto, não serão estudadas a fundo as demais funções de
combate componentes de uma SU Bld, as quais foram mencionadas quando
necessário, mas também não foram objeto específico de análise.
Da análise das variáveis envolvidas no presente estudo, “o emprego da
VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG” apresenta-se como variável
independente, tendo em vista que se espera que sua manipulação exerça efeito
significativo sobre a variável dependente “Técnicas, Táticas e Procedimentos da
Cia Fuz Bld”. Devido às características qualitativas das variáveis de estudo, foi
necessário defini-las conceitual e operacionalmente, a fim de torná-las passíveis de
observação e de mensuração.
3.1.1 Definição conceitual da variável
No presente estudo, a variável independente “o emprego da VBTP M113-BR
em OAU no contexto de OAOG” pode ser entendida como utilização da viatura
através das inovações do seu projeto de modernização, a qual apresenta
possibilidades e limitações em suas características que poderão influenciar quando
utilizada em operações em ambiente urbano em OAOG. Os indicadores da variável
estudada serão: potência de fogo, mobilidade em vias urbanas, visibilidade noturna,
proteção blindada, sistemas de comunicações e manutenção da viatura.
O quadro a seguir apresenta a definição operacional da variável independente
(VI):
120
VI DIMENSÕES INDICADORES FORMAS DE MEDIÇÃO
Emprego da VBTP
M113–BR em OAU no contexto de
OAOG
Potência de fogo
Tipo de armamento e
munição
Pergunta 16 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Mobilidade em vias urbanas
Dano colateral e manobrabilidade
Perguntas 21 e 22 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Visibilidade noturna
Utilização de equipamento de visão noturna
Pergunta 18 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Proteção blindada
Tipo de blindagem
Pergunta 13 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Sistemas de comunicações
Tipo de equipamentos e material utilizado
Perguntas 14 e 15 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Manutenção da viatura
Pessoal e material
empregado na manutenção
Pergunta 20 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
QUADRO 13 – Variável “Emprego do M113–BR em OAU no contexto de OAOG” Fonte: o autor
A variável dependente “As TTP da Cia Fuz Bld” pode ser entendida como as
Técnicas, Tática e Procedimentos empregados por uma Subunidade (SU) de
Fuzileiros Blindada em OAU no contexto de OAOG. Os indicadores dessa variável
serão: adaptações da VBTP, doutrina do emprego, patrulhas blindadas, controle de
distúrbios e estabelecimento de check point, alcançando, assim, a maneira mais
eficiente de se empregar a tropa blindada em ambiente urbano, obtendo o maior
poder de combate possível.
121
No quadro que se segue, é possível compreender a definição operacional da
variável dependente (VD):
VD DIMENSÕES INDICADORES FORMAS DE MEDIÇÃO
As TTP da Cia Fuz Bld
Adaptações da VBTP
Utilização de sacos de areia para proteção Pergunta 7 do questionário.
Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Utilização de AF
Emprego de retrovisores
Possibilidade de emprego da metralhadora MAG
Doutrina
Adestramento em OAU
Perguntas 2, 3 e 4 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Emprego da VBTP em OAU
Patrulhas blindadas
Tempo de duração
Perguntas 9 e 10 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Efetivo empregado
Controle de distúrbios
Efeito dissuasório da VBTP
Pergunta 6 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Check Point com a VBTP
Tempo de duração Perguntas 11 e 12 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Efetivo empregado
Material empregado
Deslocamentos de tropa
Transporte de Forças Auxiliares
Pergunta 17 do questionário. Consulta a relatórios da Operação São Francisco. Pesquisa bibliográfica. Entrevistas realizadas.
Transporte de Elm FE/ Comandos
QUADRO 14 – Variável “Técnicas, Táticas e Procedimentos da Cia Fuz Bld” Fonte: o autor
122
3.2 AMOSTRA
Será definida, inicialmente, a população do presente estudo, composta pelas
duas Cia Fuz Bld das Forças de Pacificação V e VI que empregaram a VBTP M113-
BR. Cabe destacar que a SU foi empregada somente nos 5º e 6º contingentes da
Operação São Francisco, sendo composta por militares do 13º BIB e 20º BIB.
Participaram, ainda, Capitães que fizeram parte do Destacamento de Forças
Especiais durante a Operação São Francisco e empregaram a VTBP M113-BR,
oficiais especialistas em blindados, todos tendo realizado cursos no CI Bld e
Capitães Fuzileiros Navais que participaram do Grupamento Operativo dos
Fuzileiros Navais, na referida Operação.
Para chegar ao cálculo do efetivo das duas Cia Fuz Bld, foi utilizado o efetivo
de oficiais, subtenentes, sargentos e cabos motoristas de VBTP, sendo que a Cia
Fuz Bld foi composta por dois capitães (Cmt SU e Scmt SU), quatro tenentes (4 Pel
Fuz Bld), um Subtenente, 16 Sargentos, sendo quatro por Pel Fuz Bld e 12 Cabos
motoristas de VBTP M113-BR. Foram utilizadas três viaturas por pelotão. Sendo 35
militares por SU em cada contingente, empregadas duas Cia Fuz Bld, o total de
indivíduos das duas Cia Fuz foi de 70 militares.
Além disso, participaram do estudo seis Capitães que fizeram parte do
Destacamento de Forças Especiais, sete oficiais especialistas em blindados, todos
tendo realizado cursos no CI Bld, e dois Capitães Fuzileiros Navais que participaram
do Grupamento Operativo dos Fuzileiros Navais na Operação São Francisco. Desta
forma, a população total foi composta por 90 indivíduos.
Tendo por base o quadro de tamanho amostral (n) em função do tamanho
populacional (N), publicado por Rodrigues (2006, p. 72), e utilizando o tamanho da
população com 90 indivíduos, a amostra selecionada deveria contar com um efetivo
mínimo de 73 indivíduos. Assim, participaram do estudo 80 militares que
responderam a questionário e que empregaram a VBTP M113 em OAU, no contexto
de OAOG.
Segue abaixo o quadro de tamanho amostral (n) em função do tamanho
populacional (N), utilizado para o cálculo da amostra:
123
QUADRO 15 – Quadro de tamanho amostral (n) em função do tamanho populacional (N). Fonte: Rodrigues (2006, p. 72).
A escolha desta amostra deve-se ao fato de estes militares possuírem
conhecimentos e experiências que lhes permitirão avaliar de forma significativa as
questões levantadas, contribuindo de maneira positiva para a conclusão do estudo.
Como critério de inclusão, os militares devem:
- ser voluntários a participar do estudo;
- ter servido em BIB após a modernização da VBTP M113-BR; ou
- ter participado da Operação São Francisco, integrando uma Cia Fuz
Bld empregando a VBTP M113-BR; ou
- ter participado da Operação São Francisco no Destacamento de
Forças Especiais e empregado a VBTP M113-BR ou no
Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais.
O critério de seleção da amostra tomou por base o conhecimento dos
militares com relação ao objeto em estudo. Assim, eles poderão contribuir de forma
eficiente nos questionamentos sobre possibilidades e limitações da VBTP M113-BR
que influenciam a adoção de TTP pela Cia Fuz Bld, em OAU no contexto de OAOG.
E ainda, no que concerne às operações com essa viatura, em particular em OAU no
contexto de OAOG e com a finalidade de levantar as TTP para o emprego da VBTP
M113-BR pela Cia Fuz Bld. Em suma, poderão transformar suas experiências em
conhecimento científico.
124
Além disso, serão entrevistados militares de notório saber sobre o emprego
de blindados em OAU, que serviram em BIB após a modernização da VBTP M113-
BR.
3.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA
Será apresentado a seguir a planejamento metodológico da presente
pesquisa, que visou solucionar o problema proposto. Será realizada uma pesquisa
aplicada de cunho qualitativo, iniciada com a seleção dos documentos, relatórios,
entrevistas e questionários, a partir da qual se seguirão a coleta e a crítica dos
dados, e, por fim, uma discussão.
O trabalho será desenvolvido a partir da análise de relatórios da Operação
São Francisco, com a finalidade de levantar dados sobre a utilização da VBTP
M113-BR, combinando revisão de literatura, entrevistas e tabulação dos dados
obtidos em questionários. Todas as atividades de entrevista e questionários serão
realizadas nas Organizações de Infantaria Blindada e nas Unidades que enviaram
militares para a Operação São Francisco, e na Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais, na Vila Militar, Rio de Janeiro-RJ.
Quanto à natureza, o presente estudo, de cunho qualitativo, é uma pesquisa
do tipo aplicada, que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à
solução de problemas específicos. A modalidade qualitativa viabiliza a percepção
dos especialistas, possibilitando a absorção da subjetividade e da individualidade
que facilitam a compreensão do problema (RODRIGUES, 2006, p. 36).
O método descritivo permite o levantamento de opiniões, possibilitando a
realização de associações entre as variáveis do problema e ampliando o
conhecimento sobre o tema. A indução, empregada no método de análise dos
dados, permite a elaboração de conclusões gerais, resultantes de indagações de
casos reais. A discussão dos resultados fundamentada no método indutivo se fará
eficaz e pertinente, uma vez que será realizada a análise de questionários e
125
entrevistas (RODRIGUES, 2006, p. 30).
Levando-se em consideração o objetivo geral desta pesquisa, é possível
concluir que este estudo tem uma modalidade exploratória e que poderá elucidar e
tornar familiares as ideias, ainda pouco conhecidas, a respeito da TTP de uma SU
Fuz Bld empregando a VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG. Visa
explorar as percepções, sugestões e o conhecimento dos oficiais e praças do EB
que empregaram essa viatura após sua modernização em operações nesse cenário.
O delineamento da pesquisa contemplou inicialmente as fases de
levantamento e seleção da bibliografia, leitura analítica e fichamento das fontes. Em
um segundo momento, foram conduzidas e aplicadas as pesquisas de campo
referentes aos objetivos específicos, por meio de questionários dirigidos aos
militares selecionados para certificar em que medida as possibilidades e limitações
da VBTP M113-BR influenciam na adoção de TTP de Cia Fuz Bld em OAU no
contexto de OAOG. Por fim, será realizada a argumentação e discussão dos
resultados, valendo-se para tal do método indutivo como forma de generalizar os
resultados obtidos para os integrantes da população objeto.
3.3.1 Procedimentos para a revisão da literatura
Para a definição de termos, redação e estruturação de um modelo teórico de
análise que viabilizasse a solução do problema de pesquisa, realizou-se a revisão de
literatura nos seguintes moldes:
a) Fontes de busca
- manuais de campanha do EB;
- manuais, legislações e protocolos militares voltados ao preparo e
emprego tático e técnico de blindados;
- livros e monografias da Biblioteca da Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais e da Biblioteca da Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército;
126
- monografias do Sistema de Monografias e Teses do EB;
- artigos científicos relacionados ao tema em questão;
- relatórios da Operação São Francisco;
- sites da internet e manuais dos Exércitos norte-americano,
argentino e espanhol;
- manuais técnicos e táticos da VBTP M113-BR;
- publicações especializadas, nacionais e estrangeiras, na área da
defesa, particularmente nos assuntos relacionados à utilização
de blindados em ambiente urbano;
- publicações especializadas, nacionais e estrangeiras, na área da
defesa, particularmente nos assuntos relacionados às operações
de estabilização e operações de apoio a órgãos governamentais.
b) Estratégia de busca para as bases de dados eletrônicas
Foram utilizados os seguintes descritores: "Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais”, “Operação São Francisco”, “Complexo da Maré”, “Operações de
Estabilização”, “blindados”, “VBTP M113-BR”, “emprego de blindados em ambiente
urbano”, respeitando as peculiaridades de cada base de dado.
Após a pesquisa eletrônica, as referências bibliográficas dos estudos
considerados relevantes foram revisadas, com o objetivo de encontrar artigos não
localizados no estudo.
3.3.2 Procedimentos metodológicos
a) Critérios de inclusão
- estudos publicados em fontes fidedignas;
- estudos publicados em português, espanhol, inglês;
- estudos publicados de 1980 a 2017;
- estudos quantitativos e qualitativos que descrevem experiências no
emprego de blindados em OAU;
- estudos qualitativos sobre as características do ambiente urbano;
127
- estudos sobre a utilização dos blindados pela Marinha do Brasil;
- estudos sobre a utilização dos blindados pelos Exércitos norte-
americano, espanhol e argentino;
- estudos de operações com emprego recente de blindados.
b) Critérios de exclusão
- estudos que reutilizam dados obtidos em trabalhos anteriores
(fontes secundárias);
- estudos cujo foco central não seja relacionado ao ambiente
operacional urbano.
c) Pré-teste
A fim de levantar possíveis falhas de elaboração, dúvidas durante a execução
e a clareza dos instrumentos utilizados, realizou-se um pré-teste do questionário e
das entrevistas. Esse pré-teste utilizou elementos pré-amostrados constituídos de
oficiais e praças do 13º BIB que participaram da Operação São Francisco que
atendessem aos requisitos para participação na pesquisa. Os possíveis erros
levantados no pré-teste foram tratados e corrigidos, buscando a fidedignidade e a
confiabilidade dos instrumentos empregados para o levantamento de dados.
3.3.3 Instrumentos
A fim de propiciar a mensuração da variável “o emprego da VBTP M113-BR
em OAU no contexto de OAOG”, a presente pesquisa utilizou como instrumentos
ficha de coleta de dados, entrevistas e questionários.
a) Ficha de coleta de dados
Realizou-se coleta bibliográfica e documental para verificar em que medida as
possibilidades e limitações do emprego da VBTP M113-BR influenciam na adoção
de TTP de uma Cia Fuz Bld em OAU no contexto de OAOG. A pesquisa buscou
levantar, em uma primeira fase, toda a documentação que discorresse
especificamente sobre as características do ambiente urbano, da VBTP M113-BR,
128
aspectos relativos à Cia Fuz Bld, conceito sobre as OAOG e o emprego de blindados
em ambiente urbano, objeto de estudo desta pesquisa. Em uma segunda fase,
realizou-se análise desta documentação, buscando verificar os seguintes aspectos:
- identificar a forma de emprego de blindados e da VBTP M113-BR em
OAU no contexto de OAOG;
- os casos históricos de emprego de blindados em OAU, em ambiente
urbano;
- a doutrina de emprego de blindados nesse cenário pela Marinha do
Brasil;
- a doutrina de emprego de blindados em ambiente urbano nos Exércitos
norte-americano, espanhol e argentino;
- identificar as TTP de uma SU Bld, empregando VBTP M113-BR como
na Operação São Francisco, através dos relatórios da missão.
b) Questionário (Apêndice A)
Como instrumento de pesquisa, a fim de levantar os dados relacionados à
forma como as possibilidades e limitações do emprego da VBTP M113-BR
influenciam as TTP de Cia Fuz Bld em OAU, serão utilizados questionários. As
perguntas foram elaboradas de forma a permitir mensurar as variáveis do problema,
através dos indicadores de cada variável abordada. Portanto, as respostas às
diversas perguntas se caracterizarão como sendo a base de estudo para a
consecução dos diversos objetivos específicos da pesquisa.
Os questionários foram enviados via e-mail para os militares que integram a
amostra. Foram enviados, ainda, questionários a militares que trabalham de forma
direta com o tema do estudo e atenderam aos critérios de inclusão. Antes das
questões propriamente ditas, uma introdução apresenta o pesquisador e situa o
informante sobre o objetivo da pesquisa e sua importância, além das instruções de
preenchimento.
As questões foram abertas, fechadas e mistas, de modo a se obter variadas
informações sobre o que se procurou descobrir. Com a variedade de questões, o
informante repassou outras experiências e sugestões que o pesquisador não previu
na formulação do questionário, enriquecendo a conteúdo adquirido. Não houve
distinção na formulação das perguntas com relação à função exercida pelo militar,
129
para que ocorresse tendência de visualização dos diferentes pontos de vista e
escalões de emprego.
Acredita-se que, com a revisão do assunto, os informantes teriam melhores
condições de opinar sobre os questionamentos e, assim, aumentar a qualidade da
informação que se buscou coletar. Ao final da dissertação, encontra-se o roteiro do
questionário a ser aplicado no Apêndice A.
Foi realizado um pré-teste do questionário em militares do 13º BIB que
participaram da Operação São Francisco empregando a VBTP M113-BR, no ano de
2016, no intuito de verificar formatação, entendimento e redação dos
questionamentos. Novas ideias surgiram após a realização do pré-teste.
c) Entrevistas (Apêndice B)
A fim de permitir uma interação direta do pesquisador com militares
envolvidos com as questões de estudo, foram realizadas entrevistas com
profissionais de notório saber na área de conhecimento em estudo ou que utilizaram
a VBTP M113-BR durante a Operação São Francisco.
