análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes
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KÁTIA FERREIRA DOS SANTOS
Análise dos aspectos epidemiológicos dos acidentes
ocupacionais, práticas de biossegurança e impacto na
rotina de trabalho de cirurgiões-dentistas, após
exposição a material biológico.
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, para obtenção do título de doutor em Ciências.
Área de Concentração: Infectologia em Saúde Pública.
Orientador: Prof. Dr. Nilton José Fernandes Cavalcante
SÃO PAULO
2014
DEDICATÓRIA
Dedico às mulheres ancestrais de minha família por me permitirem chegar até
aqui e, por meio delas, saber que estou em um novo tempo, onde as mulheres,
atualmente, têm vozes, têm poder de decisão e escolhas mais justas e dignas!
Ao meu pai: Lourival José dos Santos, por ter me ensinado a ter resiliência em
diversos momentos cotidianos o que contribuiu para minha persistência!
Dedico, principalmente, à minha mãe: Helena Ferreira dos Santos (In
memorian), pelo seu amor, incentivo e pela inesgotável vontade de me ver
crescer e voar! Aquela que, além de mãe, foi meu testemunho em vida de
muitas lutas e de muitos anseios! O onde quer que Ela esteja, sua benção e luz
possam continuar me fortalecendo e me ajudando a existir !
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
À DEUS, pelos sinais enviados para que eu persistisse e enfrentasse com
louvor os desafios desta jornada!
Ao Prof. Dr. Nilton José Fernandes Cavalcante, por ter me dado a honra de
caminhar ao seu lado e tornar este sonho possível! Sua participação em meu
crescimento profissional começou em uma entrevista que alternou sonho e luta.
Como uma brincadeira de criança, este trabalho foi seguido de muita paciência,
generosidade e respeito para sua conclusão! Assim, seguem as minhas
reverências para alguém muito profissional e dedicado!
À minha irmã Márcia Santos que pela força e leveza, me ajudou a enfrentar
dores emocionais profundas, no momento de luto de nossa mãe, e a
compreender que a vida se fundamenta em laços afetivos irrevogáveis.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós–Graduação CCD/ SES, pela colaboração de tornar viável
este Projeto.
À coordenadora do Programa Pós–Graduação, Profa. Dra. Maria de Fátima
Costa Pires, pela paciência e ajuda em momentos conturbados de minha vida
pessoal.
Aos professores do programa de Pós-Graduação da CCD-SES/SP,
especialmente os do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, pela contribuição
profissional e riqueza intelectual.
À Dra. Anna Christina Nunes D’Ambrosio, pela dedicação, paciência e
contribuição para, eticamente, viabilizar este Projeto.
À funcionária Maria Francisca da Silva, da CCIH que tanto me ajudou na
organização das fichas dos pacientes para elaboração do banco de dados para
seguir adiante com as questões deste trabalho.
À funcionária Mônica Ferreira Dias, pela competência e intensa vontade de
assessorar, secretariar e torcer pela minha vitória.
Aos colegas cirurgiões- dentistas que aceitaram ser entrevistados nas mais
diversas horas e lugares os quais puderam confidenciar em seus relatos seus
acidentes e contribuir com a execução da pesquisa.
Às amigas Rosélia Paparelli, psicoterapeuta, e Rosa Marcusso, matemática,
pelos conhecimentos cedidos de diferentes áreas os quais contribuíram para
elaboração deste Projeto.
Ao meu amigo Marcelo Barbosa, bibliotecário, no IIER, que, incansavelmente,
ensinou-me muito sobre normas, referências, base de dados e outras
particularidades para finalização desta etapa.
Ao meu professor de inglês Robert Turner, pela incansável vontade de me
ensinar inglês, traduzir textos e adentrar em um Universo cultural muito
diferenciado.
À minha notável amiga Dra. Noemi Campelo, pela incessante serenidade ao
me ouvir e me fazer acreditar no meu potencial para finalização deste Projeto.
À minha grandiosa amiga Dra. Nina Michel que, com suas palavras de ordem,
fizeram- me persistir nesta jornada.
Ao meu amigo Marino Teixeira, pelo apoio e pela força em momentos difíceis.
Ao meu amigo Laurêncio Nascimento de Jesus, pelas palavras de sabedoria e
pela competência que tanto admiro.
À minha disciplinada assistente Aida Nascimento Coelho pela dedicação para
organizar papéis e otimizar minha agenda, a fim de que eu pudesse ter
tranquilidade para estudar.
Ao meu amigo Rafael Cuoco, pelos ensinamentos de computação.
Ao meu amigo Luiz Antonio Schaffhauzzer, pelo carinho de médico e apoio em
todos os momentos de que precisei.
A todos os meus amigos e familiares que se preocuparam e me incentivaram
com palavras de apoio para eu chegar ao fim deste sonho.
IN MEMORIAN:
Ao meu irmão: Ricardo Ferreira dos Santos que, por meio de uma passagem
meteórica em minha vida, me fez dar conta do poder do desconhecido, da
importância da ordem e do pertencer na família.
A LIBERDADE DO PAPAGAIO
Um mercador tinha um papagaio preso a um poleiro e o tratava muito bem. Um dia resolveu viajar para Amazônia e perguntou ao louro o que desejava de presente de lá. Este lhe pediu: - Se vires algum bando de papagaios livres, pergunta-lhes como também posso fazer para voar livremente.
O dono perguntou ao louro se este não estava feliz, pois não precisava ter nenhuma preocupação com alimentação, local de moradia ou se quer voar, pois podia voar livremente pelo quintal do mercador.
O louro disse que queria saber maiores detalhes sobre a vida de seus parentes! Na Amazônia, o mercador viu um bando de papagaios e gritou-lhes a mensagem do louro de estimação. Ao ouvi-lo, o guia do bando caiu como morto. O homem, penalizado, pensou: - Coitado, este guia devia ser parente do meu papagaio! Ao voltar, contou o sucedido a seu papagaio e este, para seu espanto, tombou também como morto. O homem lamentou e chorou, mas, resignado desprendeu o louro inerte e o atirou ao quintal para o funeral. No próprio impulso com que foi jogado, o papagaio alçou um longo vôo e pousou num galho. O mercador, muito admirado e irritado perguntou: - Afinal, o que significa tudo isso? E o papagaio livremente, respondeu: - Eu apenas segui a lição!
- Fiquei atento aos sinais! E com ar de liberdade afirmou para o mercador:
Não basta adquirir sabedoria, é preciso também saber usá-la!
(autor desconhecido ou ignorado)
RESUMO
INTRODUÇÃO: As publicações referentes a acidentes com cirurgiões dentistas
são em número reduzido e a extrapolação do que ocorre em outras profissões
como médicos e enfermeiros não atende as peculiaridades da odontologia
quanto a técnica, havendo necessidade de estudos. OBJETIVOS: Os objetivos
foram caracterizar os aspectos epidemiológicos dos acidentes com
perfurocortantes e risco com material biológico em cirurgiões-dentistas, avaliar
as práticas de biossegurança adotadas, grau de percepção frente aos
acidentes e as mudanças decorrentes. MÉTODO: Estudo Transversal quali-
quantitativo, retrospectivo e prospectivo realizado a partir do preenchimento da
“Ficha de Notificação de Acidente com Material Biológico” da CCIH do IIER e
entrevistas por meio de questionários distribuídos para 40 cirurgiões-dentistas,
divididos em dois grupos de vinte, no período de 2008 a 2012, selecionados do
total de 103 acidentes notificados (grupo geral) que resultou em banco de
dados com informações epidemiológicas do material biológico. RESULTADOS:
Foram selecionados todos os dentistas entre 2008 a 2012 pela CCIH, no
ambulatório de acidentes do IIER, perfazendo o total de 103 profissionais. O
grupo apresentou predominância de profissionais do sexo feminino 80
(77,71%), idade média de 33,6 anos e mínima de 22 anos. Na maioria
profissionais particulares 101 (98%). Turno diurno 78 (75,7%), 8,9 anos (1,5-
30) em média de jornada de trabalho, 71 (68,9%) não notificaram a Medicina
do Trabalho, apenas 33(32%) com acidente prévio, os acidentes ocorreram na
sexta 24 (23,3%) e sábado 22(21,3%), maioria percutâneos 87(84,5%) com
material contendo sangue 58(56,3%) e com agulha oca 40 (38,8%), mão
esquerda 48 (46,7%), durante procedimentos 60 (58,3 %), autoacidentes 78
(75,7%). Entre os EPIs as luvas estavam presentes durante o acidente em 89
(86,4%). O paciente fonte era conhecido em 90(87,4%), mas não tiveram os
exames de sangue realizados de rotina. Os profissionais estavam vacinados
para Hepatite B em 94 (91,3%), receberam TARV em 60 (58,3%) e 47(45,6%)
receberam alta por acompanhamento adequado. Com intuito de explorar
informações adicionais foram contatados 20 profissionais de grupos anteriores
ao início do estudo e 20 profissionais prospectivamente durante o estudo. Na
análise temática, o motivo do acidente relacionou-se a ordem pessoal, ordem
técnica, ordem de trabalho e reincidência de acidente. Na ordem pessoal os
motivos alegados foram desatenção, distração, distração seguida de uso
inadequado de técnica odontológica e euforia. Quanto a Biossegurança foi
verificado se o profissional tinha as informações sobre protocolo de
atendimento em casos de acidentes ou não e se as normas de biossegurança
eram seguidas. Quanto às mudanças ocorridas após o acidente foram
encontradas as seguintes categorias: ordem pessoal, ordem técnica, ordem de
trabalho e ordem de prevenção. Alguns entrevistados não revelaram
mudanças, mas ficou claro em seus discursos que os acidentes foram
banalizados e também, por não acreditarem na seriedade causada por eles.
CONCLUSÃO: Diante do estudo realizado concluiu-se que a maioria era do
gênero feminino, trabalhava em consultório particular diurnamente e não
realizou notificação de medicina do trabalho, a maioria dos autoacidentes foi
percutâneo com agulha oca e na mão esquerda. O paciente fonte era sempre
conhecido do cirurgião-dentista e não houveram resultados sorológicos
presentes que viabilizassem o tratamento do profissional acometido. O dia de
maior frequência de acidentes foi a sexta-feira, provavelmente, por ser o dia
mais estressante. Os profissionais relataram mudanças de comportamento
depois dos referidos acidentes quanto às questões de biossegurança e uso de
EPIs, aperfeiçoamento das técnicas odontológicas exercidas, autocuidado na
atenção, nos limites pessoais e profissionais.
Palavras-Chave: Exposição a agentes biológicos. Odontologia. Acidentes de
trabalho. Riscos ocupacionais. Saúde do trabalhador.
ABSTRACT
INTRODUCTION: The publications relating to accidents involving dentists are
few and extrapolation of what happens in other professions such as doctors and
nurses does not meet the peculiarities of dentistry as the technique, requiring
studies. OBJECTIVES: The objectives of epidemiology of sharps injuries and
risk were characterized with biological material among dentists, to evaluate
biosafety practices adopted, degree of perception against accidents and the
resulting changes. METHODS: Cross-sectional qualitative and quantitative,
retrospective and prospective done from completing the "Accident Notification
Form with Biological Material" of the CCIH IIER interviews and through
questionnaires distributed to 40 dentists, divided into two groups of twenty
Study in the period from 2008 to 2012, selected from over 103 accidents
reported (general group) which resulted in a database with epidemiological
information of biological material. RESULTS: all dentists were selected between
2008-2012 by CCIH in outpatient IIER accidents, totaling 103 professionals.
The group had a predominance of female professionals 80 patients (77.71%),
mean age of 33.6 years and a minimum of 22 years. In particular professional
most 101 (98%). Day shift 78 (75.7%), 8.9 years (1.5-30) in average workday,
71 (68.9%) did not notify the Occupational Medicine, only 33 (32%) with
accident prior the accident occurred on Friday 24 (23.3%) and Saturday 22
(21.3%), percutaneous majority 87 (84.5%) with blood containing material 58
(56.3%) and 40 with hollow needle (38.8%), the left hand 48 (46.7%) during
procedures 60 (58.3%), autoacidentes 78 (75.7%). Between PPE gloves were
present during the accident in 89 (86.4%). The source patient was known in 90
(87.4%), but did not have the blood tests routinely performed. Professionals
were vaccinated against Hepatitis B in 94 (91.3%) received ART in 60 (58.3%)
and 47 (45.6%) were discharged by proper monitoring. Seeking to exploit
information from previous 20 professional groups at baseline and 20
professionals were contacted prospectively during the study. In thematic
analysis, the reason for the accident was related to personal, technical, work
order and recurrence of accidents. In order personal reasons were alleged
inattention, distraction, distraction followed by inappropriate use of dental
technique and elation. As for Biosecurity was checked if the professional had
information about treatment protocol in cases of accidents or not and whether
the biosafety norms were followed. As for the changes that occurred after the
accident the following categories were found: personal, technical, work order
and order of prevention. Some respondents revealed no changes, but it was
clear in his speeches that accidents were trivialized and also for not believing in
gravity caused by them. CONCLUSION: In the study it was concluded that the
majority were female, worked in private practice and has performed
diurnamente notification of occupational medicine, most autoacidentes was with
percutaneous hollow needle and left hand. The source patient was always
known to the dentist and there were no serological results present that would
enable the treatment of the affected professional. The day with the highest
frequency of accidents was Friday, likely to be the most stressful day.
Practitioners reported changes in behavior after the accident referred to as
biosafety issues and use of PPE, improving exercised dental techniques, self-
care in care, personal and professional boundaries.
Key words: Exposure to biological agents. Dentistry. Occupational accidents.
Occupational Risks. Occupational health.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Prevalência de HBsAg no mundo ............................................ 27
Figura 2 - Prevalência de Hepatite B no Brasil, entre as unidades
federativas ................................................................................. 28
Figura 3 - Prevalência de Anti- HCV no Mundo ....................................... 33
Figura 4 - Fluxograma de resultados ........................................................ 78
Figura 5 - Gráfico do dia da semana que ocorreu o acidente nos
profissionais notificados e profissionais entrevistados. ...... 96
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Conduta na exposição ao HBV ................................................ 31
Quadro 2 - Condutas e Cuidados após acidente ....................................... 46
Quadro 3 - Descrição Sumária do Acidente............................................... 96
Quadro 4 - Fonte de Informação sobre o Risco ...................................... 105
Quadro 5 - Descrição de Protocolo Ativo de Biossegurança................. 107
Quadro 6 - Mudanças ocorridas após o Acidente ................................... 110
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição de óbitos por AIDS no mundo ............................ 36
Tabela 2 - Estudo caso-controle de fatores de risco para
soroconversão pelo HIV em exposições percutâneas ........... 39
Tabela 3 - Informações sócio demográficas de cirurgiões-dentistas
com exposição a material biológico acompanhados no
ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012) ...... 80
Tabela 4 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas
com exposição a material biológico acompanhados no
ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012) ............. 82
Tabela 5 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas
com exposição a material biológico acompanhados no
ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012) Uso
de EPI(s) ..................................................................................... 83
Tabela 6 - Caracterização do paciente fonte dos acidentes em
cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico
acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do
IIER (2008 a 2012) ...................................................................... 84
Tabela 7 - Informações epidemiológicas dos acidentes em
cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico
acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do
IIER (2008 a 2012) ...................................................................... 86
Tabela 8 - Informações sócio demográficas de 40 dos profissionais
acidentados com exposição a material biológico (2008 a
2012) ........................................................................................... 88
Tabela 9 - Informações sobre biossegurança de 40 profissionais
acidentados com exposição a material biológico (2008 a
2012) ........................................................................................... 90
Tabela 10 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais
acidentados com exposição a material biológico (2008 a
2012) ........................................................................................... 92
Tabela 11 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais
acidentados com exposição a material biológico (2008 a
2012) ........................................................................................... 94
Tabela 12 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais
acidentados com exposição a material biológico (2008 a
2012) ........................................................................................... 95
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACD Auxiliar de Consultório Dentário
AIDS/ SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
ALT/TGP Alanina Amino Transferase /Transaminase Glutâmica
Pirúvica
Anti-HBc Anticorpos contra Antígeno “core” da Hepatite B
Anti-HBe Anticorpos contra antígeno “e” da Hepatite B
Anti-HBs Anticorpos contra antígeno “superfície” da Hepatite B
Anti-HCV Anticorpos contra vírus da Hepatite C
Anti-HIV Anticorpos contra vírus da Imunodeficiência Humana
ARV Antiretrovirais
AZT Zidovudina
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho
CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
CD Cirurgião Dentista
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CD4 Linfócitos CD4 (auxiliares)
CFO Conselho Federal de Odontologia
CRO Conselho Regional de Odontologia
CRO/SP Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
CV Carga Viral
DNA Ácido Desoxirribonucléico
DORT Doença Óssea Relacionada ao Trabalho
DST Doença Sexualmente Transmissível
EASL European Association for the Study of the Liver
EPI Equipamento de Proteção Indivídual
FDA Food and Drug Administration
HAART Terapia anti retroviral altamente potente
HBeAg Antígeno “e” do vírus da hepatite B
HbsAg Antígeno “s” do vírus da hepatite B
HBV Vírus da Hepatite B
HCC Carcinoma Hepatocelular
HCV Vírus da Hepatite C
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
IC Intervalo de Confiança
IDV Indinavir
IGHAHB Imunoglobulina Hiper imune contra Hepatite B
IIER Instituto de Infectologia Emilio Ribas
IP Inibidor de Protease
MS Ministério da Saúde
NFV Nelfinavir
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PAS Profissionais da área da saúde
PEP Profilaxia pós-exposição
PU Precaução Universal
QP Quimioprofilaxia Básica
RNA Ácido Ribonucléico
RVS Resposta Virológica Sustentada
SCIH Serviço de Controle de Infecção Hospitalar
SINAN Sistema Nacional de Notificações de Doenças
SUS Sistema Único de Saúde
TARV Terapias Antiretrovirais
TC Termo de Confidencialidade
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
3 T C Lamivudina
UNAIDS Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/
AIDS
UNAIDS/ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/VIH/AIDS/SIDA
WHO World Health Organization
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 22
1.1 Exposição Ocupacional na Saúde ................................................... 23
1.2 Brasil e os acidentes com perfurocortantes ................................... 25
1.3 Profissionais de Saúde e Tipos de Exposições .............................. 25
1.4 Avaliação da exposição no acidente com material biológico ....... 26
1.5 Epidemiologia Hepatite B no mundo ............................................... 26
1.6 Hepatite B e a Contaminação em Profissionais da Saúde ............. 29
1.7 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite B ....................................... 31
1.8 Epidemiologia da Hepatite C ............................................................ 31
1.9 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite C ....................................... 33
1.10 A Epidemia de AIDS no Mundo ........................................................ 35
1.11 A Epidemia de AIDS no Brasil .......................................................... 36
1.12 Risco de Transmissão do vírus da Imunodeficiência Humana ..... 37
1.13 Materiais biológicos e risco de transmissão do HIV ...................... 37
1.14 Profilaxia Pós-Exposição para HIV .................................................. 40
1.15 Quimioprofilaxia ................................................................................ 40
1.16 Odontologia e os riscos de adquirir doenças ocupacionais ......... 43
1.17 Cuidados e condutas após exposição a material biológico, de
acordo com o Ministério da Saúde .................................................. 45
1.18 Notificação do acidente (CAT/SINAN) .............................................. 46
1.19 Prevenção e Medidas de Biossegurança ........................................ 46
1.20 Vacinação ........................................................................................... 51
1.21 Historias de Dentistas com HIV ........................................................ 52
1.22 Medo de acidentes com perfurocortantes ....................................... 54
2 OBJETIVOS ........................................................................................ 57
2.1 Geral ................................................................................................... 58
2.2 Específicos ......................................................................................... 58
3 MÉTODO ............................................................................................. 59
3.1 Tipo de Estudo e Casuística ............................................................. 60
3.2 Critérios de Inclusão e Exclusão do Estudo ................................... 61
3.3 Local de Estudo ................................................................................. 62
3.3.1 Ficha de Notificação de Acidentes com Material Biológico .......... 62
3.3.2 Questionário sobre Biossegurança ................................................. 66
3.3.3 Questionário sobre o acidente com perfurocortante ..................... 69
3.4 Ética em Pesquisa ............................................................................. 71
3.5 Recursos Financeiros ....................................................................... 71
3.6 Recursos Humanos ........................................................................... 72
3.7 Análise Estatística ............................................................................. 72
3.8 Análise Qualitatitiva .......................................................................... 73
3.8.1 Casuística ........................................................................................... 73
3.8.2 Técnica de coleta de dados .............................................................. 74
3.8.3 Entrevista Semi-Estruturada ............................................................ 74
3.8.4 Análise temática ................................................................................ 74
3.8.5 Tratamento dos dados Qualitativos ................................................. 75
4 RESULTADOS .................................................................................... 77
4.1 Fluxograma de Resultados ............................................................... 78
4.2 Análise Temática ............................................................................... 96
4.2.1 Descrição Sumária do Acidente ....................................................... 97
4.2.1.1 Ordem Pessoal................................................................................... 97
4.2.1.2 Ordem Técnica ................................................................................. 101
4.2.1.3 Ordem do trabalho ........................................................................... 103
4.2.1.4 Reincidências de Acidente ............................................................. 104
4.2.2 Informações sobre Biossegurança ................................................ 104
4.2.2.1 Informação sobre Protocolo em Caso de Acidentes .................... 105
4.2.2.2 Protocolo Ativo de Biossegurança ................................................ 106
4.2.3 Mudanças ocorridas após o Acidente ........................................... 109
4.2.3.1 Ordem Pessoal................................................................................. 111
4.2.3.2 Ordem Técnica ................................................................................. 116
4.2.3.3 Ordem do Trabalho .......................................................................... 119
4.2.3.4 Prevenção de Acidentes ................................................................. 120
5 DISCUSSÃO ..................................................................................... 123
6 CONCLUSÕES ................................................................................. 141
7 SUGESTÕES .................................................................................... 144
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 147
ANEXOS ........................................................................................................ 158
22
1 INTRODUÇÃO
___________________________________________________________________
23
1.1 Exposição Ocupacional na Saúde
O número total de acidentes em profissionais da saúde não é
conhecido, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS), em um estudo
realizado de 1989 a 2001, estimou que ocorreram mais de três milhões de
exposições percutâneas com material biológico, entre 35 milhões de
profissionais no mundo, o que resultaria em aproximadamente 16 mil casos de
transmissão de hepatite C (HCV), 66 mil casos de hepatite B (HBV) e 200 a
cinco mil casos de transmissão de Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
(World Health Organization (WHO), 2002).
