aranha3 educacaopodereideologia

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    As re lacoes de poderA genre flea p nsando: 0 que e que a escola ensina, meu Deusl Sabe? Tern

    vez que eu penso que pros pobres a escola ensina 0 nrundo com o ele n~oe.rFala dolavrador rnineiro "Cleo", segundo Carlos Rodrigues Brandaol

    1. A poUticaQuando Ialarnos ern politico .e cornurn as

    pessoas imaginarem urn espaeo externo a SWlvida coridiana e que diz respeiro ao Estado e!lOS politicos profissionais que estariam encar-regados das decisoes relativas aadministrauoda cidade,

    Essa imagem da pcliricae, no enranto, tipicadas sociedades autoritarias, em que as pessoasestao acostumadas a ser tuteladas e a nao interfe-rir de maneira eficaz nos rumos da coleiividade.Tanto isso-e verdade qlle muitos consideraruqueapenas cerras pesscas estao investidas de poder(tem capacidade de agir, de pruduzir efeitos)e,par isso, decidern, mandam, restando a malariaapenas a obediencia.

    Ora, 0poder nao e . ulna cclsa que se tern, maslima re!a,'iio Oil umconjunto de relaeoes pormeio da.. quais indivlduos ou grupos interferers

    lransparenle,aherla as discussoes, uo conflitode opi n i6es, c e 1 1 1 que se acei ~flI1:1 pensamemosd iverge-meso

    Talvez voce acrcdite que isso pode gerar umaconfusao total. em que ninguem se entenderia.Ao c on tra ric , c precise partir daideia de que aeducacilo para a cidadania da destaque ao inte-resse publico e a convivencia em grope. Assirn,o principal insrrumento de dispura do cidadaopassa a ser 11lio m ais a violencia, mas as pala-vras. 0 discur 0 fundado lUISaries da persuasao,buscando 0consenso,

    Evidenterncnte, ehegar a esse estagio na o e( " u c i 1 : . a democracia exige longo apreudizadoc sesujeita a percalcos de toda especie, Veja-se, porexemplo, 0caminho pereorrido peres brasile irosna decada de 90. M alrefeitos de urn longo peno-do de ditadura, caracterizado pela censura e pelaperseguieao aos dis ideates (com prisoes, tortu-rae man-e). enfrentamos ose d'llldalos do go-

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    das' do processo. Embora ncm sempre se tenhaconseguido aringir (l objetivos buscados, c im-portante saber que 0 eidadaos naoassistem pa.

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    Invertendo 0processo, farx considera que asideias derivarn das condlcoes hisroricas renis ...;-vidas pelos homens ao esrabelecerem as rda~Oesde producao, ism C.ao se orgarrizarem por rneioda divisao social do trabalbo, Segundo ele, todaarividade intelectual (milo. rcligiiio. moral, filo-sofia, literatura, cienciu etc.) e todas as norrnas(l1l()rai~. juridicus etc.) passum user compreen-didas como dcrl vadas das condicoes materials deproducao da existencia.i

    Pam exemplificar: a morale. 0 direito felldai.podern sercompreendidos a partir do modo deproducao feudal: persua vel. ao instaurar 0 ca-pitalismo. a burguesia passani a defender valo-res morals e norm as jundicas diferenres daque-les da nobrczu feudal. buscando novos rnodelostecricos que justifiquem sua ac;ao.

    Ora, a aceitacao da transformacao social se-ria relativamente rileiJ case as novas ideias, de-correntes das mLldl l l1~aSeccnorrr icas, fossem len-tamenre assimiladas, Mas isso significa superar0

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    A funr;ao da ideologia e , . pois, ocultar as dife-reucas de classe. facilitando a continuidade dadominaiio de uma classe . obre omra, A idcolo-gia assegura a coesao entre os homen e a aceita-r;Hosemcrnicas das ia re fa s mais penesas e poo-eo reeernpensadoras, em nome da "vonrade deD eus", do "dever mO.n1 I " ou simplesmentecomndecorrentes da "ordern natural das coisas".E in teressan te o bserv er q ue n ao se trata de umam em ira inventada pel os ind i v!d uos da classe d om i-nante para subjugar a ouuaclasse, Tarnbem eless ofrem a in tlu en cia da ideologia, 0que Ihe..penni-te exereercomo narun..lisua dominayao econside-rar universais os valores perteneentes a sua eiasse,Os missionaries que acompanhavam 0 eotoniza-dores a s tetras conquistadas, por exemplo, certa-mente 1 1 1 1 0 percebiarn ocarater ideologico de suaa((fio 1 1 . 0 implantar uma religi5.0 e umu moral estra-nhas . a . s do rovo do rn in ado. A o co ntrario, estav arnconvencidos do valor dessa tarefa,

