cap ii - revisão da literatura
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7/23/2019 Cap II - Reviso Da Literatura
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CAPTULO II
REVISO DA LITERATURA
1) ACTIVIDADE FSICA E DISPNDIO ENERGTICO
A actividade fsica foi definida por Carpensen et al. (1985, citados em Kriska
e Carpensen, 1997) como qualquer movimento do corpo produzido pelos msculos
esquelticos que resulta em dispndio de energia. De acordo com o American
College of Sports Medicine (1995), a actividade fsica apresenta 4 dimenses
bsicas, normalmente referidas como FITT. A frequncia expressa como a
quantidade de sesses dirias ou semanais; a intensidadeque se refere ao dispndio
energtico, corrigido para o peso corporal, expresso de variadas formas; o tempoque
diz respeito durao da actividade; e o tipo de actividade enquanto descritos
qualitativo (Bouchard, 1995).
Qualquer movimento do corpo humano gerado pela capacidade do
organismo em extrair energia dos nutrientes alimentares e transferi-la para os
elementos contrcteis dos msculos esquelticos. O organismo funciona de acordo
com o princpio da conservao da energia, ou seja, a energia dos nutrientes
conservada como energia qumica e depois transformada em energia mecnica pela
aco sistema msculo-esqueltico e finalmente em energia trmica (McArdle, Katch
& Katch, 1996).
O dispndio de energia das diferentes actividades pode ser igualmente
expresso em termos de litros de oxignio consumidos por minuto, ou mililitros de
oxignio consumidos, por kg de massa corporal, por minuto, utilizando-se
normalmente o MET. O MET, designado equivalente metablico de repouso,
definido como um mltiplo da taxa metablica basal e equivale ao consumo de
oxignio em repouso, que para homens e mulheres comuns, de aproximadamente250 e 200 ml/min respectivamente. Para uma classificao mais precisa o MET pode
ser enunciado em termos de consumo de oxignio por unidade de massa corporal,
sendo um MET igual a aproximadamente 3, 5 ml.kg. min (McArdle, Katch &
Katch, 1996).
1.1Avaliao da actividade fsica
A maioria dos autores revistos na literatura classifica a actividade fsica comoum comportamento muito complexo. Desta forma, a sua medio tende a ser
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complicada. Definida como comportamento, a avaliao da actividade fsica vai
requerer a recolha de dados num ambiente natural, ou seja, avaliar o indivduo nas
actividades que desempenha durante o dia, sem grandes influncias no seu
comportamento habitual (Freedson & Melanson, 1996).
Segundo vrios autores (Bar-or, 1993; Grtebeck and Montoye, 1989 citados
em Armstrong, 1998), a tcnica utilizada para avaliar a actividade fsica deve ser
socialmente aceite, no sobrecarregar o jovem com equipamento e deve influenciar
ao mnimo os padres de actividade fsica normal. Consoante o mtodo utilizado
existem vrias unidades de medida para expressar a actividade fsica (Freedson &
Melanson, 1996). Segundo Montoye et al. (1996) a actividade fsica pode ser
expressa em termos de quantidade de trabalho realizado (Watts), tempo ou perodo
de actividade (horas e minutos), unidades de movimento (contagens) ou ainda a
partir de um score numrico derivado das respostas a um questionrio. Freedson e
Melanson (1996) referem ainda outras unidades de medida: dispndio calrico por
unidade de tempo, equivalente metablico (METS), minutos passados em actividade
fsica moderada, vigorosa, muito vigorosa ou em actividade total, frequncia de
actividade aerbia; comparao com indivduos do mesmo sexo e idade,
classificaes atravs das respostas a um questionrio. O dispndio calrico por
unidade de tempo, contagens de movimentos e ndices de frequncia cardaca so
utilizados quando se utilizam sensores de movimento e as medies fisiolgicas.
1.1.1Mtodos de avaliao da actividade fsica
Segundo Cachaputz et al. (1999) possvel distinguir na literatura dois
grandes grupos de mtodos de avaliao da actividade fsica: mtodos laboratoriais e
mtodos de terreno. Os mtodos laboratoriais requerem normalmente equipamentos
sofisticados e dispendiosos, por isso so de difcil aplicao. Contudo, estes mtodosso bastante teis para proceder validao dos mtodos de terreno. Estes englobam
os mtodos mais facilmente aplicveis no contexto situacional e em estudos com
grandes amostras. Todavia, no contexto da actividade fsica, os mtodos de terreno
parecem dar uma mais real imagem do comportamento habitual dos sujeitos.
Os diferentes mtodos podem ainda ser classificados em directos ou
indirectos. Os primeiros permitem aceder automaticamente ao dispndio energtico
da actividade fsica; os segundos utilizam apenas indicadores a partir dos quais seestabelecem relaes e se calcula o dispndio calrico.
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1.1.1.1- Medio da frequncia cardaca
De todas as variveis fisiolgicas a frequncia cardaca a mais fcil de
registrar com os menores incmodos para o sujeito. Como tal, tem vindo a obter
popularidade como mtodo de aceder actividade fsica diria. Os avanos no campo
microeletrnico tornou possvel detectar e registrar batimentos cardacos durante
longos perodos de tempo, usando equipamentos de pequena dimenso (Gleeson &
Lambert, 1998).
Assim, monitorizar a frequncia cardaca tornou-se um dos mtodos mais
usados quando se trata de realizar estudos com crianas e adolescentes. Um dos
maiores problemas deste mtodo relaciona-se com a baixa frequncia cardaca
durante actividades normais que pode ser afectada por estmulos emocionas ou
pequenos movimentos que provoquem alteraes no consumo de O2. A relao entre
a frequncia cardaca e o VO2depende do tipo de exerccio (Armstrong, 1990).
De facto, de referir que apesar de ser uma boa tcnica de medio da
frequncia cardaca, para estimar a intensidade relativa do exerccio e o dispndio de
energia ser prtica, tem as suas limitaes. Outros factores, para alm do consumo de
oxignio, podem influenciar a frequncia cardaca durante o exerccio. Estes factores
incluem a temperatura, o stress emocional, a postura, a ingesto de comida, os grupos
musculares recrutados para a actividade, o acto do exerccio ser contnuo e
descontnuo e o facto de ser um exerccio esttico ou dinmico (Gleeson & Lambert,
1998).
A medio da frequncia cardaca foi estabelecida h muito tempo, tanto
como um instrumento clnico, bem como um indicador da severidade do stress
fisiolgico e psicolgico. Desde que se definiu que durante o exerccio submaximal,
a frequncia cardaca estaria linearmente relacionada ao consumo de O2 e,
consequentemente, com o dispndio de energia, que a monitorizao da frequnciacardaca, ao longo de um perodo prologado de tempo, pode providenciar informao
muito til sobre o nvel e padro da actividade fsica da vida diria e o custo
energtico associado.
Alguns dos investigadores reportaram o tempo total ou % de tempo em que
os sujeitos se mantiveram com a frequncia cardaca acima de certos limites durante
o perodo de estudo (Seliger et al, 1974; Gilliam et al., 1981 citados em Amstrong,
1998). Outros argumentaram que juntamente com a totalizao do tempo acima doslimites determinados, o nmero e durao dos perodos mantidos abaixo desses
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limites podem fornecer informaes mais completas acerca dos padres de
actividade fsica (Amstrong, 1998). Com este tipo de anlise e monitorizao da
frequncia cardaca fornece um meio valioso de distinguir de actividade fsica e
providencia a indicao da intensidade, durao e frequncia da actividade fsica
(Freedson & Melanson, 1996).
Importa referir os limites indicados na literatura a partir dos quais se define a
intensidade da actividade fsica. Segundo Amstrong (1998) a actividade fsica
moderada pode ser definida por valores acima dos 140 bpm e a actividade fsica
vigorosa acima dos 160 bpm.
Outros autores preferem definir a intensidade a partir de frequncias
cardacas equivalentes a uma certa % do VO2mx. Sendo assim, define-se como
actividade fsica moderada aquela em que se atingem frequncias cardacas
equivalentes a 50% do VO2mx e actividade fsica vigorosa como aquela em que se
atingem frequncias cardacas equivalentes a 70% do VO2mx.
1.1.1.2 - Questionrios auto-administrativos
Os questionrios so tcnicas de medio da actividade fsica mais
utilizados. A facilidade de administrao, os baixos custos econmicos, temporais e a
sua capacidade para caracterizar a actividade constituem as principais vantagens
deste mtodo. So geralmente utilizados em estudos que impliquem grandes
amostras onde a utilizao de tcnicas mais precisas no possvel (Freedson &
Melanson, 1994).
Numerosos questionrios tm sido desenvolvidos, pois, normalmente, os
investigadores constroem o seu prprio questionrio de acordo com os seus prprios
objectivos de estudo. O detalhe da informao obtida de acordo com este tipo de
instrumento relacionada com a intensidade, frequncia, durao e tipo dasactividades varia consoante o instrumento utilizado (Sallis 1991, citado em Freedson
& Melanson, 1994). Torna-se assim importante que um investigador considere
cuidadosamente os objectivos de estudo, para determinar o tipo de questionrio
apropriado.
Deste modo, a idade dos sujeitos deve ser tida em conta, pois as crianas e os
jovens tm dificuldade em recordar as actividades realizadas ou em estimar
correctamente o tempo dispendido em cada uma delas. Segundo Armstron et al.(1990), os questionrios auto-administrativos sobre a intensidade e durao da
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actividade fsica aplicados a acrianas, so de algum modo problemticos pois os
jovens tm menos conscincia do tempo que os adultos e tendem a sobrevalorizar o
tempo realmente dispendido em actividade.
1.1.1.3 - Monitorizao do treino
1.1.1.3.1Pedmetros
Um pedmetro um exemplo de um dispositivo mecnico que mede a
distncia percorrida (Fredsson e Melanson, 1994). Estes instrumentos so
desenhados especificamente para avaliar o comportamento do indivduo na marcha,
no devendo ser utilizado quando se pretende medir outro tipo de actividade ou o
dispndio total de energia (Montoye et al, 1996). As limitaes deste tipo de monitor
incluem erros na taxa de passos e na distncia percorrida que resulta da variabilidade
individual no tamanho dos passos e na fora de impacto no solo.