Os roteiros das entrevistas foram enviados por e-mail diretamente aos
militares selecionados, que os responderam também por e-mail ao autor. Este, no
caso de dúvida, realizou o diálogo telefônico direto com os entrevistados, até
alcançar o resultado esperado com esta forma de coleta de dados. Antes das
questões propriamente ditas, uma introdução foi feita com o objetivo de apresentar o
pesquisador e situar o informante sobre o objetivo da pesquisa e sua importância,
além das instruções de preenchimento.
As entrevistas se revestem de importância para a pesquisa, tanto pela função
que ocupam quanto pelo grande envolvimento que têm com o desenvolvimento da
doutrina do emprego da VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG. Desta
forma, as entrevistas foram enviadas aos seguintes militares: Ten Cel Flávio Moreira
Mathias – Cmt do 13º BIB; Maj Ronaldo Baeta Nogueira – Cmt Cia Fuz Bld na F Pac
V; Cap Luiz Henrique de Lima Areias –Scmt Cia Fuz Bld na F Pac V; Cap Paulo
Sérgio Raghiant Bentes Júnior – Cmt Cia Fuz Bld na F Pac VI; e Ten Renner
Ferreira Bordallo – Cmt Pel Fuz Bld na F Pac V.
A entrevista foi do tipo semiestruturada, que ofereceu ao pesquisador maior
flexibilidade, uma vez que permitiu intervenções de acordo com seu
130
desenvolvimento. O roteiro de entrevista encontra-se no Apêndice B.
3.3.4 Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada de forma distinta para os diversos
instrumentos utilizados. Para a ficha de coleta de dados, foram analisados os dados
qualitativos, para buscar o levantamento das informações acerca das TTP de uma
Cia Fuz Bld empregando a VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG. A
apresentação dos resultados se deu pela apresentação da revisão da literatura do
presente estudo e pela apresentação dos dados colhidos nos questionários.
Pelo fato de esta pesquisa ser predominantemente qualitativa, pouco foi
empregado dos recursos estatísticos para análise dos dados, embora alguns
resultados numéricos forneçam informações importantes para se atingir o objetivo de
estudo. Os dados colhidos foram agrupados e analisados tendo por base cada
pergunta do questionário após análise do pesquisador.
Os questionários foram analisados através de um tratamento qualitativo
elaborado a partir das respostas. Os resultados foram apresentados por meio de
recursos gráficos e confrontados com a revisão da literatura.
Foi feita, ainda, uma análise das entrevistas realizadas, a fim de identificar
temas centrais das respostas obtidas. Em seguida, realizou-se a comparação das
entrevistas, buscando pontos comuns convergentes ou divergentes acerca das
questões propostas. Desta forma, foi possível extrair considerações e conclusões a
respeito do tema em estudo.
131
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção apresentam-se os resultados obtidos através dos questionários
aplicados, que visam auxiliar a análise sobre em que medida as possibilidades e
limitações da VBTP M113-BR irão influenciar a adoção das TTP de uma Cia Fuz Bld
em OAU no contexto de OAOG. Partindo deste objetivo, o tema foi analisado por 80
militares que puderam de alguma forma contribuir com a pesquisa apresentando
suas opiniões sobre o assunto. Os dados foram analisados e verificados antes de
serem apresentados.
4.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados foram obtidos a partir dos questionários respondidos pelos
militares que empregaram a VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG
(Apêndice A). A experiência de 80 militares, especialistas em operações com a
viatura, está retratada nos dados apresentados. Foram confrontados os dados
obtidos em todos os processos do estudo (pesquisa bibliográfica, entrevistas e
questionários), chegando-se a conclusões parciais.
Apurou-se inicialmente, por meio de pesquisa bibliográfica, que desde 2013,
com a modernização da VBTP M113-BR, os Batalhões de Infantaria Blindados vêm
recebendo essas viaturas e muitas operações em ambiente urbano no contexto de
OAOG foram desencadeadas no Brasil. Dentre as missões desempenhadas pela
Força Terrestre, destaca-se a Operação São Francisco, em que a VBTP M113-BR
foi utilizada pela primeira vez em OAU no contexto de OAOG.
Na pesquisa bibliográfica, com relação à adoção de TTP, ao pesquisar o
relatório da F Pac V, foi elaborado um quadro comparativo entre o modo operativo
da Força de Pacificação e as facções criminosas do Complexo da Maré.
132
QUADRO 16 – Comparação entre as TTP da F Pac e das facções criminosas Fonte: BRASIL (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Verifica-se que a Força de Pacificação adotava técnicas, táticas e
procedimentos bem diferentes em relação aos APOP. Em virtude do aumento dos
confrontos com as facções criminosas, foi necessário passar, em reforço ao
Comando da Força de Pacificação, uma Cia Fuz Bld nos 5º e 6º contingentes. Assim
foi empregada, pela primeira vez em ambiente urbano, a VBTP M113-BR.
A aplicação do questionário e a realização das entrevistas buscaram
solucionar o problema deste estudo. A seguir, serão apresentados os resultados da
pesquisa de campo, com a discussão e conclusões parciais.
133
4.1.1 Levantamento do posto ou graduação da amostra
A pergunta número (Nr) 1 do questionário teve a finalidade de verificar o posto
ou graduação dos 80 militares que participaram do estudo e que empregaram a
VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG. Entre esses militares, 65 fizeram
parte das duas Cia Fuz Bld durante a Operação São Francisco, seis capitães fizeram
parte do Destacamento Operacional de Forças Especiais (DOFEsp) durante a
referida operação, sete oficiais especialistas em blindados haviam realizado cursos
no CI Bld e dois capitães fuzileiros navais participaram do Grupamento Operativo
dos Fuzileiros Navais na Operação São Francisco.
Cabe destacar que a Cia Fuz Bld foi empregada no 5º e 6º Contingentes da
Operação São Francisco, sendo composta por militares do 13º BIB e 20º BIB. A Cia
Fuz Bld foi composta por dois capitães (Cmt SU e Scmt SU), quatro tenentes (4 Pel
Fuz Bld), um subtenente, 16 sargentos, sendo quatro por Pel Fuz Bld, e 12 cabos
motoristas de VBTP M113-BR. Foram utilizadas três viaturas por pelotão. Assim, o
total foi de 35 militares por SU em cada contingente.
GRÁFICO 1 - Posto ou graduação da amostra Fonte: o autor
1%
19%
13%
1%
36%
30%
Major
Capitão
Tenente
Subtenente
Sargento
Cabo
134
De acordo com o gráfico 1, 67% da amostra foi composta por praças, sendo
que responderam ao questionário um subtenente, 29 sargentos e 24 cabos
motoristas de VBTP – ou seja, os militares que estiveram ligados diretamente ao
emprego da viatura em OAU no contexto de OAOG.
Quanto à amostra, 33% foram oficiais – 10 tenentes, 15 capitães e um major
(que na data da missão ainda era capitão e desempenhou a função de Cmt SU).
Dessa forma, participaram do estudo militares diretamente envolvidos com o
emprego da VBTP M113-BR, após sua recente modernização, compartilhando
dados e informações sobre o emprego desta plataforma blindada em ambiente
urbano no contexto de OAOG.
4.1.2 Nível de adestramento
A pergunta Nr 2 do questionário teve a finalidade de verificar a quantidade de
adestramentos empregando a VBTP M113-BR em ambiente urbano, no contexto de
OAOG, no nível Cia Fuz Bld, realizados pelos militares integrantes da amostra.
135
GRÁFICO 2 – Quantidade de adestramentos realizados empregando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
De acordo com o gráfico Nr 2, 45% da amostra já realizou mais de quatro
adestramentos empregando a VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG.
Como preparação para os contingentes da Operação São Francisco, foram
feitos alguns adestramentos para os militares se ambientarem à viatura. Entretanto,
alguns militares foram para a missão sem realizar nenhum adestramento, devido à
troca de militares na véspera da partida da operação, sobretudo aqueles do 5º
Contingente, que foram selecionados para a operação sem ter tempo ideal de
preparação para a missão.
A instrução militar do EB é regulada por diversas documentações, das quais
se destacam os Programas Padrão (PP), que definem os objetivos a serem atingidos
pelos diversos grupamentos de instrução. Na fase de adestramento de Garantia da
Lei e da Ordem (GLO), que ocorre no fim do primeiro subperíodo da instrução
individual de qualificação, conhecida como Programa de Adestramento Básico
(PAB), ainda não se havia previsto o emprego da VBTP M113-BR durante as
instruções.
No PP de instrução de qualificação do cabo e soldado - Instrução de Garantia
12%
25%
11% 4% 3%
45%
Nenhum
Uma Vez
Duas Vezes
Três Vezes
Quatro Vezes
Mais de quatro vezes
136
da Lei e da Ordem e instrução comum, EB 70-PP-11.012 (2013, p.8-17), com
relação às viaturas blindadas, são previstas apenas instruções de embarque e
desembarque da viatura. Assim, era muito pequena a carga horária destinada ao
emprego das plataformas blindadas.
Militares podem vir a ser escalados para operações reais sem terem realizado
nenhum adestramento com a VBTP. A situação ideal para tropa blindada é que
todos os militares estejam adaptados ao blindado, mas em virtude das
movimentações e transferências dos oficiais e sargentos, podem ocorrer situações
emergenciais em que o militar é escalado para determinada operação sem ter
realizado nenhum adestramento com essa plataforma.
Assim, seria interessante acrescentar instruções no PP com o emprego de
viaturas blindadas no PAB GLO. Até o 5º contingente, só foram empregadas tropas
motorizadas e mecanizadas; a partir daí, a Cia Fuz Bld participou pela primeira vez
desse tipo de operação empregando a VBTP M113-BR, quando o comando da
Força de Pacificação verificou a necessidade de aumentar a proteção blindada nas
operações no Complexo da Maré. Com o acionamento rápido da tropa blindada,
tempo de preparação específica para a missão foi reduzido. Houve dificuldade para
um adestramento completo das frações, uma vez que as SU foram acionadas no
decorrer da operação, e não estava previsto seu emprego inicialmente.
A pergunta Nr 3 do questionário teve a finalidade de verificar a quantidade de
missões reais empregando a VBTP M113-BR em ambiente urbano no contexto de
OAOG, no nível Cia Fuz Bld, realizadas pelos militares integrantes da amostra.
De acordo com gráfico 3, 56% realizaram apenas uma vez missões reais
empregando a VBTP M113-BR, fato relacionado à recente modernização da viatura,
uma vez que os blindados chegaram aos BIB no final de 2013. Além disso, 24% da
amostra participou duas vezes, sendo principalmente os cabos motoristas de VBTP
M113-BR, uma vez que alguns tiveram que participar dos dois contingentes nos
quais a Cia Fuz Bld foi empregada na Operação São Francisco, devido à falta de
motoristas para realizar o rodízio.
137
GRÁFICO 3 – Quantidade de missões reais realizadas empregando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
O fato de a maioria da amostra ter participado apenas uma vez de operações
reais com o emprego da VBTP M113-BR está relacionado ao rodízio realizado entre
o 5º e o 6º contingente. Os militares que responderam que participaram de mais de
quatro vezes fizeram parte, em sua maioria, do Destacamento de Forças Especiais;
os cabos motoristas de VBTP conduziram as viaturas em todas as situações.
Em virtude da recente modernização da VBTP M113-BR, há uma tendência
de aumentar a quantidade de militares que irão utilizar a viatura em ambiente urbano
no contexto de OAOG.
4.1.3 Eficiência da VBTP M113-BR
A pergunta Nr 4 do questionário teve a finalidade de verificar a eficiência da
VBTP M113-BR em ambiente urbano no contexto de OAOG.
De acordo com gráfico 4, 84% da amostra achou eficiente o emprego da
0%
56% 24%
3%
1%
16%
Nenhuma
Uma vez
Duas Vezes
Três Vezes
Quatro Vezes
Mais de quatro Vezes
138
VBTP M113-BR; outros 15% consideraram o emprego parcialmente eficiente. A
principal causa levantada pelos militares que responderam “parcialmente eficiente”
foi o barulho elevado que a viatura faz, prejudicando o princípio de guerra de
surpresa nas operações. Foi constatado que o som da VBTP M113-BR denunciava o
início de algumas operações, assim os APOP se escondiam da tropa ao escutar o
barulho.
GRÁFICO 4 – Eficiência da VBTP M113-BR Fonte: o autor
A maioria da amostra considerou que o emprego da VBTP M113-BR foi
eficiente, pois agregou grande poder de combate nas missões reais no contexto de
OAOG, sobretudo pelos fatores dissuasão e proteção blindada. A plataforma
blindada proporcionou segurança à tropa, visto que na área de operações ocorriam
tiroteios frequentes. O poder de choque e o novo motor da VBTP M113-BR, que deu
maior potência ao carro e evitou panes que eram comuns na versão antiga, foram os
pontos positivos levantados que fizeram com que a grande maioria da amostra
considerasse eficiente o emprego VBTP M113-BR. Assim, de acordo com o
84%
1%
15%
SIM
Não
Parcialmente
139
resultado da amostra, verifica-se que a VBTP M113-BR foi eficiente para operações
em ambiente urbano no contexto de OAOG, podendo ser utilizada novamente em
futuras operações semelhantes.
Alterando a sequência das perguntas, será apresentado o resultado da
pergunta número 8, que também está relacionada com a eficiência do emprego da
VBTP M113-BR. Essa pergunta teve a finalidade de verificar se a VBTP M113-BR,
sendo uma viatura sobre lagartas, estaria apta para operar em ambiente urbano no
contexto de OAOG.
De acordo com o gráfico Nr 5, 77% dos militares que responderam ao
questionário consideraram que a VBTP M113-BR está apta para operar em
ambiente urbano no contexto de OAOG. Todavia, 22% da amostra marcou como
resposta que a viatura está apta parcialmente, sendo que as principais causas
levantadas para esta reposta foram: a utilização da lagarta de ferro, já que ainda não
haviam sido instaladas as de borracha; outro fator foi o barulho do motor, que
dificultava as comunicações, uma vez que na Operação São Francisco ainda não
estava instalado nas viaturas o InterCom Sotas. Apenas um militar considerou que a
viatura não está apta para esse tipo de operação.
A lagarta metálica apresenta como óbices ao seu emprego em ambiente
urbano o desgaste prematuro, o ruído e o danos colaterais causados ao asfalto e ao
meio-fio da área de operações, em especial o desgaste das almofadas amovíveis.
Foi considerada útil pelos militares da amostra a adoção da lagarta de borracha em
substituição à de metal em futuras operações, como forma de amenizar os
problemas causados pela mesma. As lagartas de borracha já foram instaladas em
algumas viaturas e poderão ser utilizadas em operações nesse ambiente.
140
GRÁFICO 5 – Aprovação sobre a utilização da VBTP M113-BR em OAU, no contexto de OAOG Fonte: o autor
De acordo com o Tenente Bordallo, que exerceu a função de Cmt Pel Fuz Bld
na Operação São Francisco e que possui o curso de operador de VBTP M113, em
ambiente urbano tanto as viaturas sobre lagartas quanto sobre rodas são aptas.
Aquelas sobre rodas são mais frequentemente utilizadas, como é o caso da Força
de Pacificação do Haiti. No caso de favelas, como a Maré, a VBTP M113-BR sobre
lagartas possui praticidade maior, pois consegue realizar uma curva de pequeno
raio, ao travar a lagarta de um lado e movimentar a do outro. Essa curva permite
maior flexibilidade em ruas estreitas de comunidades. As viaturas sobre rodas que
estavam na Operação São Francisco encontravam dificuldades maiores para se
locomoverem nas ruas estreitas e vielas.
Do exposto, verifica-se que mesmo sendo uma viatura sobre lagartas, a VBTP
M113-BR pode ser empregada em ambiente urbano no contexto de OAOG. Suas
características após a modernização, sobretudo devido ao pivoteamento e ao novo
motor, aumentaram a eficiência da viatura e elevaram a confiança da tropa no carro.
As lagartas de borracha teriam reduzido sobremaneira os danos causados ao
calçamento da área de operações. Entretanto, o cuidado da tropa, que
posteriormente consertou todos os estragos produzidos nas ruas da favela, mostrou
77%
1%
22%
SIM
NÃO
PARCIALMENTE
141
o respeito pelos populares da favela, tendo sido um fator de aproximação da tropa
com a população.
4.1.4 Formas de emprego da VBTP M113-BR
A pergunta Nr 5 do questionário teve a finalidade de verificar as formas de
emprego da VBTP M113-BR em ambiente urbano, no contexto de OAOG.
