as polÍticas anticÍclicas brasileiras da crise …
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO
ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN
AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE
FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL
SÃO PAULO
2015
ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN
AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE
FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL
Dissertação apresentada à Escola de Economia
de São Paulo da Fundação Getulio Vargas,
como requisito para obtenção do título de Mestre
em Economia.
Campo de Conhecimento:
Macroeconomia Financeira
Orientador: Prof. Dr. Rogério Mori
SÃO PAULO
2015
Klein Graupen, André Gilberto. As Políticas Anticíclicas Brasileiras da Crise Financeira de 2008: uma análise setorial / André Gilberto Klein Graupen. - 2015. 62 f. Orientador: Rogério Mori Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. 1. Crise financeira global, 2008-2009. 2. Investimentos imobiliários. 3. Mercado financeiro - Brasil. 4. Política monetária - Brasil. 5. Política tributária - Brasil. I. Mori, Rogério. II. Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. III. Título.
CDU 336.76(81)
ANDRÉ GILBERTO KLEIN GRAUPEN
AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS DA CRISE
FINANCEIRA DE 2008: UMA ANÁLISE SETORIAL
Dissertação apresentada à Escola de Economia
de São Paulo da Fundação Getulio Vargas,
como requisito para obtenção do título de Mestre
em Economia.
Campo de Conhecimento:
Macroeconomia Financeira
Data da Aprovação:
____/____/_____
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Rogério Mori FGV-EESP
Prof. Dr. Emerson Fernandes Marçal FGV-EESP
Prof. Dr. Sérgio Goldbaum FGV-EAESP
Aos meus pais, irmãos, amigos, colegas de
trabalho e a todas as pessoas que me
acompanharam nessa longa jornada, na
realização de um grande sonho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, participaram da
minha vida acadêmica, ao longo desse tempo, em busca da realização do sonho de
concluir um curso de mestrado.
Em especial, gostaria de reconhecer o apoio incondicional dos meus pais,
Henriette Melanie Klein Graupen e José Franklin Graupen, pelo incentivo, pela
compreensão da falta de tempo, pela paciência durante os estudos, e de sempre
estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis ao longo dessa jornada.
Agradeço meus irmãos Rodrigo e Karina, por todas as alegrias e
oportunidades que me deram, pelo incentivo, e por todo apoio com relação ao
mestrado.
Parabenizo meus amigos e colegas de trabalho, que suportaram os finais
de semana perdidos, a falta de tempo, as ajudas nas pesquisas e a conciliação do
tempo de trabalho e estudo, mas que sempre foram compreensivos e continuaram me
apoiando.
Agradeço a todas as demais pessoas que estiveram ao meu lado durante
todo o tempo da elaboração desse trabalho, perto ou longe, me entendendo e
aceitando os dias de dedicação exclusivos.
A mais sincera e singela homenagem aos professores, dos quais não
seríamos capazes de chegar até aqui, e que, com muita paciência, foram capazes de
nos transmitir tamanho conhecimento, contribuindo com nosso amadurecimento.
Por fim, agradeço ao meu orientador Professor Doutor Rogério Mori pela
dedicação ao longo desses meses e por toda a ajuda oferecida.
A todos vocês, minha imensa gratidão.
“Uma hora essa política se esgota e o dinheiro
acaba. Com nossos principais parceiros
saindo, a música mudou, e o governo resolveu
mudar porque, senão, iríamos para uma
situação muito grave”.
Joaquim Levy
RESUMO
A crise financeira internacional de 2008 afetou tanto a economia dos
Estados Unidos quanto a economia mundial. Assim, discutiu-se as origens da crise do
“subprime”, em uma contextualização histórica e entendeu-se a repercussão dessa
crise, com foco nas medidas anticíclicas brasileiras adotadas em nível setorial.
Através de estudos econométricos que visavam avaliar a eficácia dessas medidas de
políticas fiscal, monetária e creditícia, direcionadas aos setores automotivo, de
construção civil e de móveis e eletrodomésticos, buscou-se entender a eficácia das
medidas anticíclicas tanto como incentivo econômico, quanto na manutenção do nível
de emprego, dois dos principais focos das políticas anticíclicas brasileiras. A análise
empírica revelou, no lado do incentivo dos setores, que a política monetária
expansionista não teve o efeito esperado em nenhum dos três setores testados,
enquanto que as políticas creditícia e fiscal, também expansionistas, tiveram efeitos
positivos sobre os setores em estudo. Pelo lado da eficácia na manutenção do
emprego, as políticas fiscal e monetária foram eficazes para os três setores
analisados, o que nos permite concluir que as medidas do governo tiveram alguma
forma de eficácia. É importante ressaltar que se assumiu a premissa para as séries
de IPI sobre o setor de móveis e eletrodomésticos e a série de desemprego, que não
estavam disponíveis de forma específica, constituindo uma limitação ao trabalho.
Palavras-Chave: eficácia das políticas anticíclicas; crise do subprime; crise
financeira internacional; crise financeira de 2008; impactos da
crise sobre a economia brasileira; política fiscal; política
creditícia; política monetária.
ABSTRACT
The international financial crisis of 2008 has affected both the US and the
world economies. Thus, we discussed the origins of the subprime crisis in a historical
context, understanding the impacts of this crisis focusing on countercyclical policies
adopted at a sectorial level. Through econometric studies to evaluate the effectiveness
of the fiscal, monetary and credit countercyclical policies focused on automotive,
construction and home furniture and appliances sectors of the economy, aiming to
understand the effectiveness of these policies both as an incentive for these industries
as well as maintenance of the employment rate of the economy, two focuses of the
Brazilian countercyclical policies. The empirical analysis revealed, on the side of
incentive of the sectors that the expansionary monetary policy did not have the
expected effect on any of the three sectors studied, while the credit and fiscal policies,
also expansionary, had a positive effects on the sectors studied. On the maintenance
of the unemployment rate of the economy side, fiscal and monetary policies were
effective for the three sectors analyzed, which allows us to conclude that the
government policies adopted had some form of efficacy. It is important to note that we
assumed premises regarding IPI on the home furniture and appliances sector and
unemployment series, which were not available in a specific way, constituting a
limitation to paper.
Keywords: effectiveness of countercyclical policies; subprime crisis;
international financial crisis; 2008 financial crisis; impacts of the
crisis on the Brazilian economy; fiscal policy, credit policy,
monetary policy.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Taxas de Juros dos Fundos Federais e Política Monetária
Expansionista, em % – Estados Unidos (2000-2007) ...................... 17
Gráfico 2 – Fluxo de Capital nos Países Emergentes, em US$ bilhões (1997-
2013) ............................................................................................... 18
Gráfico 3 – Produto Interno Bruto a preços básicos, em R$ (milhões) – Brasil
(2004-2014) ..................................................................................... 25
Gráfico 4 – IPCA e Taxa de Juros Over/Selic, em % – Brasil (2004-2014) ......... 26
Gráfico 5 – Taxa de Desemprego na região metropolitana de São Paulo, em
% – Brasil (2004-2014) .................................................................... 26
Gráfico 6 – Número de licenciamentos de automóveis, em unidades – Brasil
(2004-2014) ..................................................................................... 27
Gráfico 7 – Receita com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do
setor automotivo, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) ................. 28
Gráfico 8 – Volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas
físicas, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) ................................. 28
Gráfico 9 – O PIB e o Crédito no setor de Construção Civil, em R$ (milhões) –
Brasil (2004-2014) ........................................................................... 29
Gráfico 10 – Índice de inflação IGP-DI, em % – Brasil (2004-2014) ..................... 30
Gráfico 11 – As Vendas ao Varejo e o IPI no setor de Móveis e Eletrodomésticos
– Brasil (2004-2014) ........................................................................ 30
Gráfico 12 – Taxas de Variação das Variáveis Normalizadas do Estudo ............. 32
Gráfico 13 – Variáveis de Hiato ………………………………………………….…... 33
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise
Agregada ........................................................................................ 22
Quadro 2 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise
Setorial ........................................................................................... 23
Quadro 3 – Sumário das Variáveis de Hiato ...................................................... 34
Quadro 4 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo ao Produto dos
Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e
Eletrodomésticos durante a Crise ................................................... 45
Quadro 5 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo do Emprego dos
Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e
Eletrodomésticos durante a Crise ................................................... 47
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Teste de Raiz Unitária ................................................................. 35
Tabela 2 – Estimativas da Equação (1) – Hiato do Desemprego, Juros,
Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto Automotivo .......... 38
Tabela 3 – Estimativas da Equação (2) – Hiato do Produto Automotivo,
Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego .......... 39
Tabela 4 – Estimativas da Equação (3) – Hiato do Desemprego, Juros,
Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto da Construção
Civil ............................................................................................. 40
Tabela 5 – Estimativas da Equação (4) – Hiato do Produto da Construção
Civil, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego.. 41
Tabela 6 – Estimativas da Equação (5) – Hiato do Desemprego, Juros,
Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto de Móveis e
Eletrodomésticos ........................................................................ 43
Tabela 7 – Estimativas da Equação (6) – Hiato do Produto de Móveis e
Eletrodomésticos, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do
Desemprego ............................................................................... 45
Tabela A.1 – Descrição das Variáveis de Estudo ............................................. 55
Tabela A.2 – Transformação das Variáveis de Estudo ..................................... 56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADF Test: Teste de Dickey-Fuller Aumentado.
ANFAVEA: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.
AR: Processo Autorregressivo.
ARIMA: Processo Autorregressivo Integrado e de Médias Móveis.
ARMA: Processo Autorregressivo e de Médias Móveis.
BACEN/BCB: Banco Central do Brasil.
BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
CEF: Caixa Econômica Federal.
CEPAL: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.
CMN: Conselho Monetário Nacional.
COFINS: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
FBCF: Formação Bruta de Capital Físico.
FGV: Fundação Getulio Vargas.
Filtro HP: Filtro Hodrick-Prescott.
FGC: Fundo Garantidor de Crédito.
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IGP-DI: Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (índice de inflação da FGV).
IOF: Imposto sobre Operações Financeiras.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (índice oficial de inflação).
IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados.
IR: Imposto de Renda Retido da Fonte.
IRPF: Imposto de Renda das Pessoas Físicas.
MA: Processo de Médias Móveis.
MIMIC: Múltiplos Indicadores e Múltiplas Causas.
MF: Ministério da Fazenda.
MQO: Mínimos Quadrados Ordinários.
PED: Pesquisa de Emprego e Desemprego.
PIB: Produto Interno Bruto.
PIS: Programa de Integração Social.
PMC: Pesquisa Mensal de Comércio.
RMSP: Região Metropolitana de São Paulo.
SEADE: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados.
SELIC: Sistema Especial de Liquidação e Custódia (taxa básica de juros da economia
brasileira).
SNIPC: Sistema Nacional de Preços ao Consumidor.
SRF: Secretaria da Receita Federal.
TJLP: Taxa de Juros de Longo Prazo.