Em 1982, foram publicadas as primeiras recomendações para prevenir
a transmissão ocupacional de HIV pelo Centers for Disease Control and
Prevention (CDC). Estas orientações foram direcionadas a todos os
profissionais de saúde que manipulavam material biológico, bem como
resíduos orgânicos, definindo-se situações de risco para aquisição de doenças
e as medidas de prevenção a serem utilizadas.
O primeiro relato de aquisição de HIV, na ocasião chamado de HTLVIII,
alertou sobre a possibilidade de sua aquisição por acidente ocupacional, por
meio de reencape de agulha com sangue fresco retirado de artéria de paciente
contaminado (Needlestic...,1984). Até junho de 2001, haviam sido relatados 99
casos documentados e 180 suspeitos de aquisição ocupacional do HIV por
profissionais de saúde, dados fornecidos pelo CDC.
Cardo et al. (1997) identificaram fatores de risco envolvidos com
chance maior de aquisição para HIV no acidente ocupacional, em um estudo
caso-controle que contou 33 casos de pacientes com soroconversão e 655
casos-controles dos EUA, Reino Unido, França e Itália. Os fatores de risco
encontrados pelos autores foram: lesão perfurocortante profunda, dispositivo
visivelmente contaminado com sangue do paciente- fonte, dispositivo retirado
de dentro de um vaso do paciente-fonte e paciente-fonte com doenças
terminal. Os autores encontraram, ainda, como fator protetor o uso de
zidovudina (ZDV) pós-exposição.
24
As secreções consideradas de risco para exposição ao HIV são:
sangue, tecidos, líquor, líquido pleural, líquido sinovial, líquido peritoneal,
líquido pericárdico e líquido amniótico. Secreções não consideradas de risco:
fezes, secreções nasais, saliva, pus, lágrima, urina, suor e vômito (Kuhar et al.,
2013).
Em 2005, as recomendações foram atualizadas exclusivamente para
acidentes com fontes HIV positivos (Bakowski, 2012).
O CDC atualizou as diretrizes para o manejo das exposições
ocupacionais e as medidas a serem empregadas na profilaxia pós- exposição a
HIV em 2001 (incluindo hepatites B e C), 2005 e 2013. Na mais recente, as
recomendações para profilaxia pós-exposição foram elaboradas pelo grupo de
trabalho do Serviço de Saúde Pública americano, juntamente com membros do
CDC, do Food and Drug Administration (FDA), do Health Resources and
Services Administration, do National Institutes of Health (Kuhar et al., 2013).
Os princípios de gestão da exposição permanecem inalterados para
profilaxia pós-exposição (PEP), mas os regimes antiretrovirais recomendados e
a duração do acompanhamento com testes anti-HIV para pessoas expostas
foram atualizados. Houve maior ênfase nas estratégias de prevenção primária,
rápida elaboração de relatórios, gestão de exposições ocupacionais e
priorização na adesão aos regimes propostos quando indicado para uma
exposição (Kuhar et al., 2013).
A testagem para HIV do paciente-fonte facilita a tomada de decisão
sobre a necessidade de administrar PEP depois da exposição ocupacional pela
fonte, para a qual muitas vezes, a sorologia para HIV é desconhecida
(Bakowski, 2012).
O guia do CDC de 2013 identificou alguns desafios como: dificuldades
em determinar o nível de risco de transmissão do HIV para o profissional de
saúde que sofre exposição, problemas em determinar o uso de 2, 3 (ou mais)
drogas no esquema de profilaxia pós-exposição (PEP), a alta frequência de
efeitos colaterais e a toxicidade associados com administração de drogas
previamente recomendadas, e o manejo inicial com o profissional de saúde
25
exposto, cuja informação sobre dados sorológicos para HIV do paciente-fonte é
desconhecida. Esse guia prevê também, o uso de esquema de Profilaxia para
HIV pós-exposição (PEP) que seja otimamente tolerado, elimina a
recomendação de avaliar o nível de risco associado à exposição do profissional
para determinar o número de drogas recomendadas para PEP, modifica e
expande a lista de antirretrovirais (ARV) que podem ser considerados para uso
na PEP, e oferece opção para finalizar os testes de seguimento para HIV do
profissional acidentado antes de 6 (seis) meses após a exposição (Kuhar et al.,
2013).
1.2 Brasil e os acidentes com perfurocortantes
No Brasil, os acidentes de trabalho com perfurocortantes começaram a
ter maior enfoque na década de 1970, mesmo de forma incipiente. Mas é na
década de 1980 com o advento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida) e com muitas publicações sobre a forma de contrair a doença, que
muitos profissionais de saúde se atemorizaram com o risco de se contaminar e
passaram a tomar cuidados com o risco da aquisição de doenças e também a
fazer uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). No entanto, como os
materiais contaminantes sempre veiculam sangue e secreções, esses são
seguidos de muito temor no que se refere à contaminação por HIV e Hepatites.
O risco estimado de contaminação por material contaminado,
considerando-se mucosa íntegra, é em torno de 0,09% e a exposição de pele
íntegra tem risco inferior a 0,09% (Kuhar et al., 2013).
1.3 Profissionais de Saúde e Tipos de Exposições
As exposições que podem trazer riscos de transmissão ocupacional do
HIV e dos vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são definidas como:
• Exposições percutâneas – lesões provocadas por instrumentos
perfurantes e cortantes, (por exemplo: agulhas, bisturi, vidrarias);
26
• Exposições em mucosas – por exemplo, quando há respingos na face
envolvendo olho, nariz, boca ou genitália;
• Exposições cutâneas (pele não -íntegra) – por exemplo, contato de
pele com dermatite ou feridas abertas;
• Mordeduras humanas – consideradas exposição de risco quando
envolvem a presença de sangue, devendo ser avaliadas tanto para o
indivíduo que provocou a lesão quanto para àquele que tenha sido
exposto. (Rapparini, Lara, Vitória, 2004)
1.4 Avaliação da exposição no acidente com material biológico
A avaliação dos riscos se inicia imediatamente após o acidente e
baseia-se em anamnese do acidente, caracterização do paciente fonte, análise
do risco, notificação do acidente, orientação de manejo e medidas de cuidado
com o local exposto.
A exposição ocupacional ao material biológico deve ser avaliada
quanto ao potencial de transmissão de HIV, HBV e HCV, com base nos
critérios já mencionados.
1.5 Epidemiologia Hepatite B no mundo
O vírus da hepatite B (HBV) é 57 vezes mais infectante que o HIV
(Brasil, 2000).
A estabilidade do vírus no meio ambiente e a possibilidade de que
quantidades minúsculas de sangue ou secreções contendo esse agente sejam
capazes de transmitir a infecção justificam as hipóteses, fundamentadas em
evidências clínicas, de que o HBV pode ser transmitido por inalação de
gotículas, aerossóis contaminados ou pelo transporte manual para a boca de
partículas contaminadas presentes na superfície de balcões (Martins, Barreto,
2003).
27
Inquéritos sorológicos realizados em diversos países demonstram uma
maior prevalência da infecção pelo HBV em dentistas do que na população
geral, especialmente entre as especialidades cirúrgicas (Brasil, 2000).
Em termos mundiais, as taxas de prevalência da hepatite B variam
amplamente de 0,1% a taxas superiores a 15%. São considerados de alta
prevalência o Sul da Ásia, a África tropical e China. Levando-se em conta que
muitas pessoas infectadas são assintomáticas e que as infecções sintomáticas
são insuficientemente notificadas, a frequência da hepatite B é, certamente,
ainda subestimada. Na América do Sul, a prevalência aumenta no sentido Sul-
Norte (Gonçalves Junior, 2009). No contexto geral, o Brasil é considerado de
baixa prevalência de infecção pelo vírus da hepatite B (Fonseca, 2008).
Segundo a OMS, a prevalência do HBV varia marcadamente entre as
diferentes regiões do mundo, (Figura 1) e a literatura estabelece distinção entre
áreas de alta, intermediária e baixa prevalência (Brasil, 2008).
Figura 1 - Prevalência de HBsAg no mundo Fonte: Brasil, 2008
Cerca de 2 bilhões de pessoas já foram infectadas pelo HBV, em todo
o mundo, existindo aproximadamente 325 milhões de portadores crônicos, com
1 a 2 milhões de óbitos por ano. O vírus é transmitido de forma horizontal,
acometendo crianças maiores de 5 anos de idade e adultos - pelas vias sexual,
28
parenteral e cutâneo-mucosa e de forma vertical, de mãe para filho, atingindo
crianças no período perinatal até os 5 anos de idade. O padrão epidemiológico
de prevalência da infecção crônica pelo VHB de uma região tende a ser
definido pela prevalência dos marcadores sorológicos HBsAg, anti-HBc e anti-
HBs. Consideram-se áreas de alta endemicidade aquelas com prevalência
acima de 8% de infecção crônica ou acima de 60% da população com
evidência sorológica de infecção prévia; de endemicidade moderada, aquelas
com prevalência de infecção crônica entre 2% e 7%, ou entre 20% a 60% da
população com evidência sorológica de infecção prévia; e de baixa
endemicidade, as regiões com prevalência de infecção crônica menor que 2%
ou menos de 20% da população com infecção prévia sorologicamente
evidenciada (Nunes et al., 2010).
Figura 2 - Prevalência de Hepatite B no Brasil, entre as unidades federativas
Fonte: Brasil, 2008
Nos últimos cinco anos, a média de casos notificados confirmados de
hepatite B no Brasil foi de 14.000/ano (Brasil, 2002).
29
Na região Norte, trabalhos recentes mostram que na região de Lábrea,
no Amazonas, a taxa de portadores de HBV passou de 15,3%, em 1988, para
3,7%, em 1998. Na região de Ipixuma, no mesmo estado, esta queda foi de
18% para 7%. A bacia Amazônica é uma região com alta prevalência do HBV.
A região Sul apresenta prevalência moderada, porém o Oeste do
Paraná e de Santa Catarina apresentam alta prevalência (Brasil, 2002,
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), 2005).
A totalidade da região Sudeste apresenta baixa endemicidade, com
exceção do Sul do Espírito Santo e do Nordeste de Minas Gerais, onde ainda
são encontradas altas prevalências (Brasil, 2002, 2009, Funasa, 2005).
A região Centro Oeste é de baixa endemicidade, com exceção da
região do médio norte do Mato Grosso, área de transição entra a Amazônia e o
Planalto Central do Brasil. A prevalência nesta região pode ser classificada
como área de transição entre o sul (prevalência baixa) e o norte (moderada e
alta) do estado (Figura 2) (Brasil, 2002, 2008, Funasa, 2005, Souto et al., 1997,
Souto, Fontes, Gaspar, 1998).
A distribuição por faixa etária da hepatite B mostra uma concentração
de casos na faixa de 20 a 39 anos, seguida pela faixa de 40 a 59 anos (Brasil,
2002, 2009; Funasa, 2005).
Essa maior concentração de casos em adultos jovens pode ocorrer
pelas medidas de prevenção adotadas, sobretudo, depois de 2001, com a
prática de vacinação a todas as pessoas menores de 20 anos de idade (Brasil,
2002, 2009; Funasa, 2005).
1.6 Hepatite B e a Contaminação em Profissionais da Saúde
Quanto à exposição a vírus da hepatite, o primeiro caso documentado
de aquisição ocupacional foi publicado em 1949 por Leibowitz. De acordo com
a Organização Mundial da Saúde (OMS), em documento publicado em 2002,
dos 35 milhões de profissionais da área de saúde no mundo, aproximadamente
30
três milhões se expuseram a acidentes perfurocortantes, sendo dois milhões a
HBV, com uma estimativa de setenta mil infecções por este vírus (WHO, 2002).
O risco de contaminação depende do grau de exposição ao sangue no
ambiente de trabalho, da condição imunológica do profissional e da condição
do paciente – fonte, caracterizada pela presença do antígeno e (HBeAg+) que
expressa a replicação viral deste vírus. Estudos clínicos apontaram que nos
profissionais da área da saúde (PAS) vítimas de ferimentos com agulhas
contaminadas com sangue contendo HBV em que os antígenos de superfície
HBsAg e o HBe Ag estavam presentes, o risco de desenvolver hepatite na
forma clínica variou entre 22% e 31% e o risco de desenvolver evidência
sorológica de infecção por HBV foi de 37% a 62 %. Em comparação, quando
houve exposição com agulha contaminada com sangue HBsAg positivo e
HBeAg negativo, o risco de desenvolver hepatite clínica foi de 1% a 6 % e o
risco de desenvolver evidencia sorológica de infecção por HBV foi de 23% a
37%.
O sangue é o material biológico que tem os maiores títulos de HBV e o
principal responsável pela transmissão do vírus nos serviços de saúde geral e
consultórios odontológicos (Bakowski, 2012).
As exposições percutâneas oferecem maior risco de transmissão. No
entanto, elas são responsáveis por uma minoria de casos ocupacionais de
hepatite B, entre profissionais da saúde. Em investigações de surtos
nosocomiais, a maioria dos profissionais infectados não relata exposiçôes
percutâneas. Em alguns desses estudos, um terço dos profissionais se lembra
do contato com pacientes HBsAg positivos (Centers for Disease Control and
Prevention (CDC), 2001). Isso poderia ser explicado pelo longo período de
sobrevida deste vírus em sangue ressecado em superfícies, podendo alcançar
mais que uma semana (Bond et al., 1983).
31
1.7 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite B
A profilaxia pós-exposição pode ser feita com a aplicação de vacina, de
imunoglobulina humana anti-hepatite B ou de ambas, conforme a situação.
Vide quadro abaixo.
Tipo de exposição Imunoprofilaxia
Exposição percutânea ou permucosa ao sangue, para profissional que atua na área da saúde/ inclusive equipe de higienização, terceirizado.
Vacina, ou vacina mais imunoglobulina hiperimune anti-hepatite B, ou nada, dependendo da situação vacinal do profissional exposto.
Contato domiciliar e sexual de pessoa HBsAg positivo.
Vacina (fazer a investigação clínica e triagem sorológica do comunicante).
Perinatal. Vacina e imunoglobulina, de preferência nas primeiras 12 horas. Parceiro sexual de paciente com infecção aguda, Vacina e Imunoglobulina.
Parceiro sexual de paciente com infecção aguda.
Vacina e imunoglobulina (sendo a imunoglobulina até 14 dias após a exposição)
Vítima de abuso sexual Vacina e imunoglobulina (sendo a imunoglobulina até 14 dias após a exposição).
Quadro 1 - Conduta na exposição ao HBV Fonte: Pickering, 2000 (Adaptado).
A gamaglobulina comum não é eficaz para profilaxia pós- exposição ao
vírus da hepatite B, porque os títulos de anticorpos são muito baixos, por isso
usa-se a gamaglobulina específica. Pessoas infectadas com o vírus da hepatite
B devem também tomar vacina contra o vírus da hepatite A (Isihi, 2010).
1.8 Epidemiologia da Hepatite C
Estima-se que cerca de 170 milhões de pessoas estejam infectadas
pelo vírus da hepatite C (HCV), no mundo, e 3 a 4 milhões de pessoas sejam
infectadas a cada ano. A infecção por transmissão sanguínea é a mais comum
nos Estados Unidos da América. A infecção apresenta distribuição mundial e
constitui-se em um dos maiores problemas de saúde pública, pois estima-se
32
que 2,2% da população mundial sejam portadores deste vírus (CDC, 2001,
Focaccia, Galante, Oliveira, 2009, WHO, 1997).
