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Cadernos de Textos do GEEDH
N. 02 DIAGNÓSTICO DO PERFIL MÉDIO
DOS ESTUDANTES DA UFPA EM BELÉM: Notas críticas a partir do QSEC
Alberto Damasceno (ICED/UFPA) Carlos MacieL (ICSA/UFPA), Emina Santos (ICED/UFPA), Ney Cristina de Oliveira (ICED/UFPA).
UFPA - ICED – FAED
BELÉM, 2010
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Cadernos de Textos do GEEDH
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Reitor
Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy
Vice-Reitor Prof. Dr. Horacio Schneider
Pró-Reitor de Administração
Prof. MSc. Edson Ortiz de Matos
Pró-Reitor de Planejamento Prof. Dr. Erick Nelo Pedreira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação
Profa. Dra. Marlene Rodrigues Medeiros Freitas
Pró-Reitor de Extensão Prof. Dr. Fernando Arthur de Freitas Neves
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho
Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal João Cauby de Almeida Júnior
Pró-Reitor de Relações Internacionais
Prof. Flávio Augusto Sidrim Nassar
Diretora do ICED Profa. Dra. Ana Tancredi
Diretor do CTIC
Prof. Dr. Antonio Jorge Gomes Abelém
Coordenação do GEEDH / OCA Prof. Dr. Alberto Damasceno
Profa. Dra. Emina Santos Profa. Dra. Ney Cristina de Oliveira
Prof. Dr. Carlos Maciel
Equipe do GEEDH / OCA Adriana Dias
Iraneide Lameira Leonardo Barbosa
Ramon Lisboa Ricardo Figueiredo
Rodrigo Neto Samia Mota
Sandra Soares Vanessa Costa Vinicius Lobo
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Cadernos de Textos do GEEDH
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Cadernos de Textos do GEEDH é uma produção do Grupo de Estudos em Educação em Direitos
Humanos da UFPA, que é composto pelos professores Alberto Damasceno, Emina Santos e Ney
Cristina de Oliveira do ICED e Carlos Alberto Maciel do ICSA.
Apoio técnico e revisão: Adriana Dias, Iraneide Lameira, Maíra Carvalho e Sandra Soares.
Foto da capa: Restaurante Universitário do Campus II.
DAMASCENO, Alberto Damasceno, MACIEL, Carlos, SANTOS, Emina e OLIVEIRA, Ney Cristina.
DIAGNÓSTICO DO PERFIL MÉDIO DOS ESTUDANTES DA UFPA EM BELÉM: Notas críticas a partir do QSEC: s.ed. 2010.
1. UFPA 2. Estudante 3. Questionário Socioeconômico e Cultural 4. Política de Assistência
Estudantil.
ISSN 2177-4722
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Cadernos de Textos do GEEDH
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PREFÁCIO
O Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos – GEEDH do Instituto de
Ciências da Educação –ICED/UFPA na edição nº 02 do seu Caderno de Textos apresenta o
“Diagnóstico do Perfil Médio dos Estudantes da UFPA em Belém: notas crítica a partir do QSEC”,
apoiando-se no Questionário Sócio Econômico e Cultural – QSEC, instrumento de coleta de
informações sobre o corpo discente da UFPA, elaborado pela Pró-Reitoria de Extensão e
desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação – CTIC/UFPA, objetivando
formular políticas de Assistência Estudantil.
Por meio desse questionário pretende-se mapear a situação dos estudantes e ir ao
seu encontro com programas e ações que garantam a sua integração acadêmica, científica, e
social durante todo o seu percurso acadêmico e que obtenha êxito no seu curso.