VAR: vetores autorregressivos.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 14
2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 16
3. ANÁLISE DESCRITIVA E O TRATAMENTO DA BASE DE DADOS .............. 24
4. AS MEDIDAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS E SUA EFICÁCIA .................. 36
4.1 Análise do Setor Automotivo .................................................................... 37
4.2 Análise do Setor de Construção Civil ....................................................... 40
4.3 Análise do Setor de Móveis e Eletrodomésticos ...................................... 42
4.4 A Eficácia das Medidas Anticíclicas Setoriais .......................................... 45
5. CONCLUSÃO .................................................................................................. 48
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 51
APÊNDICE A – Variáveis Utilizadas e suas Transformações ........................... 55
ANEXO A – Medidas Anticíclicas Brasileiras ..................................................... 57
14
1. INTRODUÇÃO
A crise financeira de 2008 que assolou a economia mundial foi produzida,
basicamente, através das falhas de regulação vigentes à época, além da atuação dos
agentes econômicos na criação e comercialização de títulos securitizados, em um
movimento conhecido como inovação financeira, permitida pela grande integração das
economias mundiais e pelas políticas americanas de incentivo ao endividamento. Para
tanto, definiremos crises financeiras como uma interrupção nas altas dos preços dos
ativos que se seguem por momentos de pânico dos agentes econômicos. Esse
comportamento irracional leva a uma queda nos preços dos ativos, levando a um
efeito dominó, afetando taxas de câmbio e migrando para o lado real da economia,
corroborando a teoria de crises financeiras de Minsky, através do “Minsky moment”.
Dessa maneira, havia um excesso monetário provocado pelo crescente
endividamento da economia norte-americana, representado pela bolha do setor
imobiliário, composto pela facilidade de financiamento sem que se questionasse a
capacidade de pagamento das dívidas existentes dos agentes. De acordo com
Krugman (2009), essa crise financeira estava diretamente relacionada às questões de
informações assimétricas, seleção adversa e “moral hazard”.
A partir disso, a fragilização da economia norte-americana se deu com a
migração dos investimentos do mercado acionário para o mercado imobiliário que,
juntamente com a economia globalizada, permitiu a criação de uma integração
financeira internacional, gerando um grande fluxo de moeda para o mercado norte-
americano. Soma-se a isso, o fato de o Federal Reserve, através da política monetária
expansionista de Alan Greenspan, incentivar o endividamento dos agentes através da
redução da taxa de juros de financiamento imobiliário para patamares historicamente
baixos, com redução dos critérios de concessão de crédito, aumentando ainda mais o
movimento de expansão desse setor. Com a queda do preço dos ativos imobiliários,
eclodiu-se a crise financeira, em um movimento de desaceleração do setor imobiliário.
Assim, a crise passou a atingir o sistema bancário, onde tomou grandes proporções,
contagiando os outros setores da economia – migrou para o lado real.
15
No Brasil, o início da crise se deu imediatamente após sua eclosão nos
Estados Unidos, com o rompimento da bolha imobiliária que desorganizou os
mercados financeiros e colapsou o sistema de crédito dos bancos (LOPES, 2009).
Motivo para um contágio tão rápido é dado pela alta exposição externa do sistema
financeiro do Brasil, de acordo com Kacef e Lopéz-Monti (2010). No entanto, o Brasil
não foi primariamente afetado por causa do aprendizado das crises anteriores, que
fizeram com que o país estivesse mais bem preparado para futuras crises.
Contextualizada a crise de 2008, foram selecionadas, dentre as medidas
anticíclicas adotadas, as políticas creditícias, monetárias e fiscais, com foco nos
setores automotivo, construção civil e móveis e eletrodomésticos da economia
brasileira, das quais se verificou sua eficácia através de testes econométricos
realizados para os setores estudados, concluindo que tais medidas de combate aos
efeitos da crise de 2008 adotadas pelo governo brasileiro tiveram sua eficácia
divergente de acordo com cada setor analisado, pelas óticas da produção (setor) e do
emprego. Dito isso, foi possível concluir que o governo, de forma geral, acertou em
adotar tais medidas de incentivo a determinados setores da economia de forma a
combater os efeitos do contágio da crise financeira de 2008, com a contrapartida de
uma elevação dos gastos do governo, aumentando o déficit nominal e,
consequentemente, elevando a dívida pública brasileira.
Feitas essas considerações, o trabalho será apresentado em cinco seções,
sendo esta primeira, a Introdução. A segunda seção trará a revisão literária utilizada
como embasamento aos testes empíricos realizados. A terceira seção dedicará
espaço para a análise estatística das séries de dados e suas transformações
necessárias para que as regressões não se tornassem espúrias. Na quarta seção,
serão construídas as estimativas dos impactos das políticas anticíclicas sobre os
setores analisados, enquanto que, na última seção, serão apresentadas as
conclusões deste trabalho.
16
2. REVISÃO DE LITERATURA
O início das discussões sobre políticas anticíclicas atingiu importância
considerável a partir da eclosão da crise financeira do “subprime”, permitindo não só
a contenção ou minimização dos efeitos de contágio de uma crise financeira, como
também permitindo a formulação de medidas anticíclicas em outras circunstâncias ou
de forma mais específica, tais como para setores da economia ou determinados
países. Para tanto, baseado nas principais teorias recentes de utilização, não só de
política fiscal, mas também de políticas monetárias e creditícias, para combate a crises
setoriais, nacionais ou internacionais, alterando o paradigma de política econômica
pré-crise, foram selecionados estudos que pudessem contribuir com esse trabalho.
Nessa linha, Kaminsky, Reinhart e Végh (2003) apresentam as teorias de
contágio de crises financeiras, buscando entender os motivos de cada crise
apresentar sintomas diferentes em cada país. Para isso, conceitua contágio como
episódios onde há efeitos imediatos em outras regiões e/ou países, com destaque
para contágio através de efeito manada, de “links” comerciais e de conexões
financeiras. A partir disso, os autores demonstram casos práticos de crises
financeiras, tais como a crise financeira finlandesa de 1992, a crise da tequila (México,
1994), a crise russa de 1998, a crise brasileira de 1999 e o calote argentino de 2001,
comparando os casos entre si, através das óticas de mecanismos de transmissão,
fluxo de capital privado líquido e mercado acionário.
Taylor (2009), mais especificamente, buscou apresentar os principais
motivos que desencadearam a crise financeira de 2008, concluindo que, de forma
genérica, o excesso monetário foi o principal responsável pelo cenário, conforme o
gráfico a seguir, representado pelo ”housing boom” nos Estados Unidos. Dessa
maneira, ou autor reafirma que a política monetária expansionista do Federal Reserve,
junto com uma forte integração financeira internacional e inovações financeiras
contribuíram profundamente para a eclosão da crise e contágio internacional, que se
prolongou com as medidas precipitadas de combate dos governos, culminando em
uma grave crise de crédito.
17
Gráfico 1 – Taxas de Juros dos Fundos Federais e Política Monetária Expansionista, em % – Estados Unidos (2000-2007)
Fonte: Federal Reserve Bank.
Pela ótica de Mohan (2009), há a busca em explicar tanto a formação da
crise financeira de 2008 como seu contágio internacional, passando pelos mercados
emergentes e terminando com a análise da economia indiana. De acordo com o autor,
a crise do “subprime” alterou os valores de prêmio de risco e causou profundas
alterações no fluxo de capital internacional, principalmente nos países emergentes.
Desse ponto em diante, Mohan explica tais quebras de paradigma com exemplos dos
efeitos desde a eclosão da crise, passando pelos impactos fiscais, na economia real
e no lado regulatório da economia da Índia. Por fim, elenca as principais medidas
adotadas pelo banco central e pelo governo indiano para minoração dos efeitos da
crise financeira de 2008.
Em seu texto, Kacef e López-Monti (2010) demonstram as principais
consequências do desembarque da crise, com foco na América Latina, destacando a
redução do volume de exportações e queda do preço das commodities. Assim, os
autores concluem que, como consequência, a crise iniciada no lado monetário da
economia migrou para o lado real, através da deterioração das expectativas dos
agentes econômicos, resultando em declínio do consumo e do investimento do setor
privado, principalmente naqueles países com maior exposição do mercado financeiro
ao setor externo.
Os autores também ressaltam as políticas de caráter anticíclico adotadas
na América Latina, ressaltando a importância da política fiscal para a manutenção dos
fluxos de gastos agregados, além de levantar a ineficácia possível nas decisões de
corte de impostos, principalmente naqueles países onde as taxas são baixas ou
apresentam grande incerteza. Também abordam a eficácia de subsídios focados em
0
1
2
3
4
5
6
7
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Taxas de Juros dos Fundos FederaisRegra de Taylor
18
setores específicos e discorrem sobre as diferenças entre as medidas anticíclicas
adotadas nos países latino-americanos e suas particularidades.
Gráfico 2 – Fluxo de Capital nos Países Emergentes, em US$ bilhões (1997-2013)
Fonte: Fundo Monetário Internacional.
Passando para a revisão da literatura empírica que estudou a eficácia
dessas medidas na economia, temos, no trabalho de Rose e Spiegel (2011), a busca
de uma explicação sobre qual das causas da crise do “subprime” podem ser
vinculadas às consequências mais severas de forma empírica, através de uma
abordagem de “cross-section”. Em seu modelo de crise, chamado de Múltiplos
Indicadores e Múltiplas Causas (MIMIC), que usa diferentes manifestações de
intensidade de crise mensuradas em diferentes países, cada qual como uma “proxy”
imperfeita de intensidade. Esse modelo, portanto, é um sistema de 𝐽 equações com
as variáveis explicativas restritas e proporcionais entre si. Em conclusão, a análise
falhou em encontrar esse vínculo, obtendo como resultado, através de evidência fraca,
que países mais ricos sofrem sistematicamente mais em crises, enquanto que países
com relações comerciais mais estreitas com os Estados Unidos sofrem menos os
impactos da crise.
Dado que o estudo sobre as causas da crise e seus impactos não produziu
resultados estatisticamente aderentes, utilizamos o estudo de Blanchard, Das e
Faruqee (2010), que trata dos impactos da crise de 2008 nos países emergentes,
explorando o papel do colapso do comércio e do declínio nos fluxos de capital na
-800
-600
-400
-200
0
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8001997
1998
1999
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2003
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2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Investimento Direto Líquido Outros Investimentos Líquidos
Investimentos de Portfolio Líquido Balanco da Conta Corrente
19
transmissão da crise dos países avançados para os emergentes, através da
elaboração de um modelo de equilíbrio dinâmico com economia aberta, que permite
mobilidade imperfeita de capital e efeitos potencialmente contracionistas de uma
depreciação cambial causados pela exposição da dívida externa, para entender os
impactos de políticas anticíclicas.
Em sequência, os autores passam a analisar os dados dos países
emergentes – Letônia, Rússia e Chile, comparando com o modelo, permitindo a
conclusão de um papel de destaque para a transmissão da crise do “subprime” tanto
no colapso do comércio quanto no choque financeiro, de um lado, mas pouco apoio
econométrico para as medidas anticíclicas de reservas ou regimes cambiais, de outro
lado.
Já Brito Gadelha (2011) trata da relação de crescimento econômico
brasileiro com a política fiscal, com destaque para as políticas fiscais anticíclicas
adotadas no período da crise financeira de 2008. Nesse sentido, o autor buscou
examinar a relação de precedência temporal entre os gastos públicos federais e o
produto interno bruto, investigando a prevalência das teorias de Wagner, keynesiana
e não-keynesiana.