1.1.1.3.2- Acelermetros
Os acelermetros tm sido desenvolvidos no sentido de colmatar as lacunas
dos pedmetros. Este instrumento no se baseia apenas no impacto no solo,
consideram tambm o deslocamento do centro de gravidade (Cachapuz et al. (1999).
Os resultados obtidos atravs dos acelermetros so teis para estimar o total de
energia dispendida.
Podemos distinguir trs tipos de acelermetros que tm vindo a ser testados
em numeroso estudos, tanto laboratoriais como de terreno: Caltrac, CSA e Tritrac.
2) ACTIVIDADE FSICA E SADE
O conceito de sade definido pela Organizao Mundial de Sade (O.M.S.)
refere-se no s ausncia de doena, como tambm ao bem-estar fsico, mental,social e manuteno de um estilo de vida saudvel.
Bouchard (1995) refere que o conceito de sade continua a ser difcil de
definir, contudo indica que pode ser definida como uma condio humana de
dimenso fsica, social e psicolgica, caracterizando-se qualquer uma destas
dimenses por um plo positivo e outro negativo. A sade positiva est associada
capacidade de gozar a vida e enfrentar desafios, no se tratando apenas de uma
ausncia de doena. A sade negativa est associada ao estado mrbido e em ltimainstncia morte prematura.
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A actividade fsica definida como qualquer movimento do corpo produzido
pelos msculos esquelticos que resulta em dispndio de energia. Desta forma, a
actividade fsica regular importante na preveno de diversas doenas e representa
um factor fundamental para manuteno ou reduo do peso corporal. Neste
contexto, qualquer tipo de actividade fsica desportos, exerccios, tarefas
domsticas, caminhar para o trabalho e a prpria actividade laboral pode ser til,
pois promove um gasto calrico determinado. A actividade fsica regular, combinada
com uma boa alimentao, representa a forma mais eficiente e saudvel para manter
ou reduzir definitivamente o peso corporal. preciso que estes comportamentos
sejam includos no estilo de vida das pessoas e no apenas por um determinado
perodo (Nahas, 1999).
Os exerccios fsicos, alm de mais, podem modificar a composio corporal,
influenciando o processo metablico de transporte, utilizao e armazenamento de
substncias energticas. As modificaes estruturais mais comuns decorrentes da
prtica regular de exerccios incluem um aumento na densidade ssea, da massa
muscular e reduo dos depsitos de gordura. Logicamente, o tipo e o grau de
modificao dependero do tipo, intensidade, durao e frequncia dos exerccios,
alm das caractersticas individuais (Nahas, 1999).
Actualmente est bem documentado que a actividade fsica permite melhorar
a qualidade de vida dos indivduos de vrias formas (Centers for Disease Control and
Prevention, 1996). Muitos dos benefcios que so reconhecidos so indicados na
tabela II.1. No que diz respeito aos benefcios fsicos refira-se: o aumento da reserva
de esteroides anabolizantes com o seu efeito protector na adaptao ao stress; o alvio
da tenso muscular; a reduo da dor e estados alterados de conscincia percebido
como estar bem fisicamente, ou estar em forma, relacionados com uma maior
produo de neurotransmissores e uma maior libertao de endorfinas (estes factoresesto tambm relacionados com o efeito benfico que o exerccio tem sobre as
perturbaes do humor/depresso). No que diz respeito aos factores psicolgicos
salienta-se: uma percepo de sentir-se bem; uma maior percepo de eficcia e
controle pessoal; o perodo de actividade que possibilita um tempo de afastamento e
de distraco face aos problemas do quotidiano; o reforo social (reconhecimento ou
incentivo dos outros, companhia para as actividades, ocupao do tempo livre em
grupo). O exerccio moderado reduz a ansiedade, tem efeitos benficos sobre as
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perturbaes do humor (depresses), reduz os nveis de stress e provoca melhorias
emocionais (Matos et al, 2004).
Segundo Berger e McInman (1993) o exerccio tem de respeitar determinados
requisitos de modo a obter benefcios psicolgicos, nomeadamente: tem de originar
divertimento e prazer; as caractersticas do exerccio tm de obedecer a exigncias
como a ausncia de competio interpessoal; as caractersticas da prtica devero ser
preferencialmente de intensidade moderada, 20 a 30 minutos de durao, e estar
regularmente includas no horrio semanal, realizadas em tempo e espao
circunscrito e previsvel. Os mesmos autores, preconizam ainda os seguintes
aspectos: a incluso dos indivduos no processo de deciso sobre as caractersticas da
sua prtica; a adopo de rotinas flexveis; o estabelecimento de objectivos realistas;
o no enfatizar aspectos competitivos; o providenciar orientaes para a realizao e
correco; o incluir elementos do universo relacional relevantes; o cultivar relaes
pessoais; a utilizao de pequenos grupos; e, por ltimo, assegurar qualidades de
liderana adequadas, por parte do monitor. Estas esto de acordo com as
preconizadas pelo ACSM.
Tabela II.1 Benefciosda actividade fsica (CDC, 1996)
1) Mortalidade:Nveis mais elevados de Actividade Fsica regular esto associados a menores taxas
de mortalidade nos adultos jovens e idosos. Pessoas com uma AF moderada e regular tm uma taxa de
mortalidade inferior s pessoas mais sedentrias.
2) Doenas Cardiovasculares:A AF regular ou a aptido cardiorespiratria decrescem o risco de
morte por doena cardiovascular em geral, ou por doena coronria em particular. Presentemente no
existe evidncia conclusiva relativamente relao entre a AF e os acidentes vasculares cerebrais. O
decrscimo do risco de doena coronria atribudo AF regular similar aos factores do estilo de
vida, tal como o absentismo do tabagismo. A AF regular previne ou atrasa o desenvolvimento da
hipertenso, e o exerccio reduz a presso arterial em pessoas hipertensas.
3) Cancro: A AF regular est associada ao decrscimo do risco do cancro do clon. No existe
qualquer associao entre a AF e o cancro do recto. A evidncia ainda circunstancial para se
concluir acerca da associao entre a AF e os cancros do endomtrio ovrio ou testculo. Embora
existam muitos estudos, a evidncia cientfica tambm inconsistente para se concluir acerca de
cancros da mama e prstata.
4) Diabetes insulino-independentes: A AF regular reduz o risco de desenvolvimento de diabetes
insulinoindependentes.
5) Osteoartrose: A AF regular necessria para manter a fora muscular e a estrutura e funo
articular. Com a intensidade de exerccio recomendada para a sade, a AF no est associada a
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alteraes disfuncionais das articulaes ou o desenvolvimento da osteoartrose. A competio atltica
pode estar associada ao desenvolvimento da osteoartrose com o avano da idade. Esta AF intensa
pode causar algumas leses.
6) Osteoporose:A AF suportando o peso do corpo essencial para o normal desenvolvimento do
esqueleto na infncia e adolescncia, para a aquisio e manuteno de um valor elevado de massassea nos jovens adultos. No est definitivamente esclarecido se a AF aerbica sem carga ou a AF
com cargas adicionais (treino de fora) podem reduzir a acelerao de perda de massa ssea de
mulheres ps-menopausicas na ausncia de terapia hormonal de substituio.
7) Quedas:Existe alguma evidncia que o treino de fora e outras formas de exerccio preservam a
capacidade para as pessoas idosas manterem uma AF independente e reduzirem o risco de quedas.
8) Obesidade:Nveis diminutos de AF originando um menor nmero de calorias dispendidas de que
ingeridas, contribuem para o aumento da prevalncia da obesidade.
A AF pode influenciar favoravelmente a topografia da distribuio do tecido adiposo.
9) Sade mental:A AF parece aliviar os sintomas de ansiedade e depresso e tende a melhorar o
estado mental. A AF regular poder reduzir o risco de depresso, embora mais investigaes seja
necessria para documentar esta hiptese.
10) Qualidade de vida associada sade: A AF parece melhorar a qualidade de vida associada
sade atravs do bem-estar psicolgico e atravs da melhoria da disponibilidade fsica em pessoas
com debilidade funcional.
11) Efeitos adversos:Muitas das leses msculo-esquelticas podem ser prevenidas atravs de uma
progressiva programao do exerccio evitando excessiva intensidade e durao do exerccio. Alguns
episdios cardiovasculares podem acontecer durante o exerccio, embora seja reconhecido que pessoascom uma AF regular tenham um menor risco de mortalidade cardiovascular.
3) FACTORES DE RISCO PARA A SADE E PRESCRIO DO
EXERCCIO
3.1) Hipertenso arterial
Segundo ASCM (1985) a presso arterial determinada pelo dbito cardaco
e resistncia perifrica total (RPT). A prevalncia de hipertenso aumenta
agudamente com a idade sendo mais elevada em homens que em mulheres, e, em
negros comparados com brancos. Esta pode ser categorizada como primria e
secundria (causada por distrbios endcrinos ou estruturas identificveis) (Nunes,
1999).
Um dos principais indicadores do risco de cardiopatia , indiscutivelmente, a
presso arterial elevada. O aumento da resistncia das artrias e, portanto, da presso
arterial, ocorre de uma forma mais comum, em situaes em que o complexo sistema
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que regula o estado de concentrao da camada muscular, no funciona
naturalmente. Este vai diminuindo o espao til por onde o sangue circula,
oferecendo assim, uma maior resistncia sua passagem. Este tipo de hipertenso
arterial, como dizem os mdicos, chamado de essencial, e o tipo de hipertenso
mais comumcerca de 90% de todos os casos.
Tende a existir uma relao inversa entre o valor da tenso arterial e a prtica
de uma actividade fsica regular. A hipertenso arterial mais frequente nas pessoas
sedentrias que nos fisicamente activos (Nunes, 1999).
Relativamente prescrio do exerccio, a Organizao Mundial de Sade
aconselha como tipo de actividade prtica de exerccios aerbicos moderados. A
Liga Mundial contra Hipertenso recomenda tambm actividade fsica aerbica,
sugerindo que se evitem os esforos estticos (pesos e halteres). Sugerem a marcha, o
jogging, a corrida prolongada, a nataoe o passeio de bicicleta como excelentes
formas de actividade. A frequncia e a intensidade devem ser adaptadas
individualmente, segundo as caractersticas de cada pessoa.
No que diz respeito aos graus de hipertenso, considera-se que o exerccio
fsico normal, sem exageros, est indicado nos hipertensos ligeiros e moderados. Na
hipertenso grave, sobretudo se existem repercusses sobre os rgos-alvo, a
actividade fsica deve ser suspensa at ao posterior controlo da tenso (ACSM,
1995).