Não se conhece, realmente, a prevalência do HCV no Brasil. Existem
relatos, em diversas áreas, citando, em média, que esteja entre 1% a 2%.
(Alvariz, 2004). Nos últimos 5 anos, a média de casos notificados de hepatite C
foi de 16.500 casos/ano (Brasil, 2009). Os conhecimentos epidemiológicos
sobre a infecção pelo vírus da hepatite C encontram- se em construção
(Focaccia, Galante, Oliveira, 2009).
Segundo dados do Ministério da Saúde, de 1994 a 2005 foram
diagnosticados 52.489 casos, sendo que os dados estão incompletos no último
ano contabilizado nessa série. Um dos poucos estudos de base populacional
realizado na cidade de São Paulo revelou 1,42% de portadores de anti-HCV A
maior prevalência foi encontrada na população com mais de 30 anos de idade
(Brasil, 2009, Focaccia, Galante, Oliveira, 2009, Funasa, 2005).
Com base em dados da rede de hemocentros de pré-doadores de
sangue, a distribuição, em 2002, variou entre as regiões brasileiras: 0,62% no
Norte, 0,55% no Nordeste, 0,28% no Centro-Oeste, 0,43% no Sudeste e 0,46%
no Sul (Brasil, 2009, Funasa, 2005).
A prevalência1 da infecção, com base em dados de doadores de
sangue, pode variar entre índices inferiores a 1,0% no Reino Unido, na
Escandinávia, Nova Zelândia e em algumas áreas do Japão, ou chegar até a
26% em locais como no Egito. A incidência2 de HCV em uma escala global não
é bem conhecida, porque a infecção aguda é geralmente assintomática (Alter,
2007, WHO, 1997, 1997b).
Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2009), o Brasil é classificado
pela Organização Mundial de Saúde como país de endemicidade intermediária
para hepatite.
1 Prevalência – é a frequencia de casos existentes de uma determinada doença em um dado
momento. (Costa, Kale, 2009, p. 25). 2 Incidência – é a frequência de casos novos de uma determinada doença, num determinado
período de tempo (Costa, Kale, 2009, p. 14).
33
Figura 3 - Prevalência de Anti- HCV no Mundo Fonte: Brasil, 2008 (Adaptado).
Em casos de infecção pelo HCV, os indivíduos que não eliminam o
vírus têm uma infecção crônica que pode estar associada com sintomas
sistêmicos, como mal-estar, letargia e artrite. Inflamação crônica do fígado
pode levar lentamente à fibrose hepática progressiva e à clinicamente
significativa doença hepática prolongada durante o acompanhamento. Pelo
menos 30% de pacientes cronicamente infectados têm distúrbio de
sangramento e fibrose progressiva desenvolvida culminando em cirrose,
doença hepática em estágio final, e carcinoma hepatocelular (HCC). O principal
objetivo do tratamento de HCV é a erradicação do vírus e a prevenção
progressiva da doença. O ideal seria curar a doença antes do desenvolvimento
de cirrose, não só para evitar a progressão para doença hepática em estágio
final, mas também para reduzir o risco de HCC. Terapia Antirretroviral
altamente ativa (HAART) revolucionou o prognóstico de infecção por HIV de
modo que a infecção pelo HCV também assumiu uma importância muito maior.
De fato, a doença hepática tornou-se a causa mais comum de morte em
pacientes com HIV e co-infecção HCV (Wilde et al., 2011).
1.9 Profilaxia Pós-Exposição para Hepatite C
A estratégia global de prevenção e controle do vírus da hepatite C
(HCV) e doenças relacionadas ao HCV tem como principal objetivo a
34
prevenção que se baseia na não exposição ao sangue contaminado, pois ainda
não há vacina específica contra hepatite C, e a imunoprofilaxia pós-exposição
com a imunoglobulina comum não está indicada devido à falta de eficácia em
experiência com a sua utilização. Além disso, a imunoglobulina comum é
manufaturada com plasma de doadores testados e sem HCV. Em caso de
acidente biológico, testar o paciente – fonte para vírus da hepatite C.
O indivíduo que sofreu o acidente deverá ser acompanhado e realizar
os seguintes exames laboratoriais: ALT/TGP (Alanina Amino Transferase/
Transaminase Glutâmica Pirúvica), no momento do acidente, seis semanas e
seis meses após o acidente. A sorologia anti-HCV deve ser realizada no
momento do acidente, três e seis meses após o acidente. Para as exposições
de alto-risco com paciente fonte positivo, deve ser feito HCV-RNA nas
primeiras duas horas a seis semanas após o acidente para diagnóstico precoce
de soro conversão. Na positividade dos exames, o paciente deverá ser
encaminhado para um centro de referência (Isihi, 2010).
De acordo com European Association for the Study of the Liver (EASL,
2014), os tratamentos disponíveis para a hepatite C são usados com o objetivo
de curar a doença. Existem pelo menos seis tipos de genótipos da hepatite C.
O tipo 1 é o mais conhecido na Europa. Infelizmente, o tipo 1 responde menos
aos tratamentos atualmente disponíveis para a hepatite C. Fatores como a
idade, o sexo, a duração da infecção, o grau de dano hepático e o
desenvolvimento de cirrose são também importantes para avaliar a
probabilidade de o tratamento ser eficaz. Contrariamente à terapêutica
antiretroviral, o tratamento para a hepatite C não é indefinido no tempo. A
duração do tratamento depende do genótipo pelo qual se é infectado e da
resposta ao tratamento. Um teste na quarta semana determina os
respondedores rápidos e o teste após 12 semanas pode prever se o doente
não vai responder ao tratamento. Os tratamentos atualmente disponibilizados
para a hepatite C são a ribavirina e o interferon peguilado. O tratamento com
interferon peguilado e ribavirina correspondem ao padrão de cuidados
recomendado atualmente. Melhores taxas de resposta são também observadas
quando a ribavirina é dosada de acordo com o peso do doente, evitando
reduções de dose. O objetivo do tratamento é erradicar completamente o vírus
35
da hepatite C. Muitas vezes, tem-se uma resposta virológica sustentada (RVS),
o que significa que o doente não tem uma carga viral detectável do vírus da
hepatite C no organismo seis meses após o fim do tratamento (EASL, 2014).
O portador de HCV deve receber vacinas contra hepatites A e B, se
necessário.
1.10 A Epidemia de AIDS no Mundo
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS)
divulgou, em 2011, um levantamento acerca da incidência de HIV na população
mundial. O relatório indicou que no mundo, 34,2 milhões de pessoas viviam
com HIV, sendo 30,7 milhões de adultos. Dentre esse total, 16,7 são mulheres
que já representam metade das pessoas vivendo com HIV em todo o mundo,
com números crescentes em muitos países. Estima-se que 3,4 milhões são
crianças menores de 15 anos.
A África Subsaariana concentrava cerca de 69% das pessoas vivendo
com HIV (23,5 milhões de portadores), seguida pela (UNAIDS, 2012). Ásia
Meridional e Sul-oriental, com 4,2 milhões. Na América Latina, foram 1,4
milhões, enquanto a Oceania tinha a menor estimativa, com 53 mil infectados.
O estudo mostrou também que cerca de 2,5 milhões de novas infecções foram
identificadas no mundo, em 2011, desses, 2,2 milhões em adultos e 330 mil em
menores de 15 anos – o que representa mais de 7 mil novas infecções por dia,
dos quais 97% foram notificados em países de baixa e média renda. O maior
número de casos continua sendo atribuído à África Subsaariana, com 1,7
milhões de novas infecções. Em seguida, aparecem a Ásia Meridional e Sul-
oriental, com 300 mil, e a Europa Oriental e Ásia Central, com 170 mil. Já na
América Latina, cerca de 86 mil pessoas foram infectadas pelo vírus em 2011
(WHO, 2013).
As mortes provocadas pelo HIV em 2011 totalizaram 1,7 milhão,
distribuídas entre 1,5 milhões de adultos e 230 mil menores de 15 anos
(UNAIDS, 2012).
A tabela abaixo aponta o número de óbitos em cada país:
36
Tabela 1 - Distribuição de óbitos por AIDS no mundo
Fonte: UNAIDS, 2012
1.11 A Epidemia de AIDS no Brasil
No Brasil, em 2010, estimou-se que cerca de 630 mil indivíduos, na
maioria entre 15 e 49 anos de idade, convivam com HIV. Segundo parâmetros
estabelecidos, a epidemia de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é
concentrada, ou seja, apresenta taxa de prevalência da infecção pelo HIV
menor que 1%, na população em geral, e maior que 5%, em subgrupos
populacionais de risco acrescido para a infecção pelo HIV (Homens que fazem
Sexo com Homens, Usuários de Drogas e Profissionais do Sexo do Gênero
Feminino). Com relação aos casos de AIDS, de 1980 até junho de 2009, foram
identificados 544.846 casos. A taxa de incidência de AIDS vem apresentando
tendência à estabilização em patamares elevados. Em 2008, atingiu 18,2 casos
por 100.000 habitantes. Entretanto, é necessário analisar a epidemia no Brasil
de modo desagregado, pois as diferentes regiões apresentam dinâmicas
diferentes, com declínio da taxa de incidência de AIDS nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste, no período de 2000 a 2008, e aumento nas regiões Norte,
Nordeste e Sul. A Região Sudeste ainda concentra o maior percentual de
casos identificados no país com 59,3%; a região Sul, 19,2%; a Nordeste,
11,9%; a Centro-Oeste, 5,7%; e, a Norte, 3,9%. Em média, 36 mil novos casos
de AIDS são identificados a cada ano desde 2004: 0,41%, entre as mulheres,
0,82%, entre os homens, e 3.500 casos de AIDS, entre adolescentes e jovens
de 12 a 24 anos. Há também uma redução de novos casos de AIDS por
37
transmissão vertical entre crianças, em mais de 60%, nos últimos anos: de 572
casos observados em 2005, passou-se para 361 em 2008, isso em razão da
terapia antirretroviral (Brasil, 2012).
1.12 Risco de Transmissão do vírus da Imunodeficiência Humana
Vários fatores podem interferir no risco de transmissão do HIV. Estudos
realizados estimam, em média, que o risco de transmissão do HIV é de 0,3%
(IC (intervalo de confiança) 95% = 0,2% – 0,5%), em acidentes percutâneos e
de 0,09 % (IC 95% = 0,006 – 0,5%), após exposições em mucosas. O risco
pós-exposições envolvendo pele não-íntegra não é precisamente quantificado,
estimando-se que ele seja inferior ao risco das exposições em mucosas (Kuhar
et al., 2013).
1.13 Materiais biológicos e risco de transmissão do HIV
• Sangue, outros materiais contendo sangue, sêmen e secreções vaginais
são considerados materiais biológicos envolvidos na transmissão do
HIV. Apesar de o sêmen e de as secreções vaginais estarem
frequentemente relacionados à transmissão sexual desses vírus, esses
materiais não estão envolvidos habitualmente nas situações de risco
ocupacional para profissionais de saúde.
• Líquidos de serosas (peritoneal, pleural, pericárdico), líquido amniótico,
líquor e líquido articular são fluídos e secreções corporais
potencialmente infectantes. Não existem, no entanto, estudos
epidemiológicos que permitam quantificar os riscos associados a estes
materiais biológicos. Exposições a esses materiais devem ser avaliadas
de forma individual, já que, em geral, tais materiais são considerados de
baixo risco para transmissão viral ocupacional.
• Suor, lágrima, fezes, urina, vômitos, secreções nasais e saliva (exceto
em ambientes odontológicos) são líquidos biológicos sem risco de
transmissão ocupacional. Nesses casos, as profilaxias e o
38
acompanhamento clínico-laboratorial não são necessários. A presença
de sangue nesses líquidos torna-os materiais infectantes.
• Qualquer contato sem barreira de proteção com material concentrado de
vírus (laboratórios de pesquisa, com cultura e em grandes quantidades)
deve ser considerado uma exposição ocupacional que requer avaliação
e acompanhamento.
As estimativas baseiam-se em situações de exposição a sangue; o
risco de infecção associado a outros materiais biológicos é provavelmente
inferior. Casos de contaminação ocupacional pelo HIV podem ser
caracterizados como comprovados ou prováveis. De maneira geral, casos
comprovados de contaminação por acidente de trabalho são definidos como
aqueles em que há evidência documentada de soroconversão e sua
demonstração temporal associada à exposição ao vírus. No momento do
acidente, os profissionais apresentam sorologia não reativa, e durante o
acompanhamento se evidencia sorologia reativa. Alguns casos em que a
exposição é inferida (mas não documentada) também podem ser considerados
como casos comprovados de contaminação quando há evidência de homologia
da análise sequencial do DNA viral do paciente-fonte e do profissional de
saúde. Casos prováveis de contaminação, são aqueles em que a relação
causal entre a exposição e a infecção não pode ser estabelecida porque a
sorologia do profissional acidentado não foi obtida no momento do acidente. Os
profissionais de saúde apresentam infecção e não possuem nenhum risco
identificado para infecção diferente da exposição ocupacional, mas não foi
possível a documentação temporal da soroconversão (Kuhar et al., 2013).
Os cinco primeiros casos de AIDS ocorridos em Los Angeles,
Califórnia, foram publicados pelo Centers for Disease Control and Prevention
(CDC) em 05 de junho de 1981 em sua edição oficial MMWR- Morbidity and
Mortality Weekly Report (CDC, 1981). Desde o início da epidemia da AIDS, em
1981, até o momento atual, 103 casos comprovados e 219 casos prováveis de
profissionais de saúde contaminados pelo HIV por acidente de trabalho foram
publicados em todo o mundo (Bakowski, 2012).
39
O risco maior de transmissão com acidentes percutâneos esteve
associado às exposições com grande quantidade de sangue do paciente-fonte.
Destacam-se: a) dispositivo visivelmente contaminado pelo sangue do
paciente; b) procedimentos com agulha diretamente inserida em acesso arterial
ou venoso; e c) lesão profunda. A indicação do uso profilático do AZT
(zidovudina) esteve associado à redução de 81% do risco de soroconversão,
após exposição ocupacional (Tabela 2). Esse mesmo estudo mostrou que um
risco aumentado de transmissão também esteve relacionado com exposições
envolvendo pacientes com AIDS em fase terminal (Cardo et al., 1997 ).
O Profissional de saúde que sofreu exposição ao HIV deve receber
orientações, fazer teste pós-exposição e passar por avaliação médica para
decisão de usar ou não PEP. Após o teste, o profissional deverá ser
acompanhado em novos testes por- 6 semanas, 12 semanas e 6 meses após a
exposição. O profissional deve ser assistido por 12 meses quando houver
também exposição com vírus HCV (Kuhar et al., 2013).
Tabela 2 - Estudo caso-controle de fatores de risco para soroconversão pelo HIV em exposições percutâneas
FATOR DE RISCO ODDS RATIO IC 95%
Lesão profunda 15 6.0 – 41
Sangue visível no dispositivo 6.2 2.2 – 21
Agulha previamente em veia ou artéria do paciente-fonte
4.3 1.7 – 12
Paciente-fonte com aids em fase terminal
5.6 2.0 – 16
Uso de zidovudina após exposição
0.19 0.06 – 0.52
Fonte: Cardo et al., 1997.
Quando o paciente-fonte tem HIV um especialista no assunto deve ser
consultado para recomendação do melhor esquema de Profilaxia Pós -
Exposição (PEP) a ser prescrito para o profissional exposto.
Para fins de vigilância epidemiológica, as hepatites podem ser
agrupadas de acordo com a forma de transmissão. No primeiro grupo têm-se
40
as hepatites transmitidas por via oro-fecal (vírus A e E), cujo mecanismo de
transmissão é ligado às condições de saneamento básico, higiene pessoal,
contaminação da água e alimentos. O segundo grupo (vírus B, C e D) tem
transmissão via parenteral, sexual, vertical, por vários mecanismos, como
material contaminado, seja para uso de drogas ilícitas, seja para higiene
pessoal, e perfuração corporal, entre outras (Brasil, 2008, Ferreira, Silveira,
2004).
1.14 Profilaxia Pós-Exposição para HIV
Para Cardo et al. (1997), os acidentes de trabalho com sangue e outros
fluidos contaminados devem ser tratados como casos de emergência medica ,
uma vez que as intervenções para profilaxia de infecção pelo HIV e Hepatite B
necessitam ser iniciadas o quanto antes para sua maior eficácia.
A recomendação do uso de AZT (zidovudina) passou a ter uma maior
adesão quando se evidenciou a redução de transmissão materno-infantil de
mães soropositivas, apesar de não ser bem entendido o mecanismo de
atuação da droga na profilaxia, uma vez que não é inteiramente explicado pela
redução da carga viral. O regime profilático não é infalível pelo fato de se
conhecer seis relatos de aquisição de HIV apesar do HAART (terapia
antirretroviral altamente potente) dentro das duas horas preconizadas
(Bakowski, 2012).
1.15 Quimioprofilaxia
A administração de anti-retrovirais (ARVs) para profissionais de saúde
que sofreram exposição acidental ao material biológico de pacientes HIV
positivos foi defendida inicialmente pelo National Comission on Aids dos EUA
em 1993, e, posteriormente, foi recomendada pelo CDC, que considerou os
seguintes dados:
• Redução de 69% na transmissão materno-fetal de HIV com AZT;
41
• Redução da viremia associada ao uso de ARV, o aumento de sobrevida
com redução de viremia com os esquemas combinados de ARV e a
identificação de casos de falha na profilaxia pós-exposição com AZT
isoladamente levaram à opção de associação de drogas. É importante
sempre considerar que o uso indiscriminado dos ARV propicia a seleção
de cepas resistentes, aumenta o risco de toxicidade para o profissional
de saúde e eleva os custos no sistema de saúde;
• A decisão de se considerar ou recomendar a administração de
antirretrovirais para profissionais expostos a fluidos biológicos deve levar
em consideração o tipo de exposição (gravidade, volume de material
biológico, profundidade) e o paciente-fonte. As situações não previstas
devem ser avaliadas caso a caso, visando benefício do acidentado.
.No Brasil, a administração de quimioprofilaxia (QP) pós-exposição foi
preconizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e pelo
Ministério da Saúde, em 1999. O Programa Estadual de AIDS e o Instituto de
Infectologia Emílio Ribas iniciaram, em 1999, um programa para o atendimento
dos profissionais acidentados com material biológico. (Cavalcante, Monteiro,
Barbieri, 2003).
A partir de 2001, a Prefeitura do Município de São Paulo iniciou o seu
programa de atendimento a profissionais acidentados, com ampliação da rede
pública de atendimento. Em dezembro de 2001, a Coordenação Nacional DST/
AIDS do Ministério da Saúde publicou as “Recomendações para Terapia
Antirretroviral em Adultos e Adolescentes Infectados pelo HIV – 2001.
(Rapparini, Lara, Vitória, 2004).
Nas novas recomendações para profilaxia pós-exposição elaboradas
pelo grupo de trabalho do Serviço de Saúde Pública Americana juntamente
com o CDC e FDA, em setembro de 2013, ressaltam:
• Em situações de menor risco, recomenda-se o uso de esquemas
envolvendo duas drogas antirretrovirais análogas de nucleosídeo,
preferencialmente, a associação AZT + 3TC.