Isso posto, a Teoria de Wagner considera os gastos públicos como uma
variável endógena ao modelo, em que o crescimento da atividade econômica leva a
um aumento das atividades governamentais. Já a hipótese keynesiana trata, no curto
prazo, de efeito positivo de política fiscal sobre o nível da atividade econômica, através
do multiplicador de gastos (multiplicador keynesiano). Assim, a hipótese keynesiana
considera a política fiscal um instrumento exógeno de política econômica, que é
utilizado para corrigir flutuações cíclicas. Por fim, a hipótese não-keynesiana
considera efeitos inversos na política econômica: “contrações fiscais expansionistas e
expansões fiscais contracionistas, que resultam do impacto da política fiscal corrente
levando em conta a expectativa e a confiança dos agentes privados nas mudanças de
políticas econômicas futuras” (BRITO GADELHA, 2011, p. 31).
O teste proposto do Brito Gadelha é o de cointegração de Johansen com
quebras estruturais para as séries utilizadas, verificando a existência de equilíbrio de
longo prazo entre as variáveis. A partir disso, o autor propõe o estudo da causalidade
20
multivariada de Granger em modelos de vetores autorregressivos (VAR)1 para
investimentos públicos, despesas previdenciárias, amortização de dívida pública e
transferências governamentais, concluindo que, pela ótica da hipótese keynesiana,
um aumento do investimento público leva a um aumento do crescimento econômico.
Por outro lado, uma redução das despesas previdenciárias ou da amortização da
dívida pública leva a um crescimento econômico e, portanto, se enquadra na ótica
não-keynesiana. Por fim, um aumento das transferências governamentais leva
também leva ao crescimento da economia, caracterizando a hipótese wagneriana.
De acordo com a nota técnica número 15 da Diretoria de Estudos
Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o foco do
trabalho se dá no impacto da redução do imposto sobre produtos industrializados de
automóveis sobre vendas, arrecadação e emprego. Dito isso, através da utilização de
séries integradas de primeira ordem, com alguma evidência de cointegração e
estimativas de mínimos quadrados ordinários (MQO), os autores concluíram que a
medida teve eficácia em todas as análises.
Considerando o estudo dos impactos da redução do IPI sobre vendas
automotivas, o IPEA utilizou uma função onde a quantidade de veículos é uma função
de preços, renda e crédito concedido, elaborando um estudo em que o impacto sobre
vendas é dado pela diferença entre as vendas previstas pelo modelo com os preços
vigentes à época e as vendas com preços sem a redução do IPI, concluindo que essa
medida contribui positivamente, incentivando as vendas automotivas.
Pelo lado dos impactos dessa medida sobre a arrecadação, o instituto
considerou, no estudo, que o impacto a ser mensurado seria dado pelo volume que o
governo deixou de arrecadar com a desoneração, menos a contribuição positiva do
corte do IPI sobre a arrecadação dos demais impostos, permitindo a conclusão de que
a perda com a arrecadação foi, de certa forma, compensada polo aumento da
arrecadação de outros tributos, dado o aumento de vendas do setor. Por fim, na ótica
dos impactos obre o emprego, a série apresentava uma tendência de elevação do
1 𝑋𝑡 = 𝐴0 +𝐴1𝑋𝑡−1 +𝐴2𝑋𝑡−2 +⋯+𝐴𝑝𝑋𝑡−𝑝 + 𝜁𝑡, onde 𝑋𝑡 é um vetor de variáveis estacionárias, 𝑝 é o
número de defasagens, 𝐴0 é um vetor de interceptos, 𝐴𝑖 são matrizes de coeficientes e 𝜁𝑡 é um vetor de resíduos não-autocorrelacionados e homocedásticos.
21
desemprego no primeiro semestre de 2009, e as estimativas nos mostraram que a
desoneração do IPI levou a uma desaceleração dessa tendência.
Passando ao texto de Alvarenga et al. (2010), os autores aprofundam os
estudos da nota técnica número 15 do IPEA, objetivando mensurar os impactos do
corte do IPI nas vendas de veículos entre janeiro e novembro de 2009. Dessa forma,
também assumem que as vendas do mercado doméstico dependem do nível de
preços, da renda dos agentes e do crédito direcionado ao setor automotivo.
O modelo utiliza a metodologia de regressão simples2, com séries
dessazonalizadas pelo método X12 ARIMA e transformação das variáveis através do
logaritmo neperiano, para que a estimação das relações entre as variáveis se desse
em um contexto de elasticidade. Também analisa a presença de cointegração das
séries e verifica a existência de quebras estruturais ao longo do período analisado.
Em suas conclusões, os autores afirmam que a medida anticíclica de redução do
imposto sobre produtos industrializados foi de suma importância para o setor
automotivo, contribuindo efetivamente para o aumento de vendas de automóveis. No
entanto, abordam a importância, também, da política creditícia, afirmando não ser
possível, com o modelo utilizado, mensurar os efeitos de forma independente.
Por fim, Moreira e Soares (2010) buscaram explicar a eficácia das políticas
anticíclicas praticadas pelas autoridades brasileiras durante o período da crise
financeira de 2008-2009, verificando se as medidas foram adequadas no combate à
desaceleração da economia e contenção do aumento do desemprego, evitando que
a crise internacional se aprofundasse no Brasil. Nesse sentido, as análises foram
divididas em agregada e setorial.
Em se tratando da análise agregada, os autores discutiram os efeitos das
políticas fiscal, monetária e creditícia sobre o consumo das famílias, sobre o
investimento agregado e sobre o hiato do produto. Para todas essas estimações,
utilizaram-se as variáveis normalizadas e em forma de taxas de variação. Pela ótica
da análise dos impactos sobre o consumo das famílias, o texto utiliza a função de
consumo keynesiana estendida para incorporar a variável crédito. Em suas
conclusões, infere-se que o crédito afetou positivamente a demanda agregada,
2 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 = 𝑓(𝑝𝑟𝑒ç𝑜𝑠, 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎, 𝑐𝑟é𝑑𝑖𝑡𝑜).
22
aumentando, portanto, o consumo das famílias, sendo uma medida anticíclica eficaz
na análise agregada.
Passando para a análise da eficácia das medidas de combate à crise sobre
os investimentos – formação bruta de capital fixo (FBCF), os autores utilizaram a
função de investimento keyesiana, também estendida, para que incorporasse a
variável de crédito. Como conclusão ao estudo, Moreira e Soares ressaltam que a
taxa de juros real da economia não impactou o investimento, elencando dois motivos
para isso: (i) o principal fator determinante para as decisões de investimento ser as
expectativas dos agentes e, (ii) a taxa de juros de financiamento do investimento não
é a Selic. Por outro lado, a política creditícia adotada pelo governo foi fator
determinante para os investimentos privados, apesar da presença de pessimismo das
expectativas dos empresários.
Já analisando a eficácia das políticas fiscal, creditícia e monetária sobre o
produto, os autores utilizam um modelo de mínimos quadrados ordinários, inferindo a
ineficácia da política fiscal sobre o hiato do produto e, assim, sem efeitos mitigadores
da crise global de 2008 e 2009. A política monetária, representada pela taxa de juros,
afeta positivamente, de forma tímida, o produto devido à baixa elasticidade entre
essas variáveis. No entanto, durante a crise, os autores concluíram que esse efeito se
torna negativo. Por fim, a política creditícia teve impacto relevante sobre o hiato do
produto.
Política Monetária Política Creditícia Política Fiscal
Consumo das Famílias Não eficaz Eficaz Não testado
Investimento Não eficaz Não eficaz Não testado
Produto Eficaz Eficaz Não eficaz
Quadro 1 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise Agregada Fonte: MOREIRA; SOARES, 2010, p.57
Em se tratando da análise setorial, os autores discutiram os efeitos das
políticas fiscal, monetária e creditícia sobre o setor automotivo, de construção civil e
de móveis e eletrodomésticos. Para todas essas estimações, utilizaram as variáveis
normalizadas e em forma de taxas de variação, através de suas representações de
23
hiato (diferença entre a série e sua tendência, obtida pela metodologia do Filtro
Hodrick-Prescott).
Considerando o setor de construção civil, importante pelo seu grande efeito
multiplicador da economia, os autores testaram os impactos das políticas monetária e
creditícia. Como resultado, a política monetária produziu efeitos consideravelmente
significativos, enquanto que a política creditícia não foi efetiva para contenção dos
efeitos da crise sobre o setor.
Já no setor automotivo, alvo de políticas monetária, creditícia e fiscal, o
modelo revelou, estatisticamente, que a política fiscal não se mostrou eficaz no
incentivo do setor, assim como a política creditícia para o período de crise. Apenas a
política monetária se mostrou eficaz como política anticíclica. No entanto, para o
período anterior à crise, a política creditícia também contribuiu para incentivar o setor.
Em sequência, no setor de móveis e eletrodomésticos, os autores concluíram que
nenhuma das políticas adotadas pelo governo contribuiu para medidas anticíclicas
para incentivar o setor e minimizar os efeitos da crise internacional sobre esse setor
brasileiro.
Dessa maneira, os resultados obtidos, de forma resumida, se traduziram
em sensibilidade à política monetária expansionista, via redução de taxas de juros
reais, para os setores de construção civil e automobilístico. Em contrapartida, o setor
de móveis e eletrodomésticos não respondeu a nenhuma das três medidas anticíclicas
adotadas pelas autoridades. Por fim, apenas a política monetária mostrou ser uma
medida eficaz de combate à crise.
Política Monetária
Política Creditícia
Política Fiscal
Produto do setor de construção Eficaz Não eficaz Não testado
Vendas de automóveis Eficaz Não eficaz Não eficaz
Vendas de móveis e eletrodomésticos
Não eficaz Não eficaz Não eficaz
Quadro 2 – Sumário dos Resultados das Políticas Anticíclicas – Análise Setorial Fonte: MOREIRA; SOARES, 2010, p.62
24
3. ANÁLISE DESCRITIVA E O TRATAMENTO DA BASE DE DADOS
A partir do exposto anteriormente, passaremos a entender se as medidas
de políticas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro foram efetivas em alcançar
seus objetivos propostos. Nesse sentido, para que seja viável realizar os testes
empíricos objetivando a validação e mensuração das medidas anticrise adotadas,
buscou-se encontrar e consolidar uma base de dados de qualidade, que pudesse
representar o cenário vigente à época, com variáveis significativas aos modelos e o
tratamento necessário para que os modelos idealizados pudessem ser executados.
Para tanto, as variáveis utilizadas nesse estudo foram retiradas de fontes
públicas, tais como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (ANFAVEA) e o Banco Central do Brasil (BACEN). Tais
variáveis tinham um longo histórico disponível, partindo da década de 1990 em diante.
No entanto, sabe-se que esse período da história brasileira passou por muitas
turbulências, tais como planos econômicos anteriores ao Real, mudança do sistema
de câmbio fixo para o variável, em 1999, e diversas crises externas, dentre elas as
crises do México, Argentina e Rússia. Dessa forma, restringimos a periodicidade das
variáveis à forma trimestral, abrangendo desde o primeiro trimestre de 2004 até o
terceiro trimestre de 2014, o que gerou uma base de dados com 43 observações e 12
variáveis, abrangendo três setores da economia: automotivo, construção civil, e
móveis e eletrodomésticos.