3.2) Doena vascular perifrica
A doena vascular perifrica (DVP) uma expresso genrica que inclui
insuficincias vasculares como a arteriosclerose, estenose arterial, fenmeno de
Raynaud e doena de Burger. A arteriosclerose perifrica comum em idosos e, em
geral, encontra-se associada a hipertenso e hiperlipidmia. A DVP frequentementeobservada em pacientes com doena da artria coronria e doena cerebrovascular, e
tambm pode ser vista em pacientes com diabetes melito.
Pacientes com DVP apresentam dor isqumica (claudicao) durante a
actividade fsica como resultado de uma incompatibilidade entre suprimento de
oxignio muscular activo e demanda. As manifestaes dos sintomas podem ser
descritas como queimaduras, insensibilidade, aflio, tenso ou cibra. A dor
geralmente ocorre nos gmeos, mas pode comear na regio da ndega e irradiar-se
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para baixo na perna. Os sintomas desaparecem tipicamente com a interrupo do
exerccio.
Na prescrio do exerccio as actividades de levantamento de peso so
preferveis, mas actividades sem levantamento de peso podem permitir uma durao
e intensidade de exerccio maiores. Exerccio dirio at dor mxima tolervel com
perodos de repouso intermitentes (ACSM, 1995).
3.3) Diabetes
Diabetes Melito uma doena associada a problemas no controle da glicose
sangunea, resultando primariamente em hiperglicmia. Existem dois tipos principais
de diabetes melito: Diabetes melito dependente de insulina (tipo I ou diabetes de
incio juvenil) que resulta de uma deficincia pancretica na produo de insulina ou
relacionada com anormalidades metablicas; Diabetes melito no dependentes de
insulina (tipo II ou diabetes de incio na maturidade) geralmente est associada a
sensibilidade diminuda insulina celular (Nunes, 1999).
Os diabticos tipo I geralmente so dependentes de injeces regulares de
insulina, usualmente dadas duas vezes ao dia ou por bomba de infuso. Os diabticos
tipo II podem se beneficiar de agentes hipoglicemiantes orais mais do que injeces
de insulina, embora a insulina exgena possa ser utilizada algumas vezes (Nunes,
1999).
A diabetes caracteriza-se por uma taxa de acar no sangue (glicmia)
anormalmente alta, isto , em jejum, uma taxa superior a 140 mg/dl, em duas anlises
diferentes. Actualmente, a diabetes afecta 120 milhes de pessoas a nvel mundial.
S em Portugal, o nmero de diabticos atinge os 500 mil, dos quais 90% so do tipo
II. Segundo especialistas, esta patologia tem aumentado medida que os pases em
desenvolvimento tm adoptado a dieta mais ocidentalizada.
A prescrio do exerccio fsico vai ser somente referida para as diabetes tipo
2 ou no insulino-dependentes. Um regime alimentar associado a um exerccio
moderado so fundamentais. O tipo de actividade deve ser predominantemente
aerbico e que mobilize grandes grupos musculares, como o andar, andar de
bicicleta, natao e corrida lenta (jogging). A frequncia deve ser no mnimo 3
sesses por semana, e no caso da pessoa ser tambm obesa, recomendam-se entre 5 a
7 vezes por semana. A durao pode variar entre 20 e 60 minutos. A intensidade
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deve ser iniciada a 50% da frequncia cardaca mxima (FCmx), at aos 80%
(ACSM, 1995).
3.4) Obesidade
Com efeito, a hipertenso, a diabetes e as doenas cardiovasculares tm uma
maior incidncia nos obesos e foi demonstrada a existncia de uma relao directa
entre o aumento de peso e mortalidade precoce (Manso, 1987, citado por Uva et al.,
2002).
As doenas associadas obesidade estendem-se praticamente a todos os
rgos. Deve-se chamar a ateno para um conjunto de alteraes metablicas que se
associam obesidade e que representam para o organismo um risco cardiovascular
grande. So eles os baixos nveis de colesterol HDL (a que se chama vulgarmente o
bom colesterolHigh Density Lipoprotein) ou mesmo a subida do colesterol LDL (o
mau colesterolLow Density Lipoprotein) e a hipertenso arterial.
Quando se aborda a preveno e correco da obesidade, define-se obesidade
atravs da correlao entre a altura, com o peso corpreo, sendo este o critrio mais
simples e mais lgico, e tambm o mais adoptado, o chamado ndice de Massa
Corporal (IMC). A tendncia do aumento de peso com a idade explicvel no
somente pelo decrscimo de actividade fsica, mas tambm, e talvez, pelo mau
funcionamento do centro regulador do apetite.
Hoje a obesidade considerada como um factor de risco de doena
cardiovascular, tendo uma grande associao com nveis anormais de outros factores
de risco. A relao ntima do excesso de peso com o aumento exponencial do risco
de doena cardiovascular, bem conhecida e est rigorosamente quantificada. O
problema reside em definir, com rigor, a fasquia a partir da qual se entra na zona de
risco de doena coronria ou outra, como por exemplo, a diabetes tipo II, no
insulino-dependente. Na verdade, nos casos limiares de excesso de peso, no basta
aceitar o IMC de forma absoluta, pois necessrio considerar outros parmetros,
como por exemplo, se o excesso de gordura ou de massa muscular, ou se estamos
na presena de um aumento da gordura abdominal ou ao nvel das ancas ou das
coxas, sendo o menor risco neste ltimo caso (Boaventura, 2001).
Uma vez que este se trata do tema do estudo efectuado, mais adiante vamos
referir pormenorizadamente a prescrio do exerccio recomendada.
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3.3) Sedentarismo
Um estilo de vida sedentrio , infelizmente, comum em muitas das
sociedades desenvolvidas. Os progressos da sociedade contempornea, em particular
os tecnolgicos, fizeram diminuir, de um modo sensvel, a contribuio do esforo
fsico nas actividades profissionais. A inactividade contribui, portanto, para o
aparecimento de doenas (Nunes, 1999).
A falta de actividade fsica, em qualquer idade, constitui um factor de risco
cardiovascular (Laughlin, 1994, citado em Alvim, 2002). Verifica-se hoje, que as
crianas fazem muito menos exerccio do que faziam h anos atrs e revelam, mais
precocemente, sinais de doena cardaca. preciso combater o sedentarismo.
Preconiza-se a prtica do desporto, devidamente aconselhado em cada situao. Os
indivduos fisicamente activos apresentam, em geral, menor ndice de hipertenso,
sendo o exerccio fsico considerado como um dos factores mais importantes na
preveno da hipertenso, protegendo ao mesmo tempo a apario de doenas
cardiovasculares.
Na prescrio do exerccio relativamente ao tipo de actividade, todos os
sedentrios podem beneficiar com um aumento da sua actividade fsica habitual e
com a realizao regular de exerccios aerbicos (corrida, ciclismo, natao e a
ginstica aqutica). A frequncia, pode variar de 3 treinos por semana em dias no
consecutivos, at cinco ou seis sesses por semana. A durao das sesses aerbicas
depende dos objectivos pretendidos para o programa de exerccio. Conseguem-se
melhorias cardiovasculares com cerca de 20 minutos por sesso, mas para a perda de
peso deve ser de pelo menos trinta minutos. A intensidade deve ser adequada
(ACSM, 1995).
4) ACTIVIDADE FSDICA, EXCESSO DE PESO E OBESIDADE4.1Composio corporal
A composio corporal refere-se s percentagens relativas de peso corporal
constitudo de gordura e tecido corporal livre de gordura. A composio corporal
pode ser estimada usando tcnicas tanto de laboratrio quanto de campo (ACSM,
1995)
A avaliao da composio corporal um componente comum e importante
na avaliao da aptido fsica global. Est bem estabelecido que o excesso degordura corporal pernicioso para a sade, mas existem muitas interpretaes de tais
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dados. Pesquisas do U.S. National Center for Health Statistics mostram que quase
50% das mulheres adultas relatam que fazem dieta para perder peso, no entanto,
apenas 25% das mulheres tm maior risco de estar acima do peso, de acordo com
padres estabelecidos pela US Surgeon General.
4.1.1Mtodos de Avaliao da composio corporal
Actualmente, os procedimentos conhecidos para determinao da gordura
corporal podem ser classificados: Anlise Qumica Directa (dissecao de cadveres)
e Mtodos Indirectos, incluindo os laboratoriais e os de campo.
Anlise Qumica Directade acordo com Katch e McArdle (1978) no h
meios para medir directamente a gordura do corpo humano vivo ( necessrio
separar e pesar cada componente). Poucas anlises directas foram feitas neste sculo,
devido s dificuldades tcnicas e complicaes legais no exame de gordura em
cadveres.
Mtodos Indirectosexistem muitos mtodos para se estimar a percentagem
de gordura no corpo humano. Alguns destes resultados obtidos indirectamente so
bastante similares aos resultados obtidos atravs da anlise qumica directa.
Os mtodos indirectos mais citados na literatura so: Pesagem Hidrosttica;
Medidas antropomtricas (estrutura e peso corporal IMC; dobras cutneas e/ou
permetros), Bioimpedncia (impedncia bioeltrica), Dexa e NIR (Nahas, 1999).
4.1.1.1Pesagem Hidrosttica
A pesagem hidrosttica baseia-se no princpio de Arquimedes, que afirma
que quando um corpo est imerso em gua, existe uma contra fora igual ao peso da
gua deslocada. Tecidos sseos e musculares so mais densos que a gua, ao passo
que o tecido gorduroso menos denso. Portanto, uma pessoa com mais massacorporal livre de gordura para o mesmo peso corporal total pesa mais na gua, tem
uma densidade corporal mais alta e menos percentagem de gordura corporal.
