aula 14 a sociedade do espetáculo guy debord
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Teorias da
Comunicação
A Sociedade do
Espetáculo
– Guy Debord
Prof. Ms. Elizeu N. Silva
A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Guy Debord (França, 1931–1994).
• Escritor francês. Foi um dos pensadores da Internacional
Situacionista e da Internacional Letrista e seus textos foram
a base das manifestações do Maio de 68.
• O ponto central de sua teoria é que a alienação é mais do
que uma descrição de emoções ou um aspecto psicológico
individual. É a consequência do modo capitalista de
organização social que assume novas formas e conteúdos
em seu processo dialético de separação e reificação da vida
humana.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Guy Debord (França, 1931–1994).
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições
modernas de produção se anuncia como uma imensa
acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido
se afastou numa representação.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a própria
sociedade, como uma parte da sociedade, e como instrumento
de unificação.
• Enquanto parte da sociedade, ele é expressamente o setor
que concentra todo o olhar e toda a consciência.
• Pelo fato de este setor ser separado, ele é o lugar do olhar
iludido e da falsa consciência.
• A unificação que realiza não é outra coisa senão uma
linguagem oficial da separação generalizada.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação
social entre pessoas, mediatizada por imagens.
O espetáculo não pode ser compreendido como o abuso de um
mundo da visão, o produto das técnicas de difusão massiva de
imagens. Ele é bem mais uma Weltanschauung* tornada efetiva,
materialmente traduzida. É uma visão do mundo que se objetivou.
* Orientação cognitiva fundamental do indivíduo ou de toda a sociedade, que
abrange tanto sua filosofia natural quanto os seus valores fundamentais, existenciais
e normativos. Imagem de mundo imposta ao povo de uma nação ou comunidade.
Ideologia.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Sob todas as suas formas particulares, informação ou
propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, o
espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente
dominante.
...
A própria separação [entre espetáculo e realidade; imagem e
realidade] faz parte da unidade do mundo, da práxis social global
que se cindiu em realidade e imagem.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Cada noção assim fixada não tem por fundamento senão a sua
passagem ao oposto: a realidade surge no espetáculo, e o
espetáculo é real. Esta alienação recíproca é a essência e o
sustento da sociedade existente.
O espetáculo apresenta-se como uma enorme positividade
indiscutível e inacessível. Ele nada mais diz senão que “o que
aparece é bom, o que é bom aparece”. A atitude que ele exige por
princípio é esta aceitação passiva.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
O carácter fundamentalmente tautológico* do espetáculo decorre
do simples fato de os seus meios serem ao mesmo tempo a sua
finalidade. Ele é o sol que não tem poente, no império da
passividade moderna.
A sociedade que repousa sobre a indústria moderna não é
fortuitamente ou superficialmente espetacular, ela é
fundamentalmente espetaculista. No espetáculo, o fim não é
nada, o desenvolvimento é tudo. O espetáculo não quer chegar a
outra coisa senão a si próprio.
* Tautologia: Uso de palavras diferentes para expressar uma mesma ideia;
redundância. 9
A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
A dominação da sociedade ocorre sob o princípio do fetichismo da
mercadoria, que se realiza absolutamente no espetáculo.
Sob a lógica do fetichismo da mercadoria, o mundo sensível é
substituído por uma seleção de imagens que existem acima dele,
e que ao mesmo tempo se fez reconhecer como o sensível por
excelência.
O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo
faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Com a revolução industrial, a divisão manufatureira do trabalho e
a produção maciça para o mercado mundial, a mercadoria
aparece efetivamente como uma potência que vem realmente
ocupar a vida social.
O espetáculo é o momento em que a mercadoria chega à
ocupação total da vida social.
...
Neste ponto da “segunda revolução industrial”, o consumo
alienado torna-se para as massas um dever suplementar à
produção alienada.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
A palavra espetáculo, na raiz, está ligada a espectador, ou seja,
“aquele que assiste”. Em uma sociedade do espetáculo as
relações pessoais são organizadas no sentido de uma
avassaladora troca de imagens.