Analisando apenas dez das trinta e duas questões presentes no questionário concernentes
a realidade familiar, social, econômica e cultural, o GEEDH trouxe a público a absoluta
necessidade se realizarem estudos para conhecer a real situação dos estudantes e com esses
dados estabelecer ações afirmativas visando amenizar a situação de vulnerabilidade social em
que vivem grande parte dos estudantes da UFPA. Com o apoio decisivo de uma política estudantil
inclusiva, cidadã certamente a sociedade ganhará um profissional qualificado e a UFPA poderá
contribuir para a diminuição das desigualdades e ajudar a fazer justiça social. O estudo
possibilitou ainda a organização de um banco de dados que permitirá acompanhar as
transformações havidas com os estudantes e propor medidas durante o percurso acadêmico do
discente de modo a criar condições para o êxito no curso.
Estudos que desvelem a situação dos estudantes são sempre bem vindos, pois
conhecendo a realidade, a Universidade poderá estabelecer estratégias, envolvendo diferentes
sujeitos e entidades de modo que se possa estabelecer como política institucional programas
permanentes que envolvam diferentes aspectos e garantam a sustentabilidade do discente no
curso.
Agradeço a deferência com que me foi concedida para prefaciar este trabalho,
cumprimento a equipe dos pesquisadores, bolsistas e do CTIC e desejo que o GEEDH continue
produzindo mais estudos que, se considerados pelos formuladores de políticas públicas poderão
contribuir para melhorar a vida dos estudantes, meta perseguida por todos nós.
Ana Tancredi
Diretora do ICED
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APRESENTAÇÃO
O GEEDH - Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos do Instituto de Ciências
da Educação da UFPA, tendo como base a idéia de que é estimulando a participação da
sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública que resultados
concretos podem ser alcançados, apresenta o projeto DISEC - Diagnóstico Socioeconômico e
Cultural do Estudante da UFPA. O DISEC foi criado em 2008, atendendo a uma demanda
histórica da nossa comunidade acadêmica com o objetivo de reunir informações importantes que
auxiliassem a concepção, o planejamento e a execução de políticas e programas de assistência
estudantil, além de subsidiar estudos e pesquisas sobre o tema. Seu início se deu com a
concepção de um questionário que atendesse a diversidade característica de nossa população
estudantil. Posteriormente, foi desenvolvido um sistema on-line destinado a recolher informações
individuais de modo a compor um mosaico ilustrativo acerca do perfil médio do estudante,
proporcionando uma visão global do corpo discente e de seus principais aspectos do ponto de
vista de suas fortalezas e fragilidades.
Seu real funcionamento, todavia, começou em 2009, quando os estudantes deram uma
efetiva resposta por meio do preenchimento das 32 (trinta e duas) questões referentes à sua
realidade familiar, social, econômica e cultural. Destas, foram escolhidas apenas 10 (dez) que, no
presente trabalho, nos servem de base para visualizar e diagnosticar as principais características
de nosso estudante, assim como as diferenças que se manifestam quando observamos estes
dados individual e comparativamente entre os institutos.
O DISEC foi, e está sendo, desenvolvido com o apoio do Centro de Tecnologia da
Informação e Comunicação.que não tem negado apoio ao crescimento da proposta que tantos
benefícios tem trazido à nossa comunidade acadêmica. Nossos objetivos são estimular e divulgar
a produção de estudos sobre a vida de nossos discentes e promover o papel social que a
instituição cumpre ao propiciar o maior conhecimento acerca de sua clientela.
Para a estruturação do projeto, nossos bolsistas modificaram as páginas de consultas
(modulo administrador do sistema) a fim de garantir a disponibilidade do sistema, criaram um
módulo de análise de micro dados, com o intuito de analisar os dados numa visão geral da
universidade e também por entre suas unidades acadêmicas, além da criação de um web-service
em parceria com o CTIC que se configura numa interface do consulta aos dados do SIE de modo
a garantir a integridade das informações. Para fins de manutenção e adaptação do sistema
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métodos advindos da engenharia de software como engenharia reversa, foram utilizados de modo
a compreender e reformular o sistema.