Sendo assim, as variáveis utilizadas para os três setores são dadas pelo
Produto Interno Bruto a preços básicos (𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) e o índice de inflação IPCA (𝐼𝑃𝐶𝐴), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; a Taxa de Juros Over/Selic (𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶) do
Branco Central do Brasil; e a Taxa de Desemprego na região metropolitana de São
Paulo (𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇) da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados –
Pesquisa de Emprego e Desemprego. Para esta última variável, assumiu-se a
premissa de a economia de São Paulo ser fortemente influenciada pelos setores em
estudo. Além dessas variáveis, também se utilizou uma variável instrumental
(𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠) com a finalidade de determinar o período da crise do “subprime”, que
25
de acordo com Torres Filho (2008), estendeu-se no período entre o primeiro trimestre
de 2007 e o primeiro trimestre de 20103.
Analisando-se as variáveis supracitadas, pode-se concluir que o produto
interno bruto a preços básicos (𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) foi diretamente afetado com a eclosão da crise
de 2008, com forte queda no primeiro trimestre de 2008, recuperando-se a partir das
medidas de combate adotadas pelo governo. Também podemos inferir que a crise
contribuiu para alterar o padrão sazonal presente nessa série, conforme demonstrado
no gráfico abaixo.
Gráfico 3 – Produto Interno Bruto a preços básicos, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014)
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Já em relação ao índice de inflação IPCA (𝐼𝑃𝐶𝐴) e à Taxa de Juros
Over/Selic (𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶), podemos concluir que houve um grande aumento da inflação
oficial no período inicial da crise, que voltou a cair após o final do segundo trimestre
de 2008. Esse movimento veio em meio a um ciclo de redução da taxa de juros, que
se inverteu a partir do primeiro trimestre do primeiro ano da crise, o que levou a um
aumento considerável da taxa de juros real da economia, buscando atrair o
investimento estrangeiro novamente ao Brasil.
3 A variável instrumental (𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠) assume o valor 1 para o período 2007.01 até 2010.01, ou seja, para a época da crise, e 0 caso o contrário.
300
400
500
600
700
800
900
1.000
1.100
1.200
26
Gráfico 4 – IPCA e Taxa de Juros Over/Selic, em % – Brasil (2004-2014) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Branco Central do Brasil.
Com relação à Taxa de Desemprego na região metropolitana de São Paulo
(𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇), da qual foi assumida a premissa de representar o desemprego
no Brasil, pode-se concluir que havia uma tendência de queda no período analisado.
No entanto, essa tendência foi rompida a partir do terceiro trimestre de 2008 até a
metade do ano de 2009, com aumento desse indicador provocado pela queda do
consumo por parte da população e redução dos investimentos por partes das
indústrias. Entretanto, com as medidas anticíclicas adotadas pelo governo central, já
foi possível verificar uma volta da taxa de desemprego para patamares pré-crise no
final de 2009.
Gráfico 5 – Taxa de Desemprego na região metropolitana de São Paulo, em % – Brasil (2004-2014) Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – Pesquisa de Emprego e Desemprego.
Com foco na indústria automotiva, as variáveis selecionadas foram o
número de licenciamentos de automóveis, que representam as vendas nacionais de
veículos novos (𝐴𝑈𝑇𝑂), da ANFAVEA; a receita com o Imposto sobre Produtos
00,5
11,5
22,5
33,5
44,5
5
SELIC
IPCA
0
5
10
15
20
25
27
Industrializados (IPI) do setor automotivo (𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜), do Ministério da Fazenda; e o
volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas (𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣), do
Banco Central do Brasil, também utilizado para as estimações do setor de móveis e
eletrodomésticos. Dessas variáveis é possível extrair, após a análise descritiva das
séries, que o início da crise no Brasil levou a uma queda das vendas de automóveis,
dado que o número de licenciamentos se reduziu. No entanto, houve uma
recuperação do setor, já a partir do último trimestre de 2008, após o anúncio do
governo brasileiro de redução de IPI e maior acesso ao crédito para financiamento.
Gráfico 6 – Número de licenciamentos de automóveis, em unidades – Brasil (2004-2014)
Fonte: ANFAVEA.
Tal redução do imposto sobre produtos industrializados do setor automotivo
pode ser facilmente vista pelo gráfico da arrecadação proveniente desse imposto,
onde se nota uma forte redução a partir do terceiro trimestre de 2008, quando se deu
o anúncio do corte desse imposto. A partir do final desse ano, até o final do período
de crise, em 2010, as alíquotas desse imposto foram elevadas gradativamente,
devolvendo ao setor público a arrecadação obtida no período pré-crise.
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
800.000
28
Gráfico 7 – Receita com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) Fonte: Ministério da Fazenda.
Já no lado da concessão de crédito e financiamento privado, não houveram
indícios de interferência da crise, dada a peculiaridade desse setor, que é puxado por
crédito subsidiado por bancos públicos e pelo consignado, o que levou à manutenção
do aquecimento interno de crédito, beneficiando os setores automotivo e de móveis e
eletrodomésticos, conforme visto a seguir.
Gráfico 8 – Volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) Fonte: Banco Central do Brasil.
Partindo para o estudo da indústria da construção civil, as outras variáveis
utilizadas foram o Produto Interno Bruto da Indústria da Construção (𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙), do IBGE;
e o volume de operações de crédito ao setor privado no setor imobiliário (𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙),
do Banco Central do Brasil. Dessas séries históricas, pode-se inferir que esse setor
apresenta forte sazonalidade, e que foi pouco afetado pela crise, já que apresentou
0
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
1.600
1.800
2.000
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
29
uma oferta abundante de crédito, onde, a partir de 2009, é possível notar uma
mudança no produto desse setor, pois os bancos públicos haviam ampliado os
subsídios ao financiamento de imóveis, além do programa social “Minha Casa, Minha
Vida”, que contribuiu para a manutenção do crescimento do setor de construção civil
durante o período de adversidade causado pela crise financeira do “subprime”.
(a) Produto Interno Bruto da Indústria da Construção Civil (b) Volume de Operações de crédito ao setor privado no setor imobiliário
Gráfico 9 – O PIB e o Crédito no setor de Construção Civil, em R$ (milhões) – Brasil (2004-2014) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Branco Central do Brasil.
Por último, no setor de móveis e eletrodomésticos, além da variável do
volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas (𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣), do
Banco Central do Brasil, analisada anteriormente, foram selecionadas as variáveis do
índice de inflação IGP-DI (𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼), da Fundação Getúlio Vargas; as vendas reais no
varejo de móveis e eletrodomésticos (𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜), do IBGE; e a receita com o
Imposto sobre Produtos Industrializados de outros setores da economia (𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜), do
Ministério da Fazenda, do qual assumimos a premissa de ser do setor em questão por
falta de informações mais acuradas.
A inflação IGP-DI apresentou uma alteração de seu comportamento em
2008, já que houve um aumento das demandas doméstica e de exportação, além de
uma contração do comércio internacional, que reduziu o nível de importações e,
consequentemente, aqueceu o mercado doméstico. No entanto, essa alteração volta
a se normalizar em 2009, conforme visto no gráfico a seguir.
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
0200.000400.000600.000800.000
1.000.0001.200.0001.400.0001.600.000
30
Gráfico 10 – Índice de inflação IGP-DI, em % – Brasil (2004-2014)
Fonte: Fundação Getúlio Vargas.
Ao analisarmos a série de vendas reais no varejo de móveis e
eletrodomésticos, podemos perceber que os efeitos da crise foram sentidos apenas
em 2008, com alteração do padrão histórico. Além disso, há forte presença de
sazonalidade, dado que esse setor é altamente dependente de festividades e datas
comemorativas, tais como Natal, Dia das Mães, entre outros. Nessa mesma linha, a
série de receita com o IPI de outros setores da economia, assumida para esse setor,
demonstra forte impacto das medidas anticíclicas – redução da alíquota de IPI para a
linha branca, onde, a partir do início de 2008, percebe-se uma redução substancial de
arrecadação com esse imposto, sendo absorvida pelo mercado apenas em 2009 e
2010. Após esse período, a arrecadação volta aos patamares anteriores à crise de
2008, consequência direta do fim da política de combate à crise.
(a) Vendas reais no varejo de móveis e eletrodomésticos, em
índice (média 2011 = 100)
(b) Receita com o Imposto sobre Produtos Industrializados de
outros setores da economia, em R$ (milhões)
Gráfico 11 – As Vendas ao Varejo e o IPI no setor de Móveis e Eletrodomésticos – Brasil (2004-2014)
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Ministério da Fazenda.
250
300
350
400
450
500
550
0
50
100
150
2.0002.5003.0003.5004.0004.5005.0005.5006.000
31
A partir dessas variáveis, buscou-se então transformar as séries em
estacionárias, evitando, assim, regressões espúrias. Nesse sentido, o objetivo
proposto foi de retirar os efeitos de sazonalidade e crescimento das séries históricas.
Dito isso, as variáveis do número de licenciamentos de automóveis (𝐴𝑈𝑇𝑂), receita
com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo (𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜),
volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas (𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣),
Produto Interno Bruto da Indústria da Construção (𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙), volume de operações de
crédito ao setor privado no setor imobiliário (𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 ) e vendas reais no varejo de
móveis e eletrodomésticos (𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜) foram normalizadas através do Produto
Interno Bruto a preços básicos (𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐). Já a variável receita com o Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) de outros setores da economia (𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜) foi
normalizada com o índice de inflação IGP-DI (𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼).
Após aplicar essas técnicas de normalização, as variáveis foram
transformadas em taxas de variação, em primeira diferença, e renomeadas4, sendo,
respectivamente, 𝑑(𝐴𝑈𝑇𝑂𝑡/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡
𝐴𝑢𝑡𝑜/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡
𝑃𝑟𝑖𝑣/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝑌𝑡
𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/
𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡
𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐), 𝑑(𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) e 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡).
Além disso, buscou-se efetuar as regressões com a taxa de juros real,
objetivando-se maior aderência, em que a variável de juros real ex-post (𝑟𝑟𝑒𝑎𝑙) foi
calculada a partir da diferença entre a Taxa de Juros Over/Selic (𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶) e o índice de
inflação IPCA (𝐼𝑃𝐶𝐴). Assim, as variáveis da taxa de juros real e de desemprego foram
transformadas em taxa de variação, seguindo a mesma metodologia, em primeira
diferença, e renomeadas, sendo, respectivamente 𝑑(𝑟𝑡𝑟𝑒𝑎𝑙) e 𝑑(𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇).
Analisando-se os resultados de estacionarização, percebeu-se que nem
todas as variáveis foram efetivamente estacionarizadas, o que nos levou a buscar um
incremento dessa metodologia. Assim, calculou-se o hiato dessas variáveis, através
do filtro de Hodrick-Prescott (filtro HP), definindo como hiato a diferença entre a
variável estudada e a tendência extraída do filtro HP (“trend”).
4 Ver Apêndice A – Variáveis Utilizadas e suas Transformações.
32
(a) Taxa de variação da variável do número de licenciamentos de automóveis
(b) Taxa de variação da variável da receita do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo
(c) Taxa de variação da variável do volume das operações de crédito ao setor privado – pessoas físicas
(d) Taxa de variação da variável do Produto Interno Bruto da Indústria da Construção
(e) Taxa de variação da variável do volume de operações de crédito ao setor privado no setor imobiliário
(f) Taxa de variação da variável de vendas reais no varejo de móveis e eletrodomésticos
(g) Taxa de variação da variável da receita do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de outros setores da economia
(h) Taxa de variação da variável da taxa de juros real
Gráfico 12 – Taxas de Variação das Variáveis Normalizadas do Estudo Fonte: elaboração própria.