Não existe distinção entre aparência e essência: na sociedade do
espetáculo a aparência torna-se o dado importante.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
A imagem é a forma mais desenvolvida da mercadoria no
capitalismo.
No capitalismo avançado a ideia de mercadoria sofre mudanças
radicais, caminhando da concepção clássica de objeto material,
com forma, peso e volume, para um elemento intangível que pode
ser captado apenas pela visão: a imagem.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
Marx, em O capital, identifica na mercadoria como um valor
adicional vinculado não ao objeto em si, mas ao resultado da sua
posse – ao qual dá o nome de fetiche da mercadoria – elemento
quase místico capaz de transferir o valor da mercadoria para
aquele que a possui.
Para Guy Debord, o aspecto material da mercadoria não é mais
importante no alto capitalismo. A imagem da mercadoria é o fator
determinante nessas sociedades.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
A imagem, obviamente, é algo para ser visto. Mas nem toda
imagem está inserida na lógica do espetáculo. Uma paisagem
natural, com lago, cisnes, montanhas ao fundo, relva, é apenas
uma paisagem, ou uma imagem natural. No entanto, se o espaço
for loteado para venda e a paisagem utilizada como sedução para
atrair compradores, o cenário se converte em mercadoria e ganha
valor de imagem.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
Segundo Guy Debord, no início do capitalismo a sociedade
experimentou uma passagem entre o ser e o ter. No
hipercapitalismo atual, alcança-se um novo nível, passando do ter
ao parecer.
O parecer é o domínio da visualidade desvinculada de outras
relações. Inclusive da realidade: a vertiginosa sucessão de
imagens não deixa tempo para aprofundamentos, exigindo do
indivíduo um consumismo instantâneo e sem reflexão.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
Se Adorno e Horkheimer identificaram a transformação da cultura
em mercadoria, Debord aponta a transformação da mercadoria
em cultura.
Na sociedade do espetáculo, até os atos de resistência e as
formas de contestação se transformam em expressões
espetaculares. No limite, quanto mais a pessoa se esforça para
demonstrar sua rebeldia por meio de determinada estética
(roupas pretas, tatuagens, piercing, gestos ensaiados e palavras
de ordem), mais se rende à lógica do espetáculo – na medida em
que expressa sua rebeldia visualmente.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
O espaço e o tempo cotidiano se tornam igualmente espetáculo.
A imagem define o calendário conforme os produtos: decoração
de Natal nos shopping centers, ovos de chocolate na Páscoa, a
celebração kitsch do afeto familiar obrigatório no Dia das Mães ou
dos Pais, o erotismo light do Carnaval ou do Dia dos Namorados.
Essa associação entre o tempo, a imagem e o produto formam as
estruturas do “tempo espetacular”.
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A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord >> Luís Mauro S.
Martino
A imagem invade todos os aspectos da vida cotidiana, mas a
mídia é o espaço por excelência da intersecção e redistribuição
das imagens. Não que a mídia seja a responsável pela sociedade
do espetáculo, mas sem dúvida é um de seus principais canais, e
possivelmente o mais poderoso.
Os meios de comunicação são um instrumento decisivo na
constituição de uma sociedade do espetáculo, sobretudo na
medida em que não têm limites claros. A única diferença, ao que
parece, é o lugar onde há a presença desta imagem – nos pixels
da tela eletrônica ou nos espaços do cotidiano.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
Kehl
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Maria Rita Kehl (Campinas, 1951) é psicanalista,
jornalista, ensaísta, poetisa, cronista e crítica literária.
• Em 2010, venceu o Prêmio Jabuti de Literatura na
categoria "Educação, Psicologia e Psicanálise“, com o
livro “O Tempo e o Cão - A Atualidade das
Depressões”.
• Recebeu o Prêmio Direitos Humanos do governo
federal na categoria "Mídia e Direitos Humanos".