De acordo com Brasil (2010a, p. 6-8), os meios blindados devem ser
empregados, principalmente em OAU no contexto de OAOG, com as seguintes
finalidades: elementos de demonstração de força na ação de dissuasão; plataformas
para difusão de informações à população na campanha psicológica; estabelecimento
de postos de bloqueio e controle de vias urbanas (PBCVU), check point e static
point; e proteção blindada nas ações de investimento. Dessa forma, verifica-se que a
VBTP M113-BR foi empregada de acordo com que prescreve a doutrina durante a
Operação São Francisco.
Segundo o Major Baeta, que exerceu a função de Cmt SU em OAU no
contexto de OAOG, importante regra a ser empregada neste tipo de operação com
relação ao uso de blindados é a tropa mostrar sua presença, por meio do movimento
a pé e do patrulhamento à noite. Essas ações permitem estabelecer elos com a
população local, que passará a considerá-los como verdadeiras pessoas, e não
como alienígenas que descem de uma caixa blindada. Passear num comboio
blindado, fazendo viagens de dia como um turista em uma área hostil, além de
afastar do conhecimento da situação local, fará com que a tropa se torne alvo fácil.
Sendo assim, para a utilização da VBTP M113-BR, deve-se prever que tanto os
militares embarcados, quanto desembarcados tenham apoio mútuo da viatura.
142
GRÁFICO 6 – Formas de Emprego da VBTP M113-BR em OAU, no contexto de OAOG. Fonte: o autor
Segundo a pesquisa, essa questão permitia escolher mais de uma opção. As
principais formas de emprego da VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG
foram: patrulhamento ostensivo, com 96,2% de escolhas; transporte de pessoal e
estabelecimento de check point/static point, 93,6% das respostas; transporte de
Forças Especiais, 76,9%; e transporte de forças policiais, que obteve 71,8%.
Além dos dados apresentados no gráfico 6, foi levantado ainda que a VBTP
M113-BR poderá ser empregada na escolta de agentes e peritos da Polícia Civil e
Defesa Civil, evacuação de feridos, remoção de obstáculos deixados pelos APOP
para dificultar a passagem da tropa, transporte de APOP capturado e em apoio a
operações de controle de distúrbios (OCD).
De acordo com Capitão Raghiant, que exerceu a função de Cmt SU durante
toda a operação, outra missão imposta à Cia Fuz Bld foi desengajar frações
motorizadas ou a pé detidas por fogos utilizando a proteção blindada da VBTP
M113-BR.
96,2%
93,6% 93,6%
76,9% 71,8%
42,3% 42,3% 42,3% 34,6% 33,3%
143
E ainda, outra lição aprendida foi o recebimento de uma Vtr Marruá ¾ Ton por
Pel Fuz Bld, com a finalidade de cada fração-valor do pelotão possuir uma viatura
leve em condições de evacuar um ferido para um hospital, um preso para a
delegacia ou outros tipos de transportes, possibilitando maior velocidade às frações.
Sendo assim, verificou-se que a VBTP M113-BR poderá ser empregada de
diversas maneiras além das previstas na literatura vigente, aumentando o poder de
combate da Cia Fuz Bld em ambiente urbano no contexto de OAOG.
4.1.5 Efeito de Dissuasão da VBTP M113-BR
A pergunta Nr 6 do questionário teve a finalidade de verificar o efeito de
dissuasão sobre os APOP através do emprego VBTP M113-BR em ambiente urbano
no contexto de OAOG sobre os APOP.
GRÁFICO 7 – Efeito de dissuasão causado pelo emprego da VBTP M113-BR Fonte: o autor
95%
0% 5%
SIM
NÃO
PARCIALMENTE
144
De acordo com Brasil (2010a, p. 4-16), as demonstrações de força visam
dissuadir os APOP e/ou as pessoas que ela conduz de atitudes que possam
ocasionar confronto com a força legal. A ação de demonstração de força é realizada
pela exposição à observação dos elementos que se opõem à força legal de uma
tropa de efetivo, atitude, armamento e material capaz de convencê-los de que será
inútil opor-se à ação dessa tropa. No caso do presente estudo, a Cia Fuz Bld
empregou a VBTP M113-BR em demonstração de força como forma de dissuasão.
O emprego de tropas blindadas tem grande poder dissuasório e é muito
eficiente neste tipo de ação. Assim, a VBTP M113-BR foi utilizada de acordo com a
doutrina vigente e foi considerada por 95% da amostra que possui efeito de
dissuasão sobre os APOP.
Foi relatado, ainda, que ao monitorar a rede rádio dos APOP pela Inteligência
da Força de Pacificação, era nítido que os mesmos se sentiam amedrontados com a
presença da VBTP M113-BR e que a viatura possuía velocidade e chegava a locais
nos quais as outras viaturas não iam, causando assim grande poder dissuasório
sobre os APOP. Do exposto, verifica-se que o emprego da VBTP M113-BR como
demonstração de força causou efeito dissuasório nos APOP, sendo válida sua
utilização em OAU no contexto de OAOG.
4.1.6 Adaptações na VBTP M113-BR
A pergunta Nr 7 do questionário teve a finalidade de verificar as adaptações
necessárias na VBTP M113-BR para melhorar seu emprego em ambiente urbano no
contexto de OAOG. Nesta pergunta, era permitido ao militar escolher mais de uma
opção.
De acordo com o gráfico 8 verificou-se que, para o emprego da VBTP M113-
BR em ambiente urbano no contexto de OAOG, serão necessárias algumas
adaptações, como: instalação de retrovisores, sirenes e câmeras nos ângulos para
facilitar a direção da viatura, utilização da lagarta de borracha para diminuir os danos
145
no calçamento urbano, colocação de sacos de areia sobre o chassi da viatura para
aumentar a proteção da tropa, instalação de plataforma ou assoalho para melhorar a
observação e posições de tiro dos militares, adaptação para o emprego da
Metralhadora MAG e substituição do atirador da metralhadora .50 por militar dotado
de fuzil com luneta.
GRÁFICO 8 – Adaptações necessárias para emprego da VBTP M113-BR Fonte: o autor
De acordo com o Relatório da Força de Pacificação V e VI, foram necessárias
adaptações para o emprego da VBTP M113-BR. Nas figuras abaixo, é possível
verificar algumas adaptações realizadas na viatura.
0,0%
50,0%
100,0%
Retrovisorese câmeras
Lagartas deborracha
Sacos deareia
Plataformapara
observação
Emprego daMtr. MAG
Atirador comLuneta
88,60%
81,00%
69,60% 69,60%
67,10%
48,10%
146
FIGURA 26 – Instalação retrovisores de moto na VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Na pesquisa realizada junto a militares que atuaram na Operação São
Francisco, constatou-se que a principal dificuldade encontrada na utilização da
VBTP M113-BR foi a realização de manobras nos locais estreitos, em especial sob
fogos. Em relação a esta dificuldade, as principais causas levantadas foram a
existência de pontos cegos nas laterais da viatura, a falta de equipamentos
auxiliares de navegação e a inexistência de espelhos retrovisores. Com relação a
esse aspecto, o cabo motorista Gazolla, que exerceu essa função na Maré, relatou
que a torre existente da metralhadora .50 atrapalha a visão do motorista para o lado
direito, principalmente; assim, o emprego de retrovisores improvisados de
motocicletas auxiliou na condução da viatura.
De acordo com Major Baeta, que exerceu a função de Cmt SU, algumas
adaptações na viatura foram necessárias durante a Operação São Francisco. Com
relação ao uso de retrovisores e sirenes, foi visto que por vezes o cabo motorista da
VBTP necessitou de visada de sua retaguarda, de onde costumeiramente surgiam
motocicletas, bicicletas e pedestres. Por vezes foi necessário solicitar que algum
veículo ou até mesmo pedestre se retirasse da frente da VBTP, além de alguns
militares realizarem o balizamento da viatura; assim, essa adaptação tornou-se
necessária para evitar acidentes.
147
Além disso, a adaptação do suporte da metralhadora (Mtr) .50 para utilizar a
metralhadora MAG viabiliza o emprego da tropa com armamento de apoio de fogo e
coletivo no mesmo calibre do armamento individual, o fuzil 7,62 mm. Entretanto, o
emprego da Mtr MAG durante a Operação São Francisco teve mais o caráter
dissuasório, visto que seria necessário um emprego de excessivo poder de fogo
pelos APOP e pelas facções criminosas para que o comandante de fração pudesse
determinar o uso desse armamento em resposta, em virtude das regras de
engajamento e a limitação do uso da força, característica marcante das OAU no
contexto de OAOG.
Já a colocação dos sacos de areia em torno da escotilha de tropa
proporcionou maior proteção aos militares embarcados, os quais ficam com o tronco
para fora da couraça do blindado. Ademais, essa adaptação permite aos fuzileiros
realizar a pontaria com mais precisão, ao ser possível tomar uma posição de tiro
apoiada. A utilização de sacos de areia tem por finalidade aumentar a proteção da
tropa, além de evitar ricochetear algum projétil disparado por APOP na população.
Na figura abaixo, é possível verificar um destacamento de Forças Especiais
empregando tal adaptação na VBTP M113-BR.
FIGURA 27 – Destacamento de Forças Especiais empregando a VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
148
Outra adaptação importante utilizada na Operação São Francisco foi a
instalação de plataformas ou pallets no interior da VBTP M113-BR. De acordo com
Brasil (2015b), a altura média dos soldados que fizeram parte da Cia Fuz Bld era de
1,70m. Com isso, a posição de tiro do militar na escotilha da VBTP M113-BR era
prejudicada, além de sua observação ser reduzida. Dessa forma, levantavam-se ou
retiravam-se os bancos da viatura, e eram instalados pallets ou assoalhos para
aumentar a altura do piso do carro. Com essa conduta, o militar melhorou sua
posição de tiro e aumentou seu campo de observação.
Foram levantadas ainda mais algumas sugestões de adaptações, como:
instalação de sistema de refrigeração interna, devido ao calor da área de operações;
instalação do gerenciador do campo de batalha (GCB), para obtenção da
consciência situacional; instalação de câmeras de ré para auxiliar na condução da
viatura; e instalação da proteção blindada para o motorista e para o atirador, como a
já existente na VBTP URUTU, uma vez que os mesmos ficam expostos.
De acordo com o Tenente Schultz, que exerceu a função de Cmt Pel Fuz Bld,
o mais difícil com relação ao emprego da VBTP M113-BR era o calor interno. O
mesmo afirma que marcou com um termômetro a temperatura e chegava a fazer 50
graus no interior do blindado, fato que desgastava física e psicologicamente a tropa.
Então, as TTP adotadas por sua fração foram as patrulhas curtas e se abrigar em
algum lugar seguro para beber água e recuperar os militares.
Do exposto, conclui-se que apesar da modernização da VBTP M113-BR, para
operar em ambiente urbano, deverão ser feitas algumas adaptações na viatura para
aumentar seu poder de combate e sua manobrabilidade. Cabe destacar a
criatividade dos militares da Cia Fuz Bld para solucionar esses problemas, como a
simples instalação de retrovisores de motos e sirenes nos blindados, que evitou
danos colaterais desnecessários. Além disso, existem estudos no CI Bld para
aquisição de câmeras de ré e do GCB para a VBTP M113-BR, mas são materiais de
custo elevado e não há previsão de chegada de recursos financeiros para tal
finalidade.
149
4.1.7 Patrulhamento e estabelecimento de check point
A pergunta Nr 9 do questionário visou verificar o efetivo ideal para realização
do patrulhamento ostensivo empregando a VBTP M113-BR em ambiente urbano no
contexto de OAOG.
GRÁFICO 9 – Efetivo ideal para realizar patrulhamento empregando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
De acordo com o gráfico 9, é possível verificar que 58% da amostra
respondeu que o efetivo ideal para patrulhamento ostensivo empregando a VBTP
M113-BR seria de 9 a 11 militares, conforme prevê a doutrina vigente, uma vez que
o GC blindado é constituído de 11 militares. Segundo Brasil (2001, p. 1-5), o grupo
de combate blindado é formado por um cabo motorista, um atirador de metralhadora
.50, um sargento comandante de grupo e duas esquadras com quatro homens,
8%
33%
58%
1%
4 a 6 militares
6 a 8 militares
9 a 11 militares
Efetivo maior que 11militares
150
totalizando um efetivo de 11 militares. Com tal efetivo, o GC ganha maior poder de
combate tanto embarcado ou quando o grupo desembarcar para o patrulhamento a
pé.
Na operação São Francisco, foi realizado tanto o patrulhamento embarcado
na VBTP M113-BR, quanto o patrulhamento misto com parte do GC a pé e parte
embarcada, dois ou três militares, pela necessidade de deixar pessoal observando a
movimentação nas lajes e apoiando pelo fogo a tropa que progredia desembarcada.
Entretanto, 33% da amostra analisou que o efetivo ideal seria de seis a oito
homens, para haver espaço na viatura para transporte de material e mais espaço
para mobilidade quando a tropa estiver embarcada. Já o efetivo de quatro a seis
militares é melhor para o transporte de elementos Forças Especiais, já que essa
tropa atua com menor efetivo que a blindada.
Ainda com relação ao efetivo para patrulhamento, de acordo com o Capitão
Raghiant, o QCP do Pel Fuz Bld, em sua constituição convencional é de três grupos
de combate e um grupo de apoio, em um Batalhão de Infantaria Blindado. Durante a
Operação São Francisco, o QCP da missão excluiu o Grupo de Comando e o Grupo
de Apoio, mantendo apenas o Cmt Pel e o Adj Pel. Da mesma forma, o QDM de um
Pel Fuz Bld possui quatro VBTP M113BR, mas na Operação São Francisco
inicialmente utilizaram-se apenas três carros por pelotão.
A análise do terreno da Maré mostrou que a maioria das vias, principalmente
no Timbau, não permitiu que os blindados se desdobrassem dentro das condições
ideais de apoio mútuo e dispersão. Assim, o emprego de três carros por um eixo de
progressão levava ao emassamento das viaturas, encolunando os meios, expondo a
guarnição e os blindados. Apenas com um veículo por via não havia o apoio mútuo
entre os blindados. E ainda, em determinadas missões, verificou-se que três carros
eram demasiados para a área de operações. A situação ideal em determinadas
áreas foi o emprego de duas viaturas operando com apoio mútuo.
Para minimizar esta dificuldade, foi necessário criar o 4º GC para as missões
em que se fazia necessário ter quatro viaturas, operando dois GC em determinada
parte da área de operações com apoio mútuo e a outra dupla de blindados em outro
local. Assim, retiraram-se dois homens por GC, passando o 4º GC ao comando do
Adjunto, prática já realizada em alguns contingentes da missão de paz no Haiti. O
151
resultado obtido foi a flexibilidade do Cmt Pel de utilizar quatro carros em missões
específicas, nas quais a mobilidade e proteção blindada tinham preponderância em
relação ao volume de fogos do GC desembarcado.
Essa opção por diminuir o efetivo do GC não foi considerada ideal pelos Cmt
Pel, mas atendeu à necessidade de maior proteção blindada e volume de viaturas
na área de operações. O ideal para futuras OAU, no contexto de OAOG, seria a
manutenção do efetivo previsto em QCP de um Pel Fuz Bld em um Batalhão,
convertendo o efetivo do grupo de apoio em 4º GC.
Com relação às práticas adotadas durante a realização das patrulhas, é
possível destacar alguns procedimentos específicos devido ao emprego da VBTP
M113-BR. De acordo com Brasil (2015b), dentro do possível, priorizou-se o
patrulhamento a pé apoiado pela viatura, principalmente na área de Pinheiros,
região da área de operações onde não havia restrição ao movimento das viaturas.
Nessa região adotou-se a seguinte prática: a grande mobilidade da VBTP M113-BR
pela área permitia que se realizasse o patrulhamento blindado por toda a zona de
ação. Assim, iniciava-se o patrulhamento pelo perímetro externo, reduzindo-se o
perímetro a cada volta, em um sistema circular. Por fim, era realizado um movimento
coordenado e com velocidade, no qual o pelotão ocupava pontos de controle
predeterminados no interior da célula de patrulhamento. Em seguida, realizava-se
um vasculhamento do centro para o perímetro externo, a pé. Posteriormente, os
blindados se deslocavam para o exterior da área, ocupando posições que
controlassem o acesso a essa célula, junto aos grupos de combate, realizando
check points. O objetivo desse procedimento não era obter a surpresa, e sim o
emprego da dissuasão e a utilização do princípio da massa.