O resultado obtido se deu nas seguintes variáveis: hiato dos licenciamentos
automotivos (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜), hiato da taxa de juros real (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡
𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙), hiato da arrecadação
com o IPI automotivo (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜), hiato das operações de crédito ao setor privado
– pessoas físicas (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣), hiato do desemprego (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡
𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡), hiato do
-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40
200
4.0
1
200
4.0
4
200
5.0
3
200
6.0
2
200
7.0
1
200
7.0
4
200
8.0
3
200
9.0
2
201
0.0
1
201
0.0
4
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1.0
3
201
2.0
2
201
3.0
1
201
3.0
4
201
4.0
3
-2,00
-1,00
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
200
4.0
1
200
4.0
4
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5.0
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6.0
2
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7.0
1
200
7.0
4
200
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3
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0.0
1
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0.0
4
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3
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2
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3.0
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4.0
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-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
200
4.0
1
200
4.0
4
200
5.0
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2
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7.0
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0.0
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0.0
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2.0
2
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3.0
1
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3.0
4
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4.0
3-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
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4.0
1
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4.0
4
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3
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-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
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3
-0,40-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40
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4
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2.0
2
201
3.0
1
201
3.0
4
201
4.0
3
-40,00
-30,00
-20,00
-10,00
0,00
10,00
200
4.0
1
200
4.0
4
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5.0
3
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7.0
1
200
7.0
4
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8.0
3
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9.0
2
201
0.0
1
201
0.0
4
201
1.0
3
201
2.0
2
201
3.0
1
201
3.0
4
201
4.0
3
33
PIB da construção civil (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙), hiato das operações de crédito ao setor privado
– imobiliário (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶), hiato das vendas reais no varejo de móveis e
eletrodomésticos (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜) e hiato da arrecadação com o IPI de móveis e
eletrodomésticos (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜).
(a) Hiato dos licenciamentos
automotivos
(b) Hiato do PIB da construção civil (c) Hiato das vendas reais no varejo de
móveis e eletrodomésticos
(d) Hiato da arrecadação com o IPI
automotivo
(e) Hiato da arrecadação com o IPI de
móveis e eletrodomésticos
(f) Hiato da taxa de juros real
(g) Hiato das operações de crédito ao
setor privado – pessoas físicas
(h) Hiato das operações de crédito ao
setor privado – imobiliário
(i) Hiato do desemprego
Gráfico 13 – Variáveis de Hiato Fonte: elaboração própria.
Visto isso, as variáveis 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜 , 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡
𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 e 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜, quando
positivas, representam o excesso de demanda, enquanto que negativas, representam
a capacidade ociosa das indústrias analisada, sendo elas a automotiva, a de
construção civil e de móveis e eletrodomésticos, respectivamente. Já a variável
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙, quando positiva, significa uma politica monetária restritiva, sendo o
oposto, uma política monetária expansionista. Ainda nesse sentido, 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 e
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 representam, quando positivos, uma política fiscal restritiva e, caso
-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40
200
4.0
1
200
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1
200
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1
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1
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0,05
0,10
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1
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1
-0,40-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40
200
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4.0
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-2,00
-1,00
0,00
1,00
2,00
3,00
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1
-0,40-0,30-0,20-0,100,000,100,200,300,40
200
4.0
1
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1
-4,00
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0,00
2,00
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1.0
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1
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0,05
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-0,10
-0,05
0,00
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0,10
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-0,05
0,00
0,05
0,10
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1
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1
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3.0
1
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4.0
1
34
contrário, uma política fiscal expansionista para os setores automotivos e móveis e
eletrodomésticos, respectivamente. 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 e 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡
𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 demonstram uma
política creditícia expansionista, quando positivas, e restritiva quando negativas. Por
fim, 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
apresenta um aumento do desemprego se for positivo,
enquanto uma diminuição do desemprego quando negativo.
Variável Valores Positivos Valores Negativos
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜
Excesso de Demanda Capacidade ociosa da Indústria 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜
Política Fiscal Restritiva Política Fiscal Expansionista 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡
𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣
Política Creditícia Expansionista Política Creditícia Restritiva 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡
𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 Política Monetária Restritiva Política Monetária Expansionista
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
Aumento do Desemprego Diminuição do Desemprego
Quadro 3 – Sumário das Variáveis de Hiato Fonte: Elaboração própria.
A partir das variáveis de hiato obtidas, testou-se a hipótese de raiz unitária,
visando comprovar que essas variáveis são estacionárias. Essa metodologia foi
utilizada no estudo, pois, apesar da análise do gráfico sugerir que não há raiz unitária,
optou-se pelo embasamento estatístico através do teste de Dickey-Fuller aumentado
(“ADF Test”), testando empiricamente se as séries seriam estacionárias. Assim,
conclui-se que todas as variáveis transformadas são estacionárias e permitem a
sequência do estudo.
Dado todo esse tratamento das variáveis, ainda se utilizou o quadrado de
algumas variáveis com o objetivo de identificar possíveis relações não lineares entre
essas variáveis e a variável dependente a cada modelo, sendo elas: (𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)²
e (𝐼𝑃𝐼𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡)².
35
Tabela 1 – Teste de Raiz Unitária Teste ADF com Intercepto e Tendência
Variável Valor Crítico (5%) Valor Crítico (10%) Estatística t Probabilidade
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜 -3.523623 -3.192902 -8.303188 0.0000
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙
* -3.544284 -3.204699 -5.411184 0.0005
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 * -3.529758 -3.196411 -34.41281 0.0000
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜
-3.520787 -3.191277 -8.429442 0.0000
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
-3.540328 -3.202445 -4.716172 0.0029
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣
-3.533083 -3.198312 -3.550402 0.0481
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
-3.533083 -3.198312 -3.710218 0.0337
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
-3.520787 -3.191277 -6.611049 0.0000
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
-3.536601 -3.200320 -4.171531 0.0115
Fonte: elaboração própria. Nota: * teste ADF em primeira diferença.
36
4. AS MEDIDAS ANTICÍCLICAS BRASILEIRAS E SUA EFICÁCIA
A partir do exposto no capítulo anterior, passaremos a analisar a eficácia
das políticas anticíclicas adotadas pelo Brasil durante a crise financeira de 2008.
Assim, o foco desse estudo se dá no fato de verificar se tais medidas – fiscal,
monetária e creditícia – tiveram uma efetividade junto a seus objetivos, que de acordo
com o governo, eram a manutenção do emprego e aumento das vendas, ou seja,
incremento do produto interno desses setores.
Dito isso, os setores específicos que serão analisados são: (i) o setor
automotivo, que foi foco das medidas fiscal, com redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados, da medida creditícia, com menores taxas de juros, que visava
aumentar a atratividade do financiamento desses bens, e da medida monetária; (ii) o
setor de construção civil, do qual o governo também reduziu impostos5, mas mais
intensivamente, focou-se em medidas monetárias e creditícias; e (iii) o de móveis e
eletrodomésticos, também chamado de “linha branca”, foco das três medidas
anticíclicas adotadas.
A metodologia aplicada às análises econométricas adotou o modelo de
estimação por mínimos quadrados ordinários (MQO), com dessazonalização das
séries através do IPCA, IGP-DI ou método X12 ARIMA.
Portanto, nesse capítulo, serão apresentados os principais resultados dos
testes econométricos realizados em complemento aos trabalhos abordados no
capítulo de revisão de literatura, utilizando como base o estudo de Moreira e Soares
(2010) e incluindo a variável de desemprego no estudo. Dessa maneira, o capítulo
será dividido, a seguir, na análise do setor automotivo no primeiro tópico, seguido pela
análise do setor de construção civil, a análise do setor de móveis e eletrodomésticos
no terceiro tópico e, por fim, a eficácia dessas medidas nos setores abordados,
estabelecendo um comparativo com os estudos anteriores.
5 O setor de construção civil foi amplamente afetado por políticas fiscais expansionistas, através de redução de impostos para bens da cadeia intermediária, tais como aço e concreto.
37
4.1 Análise do Setor Automotivo
Dentre as principais medidas de combate à crise adotadas pelo governo
brasileiro, com foco no setor automotivo, podemos elencar a redução do imposto
sobre produtos industrializados e a expansão do crédito. Nesse sentido, a equação
que foi estimada para mostrar a eficácia dessas medidas com relação ao estímulo
desse setor, focando o estudo em aumento de vendas e manutenção do emprego, é
dada por:
𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝐴𝑢𝑡𝑜
= �̂�0+ �̂�
1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡+ �̂�
2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠
+ �̂�3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 + �̂�
4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜
+ �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�
8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣
∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 + 𝑢𝑡
(1)
A partir da equação (1), observa-se a interferência do nível de emprego e
das medidas fiscal, monetária e creditícia no nível de vendas do setor automotivo, bem
como testamos se há alguma relação não-linear nesse modelo. Isso significa que um
aumento de 1% do hiato da taxa de desemprego no período anterior, ou seja, redução
do desemprego, leva a um aumento no hiato das vendas automotivas em 66,985% no
período seguinte, pois interfere, tanto diretamente na produção desses bens, quanto
proporciona fonte renda para o trabalhador comprar esse item. Essa interferência
pode ser percebida de maneira ainda mais acentuada durante a crise, representando
um aumento de 158,849%.
Do lado da política fiscal, obteve-se que um aumento do hiato do imposto
sobre produtos industrializados do setor automotivo em relação ao PIB reduz a
diferença do hiato automotivo em 23,672%, enquanto que no período da crise, ocorreu
o inverso, com crescimento do hiato das vendas automotivas em 4,687%,
corroborando com a teoria de que essa medida incentivou o consumo desses bens.
Isso se deve a uma expansão creditícia ainda mais forte, que proporcionou uma
explosão de vendas nesse setor, com aumento de 163,836% do hiato das vendas
38
automotivas para cada expansão do hiato da razão crédito/PIB de 1%. Por fim, a
eficácia das medidas monetárias não foi comprovada durante a crise. Ainda assim, se
considerarmos uma estatística de significância de 10%, temos que uma redução do
volume do hiato de vendas automotivas na ordem de 0,381% para cada aumento de
1% no hiato da taxa de juros real da economia. Tanto a relação não linear, quanto o
intercepto foram estatisticamente não significativos, resultando em um processo
autorregressivo e de médias móveis (ARMA), 𝐴𝑅𝑀𝐴(1,17). A tabela 2 descreve o
resultado da estimação.