Por fim, e não menos importante, devemos ressaltar que o DISEC possibilitou a criação de
um banco de dados que ainda necessita de aprimoramento, visto que o desenvolvimento de
software é um processo contínuo. Se em 2009 demos um passo decisivo para a construção deste
banco que é capaz de captar as transformações ocorridas com nossos estudantes, em 2010,
precisaremos de apoio para aprimorarmos e consolidarmos essa proposta que se destina a ser,
mais que um projeto de pesquisa ou extensão, um plano estratégico de desenvolvimento para o
corpo discente.
Alberto Damasceno, Carlos Maciel, Emina Santos e Ney Cristina de Oliveira
Equipe do GEEDH
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NOTA TÉCNICA SOBRE O SISTEMA DO QUESTIONÁRIO SOCIOE CONÔMICO E CULTURAL
DO ESTUDANTE DA UFPA
O desafio do desenvolvimento sustentável, desenvolver sem devastar, requer por parte das
diferentes áreas do conhecimento humano uma nova postura nas abordagens adotadas nas
soluções dos problemas. A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é sem sombras de
dúvida, um dos pilares fundamentais de sustentação das soluções inovadoras em direção a esse
objetivo.
O CTIC - Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação, da Universidade Federal do Pará –
UFPA, tem como missão prover serviços e recursos tecnológicos para a comunidade universitária
da UFPA, tanto nos campi da capital como do interior, em apoio às atividades acadêmicas e
administrativas, integrando-se no esforço de oferecer à sociedade uma universidade em
excelência. O CTIC é responsável não só por fornecer serviços de computação, como:
manutenção de computadores, suporte, hospedagem e desenvolvimento de sites,
desenvolvimento de softwares e expansão e melhoria da rede, mas também por prospectar e
induzir à utilização de novas tecnologias e soluções na área, inclusive com a conquista de
importantes premiações e certificações de âmbito nacional.
Foi neste contexto que o CTIC apoiou o GEEDH – Grupo de Estudos em Educação em Direitos
Humanos na implantação do projeto DISEC – Diagnóstico Sócio-Econômico e Cultural dos
Estudantes, desenvolvendo o sistema web que permitiu a coleta das informações
socioeconômicas e culturais dos estudantes da UFPA a partir de um questionário online através
do qual o aluno faz o preenchimento de dados pessoais e responde questões relativas à sua
condição socioeconômica possibilitando traçar o perfil sócio-econômico dos alunos da UFPA,
visando facilitar a implantação de políticas de assistência estudantil dentre outras iniciativas.
Essa identificação começa pela análise das informações sobre os discentes, disponibilizadas
através dos relatórios de dados do QSEC (Questionário Sócio-Econômico e Cultural). Daí a
importância de divulgar maciçamente sua existência e incentivar o seu preenchimento. O sistema
está disponível no seguinte endereço: http://qse.ufpa.br/
Desta forma, o CTIC parabeniza a equipe do GEEDH pela iniciativa e, como órgão da UFPA
responsável pelo planejamento, padronização e execução das ações de tecnologia da Informação
e Comunicação da UFPA, continua disponível para colaborar com projetos que enriqueçam as
ações de ensino, pesquisa e extensão da Instituição.
Antonio Abelém
Diretor do CTIC
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Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto...
E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira
Se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
(...)
Vamos sair!
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego...
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...
Vamos lá, tudo bem!
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...
(...)
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas
Possam se encontrar...
(...)
Não sou perfeito...
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo
E não consegui dormir...
(Teatro Dos Vampiros, Legião Urbana / Renato Russo)
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INTRODUÇÃO
O Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos - GEEDH, por meio do projeto de
extensão DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DO ESTUDANTE – DISEC, realiza
desde meados de 2008 a importante tarefa de compreender os processos que levam o estudante
da UFPA a enfrentar - com êxito ou fracasso – as dificuldades no que tange ao êxito na conclusão
do seu curso de graduação. Mesmo que a UFPA seja, comprovadamente, uma instituição
inclusiva, com elevado contingente de estudantes em situação de vulnerabilidade
socioeconômica, tal condição ainda não propiciou a superação dos obstáculos para a
emancipação e promoção sustentável de seu corpo discente.