A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
Kehl
21
• Em 2012, foi convidada a
integrar a Comissão Nacional
da Verdade, instalada para
apurar as violações aos
Direitos Humanos ocorridas
no período entre 18 de
setembro de 1946 e 5 de
outubro de 1988.
Fonte: Wikipedia
A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlNa sociedade do espetáculo, o impacto midiático dos eventos é
tão mais importante do que seu papel na história ou suas
consequências políticas...
Até mesmo o fato de que os acontecimentos são engendrados
pelos homens, únicos agentes da história (ainda que não
detenham controle sobre ela), é apagado diante da sua dimensão
espetacular.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlA dimensão das estratégias de poder e dominação, presentes em
qualquer sociedade, ao mesmo tempo se desloca e se apaga na
sociedade do espetáculo. A arena da visibilidade política desloca-
se do foro onde os homens negociam e as decisões são tomadas,
para o das imagens que parecem mais adequadas ao espetáculo
dos telejornais.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlEssa mesma operação de deslocamento do espaço onde se
exerce o poder funciona de modo a apagar suas linhas de força.
É que o trabalho, aparentemente informativo, de tudo mostrar –
ou seja, de traduzir todas as operações do poder em imagens –
esconde justamente aquilo que determina essas operações.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlTrata-se do ocultamento, não necessariamente proposital, mas
central na lógica do espetáculo, de tudo o que não pode ser
compreendido na linguagem das imagens, de tudo o que depende
do trabalho de simbolização do pensamento e dos discursos.
O espetáculo organiza com maestria a ignorância do que
acontece e, logo em seguida, o esquecimento daquilo que, apesar
de tudo, pode tornar-se conhecido.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlO que interessa ao espectador fiel é a esperança de que
a exibição, pela televisão, da banalidade de um cotidiano
parecido com o seu, ponha em evidência migalhas de
brilho e de sentido que sua vida, condenada à
domesticidade, não tem.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
Kehl# Na modernidade, a invisibilidade do indivíduo na massa
podia ser compensada pela participação nos grandes
ideais políticos e religiosos, magnetizado pelo líder.
# Na pós-modernidade, o indivíduo se realiza e procura
romper a invisibilidade projetando-se na imagem do outro
– que assume como a sua própria. Daí a incontrolável
necessidade que sente pelo espetáculo, e a ânsia com
que tenta reproduzi-lo.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlA substituição do espaço público pelo espaço da
visibilidade televisiva... consolidou uma espécie de
ficção totalitária que articula jornalismo,
entretenimento e publicidade numa mesma
sequência ininterrupta de imagens regidas pelas leis
da concorrência comercial entre os canais de
televisão.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlTodo evento que se faça representar na linguagem da
televisão, independentemente de sua complexidade,
independentemente da história que determinou sua
emergência, independentemente das relações entre os
homens que se ocultem sob sua aparição presente,
deve ser traduzido na mesma linguagem e obedecer
às mesmas leis.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlNa sociedade do espetáculo toda imagem, mesmo a
imagem jornalística, mesmo a informação mais
essencial para a sociedade, tem o caráter de
mercadoria, e todo acontecimento se reduz à
dimensão do aparecimento.
Na sociedade do espetáculo, a dimensão dos ideais é
dispensada a favor da dimensão do consumo.
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A Sociedade do Espetáculo
A realidade ficcional >> Maria Rita
KehlA hipervisibilidade da sociedade do espetáculo
funciona para ocultar com muita eficácia e distanciar
ainda mais do homem comum os mecanismos do
poder.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
Eugênio Bucci é professor da Escola de Comunicações e
Artes (ECA) e pesquisador visitante do Instituto de Estudos
Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
Integrou o conselho curador da Fundação Padre Anchieta (TV
Cultura de São Paulo) de 2007 a 2010. Autor de livros e
ensaios sobre comunicação e jornalismo. Como crítico de
televisão e de cultura, manteve colunas em jornais na "Folha
de S. Paulo" e "Jornal do Brasil" e nas revistas "Veja", "Nova
Escola" e "Sem Fronteiras”.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
Bucci é graduado em Jornalismo e em Direito pela
Universidade de São Paulo (USP) e é doutor em Ciências da
Comunicação, também pela USP.