Tabela 2 – Estimativas da Equação (1) Hiato do Desemprego, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto Automotivo
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,013798 0,020335 -0,678543 0,5028
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
0,669858 0,225259 2,973722 0,0059
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,918641 0,328018 2,800580 0,0090
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 -0,003811 0,001923 -1,981647 0,0571
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,007020 0,012178 -0,576416 0,5688
�̂�5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 -0,236725 0,058825 -4,024199 0,0004
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,283597 0,069666 4,070791 0,0003
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�8 -0,281681 0,497398 -0,566310 0,5755
�̂�8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 1,638365 0,825443 1,984832 0,0567
(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 0,681782 5,629625 0,121106 0,9044
𝐴𝑅(1) -0,606455 0,157519 -3,850042 0,0006
𝑀𝐴(17) 0,916619 0,041514 22,07975 0,0000
R² 0,862791 Estatística F 16,57790
Estatística Durbin-Watson 2,501636 Prob(Est.F) 0,000000
Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)
Agora que foi visto que as políticas anticíclicas foram eficazes quando
tratamos do hiato do produto automotivo, devemos verificar se tais medidas
mantiveram o nível de emprego, conforme objetivo do governo quando do anúncio de
tais medidas. A partir da equação (2), descrita abaixo, notou-se que as políticas
monetária e fiscal tiveram eficácia na manutenção e geração de novos empregos,
enquanto que a política creditícia mostrou uma relação de não-linearidade e que
pouco interferiu na contenção dos efeitos da crise financeira de 2008.
39
𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
= �̂�0+ �̂�
1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 + �̂�
2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
+ �̂�4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 + �̂�
6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜
∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�
8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠
+ �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 + 𝑢𝑡
(2)
Com isso, temos que o hiato da produção automotiva interfere diretamente
no nível de emprego desse setor, de forma geral, com variação de 37,666% para cada
1% de mudança nessa variável. No entanto, durante a crise, essa estatística não foi
significativa. A política monetária também foi eficaz, com uma estatística de
significância de 10%, bem como a política fiscal, cujos resultados demonstraram um
aumento no hiato do desemprego de 0,409% e 7,773%, respectivamente, em um
cenário sem a crise, e durante a crise, de aumento do hiato do desemprego de 1,762%
e queda de 0,132% para cada variação de 1% de cada uma dessas variáveis,
comprovando que as medidas tiveram eficácia.
Tabela 3 – Estimativas da Equação (2) – Hiato do Produto Automotivo, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,039861 0,014657 -2,719526 0,0111
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 0,376666 0,075259 5,004894 0,0000
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,023856 0,129489 -0,184229 0,8552
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
0,004098 0,000860 4,765992 0,0001
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,013519 0,007290 1,854481 0,0742
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 0,077731 0,026044 2,984571 0,0058
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,079048 0,028940 -2,731488 0,0108
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 0,323940 0,109147 2,967939 0,0061
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,051648 0,295121 0,175007 0,8623
(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣)2 13,60628 4,541803 2,995788 0,0057
𝐴𝑅(2) -0,747114 0,134195 -5,567387 0,0000
𝑀𝐴(14) -0,909952 0,034750 -26,18558 0,0000
R² 0,905034 Estatística F 24,25842
Estatística Durbin-Watson 1,973560 Prob(Est.F) 0,000000
Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)
40
4.2 Análise do Setor de Construção Civil6
Replicando o estudo do setor automotivo para o setor de construção civil,
de grande importância pelo seu efeito multiplicador da economia, tem-se um modelo
econométrico, representado a seguir, que insere as principais medidas adotadas pelo
governo, dentre elas, a política monetária, com as taxas de juros e a política de
incentivo ao crédito mais barato através dos bancos públicos.
𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙
= �̂�0+ �̂�
1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡+ �̂�
2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠
+ �̂�3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 + �̂�
4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
+ �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + 𝑢𝑡
(3)
Tabela 4 – Estimativas da Equação (3) – Hiato do Desemprego, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto da Construção Civil
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,001498 0,004280 -0,350058 0,7285
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
0,429091 0,061511 6,975845 0,0000
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,296008 0,121261 2,441073 0,0200
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 -0,002500 0,000738 -3,386094 0,0018
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,007373 0,007008 1,052005 0,3002
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
-0,311501 0,099581 -3,128107 0,0036
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,042502 0,130014 -0,326899 0,7457
𝑀𝐴(14) -0,865957 0,055210 -15,68487 0,0000
R² 0,808821 Estatística F 20,54911
Estatística Durbin-Watson 2,038126 Prob(Est.F) 0,000000
Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)
Nesse sentido, infere-se, a partir do resultado da regressão da equação (3),
representada pela tabela 4, que as variáveis do intercepto, dos hiatos da taxa de juros
e do crédito privado ao setor de construção civil, durante a crise, não são
6 Os efeitos da política fiscal sobre esse setor não foram testados, dado que tais políticas focaram na cadeia intermediária, tais como concreto e aço. No entanto, dado o crescimento significativo da demanda durante esse período, os preços dos bens finais apresentaram tendência de aumento, o que “mascarou” os efeitos das medidas de caráter anticíclico.
41
estatisticamente significativas, resultando em um processo de médias móveis (MA),
𝑀𝐴(14). Com isso, nossa análise se traduz no fato de que apenas a manutenção do
emprego, durante a crise, foi capaz de incentivar o setor. Todas as demais variáveis
apresentaram interferência de maneira natural, quando o país não enfrentava a crise.
Dado que as medidas adotadas pelo governo brasileiro para incentivar o
produto da construção civil não surtiram efeitos, analisamos, também, sua eficácia
com relação ao nível de emprego, onde inferimos que as políticas creditícia e
monetária não incentivaram o setor durante a crise, pois, em adição à variável do
intercepto, todos os coeficientes não foram estatisticamente significativos. A equação
(4) representa o modelo de impacto das medidas implementadas para a manutenção
do emprego no setor da construção civil.
𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
= �̂�0+ �̂�
1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 + �̂�
2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
+ �̂�4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 + �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 + 𝑢𝑡
(4)
Tabela 5 – Estimativas da Equação (4) – Hiato do Produto da Construção Civil, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -1,69E-05 0,012581 -0,001347 0,9989
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 0,681389 0,362317 1,880643 0,0733
�̂�2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,133821 0,521350 -0,256682 0,7998
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 -0,003018 0,001129 -2,672546 0,0139
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,002932 0,017978 0,163082 0,8719
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
0,573330 0,226289 2,533621 0,0189
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,402532 0,375492 -1,072010 0,2953
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶 0,890196 0,327849 2,715262 0,0126
𝐴𝑅(10) -0,565451 0,168909 -3,347668 0,0029
𝑀𝐴(4) 0,883545 0,087365 10,11331 0,0000
R² 0,695608 Estatística F 5,586142
Estatística Durbin-Watson 1,885563 Prob(Est.F) 0,000479
Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)
42
Assim, temos que esse setor não sofreu interferências do governo durante
a crise financeira de 2008, dado que muitas das vendas trabalham com financiamento
que já eram subsidiados pelo Estado, e que esse setor não teve grandes impactos no
que diz respeito ao contágio da crise. A tabela 5 apresenta os resultados estatísticos
da regressão da equação (4), de processo 𝐴𝑅𝑀𝐴(10,4).
4.3 Análise do Setor de Móveis e Eletrodomésticos
O setor de móveis e eletrodomésticos, assim como o setor automotivo, teve
como medidas de combate à crise adotadas pelo governo brasileiro, a redução do
imposto sobre produtos industrializados, a expansão do crédito e a mudança da
política monetária. Nesse sentido, a equação que foi estimada para mostrar a eficácia
dessas medidas com relação ao estímulo desse setor, focando o estudo em aumento
de vendas, é dada por:
𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
= �̂�0+ �̂�
1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡+ �̂�
2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠
+ �̂�3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 + �̂�
4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
+ �̂�6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�
8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣
∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 + 𝑢𝑡
(5)
Assim, a partir da equação (5), observa-se a interferência do nível de
emprego e das medidas fiscal, monetária e creditícia no nível de vendas do setor
moveleiro e de eletrodomésticos. Em outras palavras, conclui-se que um aumento de
1% do hiato da taxa de desemprego no período anterior, ou seja, redução do
desemprego, leva a uma queda no hiato das vendas desse setor em 25,652% no
período seguinte, com efeito contrário durante a crise, dado por um aumento do hiato
das vendas do setor na ordem de 24,686%.
Com relação à política monetária, as medidas do governo foram eficazes
tanto em período de crise, onde um aumento do hiato da taxa de juros real de 1%
43
reduziria o hiato do consumo do setor de móveis e eletroeletrônicos em 1,181%, como
em períodos de estabilidade econômica, que, de certa forma, não resultaria em
grandes variações para o setor, com variação de 0,187%.
Do lado da política fiscal, obteve-se uma estimação de que um aumento do
hiato do imposto sobre produtos industrializados do setor em relação ao PIB aumenta
a diferença do hiato de vendas de móveis e eletroeletrônicos em 44,763% durante a
crise. Por fim, as medidas creditícias foram eficazes apenas durante o período que
abrangeu a crise financeira de 2008, considerando uma estatística de significância de
10%, afetando negativamente o hiato das vendas desse setor em 62,798% para um
acréscimo de 1% no hiato de crédito.
Portanto, nesse modelo com processo 𝐴𝑅𝑀𝐴(4,2), as variáveis do hiato do
crédito, intercepto, hiato do imposto sobre produtos industrializados do setor e a
relação não-linear, testadas, demostraram não ser estatisticamente significativas,
conforme demonstrado na tabela 6.
Tabela 6 – Estimativas da Equação (5) – Hiato do Desemprego, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Produto de Móveis e Eletrodomésticos
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 -0,010183 0,020936 -0,486381 0,6308
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
-0,256523 0,109140 -2,350405 0,0266
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,503385 0,213397 2,358907 0,0261
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 0,001870 0,000858 2,179339 0,0386
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,013683 0,004724 -2,896443 0,0076
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
-0,014091 0,062231 -0,226423 0,8226
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,447636 0,103522 4,324051 0,0002
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 -0,083338 0,235353 -0,354097 0,7261
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,627988 0,306612 -2,048149 0,0508
(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 7,07E-05 0,000190 0,371761 0,7131
𝐴𝑅(4) 0,906998 0,017692 51,26699 0,0000
𝑀𝐴(2) -0,932594 0,027264 -34,20612 0,0000
R² 0,974869 Estatística F 91,68917
Estatística Durbin-Watson 1,878167 Prob(Est.F) 0,000000
Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)
44
Seguindo a mesma metodologia aplicada aos setores automotivo e de
construção civil, passaremos a estudar os efeitos das medidas anticíclicas
implementadas pelo governo no setor de móveis e eletrodomésticos na manutenção
do nível de emprego. Consequentemente, partir da equação (6), descrita abaixo,
notou-se que as políticas monetária, creditícia e fiscal tiveram eficácia na manutenção
e geração de novos empregos, inclusive com a política fiscal apresentando uma
relação de não-linearidade durante a crise financeira de 2008.
𝐻𝑖𝑎𝑡�̂�𝑢𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
= �̂�0+ �̂�
1𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 + �̂�
2𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�
3𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
+ �̂�4𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�5𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 + �̂�
6𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 + �̂�7𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 + �̂�8𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)
𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠
+ �̂�9(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 + 𝑢𝑡
(6)
Por conseguinte, temos que o hiato da produção de móveis e
eletrodomésticos interfere diretamente no nível de emprego desse setor, de forma
geral, com variação negativa de 28,150% para cada 1% de mudança nessa variável
em um cenário sem a crise financeira, e, caso contrário, uma variação negativa de
58,799% ao nível de significância de 10%. A política monetária também foi eficaz, cujo
resultado demonstrou um aumento no hiato do desemprego de 0,371% quando não
havia crise financeira, em conjunto com a política creditícia, que proporcionava uma
variação de 55,244%.