Por isso mesmo, essa discussão é tão fundamental quanto o tema dos currículos ou dos
projetos pedagógicos dos cursos, pois parte significativa de nossos alunos não lograrão êxito em
sua carreira se não lhe forem proporcionadas as condições objetivas para tal, do contrário, gerar-
se-á o perverso quadro da retenção acadêmica, que é prejudicial para eles e para o país como um
todo. O próprio Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC),
Ronaldo Mota, ao tratar da importância do Ensino Superior, defendeu que a expansão de vagas
nas Instituições de Ensino Superior – IES, além de ser balizada em critérios de qualidade, deve
levar em conta a inclusão social. Na SESuWEB, revista eletrônica da SESu, ele declarou que é
importante crescer com qualidade e é importante, também, que nesse processo se promova a
inclusão social através da educação. (www.sesuweb.mec.gov.br, 14/05/2007).
Atualmente, uma simulação da taxa de conclusão de cursos de graduação a partir dos
dados do PingIFES (Plataforma de Integração de Dados das IFES) 2005 por curso de graduação
demonstra que a média nacional é de cerca de 63%, mantendo o índice do século passado
praticamente intocável. Quanto à UFPa, a quantidade de ingressantes é de 5.811 estudantes/ano
e de concluintes, 4.109 estudantes/ano, perfazendo uma taxa de conclusão de 70,71%. No
contexto das 50 IFES brasileiras é interessante notar que, em termos de taxa de conclusão a
UFPA situa-se em 15º lugar, todavia, em relação ao número de ingressantes fica em 3º lugar e, no
que tange ao número de concluintes, é a que mais gradua no país.
Em que pese esse dado positivo, para se constituir em uma dimensão importante no
âmbito da UFPA, o cuidado com seus estudantes mais vulneráveis deverá converter-se em um
conjunto de ações que tenham em vista a integração acadêmica, científica e social do estudante,
incentivando-o ao exercício pleno da cidadania e promovendo seu êxito acadêmico. Para tanto,
aproximar-se do seu cotidiano é essencial, pois é nele que os riscos de insucesso acadêmico se
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manifestam e se constituem de forma mais definitiva. Daí a importância do presente
DIAGNÓSTICO PRELIMINAR SOBRE O PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL MÉDIO DO
ESTUDANTE DA UFPA (Notas críticas a partir do QSEC)
Em uma análise superficial, os números absolutos dos discentes da UFPA parecem indicar
a condição de uma universidade inclusiva, todavia, quando a visualizamos discriminada por
institutos, observamos resultados que, mesmo não sendo surpreendentes, constituem algo inédito
em termos da dessa demanda social. Trata-se da coexistência de universos homogêneos dentro
de um universo heterogêneo maior. Dito de outra forma, este estudo demonstra, em última
instância, que as unidades acadêmicas, pelo fato de aglutinarem cursos com características
semelhantes, acabam sendo compostas por estratos humanos que guardam, com extraordinária
regularidade, características socioeconômicas também semelhantes.
Adotadas por facilitarem a composição de um mosaico socioeconômico e cultural de amplo
espectro, as sete questões escolhidas para iniciar o diagnóstico têm a faculdade de tornar visíveis
as diferenças sociais que existem entre estudantes de cursos diferentes, independentemente das
áreas originais do então candidato. Pois que não é nas grandes áreas de conhecimento que tais
diferenças aparecem (Humanas, Biológicas ou Exatas) mas na definição e acesso aos cursos de
graduação, daí a visível disparidade entre as condições dos estudantes.