    5. Caracteristicas da ideologiaOuvimos com Ireqdencia afrase "0 uabalho

    dignifica 0 homem'.E born lembrar que a afir-mayao l 1 a O e fa ls a , pa is , com o v irn os nos cap fr u-los anteriores, 0 trabalho e de Iato 0 qu.c Ia z ohomem se iomar hornern e 0 distingue do ani-m al. m as soa ideologica quandu considerada forado coniexto historico concreto em que os homenstrabalharn. rnasearando i lu~Oes de exploracao.

    nas quais certo tipos de trabalho brutalizam 0homem. em vez de enobrece-Io (como 0 opera-rio na ljnha de montagem):

    a universalizar:iill: pela qual as ideias e va-loses do grupo domi name sao estendidos a todo. ;per exernplo, mesrno tendo interesses divergen-res, {1 empregado adota os valores do patrallcomo scndo tarnbern (lS seus;

    a laCIlIUI.: ha "vazics", "partcssilenciadas"que nio podern ser d itas, so b pena de desmasca-rar a ideologia: por exemplo, quando dizemosque 0salario pa.ga a trabalho. permanece ocultoo faro de que 0valor preduzidn pela forea de ITa.balho e maior do que 0 recebido, sendo a dife-rencaapropriada pclo capitalism (e 0 que Marxdenorninava fnai,HI(tfia):

    a inversiio: ao explicar a realidade, 0 que Capresentad o com o causa e n a v erd ad e consc-qiJbcia; pO T exernplo, se filhode urn operarionao consegue mclhorar seu padrilo de vida, 0in ucesso e considerado resulrante de sua incorn-petencia, quando na verdade esta e e/eito de ou-tras causas, tais como as condi~,Oesprecarias (desatide, educacao etc.) a que se acha submetido:ele joga urn "jogo de cartas rnarcadas", e us pos-sibilidades de rnelhora nao dependem dele.

    Dessa forma, a ideolcgia "naturaliza" a reuli-dade, escondendo 0 tato de que a existencia hu-mana 86 e produzida pelo proprio homem e s6pode ser alterada por de: nao e "natura rOque hajaricose pobres, nern que exista a separacao entre

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    em duvida c uma imagern iJu oria, A escolae poluica e. c m tal reflete inevita elmente osconfromo de or-ra existcntes na sociedade, eesta e cara ieriza por class aruagomcas. a e -cola certameruc refleura 0 imeresses do grupodom inanre , Ba ra rever a hisloria c ia e du c ac aopara perceber como a escola sempre serviu aopoder, nao ofere ceodo oporiunidades iguais deesmdc a tcdos, indistinramente (ver Capitulo S .obre educa(:ao popular).

    lem di so, a escola transrnite padrfi s decomponament bern como ideia. e valores. ra,e modelos. divulgados como "univer ai eab tram ", gcralrnente nao s a lao universai as-im, pertencend 3 urn dererminado segmeruosocial.

    Nadecada de 70, muitos inrelectuai: desen-vclveram as teorias cnuco-reprodutivisias (vel'Capitulo 20). que denunciarn a escola par disse-rninar a ideoloaia e reproduzir 0SUItIiS qUI). Mes-mo nao con ordando com II radicalidade des asn ua: anali

    urn rapid boco do papel ideol6gi 0 daeducacao, varno abordar 0 problema ob t r e .aspectos: quanto as teorias pcdagogicas, quantoao plano legal e quanro a pratica educaiiva.arater ideo16gico das teorias pedagogicasSe levarmo em WIlla 0 conceito de praxi: .