42
• Em situações de maior risco, recomenda-se o uso de esquemas
potentes com inibidores de protease, preferencialmente, o AZT + 3TC,
juntamente com o nelfinavir ou indinavir ou, ainda, associação indinavir
com ritonavir (este como adjuvante farmacológico para o indinavir).
• A nevirapina não é recomendada em esquemas de profilaxia pós-
exposição, devido aos relatos de reações adversas graves com o
medicamento nessas situações.
• Deve-se considerar a possibilidade de utilizar esquemas alternativos em
situações de exposição com risco elevado de resistência.
• Recomenda-se enfaticamente que as sorologias dos pacientes-fonte
sejam realizadas.
• Acidentes com fonte desconhecida ou com paciente com sorologia anti-
HIV desconhecida, em geral, não devem ser medicados com
antirretrovirais. Nessas situações, o uso da profilaxia pós-exposição
deverá ser considerada com base na gravidade do acidente e na história
clínico-epidemiológica do paciente. A Quimioprofilaxia básica (QP) está
indicada quando há risco conhecido de transmissão do HIV e consiste
na aplicação AZT (Zidovudina) + 3TC (Lamivudina). Já a
Quimioprofilaxia expandida está indicada quando há risco elevado de
transmissão pelo HIV e consiste na aplicação de aplicação AZT
(Zidovudina) + 3TC (Lamivudina) +IP (Inibidor de Protease) que são
Indinavir (IDV) ou Nelfinavir (NFV). Pelo fato de a quimioprofilaxia
apresentar potencial de toxicidade, o seu uso não é justificado em
exposições com risco desprezível de transmissão pelo HIV. Além disso,
pelo fato de haver inexistência de evidências suficientes de benefício, o
uso de esquemas expandidos não é recomendado para todos os tipos
de exposições. Emtricitabini é uma droga nova utilizada na
quimioprofilaxia para HIV em exposições com perfurocortantes e,
também, para exposição sexual. (Kuhar et al., 2013).
43
1.16 Odontologia e os riscos de adquirir doenças ocupacionais
A odontologia é uma profissão com muita atividade cirúrgica e a
preocupação com contaminação pelos cirurgiões-dentistas tem aumentado
devido ao uso de instrumentos rotatórios e inalação de partículas de aerossóis
durante procedimentos em salas reduzidas (Artuzi, Bercini, Azambuja 2009).
Há, na prática odontológica, diferentes riscos profissionais que cabem
mencionar, a saber: riscos físicos (ligados ao manuseio de instrumentos
perfurocortantes, além do contato com radiações, ruídos, etc.), riscos químicos
(pela manipulação de materiais dentários, muitas vezes, tóxicos), riscos
biológicos (contaminação por fungos, bactérias e vírus), riscos mecânicos
(ergonômicos ligados a posturas de trabalho inadequadas e movimentos
repetitivos prolongados e riscos de acidentes, que podem ser potencializados
devido à sobrecarga de trabalho (Jorge, 2002).
O ambiente de trabalho, suas instalações e equipamentos associados
ao tipo de atividade desenvolvida, no caso, o controle e prevenção de doenças,
expõem o cirurgião-dentista a manifestações patológicas do tipo
infectocontagiosa como hepatites, herpes e AIDS; ou crônico-degenerativas,
decorrentes de efeitos cumulativos, como intoxicação por mercúrio, postura
corporal inadequada, Doença Óssea Relacionada ao Trabalho (DORT) e
efeitos da radiação ionizante.
De acordo com a Norma Regulamentadora n°6 (NR6) do Ministério do
Trabalho e Emprego, a qual especifica os diversos tipos de equipamentos de
proteção individual seja para risco físico, químico, mecânico ou biológico, todo
trabalhador exposto a ruído (risco físico) acima do estabelecido pela NR 15,
que determina os limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente, deve
fazer uso de protetor auricular como equipamento de proteção individual (EPI)
(Lopes Netto, Barreto, 2014).
A prevenção dos riscos ocupacionais é essencial ao bom desempenho
profissional e está diretamente relacionada à qualidade do trabalho
desenvolvido. A consciência desse fato tem feito com que empresas e
instituições adotem programas específicos com enfoque educativo e de
44
priorização do uso de equipamentos de proteção individual – (EPI), de suma
importância na formação de uma barreira segura contra riscos ocupacionais.
Todos esses riscos ocupacionais podem ser reduzidos, senão
eliminados, com cuidados específicos e aplicação de normas e rotinas de
biossegurança como meios de prevenção, a começar pelo uso das precauções
Universais (PU), e introduzidas pelo CDC, em 1985. O CDC destaca o risco de
contaminação por quaisquer fluidos corporais, com ênfase para o sangue,
devendo tais métodos serem aplicadas a todos os pacientes e não somente
aos suspeitos ou a portadores de patógenos de alta transmissibilidade
(Fernandes, Ribeiro Filho, Barroso, 2000).
Os cirurgiões-dentistas percebem que podem sofrer contaminações
que os colocam em risco, bem como levá-los aos seus familiares, mas nem
sempre, possuem uma percepção diferenciada da diminuição de riscos ou
ausência destes na profissão. Entendem, muitas vezes, que tais riscos são
inerentes ao próprio trabalho. Dentre as patologias causadas por contaminação
biológica, encontram-se: hepatites, principalmente tipo B e C e AIDS, além de
outras, tão comprometedoras da saúde como: tuberculose, pneumonia, gripe,
meningite, conjuntivite, sífilis e infestação por piolhos. Inquéritos sorológicos
realizados em diversos países demonstram, quase invariavelmente, uma maior
prevalência da infecção pelo HBV em dentistas do que na população geral,
especialmente entre as especialidades cirúrgicas (Martins, Barreto, 2003).
Há também, fatores determinantes de tensão e estresse que estão
relacionados ao fato de lidar com o medo, a ansiedade e o nervosismo dos
pacientes, o manejo de instrumentos cortantes, com risco para o profissional e
paciente, quebra de equipamentos, eventuais precariedades nas condições de
trabalho, isolamento do profissional no consultório, ausência de pessoal auxiliar
(ACD e/ou THD), trabalho repetitivo, carga de trabalho além do normatizado -
(5 a 8 atendimentos/turno) - e fatores financeiros. Há também as síndromes,
como a de Burnout, que podem se desenvolver nestes profissionais levando à
exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional, uma
vez que se caracterizam pelo contato direto com a prestação serviços (Carlotto,
2009).
45
Essas situações contribuem para debilitar o organismo, predispondo-o
a contrair doenças, além de determinar a insatisfação e a fadiga mental que se
manifestam como: irritabilidade, dificuldade de concentração e de
relacionamento, lapsos de memória, perturbação da libido, insônia ou
hipersônia, sentimento de culpa e de solidão, ansiedade e depressão (Campos
et al., 2010).
1.17 Cuidados e condutas após exposição a material biológico, de
acordo com o Ministério da Saúde
Condutas após o acidente e Cuidados com a área exposta
Lavagem do local exposto com água e sabão nos casos de
exposição percutânea ou cutânea.
Não há evidência de que o uso de anti-sépticos ou a expressão do
local do ferimento reduzam o risco de transmissão, entretanto, o uso
de anti-séptico não é contra-indicado.
Nas exposições de mucosas, deve-se lavar exaustivamente com
água ou solução salina fisiológica.
Não devem ser realizados procedimentos que aumentem a área
exposta, tais como cortes, injeções locais ou expressão local e nem
a utilização de soluções irritantes (éter, glutaraldeído, hipoclorito de
sódio) também está contra-indicada.
Orientações e aconselhamento ao acidentado
Notificar o acidente.
Discutir o risco de aquisição de doenças.
Avaliar uso de quimioprofilaxia.
Realizar exames sorológicos do profissional e da fonte consentidos.
Comprometer o acidentado com seu acompanhamento. (na maioria
das vezes, são seis (6) meses de seguimento).
Prevenir a transmissão secundária adotando a prática do sexo
seguro.
Fornecer suporte emocional devido ao estresse pós-acidente.
46
Orientar o acidentado a relatar, imediataente, os seguintes sintomas:
linfoadenopatia, exantema, dor de garganta, sintomas gripais
(sugestivos de soro-conversão aguda).
Reforçar a prática de biossegurança e precauções básicas em
serviço.
Quadro 2 - Condutas e Cuidados após acidente Fonte: Brasil, 2009.
1.18 Notificação do acidente (CAT/SINAN)
Devido à importância de alguns aspectos relacionados ao acidente,
apresenta-se, de forma mais pormenorizada, a notificação do acidente e quais
as informações são úteis para as condutas adicionais. (Cavalcante, Monteiro,
Barbieri, 2003).
No momento do acidente, deverá ser feita a notificação à chefia
imediata, que, por sua vez, notificará o Serviço de Controle de Infecção
Hospitalar (SCIH) e/ou o setor responsável para avaliar o acidente e determinar
a conduta, o mais precocemente possível, idealmente nas primeiras duas
horas, e, no máximo, até 72 horas após o acidente. O Departamento Pessoal
deve emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), cujo verso será
preenchido pelo médico do trabalho que atender o acidentado, a fim de
documentar o acidente para efeitos legais e preenchimento da ficha de
notificação do Sinan, conforme Portaria n.º777 do Ministério da Saúde (Brasil,
2004).
É importante que tais casos sejam bem documentados e notificados ao
Programa Estadual DST/AIDS para que se possam ter dados consistentes da
ocorrência dos acidentes no estado e para que se possa trabalhar com controle
e prevenção desses casos (Rapparini, Lara, Vitória, 2004).
1.19 Prevenção e Medidas de Biossegurança
A biossegurança é definida por Müller e Mastroeni (2004) como a
aplicação de técnicas e equipamentos para prevenir e exposição do
47
trabalhador, laboratório a agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos.
Risco é a chance de ocorrer prejuízo, dano ou perda. Perigo compreende algo
que possa causar dano: um objeto, um produto químico, um agente infeccioso
ou uma situação.
Para evitar riscos, um importante fator de proteção veio fazer parte do
dia a dia dos cirurgiões dentistas, a saber, os EPIs. Os Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs) são regulamentados pela Norma Regulamentadora
número 6 do Ministério do Trabalho. São eles que conferem proteção a cada
profissional individualmente e estão incluídos nas medidas de precaução-
padrão. Essas medidas incluem o uso de luvas, máscaras, óculos de proteção,
aventais (EPI regulamentada através da Norma Regulamentadora da Portaria
3.214 do Ministério do Trabalho). Incluem, ainda, cuidados com a manipulação
e descarte de agentes perfurocortantes e com materiais e equipamentos
utilizados no atendimento aos pacientes. Tais cuidados devem ser tomados
com todos os pacientes quando existir manipulação de sangue, secreções,
contato com mucosa e pele não íntegra, independente do diagnóstico ou
estado presumido da doença infecciosa (Hepatites B e C, HIV, Tuberculose,
etc.). Essas medidas de prevenção são atualmente denominadas de
“Precauções Padrão” e são consideradas as melhores alternativas a fim de
evitar o contágio preservando a saúde dos trabalhadores expostos, visto que
as medidas pós-exposição nem sempre são tomadas pelos profissionais que
muitas vezes, não consideram a relevância da gravidade de riscos (Teixeira et
al., 2008).
Há outros fatores que podem resultar em contaminação, como não
seguir normas de biossegurança propostas pelos conselhos de suas
categorias, bem como, muitas vezes por falta de conhecimento específico,
displicência ou falta de correta orientação diante de acidentes ou riscos deles.
O controle dos riscos em saúde tem representado sempre um esforço
na busca da proteção contra as ameaças à vida humana. Identificar e reduzir
os riscos é uma das metas da saúde pública e esta diretamente relacionada à
promoção da saúde, por meio de estratégias de intervenção que promovam
melhores condições de vida e saúde.
48
Outras formas mencionadas como proteção para o risco biológico
foram: material esterilizado por meio de uso com autoclave, boa anamnese do
paciente, considerar todos como potencialmente portadores de HIV e Hepatite,
tomar vacina contra hepatite tipo B e realizar sorologia, uso de barreiras
mecânicas como sugador descartável e uso de rolos plásticos nas cadeiras
odontológicas (Pinho, Rodrigues, Gomes, 2007).
Dentre as causas dos acidentes com perfurocortantes que acometem
os cirurgiões dentistas, vale destacar: uso inadequado dos EPIs, resistência em
adotar medidas preventivas recomendadas, postura de trabalho com
retorcimento e encurvamento de coluna, descarte inadequado de
perfurocortantes (agulhas e seringas) utilizados rotineiramente,
desconsideração de gravidade de contaminação nos materiais descartáveis
como máscaras que devem ser descartadas a cada 20 minutos, por exemplo,
ou gorros que protegem cabelos da contaminação por aerossóis (Damasceno
et al. 2006).
Um EPI muito importante na rotina odontológica são as luvas que,
embora não protejam os profissionais das perfurações das agulhas, está
comprovado que diminuem a penetração de sangue em até 50% de seu
volume (Jorge, 2002).
A indicação de dois pares de luvas tem grande importância quando
utilizadas em procedimento cirúrgicos de longa duração e sangramento profuso
e conferem proteção extra contra a contaminação. A utilização de luvas são
sempre recomendas em qualquer procedimento, até mesmo para exames
clínicos simples ou quando houver manipulação de sangue ou fluidos bucais.
Também, não se dispensa a lavagem de mãos, pois, além de reduzir bactérias
presente nas mãos, previne irritações na pele íntegra. Para uso de luvas, são
preconizadas práticas que incluem: não manipular objetos fora do campo de
trabalho, retirar as luvas imediatamente após o uso, não tocar na parte externa
das luvas ao removê-las, lavar as mãos quando remover as luvas (Jorge,
2002).
49
A necessidade de proteger o homem de infecções data de muito
tempo. Lister, em 1864, estudando os métodos de Pasteur, desenvolveu
técnicas para impedir o acesso de microorganismos aos ferimentos cirúrgicos,
com a finalidade de evitar infecção microbiana (sepsia) nos tecidos após
cirurgia e preconizou para os cirurgiões que: “A contaminação deve,
obrigatoriamente, ser vista com seus olhos mentais de maneira distinta do que
podem fazer seus olhos corporais” (Jorge, 2002).
Diante disso, vale ressaltar que os procedimentos necessários para o
controle da infecção cruzada vão desde os métodos preventivos e os de
descontaminação e esterilização do material e ambiente, até as medidas a
serem tomadas em caso de suposta ocorrência de contaminação, por meio das
medidas de prevenção pós-exposição.
Sabe-se que o risco de aquisição de HIV após uma exposição
ocupacional é muito baixo. Henderson et al.,1990, revisaram 23 estudos sobre
lesões perfurocortantes, em funcionários da saúde expostos a um paciente-
fonte HIV, na era pré-terapia antirretroviral altamente potente (HAART) e
encontraram transmissão de HIV em 20 de 6135 casos (0,33%), um caso de
transmissão de HIV em 1143 exposições de mucosas (0,09%) e a ausência de
casos de transmissão após 2712 exposições de pele íntegra.
Além disso, é importante verificar o tipo de conduta do profissional
diante do caso e, principalmente, se há o conhecimento sobre o que fazer após
a ocorrência de acidentes com material contaminado, com a ferida, caso haja
perfuração, informações sobre a fonte (paciente contaminado ou não), local e
atendimento e tratamento e quanto tempo após o acidente o serviço foi
procurado. Essas informações são, pois, de extrema importância para o serviço
de saúde pública, no que se refere ao atendimento e à conduta clínica a ser
tomada.
É importante ressaltar a necessidade de se implementar ações
educativas permanentes, que familiarizem os profissionais de saúde com as
precauções universais e os conscientizem da necessidade de empregá-las
adequadamente, uma vez que as medidas profiláticas pós -exposição não são
50
totalmente eficazes, quando isoladas, e como medida mais eficaz para a
redução do risco de infecção pelo HIV ou hepatite em ambiente ocupacional.
Nos últimos anos, manuais de orientação e recomendações aos
profissionais da saúde têm disponibilizado informações específicas para
desinfecção e esterilização de equipamentos utilizados tanto na área médica,
quanto odontológica, bem como normas para prevenção e conduta em
acidentes ocupacionais com material biológico.
Sabe-se que a exposição ocupacional a patógenos transmitidos por
sangue vai além do comprometimento físico, a curto ou a longo prazos, e
podem afetar outros aspectos da saúde profissional, tais como: controle
emocional, social e até financeiro. O acidente envolvendo material biológico
potencialmente contaminado pode trazer repercussões psicossociais ao
profissional acidentado, levando mudanças nas relações sociais, familiares e
de trabalho (Damasceno et al., 2006).
Para muitos cirurgiões-dentistas, é conhecida a adoção de medidas de
controle que possibilitem o combate às doenças infecciosas, assepsia aos
pacientes, independente de planejamento cirúrgico responsável, a manipulação
de materiais, limpeza, desinfecção e paramentação da sala, a antissepsia e a
paramentação do profissional, preparo do paciente e o destino dos dejetos
destes procedimentos, para garantir, na prática, a eficiência e conscientização
dos procedimentos, sem riscos de infecção para pacientes ou para cirurgiões
(Faizibaioff, Kignel, 2000).
O emprego de luvas tornou-se uma prática muito difundida entre os
profissionais da área da saúde, no entanto, há profissionais que ainda alegam
aumento dos custos pela adoção desta prática, mesmo no tocante ao uso de
luvas cirúrgicas (Melo, Smaha, 2002).
De acordo com o Inmetro, os profissionais da saúde que utilizam luvas
no atendimento de rotina ou cirúrgicas, relatam problemas quanto à baixa
qualidade do material, no que se refere a defeitos de fabricação, baixa
resistência e rompimento ao calçá-las e, muitas vezes, presença de furos e, por
51
ser um equipamento de proteção individual (EPI), não oferece garantia para a
finalidade a que está destinada (Inmetro, 1998).
1.20 Vacinação
Os cirurgiões-dentistas tiveram acesso à vacina contra hepatite B, em
1995, pela campanha de âmbito nacional do Conselho Federal de Odontologia
(CFO) e de suas representações regionais. No Estado de São Paulo, o
Conselho Regional de Odontologia (CRO) foi o órgão encarregado de
promover a vacinação, com inclusão de cirurgiões-dentistas, estudantes de
Odontologia, Técnicos de higiene dental, auxiliares de consultório dentário,
técnicos de prótese dental, estudantes de prótese e auxiliares de prótese
dental (São Paulo (Estado), 1997).
Art. 1º - Torna-se obrigatória e rotineira a vacinação contra Hepatite B para as puérperas, crianças menores de um ano e profissionais de risco, nos hospitais púbicos e naqueles contratados pelo Sistema Único de Saúde - SUS. Art. 2º - Entende- se, para efeitos de aplicação desta Lei, por profissionais de risco, os seguintes: I - técnicos de laboratórios; II- médicos; III-odontólogos; IV-enfermeiros; V- auxiliares de enfermagem. (Rio de Janeiro (Estado), 1998).