Ficou claro para nós que este tema se reveste de grande relevância e atualidade, uma vez
que estudos têm comprovado que a pobreza e a miséria em nosso país não são resultantes
apenas da escassez de recursos, mas fenômenos que, na verdade, refletem o perverso padrão de
distribuição da renda, sobretudo porque, além de elevada, a desigualdade no Brasil tem
demonstrado uma impressionante rigidez.
Dono de uma significativa dívida social que se acumulou durante séculos, o Brasil é um
país de índices desproporcionais quando se trata da socialização de suas riquezas. Esse quadro,
que não apresenta solução a curto e médio prazo, tem imposto as suas instituições e cidadãos,
com justificada urgência, estudos que esmiúcem essa realidade e promovam um amplo debate
sobre como construir adequadamente a cicatrização de suas profundas chagas sociais e o
equilíbrio de oportunidades para o desenvolvimento humano de todos. Esperamos que este
trabalho seja um primeiro passo nessa grande tarefa de desvendar a realidade com vistas à sua
mudança.
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UNIDADE NA DIVERSIDADE OU DIVERSIDADE NA UNIDADE?
Longe de esgotarmos todas as possibilidades de análise existentes nos dados contidos no
sistema de informações sócio-econômicas e culturais dos discentes da UFPA, nossa intenção
primária é, em primeiro plano, compartilharmos com a comunidade intra e extra-institucional essas
informações.
Em segundo plano, e decorrente da publicização gerada por esse compartilhamento,
temos a esperança de estimularmos a produção de ilações (perguntas e questionamentos
distintos) sobre a diversidade da realidade social desses universitários, seus fragmentos de vida
pessoal e acadêmica. Quiçá passamos também contribuir para a instituição de uma cultura de
planejamento que incorpore a heterogeneidade das histórias humanas contidas e reveladas por
estes dados contribuindo, assim, para uma distribuição de esforços e recursos mais justa, em que
os desiguais recebam, na prática, ações específicas com intensidade e alcance programático
distintos, com o horizonte de uma universidade promotora de justiça e igualdade para todos.
Nos limites desse primeiro trabalho agrupamos sete questões entre o total de 32 que
compõem o referido sistema, para apresentarmos um perfil preliminar dos discentes do campus
Belém1 da UFPA, especialmente no tocante ao leque de gradientes entre os seus institutos.
Em relação aos discentes que viveram a maior parte do tempo até os 14 anos em área
urbana do município (vide gráfico 1 e tabela 1), identificou-se que os institutos ICS e ICB
apresentaram o maior índice com 96%. No outro extremo, ou seja, com menor índice, está o
ICED, com 91%. Os dados produzidos por essa questão podem permitir a inferência de que
aqueles que viveram em área urbana, em tese, tiveram maior probabilidade de acesso aos
serviços disponíveis (públicos e privados).
Da mesma forma, é possível inferir que, no outro extremo, os indivíduos que viveram em
área rural, em tese, não contaram com uma rede de serviços (públicos e privados) que pudesse
impactar sobre a qualidade de sua reprodução social, em particular no que diz respeito ao acesso
aos direitos de cidadania.
Assim, de forma inicial, é possível identificar distintas gradações entre os institutos do
campus Belém quanto a incidência de discentes que contaram (ou não) com a possibilidade do
acesso a uma estrutura de serviços (públicos e privados) existentes no espaço urbano, e, por
1 Do total de alunos matriculados no campus Belém no ano de 2009 (22.666), aproximadamente 33% responderam as questões do DISEC.
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decorrência, tiveram (ou não) melhores oportunidades para o seu processo inicial de
desenvolvimento.
Quanto ao tipo de estabelecimento em que o discente cursou o ensino fundamental (escola
pública, ou privada) (vide gráfico 2 e tabela 2), os dados obtidos no DISEC evidenciam que os
institutos que detém incidência de alunos provenientes da rede pública, em ordem decrescente,
são: ICED (65,3%); ILA (58,2%); ICEN (57,3%); ICA (55,2%); ICSA (53,3%); IFCH (47,0%); IGC
(44,3%); ICB (42,1%); ITEC (39,4%); ICS (34,4%) E ICJ (32,0%).