Já o estudo do terreno na área do Timbau mostrou que o patrulhamento
apoiado pelas viaturas não seria possível em boa parte da área, por haver grande
parte de terreno que restringia o uso da VBTP M113-BR. As práticas adotadas
foram: constituição de um ponto forte temporário, em uma área de reunião de
blindados, nível pelotão. A partir deste ponto, as patrulhas a pé, nível GC, eram
lançadas em um raio de até 300 m do ponto estação, com a finalidade de obter
apoio mútuo dos carros. Os grupos saíam sempre se alternando, não mais de um
GC patrulhando simultaneamente. Os grupos que permaneciam à Área de Reunião
152
realizavam a segurança dos carros e estabeleciam um check point, verificando
carros, motos e pessoal, além de, dentro das possibilidades do terreno, ocuparem
lajes, para obter melhor observação. Essas frações ainda garantiam ao Cmt Pel a
possibilidade de manobrar caso fosse necessário.
No cenário apresentado, em que foi criado um ponto forte temporário numa
área de reunião de blindados, em algumas situações utilizava-se esse mesmo
dispositivo empregando as VBTP M113-BR, mas com os três GCs patrulhando
simultaneamente por itinerários múltiplos, mantendo elementos na segurança dos
carros. Esse dispositivo criava um efeito de massa superior ao processo anterior,
dificultando o monitoramento da tropa por parte dos APOP.
Outra prática ocorrida durante o patrulhamento foi a implementação do
homem de operações de Informação (Op Info) do pelotão. Diante das
particularidades da Operação São Francisco, principalmente em relação a seus
objetivos informacionais, verificou-se a dificuldade do pelotão em dosar suas ações
cinéticas e não cinéticas. A manutenção das condutas do pelotão voltadas para a
segurança da fração entrava em choque com a necessidade de segurança imposta
pelo ambiente. Para minimizar essa dificuldade, orientou-se o Pel Fuz Bld, de forma
que os fuzileiros atuassem como “sensores passivos”, enquanto o Adjunto de
Pelotão recebeu instruções para realizar o contato efetivo com a população com
base na coleta de informações, realizando o levantamento de necessidades e
percepções da comunidade.
Como resultado, a utilização de um único militar como principal laço do
pelotão com a comunidade ampliou a confiança da população com a tropa. A
segurança das patrulhas mostrou-se em melhores condições ao se atribuir a missão
específica para esse Homem Op Info. A determinação de apenas um homem para
dar “voz” ao pelotão facilita o alinhamento do discurso, mantém uma postura na
abordagem com a população e aumenta a confiança da população na tropa, através
da empatia desenvolvida por esse militar. Em operações em ambiente urbano, no
contexto de OAOG, por se tratar de um tipo de missões que visam garantir ou
restaurar a lei e a ordem, é de capital importância que a população possa depositar
sua confiança na tropa que realiza a operação.
153
Ainda com relação ao patrulhamento, a pergunta Nr 10 do questionário teve
por objetivo verificar qual seria a duração ideal em quantidade de horas para
realização do patrulhamento ostensivo empregando a VBTP M113-BR em ambiente
urbano no contexto de OAOG.
De acordo com Brasil (2015c), o patrulhamento ostensivo empregando a
VBTP M113-BR tinha duração de quatro horas. A duração das patrulhas dependia
da relação tempo de patrulhamento x descanso da tropa. Como o Pel Fuz Bld foi
construído de três GC, o patrulhamento durava quatro horas e o GC tinha oito horas
de descanso.
GRÁFICO 10 – Duração ideal para realizar patrulhamento empregando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
Segundo o gráfico 10, 44% da amostra respondeu no questionário que o
tempo de duração ideal seria de quatro horas, assim como está no relatório da F Pac
V. Já 28% dos militares responderam que três horas seria ideal para realizar o
patrulhamento ostensivo.
27%
28%
44%
1%
2 horas
3 horas
4 horas
Superior a 4 horas
154
Apenas um militar respondeu que o tempo ideal deveria ser superior a quatro
horas, mas quando ocorre o aumento a duração do tempo de patrulha o rendimento
operacional tende a diminuir, devido ao calor excessivo da área de operações e o
cansaço dos militares. Esse fato pode comprometer a segurança da tropa, devido ao
maior tempo de exposição frente aos APOP. Dessa forma, verificou-se a
necessidade de um tempo de descanso compatível, para que o militar esteja em
boas condições físicas e psicológicas para operar com a VBTP M113-BR.
A pergunta Nr 11 teve a finalidade de verificar qual seria o efetivo ideal para
realização do check point/static point empregando a VBTP M113-BR em ambiente
urbano no contexto de OAOG.
GRÁFICO 11 – Efetivo ideal para realizar Check Point/ Static Point empregando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
De acordo com Brasil (2015c), o efetivo empregado no estabelecimento de
check point/ static point utilizando a VBTP M113-BR ocorreu tanto no nível GC, com
11 militares, quanto no Pel Fuz Bld, com efetivo superior a este número.
11%
29% 42%
18%
4 a 6 militares
6 a 8 militares
9 a 11 militares
Efetivo Superior a 11militares
155
Segundo o gráfico 11, 42% da amostra considerou que o melhor efetivo para
estabelecimento de check point seria de nove a 11 militares; 29% entre seis a oito
militares; e 18% com efetivo superior a 11 militares. Foi relatado que, para fins de
planejamento, o efetivo depende do fluxo de pessoas, veículos e quantidade de vias
urbanas a serem monitoradas.
Segundo Brasil (2015b), o Pel Fuz Bld mostrou-se apto a realizar a atividade
de check point utilizando as próprias VBTP M113-BR como obstáculos nas vias.
Além disso, a própria viatura blindada oferece um local para revistas pessoais mais
detalhadas em seu interior.
Com relação à doutrina vigente, de acordo com Brasil (2010a, p. 2-6), a
dissuasão em OAU no contexto de OAOG é obtida por meio do emprego do princípio
da massa, caracterizado ao se atribuir ampla superioridade de meios às forças
legais em relação aos APOP. Dessa forma, o estabelecimento de check point nível
Cia Fuz Bld ou Pel Fuz Bld poderia ocorrer no contexto do princípio da massa, sendo
válido em determinadas horas do dia em que o fluxo de pessoas e viaturas é maior,
ou quando surgirem denúncias sobre as atividades das facções criminosas. No
período noturno, em que a circulação é menor, poderá ser nível GC.
Ainda com relação ao estabelecimento de check point, ao se analisar o
modus operandi dos APOP no interior da favela, foi verificado que em alguns pontos
eram recorrentes suas ações de tiros contra a tropa, engajando sob a mira de
armamentos os militares em patrulhamento ou check point. Assim, com a finalidade
de minimizar este fato, utilizou-se a VBTP M113-BR como plataforma para tiro de
caçador, quer seja de dentro do veículo, utilizando a rampa abaixada, ou sobre o
carro, abrigado nos sacos de areia instalados na VBTP; ou ainda, utilizando a torre
do carro.
Dessa forma, a VBTP M113-BR mostrou ser uma plataforma móvel propícia
paro o emprego do caçador, utilizando sua proteção blindada e mobilidade. Pode ser
utilizado um especialista, FE ou com curso de caçador, caso seja necessário realizar
a neutralização de APOP, diminuindo o risco de danos colaterais.
Finalizando este tópico, a pergunta Nr 12 do questionário teve a finalidade de
verificar qual seria a duração ideal para estabelecimento check point/ static point
empregando a VBTP M113-BR em ambiente urbano no contexto de OAOG. De
156
acordo com Brasil (2010a, p. 4-13), o check point é estabelecido para controlar o
movimento da população da área; capturar APOP; isolar os APOP na área de
operações e impedir a entrada de seus apoios e reforços; impedir o acesso de
pessoas a determinadas áreas; e restringir a liberdade de movimento dos APOP. Os
check points podem ser podem ser permanentes ou inopinados.
Durante a Operação São Francisco, foram estabelecidos diversos check
points dentro das características da doutrina vigente, visando principalmente retirar a
liberdade de ação das facções criminosas e suas atividades ilegais. A presença da
tropa blindada em pontos-chave da área de operações gerou a diminuição do tráfico
de drogas e ilícitos no período em que Cia Fuz Bld foi empregada.
GRÁFICO 12 – Duração ideal para realizar Check Point empregando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
Segundo o gráfico 12, houve equilíbrio nas respostas da amostra, sendo que
28% responderam que a duração ideal seria de 45 minutos, 25% sinalizaram que o
tempo ideal seria de uma hora e 21% optaram pelo tempo de duração de duas
23%
28% 25%
21%
3%
30 minutos 45 minutos 1 hora 2 horas Duração superior a 2 horas
157
horas. Apenas 3% responderam que a duração superior a duas horas. É
conveniente que a força legal se beneficie do fator surpresa ao desencadear suas
operações. Dessa forma, foi mencionado no questionário que os locais e a duração
do chek point sejam inopinados, com a finalidade de surpreender os APOP e evitar
uma situação de rotina que pode comprometer a segurança dos militares.
Do exposto, verifica-se que a VBTP M113-BR agrega capacidades para a Cia
Fuz Bld, permitindo que suas frações adotem TTP para a realização de
patrulhamento ostensivo e estabelecimento de check poinst.
4.1.8 Blindagem e Comunicações
A pergunta Nr 13 do questionário teve por finalidade verificar se a blindagem
da VBTP M113-BR foi satisfatória em ambiente urbano no contexto de OAOG. De
acordo com Brasil (2002, p. 1-3), dentre as características das forças blindadas,
destaca-se a proteção proporcionada pela blindagem das viaturas. Em OAU no
contexto de OAOG, esta proteção tornou-se necessária em virtude do poder de
combate dos APOP, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, onde as facções
criminosas possuem armamento similar ao das Forças Armadas.
158
GRÁFICO 13 – Grau de satisfação da tropa sobre a blindagem da VBTP M113-BR Fonte: o autor
Segundo o gráfico 13, 91% da amostra respondeu no questionário que a
blindagem da VBTP M113-BR foi satisfatória. Tanto nos relatórios da F Pac V e VI
ocorreram incidentes em que foi exigida a proteção blindada da viatura e a mesma
suportou o armamento utilizado pelos APOP. Levando-se em consideração que as
facções criminosas ativas no Complexo da Maré não possuíam ou não empregaram
armamento anticarro, a blindagem da VBTP M113-BR atendeu à demanda da tropa
blindada, não havendo nenhum caso de perfuração da blindagem. Apenas 9%
consideraram a blindagem parcialmente satisfatória e nenhum militar não aprovou a
proteção blindada da viatura, fato que gerou segurança na tropa e aumentou sua
confiança e coragem para cumprir as diversas operações que foram
desencadeadas.
Ainda com relação à blindagem, a natureza da VBTP M113-BR, leve em
comparação a outras VBTP empregadas na Operação São Francisco, devido a sua
composição em duralumínio, minimizou os danos que poderiam decorrer de uma
viatura com grande peso e que geraria excessiva pressão sobre o solo.
91%
0% 9%
SIM NÃO PARCIALMENTE
159
A proteção blindada conferida por sua blindagem de liga leve é capaz de
resistir a tiros de Fz 7,62 mm. Entretanto, cabe ressaltar que para que o motorista
possa usufruir dessa proteção blindada, é necessário que o mesmo esteja
escotilhado, contando com o apoio dos periscópios para a condução da mesma. O
mesmo ocorre com relação ao atirador da metralhadora .50 que não possui a
proteção blindada em sua totalidade, pois não consegue executar o tiro escotilhado.
Com relação a esse aspecto, de acordo com o Tenente Vitor Mele, que
exerceu a função de Cmt Pel Fuz Bld, há de se pensar em uma maneira de melhorar
a proteção blindada na escotilha do cabo motorista de VBTP, como por exemplo,
utilizando um vidro transparente blindado, uma vez que é inviável pilotar escotilhado
em ambiente de favela e diversas vezes o motorista foi alvo de disparos dos APOP.
Do exposto, verifica-se que a blindagem da VBTP M113-BR é satisfatória
para OAU no contexto de OAOG, sendo necessário, entretanto, realizar adaptações
na viatura para aumentar a proteção do cabo motorista e do soldado atirador da
metralhadora .50.
Já a pergunta Nr 14 do questionário teve o objetivo de verificar se as
comunicações disponíveis na VBTP M113-BR são eficientes para comunicar-se
dentro do carro, da viatura com o GC desembarcado e com o Pelotão em ambiente
urbano no contexto de OAOG.
160
GRÁFICO 14 – Nível de eficiência das comunicações utilizando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
Segundo o gráfico 14, houve equilíbrio nas respostas da amostra, sendo que
44% da amostra considerou eficientes os meios de comunicações disponíveis, 17%
responderam “parcialmente eficiente” e 39% dos militares não aprovaram os meios
de comunicações utilizados em conjunto com a VBTP M113-BR. Foi verificado na
pesquisa que houve dificuldade nas comunicações devido ao barulho do motor da
viatura e pelo fato de ainda não estar instalado na viatura o Intercom Sotas.
Recentemente, foram instalados a rádio Falcon III, que permite estabelecer
ligações da VBTP M113-BR e o escalão superior, e o intercomunicador Sotas, que
possibilita as ligações internas da guarnição da viatura. A Rádio Falcon III está
interconectada ao intercomunicador Sotas, e o sistema permite uma comunicação
clara, com eliminação de ruídos e interferências, entre os membros do grupo de
combate. A aquisição desse novo equipamento irá proporcionar as comunicações
entre os comandantes de fração, facilitando a coordenação e o posicionamento dos
blindados em OAU no contexto de OAOG. Entretanto, no período da Operação São
Francisco, ainda não havia sido instalado o Intercom Sotas, fato que dificultou a
comunicação dentro da viatura.
Além disso, o capacete balístico utilizado pela Cia Fuz Bld na Operação São
44%
39%
17%
SIM NÃO PARCIALMENTE
161
Francisco dificultou a emprego do headset4 disponível. Os militares da amostra
sugeriram, então, capacetes balísticos idênticos aos usados pelo DOFEsp, que
possuem espaço adequado para os fones e facilitam a comunicação dos militares.
A aquisição desse modelo de capacete balístico para a Cia Fuz Bld
empregando a VBTP M113-BR ampliará o comando e o controle em futuras OAU no
contexto de OAOG. Ele será de grande valia, uma vez que, devido à mobilidade das
viaturas, as comunicações se tornam extremamente necessárias. Na figura abaixo, é
possível verificar o modelo de capacete utilizado pelo Destacamento de Forças
Especiais.
FIGURA 28 – Modelo de capacete balístico empregado pelo Destacamento de Forças Especiais Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Ainda com relação às comunicações, a pergunta Nr 15 do questionário teve a
finalidade de verificar quais equipamentos de comunicações foram empregados em
conjunto com a VBTP M113-BR na Operação São Francisco. Nesta pergunta, era
permitido ao militar escolher mais de uma opção.
Segundo gráfico 15, o equipamento rádio Motorola XTS foi o meio de
comunicação mais utilizado durante a Operação São Francisco, em conjunto com a
4 Headset é um equipamento formado por um fone de ouvido e um microfone acoplado, usado na
área de telecomunicação, com desenho ergonômico, que é fixado na cabeça do usuário.
162
VBTP M113-BR, com 79,7%. Outros meios de comunicação foram bastante
utilizados, como telefones celulares, com 53,2% das respostas, e o sistema de
comando e controle pacificador, com a mesma porcentagem. Além disso, a Falcon III
teve como resposta 46,8%; os aplicativos das redes sociais, 34,2%; e o equipamento
rádio Motorola APX-2000, com 6,3%.
Verificou-se que o sistema Falcon Harris III existente nas VBTP M113-BR é
muito eficiente, mas a utilização dos equipamentos rádio Motorola APX-2000 e XTS
se mostraram mais práticos, sendo portáteis, permitindo o uso de fones de têmpora
e possuindo localizador GPS para mostrar a posição da fração no sistema
pacificador de comando e controle em combate.
GRÁFICO 15 – Meios de comunicação utilizando a VBTP M113-BR na Operação São Francisco Fonte: o autor
Com relação ao uso de celulares e aplicativos, TTP adotadas foram o uso de
smartphones na orientação do terreno. Durante os reconhecimentos iniciais da área
de operações, os militares desconheciam a área e necessitavam constantemente
consultar cartas impressas da área de operações. Esse procedimento dentro da área
urbana mostrou-se como uma fragilidade, expondo o comandante da fração. Dessa
MotorolaXTS
Celular Pacificador Falcon III Aplicativos MotorolaAPX-2000
79,70%
53,20% 53,20% 46,80%
34,20%
6,30%
163
maneira, para minimizar esse problema foram utilizados smartphones funcionais
com cartas da área presos ao antebraço dos militares por meios de suportes para
braço, utilizados em atividades físicas, similar aos acessórios usados em corridas de
orientação. Tal conduta facilitou a orientação do militar, que consultou sua
localização sem tirar por completo sua atenção do ambiente à sua volta.