Primeiro, necessrio medir ou estimar o volume residual pulmonar para calcular a
densidade corporal. Segundo, a grande variabilidade interindividual na densidade
ssea no calculada por esse mtodo. Para alguns indivduos, a submerso da
cabea em gua pode ser difcil ou provocar ansiedade (ACSM, 1995)
A densidade corporal pode ser derivada da seguinte frmula:
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Densidade Corporal= Peso do ar / (((peso do ar peso da gua)/densidade de gua) volume
residual)
4.1.1.2Medidas das pregas cutneas
A composio corporal determinada pela medio das pregas adiposas
correlacionam-se bem (r=0,70-0,90) com a composio corporal determinada pela
pesagem hidrosttica. O princpio subjacente a esta tcnica que a quantidade de
gordura subcutnea proporcional ao total de gordura corporal. No entanto, a
proporo exacta entre gordura subcutnea e gordura total varia da acordo com o
sexo, idade e etnia. Portanto, as equaes de regresso utilizadas para converter a
soma das pregas adiposas para predizer a percentagem de gordura de mais oumenos 3,5%, assumindo que so utilizadas as tcnicas e equaes adequadas.
Vrias equaes de regresso tm sido desenvolvidas para predizer a
densidade corporal ou percentagem de gordura a partir das medies das pregas
adiposas. Todavia, muitas delas so especficas para as populaes das quais foram
derivadas. Uma tendncia relativamente recente tem sido desenvolver equaes
generalizadas, em vez de especficas, para as populaes. Essas equaes tm sido
desenvolvidas usando modelos de regresso que levam em considerao dados devrios estudos de pesquisa diferentes, sendo a principal vantagem a de que uma
equao generalizada pode ser substituda por vrias equaes especficas para a
populao, sem perda na exactido da previso para uma ampla gama de indivduos
(ACSM, 1995).
4.1.1.3Mtodos antropomtricos
A antropometria inclui medidas como estatura, massa corporal ecircunferncias (medida da cintura) de vrios segmentos ou reas corporais. Essas
medidas simples fornecem uma alternativa prtica e barata para a estimativa da
composio corporal e so comummente usadas em ambientes clnicos e de testes de
aptido fsica. Os resultados no so to exactos como aqueles derivados da pesagem
hidrosttica.
Vrias equaes de previso tm sido desenvolvidas utilizando medidas de
circunferncia em combinao com medida das pregas cutneas. Vrias medidas dos
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membros e corpo so tomadas e usadas em equaes que prevem densidade
corporal ou massa corporal livre de gordura (ACSM, 1995).
4.1.1.3.1ndice de Massa Corporal
Foi o estatstico e bilogo Lambert-Adolphe-Jaques Quetelet quem props a
relao entre peso e estrutura conhecida como ndice de Quetelet ou ndice de Massa
Corporal (IMC). A Organizao Mundial de Sade (OMS) prope que o IMC seja
utilizado para determinar obesidade em grupos populacionais, principalmente pela
facilidade de se determinar a massa corporal e a estatura.
A importncia deste ndice que pode ser facilmente obtido, baseia-se na sua
relao curvilnea com a taxa de mortalidade. H medida que o IMC aumenta, o risco
de uma grande variedade de doenas tambm aumenta, tais como: doenas
cardiovasculares, diabetes, entre outras. (McArdle, Katch & Katch, 1996). De acordo
com estes autores a categoria mais baixa de risco aquela em que os valores do IMC
oscilam entre os 20 e os 25 e categoria associada ao mais lato risco aquela em que
o IMC excede os 40.
O IMC considerado uma medida vlida a partir dos 19/20 anos de idade. No
caso de crianas e adolescentes com idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos,
utiliza-se a tabela de corte internacional (BMJ, 2001). O IMC tem como ponto fraco
a interpretao da grande musculosidade de atletas (ou trabalhadores muito fortes) ou
de edemas (acumulo de lquido) como se fosse excesso de gordura. Fora isso, o IMC
tem mostrado boa correlao com medidas mais precisas de gordura corporal. Alm
disso, os menores ndices de mortalidade, por idade, coincidem com a faixa de IMC
recomendada pela OMS20 a 24,9. (Nahas, 1999).
A Organizao Mundial de Sade (1998) publicou um importante artigo na
conferncia sobre a epidemia da obesidade no Mundo. A OMS props umaclassificao do peso corporal baseada no ndice da massa corporal (IMC) definido
como o peso em quilogramas dividido pela estatura elevada ao quadrado (Kg/m2).
As principais vantagens desta classificao prendem-se com o facto de ser simples,
de se basear num grande nmero de dados epidemiolgicos e clnicos, por consistir
numa ferramenta til para realizar comparaes a nvel internacional, para
monitorizar as mudanas ao longo do tempo em cada pas, bem como modificaes
associadas s principais alteraes no estilo de vida, a implementao de novaspoliticas de sade, ou outras relevantes intervenes. Na classificao do IMC
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encontra-se implcito que o excesso de peso est definido como um IMC que varia
entre 25 a 29,9 (kg/m2) e que a obesidade est definida como um IMC acima de 30
(kg/m2).
Tabela II.2Classificao do Excesso de Peso e da Obesidade atravs do IMC (OMS, 1998).
IMC (kg/m2) Grau de Obesidade
Baixo peso
Peso Normal
Excesso de Peso
Obesidade
18.5
18.524.9
25.029.9
30.034.9
35.039.9
40
I
II
II
4.1.1.3.2ndice CinturaQuadril
O padro de distribuio de gordura corporal um indicador importante dos
riscos da obesidade para a sade. Indivduos com mais gordura no tronco,
especialmente gordura abdominal, tm mais risco de hipertenso, diabetes do tipo 2,
hiperlipidemia, doena da artria coronriae morte prematura, quando comparados a
indivduos que esto igualmente gordos, mas a gordura se localiza mais nas
extremidades (ACSM, 1995).Tradicionalmente, o ndice cintura-quadril (ICQ), diviso da circunferncia
da cintura pela circunferncia da anca, tem sido utilizado como um simples modo de
determinar o padro de deposio de gordura. Os riscos de sade aumentam com o
ICQ, de acordo com o sexo e a idade.
Na realidade, a circunferncia da cintura pode ser utilizada isoladamente
como indicador de risco de sade j que a essncia da questo a gordura
abdominal. O Expert Panel on the Identification, Evaluation, and Treatment ofOverweight and Obesity in Adults providencia uma classificao de risco da doena
baseado no IMC e na circunferncia da cintura, sintetizada na tabela seguinte
(Tavares et al, 2003). No quadro X esto os valores a partir dos quais os indivduos
se encontram em risco de sade, atravs da medida da cintura (ACSM, 1995).
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Tabela II.3Risco de complicaes metablicas associados obesidade segundo o permetro da
cinta (OMS, 1998)
Risco de
complicaes
metablicas
Gnero
Aumentado Muito Aumentado
Homem 94 cm 102 cm
Mulher 80 cm 88 cm
4.1.1.4 - Bioimpedncia (BIA)
Muitos outros mtodos so actualmente usados para determinar a composio
corporal. Pesquisas adicionais so necessrias, entretanto, para estabelecer a sua
objectividade e validade. Uma tcnica que parece ser promissora a anlise da
impedncia bioeltrica.
A BIA um mtodo fcil de administrar, no invasivo, e uma forma segura
de avaliar a composio corporal. Este mtodo envolve a passagem de uma pequena
corrente elctrica pelo corpo e consequente determinao da impedncia ou oposio
passagem dessa corrente. Os tecidos isentos de gordura, bem como a gua corporal,
so bons condutores ao passo que a gordura um mau condutor. Deste modo, a
resistncia passagem da corrente elctrica est inversamente relacionada com a
quantidade de massa isenta de gordura e a gua corporal, as quais podem ser
determinadas por esta via. Em geral, a predio da percentagem de gordura a partir
da BIA semelhante das pregas adiposas.
A execuo desta tcnica implica o respeito pelas seguintes condies basais:
no comer ou beber nas 4 horas anteriores ao teste; evitar actividade fsica moderada
a vigorosa por um perodo de 12 horas antes do teste; evacuar e urinar antes do teste;
no consumir lcool nas 48 horas antes do teste; no ingerir diurticos, incluindocafena, antes da avaliao, a no ser que prescritos pelo mdico. O desrespeito por
estas orientaes aumenta substancialmente o erro de medio. Adicionalmente, deve
verificar-se se as equaes contidas no aparelho so vlidas para a populao a ser
avaliada (ACSM, 1995).
4.1.1.5Dexa
A dexa uma nova tecnologia que pode ser utilizada para avaliar a densidademineral ssea, bem como para fazer estimativas locais de osso, gordura e tecido
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magro. Tem por base um modelo tricompartimental e oferece vantagens
relativamente densitometria. Normalmente, utiliza-se em contexto clnico ou em
investigao (Tavares et al, 2003).
4.1.1.6Reactncia por raios infra-vemelhos (NIR)
A NIR baseia-se nos princpios da absoro e refraco de luz, utilizando a
espectroscopia por raios infra-vermelhos para fornecer informao sobre a
composio qumica do corpo. necessria mais investigao para desenvolver
equaes vlidas para cada sexo e determinar em que medida esta tcnica vlida
para avaliar a composio corporal (Tavares et al, 2003).
4.2- Excesso de peso e obesidade
Os termos excesso de peso e obesidade so muitas vezes utilizados de forma
indiscriminada, no entanto, tecnicamente tm significados diferentes.
Segundo Wilmore & Costill (1994) o excesso de peso definido como o peso
corporal que excede o peso normal ou standard para uma determinada pessoa,
baseado na sua constituio fsica. Geralmente, o termo excesso de peso est
associado a um excesso de massa corporal e relao entre as taxas de massa magra
e massa gorda. Isto significa que o excesso de peso pode no ser devido ao aumento
da adiposidade, mas sim ao desenvolvimento da massa magra.
Por outro lado, a obesidade refere-se a uma condio em que o indivduo
possui uma quantidade excessiva de gordura corporal. A obesidade uma
acumulao excessiva de gordura acima do que considerado para a idade, sexo e
constituio corporal (Wilmore & Costill, 1994).
Contudo Bar-or & Baranowsky (1994) apresentam uma definio mais
completa e relacionada com a sade. A obesidade definida como um estado acimada adiposidade normal, no qual os problemas de sade tm mais probabilidades de
ocorrer. Sendo a adiposidade a quantidade de gordura corporal, expressa como
massa, ou como percentagem de massa corporal total.
Segundo ACSM a obesidade pode ser definida como a percentagem de
gordura corporal que aumenta o risco de doena.
A obesidade significa ter excesso de gordura ou adiposidade e no
simplesmente ter excesso de peso. Pode ser definida acima de 20% do peso ideal, ouacima de 20% de gordura para os homens e 30% de gordura para as mulheres
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(McArdle, Katch & Katch, 1996). Segundo Wilmore & Costill (1994), a obesidade
s considerada a partir de 25% de gordura para homens e 35% de gordura para
mulheres.