Durante a crise, apenas as medidas fiscais de redução do imposto sobre
produtos industrializados desse setor que foram eficazes, com resultado de aumento
de 32,855% do hiato de vendas de móveis e eletrodomésticos para um aumento do
hiato do IPI desse setor em 1%. Esse modelo de processo de média móvel de ordem
8, ainda apresentou que as medidas anticíclicas do lado monetário e creditício não
tiveram eficácia, dado que não são estatisticamente significativas.
45
Tabela 7 – Estimativas da Equação (6) – Hiato do Produto de Móveis e Eletrodomésticos, Juros, Impostos e Créditos sobre o Hiato do Desemprego
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Estatística t Probabilidade
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑝𝑡𝑜 0,091860 0,030352 3,026439 0,0049
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 -0,281506 0,077240 -3,644546 0,0010
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,306482 0,164132 -1,867291 0,0713
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
0,003714 0,000962 3,860426 0,0005
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 -0,004523 0,008137 -0,555884 0,5823
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 -0,074125 0,090526 -0,818828 0,4191
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,328554 0,131992 2,489198 0,0184
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣
0,552441 0,166949 3,309035 0,0024
𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜(−1)𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣 ∗ 𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 0,258876 0,228659 1,132149 0,2663
(𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜)2 -0,000889 0,000271 -3,277454 0,0026
𝑀𝐴(8) 0,854310 0,047204 18,09824 0,0000
R² 0,842643 Estatística F 16,60047
Estatística Durbin-Watson 2,580655 Prob(Est.F) 0,000000
Fonte: elaboração própria Nota: estimação realizada via metodologia dos mínimos quadrados ordinários (MQO)
4.4 A Eficácia das Medidas Anticíclicas Setoriais
Conforme visto nos estudos realizados para os setores automotivo, de
construção civil, e de móveis e eletrodomésticos, obtiveram-se resultados esperados
para o incentivo de cada setor, dadas as peculiaridades de cada um deles. Nesse
sentido, os setores que mais foram influenciados pelas medidas de políticas
anticíclicas implementadas pelo governo brasileiro foram o automotivo e de móveis e
eletrodomésticos. O setor de construção civil foi o único que não apresentou eficácia
das medidas durante a crise.
Setor Automotivo
Setor de Construção Civil
Setor de Móveis e Eletrodomésticos
Política Fiscal Eficaz Não testado Eficaz
Política Monetária Não comprovada Não eficaz Eficaz
Política Creditícia Eficaz Não eficaz Eficaz
Emprego Eficaz Eficaz Eficaz
Quadro 4 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo ao Produto dos Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e Eletrodomésticos durante a Crise Fonte: elaboração própria.
46
A partir do quadro 4, podemos perceber que houve grande assertividade
do governo central na eficácia das medidas de política anticíclica no combate aos
efeitos da crise financeira de 2008, principalmente no que diz respeito às vendas nos
setores de bens duráveis, tais como o automotivo e o setor de móveis e
eletrodomésticos, que dependem de acesso a crédito e das condições de preço e
juros para financiamentos, e que, portanto, foram incentivados com tais medidas,
apresentando vendas significativas e crescentes durante esse período. Já o setor de
construção civil, por ser de bem imóvel, não foi influenciado, pois depende, mais
exclusivamente, de crédito, e já era foco de outros programas do governo brasileiro,
tais como o “Minha Casa, Minha Vida”, com taxas de juros de financiamento
subsidiadas.
Comparando os resultados obtidos da análise das medidas anticíclicas pela
ótica do incentivo aos setores com os estudos que embasaram esse estudo, pode-se
perceber que a eficácia das medidas adotadas foi, em grande maioria, coincidente.
Dito isso, no o setor automotivo, os resultados se alinharam fortemente com os
estudos da Nota Técnica 15 do IPEA (2009) e com Alvarenga et al. (2010), onde as
medidas anticrise foram eficazes nesse setor.
Analisando os resultados obtidos para o setor de construção civil, testado
apenas no estudo de Moreira e Soares (2010), as medidas de política fiscal e creditícia
coincidiram, sendo apenas a política monetária divergente entre as análises. Já no
setor de móveis e eletrodomésticos, o estudo desses autores concluiu que nenhuma
medida de combate aos efeitos da crise foi eficaz, enquanto que, em nossa conclusão,
todas as medidas resultaram eficazes para o setor.
É válido ressaltar, também, que onde os resultados coincidiram, alguns dos
coeficientes apresentados foram muito mais significativos, quando da mensuração
dos impactos, como, por exemplo, o impacto do emprego sobre a produção
automotiva na crise (aproximadamente 159%) quando da redução em 1% no Hiato do
Desemprego.
Assim como a eficácia sobre o produto dos setores, o quadro 5 resume a
eficácia das medidas anticíclicas no incentivo ao emprego durante o contágio da crise
47
de 2008 no Brasil, onde percebemos que o setor de construção civil também não foi
afetado, dado que as construções demandam tempo e a demanda por esses bens
permaneceu elevada.
Setor Automotivo
Setor de Construção Civil
Setor de Móveis e Eletrodomésticos
Política Fiscal Não comprovada Não testado Eficaz
Política Monetária Não eficaz Não eficaz Não eficaz
Política Creditícia Não eficaz Não eficaz Não eficaz
Produto Não eficaz Não eficaz Não comprovada
Quadro 5 – A Eficácia das Medidas Anticíclicas no Incentivo do Emprego dos Setores Automotivo, de Construção Civil, e de Móveis e Eletrodomésticos durante a Crise Fonte: elaboração própria.
Por conseguinte, o setor de móveis e eletrodomésticos, apenas, foi capaz
de absorver tais medidas, para manter ou até mesmo incentivar o emprego, o que nos
permite concluir que as medidas do governo foram, de forma geral, ineficazes para
esses setores.
48
5. CONCLUSÃO
A crise financeira de 2008-2009 se deu como resultado de inúmeros fatores
que, combinados, permitiram a eclosão de uma das piores crises de todos os tempos.
Fundamentada em integração e inovação financeira, com endividamento da economia
norte americana e expansão monetária promovida pelas políticas de acomodação
monetária do Federal Reserve, criou-se a condição ideal para a eclosão da crise.
A partir dessa constatação, e estabelecendo-se um paralelo com a teoria
de Minsky, conclui-se que, quanto maior a alavancagem financeira dos agentes e a
liquidez dos ativos no mercado, maior será o preço desses ativos. A demanda por tais
ativos também será maior que a oferta, o que exigiu a criação de novos ativos, dos
quais não se tem histórico sobre o retorno financeiro e que, portanto, tem sua
precificação fundamentada nas expectativas econômicas e de retorno possível. Em
caso de estabilidade econômica, obter-se-á lucros, incentivando os agentes a
aumentar ainda mais sua alavancagem, o que caracteriza esse modelo como pró-
cíclico. Desse cenário para a desalavancagem dos agentes e inversão desse ciclo,
chama-se de Crise de Minsky.
Essa foi exatamente a realidade percebida, com a criação de novos ativos,
de alta complexidade, que proporcionavam retornos expressivos aos investidores, que
demandavam ainda mais inovações, todas fundamentadas no mercado imobiliário. A
partir do momento de um choque, com aumento dos juros, o esquema Ponzi foi
desmantelado, o que iniciou um ciclo de inadimplência do setor imobiliário, gerando
uma corrida contra estes ativos, que desvalorizaram, aumentando a intensidade dessa
corrida, resultando em perdas para as instituições financeiras e paralisando o mercado
de crédito que, por fim, culminou em contágio para o lado real da economia.
Tal contágio se deu de diferentes maneiras e teve impactos diferenciados
em cada país. Assim, os principais mecanismos de transmissão responsáveis pelo
contágio da crise de 2008-2009 na economia internacional, de acordo com Lopes
(2009), foram o comércio internacional, a deterioração das expectativas dos agentes,
a destruição de valor causado pela queda dos preços dos ativos e a redução da
alavancagem do sistema financeiro internacional.
49
Através da transmissão da crise pelos canais supracitados, tornou-se
possível o entendimento das consequências do desembarque dessa crise na
economia mundial, estabelecendo um paralelo entre os mecanismos de transmissão,
seus efeitos e as principais medidas de combate adotadas de maneira genérica,
entendendo que as condições combinadas da crise permitiram um contágio “fast and
furious” e afetaram praticamente todas as economias do planeta.
Por conseguinte, após o entendimento dos efeitos na economia
internacional, abordaram-se as consequências do alastramento da crise na economia
brasileira. A partir disso, ficou mais simples entender como foi o desembarque da crise
em território nacional, para que então, elencássemos as principais medidas
anticíclicas que visaram combater a crise em solo brasileiro. Dentre as principais
medidas adotadas, tivemos as políticas creditícias, monetárias e fiscais, com foco em
setores específicos da economia, das quais se verificou a eficácia como medida de
combate à crise.
Vimos, fundamentada em estudos dessa natureza realizados
anteriormente, e que embasaram esse estudo, que as medidas de combate aos
efeitos da crise de 2008 adotadas pelo governo brasileiro, tiveram sua eficácia
divergente de acordo com cada setor analisado. Para tanto, aplicou-se a teoria
econométrica em modelos que pretendiam mensurar o efeito de tais políticas no
incentivo ao produto e à manutenção do nível de emprego para os setores de móveis
e eletrodomésticos, automotivo, e de construção civil.
Nesse sentido, o setor menos afetado pelas medidas aplicadas pelo
governo brasileiro foi o de construção civil, pois não apresentou nenhuma variável
relacionada à crise com estatísticas significativas e, portanto, mostrou uma ineficiência
de política econômica. Isso é devido ao fato de que esse setor já vinha sendo
incentivado por outras políticas, como taxas de juros subsidiadas, principalmente pela
Caixa Econômica Federal (CEF) e pelo programa governamental “Minha Casa, Minha
Vida”. Além disso, dada uma oferta limitada desses bens, que demandam tempo para
serem finalizados e vendidos, a demanda ficou reprimida, o que permitiu um
sobreaquecimento desse setor, mesmo durante a crise financeira de 2008.
Por outro lado, os setores automotivos e de móveis e eletrodomésticos
demonstraram ser mais sensíveis às políticas de combate à crise, com alteração
50
significativa de seus níveis de produto (vendas) e manutenção de emprego, com a
maioria das estatísticas do modelo apresentando significância. Dito isso, esses
setores dependem mais de crédito para parcelamento e de campanhas promocionais
com oferta de produtos mais baratos, pontos esses que foram diretamente afetados
com a redução de juros e aumento da oferta de crédito, e redução do imposto sobre
produtos industrializados, respectivamente, corroborando com a eficácia dessas
políticas econômicas direcionadas assumidas pelo governo.
Por fim, o governo, de forma geral, acertou em adotar tais medidas de
incentivo a determinados setores da economia de forma a combater os efeitos do
contágio da crise financeira de 2008. Mas será que apenas esses setores eram
merecedores de tais ações? E esses incentivos adotados ficaram vigentes pelo
melhor período de tempo? Dito isso, comprovou-se um benefício de curto prazo na
adoção dessas medidas de incentivo aos setores e à manutenção do nível de
emprego, mas abriu espaço para outros questionamentos, como a eficácia de longo
prazo, já que elevou os gastos do governo e reduziu sua arrecadação, que colocou as
contas públicas em um caminho de desregulação. Ainda assim, estudos dessa
natureza contribuem no fornecimento de elementos para a formulação de políticas
anticíclicas em outras circunstâncias.