Se forem somados os valores parciais daqueles que cursaram a totalidade e a maior parte
em escola pública, os dois institutos com maior incidência desses discentes são ICED (78,0%) e o
ICEN (69,3%). Já os dois institutos com menos incidência desses alunos são o ICJ (42,7%) e o
ICS (45,4%).
Uma especificidade desses dados diz respeito ao fato do ICJ e o ICS serem os únicos
institutos que possuem uma concentração de alunos abaixo de 50% que cursaram o ensino
fundamental em escola pública (em sua totalidade somada à maior parte).
Quanto ao tipo de estabelecimento em que o discente cursou o ensino médio (escola
pública ou privada) (vide gráfico 3 e tabela 3), os dados do DISEC mostram que os institutos que
possuem incidência de discentes oriundos da rede privada, em ordem decrescente, são: ICJ
(53,1%); ICS (51,1%); ITEC (42,7); ICB (37,2%); IFCH (36,0%); IGC (33,1%); ICSA (30,7%); ILA
(29,4%); ICEN (27,5%); ICA (26,8%); ICED (22,4%). Somando os valores parciais daqueles que
cursaram a totalidade com aqueles que cursaram a maior parte em escola privada, os dois
institutos com maior incidência desses discentes são o ICS (59,8%) e o ICJ (59,0%). Já os dois
institutos com menor incidência de alunos são o ICED (29,0%) e o ILA (36,3%).
Nesses dados em particular (soma daqueles que cursaram a totalidade e a maior parte do
ensino médio na rede privada), oito dos onze institutos do campus Belém tem o índice abaixo dos
50% de alunos, são eles: ICED, ILA, ICEN, ICA, ICSA, IGC, IFCH e ICB.
No quesito estado civil agrupamos em três conjuntos o leque de respostas assinaladas
pelos discentes para simplificar a organização dos dados. Desta forma, o dado “União conjugal”,
agrega os arranjos formais e informais de conjugalidade, assim como o dado “separado / viúvo”,
expressa distintas formatações desse estado civil em particular (vide gráfico 4 e tabela 4).
Os institutos que tem incidência de discentes solteiros, em ordem decrescente, são: ICB
(93,6%); ICS (92,9%); IGC (92,4%); ITEC (89,4%); ICA (88,9%); ICEN (87,2%); IFCH (86,6%); ICJ
(85,1%); ILA (85,3%); ICSA (85,0%); ICED (81,6%).
Em relação à incidência de alunos que estão em união conjugal, os dois institutos com
maior concentração desses discentes são: ICED (17,6%); ICSA (13,8%). Os únicos institutos
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abaixo de 10% de discentes em união conjugal são: ICB (6,5%); ICS (7,1%); IGC (7,2%); ITEC
(9,3%).
Um aspecto em relevo nestes dados evidencia que o instituto que possui a maior
concentração de discentes em união conjugal, o ICED, tem a quarta menor incidência em relação
à presença de alunos separados ou viúvos (com 0,8%), estando atrás do ICS (0,3%), do ICB
(0,4%) e do ICA (0,7%).
Em relação à pergunta “quantos filhos você possui?”, para efeito desta análise, agregamos
no dado “tem filho” as distintas respostas correspondentes a diversidade de quantidade de
rebentos que os discentes possuem (vide gráfico 5 e tabela 5).
Desta forma, a incidência de institutos com alunos que tem filhos, em ordem decrescente,
é: ICED (22,3%); ICEN (15,7%); ICSA (14,3%); ILA (14,3%); IFCH (13,2%); ICA (12,2/50; ICJ
(11,9%); ITEC (10,3%); ICB (9,8%); IGC (8,5%); ICS (6,0%).