A partir do exposto, apesar de o Intercom Sotas não estar ainda instalado na
VBTP M113-BR, os meios de comunicação existentes possibilitaram o comando e
controle e mais uma vez a criatividade dos militares foi essencial para minimizar as
deficiências encontradas, com uso de smartphones e seus aplicativos tanto para
comunicação quanto para orientação na área de operações.
4.1.9 Armamentos empregados e utilização por Forças Especiais/Forças
Auxiliares
A pergunta Nr 16 do questionário visou verificar quais armamentos deveriam
ser empregados pela Cia Fuz Bld em conjunto com a VBTP M113-BR em OAU no
contexto de OAOG. Também nesta pergunta, era permitido ao militar escolher mais
de uma opção.
164
GRÁFICO 16 – Armamentos que devem ser utilizados pela Cia Fuz Bld utilizando a VBTP M113-BR Fonte: o autor
De acordo com Brasil (2010a, p. 2-4), nas operações em ambiente urbano no
contexto de OAOG, o uso da força deve ser restrito ao mínimo absolutamente
indispensável. O uso progressivo da força deve ser levado em consideração
respeitando-se os princípios da proporcionalidade, razoabilidade e legalidade. A
tropa blindada deve se adequar a esse cenário e usar armamentos compatíveis com
este tipo de operação. Assim, no nível tático da Cia Fuz Bld, devem ser
estabelecidas regras de engajamento com a finalidade de preservar a imagem da
Força Terrestre e conquistar o apoio da população da área de operações.
Segundo o gráfico 16, é possível que verificar que os principais armamentos
sugeridos pela amostra foram: pistola 9mm, com 97,5%; e armamentos não letais,
como granadas antidistúrbios, com 93,8% das repostas; espingarda calibre 12mm
com 92,5%, a qual é possível empregar munição não letal de borracha e
lacrimogêna; e o lançador de granadas AM 600, que é capaz de lançar granadas
lacrimogêneas. Dessa maneira, as respostas foram de acordo com a doutrina
vigente da limitação do uso da força, sendo que os militares optaram pelos
armamentos menos letais para OAU no contexto de OAOG.
97,50% 93,80% 92,50% 87,50% 86,30% 66% 65%
5%
165
Além dos armamentos do gráfico 16, os militares que responderam ao
questionário sugeriram o uso do spray de pimenta e armamento menos letal de
choque para as operações de controle de distúrbio.
De acordo com Brasil (2015b), a metralhadora .50 de dotação da VBTP
M113-BR, apesar de ser um armamento com grande efeito dissuasório, não se
mostrou funcional para o emprego em OAU no contexto de OAOG. A utilização da
metralhadora MAG de calibre 7,62 mm se mostrou mais adequada, pois esta
mantém um efeito dissuasório e é um armamento coletivo, que possibilita o apoio
mútuo entre as viaturas. O berço da torre do M113-BR não possui condições de
estabilizar a MAG, por isso o armamento se mostrou ineficaz para o emprego. A
posição da torre é de extrema importância para esse tipo de operação, pois possui
uma posição de observação favorável, com um campo de tiro mais profundo.
Assim, para minimizar esta situação, uma prática utilizada foi dotar o atirador
da metralhadora .50, que ocupa a torre da VBTP M113-BR, com um fuzil com luneta.
Apesar da perda do volume de fogos realizados pelas armas de emprego coletivo, o
emprego do atirador com fuzil com luneta na torre permitiu um ganho na sua
capacidade de observação. Se por um lado houve perda do volume de fogos,
ampliaram-se a observação e a possibilidade do tiro seletivo, diminuindo os danos
colaterais que poderiam advir das armas coletivas. E ainda, a dotação deste militar
com luneta não impede que a torre possa ser mobiliada com a arma coletiva, o que
aumenta mas possibilidades desse militar.
Ainda com relação ao armamento a ser utilizado pelos militares da Cia Fuz
Bld, verificou-se que o fuzil Para-FAL, cujo calibre de 7,62mm causa maior efeito
dissuasório nas facções criminosas. Dessa forma, é conveniente as frações
utilizarem tanto o fuzil IA 2 5,56mm quanto o Para-FAL.
De acordo com o Tenente Vitor Mele, discute-se muito a respeito da utilização
de um fuzil de calibre 5,56mm em OAU no contexto de OAOG. O mesmo afirma que
o Para-FAL, por ser 7,62mm, possui maior poder de dissuasão que um armamento
de calibre 5,56mm e gera maior capacidade de combate às frações nesse tipo de
operação, embora sua fabricação seja mais antiga que a do fuzil I A2.
Além disso, o Para-FAL com cano reduzido facilita o embarque e o
desembarque da viatura e aumenta a mobilidade dos fuzileiros, pela possibilidade de
166
rebater sua coronha. O cano mais curto se mostrou mais adequado devido ao
pequeno espaço existente dentro da viatura, uma vez que o GC blindado é
constituído de 11 homens.
Cabe destacar que, para a Operação São Francisco, os militares da Cia Fuz
Bld receberam o Para-FAL somente na fase de preparação e durante a missão, uma
vez que os BIB ainda possuem a antiga versão do Fuzil FAL. Dessa forma, o
adestramento da SU foi prejudicado. Seria interessante a troca do FAL dos BIB pelo
Para-FAL ou IA 2, de forma que a SU blindada realizasse seu adestramento do PAB
GLO com o mesmo armamento que empregará em OAU no contexto de OAOG.
Na figura abaixo, é possível verificar a diferença entre o Para-FAL cano
reduzido e o fuzil FAL ainda presente nas reservas de armamento dos BIB.
FIGURA 29 – Diferença entre um fuzil FAL e um Para-FAL cano reduzido Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
Do exposto, há a necessidade de se respeitar as regras de engajamento e a
letalidade seletiva em OAU no contexto de OAOG. Para tanto, a Cia Fuz Bld
necessita tanto de armamentos menos letais quanto aqueles com poder dissuasório,
com calibre 7,62 mm, para quando for preciso garantir a segurança dos militares e
da população.
167
A pergunta Nr 17 do questionário teve a finalidade de verificar como
elementos das Forças Auxiliares/Policiais e elementos Forças Especiais/Comandos
empregaram a VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG. Nesta pergunta era
permitido ao militar escolher mais de uma opção.
De acordo com Brasil (2010, p. 2-5), dentre os fundamentos do emprego em
ações de garantia da lei e da ordem, está prevista a atuação de forma integrada.
Assim, em OAU no contexto de OAOG, o planejamento e a execução contemplam a
possibilidade de participação das outras Forças, órgãos de segurança pública e
órgãos do Poder Executivo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e afins. As
Forças Policiais operaram em conjunto com a Cia Fuz Bld na Operação São
Francisco, utilizando a proteção blindada da VBTP M113-BR.
GRÁFICO 17 – Formas de emprego da VBTP M113-BR por Forças Policiais/ Forças Especiais Fonte: o autor
Segundo o gráfico 17, a VBTP M113-BR poderá ser empregada de várias
maneiras pelas Forças Auxiliares/Policiais ou Forças Especiais/Comandos. Obteve-
se como resposta da amostra: 91,3% o uso da proteção blindada para ações diretas,
ProteçãoBlindada
Transportepara regiões
de difícilacesso
Cerco Condução depreso
Investimento Transporte dematerial
91,30% 83,20% 80%
58,80% 52,50%
26,30%
168
83,2% o transporte para regiões de difícil acesso, 80% o emprego nas operações de
cerco, 58,8% na condução de APOP preso/capturado, 52,5% nas ações de
investimento e 26,3% para realizar transporte de material.
De acordo com Brasil (2010a, p. 6-6), as ações de investimento consistem na
entrada de grupos de Forças Especiais na área conturbada, para conquistar os
acidentes capitais que permitam o controle da área, neutralizar grupos armados e
capturar líderes das facções criminosas. A posse dos objetivos cria as condições de
segurança e controle necessários ao desencadeamento das demais ações. O
investimento pode ser realizado durante ou logo após o cerco e requer o emprego
de tropas altamente especializadas. A ação pode contar com a utilização de meios
aeromóveis e meios blindados como a VBTP M113-BR para a infiltração. Assim, a
proteção blindada da VBTP M113-BR é de grande valia para as Forças
Auxiliares/Policiais e para as Forças Especiais/Comandos, por aumentar o poder de
combate dessas frações.
4.1.10 Uso de Equipamento de Visão Noturna e danos colaterais
A pergunta Nr 18 do questionário teve a finalidade de verificar a necessidade
de emprego de equipamento de visão noturna (EVN) durante a utilização da VBTP
M113-BR, em OAU, no contexto de OAOG.
169
GRÁFICO 18 – Uso de EVN em conjunto com a VBTP M113-BR Fonte: o autor
Durante a pesquisa, verificou-se que os EVN foram empregados apenas
pelos fuzileiros desembarcados em poucas oportunidades, uma vez que o Complexo
da Maré era bem iluminado na maior parte da área de operações. Dessa forma,
segundo o gráfico 18, 54% da amostra respondeu que não houve necessidade de
uso de EVN, enquanto 46% consideraram que havia necessidade. Assim, o EVN
não foi empregado na Operação São Francisco para a condução da viatura, uma
vez que a quantidade de luzes no Complexo da Maré não demandou sua utilização
com esta finalidade.
Cabe destacar que, como parte do contrato do projeto de modernização da
VBTP M113-BR, no final do ano de 2016 teve início a instalação dos equipamentos
de Visão Termal (Periscópio M17 DT) que contribuirá para a progressão,
observação, segurança, comando e controle para futuras operações em ambiente
urbano no contexto de OAOG.
Já a pergunta Nr 19 do questionário buscou verificar se houve dano colateral
causado pelo emprego da VBTP M113-BR pela Cia Fuz Bld e o tipo de dano, em
OAU, no contexto de OAOG. Nesta pergunta era permitido ao militar escolher mais
de uma opção.
46%
54% SIM
NÃO
170
GRÁFICO 19 – Tipos de dano colateral causados pelo emprego da VBTP M113-BR Fonte: o autor
Segundo o gráfico 19, 100% da amostra respondeu que o emprego da VBTP
M113-BR causa dano colateral em OAU no contexto de OAOG, fato associado às
ruas estreitas da área de operações, enorme quantidade de carros e motos civis
estacionados nas ruas e falta de câmeras de ré que auxiliem na manobrabilidade da
viatura. Foram instalados retrovisores para facilitar a condução do carro, mas o
Complexo da Maré apresentou ruas de difícil direção, o que gerou dano colateral ao
utilizar o blindado na Operação São Francisco.
Os principais danos colaterais causados foram: 96,5% da amostra respondeu
dano no calçamento urbano; 87,5% optaram pela resposta “colisão com veículos”; e
51,2% consideraram colisão com moradias da população local.
Com a finalidade de manter o apoio dos habitantes, havia uma equipe de
controle de danos, cuja responsabilidade cabia ao Batalhão Logístico que apoiava a
Força de Pacificação. Verificou-se, durante a pesquisa, que o dano colateral
causado pela viatura blindada pode ser aproveitado para travar contato com a
população e colher informações para futuras operações.
De acordo com o Capitão Raghiant, Cmt SU na Operação São Francisco, não
SIM NÃO Colisão comveículos
Dano nocalçamento
Colisão commoradias
100,00%
0
87,50% 96,50%
51,20%
171
há como vislumbrar o emprego de viaturas blindadas sobre lagartas sem que haja
danos no seu deslocamento. Pelas características da operação e do ambiente,
esses danos ocorreram principalmente contra calçadas e veículos civis. O controle
de danos para esses eventos mostrou-se rápido e eficiente, sendo utilizado dentro
do espectro das Operações de Informação, alinhado com os objetivos informacionais
traçados.
Uma prática adotada para reduzir as dimensões da VBTP M113-BR e evitar o
dano colateral foi retirada da banda de borracha que fica na lateral da viatura para
ganhar espaço nas vielas e ruas estreitas. Essa medida é de fácil adoção e, além de
preservar o material, esse procedimento poderá ser utilizado em futuras operações
em ambiente urbano.
E ainda, levantou-se na pesquisa a necessidade de aumentar a quantidade
de instrução para os cabos motoristas de VBTP M113-BR para condução da viatura
nesse ambiente operacional na fase de preparação para a operação. Cabe destacar,
no entanto, que o racionamento de combustível e o elevado consumo das viaturas
blindadas prejudicam o treinamento contínuo dos motoristas.
4.1.11 Manutenção da VBTP M113-BR
A pergunta Nr 20 do questionário teve o objetivo de verificar como é realizada
a manutenção (Mnt) da VBTP M113-BR pela Cia Fuz Bld em OAU no contexto de
OAOG.
172
GRÁFICO 20 – Formas de manutenção da VBTP M113-BR em OAU, no contexto de OAOG Fonte: o autor
Com relação à doutrina vigente cabe destacar que, quanto aos meios, a Cia
Fuz Bld, segundo Brasil (2002, p. 1-5), apresenta como limitação a necessidade de
volumoso apoio logístico, particularmente dos suprimentos de classe III, V e IX e de
manutenção. Devido à natureza diuturna das operações em ambiente urbano, a
manutenção das viaturas é um ponto-chave deste tipo de missão, pois a baixa de
viaturas reduz o poder de combate das frações, tornando necessária a manutenção
contínua dos blindados.
O Subtenente Adelson desempenhou a função de encarregado de material da
Cia Fuz Bld sobre as VBTP M113-BR. Ele foi responsável por administrar a
manutenção preventiva e corretiva, o apoio aos suprimentos para manutenção
destas, como peças e lubrificantes, e ainda por confeccionar relatórios de danos nos
equipamentos VBTP M113-BR. O militar destacou a importância que deve ser dada
à manutenção no preparo e durante toda a operação, para evitar panes no meio de
operações reais, que comprometeriam a segurança da tropa.
Foi verificado na pesquisa que a Cia Fuz Blz era dotada de uma seção de
manutenção, sob comando de um oficial de Material Bélico, com equipamento de
manutenção não orgânico do BIB, e sim do Batalhão Logístico (B Log) que apoiava
a Força de Pacificação, o que permitiu a manutenção diuturna das viaturas. Os
Motoristas da VBTP Seção Mnt do B Log Pel Transporte da CiaC Ap
48,10%
59,50%
26,60%
173
motoristas da VBTP eram responsáveis pela manutenção básica e de limpeza da
viatura. A manutenção de 2º escalão ficava a cargo do B Log em apoio direto. Além
disso, eventualmente equipes do Parque Regional Manutenção 5 compareciam ao
Rio de Janeiro para realizar missões de manutenção mais complexas.
De acordo com Brasil (2015c), a VBTP M113-BR apresentou grande consumo
de óleos lubrificantes e graxas usados nos trens de rolamento devido ao calor da
área de operações e a quantidade de manobras bruscas para se deslocar nas vielas
do Complexo da Maré.
Finalizando, segundo o gráfico 20, com a relação à manutenção durante a
Operação São Francisco: 59,5% da amostra respondeu que era realizada pela
Seção Mnt do B Log; 48,1% consideraram que era feita pelos motoristas da VBTP
M113-BR; e 26,6% sugeriram que a manutenção era de responsabilidade do Pelotão
de Transporte da Companhia de Comando e Apoio.
Com relação à logística, segundo Brasil (2015b), para o suprimento classe III
(combustível), foi instalado um posto de abastecimento nas instalações do CPOR,
operando 24 horas dia. O abastecimento ocorria mediante vale preenchido pelo
chefe da turma de manutenção (Ch Tu Mnt). Já os lubrificantes para a VBTP M113-
BR, por sua especificidade, foram conduzidos pela Tu Mnt.
Com relação ao suprimento classe IX (motomecanização), todo o material
necessário à manutenção da VBTP M113-BR coube à Tu Mnt. A utilização do cartão
corporativo para atender às demandas específicas de motomecanização acelerou o
processo de recuperação das viaturas indisponíveis. Além disso, foi de grande valia
o apoio do Parque Regional de Manutenção 5, local onde ocorreu a modernização
da viatura, do 5º B Log Bld e do 4º B Log Bld. Devido à especificidade de materiais
para manutenção da viatura, estabeleceu-se contato direto com a própria OM
apoiadora, pelo Ch Tu Mnt e Cmt SU.
Do exposto, verifica-se que a manutenção é de suma importância nas
operações em ambiente urbano, sendo necessária a manutenção preventiva e
contínua para evitar a indisponibilidade dos blindados.
174
4.1.12 Manobrabilidade da VBTP M113-BR
A pergunta Nr 21 do questionário teve a finalidade de verificar se a VBTP
M113-BR possui boa manobrabilidade em vias urbanas como em áreas de favela.