A medida preventiva da transmissão de HBV ainda é a vacinação pré-
exposição contra hepatite B, para os profissionais da saúde, com indicação
também para profissionais que se expõem a materiais biológicos, como
equipes de higienização e de apoio. A vacinação consiste em três doses, com
intervalos de zero, um e seis meses. Depois de um a dois meses após a última
dose, o teste sorológico anti-HBs pode ser realizado para confirmação de
resposta vacinal (presença de anticorpos protetores com títulos acima de 10
mUI/ ml). Quando não há resposta vacinal adequada após a primeira série de
vacinação, grande parte dos profissionais (até 60%) responderá a uma série
adicional de três doses. Caso persista a falta de resposta, não é recomendada
uma revacinação. Deve-se lembrar, ainda, que a vacina contra hepatite B é
extremamente segura e eficaz, apresentando de 90% a 95% de resposta
vacinal e as doses de reforço não são recomendadas de rotina, uma vez que
52
os indivíduos que respondem à série básica permanecem imunes, mesmo
quando os anticorpos anti-HBs tornam-se baixos ou indectáveis.
No mundo, observa-se que os trabalhadores não manifestam
motivação para adotar essa medida de proteção, mesmo recebendo
gratuitamente as três doses da vacina (Brasil, 2000).
De acordo com dados de 1997, do Conselho Regional de Odontologia
do Estado de São Paulo (CROSP), havia 51.244 cirurgiões-dentistas inscritos
para vacinação em 1995. Destes, 64,5% tomou a primeira dose, 58,44%, a
segunda dose, e 49,51%, a terceira dose (São Paulo (Estado), 1997).
1.21 Historias de Dentistas com HIV
Em 1990, foi notificado o falecimento de um cirurgião- dentista, na
Flórida, de nome David Acer e que contaminou seis de seus pacientes. Uma
das pacientes infectadas, Kimberly Bergalis, adoeceu e fez campanhas
exigindo a criação de leis que impedissem o exercício da profissão por
profissionais infectados. O Centers for Diseases Control and Prevention (CDC)
demonstrou que o vírus dos pacientes realmente era o mesmo do dentista ao
comparar a sequência de nucleotídeos dos vírus dos pacientes e de Acer. Mas,
não se sabe ao certo como as infecções aconteceram. Posteriormente, a
equipe do CDC relatou ter dúvidas sobre as circunstâncias das transmissões
(CDC, 1991).
Até setembro de 2000, 132 casos de CDs com AIDS foram notificados
ao Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo. No Brasil, não
se tem conhecimento de caso de transmissão de HIV/AIDS de paciente para
CD e vice-versa. A redução na transmissão de HIV é, aproximadamente, 81%
para indivíduos que fazem uso de terapia antirretroviral como profilaxia pós-
exposição em acidentes percutâneos.
O risco de adquirir HBV com material perfurocortante contaminado com
sangue pode variar de 6 a 30 %, caso nenhuma medida com profilaxia
medicamentosa seja executada. O risco de contrair HCV pós-exposição é de
53
1,8 %, aproximadamente, e a maioria dos infectados evoluem para doença
crônica (CDC, 2001).
Recentemente, houve uma notificação que alertou cerca de 7 mil
pessoas que poderiam ter sido expostas ao HIV e outras doenças infecciosas
num consultório dentário de Oklahoma, onde foram descobertos procedimentos
impróprios de biossegurança quanto a esterilização e utilização de
instrumentos enferrujados, noticiados pela mídia em 29/03/2013. A
investigação teve início depois que um paciente do doutor Wayne Scott
Harrington, de Tulsa, foi diagnosticado com hepatite C e HIV, após fazer
exames rotineiros para doar sangue e registrou uma queixa contra o cirurgião
dentista. Quando ficou determinado que o paciente não esteve envolvido em
comportamentos associados a doenças transmissíveis pelo sangue,
investigadores foram ao consultório de Harrington e encontraram uma série de
violações, segundo a queixa feita pelo Conselho de Odontologia de Oklahoma.
De acordo com informações, ampolas e agulhas eram usadas várias vezes em
pacientes diferentes, causando risco de contaminação, e sem cuidados de
biossegurança. Um conjunto de instrumentos utilizado em portadores de
doenças infecciosas também foi encontrado e estava enferrujado. O cirurgião-
dentista, de 64 anos, manteve um consultório num subúrbio de Tulsa, por 35
anos. Sua licença profissional foi entregue, o consultório foi fechado e ele está
cooperando com as investigações locais que seguem em sigilo. (Olafson,
2013).
Em setembro de 2013, de acordo com o Departamento de Saúde do
Estado de Oklahoma e o Departamento de Saúde de Tulsa gastaram cerca de
710.000 dólares em fundos federais, estaduais e locais para fazer os exames
de doenças infecciosas em 4208 pacientes e anunciaram que nenhum caso de
HIV foi associado a clínica. Entretanto, eles confirmaram que um caso de
transmissão do vírus da hepatite C ocorreu de paciente para paciente, na
clínica e foi o primeiro documento relatado e associado à odontologia nos EUA.
No total, o laboratório de saúde publica de Oklahoma finalizou os exames de
4208 pacientes, dos quais 90 pacientes foram testados positivamente para
hepatite C, seis em hepatites B e quatro em HIV (Moisse, 2013).
54
Os profissionais de odontologia podem adquirir doenças infecciosas
durante o trabalho, especialmente hepatites B e C. O conhecimento das
situações de risco motivaram-nos na busca de técnicas seguras e na adoção
de medidas que minimizem tais riscos. No presente estudo, buscou-se
identificar práticas de biossegurança adotadas pelos cirurgiões-dentistas antes
de acidentes com perfurocortantes e as mudanças de comportamento que
ocorreram após esses acidentes.
1.22 Medo de acidentes com perfurocortantes
O acidente de trabalho com agulhas e instrumentos cortantes origina
alterações na estrutura física do profissional, em virtude das perfurações e/ou
cortes ocasionados por materiais desta natureza. Com efeito, pode ocasionar
modificações biológicas, em razão de uma possível infecção pelo vírus da
hepatite B, C e da AIDS. Em relação às doenças, temos que a falta de preparo
psicológico e o medo de contrair infecções podem ter várias origens, uma delas
verificada pela representação social da AIDS, que, desde o início da epidemia,
afeta negativamente tanto a população quanto os profissionais de saúde. Há
manifestação de sentimentos negativos, como o medo diante da alteração
permanente que ocorrerá em seu estilo de vida, da proximidade da morte e do
preconceito de que poderão ser alvo em seu ambiente familiar, social e de
trabalho (Lima, Pinheiro, Vieira, 2007).
O acidente propicia, também, mudanças psicossociais em decorrência
da necessidade de acompanhamento sorológico e, consequentemente, da
espera de um provável resultado indicativo de soroconversão, da ingestão de
medicamentos antirretrovirais, quando indicados, da vacinação e do uso de
imunoglobulinas, conforme a prescrição.
Em razão disso, tanto as instituições quanto os profissionais podem
realizar ações visando à prevenção de acidentes de trabalho com materiais
perfurocortantes, já que o acidente envolvendo este tipo de material
proporciona momentos de intenso estresse físico e psíquico, produzindo
alterações nos seus relacionamentos, seja de caráter social seja familiar, e no
desempenho de suas atividades laborais.
55
Portanto, o equilíbrio emocional é imprescindível para a atuação de
qualquer profissional da saúde, de forma eficaz e com menores riscos a sua
saúde ocupacional. Para Ferreira e Silveira (2004), o bom relacionamento entre
as partes é fator importante para que o cirurgião-dentista esteja preparado para
o atendimento de pacientes portadores de HIV ou HCV.
Por conseguinte, o acidente acarretado pela inoculação percutânea
acidental de sangue poderá originar repercussões negativas à vida profissional
e pessoal, em função do estresse psicológico vivenciado, na medida em que
eles se submetem a mudanças nas práticas sexuais e no relacionamento social
e familiar, durante o período de espera do resultado dos exames realizados,
por poderem evidenciar uma possível soroconversão. Todas as modificações
originadas de um acidente de trabalho desta natureza precisam ser adaptadas
à rotina habitual do profissional, ou esta deve ser modificada, a fim de que
todas as medidas a serem praticadas pós-acidente sejam concretizadas. A
abstinência sexual ou a prática sexual segura e a suspensão de aleitamento
materno até a confirmação da ausência de soroconversão detectada após a
realização dos testes sorológicos são práticas rotineiras que passam a ser
vistas como algo proibido, ensejando conflitos para si e para seus
componentes familiares. Assim, no estudo de Discacciati, a alteração no estilo
de vida e a reflexão acerca do fato de estar infectado ou não provoca o
afloramento ou a introspecção dos sentimentos e emoções para os
profissionais de enfermagem, uma vez que os sentimentos são oriundos de um
conjunto de eventos vivenciados, em que as reações dependerão do tipo de
evento que fez parte da experiência de vida de cada um, pois acontecimentos
dolorosos ou não repercutirão na reação presente do profissional.
A experiência proporcionada pelo acidente de trabalho com materiais
perfurocortantes promove a manifestação de sentimentos como medo,
angústia, desespero, ansiedade e tensão (Discacciati, Vilaça, 2001).
As publicações referentes a este assunto ainda são necessárias, pois,
embora seja um assunto difundido, as pesquisas ainda são em número
reduzido, principalmente, as que envolvem acidentes perfurocortantes com
cirurgiões dentistas. Muitos estudos se referem à profissão de enfermagem
56
como a classe mais acometida pelos acidentes e que também causa muitos
danos a estes profissionais da saúde. Não há na literatura muitos trabalhos que
notifiquem acidentes com cirurgiões-dentistas.
57
2 OBJETIVOS
___________________________________________________________________
58
2.1 Geral
Analisar a epidemiologia dos acidentes com material biológico em
cirurgiões-dentistas acompanhados no IIER, no período de 2008 a 2012.
2.2 Específicos
• Identificar quais as práticas de biossegurança adotadas pelos
profissionais que realizam procedimentos com instrumentos
perfurocortantes.
• Avaliar o grau de percepção dos cirurgiões-dentistas diante dos
acidentes.
• Avaliar mudanças de comportamento pós-acidente ocupacional com
material biológico, na rotina de trabalho e na vida.
• Caracterizar o perfil sociodemográfico e de exposição a material
biológico.
59
3 MÉTODO
___________________________________________________________________
60
3.1 Tipo de Estudo e Casuística
Foi realizado um estudo Transversal Quali–Quantitativo que utilizou
dados obtidos da “Ficha de Notificação de Acidente com Material Biológico” e
da resposta voluntária a dois questionários. O primeiro foi dirigido para práticas
de biossegurança em odontologia e o segundo sobre o acidente.
Foram selecionadas as “Fichas de Notificação de Acidente com
Material Biológico” preenchidas pela equipe da Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar (CCIH) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), para
cirurgiões dentistas, atendidos no período de 2008 a 2012. Os dados obtidos
entre 2008 e 2010 foram retrospectivos e aqueles entre 2011 e 2012 foram
prospectivos (fluxograma 1).
Foi elaborado um Banco de Dados contendo todas as informações da
referida ficha (Anexo C), identificação, dados profissionais, acidentes prévios,
acidente atual, tipo de acidente, material, instrumento, momento do acidente,
causa do acidente, EPI, dados da fonte, antecedentes do profissional
acidentado, conduta clínicas, e retornos com acompanhamento, seguindo os
intervalos de tempo de 6 semanas, 3 meses, 6 meses até 1 ano
Deste Banco de Dados de Cirurgiões-Dentistas, foram selecionados 40
profissionais para responderem, em entrevista semi-estruturada, a dois
questionários. Os profissionais que sofreram acidentes antes de 2011 foram
selecionados por telefone e somente aqueles que aceitaram foram
entrevistados. O número total de profissionais compreendidos no período de
2008, 2009 e 2010 foi de 65; e contatados por telefone foram 45 profissionais.
Os demais cirurgiões, dos anos de 2011 e 2012 foram indagados
pessoalmente durante as consultas ambulatoriais e aceitaram, prontamente,
ser entrevistados naquele momento. Procurou-se dividir em números
equivalentes, antes e após, o ano de início do estudo. Foram selecionados
para a entrevista cinco profissionais acidentados em 2008, cinco em 2009, dez
em 2010, nove em 2011 e onze em 2012, perfazendo 20 dentistas, no período
de 2008, 2009 e 2010, e os outros 20, compreendidos entre 2011 e 2012.
Esses foram divididos em dois grupos de 20 cada. Os dois questionários
61
(Anexo B, questionário 1 e questionário 2) foram usados para caracterizar as
práticas de biossegurança, grau de percepção e impacto de mudança no
comportamento após acidente. Os questionários foram elaborados pela
pesquisadora e pelo orientador.
Esses instrumentos de avaliação foram pré-testados (piloto) antes de
sua aplicação definitiva para que as perguntas estivessem adequadas ao
estudo com três cirurgiões-dentistas e não sofreram alteração depois da sua
aplicação.
Junto dos questionários, havia uma carta de apresentação e um termo
de consentimento livre e esclarecido (Anexo A) de participação e divulgação
dos resultados, o qual foi lido e assinado pelos participantes da pesquisa, antes
de realização da entrevista.
3.2 Critérios de Inclusão e Exclusão do Estudo
O critério de inclusão deste estudo referiu-se aos cirurgiões-dentistas
formados e notificados no serviço de atendimento da CCIH do IIER e que
sofreram acidentes com perfurocortantes, no período de 2008 a 2012. Quanto
aos critérios de exclusão adotados foram: não ser cirurgião-dentista formado
neste mesmo período, outros profissionais notificados que não fossem
cirurgiões-dentistas, alunos de graduação de qualquer instituição e cirurgiões-
dentistas notificados com outros acidentes. Para definição dos participantes do
estudo, inicialmente, procurou-se contatar, pessoalmente, todos os
profissionais, pessoalmente, que vinham ao retorno no ambulatório da CCIH e
apresentar a pesquisa. Posteriormente, para completar a casuística do estudo,
o contato foi feito por telefone uma única vez. As entrevistas foram previamente
agendadas de acordo com a melhor disponibilidade e definição do local para o
participante. A maioria preferiu que a entrevista fosse feita em seu local de
trabalho. A entrevista foi realizada na forma escrita pelo próprio participante,
pois todos os profissionais tinham no mínimo curso universitário.
62
3.3 Local de Estudo
O estudo foi realizado no Instituto de Infectologia Emilio Ribas (IIER),
local de referência para atendimento de acidentes com material biológico desde
o final dos anos 80. Em 1999, o instituto passou a atender profissionais
expostos a material biológico da Grande São Paulo. Ao longo dos anos,
acumulou informações sobre diferentes grupos que procuraram seguimento.
Os profissionais selecionados em nosso estudo, quando se acidentavam,
procuravam o Pronto Socorro do IIER, onde era feito o primeiro atendimento,
seguindo normas pré-estabelecidas pelo Ministério da Saúde do Brasil. Lá
foram realizados exames sorológicos e indicados ou não medicamentos,
vacinas, imunoglobulinas. A seguir, os profissionais foram agendados para
retornos no ambulatório de acidentes da CCIH.
No ambulatório da CCIH houve o preenchimento de uma ficha de
notificação de acidentes (Anexo C), realizado por um médico residente, sob
supervisão da equipe da CCIH.
A partir da notificação do acidente, a equipe reavaliava a necessidade
ou não da indicação de quimioprofilaxia e seguimento ambulatorial adequado,
de acordo com as variáveis epidemiológicas e os resultados das sorologias
realizadas.
Os exames sorológicos foram colhidos no setor de coleta do próprio
IIER e realizados no laboratório do IIER. Os resultados ficaram arquivados na
ficha de cada paciente na CCIH.
3.3.1 Ficha de Notificação de Acidentes com Material Biológico
Na ficha de notificação de acidentes com material biológico (Anexo C),
foram consideradas as variáveis abaixo:
• Idade
• Gênero: masculino e feminino
• Dados profissionais:
63
• Funcionário do IIER ou outro serviço.
• Função: cargo de atuação.
• Tempo de trabalho na função como profissional.
• Setor: Consultório Particular, Clínica e/ou Empresa Particular e
Postos de Saúde ou Hospital Públicos.
• Turno: Diurno ou Noturno ou Ambos.
• Acidente Prévio: Caso tenha acontecido, quantos, se fez ou não
acompanhamento e qual o tempo de seguimento.
• Acidente Atual: Data, Hora, Dia da Semana, Data do PS, Hora do PS
Notificação da CCIH e data, Notificação da Medicina do Trabalho.
• Tempo até o primeiro atendimento: Tempo decorrido entre a hora do
acidente e o primeiro contato do cirurgião-dentista com um profissional da
CCIH:
• Menor que 2 horas,
• Maior que 2 horas: 2-48 horas,
• Maior que 48horas,
• Sem informação: dado não descrito na ficha.
• Tipo de Exposição: Avaliação do tipo de contato com material biológico:
• Percutâneo,
• Mucosa: Oral e/ou Ocular,
• Pele Íntegra,
• Pele não integra e
• Outros.
• Material biológico envolvido: material biológico envolvido na
exposição:
• Sangue,
• Fluido com Sangue,
• Outros Fluidos,
• Ignorado: dado não descrito na ficha.
64
• Instrumento: Instrumento envolvido na exposição pérfuro-cortante:
• Agulha Oca,
• Agulha de Sutura,
• Vidro: vidrarias cortantes,
• Lâmina: lâmina de bisturi,
• Mandril: instrumento de encaixe e suporte para apoiar outras peças,
• Ignorado: dado não descrito na ficha e
• Outros: Informações pertinentes a instrumentos odontológicos
específicos como limas endodônticas, alavancas cirúrgicas, fios
ortodônticos, etc.
• Uso do instrumento: Identificação do instrumento quanto ao seu uso,
por exemplo: anestesia, extração, raspagem, reencape, profilaxia e
outros.
Momento do acidente: Se o acidente ocorreu durante o procedimento de
assistência direta ao paciente ou após o procedimento.
• Medidas após o acidente: O que foi feito imediatamente no momento do
acidente, se foi ou não feita expressão, uso de água com sabão, uso de
antisséptico ou outros.
• Causa do acidente: Ação que gerou o acidente:
• Auto-Acidente: Quando o profissional foi o responsável pelo próprio
acidente, durante a utilização do instrumento e /ou realização de
procedimentos,
• Movimento do Paciente: O paciente se movimentou e causou o
acidente,
• Movimento do Colega: Quando o colega que auxiliava o
procedimento movimentou-se, inadvertidamente, e causou o
acidente,
• Descarte Inadequado: quando o profissional deixa o instrumento
esquecido ou desprezado em local impróprio (agulhas desencapadas
em bancadas),
65
• Caixa Cheia: quando a caixa de papelão ou plástica de descarte de
insumos ultrapassa o limite recomendável e agulhas ou outro
material contaminado ficam expostos,
• Reencape: quando o profissional tenta recolocar a capa em agulhas
ou lâminas, após a utilização do instrumento em algum procedimento
e
• Outras: Outras situações relatadas pelos profissionais que não
puderam ser classificadas na ficha.