Estudos actuais revelam que a obesidade considerada um problema de
proporo mundial pela Organizao Mundial de Sade, porque atinge um nmero
elevado de pessoas e predispe o organismo a vrias doenas e morte prematura.
Estatisticamente, num mesmo grupo etrio, a mortalidade maior entre indivduos
obesos. Enumeras pesquisas indicam que muitas doenas da era moderna esto
associadas ao excesso de gordura corporal, como, por exemplo: doenas
cardiovasculares, renais, digestivas, diabetes, problemas hepticos e ortopdicos. A
incidncia dessas doenas duas vezes maior entre homens obesos e quatro vezes
maior em mulheres obesas, quando comparados populao no obesa.
4.2.1 - Origens e causas da obesidade
A obesidade pode ter uma etiologia muito diferenciada. Resultados de
pesquisas recentes mostram que a obesidade resulta de uma combinao de variados
factores (Wilmore & Costill, 1994). Segundo Bar-or & Baranowsky (1994) a
obesidade uma caracterstica multifactorial que envolve a interaco de influncias
dos domnios: social, comportamental, fisiolgico, metablico, celular e molecular.
Para alm da relao entre a ingesto e o gasto calrico e das causas
patolgicas que podem referir-se a problemas hormonais ou alteraes no
mecanismo homeosttico, existem obviamente outros factores operantes, como
influncias genticas, ambientais e sociais (McArdle, Katch & Katch, 1996).
Apesar de se saber que o acumulo de gordura se d pelo balano energtico
positivo: mais energia ingerida (in) do que gasta (out), existe um conjunto de
motivos individuaisfilosficos, psicolgicos, hormonais, sociais e ambientais, paraalgum se tornar obeso. Hbitos alimentares imprprios (como refeies pesadas
noite) e a variao sazonal do estado psicolgico (maior incidncia de depresso no
Inverno) so exemplos desses factores (Nahas, 1999).
4.2.1.1. Influncias hereditrias e ambientais
De acordo com Dietz (1995) a predisposio gentica bem conhecida.
Estudos recentes (Bouchard, 1995, citado em Bar-or et al., 1998) incorporando umlargo nmero de indivduos com diferentes IMC, juntamente com informaes sobre
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os pais, sugeriram que a contribuio gentica para a obesidade pode explicar cerca
de 25% a 40% das diferenas individuais na massa corporal ou massa gorda do
indivduo.
A probabilidade gentica de algum ser obeso foi estudada extensivamente.
Estima-se que crianas cujos pais no sejam obesos tenham apenas 10% de
probabilidades de se tornarem obesas; se um dos pais for obeso, a probabilidade de
40% e chega a 80% para crianas com pai e me obesos. Um dos estudos realizados
por Bouchard, consistiu na observao rigorosa e controlada com gmeos, em que o
ganho de peso por ingesto excessiva de alimentos (1.000 kcal/dia, durante 3 meses)
foi extremamente variado entre os pares, mas similar entre os gmeos de um mesmo
par, reforando o papel da gentica nesta questo.
Segundo Bar-or et al., (1998) um grande nmero de estudos reportou que as
crianas obesas frequentemente tinham pais obesos. Em cerca de 30% dos casos
ambos os pais de uma criana obesa so tambm obesos. Por outro lado, foi estimado
que cerca de 25-35% dos casos de obesidade ocorrem em famlias com pais de peso
normal, apesar do risco de ficar obeso ser mais alto se os indivduos tiverem pais
obesos.
O mesmo autor afirma que o nvel de hereditariedade simplesmente uma
fraco da variao das populaes em relao a uma caracterstica, que pode ser
explicada por uma transmisso gentica. Estes autores referem que a segregao de
genes no pode ser facilmente detectada e quaisquer que sejam as influncias destes
genes so atenuadas por factores no genticos. Por isso de crer que o contedo de
gordura seja modulado ao longo da vida pela interaco dos genes com o
envolvimento. Entre os factores do envolvimento podemos destacar os factores
ambientais e os factores comportamentais. Dietz (1995) refere como principais
factores ambientais: a etnia, a regio, a estao do ano e a densidade populacional.Como factores comportamentais podemos ter: o tipo de dieta, a ingesto calrica, o
nvel habitual de actividade fsica e hbitos de consumo de lcool ou tabaco (Bar-or
et al., 1998; Dietz, 1995). De acordo com estes autores os factores comportamentais
referidos esto bastante associados famlia e aos hbitos familiares.
4.2.1.2 Inactividade fsica
Recentemente muitos pases emitem recomendaes relacionadas comnutrio e sade. Muitos dessas recomendaes encorajam a manuteno de um peso
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saudvel, mas o conselho especfico para atingir este objectivo varia
consideravelmente. Muitos pases recomendam mudanas na dieta e na actividade
fsica. As normas dietticas incluem geralmente uma reduo da entrada de gordura,
mas as recomendaes precisas a respeito da actividade fsica, variam desde a
reduo das actividades sedentrias ou um aumento em actividades habituais, ao
exerccio vigoroso de uma durao ou de uma frequncia precisa (Jebb and Moore,
1999).
Jebb and Moore (1999) realizaram um estudo sobre este assunto onde se
salientava que a etiologia do excesso de peso e da obesidade claramente
multifactorial, sendo determinada pelo contrapeso a longo prazo entre a entrada e
sada da energia. A reviso efectuada considera os efeitos do peso corporal e o risco
da obesidade nas pessoas com estilo de vida sedentrio, dentro do contexto de
hbitos dietticos.
Um estilo de vida sedentrio , infelizmente, comum em muitas sociedades
desenvolvidas. Os progressos da sociedade contempornea, em particular os
tecnolgicos, fizeram diminuir, de um modo sensvel, a contribuio do esforo
fsico nas actividades profissionais. A falta de funcionamento e a carncia antinatural
de movimento e de actividade fsica atrofiam os rgos, diminuem o seu rendimento
e tornam-nos susceptveis a doenas (Nunes, 1999). Um estilo de vida activo,
melhora no s a condio fsica, mas tambm diminui o risco de enfermidades
crnicas, como o caso da cardiopatia isqumica (angina de peito), sendo
predominante na sua preveno. Sabe-se que a inactividade concorre para o
aparecimento de certos factores de risco, como a hipertenso, a elevao do
colesterol e a obesidade. A inactividade conhecida, ainda, como um importante
factor de risco para as doenas cardacas.
A relao entre a actividade fsica e a obesidade em termos de causalidadeainda no bem conhecida, pois ainda no foi bem determinado se a obesidade que
provoca a falta de actividade fsica ou se a falta de actividade fsica que provoca a
obesidade (Bar-or & Baranowski, 1994)
Jebb & Moore salientam tambm que particularmente difcil identificar
precisamente a contribuio de uma vida sedentria na etiologia da obesidade,
porque poucos foram os estudos que quantificaram as actividades sedentrias, no se
verificando nenhuma tentativa em descrever um ndice do sedentarismo no estilo devida. Em vez disso, o sedentarismo interfere frequentemente na ausncia de
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trabalhos activos. No entanto, esta aproximao indirecta pode limitar a validez dos
dados. Certamente, possvel que a quantificao especfica de actividades
sedentrias, tal como ver televiso, possa provar ser mais robusta do que a medida da
actividade fsica (Jebb and Moore, 1999). No estudo efectuado por estes autores
concluiu-se que a reviso efectuada fornece claras evidncias que baixos nveis de
actividade fsica esto associados a um aumento de peso e obesidade. Esta evidncia
sugere uma ligao ocasional, mas os projectos experimentais so demasiado fracos
para fornecerem uma evidncia conclusiva. O potencial efeito de interaco entre a
dieta e a actividade foram ignorados na maioria das vezes. Para haver progressos
nesta rea, um nmero de aspectos necessitam ser resolvidos no que diz respeito
metodologia, ao projecto do estudo, e anlise estatstica da perspectiva de estudos
epidemiolgicos (Jebb and Moore, 1999).
Sallis e Patrick (1994) referem que para adolescentes obesos a actividade
fsica importante juntamente com uma dieta adequada para o controle de peso, e o
dispndio de energia regular atravs da actividade fsica parece ser essencial para a
manuteno do peso atravs da manuteno do equilbrio energtico.
Bar-or (1994) salienta que o baixo nvel de motivao dos adolescentes para
aderir a programas de treino um grande desafio para professores, educadores e
terapeutas. Para melhorar esta adeso necessrio conhecer as razes especficas
para esta relutncia a ser fisicamente activo. Por um lado, por vezes os resultados em
termos de perda de peso no so muito visveis, pois modificaes nos padres de
alimentao tambm so necessrias. Por outro lado, torna-se essencial saber a
origem da obesidade, visto que muitas vezes a hereditariedade que est na origem
do problema e apenas a mudana de hbitos e comportamentos no suficiente para
a reduo de peso.
4.2.1.3 Ingesto excessiva de alimentos
Por diferentes razes, muitas pessoas comem muito mais do que o suficiente
para sobreviver com sade. O controle na ingesto de alimentos um dos principais
factores para manter o balano calrico e o peso corporal em nveis saudveis.
Factores psicolgicos e de ordem social esto, geralmente, associados ingesto
exagerada e frequente (Nahas, 1999).
Tal como j foi referido anteriormente os factores genticos ecomportamentais que determinam a composio corporal so vrios, o determinante
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fundamental do peso corporal e composio corporal o equilbrio calrico. O
equilbrio calrico refere-se diferena entre a ingesto calrica (energia equivalente
comida ingerida) e o dispndio calrico (energia equivalente taxa metablica de
repouso, actividade, efeito trmico da comida, etc). A Primeira Lei da
Termodinmica afirma que a energia no criada nem destruda, portanto o peso
corporal perdido quando o dispndio calrico excede a ingesto calrica (equilbrio
negativo), e peso ganho quando ocorre a situao oposta (ACSM, 1995).
4.2.1.4 Disfuno glandular
Poucas pessoas, de facto, so obesas devido a disfuno glandular (em torno
de 5 %). Uma produo inadequada da hormona da tiride (tiroxina) o problema
mais comum nesses casos, provocando uma reduo no metabolismo basal. Este tipo
de obesidade pode ser controlada com medicamentos, dieta e exerccios
supervisionados e individualmente prescritos. Outras causas citadas por diversos
autores incluem o ambiente social, a ineficincia metablica e o condicionamento
psicolgico (Nahas, 1999).