A partir destes dados é possível inferir que sobre estes alunos, em particular, existe uma
quantidade adicional de responsabilidades para além de sua necessidade de reprodução
intelectual. De fato, as ações concernentes aos cuidados com crianças e adolescentes podem
concorrer com (ou subtrair consideravelmente) o tempo dedicado ao estudo e à formação destes
discentes. Por não ser irrelevante essa realidade, este dado em particular, deveria ser um
subsídio importante à organização da política de assistência estudantil na UFPA.
Quanto à renda líquida mensal dos alunos que trabalham, para efeito desta análise
reorganizamos em cinco estratos as respostas existentes no DISEC: de 0 a 1 salário mínimo; de 1
a 3 salários mínimos; de 3 a 5 salários mínimos; de 5 a 10 salários mínimos; e acima de 10
salários mínimos (vide gráfico 6 e tabela 6).
Dos estudantes que auferem alguma fonte de renda, a principal faixa em que eles se
encontram esta situada no intervalo entre 0 e 1 salário mínimo. Em relação aos institutos do
campus Belém eles estão organizados na seguinte ordem decrescente: ICS (91,3%); ICG
(92,0%); ICB (87,6%); ICA (86,7%); IFCH (78,0%); ILA (76,5%); ICED (74,9%); ITEC (74,7%);
ICEN (72,7%); ICSA (68,6%); ICJ (62,5%).
Um dado interessante é que sete institutos têm alunos que auferem uma renda própria
acima de 10 salários mínimos, em uma faixa de incidência que vai de 3,5% a 0,3%. Dentre estes,
aquele que possui a maior concentração é o ICJ.
Em relação à renda líquida mensal da família, adotamos também cinco estratos. Para
efeito desse exercício analítico, são eles: 0 a 1 salário mínimo, 1 a 3 salários mínimos, 3 a 5
salários mínimos, 5 a 10 salários mínimos e acima de 10 salários mínimos (vide gráfico 7 e tabela
7).
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Dos lados obtidos, identificou-se que a faixa de maior concentração da renda familiar,
compreende o estrato de 1 a 3 salários mínimos. Em relação à incidência desse estrato de renda
familiar dos discentes nos institutos do campus Belém, em ordem decrescente, eles estão assim
distribuídos: ICED (63,3%); ICA (62,3%); ILA (55,9%); ICEN (53,9%), ICSA (53,0%); IGC (49,6%),
IFCH (48,5%); ICB (47,0%); ITEC (36,0%); ICS (34,7%); ICJ (18,4%).
No estrato de renda familiar mais alto (acima de 10 salários mínimos) a incidência presente
nos institutos se distribui no intervalo de 1,9% a 30,1%, sendo estes representados pelos ICED e
ICJ, respectivamente.
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ANEXOS
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Onde Viveu a Maior Parte do Tempo até seus 14 Anos? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
Área Urbana do Município 94,48% 92,09% 95,64% 95,04% 94,10% 93,29% 94,50% 95,83% 91,24% 93,41% 92,57%
Área Rural do Município 5,52% 7,91% 4,36% 4,96% 5,90% 6,71% 5,50% 4,17% 8,76% 6,59% 7,43%
GRÁFICO 1
TABELA 1
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Em que Tipo de Estabelecimento Você cursou o Ensino Fundamental? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
Todo em Escola Pública 55,25% 57,34% 32,08% 34,40% 47,05% 44,30% 39,43% 42,16% 65,37% 58,29% 53,31%