51
REFERÊNCIAS
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52
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55
APÊNDICE A – Variáveis Utilizadas e suas Transformações
A.1. As Variáveis Originais.
Tabela A.1 – Descrição das Variáveis de Estudo
Variável Sigla Unidade de
Medida Fonte
PIB - preços básicos 𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 R$ (milhões) IBGE/SNC
Taxa de juros - Over / Selic 𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶 (% a.t.) BACEN, Boletim, Seção mercado financeiro e de
capitais
Inflação - IPCA 𝐼𝑃𝐶𝐴 (% a.t.) IBGE/SNIPC
Dummy de determinação da crise de 2008
𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 Binária 0 -> período fora da crise
1 -> período de crise
Taxa de desemprego na RMSP 𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇 (% a.t.) Seade/PED
Licenciamentos - Automóveis - nacionais
𝐴𝑈𝑇𝑂 Unidades Anfavea
Imposto sobre produtos industrializados (IPI) - automóveis - receita bruta
𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜 R$ (milhões) MF/SRF
Operações de crédito ao setor privado - pessoas físicas
𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣 R$ (milhões) BACEN, Boletim, Seção
Moeda e Crédito
PIB - indústria - construção 𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 R$ (milhões) IBGE/SNC
Operações de crédito ao setor privado - imobiliário
𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 R$ (milhões) BACEN, Boletim, Seção
Moeda e Crédito
Inflação - IGP-DI 𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼 (% a.t.) FGV, Conjuntura Econômica - IGP
Vendas reais - varejo - móveis e eletrodomésticos
𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜 Índice (média 2011 = 100)
IBGE/PMC
Imposto sobre produtos industrializados (IPI) - outros - receita bruta
𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 R$ (milhões) MF/SRF
Fonte: elaboração própria
56
A.2. As Transformações das Variáveis.
Tabela A.2 – Transformação das Variáveis de Estudo
Variável Original Variável Estacionarizada Variável em 1ª Diferença Variável Final
𝑌𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 - - -
𝑆𝐸𝐿𝐼𝐶 𝑟𝑡𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑑(𝑟𝑡
𝑟𝑒𝑎𝑙) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑟_𝑟𝑒𝑎𝑙
𝐼𝑃𝐶𝐴
𝐷𝑈𝑀𝑀𝑌𝑐𝑟𝑖𝑠𝑖𝑠 - - -
𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇 - 𝑑(𝑈𝑁𝐸𝑀𝑃𝐿𝑂𝑌𝑀𝐸𝑁𝑇) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑈𝑛𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜𝑦𝑚𝑒𝑛𝑡
𝐴𝑈𝑇𝑂 𝐴𝑈𝑇𝑂𝑡/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐴𝑈𝑇𝑂𝑡/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜
𝐼𝑃𝐼𝐴𝑢𝑡𝑜 𝐼𝑃𝐼𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡𝐴𝑢𝑡𝑜/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐴𝑢𝑡𝑜
𝐶𝑅𝐸𝐷𝑃𝑟𝑖𝑣 𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝑃𝑟𝑖𝑣/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝑃𝑟𝑖𝑣/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝑃𝑟𝑖𝑣
𝑌𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 𝑌𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝑌𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝑌_𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙
𝐶𝑅𝐸𝐷𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙 𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝐶𝑅𝐸𝐷𝑡𝐶𝐶𝑖𝑣𝑖𝑙/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐶𝑟𝑒𝑑_𝐶𝐶
𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼 - - -
𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜 𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜/𝑌𝑡𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐 𝑑(𝑉𝐸𝑁𝐷𝐴𝑆𝑉𝑎𝑟𝑒𝑗𝑜/𝑌𝑡
𝑏𝑎𝑠𝑖𝑐) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
𝐼𝑃𝐼𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜 𝐼𝑃𝐼𝑡𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡 𝑑(𝐼𝑃𝐼𝑡
𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜/𝐼𝐺𝑃𝐷𝐼𝑡) 𝐻𝑖𝑎𝑡𝑜𝑡𝐼𝑃𝐼_𝐸𝑙𝑒𝑡𝑟𝑜
Fonte: elaboração própria
57
ANEXO A – Medidas Anticíclicas Brasileiras
Em seguida serão detalhadas as mais importantes medidas anticíclicas e a
cronologia do combate à crise. Em especial, as medidas serão subdivididas pelos
meses de sua aplicação7.
Setembro de 2008
i. 19 de setembro de 2008: quatro dias após a falência do Lehman Brothers,
fato considerado marcante para a crise atingir níveis globais, a taxa de
câmbio brasileira sofria depreciação de 5%. Objetivando conter o
aprofundamento da depreciação ou, conforme Dornbusch (1976), evitar um
overshooting da taxa de câmbio, o BCB faz um leilão de US$ 500 milhões.
ii. 24 de setembro de 2008: o BCB, por meio da Circular n. 3.405, elevou de R$
100 milhões para R$ 300 milhões o valor a ser deduzido pelas instituições
financeiras do cálculo da exigibilidade adicional sobre os recursos à vista,
depósitos a prazo e depósitos de poupança. Adiou a implantação do
recolhimento do compulsório bancário sobre as operações de leasing. A data
para entrada em funcionamento da taxa de recolhimento de 25% sobre os
recursos captados foi transferida de 16 de janeiro para 13 de março de 2009.
Outubro de 2008
iii. 1º de outubro de 2008: o Banco do Brasil antecipa a liberação de crédito de
R$ 5 bilhões para o financiamento da safra agrícola.
iv. 2 de outubro de 2008: o BCB permite que os bancos reduzam em até 40% o
recolhimento do compulsório bancário, desde que comprem operações de
crédito de outras instituições financeiras. O objetivo, nesse caso, é permitir a
7 Essa seção foi extraída de Moreira e Soares (2010), páginas 36-39.
58
transferência de carteiras de bancos que apresentassem problemas de
liquidez.
v. 6 de outubro de 2008: a Presidência da República edita a Medida Provisória
n. 442 dando poderes ao BCB para comprar carteiras de bancos sediados no
Brasil. Nesse caso, buscava-se demonstrar aos clientes dos bancos a
intenção do governo de defender os depósitos e, assim, evitar corridas
bancárias.
vi. 8 de outubro de 2008: tendo em vista a poderosa depreciação cambial, acima
de 9%, o BCB decide vender dólar no mercado à vista.
vii. 9 de outubro de 2009: na mesma semana em que foi editada a medida
provisória permitindo que o BCB comprasse carteiras de bancos com
problemas de liquidez, o CMN faz sua regulamentação.
viii. 13 de outubro de 2008: o BCB eleva o limite de dedução do compulsório
bancário com o objetivo de elevar a liquidez da economia.
ix. 14 de outubro de 2008: o BCB reduz de 45% para 42% a alíquota do
recolhimento compulsório e do encaixe obrigatório incidente sobre os recursos
à vista.
x. 16 de outubro de 2008: o BCB permite a venda de ativos entre os bancos com
o objetivo de aumentar a disponibilidade de caixa.
xi. 21 de outubro de 2010: é editada a Medida Provisória n. 443, que autoriza o
Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a constituírem subsidiárias e a
adquirirem participação em instituições financeiras sediadas no Brasil.
xii. 22 de outubro de 2008: o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é
reduzido à zero nas operações de liquidação de câmbio referentes à entrada
de investimentos no Brasil. Buscava-se estimular a entrada de capitais e,
dessa forma, reduzir a pressão sobre o mercado cambial.
xiii. 27 de outubro de 2008: os bancos que adiantassem sessenta contribuições
mensais ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) poderiam abater o respectivo
valor do depósito compulsório à vista. Ao desonerar o depósito compulsório,
esperava-se aumentar a liquidez da economia.
xiv. 30 de outubro de 2008: o Federal Reserve, banco central norte-americano, e
o BCB estabelecem linha de swap no montante de US$ 30 bilhões, com
vencimento em 30 de abril de 2009. O objetivo era melhorar a liquidez do
sistema financeiro internacional.
59
xv. 30 de outubro de 2008: o BCB altera a remuneração do depósito compulsório
a prazo objetivando aumentar o crédito no mercado.
Novembro de 2008
xvi. 4 de novembro de 2008: o BCB altera as regras dos leilões de dólares para
financiar as exportações. Tendo em vista o já citado congelamento do
mercado de crédito comercial internacional, o BCB atuou no sentido de criar
crédito aos exportadores.
xvii. 6 de novembro de 2008: o governo federal libera créditos no montante de
US$ 6,9 bilhões para pequenas e médias empresas e para o setor
automobilístico.
xviii. 11 de novembro de 2008: o governo do Estado de São Paulo lança linha
de crédito de R$ 4 bilhões para o setor automotivo. No mesmo dia, a Caixa
Econômica Federal amplia o limite de empréstimos para a compra de
materiais de construção de R$ 7.000 para R$ 25.000.
xix. 12 de novembro de 2008: a Caixa Econômica Federal libera linha de crédito
para pessoa física de R$ 2 bilhões. O crédito era voltado para a compra de
eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, móveis e materiais de
construção.
xx. 13 de novembro de 2008: a partir de 1º de dezembro de 2008, o
recolhimento compulsório adicional sobre os depósitos à vista e a prazo e
sobre a poupança seriam feitos com base em títulos públicos. Com isso,
era ampliada a capacidade de financiamento do setor público.
xxi. 14 de novembro de 2008: a Presidência da República edita a Medida
Provisória n. 447, que estendeu em dez dias o prazo de recolhimento do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do Imposto de Renda Retido
na Fonte (IR) e da Contribuição Previdenciária. Além disso, o prazo de
recolhimento do Programa de Integração Social e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) foi estendido em cinco
dias. Estimava-se que a mudança na data de recolhimento dos impostos
contribuiria com R$ 21 bilhões para o caixa das empresas.
60
xxii. 21 de novembro de 2008: é editado um decreto reduzindo o IOF de 3,38%
para 0,38% nos financiamentos de motocicletas, motonetas e ciclomotores.
Dezembro de 2008
xxiii. 11 de dezembro de 2008: o Decreto n. 6.687 reduziu as alíquotas do IPI
incidentes sobre a venda de veículos e caminhões. Tal medida vigoraria de
15 de dezembro de 2008 a 31 de março de 2009.
xxiv. 11 de dezembro de 2008: o Decreto n. 6.691 reduziu as alíquotas do IOF
incidentes sobre operações de crédito com pessoas físicas.
xxv. 15 de dezembro de 2008: é anunciada pelo governo federal, por meio da
Medida Provisória n. 451, a alteração nas alíquotas do Imposto de Renda
das Pessoas Físicas (IRPF).
Janeiro de 2009
xxvi. 22 de janeiro de 2009: é editada a Medida Provisória n. 453, que constitui
fonte adicional de recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 100 bilhões, cujo objetivo era
aumentar a disponibilidade de crédito de longo prazo.
Ainda no ano de 2009, a implementação de medidas anticíclicas teve conti-
nuidade. Pode-se destacar a redução das alíquotas do IPI incidentes sobre os eletro-
domésticos da linha branca. Também foram desonerados temporariamente do IPI os
bens de capital e os materiais de construção. Em relação ao crédito, outras medidas
também foram adotadas, como a redução da taxa de juros de longo prazo (TJLP).
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