Egger e Swinburn, citados por Nahas (1999) listam diversos perodos da vida
que eles consideram crticos para o ganho acelerado de peso (acumulo de gordura
corporal). Estes perodos so influenciados por factores fisiolgicos, hormonais,
emocionais e mudanas no estilo de vida.
Tabela II.4Perodos crticos para ganho de peso
Influncia Perodo crtico
Hormonal Adolescncia; Gravidez; Menopausa
Stress e Ansiedade Distress prolongado; Morte de ente querido; Divrcio/separao
Mudanas no estilo de vida Aposentadoria; fim de carreira desportiva; Casamento; Meia
idade (homem); Ocasies festivas
Fisiolgica Parar de fumar; Aps perda rpida de peso; Certos
medicamentos
4.2.2 -Tipos de obesidade
No organismo, a gordura no pode ser acumulada da mesma forma ou no
mesmo local. Sendo assim, de acordo com o padro de distribuio de gordura
corporal podemos encontrar dois tipos de obesidade: obesidade genide e obesidadeandride. Na obesidade genide ou tipo pra, a gordura acumula-se sobretudo nas
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ancas, ndegas e coxas, enquanto na obesidade andride ou tipo ma a gordura
acumulada no tronco, nomeadamente na regio abdominal. Nos homens a gordura
tende a armazenar-se na regio abdominal (obesidade andride) e nas mulheres a
gordura tende a armazenar-se nas ancas, ndegas e coxas (obesidade genide). As
investigaes efectuadas entre os anos 70 e 80 estabeleceram que a gordura tipo
andride estava mais associada aos factores de risco que a gordura total do corpo.
O risco de doenas maior para pessoas que acumulam gordura na regio
abdominal (central), particularmente ao redor das vsceras (padro de gordura
abdominal visceral). Deve-se dar especial ateno aos casos em que o IMC est
acima de 27 e a circunferncia da cintura (medida na linha do umbigo) maior que
100 cm (homens) e maior que 90 cm (mulheres). Nesses casos de obesidade tipo
central (acumulo de gordura na regio abdominal) o risco de doenas
cardiovasculares, diabetes, e vrios tipos de cancro significativamente maior
(Nahas, 1999).
Mayo et al. (2003) concorda afirmando que geralmente o risco do
desenvolvimento de complicaes aumenta de acordo com o nvel de obesidade. No
entanto, no somente a quantidade de excesso de massa gorda, que deve ser tida em
ateno, mas tambm o local do corpo em que esta se encontra distribuda. A gordura
da parte superior do corpo, especialmente a do abdmen (regio intra abdominal),
pode consistir num maior risco para a sade, do que se esta estiver armazenada em
outra parte do corpo. Assim, uma reduo da gordura da regio abdominal durante a
perda de peso pareceria necessria para reduzir os riscos para a sade associados
obesidade. Desta forma, Mayo et al (2003) realizaram um estudo cujo objectivo era
investigar se existe uma reduo da quantidade da massa gorda abdominal, em
resposta substancial perda de peso provocada pelo exerccio fsico, em jovens
obesos do sexo masculino. Assim, concluram que a realizao de exerccio queinduz perda de peso est associada a uma reduo preferencial na gordura
abdominal e a uma correspondente manuteno da massa gorda livre. Tal efeito na
composio corporal deve reduzir os riscos de doena e deve reduzir tambm, um
eventual ganho de peso que tipicamente se segue a uma dieta induzida para a perda
de peso em indivduos obesos Mayo et al (2003).
Segundo McArdle, Katch & Katch (1996) esta relao pode dever-se ao facto
da gordura abdominal ser mais activa que a gordura armazenada nas coxas e ancas e,
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consequentemente, mais capaz de penetrar nos processos relacionados com as
doenas coronrias.
4.3Excesso de peso e obesidade em crianas e jovens
Os estudos sobre a obesidade na infncia e adolescncia tm interessado
ultimamente numerosos investigadores, no s pelos problemas psicossociais que so
inerentes a esta situao, mas igualmente pelo elevado risco dos indivduos que
foram obesos enquanto jovens, se tornarem obesos na vida adulta.
Uma criana obesa encontra-se em elevado risco de hipertenso,
hipercolestrolinemia, hiperinsulinmia, decrscimo da libertao da hormona do
crescimento, desordens respiratrias e problemas ortopdicos. Para alm disso, uma
criana obesa sofre tanto fisicamente, como psicolgica e socialmente, pois a auto-
imagem e a auto-estima so abaladas pela ridicularizao e desprezo (Bar-or et al.
1998). De acordo com a literatura a obesidade juvenil atribuda a dois principais
factores: m alimentao e falta de actividade fsica. Contudo, existe ainda uma
percentagem a atribuir hereditariedade.
4.3.1Prevalncia da obesidade
A obesidade da infncia e adolescncia, frequentemente designada como
obesidade juvenil, um problema muito srio, com tendncia a aumentar. A
obesidade uma das doenas que pode estar relacionada com prticas alimentares.
Torna-se importante para a preveno, a educao nutricional, promovendo uma
alimentao diversificada e de densidade calrica moderada.
A sade dos adolescentes tem vindo a ser negligenciada durante muitos anos,
porque, geralmente, estes so menos vulnerveis s doenas do que as crianas e os
idosos. Actualmente evidente que muitas das doenas do estado adulto tm as suasrazes na infncia ou adolescncia. O estilo de vida, os hbitos alimentares e a
actividade fsica estabelecidos durante a infncia e a adolescncia podem contribuir
para a existncia de algumas doenas crnicas, incluindo a obesidade, na fase adulta
(WHO, 1993).
Com base num estudo realizado entre 1976 e 1980 pelo National Center of
Health Statisticsentre 13% e 26% dos adolescentes (12-17 anos) so obesos e cerca
de 4% a 12% so excessivamente obesos, com maior prevalncia nas raparigas. Estesvalores representam um aumento de 39% na prevalncia da obesidade, comparados
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com os valores dos dados recolhidos entre 1966 e 1970. Igualmente alarmante foi o
aumento de cerca de 54% na prevalncia da obesidade em crianas entre 6 e 11 anos
(McArdle, Katch & Katch, 1996; Dietz, 1995).
A obesidade na infncia e na adolescncia um problema cujas propores
so cada vez maiores, principalmente, em sociedades tecnologicamente
desenvolvidas. Quase 1/4 das crianas nos Estados Unidos da Amrica so
actualmente obesas, verificando-se um dramtico aumento de 20% desde a dcada
passada (Bar-or et al, 1998). A prevalncia da obesidade bastante elevada e tem
tendncia a aumentar ao longo dos anos.
O facto de ver televiso constitui o maior comportamento predominante de
sedentarismo nas crianas e nos adolescentes nos Estados Unidos da Amrica (Bar-or
et al, 1998). A baixa actividade fsica caracterstica das crianas e dos adolescentes
obesos, sendo considerada uma causa da obesidade juvenil. Existe uma pequena
evidncia, no entanto, a energia total dispendida entre os obesos baixa (Bar-or et al,
1998).
Em 1997 Sobral et al. realizaram um estudo na Escola Secundria D. Duarte
em Coimbra, no qual foi determinado o IMC em 987 jovens de ambos os sexos. O
valor encontrado de indivduos com excesso de peso e obesidade foi de 12,8%. Em
2000 foi efectuado um outro estudo, sendo este o seminrio de Amendoeira, no qual
se realizou o mesmo processo em 733 sujeitos. O valor obtido foi de 15,8%, ou seja,
em apenas 3 anos houve um incremento de 3% no nmero de alunos com excesso de
peso.
4.3.2Obesidade juvenil como factor de risco para a obesidade adulta
Para alm da pronunciada elevada prevalncia, tambm est
extraordinariamente bem documento, o facto da criana e o adolescente comadiposidade mais elevada apresentarem fortes tendncias em tornarem-se adultos
obesos (Bar-or et al, 1998). Porque as consequncias para a sade devido ao excesso
de gordura corporal, no se manifestam imediatamente, a actual epidemia da
obesidade nas crianas e nos adolescentes, traduzir-se- mais tarde no predomnio de
diabetes tipo 2, hipertenso, doenas cardiovasculares, pedra nos rins, cancro da
mama, osteoartrites nos joelhos, irregularidades a nvel fsico e psicolgico
(Bouchard and Blair, 1999).
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McArdle, Katch & Katch (1996) referem alguns estudos que vm confirmar
este facto, referindo que caso a obesidade ocorra na infncia e adolescncia, as
probabilidades de obesidade na idade adulta so trs vezes maiores, em comparao
com crianas de peso corporal normal. Mais recentemente Bar-or et al. (1998)
indicaram que cerca de 40% das crianas obesas e 70% dos adolescentes obesos,
tornam-se adultos obesos.
4.3.3Sade e estilos de vida em jovens portugueses
Infelizmente poucos so os investigadores em Portugal que se preocupam
com a sade e os estilos de vida dos jovens. Factores de extrema importncia nos
dias de hoje so a actividade fsica, os hbitos alimentares e a imagem corporal dos
jovens portugueses.
4.3.3.1 - Actividade Fsica e Lazer
Matos et al., (2004) atravs da realizao de um estudo com adolescentes
verificou que 1/3 dos jovens praticam uma actividade fsica meia hora ou menos por
semana fora da escola. Por outro lado, cerca de 1/3 dos jovens afirma ver televiso
quatro horas ou mais por semana. Normalmente os rapazes praticam actividade fsica
mais frequentemente e durante mais tempo do que as raparigas. Nos seus tempos
livres vem mais televiso, vdeos e jogam mais jogos de computador. Os jovens
mais novos praticam mais frequentemente uma actividade fsica (Matos et al., 2004).
A actividade fsica constitui uma importante medida no mbito da promoo
da sade. Existem muitos benefcios da actividade fsica a nvel do bem-estar fsico,
mental e social, e da qualidade de vida (Wold, 1993). O mesmo autor refere que no
caso concreto dos adolescentes, o exerccio est relacionado com a facilidade de
fazer novos amigos, em receber um bom suporte social e, tambm, com a satisfaona escola. Verifica-se assim que para alm dos benefcios ao nvel da prpria sade,
esta ainda importante no processo de socializao dos adolescentes.