GRÁFICO 21 – Manobrabilidade da VBTP M113-BR em áreas de favela. Fonte: o autor
Segundo o gráfico 21, 76% da amostra considerou que a VBTP M113-BR
possui boa manobrabilidade em vias urbanas. A pesquisa constatou que, através de
estudo prévio da área de operações, era possível deslocar-se com bastante
mobilidade. Dessa forma, antes de qualquer operação, é de grande valia colher
informações da célula de inteligência sobre o terreno para alcançar maior mobilidade
em operações em ambiente urbano.
Já 24% dos militares que participaram do estudo optaram pela opção “não”,
uma vez que houve dificuldade de condução nas ruas e vielas mais estreitas, sendo
76%
24%
SIM NÃO
175
necessário, em algumas ocasiões, o balizamento da viatura para evitar acidentes e
danos colaterais.
Com relação à manobrabilidade, a VBTP M113-BR mostrou-se apta a atuar
no Complexo da Maré. A atualização do mapa de trafegabilidade daquele terreno,
adequando-o ao M113BR, foi fator preponderante para o planejamento das
operações. Com isso constatou-se que, em quase todos os pontos da favela, onde a
viatura ¾ toneladas era utilizada pelas tropas motorizadas, também trafegava a
plataforma blindada.
Finalizando a aplicação do questionário, ainda com relação à mobilidade em
vias urbanas, a pergunta Nr 22 teve por objetivo verificar qual viatura blindada é
mais adequada para operar em ambiente urbano no contexto de OAOG.
GRÁFICO 22 – Tipo de viatura blindada mais apta para operar em ambiente urbano Fonte: o autor
De acordo com o gráfico 22, 77,5% da amostra considerou que VBTP M113-
BR é a viatura blindada mais apta para operar em ambiente urbano no contexto de
OAOG. Em segundo lugar, com 12,5%, está a VBTP Guarani; e em terceiro, com
7,5%, a viatura blindada Urutu. Apenas 2,5% optaram pela VBTP Mowag Piranha III.
VBTP M113-BR GUARANI URUTU PIRANHA
77,50%
12,50% 7,50%
2,50%
176
Segundo o Capitão Raghiant, as mudanças mecânicas da VBTP M113B,
antiga versão para a VBTP M113-BR, conferiram ao carro menor raio de curva,
através do seu pivoteamento. Além disso, a natureza do veículo blindado, leve em
comparação a outras VBTP devido a sua blindagem em duralumínio, minimizou os
danos que poderiam decorrer de uma viatura com grande peso e pressão exercida
sobre o solo. A lagarta garantiu grande mobilidade ao carro ao transpor obstáculos
que poderiam ser impeditivos a veículos sobre rodas. Esses fatores permitiram
planejar operações mais seguras, usando a proteção blindada do carro até o ponto
mais próximo dos objetivos das missões.
Dentre as observações feitas pelo DOFEsp com relação à VBTP M113-BR,
destaca-se o aspecto positivo de a viatura pivotear no mesmo eixo, o que
proporciona excelente mobilidade e manobrabilidade. Outro aspecto favorável a sua
mobilidade são suas dimensões reduzidas, se comparada aos carros Guarani e
Piranha, proporcionando o emprego em terreno restritivo ou impeditivo para essas
viaturas blindadas.
No final da pesquisa, foi aberta na amostra um espaço para militares
compartilharem suas experiências e impressões que pudessem contribuir para a
pesquisa. Algumas foram destacadas e serão apresentadas em seguida.
O Tenente Vitor Mele, que exerceu a função de Cmt Pel Fuz Bld, com relação
à manobrabilidade da VBTP M113-BR observou sua superioridade em comparação
à viatura Guarani no contexto do emprego em regiões com predominância de
favelas. Existiam diversos pontos-chave da favela da Maré onde somente a VBTP
M113-BR era capaz de acessar. Ademais, a manobra "pivô" foi essencial em
diversos momentos.
Na opinião do Capitão Nepomuceno, fuzileiro naval oriundo do Batalhão de
Blindados da Marinha do Brasil, a VBTP M113, embora não seja dotada de rodas,
possui maior flexibilidade de emprego em áreas favelizadas por não ficar detida em
medidas simples utilizadas pelos APOP, tais como a colocação de óleo em
arruamentos íngremes. Além disso, suas dimensões favorecem o emprego em
favelas, como o Complexo da Maré.
Além disso, o Tenente Aquino, que desempenhou a função de Cmt Pel Fuz
Bld, relatou que passou por duas emboscadas no morro do Timbau, ocasiões em
177
que a viatura obteve bom desempenho. Destacou ainda que sua blindagem suportou
os disparos de 7,62mm e seu motor mais potente após a modernização conseguiu
subir as elevações sem dificuldade. Ademais, sua mobilidade foi um fator de grande
utilidade, pois o blindado possuía o pivoteamento realizando manobras em regiões
de difícil acesso.
De acordo com o Capitão Albemar, que integrou o DOFEsp, a VBTP M113-
BR apresenta excepcional manobrabilidade em áreas com pouco espaço, tendo em
vista a capacidade de manobrar sobre o próprio eixo. A alta manobrabilidade,
associada à proteção blindada que oferece para os militares em seu interior, e até
mesmo o abrigo para os militares desembarcados, torna essa viatura a mais apta
para OAU no contexto de OAOG. Cabe ressaltar, porém, que se deve estudar a
implementação de mais blindagem para a VBTP, tendo em vista os novos
armamentos e munições adquiridas pelos APOP, que podem facilmente perfurar a
atual blindagem.
Segundo o Sargento Nascimento, que desempenhou a função de
comandante de GC, a VBTP M113-BR é fundamental em operações urbanas,
mesmo com grande possibilidade de danos colaterais. A proteção blindada oferecida
muitas das vezes é o único artifício completo de proteção utilizado pela tropa em
terrenos irregulares e descontínuos. Diversas vezes esta viatura salvou militares
que, em patrulhamento ostensivo, foram emboscados e necessitavam de retraimento
rápido e seguro. As adaptações na viatura se fazem necessárias e diminuirão os
prejuízos causados pelo seu emprego. No decorrer da missão, foi possível concluir
que algumas guarnições não estavam em condições de operar de maneira
profissional o equipamento de comunicações do carro, sobretudo em situações de
emergência. Faz-se então necessário um adestramento rigoroso e completo com
todos os ocupantes da viatura, visando a uma maior confiança e tranquilidade em
missões reais.
Do exposto, chega-se à conclusão parcial de que a utilização da VBTP M113-
BR é extremamente indicada para OAU no contexto de OAOG, devido a sua
mobilidade e proteção blindada. Algumas adaptações podem ser feitas com o intuito
de melhorar sua operacionalidade. Se comparada com outras viaturas empregadas
na Operação São Francisco, a VBTP M113-BR tem a vantagem de ser menor e mais
178
compacta que o Guarani, o Urutu e Piranha da MB e apresentar boa
manobrabilidade se comparada às viaturas sobre rodas que não executam
pivoteamento. Para solucionar as deficiências encontradas no emprego da viatura,
foram adotadas TTP pela Cia Fuz Bld que serão apresentadas ao final do trabalho,
em forma de proposta para possam ser empregadas em futuras OAU no contexto de
OAOG.
179
5 CONCLUSÃO
Pesquisas relacionadas às TTP para o emprego da VBTP M113-BR pela Cia
Fuz Bld em OAU no contexto de OAOG e demais estudos sobre operações em
ambiente urbano são de grande necessidade para o Exército Brasileiro, haja vista o
atual emprego da Força Terrestre nesse cenário. Cada vez mais, serão
desenvolvidas operações em que proteção blindada e ações de choque se tornarão
necessárias.
As OAU no contexto de OAOG estão sendo desencadeadas de acordo com a
evolução histórica dos acontecimentos do Brasil, em que as forças de segurança
pública se mostram insuficientes para assegurar a segurança da população. Isso
exige o emprego das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem e constitui uma
realidade para a qual os militares devem estar preparados para atuar.
A competência do militar brasileiro, demonstrada durante as OAU no contexto
de OAOG, confere às Forças Armadas brasileiras um conceito positivo, que traz
como consequência a frequente utilização dos militares para solucionar o problema
da segurança pública. A tendência é que haja, de forma constante, tropas brasileiras
em todo o território nacional colaborando com a garantia da lei e da ordem,
operando nas principais cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro, onde
a insegurança atinge índices elevados.
Dessa forma, aumenta a importância do aperfeiçoamento constante dos
quadros das Forças Armadas e da atualização e modernização do material, como o
presente estudo sobre a VBTP M113-BR, tanto para buscar maior eficiência no
emprego, quanto para a adoção de TTP adequados ao ambiente urbano e às regras
de engajamento desse tipo de operação.
O objetivo principal do presente trabalho foi propor técnicas, táticas e
procedimentos para uma Cia Fuz Bld dotada de VBTP M113-BR operando em
ambiente urbano, em um contexto de OAOG. Assim, pode-se dizer que o objetivo
geral deste trabalho foi atingido, materializado pela produção do Apêndice “C”, bem
como todos os objetivos específicos.
180
Os resultados obtidos neste estudo são significativos, claros e objetivos. A
pesquisa foi elaborada de maneira que as questões de estudo pudessem ser
respondidas durante sua realização. Sua análise permitiu visualizar oportunidades
de melhorias nas TTP e no adestramento da Cia Fuz Bld, principalmente por meio
dos questionários aplicados.
Com relação aos resultados, o estudo pode indiretamente contribuir para a
adequação da atual estrutura das instruções para a tropa blindada com a verdadeira
necessidade da tropa. Visa favorecer, em um contexto mais amplo, o aprimoramento
das técnicas, táticas e procedimentos a serem utilizados em futuras operações em
que uma SU blindada for empregada.
Os dados coletados por intermédio dos questionários e entrevistas com
militares que empregaram a VBTP M113-BR durante a Operação São Francisco,
profissionais experimentados e conhecedores dos assuntos em estudo,
evidenciaram aspectos práticos e objetivos no emprego da VBTP M113-BR pela SU
blindada, já apresentados e discutidos.
Pesquisando sobre as atuais instruções durante o Período de Adestramento
de Garantia da Lei e da Ordem, por meio da análise dos Programas-Padrão, durante
a aplicação de questionários e entrevistas, observa-se que não existe nenhuma
instrução prevista para o emprego da VBTP M113-BR em OAU no contexto de
OAOG. Desta feita, o estudo conclui que seria importante promover exercícios de
adestramentos para Cia Fuz Bld, amparados por documentação militar, visando à
preparação do combatente para emprego eficiente e seguro da viatura, já que em
virtude da situação atual do País tropas blindadas poderão ser acionadas para
serem empregadas a qualquer momento.
De pouco adianta a modernização da VBTP M113-BR se a mesma não puder
ser empregada pelos militares de forma otimizada. Assim, devem ser previstas
instruções para todos militares nesse cenário e sobretudo para os motoristas, que
são acostumados a conduzir a viatura em ambiente de campo e encontram
dificuldades na condução em áreas favelizadas, onde a direção da viatura é bem
mais complexa.
Pesquisando ainda sobre as ações realizadas pela Cia Fuz Bld nos 5º e 6º
contingentes da Força de Pacificação na Operação São Francisco, delimitação
181
temporal deste estudo, verificou-se que, pela primeira vez, foram empregadas as
VBTP M113-BR pela tropa brasileira. Essas viaturas, recentemente modernizadas,
foram fundamentais para garantir a lei e a ordem no Complexo da Maré, no Rio de
Janeiro, no período em que as Forças Armadas estiveram presentes, devido a sua
manobrabilidade e proteção blindada.
Observa-se ainda que, no Exército Brasileiro, não existem manuais
específicos sobre as TTP para o emprego da VBTP M113-BR pela Cia Fuz Bld,
versando sobre as características, possibilidades e limitações da viatura.
Normalmente, as instruções são voltadas para situação de defesa externa e para
ambiente de área rural, e há necessidade de estabelecimento de TTP para o
ambiente urbano. Além disso, as fontes de consulta são de certa forma limitadas,
uma vez que não se encontra no Exército Brasileiro título que aborde TTP para a
utilização dessa plataforma blindada pela Cia Fuz Bld, em OAU no contexto de
OAOG.
As instruções ministradas para operar com a VBTP M113-BR são
fundamentais na preparação da tropa blindada para empregar a viatura em ambiente
urbano no contexto de OAOG, uma vez que poderão ocorrer confrontos com facções
criminosas fortemente armadas. É necessário o aprimoramento nas TTP para
utilização da viatura
Verifica-se a necessidade de aumentar as instruções para cabos motoristas
obterem mais habilidade para conduzir a viatura em ambiente favelizado, onde as
ruas são estreitas e de difícil direção. E ainda, deve haver instruções de quadros e
adestramentos voltados especificamente para o ambiente urbano, para oficiais e
sargentos dos BIB, já que nem sempre haverá preparação específica para esse tipo
de operação, como ocorre nos contingentes selecionados para as missões de paz
no Haiti, em que a tropa chega a ter seis meses de preparação.
Do presente trabalho, pode-se verificar que a pesquisa resolve o problema
proposto, pois foi constatado, através da análise dos resultados obtidos, que o
emprego da VBTP M113-BR influencia a adoção de TTP de uma Cia Fuz Bld em
OAU no contexto de OAOG, e que os programas-padrão atuais não contemplam
todos os conhecimentos necessários para realizar a preparação da SU blindada e
proporcionar o emprego mais eficiente da viatura.
182
A bibliografia existente é escassa, não existindo muitas fontes de consulta
sobre o assunto. Entretanto, as experiências vividas pelos militares durante a
Operação São Francisco que empregaram diretamente a viatura proporcionaram
uma base suficiente para executar a pesquisa proposta. Os relatórios
confeccionados durante a operação e colaboração de militares especialistas em
operações com blindados enriqueceram o compêndio de dados coletados sobre o
assunto e corroboram os objetivos aqui propostos.
A metodologia escolhida para este trabalho foi suficiente, pois o objetivo
estabelecido foi plenamente alcançado. Por intermédio da análise e discussão dos
resultados, é possível assegurar que as possibilidades e limitações da VBTP M113-
BR, as condições do terreno físico e humano influenciam na adoção de TTP de uma
Cia Fuz Bld em OAU no contexto de OAOG. Na análise e discussão dos resultados,
foram apresentadas as TTP adotadas pela SU blindada durante a Operação São
Francisco.
É fundamental destacar a necessidade de realizar novas pesquisas
relacionadas ao assunto. Sugere-se que nos futuros trabalhos que tratem do
emprego da VBTP M113-BR em ambiente urbano aborde-se, como questão central,
seu emprego com a lagarta de borracha, haja vista que a mesma não foi empregada
em situações reais. O estudo de outras viaturas blindadas sobre lagartas de
menores dimensões que possam ser empregadas no ambiente proposto também
deve ser realizado. Além disso, sugere-se o estudo de instalação de ar
condicionado, câmeras de ré, do gerenciador do campo de batalha na VBTP M113-
BR e proteção blindada para o motorista e atirador da viatura, visando aumentar a
segurança, o conforto e a consciência situacional das frações.
Assim, como uma solução momentânea para minimizar os efeitos dessa
lacuna, e contribuindo para o desenvolvimento das ciências militares, foi elaborada
uma proposta de táticas, técnicas e procedimentos adequados para uma companhia
de fuzileiros blindada dotada da VBTP M113-BR nesse cenário, constante no
Apêndice “C” – “Proposta de Técnicas, Táticas e Procedimentos de uma Cia Fuz Bld
dotada da VBTP M113-BR em OAU no contexto de OAOG”. Foram elencadas,
ainda, oportunidades de melhoria para aperfeiçoamento da Doutrina Militar Terrestre
Brasileira. Sugere-se que este apêndice seja consultado por militares que servirem
183
em OM blindada e participarem de operações sobre o referido assunto, servindo
como fonte de consulta.
Recomenda-se a realização de exercícios avaliados pelo Centro de Avaliação
e Adestramento do Exército (CAAdEx), com essa temática, a fim de se verificar a
eficiência e eficácia das TTP propostas no Apêndice C. E se for julgado adequado e
necessário, o presente trabalho poderá ser remetido ao Comando de Operações
Terrestres (COTER) como base para modificações nos programas-padrão e
melhoria das instruções da tropa blindada, e para o Centro de Instrução de
Blindados, servindo como subsídio para adequação da instrução vigente, visando ao
aprimoramento de recursos humanos e da doutrina militar.