EPIs: Avaliação se, no momento do acidente, o profissional estava usando
EPI (equipamento de proteção individual) (Luvas, Máscara, Avental, Óculos,
Protetor Facial, Sem EPI, Outros).
• Dados da fonte e Diagnóstico: Identificação e classificação do
paciente-fonte e do material biológico envolvidos no acidente do
profissional:
• Paciente-fonte conhecido - acidente que ocorreu com paciente
identificado e do qual é possível a coleta de amostras de sangue
para a realização das sorologias para HIV, HCV, HBV.
• Paciente fonte desconhecido – acidente no qual não é possível
colher os exames para realização de sorologias e pode ser por
evasão do paciente e acidente, por óbito ou, por exemplo,
exposições com material já descartado em caixas de perfuro-cortante
ou contato com fluidos de sugador contaminado em consultório.
• Antecedentes do Profissional Acidentado: Levantamento sobre a
história vacinal do profissional com doses e sorologias
• Vacinação completa: indivíduos que receberam três doses ou mais da
vacina contra hepatite B;
• Vacinação incompleta ou não realizada: indivíduos que receberam uma
ou duas doses e profissionais sem história previa de vacinação contra
hepatite B;
• Tétano e difteria (T dT )
• Sarampo, Caxumba e Rubéola (MMR)
66
• Uso de medicamentos e
• Antecedentes psiquiátricos.
• Conduta Clínica: Indicação da melhor terapêutica, de acordo com o
histórico do acidente e data de retorno com:
• Indicação de terapia antirretro viral (ARV),
• Vacinas: Hepatite B, dT, MMR e outras
• Exames solicitados: Hemograma, TGO/TGP, BTF, Uréia, Creatinina,
Anti-HIV, HbsAg, Anti-HBc, Anti-HBs, Anti-HCV, Anti HTLV I/II, Teste
de gravidez, outro exame.
• Retorno: Acompanhamento dos pacientes expostos a portadores de
HIV, os quais receberam quimioprofilaxia com ARV. Caso não houvesse alta
sem soroconversão na consulta inicial, haveria mais cinco retornos
agendados previamente, com pedidos de exames laboratoriais; foi indicado
ARV, verificaram-se efeitos adversos como náuseas, vômitos, dor
abdominal, diarréia e outros, e também alterações laboratoriais como
anemia, leucopenia, plaquetopenia e outros, Sind Mono Like, com queixas e,
finalmente, a respectiva conduta. Os retornos foram agendados com o
seguinte tempo: 6 semanas, 3 meses, 6 meses e até um ano.
3.3.2 Questionário sobre Biossegurança
Este questionário (Anexo B, questionário 1) semi-estruturado com
questões fechadas continha três partes. A primeira parte, com informações
pessoais para caracterização sociodemográfica; a segunda parte, com
informações para caracterização ocupacional dos profissionais; e a terceira
parte, com questões sobre biossegurança em odontologia.
A primeira parte possuía as seguintes variáveis:
• Idade
• Gênero: Masculino e Feminino.
67
• Estado Civil: Casado, Viúvo, Divorciado, Separado, Solteiro, Vive em
União Livre.
• Etnia: Parda, Preta, Branca, Amarela, Indígena.
• Local de Nascimento: Cidade e Estado
• Tempo de residência em São Paulo
• Escolaridade: Superior Completo, Especialização, Mestrado, Doutorado
e Aperfeiçoamento. Todos os profissionais eram graduados em
Odontologia. Esta questão procurou saber se os profissionais possuíam
somente a graduação, ou outra formação circunscrita à área
odontológica.
• Endereço de Moradia em São Paulo. Local de residência do
profissional.
A segunda parte do questionário relacionada à questões profissionais
continha:
• Cargo atual: Cirurgião-Dentista
• Àreas de atuação e período: Qual a área predominante de atuação
profissional nas especialidades odontológicas. As especialidades
consideradas para este estudo foram: Endodontia, Periodontia, Prótese,
Cirurgia Oral Menor, Implantodontia, Dentística, Ortodontia e
Odontopediatria.
• Tempo de Trabalho na Profissão: Em anos e meses.
• Tempo no Cargo ou na Função: Tempo que o profissional exercia a
profissão desde formado.
• Quantos pacientes atende em média por dia: De 1 a 5; de 6 a 10; ou
11 a 20.
A terceira parte destinada a identificar rotina profissional relativa a
questões relacionadas à Biossegurança:
68
• Lavar as mãos no momento da execução dos procedimentos
clínicos rotineiros? Sim ou Não
Esta questão procurou verificar se todos os profissionais lavavam as
mãos corretamente, antes de fazer o atendimento clínico e calçar as
luvas.
• Qual o material utilizado: Indicava qual o material utilizado
preferencialmente, pelo profissional durante a lavagem das mãos.
• Usa luvas descartáveis em todos os procedimentos? Sim ou Não
Se o profissional utilizava luvas descartáveis rotineiramente e/ ou se fazia
reutilização delas em algum momento dos procedimentos.
• Lava as mãos antes dos procedimentos cirúrgicos? Sim ou Não
Quando o profissional executava este procedimento, se fazia a lavagem
das mãos de forma adequada com o uso de água e sabão líquido e uso
de antisséptico, antes da colocação de luvas.
• Qual o material utilizado: Identificar se o material utilizado pelo
profissional era um antisséptico para procedimentos cirúrgicos durante a
lavagem das mãos.
• Utiliza algum tipo de produto especial após lavagem das mãos? Sim
ou Não
Identificar se o profissional possuía hábitos de usar hidratantes ou
antissépticos após a lavagem das mãos.
• Usa luvas cirúrgicas descartáveis em procedimentos cirúrgicos?
Sim ou Não
Identificar se o profissional utilizava luvas descartáveis cirúrgicas
rotineiramente em diferentes procedimentos ou se fazia reutilização das
mesmas em algum momento.
• Já sofreu algum tipo de contaminação em procedimentos? Sim ou
Não
Caso seja afirmativo, qual o tipo:
69
Esta questão procurou verificar se o profissional foi contaminado com
doença infectocontagiosas em algum procedimento que envolveu
acidente com material perfurocortante.
• Segue protocolo de paramentação quando em cirurgia? Sim ou Não.
Verificar se o profissional segue normas de biossegurança padronizadas
e adequadas para a execução do procedimento e uso de roupas
descartáveis adequadas para execução dos procedimentos, nos caos de
cirurgia extensas.
• Usa duplas-luvas em procedimentos cirúrgicos? Sim ou Não
Identificar se o profissional tem hábito de utilizar duplas luvas como forma
de prevenção.
• Tem percepção de perfuração de luvas quando executa
procedimentos cirúrgicos? Sim ou Não
Identificar se o profissional efetua a troca de luvas perfuradas durante o
ato operatório para evitar contaminação.
• Em caso afirmativo, efetua a troca de luva durante o ato cirúrgico?
Sim ou Não
Identificar se no momento do ato cirúrgico, quando há um contato maior
com fluido que contenha sangue, o profissional descarta a luva furada e
efetua a troca por outra.
• Você é canhoto ou destro ?
Identificar a mão dominante de trabalho.
3.3.3 Questionário sobre o acidente com perfurocortante
A primeira parte do segundo questionário apresentava as seguintes
variáveis:
• Gênero: masculino e feminino.
• Categoria profissional: cirurgião-dentista formado.
70
• Tempo de serviço: tempo de atuação profissional.
• Turno de trabalho: manhã, tarde ou noite.
• Jornada de Trabalho: Totalizando 6horas, 8horas ou12horas.
• Número de empregos: Quantos empregos o profissional possuía.
A segunda parte do segundo questionário apresentava questões
referentes ao acidente de trabalho:
• Tipo de Exposição: Avaliação do tipo de contato com material biológico:
• Perfurocortante;
• Mucosa: mucosa ocular e/ou oral;
• Pele íntegra;
• Pele não íntegra.
• Data do Acidente e Horário: Data, Hora e Dia da semana que ocorreu o
acidente perfurocortante.
• Objeto Causador: Instrumento odontológico envolvido na exposição
perfurocortante.
• Região atingida: Mão Esquerda ou Mão Direita.
• Uso de precaução padrão: Sim ou Não.
• Qual o tipo de precaução que o profissional utilizava na hora do
acidente? Avaliação se, no momento do acidente, o profissional estava
usando EPI: Luvas, Máscara, Avental, Óculos, Protetor Facial, Sem EPI,
Outros.
• Procurou o serviço público de atendimento imediatamente? Sim ou
Não.
Objetivou verificar se o profissional procurou o serviço de atendimento e
quanto tempo ele demorou entre a hora do acidente e o primeiro contato.
71
• Descrição sumária do acidente e consequências:
Relato do acidente com perfurocortante pelo profissional.
• Informações Complementares: Informações que o profissional fornecia
sobre como proceder, onde procurar e quem indicou o IIER na hora do
acidente.
• O que mudou na sua vida depois do acidente?
Relato sobre quais as mudanças ocorridas na vida e na rotina do
profissional, após o acidente com perfurocortante.
A segunda parte do questionário possuía uma entrevista semi-
estruturada (anexo B, questionário parte 2) com questões pessoais,
profissionais, questões referentes ao acidente de trabalho e duas
questões abertas, sendo que a primeira estava relacionada a
informações complementares que o profissional respondia sobre como
proceder na hora do acidente, a procura do local de atendimento e quem
indicou o IIER. A segunda questão aberta relacionava as mudanças
desencadeadas para o profissional, após o acidente.
3.4 Ética em Pesquisa
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IIER,
pela Plataforma Brasil, sob o número CAAE: 15709913.4.0000.0061 (Anexo
D).
Foi utilizado um termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE
(Anexo A) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de
Infectologia Emílio Ribas.
3.5 Recursos Financeiros
Para esta pesquisa, houve financiamento do Programa de Pós-
Graduação da CCD-SES, somente para os exemplares da qualificação e da
tese. Outros recursos financeiros foram de total responsabilidade da
pesquisadora.
72
3.6 Recursos Humanos
Para a análise estatística dos dados desta pesquisa, contou-se com a
colaboração de uma matemática que é voluntária no IIER. Para a análise
temática, contou-se com a colaboração de uma psicóloga que foi aluna do
Programa de Pós-Graduação CCD-SES.
3.7 Análise Estatística
As variáveis selecionadas para este estudo referentes aos acidentes
ocupacionais com cirurgiões dentistas foram submetidas a análise descritiva.
Os dados coletados foram inseridos em banco de dados construído em
um programa estatístico Software Statiscal Package for the Social Science
(SPSS versão 19.0) e tratados por meio de estatística descritiva, com cálculos
de percentuais e frequências.
Na comparação dos escores dos grupos, foram utilizados testes não
paramétricos e paramétricos. Assim, foi utilizado como teste não - paramétrico
a prova U de Man-Whitney, para a comparação dos escores de dois grupos e p
de Spearman, com o propósito de descobrir se havia relacionamento entre as
variáveis: exemplos: sócio demográficas (idade, sexo, etnia, estado civil);
clínicas (coinfecção, momento do acidente, realização de exame sorológico,
início, sintomas, procura pelo serviço de atendimento, vacinação, diagnóstico).
Todos os testes foram realizados sob a admissão de probabilidade de erro de
primeira espécie (alfa) de 5%, e do tipo monocaudal para as provas de Mann-
Whitney.
Poder-se-ia aplicar o teste do Qui-Quadrado (somente se os dados
fossem nominais), para medir a discrepância entre as frequências observadas
e as esperadas e se necessário aplicar a correção de Yates (quando há
somente uma ou duas categorias envolvidas) (Field, 2009).
73
3.8 Análise Qualitatitiva
O método qualitativo de pesquisa responde a questões muito
particulares, do mundo das relações humanas, das representações e da
intencionalidade, o que dificilmente pode ser traduzido em números e
indicadores quantitativos. Trabalha com o universo dos significados, dos
motivos, dos valores, das atitudes, das aspirações e crenças dos indivíduos
(Minayo, 2004).
A ideia da combinação de metodologias diferentes, também chamada
de triangulação tem por objetivo, neste trabalho, abranger uma amplitude maior
na descrição, explicação e compreensão do objeto de estudo. Os métodos
quantitativos pressupõem uma gama de objetos de estudo comparáveis e que
fornecem dados que podem ser generalizáveis, já os métodos qualitativos
poderão observar diretamente como cada indivíduo, grupo ou instituição
experimenta concretamente a realidade pesquisada. A pesquisa qualitativa é
útil para identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que podem ser
estudadas quantitativamente. É também útil para estudar questões difíceis de
quantificar, como sentimentos, motivações, crenças e atitudes individuais.
Desta forma, os métodos qualitativos e quantitativos são complementares.
(Goldenberg, 2002).
3.8.1 Casuística
A amostra utilizada para análise desta pesquisa qualitativa foi
composta por 40 cirurgiões – dentistas formados (32 mulheres e 8 homens) e
foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas, com questões
fechadas e abertas acerca do acidente e as mudanças provocadas em razão
do acidente. Foram incluídos, inicialmente, os profissionais que procuraram o
ambulatório do IIER e aceitaram fazer parte desta pesquisa e conceder a
entrevista. Na sequência foram incluídos aqueles contatados por telefone até
completar os 20 participantes de cada grupo. O critério de exclusão foi aplicado
para aqueles profissionais, contatados por telefone, que se recusaram a
participar da pesquisa.
74
3.8.2 Técnica de coleta de dados
Entre os 40 profissionais selecionados do banco de dados, vinte foram
contatados no próprio IIER, quando estavam em consulta e os demais foram
contatados por telefone. A entrevista foi agendada previamente em horário e
local disponível para o entrevistado.
3.8.3 Entrevista Semi-Estruturada
Goldenberg (2002) ressalta que, dentre as vantagens da entrevista
estão à maior flexibilidade para conseguir as respostas e poder observar o que
diz o entrevistado bem como possíveis contradições. É o instrumento mais
adequado para a revelação de assuntos mais complexos, como as emoções,
permite maior profundidade e ajuda a estabelecer uma relação de confiança e
amizade entre pesquisador e pesquisado, o que favorece o aparecimento de
outros dados. Assim, colocar a entrevista semi-estruturada como uma técnica
da coleta de dados visou o favorecimento do profissional da saúde em falar
sobre o tema de forma livre, apenas guiado pela entrevistadora (Anexo B
questionário 2).
3.8.4 Análise temática
A análise temática é uma técnica que propõe a descoberta de núcleos
de sentido, na qual há o surgimento de pontos centrais de significação, os
quais expressam os valores de referência e os modelos de comportamento em
uma perspectiva qualitativa.
“O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um
texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”
(Minayo, 2004). Em uma unidade de significação complexa de comprimento
variável, a sua validade não é de ordem linguística, mas antes de ordem
psicológica. (Minayo, 2004).
75
3.8.5 Tratamento dos dados Qualitativos
Na análise temática, temos três etapas:
• Pré- Análise: Consiste na escolha dos documentos a serem analisados;
na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa,
reformulando-as em consonância com material coletado; e na
elaboração de indicadores que orientem a interpretação final. Pode ser
decomposta na seguinte tarefa: primeiro, uma leitura flutuante de todo o
material, e verificação do conjunto das comunicações. Consiste em
tomar contato exaustivo com o material deixando-se impregnar pelo seu
conteúdo. A dinâmica entre as hipóteses iniciais, as hipóteses
emergentes, as teorias relacionadas ao tema tornarão a leitura mais
sugestiva e capaz de ultrapassar a sensação de caos inicial.
Constituição do corpus: Organização do material de tal forma que possa
responder a algumas normas de validade; Exaustividade (que contempla
todos os aspectos levantados no roteiro); Representatividade (que
represente o universo pretendido); Homogeneidade (que obedeça a
critérios precisos de escolha em termos de temas), técnicas e
interlocutores; Pertinência (os documentos analisados devem ser
adequados ao objetivo do trabalho), Formulação de hipóteses e
objetivos. Em relação ao material qualitativo, a proposta do primado
quadro de análises sobre as técnicas e controversa. Entendemos que há
a necessidade de se estabelecer hipóteses iniciais, pois a realidade não
é evidente; responde a questões que teoricamente lhe são colocadas.
Porém, esses pressupostos iniciais têm de ser flexíveis de forma que
permitam hipóteses emergentes a partir de procedimentos exploratórios.
• Exploração do Material: Consiste essencialmente na operação de
codificação. Análise temática tradicional trabalha essa primeira fase com
o recorte do texto em unidades de registro que podem ser uma palavra,
uma frase, um tema, um personagem que foi estabelecido na pré-
análise. Em segundo lugar, recolhe as regras de contagem, uma vez
que, tradicionalmente, ela constrói índices que permitem alguma forma
de quantificação. Em terceiro lugar, ela realiza a classificação e a
76
agregação dos dados, escolhendo as categorias teóricas ou empíricas
que comandarão a especificação dos temas.
• Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: Os resultados
brutos são submetidos (tradicionalmente) a operação estatística simples
(percentagens) ou (complexas) análise fatorial que permitem colocar em
relevo as informações obtidas. A partir disso, o analista propõe
inferências e realiza interpretações previstas no seu quadro teórico ou
abre outras pistas em torno de dimensões teóricas sugeridas pela leitura
do material (Minayo, 2004).
A análise temática desta pesquisa foi realizada em três etapas: duas
abordando o material correspondente às entrevistas dos cirurgiões-dentistas e
uma realizando uma análise geral a partir de todo material e de seus
resultados.
77
4 RESULTADOS
___________________________________________________________________
78
4.1 Fluxograma de Resultados
O fluxograma abaixo evidencia: Banco de dados da CCIH, a Ficha
Cadastral com respectivos dados dos 103 acidentes, Seleção dos 40
profissionais entrevistados, Entrevista semi-estruturada com aplicação dos
questionários e Banco de dados com as análises temática e casuística.
Figura 4 - Fluxograma de resultados
79
As tabelas abaixo informaram os aspectos epidemiológicos dos
acidentes ocupacionais em cirurgiões-dentistas com material de risco biológico.
As tabelas 3, 4, 5, 6 e 7 forneceram dados referentes ao total de
participantes com 103 profissionais.
• A faixa etária variou entre a idade mínima de 22 anos, a máxima de 54
anos e o desvio padrão de 7,9 anos.
• A predominância dos profissionais foi do sexo feminino. Não houve
nenhuma profissional grávida e apenas 2 profissionais eram do IIER.
• O turno de trabalho apontado foi o diurno e o tempo na função variou
entre o mínimo de 1,5 anos e o máximo com 30 anos, com desvio padrão
de 7,6 anos.
• A medicina do trabalho foi pouco notificada pelos profissionais.
• A maioria não havia sofrido acidente prévio e, dos que foram acometidos,
somente 10 profissionais fizeram acompanhamento.
• A sexta-feira foi o dia mais apontado pelos profissionais com maior
ocorrência dos acidentes.