    Dessa forma. nao ~ possfvel trabalhar om care-gorias aiernporais, como lIlJJW'I?W humana. IJI/fill-cia em i au familia em si ( er Capitulo 6). gun-do as teorias que partem dessas ll~, a edu actaoseria urn proce 0de "atualizacao" daquilo qu 0homem possui "em potencia" (0 que pode ser, mas< lin da n ao e), donde se cone lu i que haveria urnu es-seneia humane viilida em todos os tempos e luga-re s, c ab en do a ed ucacdo tornar presente, ' trazer 1 1rona" 0que xi te em germc em cada urn.

    Tal proc dimento I rna-se ideologico ao des-pre.zar 0 a to de que a ed u ayao t_ urn fen6m nosocial, Olio. endo po si cI scparar teoria d. edu-ca~u e realidade acini. sociedade nao c umaglomerad de indivfduos, ada urn dele "d a-broehando". trazendo a rona 0que em "CIII poten-cia", A educacao promove a construcao d e ! perso-n aiid ad e s oc ia l e. pOI' isso, nao se desvincula da~ilUa~i:ioconcreia em que se insere.

    ao convern, por excrnplo, analisar a crise daadol s cnda como "natural". re ultame do etcr-no conflito entre gem 'Oc:, pais h a sociedadena quai nem sequer exis tc 0 fenorneno cia ado-Iescencia. e urras em que c nllim a LI learmulto diferente: basta comparar o adol . c nre docampo e u tla cidade: 0 burgues e 0 proletario: oua ind a o jove rn d a decade de 40 e 0 d o s e x plo si-VO$ anus mutanres de 60!Legi lac;ao e ideclcgia

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    planes. a sisiem aticidade da 3t;aa. inexistenciude projetos claramente expo 10;,. OU seja. ealga que ai esta, que a hornem deixou de fazerau fez sem osaber,

    Se nJio cxisre urna tcoria explicita subjacente.a a r ; a o p erd e a in te ne io na lid ad e, < 1 unidade e accerencia, mas nita deixa de ser orientada pelosvalores vigcntes, expresses pelo s in re re ss es do'>g rupo s domin arue s, E eis af de novo a acso silen-ciosa da ideologia, Pais 0D ireito, com o toda ela-boraeao da consciencia humana, reflete as con-di~6e estruturais cia sociedade em urn de term i-nado momenro historico, cas leis, sendo feitaspela e li te . vern em defesa lias seus valores,

    P or isso, 0.0 exarninar 0 texto de uma lei. cprecise le r nus entrelinhas, analisar () contexteem que so insere, a rim de descobrir as relaeoesde interesse que se Bellum pur tras. u o p ro ce ss oda sua ge~La~ao .

    Volternos ao exemplo da Lei de Diretrizes eBases. A partir do primeiro projero de lei. data-do de 1948 .. esta lei ....gu iu urn longo carninho .Ernbora fosse inicialrncntc urn rexto progressis-ta, foi sancionado apenas em 1961. tornando-seu ltrapassado para a epoca em que entrou em vi-gor, ja que em antra a scciedade brusi lei ra deentao ..Alem disso, < I lei refletiu os conflitos en-rre tend eucias op ostas, sobretudo entre liberaisdefensore da escola publica e a ala conserve-dora dos c3IOlie05. que reivindicava a subven-t;ao do Estado para a rede particular do ensino,

    m is: o r de in fo rm a co es. E s tu do s realizados sobreus livros didiiricos de ]Q grau' constatarn rnuitasve zes < ua urilizacao rdeologica, sob re tu do q ua n-do rno rram a crian ca uma realidad e esrereotipa-da, id ea liz ad a e d efo rm ad ora .05 textos ideo logicos transm item urna visande trabalho que iguala todos O~ tipos de protis-s f\ o . o cu lta ndo 0 ra to de que rnu itas pesscas !:lUllsubmetidas a ali vidades arduas, al ienantes. M05~tram urna sociedade una e harmonica. na qualead a u rn cu rnp re 0 eu pape l como Lim destine aque nao se pode tugir e ao qual se deve confer-mar. A impre. sao que se [em C d e que a riqucza ea p ob re za fazern pane da na tu re za d as coisas, n3.osendo resultado da acao dos homens, Rests uospobres a paciencia e, aos rices, ,1 generosidade.