Fonte: Wikipedia
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
A assim chamada “comunicação de massa”, além de
modificar para sempre a própria natureza da imprensa,
tende a misturar os domínios da arte e do jornalismo num
mesmo balaio de imposturas éticas, prontas para o
consumo e inimigas da virtude tanto artística (criar em
conformidade com a imaginação) quanto jornalística (falar
em conformidade com a verdade factual).
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
#Atribuir aos controladores dos órgãos emissores de
conteúdo má fé ou falta de sinceridade simplifica o
problema e não o soluciona. Pois, do contrário, bastaria
substituí-los por gestores “idôneos”.
Esse complexo [indústria cultural] já encerra em si a
função de entorpecer a razão.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
• A natureza da indústria cultural é incompatível com o
projeto de verdade jornalística.
• A busca da verdade, virtude ancestral do jornalismo, é
simplesmente incompatível com a lógica dos
conglomerados comerciais da mídia dos nossos dias.
• Onde quer que a notícia esteja a serviço do espetáculo,
a busca da verdade é apenas um cadáver. Pode até
existir, mas, sempre, como um cadáver a serviço do
“dom de iludir”.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
O negócio do telejornalismo não é o jornalismo. Seu
negócio não é sequer a veiculação de conteúdos. As
grandes redes de televisão aberta têm como negócio a
atração dos olhares da massa para depois vendê-los aos
anunciantes. E esse negócio impõe uma ética estranha à
velha ética jornalística.
Verdade e mentira deixam de ser uma questão central.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
Se os meios de comunicação de massa dizem a verdade
em pequenos fragmentos factuais da “vida como ela é”,
eles o fazem para melhor mentir. Não porque alguém os
tenha planejado assim, mas porque assim eles são como
um modo de produção.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
Na medida em que o público se revela, ele mesmo,
mercadoria passível de ser vendido ao anunciante, o que
[é] decisivo para a transformação do jornalismo em
indústria, os meios de comunicação se dedicam mais e
mais a ampliar seu público, não mais como cidadãos
reunidos, mas como consumidores anônimos, dispersos de
si, compactados enquanto massa.
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A Sociedade do Espetáculo
>> Eugênio Bucci
[Verifica-se uma] fusão orgânica entre jornalismo e
entretenimento. O jornalismo passa a obedecer,
progressivamente, a uma ética de mercado, ... e trabalha
cada vez menos para os direitos e cada vez mais para o
consumo e para a extração do olhar (uma atividade
extrativista primitiva).
A ética do telejornalismo não é mais presidida pela
verdade, mas pelo imperativo de extrair o olhar.
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A Sociedade do Espetáculo
Bibliografia
BUCCI, Eugênio. Na TV, os cânones do Jornalismo são anacrônicos . IN:
Videologias. BUCCI, Eugênio; KEHL, Maria Rita. Col. Estado de Sítio, São Paulo,
Ed. Boitempo, 2004.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Lisboa, Edições Antipáticas, 2005.
KEHL, Maria Rita. Visibilidade e espetáculo. IN: Videologias. BUCCI, Eugênio;
KEHL, Maria Rita. Col. Estado de Sítio, São Paulo, Ed. Boitempo, 2004.
MARTINO, Luís Mauro de Sá. Teoria da comunicação: ideias, conceitos e
métodos. 5ª edição, Ed. Vozes, Petrópolis, 2014.
VIANA, Nildo. Debord e a sociedade do espetáculo. Mídia Independente.
Disponível em http://www.midiaindependente.org/pt/red/2003/03/250131.shtml.
Consulta em 8/maio/14
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