80
Tabela 3 - Informações sócio demográficas de cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 103
Faixa Etária
Mínimo em anos = 22
Máximo em anos = 54
Média em anos = 33,6
Mediana = 33
Desvio padrão em anos =
7,9
Sexo Feminino 80 (77,7%)
Masculino 23 (22,3%)
Gestante Feminino Sim 0 (0%)
Não 80 (100%)
Instituição IIER 2 (1,9%)
Particulares 101 (98,1%)
Turno
Diurno 78 (75,7%)
Noturno 22 (21,4%)
Ambos 3 (2,9%)
Tempo na função
Mínimo em anos = 1,5
Máximo em anos = 30
Média em anos = 8,9
Mediana = 8,0
Desvio padrão em anos =
7,6
Notificou Medicina do trabalho na primeira
consulta
Sim 13 (12,7%)
Não 71 (68,9%)
Não mencionado 19 (18,4%)
Acidente prévio Sim 33 (32%)
Não 70 (68%)
Acompanhamento do acidente prévio (33
profissionais)
Sim 10 (30,3%)
Não 22 (66,7%)
Não mencionado 01 (3,0%)
Dia da semana em que ocorreu o acidente
Segunda 9 (8,7%) Terça 17 (16,5%)
Quarta 16 (15,5%) Quinta 15 (14,5%) Sexta 24(23,3%)
Sábado 22 (21,3%)
81
Na tabela 4, os aspectos epidemiológicos mostrados foram:
• O Tempo transcorrido até o primeiro atendimento que mostrou uma
media de 14 horas.
• O tipo de acidente que mais acometeu os profissionais foi percutâneo e
o sangue foi o material mais envolvido nos acidentes.
• O instrumento envolvido nos acidentes foi agulha oca.
• A Topografia do acidente apontou a mão esquerda dos profissionais
como a mais acometida pelos acidentes.
• O momento do acidente relatado foi durante os procedimentos.
• Um terço dos profissionais realizou expressão no local acidentado como
medida após o acidente.
• Autoacidente mostrou ser a causa principal dos acidentes.
82
Tabela 4 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 103
Tempo até 1º atendimento do acidente atual
Mínimo em horas = 0,5
Máximo em horas = 288
Média em horas = 14
Mediana = 28
Desvio padrão em horas = 36
Tipo
Percutâneo 87 (84,5%)
Mucosa oral 2 (1,9%)
Mucosa ocular 8 (7,8%)
Pele integra 5 (4,9%)
Outro 1 (0,9%)
Material
Sangue 58(56,3%)
Fluido com sangue 4(3,9%)
Outro Fluido 15(14,6%)
Ignorado 26(25,2%)
Instrumento
Agulha oca 40(38,8%)
Agulha sutura 5(4,9%)
Lâmina 4 (3,9%)
Ignorado 9(8,7%)
Topografia do acidente
Mão direita 28 (27,2%)
Mão esquerda 48 (46,7%)
Olhos 4 (3,9%)
Coxa 2 (1,9%)
Não informado 21 (20,3%)
Momento do acidente
Durante 60 (58,3%)
Após 36 (35,0%)
Ambos 1 (1,0%)
Não Informado 6 (5,8%)
Medida após o acidente
Expressão (87) Sim 27 (31,0%) Não 60 (69,0%)
Água Sim 77 (74,8%) Não 26 (25,2%)
Sabão Sim 63 (61,2%) Não 40 (38,8%)
Antisséptico Sim 47 (45,6%) Não 56 (54,4%)
Causa do Acidente
Autoacidente 78 (75,7%)
Movimento do Paciente 3 (2,9%)
Movimento do Colega 2 (1,9%)
Descarte inadequado 3 (2,9%)
Reencape 9 (8,7%)
Outro 8 (7,8%)
83
Na tabela 5, as características epidemiológicas voltadas ao uso de EPI
mostraram:
• As luvas descartáveis foram o EPI de maior uso entre os profissionais e
protetor facial foi o EPI menos utilizado por todos.
Tabela 5 - Caracterização de acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes. CCIH - IIER (2008 a 2012) Uso de EPI(s)
Categoria Gênero Variável Participantes
EPI
Luvas Sim 89 (86,4%)
Não 14 (13,6%)
Máscara Sim 54 (52,4%)
Não 49 (47,6%)
Avental Sim 53 (51,5%)
Não 50 (48,5%)
Óculos Sim 45 (43,7%)
Não 58 (56,3%)
Protetor Facial Sim 3 (2,9%)
Não 100 (97,1%)
Outros (Propé, Gorro) Sim 8 (7,8%)
Não 95 (92,2%)
Sem EPI Sim 10 (9,7%)
Não 93 (90,3%)
Na tabela 6, as características epidemiológicas relacionadas:
• Ao paciente conhecido (fonte) apontou que a maioria é conhecida dos
profissionais e a idade média foi 35,1 anos.
• O sexo predominante dos pacientes foi masculino.
• Embora o paciente fosse conhecido, os exames iniciais de HCV e HIV
revelaram ser ignorado pela maioria dos profissionais.
84
Tabela 6 - Caracterização do paciente fonte dos acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de
Participantes 103
Paciente conhecido Sim 90 (87,4%)
Não 13 (12,6%)
Idade (50)
Mínimo em anos = 8
Máximo em anos= 57
Media em anos = 35,1
Desvio Padrão= 2,8
Sexo
Masculino 56 (54,4%)
Feminino 27 (26,2%)
Não informado 20 (19,4%)
Exames Iniciais do
Paciente
HBsAG Ignorado 103 (100%)
HBeAG ignorado 103 (100%)
LUES ignorado 103 (100%)
HTLV ignorado 103 (100%)
CHAGAS ignorado 103 (100%)
HCV Sim 1(0,97%)
HIV Sim 15(14,56%)
TGO
ignorado 88(85,43%)
Sim 1 (0,97%)
TGP
Não 102(99,03%)
Sim 1 (0,97%)
CD4
Não 102(99,03%)
Sim 3 (2,91%)
CARGA VIRAL
Não 100(97,08%)
Sim 6 (5,82%)
Não 97 (94,17%)
85
Na tabela 7, as características epidemiológicas relacionadas:
• Aos Antecedentes do Profissional Acidentado mostrou que a maioria dos
profissionais tomou a vacina contra Hepatite B.
• A Sorologia pós-vacina é sempre recomendada para os profissionais que
tomaram vacina contra Hepatite B, porém mostrou que, praticamente, a
metade dos profissionais não realizava a sorologia.
• A TARV inicial foi indicada pelo PS para 58,3% de todos os profissionais
acidentados.
• TARV foi mantida pela CCIH, após consulta inicial pelo PS, em mais da
metade do total referenciado.
• A conduta Alta em seis semanas foi indicada somente para 1,94% dos
profissionais inicialmente atendidos, e em seis meses foi indicado para
45,6 % dos profissionais acidentados.
• As tabelas abaixo, de números 6, 7, 8, 9, e 10, informaram os aspectos
epidemiológicos dos acidentes ocupacionais em cirurgiões-dentistas com
material de risco biológico, nos 40 profissionais entrevistados.
86
Tabela 7 - Informações epidemiológicas dos acidentes em cirurgiões-dentistas com exposição a material biológico acompanhados no ambulatório de acidentes da CCIH do IIER (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 103
Antecedentes do Profissional Acidentado
Profissional é vacinado 94 (91,3%)
Profissional não é vacinado 4 (3,9%)
Não informado 5 (4,9%)
Sorologia pós- vacina (94)
Sim 44 (42,7%)
Não 50 (56,3%)
Não informado 0 (0,0%)
Indicação de TARV pelo PS
Sim 60 (58,3%)
Não 42 (40,7%)
Não informado 1 (1,0%)
TARV mantido pela CCIH (60)
Sim 33 (55,0%)
Não 27 (45,0%)
Conduta: Alta/6 semanas
Sim 2 (1,94%)
Não 101(98,05%)
Conduta: Alta/3 meses Sim 7 (6,79%)
Não 94 (91,2%)
Conduta: Alta/6 meses Sim 37 (35,9%)
Não 57 (55,33%)
Conduta: Total das Altas
Sim 47 (45,6%)
Não 56 (54,3%)
87
Na tabela 8, ficaram informações sócio-demográficas dos 40 cirurgiões-
dentistas entrevistados.
• A média da faixa etária dos profissionais foi de 36,5 em anos.
• O sexo predominante dos profissionais entrevistados foi feminino.
• Não houve profissionais grávidas entrevistadas.
• A maioria dos profissionais entrevistados (62,5%) era casada.
• Quanto a etnia, a predominância dos entrevistados era Branca.
• A maioria dos profissionais nasceu em São Paulo (67,5%).
• Somente uma profissional entrevistada era do IIER.
• Todos os profissionais entrevistados eram graduados em Odontologia;
somente 15% não possuíam outra titularidade.
• Quanto às Especialidades, a área mais destacada foi Clínica Geral,
77,5% dos profissionais atuando em consultórios particulares.
• O tempo médio de trabalho na profissão foi de 14,7 anos.
• O diurno foi o turno de trabalho predominante, com 92,5 %.
88
Tabela 8 - Informações sócio demográficas de 40 dos profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 40
Faixa Etária
Mínimo em anos = 24
Máximo em anos = 56
Média em anos = 36,5
Mediana = 33
Desvio Padrão= 9,1
Sexo Feminino 32 (80%)
Masculino 8 (20%)
Gestante Feminino Não 32 (100%)
Estado Civil
Casado 25 (62,5%)
Divorciado 3 (7.5%)
Solteiro 10 (25%)
União livre 2 (5%)
Etnia Branco 34 (85%)
Amarelo 6 (15%)
Tempo em São Paulo
De 1 a 5 3 (7,5%)
De 6 a 10 1 (2,5%)
11 ou mais 9 (22,5%)
Nasceu em SP 27 (67,5%)
IIER * Gênero Sim 1 (2,5%)
Não 39 (97,5%)
Escolaridade
Superior Completo 6 (15%)
Especialização 21 (52,5%)
Mestrado 3 (7,5%)
Doutorado 1 (2,5%)
Aperfeiçoamento 9 (22,5%)
Especialidades
Clínica geral Part. 31 (77,5%)
Empr. 9 (22,5%)
Cirurgia Part. 4 (10%)
Empr. 1 (2,5%)
Periodontia Part. 7 (17,5%)
Empr. 1 (2,5%)
Endodontia Part. 2 (5%)
Empr. 7 (17,5%)
Implante Part. 5 (12,5%)
Empr. 1 (2,5%)
Emergência Part. 2 (5,0%)
Outras Part. 6 (15%)
Empr. 5 (12,5%)
Tempo de trabalho na Profissão
Mínimo em anos= 1
Máximo em anos= 32,41
Média em anos= 14,7
Turno Diurno 37 (92,5%)
Ambos 3 (7,5%)
89
Na tabela 9, ficaram as características epidemiológicas relacionadas a
biossegurança.
• Os profissionais atendiam entre 11 e 20 pacientes/ dia o que corresponde
a 42,5% .
• A lavagem das mãos, antes de procedimentos clínicos, foi executada por
95 % dos profissionais.
• Todos os profissionais usavam luvas descartáveis.
• As lavagens das mãos antes de procedimentos cirúrgicos foram
executadas por 90 % dos profissionais e apenas 5% não realiza
procedimentos cirúrgicos.
• O número de antisséptico utilizado pelos profissionais chegou a 50%.
• O uso de produtos especiais mostrou que 57,5% não utilizavam nada.
• Luvas cirúrgicas descartáveis foram utilizadas por 90 % dos profissionais
que realizavam este procedimento.
• Todos os profissionais entrevistados sofreram algum tipo de exposição.
• O tipo de exposição apontado foi também percutâneo, com 90% dos
casos.
• Protocolo de paramentação cirúrgica foi realizado por 80% dos
profissionais.
• O uso de duplas luvas não foi seguido por 70% dos profissionais
entrevistados.
• Percepção de perfuração de luvas apontou que 90% dos profissionais
perceberam-nas.
• A troca das luvas perfuradas foi realizada, também, por 90% dos
profissionais entrevistados.
• A mão dominante de trabalho dos profissionais entrevistados foi a direita,
com 87,5% dos casos.
90
Tabela 9 - Informações sobre biossegurança de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 40
Pacientes em média por Dia
De 1 a 5 7 (17,5%) De 6 a 10 14(35%)
De 11 a 20 17(42,5%) Mais de 20 2(5%)
Lava as mãos antes de procedimentos clínicos
Sim 38 (95%) Não 2 (5%)
Usa luvas descartáveis Sim 40 (100%)
Lava as mãos antes de procedimentos cirúrgicos
Sim 36 (90%) Não 2 (5%)
Não executam cirurgia 2 (5%)
Qual material utilizado Sabão 18 (45%)
Antisséptico 20 (50%) Não executam cirurgia 2 (5%)
Utiliza produto especial Sim 11 (27%) Não 23 (57,5%)
Às vezes 6 (15%)
Usa luvas Cirúrgicas Sim 36 (90%) Não 2 (5%)
Não executam cirurgia 2 (5%) Já sofreu algum tipo de
exposição em procedimento
Sim 40 (100%)
Tipo de exposição Percutâneo 36 (90%) Mucosa oral 1 (2,5%)
Mucosa ocular 3 (7,5%)
Protocolo de paramentação Sim 32 (80%) Não 5 (12,5%)
Não executam cirurgia 3 (7,5%)
Usa duplas luvas Sim 9 (22,5%) Não 28 (70%)
Às vezes 3 (7,5%)
Tem percepção de Perfuração de luvas
Sim 36 (90%) Não 4 (10%)
Efetua a troca das luvas Sim 36 (90%) Não 2 (5%)
Às vezes 2 (5%)
Mão dominante de trabalho Canhoto 3 (7,5%) Destro 35 (87,5%)
Ambidestro 2 (5%)
91
A tabela 10, mostrou características epidemiológicas referentes a
exposição ao material biológico.
• Os profissionais que mencionaram ter procurado o serviço público,
imediatamente, para atendimento do acidente ficou com 75% dos casos.
• O tempo médio de atendimento foi de 7,1 horas.
• Dos profissionais entrevistados 35 % já haviam sofrido acidente prévio e
a média de acidentes foi de 2,3% em quantidade.
• O acompanhamento de acidentes prévios foi realizado por 29 % dos
casos informados.
• O dia da semana em que mais ocorreram acidentes foi a sexta-feira, com
27,5 % dos casos.
• A notificação à medicina do trabalho não foi realizada por 87,5% dos
profissionais entrevistados
• O material mais envolvido foi o sangue, com 52,5%
• O instrumento que mais apareceu como causador de acidentes foi agulha
oca, com 32,5%.
• A topografia dos acidentes apontou a mão esquerda, com 52,5% dos
casos.
• O momento do acidente revelou que 2,5% dos casos notificados sofreu o
acidente durante e após o procedimento.
• O tipo de exposição em mucosa oral apareceu em 2,5 % dos casos
notificados.
92
Tabela 10 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 40
Procurou o serviço público de imediato (SIC)
Sim 30 (75%)
Não 10 (25%)
Tempo do primeiro atendimento até 4h
Mínimo em horas= 0,50
Máximo em horas= 48
Média em horas= 7,1
Acidente prévio Sim 14(35%)
Não 26(65%)
Quantos acidentes prévios
Mínimo em quantidade= 1
Máximo em quantidade= 10
Media em quantidade= 2,3
Acompanhamento de acidentes prévios
Sim 4(29%)
Não 10(71%)
Dia da semana em que ocorreu o acidente
Segunda 3 (7,5%)
Terça 7 (17,5%)
Quarta 8 (20%)
Quinta 6 (15%)
Sexta 11 (27,5%)
Sábado 5 (12,5%)
Notificação da Medicina do trabalho
Sim 5 (12,5%)
Não 35 (87,5%)
Material
Sangue 21(52,5%)
Fluido com sangue 7 (17,5%)
Outro Fluido 3 (7,5%)
Ignorado 9 (22,5%)
Instrumento
Agulha oca 13 (32,5%)
Agulha sutura 2 (5%)
Outros* 25 (62,5%)
Topografia
Mão direita 13(32,5%)
Mão esquerda 21(52,5%)
Olhos 5(12%)
Outros 1(2,5%)
Momento do acidente
Durante 26(65%)
Após 13(32,5%)
Ambos 1(2,5%)
Tipo de exposição Percutâneo 36 (90%)
Mucosa oral 1 (2,5%)
Mucosa ocular 3 (7,5%)
Nota: *Outros se refere a: curetas, agulhas anestésicas, fio ortodôntico, lima endodôntica.
93
Na tabela 11, as características epidemiológicas referiram se a:
• Medida após o acidente mostrou que 27 % dos profissionais fizeram este
procedimento com a região atingida.
• As causas de acidente com reencape de agulha ficou com 7,5 % dos
casos notificados.
• O EPI mais utilizado por todos os profissionais foi a luva, com 80 %.
• Somente 10% dos profissionais não conheciam o paciente (fonte).
• O sexo predominante do paciente fonte foi masculino.
• Somente 5 % dos profissionais entrevistados não eram vacinados contra
hepatite B.
• O mínimo em quantidade de doses de vacinas para Hepatite B foram
2(duas) e o máximo 6(seis).
94
Tabela 11 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 40
Medida após o acidente
Expressão Sim 11(27,0%)
Não 29(73%)
Água Sim 30(75%)
Não 10(25%)
Sabão Sim 25(62%)
Não 15(38%)
Antisséptico Sim 19(47,5%)
Não 21(52,5%)
Outros Sim 1(2,5%)
Não 39(97,5%)
Causa do Acidente
Autoacidente 26(65%)
Movimento do Paciente 3 (7,5%)
Movimento do Colega 1(2,5%)
Descarte inadequado 3 (7,5%)
Reencape 3 (7,5%)
Outro 4 (10%)
EPI
Luvas Não 08(20%)
Sim 32(80%)
Máscara Não 21(52,5%)
Sim 19(47,5%)
Avental Não 20(50%)
Sim 20(50%)
Óculos Não 24(60%)
Sim 16(40%)
Protetor Facial Não 39(97,5%)
Sim 1(2,5%)
Sem nenhum EPI Sim 4(10%)
Não 36(90%)
Outros Sim 2(40%)
Não 38(95%)
Fonte Conhecida Sim 36(90%)
Não 4(10%)
Sexo da fonte
Masculino
23 (57,5%)
Feminino 13(32,5%)
Não informado 4(10%)
Antecedentes do Profissional Acidentado
Profissional é vacinado 38(95%) Profissional não é
vacinado 2(5%)
Quantas doses
Mínimo em quantidade= 2
Máximo em quantidade= 6
Média em quantidade= 3,3
Maior que 3 doses= 33
95
Na tabela 12, as características epidemiológicas dos profissionais
entrevistados foram:
• A sorologia pós-vacina foi realizada em 50 % dos profissionais.
• Indicação de TARV pelo PS foi para 52,5% (21 profissionais) acidentados
e mantidos pela CCIH do total acima foi de 52,4% com (11 profissionais).
• A conduta Alta foi de 85% para os profissionais entrevistados.
• Não foram registradas soroconversões para nenhum dos três vírus
considerados (HIV, HBV e HCV).