    A familia, apresentada sem conflitos, aparececom papeis bern definidos: 0 pai lem a funciio deprovedor: a mae e a "rainha do lar"; se a criancan ao for atenciosae obe .d ie nte . .is so c rno str ado comourn de vio que precisu ser corrigido: a em pregada,g era lm e ate n eg ra . e feliz por ..e r " qu ase " alguernda farnilia.t'Mundo sern preconccito.em que as ra-~llio se irm anarn .. : A lem disso, as ~itua~aesvividas.bern eorno 0 am biente em que se desenrolam ,rcf 'l et ern invar iavel rnent e L 1 . rcalidade de Limsegm em o rnais prospere da s oc ie da de , rn uito di-fe re rue do modo de viver da r na io ria da populacaoesco lu r , penencei ll c ~ISc la ss es d esfa vo re cid ai .,\ p o tr i rnerece paginas de in ge nua e xa ha cao ,

    sendo retratada como um pais iiusorio. grande e

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    aboli9atl da escravatura e vista sob a otica dosbraneos e as bandeirantes sao "hertiis' que cxpan-dern as fronLeiras brasileiras 3 custa tins popula-~oes indigenes (alias, no "Iaroestc" americano 0rnocinho nilo vence sem pre os ferule .. .' indios?).A enfase dada a geografia fisica, em detri-memo da gecgrsfia humane, refletc a p r< ! oc upa-9ao povhivlsta, que despreza 0 faro de ser 0 n o -mern 0 construtor do sell Imbiull. Com isso seoculia que a a c ; : a o exercida sobre a natureza sig-nifica tarnbern uma a\tlio sobre as hornens, 0querecoloca a quesuio do poder e do com role polin-co 00 cspa~ geogriifico.

    Tomamos apellas os cxernplos do historia e dayeogra l'ia. m as um a analise d es re ri po pede set fei-ra corn rela~iio a qualquer discipl ina do currlculo.

    EmbOI"< I nao tenharn necessariamenre objerivotil d atico, os livros de liff! tatum iliti.m ti I, sao L I t i li-zac.lo~ corn freqi.h5l1cia em sala de: aula, como auxi-liares no pmcesso de aprendizagern, E muiio co-mum cncontrarmos vies ideologico ncssa produ-! f a . o . preocupada com 0en qu adram ento d a crin ncanos padrees convencionais decomportarnento, doq ue d ec or rc 0 carnter m oralizante do seu conreu-do. Alem di

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    8..Educar para a cidadaniaComo proceder ::I essa mudanca. tendo COl

    vista inerneras difieuldades e enrraves?A tarefa e ardua, mas nao impossivel, Scm

    duvida exige tem po, paciencia e urn esforco con-tfnuo levado a efeitoern imirneros setores dife-rentes: que se abram "agoras" de discussao, es-pacos de expressdo quefllncionem comomiercrrcvolucces.

    A salutarexigencia de etica na politica deve,por coereneia, see lender ~s relw;:oes de traba-lho, a v id a fam i I .iar e ao Iazer. nao apenas en-quanto discussao, mas tambem [HI. busca de for-mas de atuag.ao. Afinal, dissemos que democra-cia e policraeia: pois que aumentern os focos nosquai possamos exercer nossa cidadania,

    Sem diiv ida. preci -amos exigir 'do Estado ocumprimento de suas obrigaeoes, bern como vi-giar sua execucao, Mas isso n50 e suficierue. Erevelador de uma lendencia paternalism perrna-uecer n a dependenc i a exc Ius iva da boa vontade ecia ar;il.o dos governos. Ate porque a allem9.nciafrequente daqueles que sao eleitos pam ocuparos carg publico gem constantes rnudancas deorienta~ao ideologica. tornando caotica aadmi-nistr: :u; i io publica.

    A~ organizaedes de pais, de mestres, de alu-nos, os sindicatos, ou seja, os agrupamentos pro-gressistas safdos cia sociedade civil e que pode-

    rio exercer urna vigilancia c fazer pre~ii.o paraquea escola se lrmsforme em urn espaco de mu-danea, Mesmo que nessa situa

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