4.3.3.2 - Hbitos Alimentares
As prticas alimentares so um dos factores que podem comprometer ou
beneficiar a sade dos jovens. Estas prticas, que se adquirem desde criana, so
extremamente importantes para um desenvolvimento saudvel. De facto, os hbitosalimentares adquiridos durante a adolescncia tm importantes repercusses no
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estado de sade dos indivduos, quer a curto, quer a longo prazo, nomeadamente ao
nvel do bem-estar fsico e emocional (King et al., 1996). A alimentao encontra-se
tambm relacionada com algumas doenas cada vez mais comuns na adolescncia
(como a obesidade, anorexia, bulimia, entre outras). Assim, torna-se importante
perceber os hbitos alimentares das populaes de maneira a prevenir situaes de
risco.
Para alm do estado de nutrio ser especialmente, importante na infncia, a
curto e a longo prazo, tambm essa a melhor altura para se adquirirem boas prticas
alimentares (Marino & King, 1980); estando prazer ou a rejeio dos alimentos
associados s situaes vividas e relacionadas com o comer na infncia, as crianas
so tambm consideradas como o grupo mais prometedor para uma interveno
efectiva, pela sua flexibilidade introduo de novos conceitos e pela sua avidez em
aprender (Loureiro, 2004).
Mais de metade dos jovens portugueses bebe coca-cola, consome doces
diariamente e no chega a metade o nmero de alunos que consome vegetais
diariamente (Matos et al., 2004).
Os hbitos alimentares adquiridos durante a adolescncia tm importantes
repercusses no estado de sade dos indivduos, quer a curto quer a longo prazo,
nomeadamente a nvel do bem-estar fsico e emocional. Segundo a OMS (1993) um
dos problemas alimentares mais graves na populao jovem, traduz-se no consumo
excessivo de certo tipo de alimentos. Os adolescentes preferem alimentos
processados com alto teor de gordura e aucares, o que resulta num dfice de
consumo a nvel de alimentos mais completos e saudveis. Tambm o estilo de vida
moderno est aliado ao consumo excessivo de comida do tipo fast food, que tem
como consequncia uma dieta excessivamente rica em gorduras.
4.3.3.3 - Percepo da imagem corporal
Um pouco menos de metade dos jovens acha seu corpo demasiado gordo ou
demasiado magro e gostaria de alterar algo. Cerca de desses jovens acha que
precisa de uma dieta para perder peso. Os rapazes parecem estar mais satisfeitos com
o seu corpo, as raparigas mais frequentemente referem querer mudar algo e estar a
precisar de perder peso. Os mais velhos parecem mais preocupados com o corpo,
referindo querer alterar algo e precisar de perder peso. (Matos et al., 2004).Relativamente ao exerccio fsico este parece ter um papel importante, ajudando os
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jovens a gostar mais dos seus corpos, sugerindo mudanas necessrias sade geral,
encorajando ainda a auto-estima.
4.4Excesso de peso e obesidade como factor de risco para a sade
indiscutvel que existe uma forte associao entre a obesidade e inmeros
factores de risco para a sade. O que ainda no muito explicativo se a obesidade,
por si s, d origem aos riscos ou se somente um co-produto de uma condio
mdica (McArdle, Katch & Katch, 1996).
Segundo McArdle, Katch & Katch, (1996) os riscos de obesidade
compreendem: deteriorao da funo cardaca devido ao aumento do trabalho
mecnico do corao; hiperteno; diabetes; doena renal; doena vesicular; doenas
pulmonares devido a um maior esforo para movimentar a parede torcica;
osteoartrite e doena articular degenerativa; vrios tipos de cancro; concentraes
plasmticas anormais de lpidos e lipoprotenas e sobrecarga psicolgica.
Para alm do risco de certas doenas, a obesidade est directamente
relacionada com alteraes do funcionamento normal do corpo, com efeitos
negativos em determinadas doenas e com reaces psicolgicas adversas (Wilmore
& Costill, 1994). De acordo com os mesmos autores os principais factores de risco
associados obesidade so: doenas cardiovasculares, diabetes, certos tipos de
cancros e problemas osteoarticulares. A obesidade est associada a problemas
respiratrios, que por sua vez, provocam alguns problemas como o aumento dos
nveis de dixido de carbono no organismo e o aumento da produo dos glbulos
vermelhos em resposta baixa oxigenao do sangue. Estes aspectos podem
conduzir a uma coagulao anormal do sangue (trombose), ampliao do corao e
a falhas cardacas. Igualmente associado obesidade h um risco de desenvolver
doenas degenerativas crnicas. Tanto a hipertenso como a aterosclerose estodirectamente associadas obesidade, assim como vrias desordens metablicas e
endcrinas, tais como a diabetes e deteriorao do metabolismo dos carbohidratos. A
obesidade est particularmente relacionada com as diabetes do tipo II (no insulino-
dependentes). Relativamente ao efeito da obesidade sobre doenas j existentes, esta
pode contribuir para o desenvolvimento de algumas doenas e condies mdicas
tais como: angina de peito, hipertenso, enfarte do miocrdio, veias varicosas,
diabetes e problemas ortopdicos.
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No que respeita s condies psicolgicas podem surgir problemas
emocionais, pois actualmente a sociedade suporta um estigma social que contribui
para os problemas de quem sofre de obesidade. Alm disso, a obesidade geralmente
acarreta um estigma social negativo e est associada a uma capacidade de trabalho
fsico reduzida (ACSM, 1995).
4.4.1Doenas cardiovasculares
As doenas cardiovasculares constituem a maior causa de morte nos pases
industrializados. A obesidade parece estar directamente relacionada com este tipo de
doenas.
Segundo Pitanga (1998) a acumulao de gordura e consequente aumento do
tecido adiposo provocam um aumento na produo de cidos gordos livres. De
acordo com este autor, quando a taxa de liplise aumenta, so libertados cidos
gordos livres que entram na circulao sangunea. Estes cidos gordos vo-se
agregando s paredes das artrias, tornando assim mais difcil a circulao do sangue
(aterosclerose). Por outro lado, esta dificuldade de circulao sangunea ir aumentar
a tenso arterial podendo provocar hipertenso.
4.4.2Doenas metablicas (diabetes)
A obesidade desempenha um papel muito importante no desenvolvimento da
diabetes tipo II. Com a obesidade, as clulas beta do pncreas, muitas vezes, tornam-
se menos eficazes nas respostas aos estmulos das grandes concentraes de glucose
sangunea. Para alm do mais, as clulas alvo em todo o corpo, incluindo nos
msculos, sofrem uma reduo no nmero de receptores ou na activao desses
mesmos receptores insulnicos. Assim, a insulina sangunea menos eficaz no
transporte da glucose para as clulas (Wilmore & Costill, 1994).Sobretudo a acumulao da gordura a nvel do abdmen parece estar
associada ao aumento da produo de cidos gordos livres, que facilmente entram na
circulao porta. Consequentemente, o fgado fica exposto a elevadas concentraes
de cidos gordos livres, o que induz reduo da remoo de insulina pelo fgado
levando hiperinsulinmia perifrica, a qual seguida por uma resistncia insulina
e, consequentemente, tendncia de desenvolvimento de diabetes. A hiperinsulinmia
por sua vez, pode causar perturbaes nas concentraes de lpidos plasmticos bemcomo hipertenso arterial (Pitanga. 1998).
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4.4.3Doenas osteoarticulares
Segundo Seidell (1996) existem evidncias de que a obesidade est associada
prevalncia de problemas osteoarticulares, sobretudo a nvel dos joelhos, devido ao
stress mecnico provocado pelo suporte de peso excessivo. Para alm do suporte de
peso, os problemas nas articulaes podem dever-se s consequncias metablicas do
excesso de peso ou obesidade. Segundo Davis (1988, citado em Seidell, 1996)
algumas condies relacionadas com a obesidade, tais como a diabetes ou a
hipercolestrolinmia podem influenciar por si s a degradao das cartilagens, ou
interagir com o desgaste e dilacerao provocados pelo stress mecnico, provocando
a osteoartite.
5) PRESCRIO DO EXERCCIO NO EXCESSO DE PESO E OBESIDADE
Os objectivos da prescrio do exerccio incluem a melhoria da aptido fsica,
promoo da sade por reduo dos factores de risco para doenas crnicas e
assegurar cuidado durante a participao em exerccio. Com base em interesses
individuais, necessidades de sade e condio clnica, esses objectivos no tm peso
igual ou consistente. Em todos os casos, resultados especficos identificados para
uma pessoa em particular devem ser o objectivo final da prescrio de exerccio.
(ACSM, 2000)
Para se realizar um programa de treinos adequado populao em causa
devem ser consideradas as diversas variveis do treino. A actividade fsica, quando
devidamente estruturada, conduz, inevitavelmente, a alteraes anatmicas,
fisiolgicas, bioqumicas e psicolgicas. Embora a prescrio do exerccio deva ser
individualizada para cada indivduo, existem elementos bsicos comuns a todas as
prescries do exerccio, s quais denominamos variveis do exerccio de treino.
Estas determinam o modo, a intensidade, o volume, a frequncia, a densidade e aprogresso do exerccio de treino. A eficincia do mesmo resulta da sua durao,
distncia e repeties (volume), da carga e da velocidade (intensidade) e da
frequncia dos exerccios (frequncia), do tempo que medeia a aplicao de
diferentes cargas de treino (densidade), do tipo de exerccio que prescrevemos
(modo), bem como da forma como estabelecemos a progresso da carga de treino.
Quando planeamos a dinmica do exerccio, devemos considerar estes aspectos, que
devem ser modelados de acordo com as caractersticas funcionais e psicolgicas do
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praticante, com os objectivos deste, com os meios disponveis, entre outras
condicionantes (Tavares et al, 2003).
Como j foi referenciado anteriormente, as pessoas obesas so quase sempre
sedentrias com um passado de ausncia de actividade fsica. Muitas vezes, tm
outras doenas associadas, como a diabetes, hipertenso e os lpidos elevados. Antes
de se realizar a prescrio do exerccio, estas pessoas devem consultar previamente o
seu mdico. A abordagem do obeso deve ser personalizada, adaptando as
necessidades calricas ao panorama sociofamiliar, socioprofissional e sociocultural
da pessoa. O obeso , em geral, um indivduo que come mal, comete habitualmente
numerosos erros dietticos, muitas vezes com carncias de elementos nutritivos
essenciais na sua alimentao e com um estado psquico que se adapta sua situao
de gordo. Assim, a prescrio de uma dieta a um obeso sempre encarada por este
com apreenso, associando restries a frustraes, alterando o seu bem-estar fsico e
psquico aparente (Nunes, 1999).