Todo em Escola Particular 20,44% 22,78% 48,54% 41,08% 30,05% 29,87% 37,98% 29,62% 13,70% 22,15% 23,49%
Maior Parte em Escola Pública 9,39% 11,93% 10,63% 10,99% 13,06% 13,76% 12,42% 13,59% 12,66% 9,46% 12,34%
Maior Parte em Escola Particular 14,92% 7,95% 8,75% 13,52% 9,84% 12,08% 10,17% 14,63% 8,27% 10,10% 10,86%
GRÁFICO 2
TABELA 2
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Em que Tipo de Estabelecimento Você Cursou o Ensino Médio? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
Todo em escola pública 58,10% 56,39% 35,98% 35,50% 50,09% 51,38% 41,88% 47,16% 64,23% 58,01% 54,31%
Todo em escola particular 26,82% 27,57% 53,14% 51,13% 36,04% 33,10% 42,70% 37,23% 22,45% 29,40% 30,79%
Maior parte em escola pública 5,03% 7,17% 5,02% 4,69% 8,11% 4,83% 6,86% 3,55% 6,79% 5,70% 7,64%
Maior parte em escola particular 10,06% 8,88% 5,86% 8,68% 5,77% 10,69% 8,57% 12,06% 6,53% 6,89% 7,26%
GRÁFICO 3
TABELA 3
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Cadernos de Textos do GEEDH
19
19
Estado Civil ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
Solteiro 88,96% 87,21% 85,11% 92,94% 86,57% 92,42% 89,38% 93,55% 81,55% 85,25% 84,92%
União conjugal 10,39% 11,89% 13,76% 7,06% 12,04% 7,20% 9,29% 6,45% 17,56% 13,45% 13,80%
Separado / Viúvo 0,65% 0,90% 1,04% 0,28% 0,87% 0,87% 1,33% 0,36% 0,75% 1,30% 1,28%
GRÁFICO 4
TABELA 4
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Cadernos de Textos do GEEDH
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Quantos Filhos Você Possui? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
Não tem filho 87,80% 84,26% 88,13% 94,00% 86,77% 91,54% 89,75% 90,20% 77,71% 85,71% 85,68%
Tem filho 12,20% 15,74% 11,87% 6,00% 13,23% 8,46% 10,25% 9,80% 22,29% 14,29% 14,32%
TABELA 5
GRÁFICO 5
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Cadernos de Textos do GEEDH
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Se você trabalha, qual sua renda líquida mensal? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
De 0 a 1 Salário Mínimo 86,74% 72,67% 62,45% 91,34% 78,00% 91,95% 74,69% 87,63% 74,87% 76,53% 68,62%
De 1 a >3 Salários Mínimos 12,71% 19,54% 19,50% 7,31% 16,99% 6,38% 19,07% 7,90% 22,51% 18,77% 24,11%
De 3 a >5 Salários Mínimos 0,55% 4,73% 8,92% 1,18% 3,58% 1,01% 3,63% 3,44% 2,36% 3,39% 4,67%
De 5 a >10 Salários Mínimos 0,00% 2,44% 5,60% 0,17% 0,54% 0,67% 2,32% 1,03% 0,00% 0,91% 2,15%
Acima de 10 Salários Mínimos 0,00% 0,61% 3,53% 0,00% 0,89% 0,00% 0,29% 0,00% 0,26% 0,39% 0,45%
TABELA 6
GRÁFICO 6
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Qual a renda líquida mensal de sua família? ICA ICEN ICJ ICS IFCH IGC ITEC ICB ICED ILA ICSA
De 0 a 1 Salário Mínimo 3,43% 6,30% 1,80% 1,19% 4,62% 2,88% 2,57% 2,29% 5,75% 3,35% 3,19%
De 1 a >3 Salários Mínimos 62,29% 53,90% 18,43% 34,65% 48,46% 49,64% 36,04% 46,95% 63,29% 55,87% 52,91%
De 3 a >5 Salários Mínimos 24,57% 21,23% 20,45% 25,55% 22,31% 29,50% 27,59% 25,19% 21,64% 22,07% 24,50%
De 5 a >10 Salários Mínimos 7,43% 13,27% 29,21% 24,36% 15,96% 14,75% 22,20% 15,65% 7,40% 14,94% 13,73%
Acima de 10 Salários Mínimos 2,29% 5,31% 30,11% 14,25% 8,65% 3,24% 11,58% 9,92% 1,92% 3,77% 5,67%
GRÁFICO 7
TABELA 7
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