De uma maneira geral, conclui-se que apesar da importância do emprego da
VBTP M113-BR, existem poucos dados sobre as TTP para seu emprego pela Cia
Fuz Bld, fruto da sua recente modernização. Essa viatura é dotada de características
que a torna totalmente apta para operar no cenário estudado, pois em ambiente
urbano há a necessidade de uma viatura que proporcione a proteção blindada, com
dimensões reduzidas e grande manobrabilidade, capacidade gerada por sua
possibilidade de realizar o pivoteamento. Além disso, seu novo motor e a aquisição
de novas tecnologias, como lagarta de borracha, o intercomunicador Sotas e o
equipamento rádio Falcom III, fazem dela uma viatura capaz de ser utilizada em
futuras OAU no contexto de OAOG.
Além disso, apesar da importância da tropa blindada, muitos militares nos
planejamentos insistem no emprego de viaturas motorizadas, não dando a devida
importância para a proteção blindada em OAU no contexto de OAOG. Ademais,
existe a mentalidade de que as viaturas sobre rodas possuem maior dirigibilidade em
ambientes urbanos confinados e estreitos, o que não corresponde à realidade, como
foi verificado durante a pesquisa. Sendo assim, torna-se necessário conhecer os
materiais de emprego militar disponíveis na Força Terrestre, a fim de serem
empregados de forma efetiva, dentro da lei e com flexibilidade.
Conclui-se que existe a necessidade de preenchimento desta lacuna
doutrinária (como empregar a Cia Fuz Bld dotada da VBTP M113-BR em ambiente
urbano no contexto de OAOG), considerada por especialistas do assunto como um
184
tema de fundamental importância que tem sido pouco treinado e estudado no
Exército Brasileiro.
Por fim, pretende-se conscientizar as autoridades militares em todos os níveis
sobre a relevância do problema em questão, tendo em vista o aprimoramento do
preparo da Força Terrestre Brasileira para as operações em ambiente urbano.
185
REFERÊNCIAS
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194
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO EM APOIO À PESQUISA DE CAMPO
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
Mestrado em Ciências Militares
Sou o Cap Inf DANIEL HENRIQUE AGUILAR PEREIRA, da turma de
formação de 2006 da AMAN, mestrando em Ciências Militares, ora cursando a
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).
Estou realizando uma pesquisa para solucionar o seguinte problema: em que
medida as possibilidades e limitações da VBTP M113-BR influenciam a adoção de
técnicas táticas e procedimentos (TTP), de uma Companhia de Fuzileiros Blindada,
em Operações em Ambiente Urbano, no contexto de Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais?
As Operações de Apoio a Órgãos Governamentais compreendem o apoio
prestado por elementos da F Ter, por meio da interação com outras agências,
definido em diploma legal, com a finalidade de conciliar interesses e coordenar
esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes com eficiência,
eficácia e efetividade e que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de
ações, dispersão de recursos e a divergência de soluções. No território nacional,
esse apoio é regulado por diretrizes baixadas em ato do Presidente da República.
Gostaria que o senhor contribuísse na elaboração do meu trabalho,
respondendo ao presente questionário. Suas informações são de grande
importância, e poderão servir de subsídios para o aprimoramento da Doutrina Militar
Terrestre do Exército Brasileiro.
Solicito que o senhor complemente suas respostas, evitando respostas
simples, sim ou não, justificando sempre que possível. As informações prestadas
nos questionários serão tratadas de maneira genérica no trabalho, sem expor
nomes.
195
1) Posto ou Graduação (Atual)
( ) TC/Coronel
( ) Major
( ) Capitão
( ) Tenente
( ) Sargento
( ) Cabo
2) Quantas vezes o senhor executou ADESTRAMENTOS empregando a VBTP
M113 BR em ambiente urbano no contexto de OAOG, no nível Cia Fuz Bld?
Nenhuma
Uma vez
Duas vezes
Três vezes
Quatro vezes
Mais de quatro vezes
3) Quantas vezes o senhor executou MISSÕES REAIS com emprego da VBTP
M113 BR em ambiente urbano no contexto de OAOG, no nível Cia Fuz Bld?
Nenhuma
Uma vez
Duas vezes
Três vezes
Quatro vezes
Mais de quatro vezes
196
4) Caso tenha realizado adestramentos ou missões reais em ambiente urbano, no
contexto de OAOG, com o emprego da VBTP M113-BR, o senhor considerou
eficiente o emprego dessa viatura pela Cia Fuz Bld?
( ) Sim
( ) Não
( ) Parcialmente
5) Durante operações em ambiente urbano, no contexto de OAOG, em quais
situações e formas de emprego a VBTP M113-BR poderá ser empregada pela Cia
Fuz Bld? Assinale todas as opções pertinentes.
( ) Patrulhamento ostensivo;
( ) Transporte de pessoal;
( ) Transporte de material;
( ) Transporte de elementos das forças policiais;
( ) Transporte de elementos das forças especiais;
( ) Estabelecimentos de check points/ static points;
( ) Plataforma para difusão de informações;
( ) Viatura alto-falante;
( ) Plataforma para o emprego da metralhadora MAG;
( ) Plataforma para tiro de caçador.
( ) Outro:
6) Na sua opinião, o emprego da VBTP M113-BR em ambiente urbano, no contexto
de OAOG, causa efeito de dissuasão sobre elementos da força adversa (F Adv)?
( ) Sim
( ) Não
( ) Parcialmente
197
7) As operações em Ambiente Urbano no contexto de OAOG exigem algumas
adaptações na VBTP M113-BR. Em sua opinião, quais adaptações são necessárias
na viatura para seu emprego em operações em ambiente urbano no contexto de
OAOG? Assinale todas as opções pertinentes.
( ) Instalação de retrovisores e câmeras nos ângulos mortos para facilitar a direção
da viatura.
( ) Colocação de sacos de areia sobre o chassi para aumentar a proteção da
guarnição.
( ) Adaptação para empregar o Metralhadora MAG.
( ) Utilização de lagartas de borrachas para diminuição de dano no calçamento
urbano.
( ) Emprego do atirador com luneta ao invés do atirador da Metralhadora . 50.
( ) Emprego de plataforma no interior da Vtr para melhorar a observação e posição
de tiro dos militares.
( ) Outro:
8) A VBTP M113- BR é uma viatura sobre lagartas. Na sua opinião, esse tipo de
viatura blindada é apta para operar em ambiente urbano, no contexto de OAOG?
( ) Sim
( ) Não
( ) Parcialmente
9) Considerando a Operação São Francisco, os patrulhamentos empregando uma
VBTP M113-BR: em sua opinião qual seria o efetivo ideal de militares?
( ) Efetivo: 4 a 6 militares;
( ) Efetivo: 6 a 8 militares;
( ) Efetivo: 9 a 11 militares;
( ) Efetivo: Efetivo superior a 11 militares;
( ) Outro:
198
10) Considerando a Operação São Francisco, durante os patrulhamentos do Grupo
de Combate empregando a VBTP M113-BR: em sua opinião, qual seria a duração
ideal das patrulhas?
( ) Duração: 2 horas
( ) Duração: 3 horas
( ) Duração: 4 horas
( ) Duração: superior a 4 horas
( ) Outro:
11) Considerando a Operação São Francisco durante o estabelecimento de check
points: na sua opinião qual seria o efetivo ideal de militares empregado?
( ) Efetivo: 4 a 6 militares;
( ) Efetivo: 6 a 8 militares;
( ) Efetivo: 9 a 11 militares;
( ) Efetivo: Efetivo superior a 11 militares;
( ) Outro:
12) Considerando a Operação São Francisco durante o estabelecimento de check
points por um Grupo de Combate realizando patrulhamento: na sua opinião, qual
seria o tempo de duração ideal para os check points ?
( ) Duração: 30 minutos
( ) Duração: 1 hora
( ) Duração: 2 horas
( ) Duração: superior a 2 horas
( ) Outro:
13) Considerando as missões e operações de que o senhor já participou, a
blindagem da viatura foi satisfatória para operar em ambiente urbano no contexto de
OAOG?
( ) Sim
( ) Não
( ) Parcialmente
199
14) Os meios de comunicação disponíveis na VBTP M113-BR são eficientes para
comunicar-se internamente dentro da Cia Fuz Bld e com o Escalão superior, em
ambiente urbano no contexto de OAOG?
( ) Sim
( ) Não
( ) Parcialmente
15) Em complemento à pergunta anterior, marque quais equipamentos o senhor
empregou como meio de comunicação durante a Operação São Francisco? Assinale
todas as opções pertinentes.
( ) Rádio Falcon III
( ) Radio Motorola XTS
( ) Celular
( ) Aplicativos das redes sociais
( ) Sistema de Comando e Controle Pacificador
( ) Outro:
16) Na sua opinião, quais armamentos devem ser empregados pela Cia Fuz Bld
utilizando a VBTP M113-BR em ambiente urbano no contexto de OAOG? Assinale
todas opções pertinentes.
( ) Fuzil Para-Fal
( ) Fuzil I A2
( ) Pistola 9 mm
( ) Cl. 12 mm
( ) Metralhadora MAG
( ) Metralhadora .50
( ) Lançador de granada AM 600
( ) Granadas antidistúrbios
( ) Outro:
200
17) Durante as operações em ambiente urbano no contexto de OAOG, como
elementos das Forças Auxiliares/Policiais e elementos Forças Especiais/Comandos
utilizaram a VBTP M113-BR em conjunto com Cia Fuz Bld? Assinale todas as
opções pertinentes.
( ) Transporte para região de difícil acesso
( ) Uso da proteção blindada para ações diretas
( ) Condução de APOP preso/ capturado
( ) Transporte de material
( ) Ações de investimento
( ) Operações de cerco
( ) Outro:
18) Durante as operações em ambiente urbano no contexto de OAOG, houve a
necessidade de empregar equipamentos de visão noturna durante a utilização da
VBTP M113-BR?
( ) Sim
( ) Não
19) Durante as operações em ambiente urbano no contexto de OAOG, houve dano
colateral causado pelo emprego da VBTP M113-BR pela Cia Fuz Bld? Se sim,
marque quais foram os danos colaterais. Assinale todas as opções pertinentes.
( ) Sim
( ) Não
( ) Colisão com veículos (carros/motos) de civis;
( ) Danos no calçamento urbano;
( ) Colisão com as moradias.
( ) Outro:
201
20) Com relação ao emprego da VBTP M113-BR durante as operações em ambiente
urbano no contexto de OAOG, como foi realizada a manutenção da viatura pela Cia
Fuz Bld? Assinale as opções pertinentes.
( ) A manutenção era realizada pelos próprios motoristas da VBTP M113-BR;
( ) A manutenção era realizada pela seção de Manutenção do Blog que estava em
apoio direto;
( ) A manutenção era realizada por elementos do Pel Transporte da Cia C Ap.
( ) Outro:
21) Com relação à mobilidade em vias urbanas, como áreas favelizadas, a VBTP
M113-BR possui boa manobrabilidade?
( ) Sim
( ) Não
22) Ainda com relação à mobilidade em vias urbanas, como áreas favelizadas, qual
viatura blindada é mais adequada para operar em ambiente urbano no contexto de
OAOG?
( ) VBTP M113-BR
( ) VBTP- MR Guarani
( ) VBTP EE11 Urutu
( ) VBTP MOWAG Piranha III
23) Este espaço é reservado para que o Sr compartilhe suas experiências e
impressões que possam contribuir para a pesquisa. Sua contribuição será muito
importante para a conclusão do presente trabalho, que poderá ser um argumento
representativo para emprego da VTBP M113-BR em futuras OAU no contexto de
OAOG.
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202
MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO!
As informações prestadas serão de fundamental importância para a
conclusão desta pesquisa.
Sua opinião e suas experiências profissionais poderão contribuir para o
desenvolvimento da doutrina militar terrestre do Exército Brasileiro.
Desde já, coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos ou
sugestões.
Agradeço desde já a atenção dispensada, colocando-me à disposição:
telefone (0xx21) 98123-9405, e e-mail: aguilarbh@gmail.com
203
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
Mestrado em Ciências Militares
Posto – Nome Completo OM
Sou o Cap Inf DANIEL HENRIQUE AGUILAR PEREIRA, da turma de
formação de 2006 da AMAN, mestrando em Ciências Militares, ora cursando a
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).
Estou realizando uma pesquisa para solucionar o seguinte problema: em que
medida as possibilidades e limitações da VBTP M113-BR influenciam a adoção de
técnicas táticas e procedimentos (TTP) de uma Companhia de Fuzileiros Blindada
em Operações em Ambiente Urbano, no contexto de Operações de Apoio a Órgãos
Governamentais?
Gostaria que o senhor contribuísse na elaboração do meu trabalho,
respondendo à presente entrevista. Suas informações são de grande importância e
poderão servir de subsídios para o aprimoramento da doutrina militar terrestre do
Exército Brasileiro.
As Operações de Apoio a Órgãos Governamentais compreendem o apoio
prestado por elementos da F Ter, por meio da interação com outras agências,
definido em diploma legal, com a finalidade de conciliar interesses e coordenar
esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes com eficiência,
eficácia e efetividade e que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de
ações, dispersão de recursos e a divergência de soluções. No território nacional,
esse apoio é regulado por diretrizes baixadas em ato do Presidente da República.
Em face do exposto, faço os seguintes questionamentos:
204
1) Como o senhor avalia, quanto à relevância, o tema “emprego de blindados em
operações em ambiente urbano no contexto operações de apoio a órgãos
governamentais” nos dias de hoje?
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2) O senhor acredita que a doutrina sobre utilização da VBTP M113-BR das
Organizações Militares de Infantaria Blindada, no tocante ao emprego em ambiente
urbano no contexto de operações de apoio a órgãos governamentais, precisa de
atualização? Justifique.
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3) A organização militar do senhor já realizou missões reais ou adestramentos com a
VBTP M113-BR em operações em ambiente urbano no contexto de operações de
apoio a órgãos governamentais? Se sim, quais as formas de emprego do meio
blindado?
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4) O senhor acredita que a VBTP M113-BR está apta a realizar operações em
ambiente urbano no contexto operações de apoio a órgãos governamentais? Por
quais razões?
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5) Quais as técnicas táticas e procedimentos (TTP) com a VBTP M113-BR que o
senhor julga mais importantes nas operações em ambiente urbano, no contexto de
operações de apoio a órgãos governamentais?
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6) Com relação às operações de apoio a órgãos governamentais, de que maneira a
VBTP M113-BR pode ser empregada?
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7) Na sua experiência com Exércitos de outros países (SFC), teve a oportunidade de
vivenciar ou acompanhar a preparação e o emprego de blindados em operações em
ambiente urbano? Quais foram as principais lições aprendidas?
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8) Com relação ainda à pergunta anterior. O Exército desse país dispõe tecnologias
no emprego de blindados em ambiente urbano que não são empregadas pelo
Exército Brasileiro? Caso positivo, quais são?
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9) As impressões que o senhor possua sobre o emprego da VBTP M113-BR em
operações em ambiente urbano, no contexto de operações de apoio a órgãos
governamentais, são importantes no desenvolvimento deste trabalho. Caso o senhor
deseje, utilize o espaço abaixo para exposição de comentários acerca do tema
apresentado, ou mesmo para relatar alguma experiência profissional pessoal que
tenha relação com o tema proposto.
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MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO!
As informações prestadas serão de fundamental importância para a
conclusão desta pesquisa.
Sua opinião e suas experiências profissionais poderão contribuir para o
desenvolvimento da Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro.
Desde já, coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos ou
sugestões (telefone→ (0xx21) 98123-9405, e e-mail: aguilarbh@gmail.com).
Agradeço desde já a atenção dispensada,
208
APÊNDICE C-
PROPOSTA DE TÉCNICAS, TÁTICAS E PROCEDIMENTOS PARA UMA CIA FUZ BLD DOTADA DA VBTP M113-BR EM OPERAÇÕES
EM AMBIENTE URBANO, NO CONTEXTO DE OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS
209
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
PROPOSTA DE TÉCNICAS, TÁTICAS E PROCEDIMENTOS PARA UMA CIA FUZ BLD DOTADA DA VBTP M113-BR EM OPERAÇÕES
EM AMBIENTE URBANO, NO CONTEXTO DE OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS
2017
210
PROPOSTA DE TÉCNICAS, TÁTICAS E PROCEDIMENTOS PARA UMA CIA FUZ BLD DOTADA DA VBTP M113-BR EM OPERAÇÕES
EM AMBIENTE URBANO, NO CONTEXTO DE OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS
NOTA
A presente proposta foi elaborada pelo Cap Inf DANIEL HENRIQUE
AGUILAR PEREIRA e é fruto da Dissertação de Mestrado desenvolvida na Escola
de Aperfeiçoamento de Oficias, sob o título: A COMPANHIA DE FUZILEIROS
BLINDADA DOTADA DE VIATURA BLINDADA DE TRANSPORTE DE PESSOAL
M113-BR EM OPERAÇÕES EM AMBIENTE URBANO NO CONTEXTO DE
OPERAÇÕES DE APOIO A ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS: UMA PROPOSTA DE
TÉCNICAS, TÁTICAS E PROCEDIMENTOS.