5.1 - Programas de controlo de peso
Actualmente, milhes de indivduos esto envolvidos em programas de
controlo de peso. Dado o elevado nmero de programas desta natureza e a sua
consequente banalizao, adequabilidade e alguma ausncia de preocupao com os
factores associados preservao da sade dos indivduos a ele integrados, tornou-se
pertinente a definio de linhas de orientaes gerais a este propsito.
Com base no impacto que a perda de peso tem no estado de sade, processos
fisiolgicos e parmetros de composio corporal, o ACSM (1983) efectuou as
seguintes observaes e recomendaes sobre o programa de peso mais adequado a
se aplicar: Jejum prolongado e dietas que contemplem uma severa restrio calrica
so cientificamente indesejveis e medicamente perigosas; Jejum e dietas comrestrio severa de aporte calrico resultam em grandes perdas de gua, eletrlitos,
minerais, glicognio armazenado e outros tecidos isentos de gordura (incluindo
protenas musculares), paralelamente a pequenas perdas de gordura; fornecer uma
ingesto no inferior a 1.200 kcal/dia para adultos normais e assegurar uma mistura
adequada de alimentos para satisfazer as necessidades nutricionais; incluir alimentos
aceitveis para o indivduo em termos de antecedentes socioculturais, hbitos usuais,
paladar, custos e facilidade de aquisio e preparo; fornecer um equilbrio calriconegativo (que no exceda 500 a 1.000 kcal/dia), resultando em perda de peso gradual
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sem desequilbrios metablicos, como cetose; resultar na perda de peso mxima de 1
kg/semana; incluir o uso de tcnicas de modificao de comportamento para
identificar e eliminar hbitos da dieta que contribuam para a subnutrio; inclui um
programa de exerccio que promova um dispndio calrico dirio de 300 ou mais
kcal. Para muitos participantes, isso pode ser obtido melhor com exerccio de longa
durao e baixa intensidade, como caminhar; fornecer novos hbitos de actividade
fsica e alimentao que possam ser seguidos pela vida para manter o peso corporal
mais baixo.
A prescrio inicial do exerccio deve basear-se em baixa intensidade e
duraes progressivamente maiores de actividade. Com base na resposta de cada
pessoa ao programa inicial de exerccio, o profissional de actividade fsica deve,
algumas vezes, trabalhar para aumentar a intensidade e levar a pessoa a uma variao
da frequncia cardaca adequada para o condicionamento crdiorespiratrio. A
intensidade mais alta permitir uma durao de sesso mais curta, ou menos sesses
por semana para o mesmo dispndio de energia semanal. Alm disso, a transio
para exerccio de intensidade mais alta, aumentar o nmero de oportunidades para
incorporar actividades que naturalmente exigem uma taxa mais alta de dispndio de
energia. Para muitos indivduos obesos, caminhar ou um programa de exerccio de
baixa intensidade pode ser tudo o que desejam, e o movimento em direco a um
programa mais intenso pode no ser seguro. As necessidades e objectivos do
indivduo obeso devem ser individualmente combinadas com o programa de
actividade fsica apropriado para atingir o controle do peso a longo prazo (ACSM,
1995).
Planejando a componente de exerccio de um programa de perda de peso, o
equilbrio entre intensidade e durao do exerccio deve ser manipulado para
promover um dispndio calrico total alto (300 a 500 kcal por sesso e 1.000 a 2.000por semana para adultos). Indivduos obesos tm risco relativamente maior de leso
ortopdica, e isso pode exigir que a intensidade do exerccio seja mantida naquela
recomendada ou um pouco abaixo para melhoria da capacidade cardiorespiratria.
Actividades sem sustentao do peso (e/ou rodzio das modalidades de exerccio)
podem ser necessrias, bem como modificaes constantes na frequncia e durao
(ACSM, 1995).
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5.1.1 - Caractersticas Gerais dos Programas
Tal como foi referido anteriormente, um programa de controlo de peso
perfeito aquele que possibilita uma diminuio da massa gorda, em concomitncia
com manuteno ou ligeiro aumento da massa magra (McArdle et al, 1999).
Nesta base, qualquer programa de controlo de peso deve: contemplar a
realizao de dieta com caractersticas especficas e ajustadas a cada indivduo;
incluir alimentos aceitveis em termos de gosto, custos, facilidades de aquisio e
preparao e tendo em considerao hbitos usuais e preferncias manifestadas;
proporcionar para um adulto normal uma ingesto no inferior a 1200 kcal/dia para
obter uma alimentao mista adequada no sentido de prover as necessidades
nutricionais; proporcionar um equilbrio calrico negativo ocasionando uma perda de
peso gradual (no mximo, cerca de 1 Kg/semana) e sem distrbios metablicos;
incluir um programa de exerccio com treino cardiovascular e treino de fora; prever
a interveno do domnio psicolgico, incluindo o uso de tcnicas de modificao do
comportamento para identificar, classificar e eliminar hbitos alimentares que
contribuam para uma alimentao imprpria; ponderar a tomada de precaues para
que novos hbitos alimentares e exerccios fsicos possam ser continuados por toda a
vida para manter o peso corporal obtido (ACSM, 1983).
5.1.2Benefcios Associados perda de peso
Os benefcios decorrentes da perda de peso so inmeros, nomeadamente
(McInnis, 2000): reduo da presso arterial para a maioria das pessoas obesas com
hipertenso; diminuio do risco de desenvolver diabetes; melhoria da tolerncia
glucose e sensibilidade insulina; reduo do colesterol total, lipoprotenas de baixa
densidade e triglicerdeos; diminuir, ou mesmo eliminar, da necessidade de
medicamento anti-hipertensivos, hipoglicemiantes ou de normalizao dedislipidmias; reduo de sintomas de artrite ou diminuio do stress articular.
5.1.3Protocolo de Avaliao
O protocolo de avaliao tem por objectivo a caracterizao exaustiva do
sujeito que ir envolver-se no programa, no sentido de este ser o mais adequado e
individualizado possvel. Dever ser composto por vrios itens: O
- Questionrio de Sade visa determinar a existncia de condicionantes para aprescrio de dieta e exerccio fsico (co-morbilidades e outros factores de risco),
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bem como verificar se existe algum factor susceptvel de induzir obesidade
patolgica (por exemplo, disfunes hormonais), no relacionada com sedentarismo
ou hiper-alimentao;
- Questionrio de Actividade Fsica: tem por objectivo a determinao da anamnese
desportiva do indivduo, principalmente no que concerne existncia de ligao mais
ou menos duradoira e formal actividade fsica e ao seu passado recente neste
campo;
- Questionrio de Hbitos Alimentares: pretende-se efectuar uma discriminao
exaustiva, rigorosa e, simultaneamente, sucinta dos hbitos alimentares do indivduo,
para assim se poderem despistar erros alimentares leves, graves e muito graves;
- Avaliaodo dispndio calrico dirio:tem por objectivo a determinao o mais
aproximada possvel do dispndio calrico dirio do indivduo, o que constitui um
dado importante para a prescrio de dieta dentro dos valores de ingesto calrica
pretendidos;
-Avaliao de Parmetros Antropomtricos:visa determinar se o peso do indivduo
normal para a sua altura (IMC), bem como avaliar a existncia ou no de risco de
doena (ICA). A avaliao de permetros reveste-se de especial importncia devido
ao padro de deposio de gordura (andride ou genide);
- Avaliao da composio corporal: pretende-se qualificar o peso de indivduo,
objectivando-se a quantidade de massa gorda e de massa magra, j que dois
indivduos com pesos iguais podem ter composies corporais muito diferentes.
Pretende-se ainda avaliar o estado de hidratao do indivduo;
- Avaliao de parmetros cardiorespiratrios: a frequncia cardaca de repouso
est intimamente associada ao nvel de condio fsica do indivduo, enquanto que a
avaliao da presso arterial visa detectar a existncia (ou no) de hipertenso
associada obesidade ou excesso de peso;- Avaliao da capacidade cardiorespiratria: tem como principal objectivo a
determinao indirecta do consumo mximo de oxignio e consequentemente nvel
de aptido cardiorespiratria (Tavares et al., 2003).
5.1.4Equilbrio Energtico
Antes de se iniciar um programa de controlo de peso que vise uma alterao
da composio corporal em sentido positivo (manuteno ou aumento da massamagra e diminuio da massa gorda) deve compreender-se a equao do equilbrio
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energtico e perceber como funcionam as variveis que a influenciam. Esta equao
sustenta que o peso corporal permanece constante enquanto as calorias ingeridas
forem equivalentes s calorias gastas. Qualquer desequilbrio entre o consumo e o
gasto energtico vai resultar numa modificao do peso corporal.
Existem trs modos de desequilibrar a equao energtica para baixar o peso
corporal: reduzir a ingesto calrica abaixo do nvel energtico requerido
diariamente; manter a ingesto alimentar e aumentar o gasto calrico atravs de
actividades fsicas; combinar os dois mtodos: reduzir o consumo alimentar e
aumentar o gasto energtico.(Tavares et al. 2003).
As variveis que influenciam o gasto energtico so:
Metabolismo basal: o principal factor que intervm no gasto energtico em
indivduos sedentrios. definido como a energia gasta nas actividades mecnicas
necessrias para sustentar os processos de vida, tais como, respirao e circulao.
Quase 20% do metabolismo em repouso gasto pelos msculos esquelticos
(Mahan, 1998). Dependendo da actividade fsica de cada indivduo, o metabolismo
basal 60-75% do dispndio calrico dirio (McArdle, 1999);
Aco dinmica especfica dos alimentos: definida como a energia
requerida para a digesto, absoro e metabolismo de nutrientes. Em mdia,
representa cerca de 10% do gasto energtico dirio, tendo, por consequncia, um
peso menor na equao (Mahan, 1998; McArdle, 1999); Actividade fsica diria
(profissional, lazer, outra): o grau de actividade fsica para cumprimento das
actividades fsicas, sejam profissionais ou outras muito importante, j que se ess
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