A presente proposta trata do emprego da Viatura de Transporte de Pessoal
M113-BR em operações em ambiente urbano, no contexto de operações de apoio a
órgãos governamentais.
Solicita-se aos usuários desta proposta a apresentação de sugestões que
tenham por objetivo aperfeiçoá-la, ou que se destinem à supressão de eventuais
incorreções
211
1. Emprego da Metralhadora MAG 7,62 mm na torre da VBTP M113-BR
A VBTP M113-BR é dotada de uma metralhadora .50 M2 HB Browning. É um
armamento pesado, de calibre 12,7 mm, com alcance útil de 900m e de utilização de
2600 metros, utilizada como arma de ataque e defesa. É um armamento versátil,
sendo utilizado por vários exércitos no mundo como armamento coaxial ou
antiaéreo, equipando carros de combate (coaxial ou antiaérea), VBTP, Vtr,
aeronaves ou empregada em reparos terrestres para emprego terrestre ou
antiaéreo. Esta metralhadora é eficiente contra tropa de infantaria, veículos não
blindados ou blindados leves, embarcações, fortificações leves e aeronaves a baixa
altitude.
Face ao seu alto poder de penetração, é um armamento altamente letal, para
uso exclusivo em combate, não se adequando a OAU no contexto de OAOG. Nesse
contexto, é possível verificar a importância do estudo da adaptação de uma
metralhadora MAG 7,62 mm na torre da VBTP M-113 B/BR, pois possui um calibre
mais adequado para emprego em ações de menor intensidade, viabilizando o
emprego gradual da força, fundamento básico nesse tipo de operação. Cabe
ressaltar que mesmo este armamento deve ser utilizado segundo rigoroso
cumprimento das regras de engajamento, contra alvos claramente identificados e
avaliando os danos colaterais que possam advir de seu emprego, pois possui
elevada cadência de tiro e capacidade de penetração nas paredes das residências.
Assim, é viável a construção de um berço para Mtr MAG 7,62 mm na torre da
VBTP M113-BR, permitindo realizar o apoio de fogo da fração, com armamento de
mesmo calibre que o fuzil empregado pela tropa. Ressalta-se que, embora o M113
possua berço para Mtr .50 (orgânica do carro), não é possível o emprego de tal
armamento em OAU no contexto de OAOG.
De acordo com Brasil (2015e, p.15), existe um adaptador desenvolvido no
Parque Regional de Manutenção 5 (PqRMnt 5). Trata-se de uma alternativa
relativamente simples e de baixo custo, que permite a adaptação da Mtr 7.62 mm no
berço do reparo para Mtr .50 já existente na torre da VBTP M113-BR. Consiste em
um suporte metálico de duralumínio com orifícios para fixação no berço do reparo da
torre e orifícios para fixação da metralhadora MAG 7,62 mm.
212
Possui baixo custo, uma vez que é confeccionado com os meios orgânicos de
usinagem do PqRMnt 5, sendo terceirizado apenas o processo de anodização, que
tem o custo de aproximadamente R$ 120,00 (cento e vinte reais) por peça. É um
sistema de rápida aplicação nas viaturas, não requerendo especialização do pessoal
envolvido na instalação.
FIGURA 30 - Adaptador para instalação da Metralhador MAG Fonte: Brasil (2015e)
2. Militar dotado de fuzil com luneta na torre da VBTP M113-BR
Dentre as particularidades de emprego dos blindados em ambiente urbano,
uma que afeta diretamente sua eficiência é a escolha correta do tipo de munição a
ser utilizada. No caso da VBTP M113-BR, seu armamento orgânico é a metralhadora
.50; entretanto, em OAU no contexto de OAOG, esse armamento geralmente não é
empregado, para não causar grandes danos colaterais e, em virtude das regras de
engajamento, para evitar uso desproporcional da força.
Dessa forma, é viável o emprego de militar dotado de fuzil com luneta na torre
da VBTP M113-BR, a fim de melhor aproveitar a referida posição, no tocante à
capacidade de observação e precisão no tiro. Ressalta-se que tal medida não
impede que a mencionada torre também seja mobiliada com arma coletiva,
aumentando, assim, o rol de capacidades nas operações em ambiente urbano.
3. Instalação de assoalhos no interior da VBTP M113-BR
É pertinente que seja colocado um assoalho, tipo pallet no piso interno da
VBTP M113-BR, com a finalidade de proporcionar ao atirador uma posição de tiro
213
mais estável durante o deslocamento da patrulha, uma vez que a baixa estatura do
militar brasileiro dificulta a tomada de uma posição de tiro na viatura.
4. Transporte de escada para acesso a pontos dominantes
É viável que cada fração transporte na VBTP M113-BR uma escada dobrável
de alumínio de aproximadamente dois metros, para facilitar o acesso a pontos
dominantes (locais de comandamento) sobre as ações da tropa, permitindo assim a
observação e melhor consciência situacional para o comandante da fração.
5. Torre de proteção balística para o motorista da VBTP M113-BR
É viável a adaptação da torre de proteção balística para o motorista de VBTP
e para o atirador da metralhadora, tal qual o modelo usado no Urutu, garantindo a
condução da viatura com total aproveitamento e proteção, face às ameaças
apresentadas no ambiente urbano, uma vez que na maioria das vezes o motorista é
obrigado a conduzir a viatura desescotilhado. Na figura a seguir, é possível verificar
a cápsula de proteção instalada sobre a escotilha do motorista e da torre blindada
instalada na escotilha do atirador da MAG, na VBTP EE-11 Urutu utilizada no Haiti.
FIGURA 31 - Proteção balística para Motorista e para o atirador Fonte: Brasil (2015c)
214
6. Emprego de retrovisores para auxiliar na condução da VBTP M113-BR
É indispensável a instalação de retrovisores para auxiliar na condução da
VBTP M113-BR. Trata-se de um item simples, de fácil aquisição e baixo custo, mas
que em muito auxiliaria na redução dos pontos cegos da VBTP. Na escolha do local
para instalação dos espelhos, cabe ressaltar que os mesmos devem servir quando o
cabo motorista estiver escotilhado, e também quando não estiver, e que a sua
posição, aliada ao seu tamanho, não deve criar pontos cegos à visão do terreno à
frente da VBTP. Na figura abaixo, é possível verificar a instalação de retrovisores de
moto na VBTP M113-BR.
FIGURA 32 – Instalação retrovisores de moto na VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
7. Substituição das lagartas metálicas por lagartas de borracha
Originalmente dotado de um sistema de lagartas do tipo trilho de aço,
composto por patins individuais de ferro, almofadas fixas e amovíveis, buchas e
pinos-guias, a VBTP M113-BR demonstrou ser adequada em muitos aspectos às
necessidades impostas em OAU no contexto de OAOG. Apresentou, contudo, como
já mencionado, problemas quanto aos níveis altos de ruídos, e sobretudo grande
danificação das ruas, meios-fios e acessos nas comunidades nas quais foram
empregadas.
Junto ao processo de modernização desta viatura, está sendo implementada
a aplicação da lagarta de borracha, que é fabricada pela empresa canadense Soucy-
Track. Tal sistema vem ao encontro das sugestões apresentadas no relatório da
Operação São Francisco. As lagartas de borracha do tipo Rubber Track Systems
215
buscam aliar tecnologia, durabilidade e economia, aumentando a aceleração em
estradas pavimentadas e proporcionando a ausência da necessidade de
manutenção, além de outras características, como redução de peso, maior
durabilidade e menor trepidação, além de reduzir o dano colateral no calçamento
urbano. Assim, para futuras OAU no contexto de OAOG, aconselha-se substituir a
lagarta metálica pela lagarta de borracha.
FIGURA 33 - Lagarta de borracha instalada na VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c)
8. Utilização de sacos de areia sobre o chassi da VBTP M113-BR
É aconselhável colocar sacos de areia nas escotilhas, pois isso possibilita
maior proteção para os atiradores; além disso, permite um local de apoio para o
armamento proporcionando uma posição mais estável para a execução de algum
disparo, essas TTP são de fácil adoção e custo baixo. Na figura abaixo, verifica-se a
utilização de sacos de areia sobre o chassi da VBTP M113-BR.
FIGURA 34 – Destacamento de Forças Especiais empregando a VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
216
9. Embarque da viatura em segurança
É interessante que, quando ocorrer o embarque ou desembarque, a rampa ou
porta dessa viatura esteja voltada para alguma parede ou anteparo, a fim de
possibilitar maior segurança no embarque. Isso evitará que, caso ocorra algum
disparo por parte de algum APOP na direção da viatura, a munição não entre nesse
veículo e cause baixas nos ocupantes que estão dentro do blindado.
10. Retirada da banda lateral de borracha da VBTP M113-BR
Esse procedimento visa ganhar espaço nas vielas estreitas e evitar danificar o
material. De fácil adoção a banda lateral pode ser removida e guardada para ser
empregada em atividades de campo.
FIGURA 35 – Banda de borracha lateral da VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
217
FIGURA 36 – Viatura sem a banda de borracha lateral da VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
11. Emprego do fuzil Para-Fal de cano reduzido
É conveniente a utilização, pela tropa blindada, do fuzil Para-FAL de cano
reduzido, devido ao seu calibre 7,62 mm que possibilita poder de combate às
frações. Por suas dimensões, facilita o embarque e desembarque da VBTP M113-
BR, sendo possível rebater a coronha, ganhando espaço no interior da viatura
quando a tropa estiver embarcada. Na figura abaixo, pode-se verificar a diferença
entre as dimensões de um fuzil FAL e um Para-FAL de cano reduzido, que
proporciona maior mobilidade aos fuzileiros.
FIGURA 37 – Diferença entre um fuzil FAL e um Para-FAL cano reduzido Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
218
12. Empregar o Pel Fuz Bld com 4 (quatro) grupos de combate
Assim como já foi empregado por alguns contingentes na missão de Paz do
Haiti, é interessante que o Pel Fuz Bld seja constituído por quatro GC e tenha
também quatro VBTP M113-BR, aumentando o poder de combate da fração e a
flexibilidade do Cmt Pel. Ao invés do grupo de apoio previsto no QCP, a ativação do
4º GC permite que seja empregado o princípio da massa e possibilita maior rodízio
entre as frações.
13. Realização de pistas com os motoristas em ambiente urbano
Com a finalidade de melhorar a condução dos cabos motoristas, é necessário
a realização de pistas de treinamento em ambiente urbano, com ênfase da manobra
de pivoteamento, uma vez que os motoristas são acostumados com a direção em
ambiente de campos de instrução em área rural. Estas TTP visam aproximar os
motoristas do cenário que será encontrado em OAU.
14. Emprego do Pel Fuz Bld em conjunto com a Vtr ¾ ton Marruá
É de grande valia cada Pel Fuz Bld receber uma Vtr Marruá ¾ ton em OAU no
contexto de OAOG. Tal procedimento é interessante pela necessidade de cada
fração valor Pel possuir uma viatura leve em condições de evacuar um ferido para
um hospital, um preso para a delegacia ou outros tipos de transportes que
necessitem maior velocidade. E ainda, para chegar a pontos fora da área de
operações em que não é conveniente a viatura blindada transitar, como um hospital.
Nesse sentido, o Cmt Pel deve designar um militar como chefe dessa viatura,
encarregado de realizar as ações citadas, permitindo que os GC Bld permaneçam
operando na Zona de Ação.
219
FIGURA 38 – Viatura Marruá sendo empregada em conjunto com a VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
15. Patrulhamento misto com apoio mútuo
É conveniente a realização do patrulhamento ostensivo misto, com parte do
GC a pé e parte embarcada, cerca de dois ou três militares, com apoio mútuo de
aproximadamente 300 metros da viatura. Esse procedimento é interessante pela
necessidade de que se deixe pessoal observando a movimentação nas lajes e
apoiando pelo fogo a tropa que progride desembarcada a pé. Permite que se
estabeleçam elos com a população local e ao mesmo tempo oferece proteção a
tropa pé, que pode rapidamente utilizar a proteção blindada caso ocorra um
confronto com os APOP, devido à proximidade da viatura.
220
FIGURA 39 - Realização de Patrulhamento misto com a VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c)
16. Plataforma blindada usada para disseminar o disque-informação
A VBTP M113-BR pode ser empregada para disseminar informações para a
população local, que poderá fazer denúncias do crime organizado da área de
operações. Normalmente a população tem receio de fazer denúncias, com medo das
facções criminosas. Dessa forma, a utilização do disque-informação é viável para
levantar dados para futuras operações, e a colocação de uma faixa na viatura
permitiria estabelecer ligações com a população. Assim como o disque-informação,
poderão ser passadas outras mensagens de interesse da Força Terrestre para os
habitantes da localidade. Na figura abaixo, é possível verificar o emprego da VBTP
M113-BR com essa finalidade.
221
FIGURA 40 – VBTP sendo empregada como plataforma para difusão de informações à população Fonte: Brasil (2015c)
17. Emprego de armamento letal e armamento não letal
É conveniente para as frações que empregarem a VBTP M113-BR em OAU
no contexto de OAOG o uso de armamento letal, como pistolas 9 mm, fuzis 7,62mm
e 5,56 mm, e o emprego em conjunto de armamento não letal, como a espingarda
calibre 12 com munição de borracha, granadas antidistúrbios, spray de pimenta e
lançadores de granadas lacrimogêneas. Essas TTP visam atender as regras de
engajamento previstas nesse tipo de operação. Com relação ao fuzil, é viável nas
frações haver militares tanto com 5,56mm e indivíduos com o 7,62mm, haja vista
que durante a pesquisa foi verificado que o calibre 7,62 é temido pelas facções
criminosas presentes nesse cenário.
18. Instruções para Forças Policiais e o DOFEsp
As Forças Policiais, os militares do DOFEsp e outros militares que não
fizerem parte da Cia Fuz Bld deverão receber instruções da guarnição da VBTP
M113-BR, sobre as limitações e possibilidades dessa viatura no que tange à parte
de embarque e desembarque. Além disso, deverão ser padronizados os
procedimentos na parte de ocupação das escotilhas e torre, proporcionando, de
forma sistemática, a divisão da ocupação de cada militar na escotilha. Essas TTP
visam que todos os indivíduos tenham conhecimentos básicos para o emprego da
viatura.
222
19. Uso de capacete com headset
É de grande valia para as frações que operam com a VBTP M113-BR o uso
de capacetes balísticos em conjunto com headset, visando otimizar as
comunicações internas da fração, com a tropa desembarcada e com o escalão
superior. Essas TTP visam proporcionar segurança à tropa blindada durante o
estabelecimento das comunicações. Na figura a seguir, é possível verificar um
exemplo de um militar empregando um modelo de capacete com uso do headset.
FIGURA 41 - Emprego de capacete balístico com headset Fonte: Brasil (2015c)
FIGURA 42 – Modelo de capacete balístico empregado pelo Destacamento de Forças Especiais Fonte: Brasil (2015c) Relatório da Força de Pacificação V
223
20. Utilização do sistema de câmeras
É recomendável a instalação de um sistema de câmeras na VBTP M113-BR.
Com o motorista escotilhado, os ângulos mortos criados pelos periscópios M 17
podem ser atenuados através da instalação de câmeras de ré, que forneceriam
assistência nas manobras.
A utilização de câmeras na viatura visa diminuir a incidência de danos
colaterais à população, nos pequenos incidentes que acontecem em OAU no
contexto de OAOG, tendo em vista a redução do campo visual criada pelo periscópio
M 17 quando o motorista está escotilhado.
Além da função principal, as câmeras se prestariam, também, ao registro de
imagens das operações, servindo tanto aos levantamentos de inteligência quanto
para resguardar a tropa de acusações não verídicas. Na figura a seguir, é possível
verificar um protótipo em que foi instalada uma câmera de ré na VBTP M113-BR.
FIGURA 43 - Instalação de câmera de ré na VBTP M113-BR Fonte: Brasil (2015c)
21. Instalação de lâmina frontal para remoção de obstáculos
É recomendável a instalação de uma lâmina frontal para desobstrução de vias
urbanas em OAU no contexto de OAOG, uma vez que os APOP utilizam diversos
obstáculos para bloquear a passagem da tropa blindada. Na figura seguir, verifica-se
224
a VBTP EE-11 Urutu utilizada no Haiti com a lâmina instalada à frente da VBTP.
Dessa maneira, sugere-se tal adaptação na VBTP M113-BR.
FIGURA 44 - Instalação de lâmina frontal para remoção de obstáculos Fonte: Brasil (2015C)
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