Tabela 12 - Informações epidemiológicas de 40 profissionais acidentados com exposição a material biológico (2008 a 2012)
Categoria Gênero Variável Participantes
Total de participantes 40
Sorologia pós Vacina
Sim 20(50%)
Não 12(30%)
Não informado 8(20%)
Indicação de TARV pelo OS Sim 21(52,5%)
Não 19(47,5%)
TARV mantido pela CCIH Sim 11(52,4%)
Não 10(47,6%)
Conduta: Alta Sim 34 (85%)
Não 6 (15%)
96
Figura 5 - Gráfico do dia da semana que ocorreu o acidente nos
profissionais notificados e profissionais entrevistados.
4.2 Análise Temática
Na análise temática, foram encontradas quatro categorias relacionadas
ao motivo do acidente: ordem pessoal, ordem técnica, ordem do trabalho e
reincidência de acidente.
Tabela orientadora dos Resultados:
Ordem Pessoal Ordem Técnica Ordem do Trabalho
Reincidência de Acidente
Desatenção, Distração, Euforia, Descuido, Distração seguida de uso inadequado de técnica. (25)
Técnica Odontológica inadequada (3)
Sobrecarga de trabalho (4) Três pessoas notificaram (3)
Estresse (12) Falta de EPI (4) Insatisfação Profissional (1)
Fadiga (6) Negligência do manuseio do material (6)
Psicologicamente Dividida (5)
Imprudência (2)
Medo de doenças Transmissíveis HIV) e (HCV) (8)
Falta de AutoCuidado (4)
Total dos Discursos = 60 Total dos Discursos = 15 Total dos Discursos =5 Total dos Discursos = 3
Quadro 3 - Descrição Sumária do Acidente Nota: os números entre parênteses referem-se ao total de discursos dos profissionais
entrevistados
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sabado
Grupo dos 103 Dentistas notificados
Grupo dos 40 Dentistas entrevistados
97
4.2.1 Descrição Sumária do Acidente
4.2.1.1 Ordem Pessoal
Nesta categoria, agrupamos
Discursos que revelam aspectos da singularidade dos entrevistados
relativos à gama de exigências de seu cotidiano. Desta forma, agrupamos os
motivos alegados em: desatenção, distração, distração seguida de uso
inadequado de técnica odontológica e euforia. (Dicionário do Aurélio, 2013).
Desatenção (descuido, distração, uso inadequado de técnica e euforia).
Entende-se por desatenção a falta de atenção ou cuidado; por distração,
descaso, desrespeito, indelicadeza. Já para a palavra descuido, tratar sem
cuidado, não fazer caso, não cuidar, deixar de ser atento, falta de apuro, falta
de cuidado para com alguém ou algo.
• Distração: desatenção, desviar a atenção de alguém para outro ponto
ou objeto, descuidar-se.
• Distração seguida de uso inadequado de técnica: desatenção
associada ao não uso adequado da técnica odontológica preconizada
para um atendimento sem riscos.
Euforia: sensação de perfeito bem – estar; alegria intensa e, em regra,
expansiva. (Dicionário do Aurélio, 2013).
Totalizaram-se 25 discursos predominantes dos profissionais, por
exemplo:
Eu estava anestesiando e quando removi a agulha, do tecido gengival, me perfurei, pois eu desviei o olhar falando com a secretaria (Profissional 70).
• Estresse: O estresse pode ser definido como um esgotamento e que indica
a situação em que a exigência física e psicológica é maior do que os meios
para enfrentá-la; por isso, interferem no bem-estar do indivíduo que passa a
ver essas experiências como ameaçadoras, dolorosas, frustrantes ou como
98
perda. Os estressores podem ser traumáticos, cotidianos e crônicos.
Observa-se que o estresse ocupacional reside na percepção pelo
profissional do equilíbrio entre as demandas existentes no trabalho e sua
habilidade e/ou possibilidade para respondê-las.
As pesquisas indicam um número considerável de evidências
apontando a profissão de cirurgião-dentista como geradora de estresse
contínuo. Por exemplo, estudos realizados nos Estados Unidos da América,
onde a Odontologia foi considerada a segunda ocupação mais estressante,
sendo a primeira a de piloto de aviões militares de caça (Regis Filho, Ribeiro,
2012).
Na literatura, encontramos também descrições de síndromes
associadas às atividades profissionais da saúde. A síndrome do Burnout ou
síndrome do estresse profissional tem sido reconhecida como uma condição
experimentada por profissionais que desempenham atividades em que está
envolvido um alto grau de contato com outras pessoas e que podem gerar
sintomas depressivos e ansiosos (De Marco et al., 2008). Como exemplo, o
seguinte relato:
De acordo com Abreu et al. (2002)
Estresse ocupacional difere da Síndrome de Burnout por ser o resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman, Kaplan, 1999). O estresse pode ser visto como seu determinante, mas não coincide com o mesmo. Farber (citado em Roazzi, Carvalho, Guimaraens, 2000) explora a ideia de que burnout não resulta só do estresse em si (que pode ser inevitável em profissões assistenciais), mas do estresse não mediado, do estresse não moderado, sem possibilidade de solução. Assim, burnout não é um evento, mas sim um processo e, apesar de compartilharem duas características- esgotamento emocional e escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional diferem pelo fator despersonalização (Cherniss, citado em Roazzi, Carvalho, Guimaraens, 2000). Léon e Iguti (1999) consideram burnout como um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional. Parece haver um consenso em torno de a síndrome poder ser caracterizada como uma resposta ao estresse laboral crônico, mas é importante que seus conceitos sejam mantidos distintos. Burnout tem como conseqüência uma dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha, incluindo usuários, clientes e a própria organização, e o estresse é um esgotamento diverso que, de modo geral, interfere na vida pessoal do individuo, além de seu trabalho (Codo, Vasques -
99
Menezes, 1999). Entretanto, apesar de suas particularidades, as diferenças entre os dois não são claras, em função dos fatores desencadeadores serem muito próximos [...], o que dificulta o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de uma relação de comorbidade.
Ia retirar dois dentes e depois de retirar apenas um, o paciente convulsionou! Parei para dar assistência e o paciente era homossexual com aspectos de AIDS e então, a médica do PS informou para eu procurar o IIER, pois o paciente me mordeu e babou até ser atendido e eu tive que segurar! O paciente não me informou nada que tinha ataque epilético (Profissional 20).
• Irritação: Pode ser definido como a ação, efeito de irritar ou irritar-se.
Ação do que excita os nervos, os órgãos dos sentidos, estado de
nervosismo, exaltação facilmente provocável. Agastamento, cólera
(Dicionário do Aurélio, 2013).
• Alguns a consideram uma forma mais fraca da raiva, apenas uma fúria
diluída.
O profissional, muitas vezes, enfrenta jornadas diárias longas de
trabalho e torna-se distante de seus familiares e de situações cotidianas por ter
a necessidade de dois ou mais locais de trabalho e, aos poucos, termina
alienado e irritado. Deste modo, afasta-se do convívio social e familiar,
direcionando a maior parte de seu tempo a atividades profissionais, deixando
de lado questões subjetivas, pois passa a ver o trabalho em primeiro plano,
sem perceber os prejuízos que está acumulando não apenas para si, como
também para a família. (Cecagno et al., 2002).
c) Fadiga:
A palavra fadiga é usada cotidianamente para descrever uma série de
males subjetivos intrínsecos que vão desde um estado genérico de letargia até
uma sensação específica de calor nos músculos provocada pelo trabalho
intenso e resultante de sobrecarga de trabalho, trabalho cansativo (Houaiss,
Villar, Franco, 2009).
100
Na síndrome de Burnout, os sintomas somáticos que mais aparecem
são: exaustão, fadiga, cefaléias, distúrbios gastrointestinais, insônia, dispnéia e
os psicológicos: humor depressivo, irritabilidade, ansiedade, rigidez,
negativismo, ceticismo e desinteresse (Murofuse, Abranches, Napoleão, 2005).
Verifica-se em:
Era o último horário, e eu estava bem cansado em uma quinta-feira, às 21h30min, estava sem auxiliar e a paciente não se mostrou a vontade para preencher a ficha clínica de anamnese com os dados pessoais e relatou que trabalhava como terapeuta, dando a crer que era uma paciente com comportamento de risco (Profissional 89).
d) Condição de estar psicologicamente dividido
A condição de estar psicologicamente dividido ocorre quando
executamos uma tarefa, mas não estamos onipresentes nela e com situações
pendentes para se resolverem ao mesmo tempo. Desencadeiam, muitas vezes,
sentimentos angustiantes, de muita ansiedade, seguidos de pressa e que nos
fazem perder a atenção, favorecendo os acidentes (Possobon et al., 2007). Por
exemplo, em:
A paciente tinha HIV positivo e era o último horário no curso de especialização, eu já estava cansada, preocupada com as crianças e atrasada para pegá-las e estava ainda lavando os instrumentais sem luvas e fui pegar agulha para reencapar quando me perfurei, espremi o dedo e fui orientada a procurar o IIER (Profissional 56).
e) Medo de Doenças Transmissíveis
Existem diferentes formas de medo: aquele tem uma razão de ser
evidente, quando nossa vida esta sendo diretamente ameaçada, e o medo
como manifestação de uma doença psicológica. Nesse caso, o medo não se
apresenta como reação a uma ameaça real com razão concreta e imediata,
mas é simplesmente, resultado de um estado de preocupação, ansiedade, ou
tensão bastante elevado. Sente-se medo de que algo possa acontecer, ou seja,
desencadeia um estado de pavor baseado em uma mera hipótese. No caso
das doenças transmissíveis, o profissional presencia o medo já no atendimento
101
e esta tensão o remete, muitas vezes, a um descuido, favorecendo o acidente
(Oliveira et al., 2011).Verifica-se em:
Eu sabia que o paciente era HCV positivo. Eu tenho os dados do paciente. Estava tratando o canal e a lima 10, escapou e perfurou o dedo indicador da mão esquerda (Profissional 11).
f) Deficiência no Autocuidado
Autocuidado é a atenção e a ação que se exerce sobre si mesmo para
preservar e cultivar uma boa qualidade de vida de maneira responsável,
autônoma e livre, nas escolhas das ferramentas para sua realização.
Necessariamente, não significa estar bem o tempo todo, mas sim acolher os
confortos e desconfortos, ver as causas e escolher agir ou não sobre elas
(Dicionário do Aurélio, 2013). A falta de autocuidado pressupõe descuido
consigo mesmo e com o outro, pois passa a ser um elemento de autoproteção,
visto que é por meio do autocuidado que se refletem os aspectos da
subjetividade, também na condição profissional. Desta forma, em nosso
trabalho, identificamos que o autocuidado faz revelar muito mais que uma
autoproteção, mas uma postura de cuidado com o outro e que implica saúde,
que é um direito do indivíduo como cidadão e registrado na constituição
Brasileira (Freixinho et al., 2010).
Estava realizando uma exodontia e a alavanca escorregou, pois estava apoiando o dente da paciente com o meu dedo! Fui para o IIER depois de quatro horas e meia, pois decidi terminar todos os pacientes do serviço, primeiro! E fui bem atendida no PS (Profissional 71).
4.2.1.2 Ordem Técnica
a) Inadequação do Uso da Técnica
A técnica odontológica adequada é uma ferramenta da qual o
profissional dispõe para uma execução ideal de trabalho a ser realizado com
precisão, menor tempo de trabalho, melhor ergonomia. Depreendemos que
dela decorre muito mais que a excelência no desempenho profissional, pois
seguramente, a partir dela, atingimos um trabalho voltado ao outro, numa
dimensão de cuidado (Knackfuss, Barbosa, Mota, 2010). Verifica-se em:
102
Era uma sexta – feira, durante a técnica anestésica, na remoção da agulha (carpule) a agulha tocou o dedo indicador em um movimento do paciente. Atribuo o acidente ao meu excesso de confiança. Eu terminei o tratamento no IIER, pois eu não queria ter nenhuma surpresa futura (Profissional 106).
b) Uso inadequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
Os acidentes podem ser definidos como toda ação não programada,
estranha ao andamento normal do trabalho, da qual poderá resultar dano físico
ou econômico. O uso adequado de EPIs é uma medida preventiva e eficaz na
redução de acidentes e que pode beneficiar o profissional, evitando-os. O uso
inadequado está relacionado a um aumento significativo de acidentes a
exposições ocupacionais (Simões et al., 2003).Verifica-se em :
Estava sem precaução nenhuma, pois o paciente já havia ido embora e após o procedimento, o equipamento usado estava na mesa de apoio e bati a palma da mão direita na ponta do instrumento com sangue! (Profissional 61).
c) Negligência no Manuseio do Material
Na negligência, alguém deixa de tomar uma atitude ou apresentar
conduta que era esperada para a situação, entretanto age. Age com descuido,
indiferença ou desatenção, menosprezo, não tomando as devidas precauções.
O profissional é displicente ou omissivo (Kiffer, Abrel, 2011). Confirma-se em:
Era de manhã e me preparava para o atendimento, quando fui verificar se o sugador estava ok e por pressão negativa o refluxo de líquidos atingiu mucosa oral e ocular, estava sem óculos de proteção e após 15 horas fiquei muito preocupado e decidi procurar o IIER (Profissional 103).
d) Imprudência
A imprudência, por sua vez, pressupõe uma ação precipitada e sem
cautela. A pessoa não deixa de fazer algo, não é uma conduta omissiva como
na negligência. Na imprudência, ela age, mas toma uma atitude diversa da
esperada. Há a falta de cautela, de cuidado que se deveria prever, porém não
previu (Kiffer, Abrel, 2011). Por exemplo, em:
103
Houve a necessidade de uma odontosecção de um dente e por não estar usando óculos de proteção, um jato de sangue espirrou nos meus olhos (Profissional 31).
4.2.1.3 Ordem do trabalho
a) Sobrecarga
A sobrecarga de trabalho é apontada por muitos profissionais como
uma das causas do estresse. A sobrecarga de trabalho pode ser quantitativa,
quando há muito trabalho a fazer em relação ao tempo disponível, e qualitativa,
quando é atribuído ao trabalho maior grau de dificuldade que habitualmente. A
sobrecarga apontada nos discursos relaciona-se, principalmente, à escassez
de horas para executar muitas tarefas (Queluz, 2005). Confirma-se em:
[...] eu tive que tomar fluoxetina como medicação até saber os resultados dos exames e que me deixou com letargia e falta de atenção, pois me sentia com muita sobrecarga (Profissional 16).
b) Insatisfação
A insatisfação profissional pode, muitas vezes, estar ligada ao tipo de
trabalho executado de uma forma isolada, extremamente tecnicista, decorrente
do mercado competitivo e da baixa remuneração que geram alta de
insatisfação profissional e pode, ainda, estar relacionada com a noção do
contato imaginário de doenças infectocontagiosas. Várias outras crenças e
mitos relativos à doença continuam causando pânico e provocando
insegurança no profissional que assiste. Continua
forte a crença de que a AIDS é uma doença que está fora de nós
(Rodrigues, Domingos Sobrinho, Silva, 2005). Verifica-se em:
Eu estava muito cansada e não queria mais trabalhar entre 4 paredes, já tinha anestesiado o paciente e a agulha estava desencapada e quando fui pegar gaze, perfurei o polegar da mão esquerda (Profissional 27).
104
4.2.1.4 Reincidências de Acidente
Três profissionais notificaram reincidência de acidentes odontológicos,
sendo que dois concluíram o protocolo de tratamento e um negligenciou o
protocolo dos dois tratamentos. Observa-se em:
Durante o procedimento de extração dentária, a alavanca escorregou e perfurou o dedo de apoio, pois fiquei com medo de machucar a paciente e instintivamente coloquei o dedo para proteger a paciente, em nenhum momento houve distração. Como já era o segundo acidente e em pouquíssimo tempo fui direto ao IIER... No primeiro eu me acidentei, pois fazia reencape de agulha sem olhar! (Profissional 77).
Na análise temática da questão Complemento, foi verificado se o
profissional tinha as informações de como proceder em casos de acidente com
perfurocortantes.
Esta questão apontou que dos profissionais entrevistados, 26 não
tinham as informações necessárias e 14 tinham informações prévias de como
proceder em casos de acidentes.
4.2.2 Informações sobre Biossegurança
Na análise temática relacionada à biossegurança foi verificado se o
profissional tinha as informações sobre protocolo de Atendimento em casos de
acidente com perfurocortantes e sobre protocolo Ativo de Biossegurança.
Na questão sobre como proceder, 26 profissionais informaram que não
tinham as informações necessárias e 14 tinham informações prévias de como
proceder em casos de acidentes. Dentre as respostas dos que afirmaram ter
sido informados, encontramos as seguintes:
Informação Prévia do Acidente Sim (14 profissionais) Congresso-(2)
Especialização-(1) Autodidata-(1) Equipe de Saúde-(1) Formação/Graduação-(4) No local de Trabalho e com 2 acidentes-(3)
105
No IIER-(2) Não (26 profissionais) Descobriu na hora-(4)
Mídia-(1) Colega-(9) IIER-(3) Equipe de trabalho-(4) Familiares-(5) Cartilha do Ministério da Saúde-(1)
Quadro 4 - Fonte de Informação sobre o Risco Nota: os números entre parênteses referem-se ao total de discursos dos profissionais
entrevistados
4.2.2.1 Informação sobre Protocolo em Caso de Acidentes
Dos que afirmaram ‘saber’ como proceder em acidentes, destacamos
no grupo dos Sim, dois profissionais que tiveram a informação em congressos
(69 e 45), e dois em especialização (70 e 106). Isso sugere que estes
profissionais se mantêm em atividade profissional constante e fazem
aperfeiçoamento, pois um deles conta com 30 anos de formado (106) e o outro
25 anos (69). O profissional (71) relatou ser autodidata, verifica-se em:
Tomei conhecimento do acidente com perfurocortantes, na teoria com muita leitura, e pelas cartilhas do ministério, pois eu fazia atendimento, no consultório de paciente portador de HIV, muito precocemente (Profissional 71).
Os profissionais (01, 08, 35, 50) relataram ter obtido as informações na
graduação. Cabe ressaltar que eles possuem respectivamente um ano, três
anos e meio, oito anos e meio e treze anos de formados o que mostra que os
profissionais desta última década aparentam uma incorporação eficaz do uso
de EPIs como meio de proteção. Com o advento da AIDS na década de 80 os
agentes de formação tiveram uma preocupação maior com a capacitação
destes profissionais para o mercado de trabalho. Verifica-se, em:
Tive as informações de como proceder em acidentes em todas as disciplinas na graduação e quando aconteceu o meu acidente, eu fui a outro hospital e lá me encaminharam ao IIER (Profissional 35).
• Quanto aos profissionais que sofreram dois acidentes e notificaram (03,
37, 77), esses afirmaram que souberam como proceder, pois já tinham
106
informações obtidas no primeiro acidente nos atendimentos do próprio
IIER.
No primeiro acidente fui orientada por um amigo que tinha as informações de como proceder em acidentes, e fui orientada a procurar o IIER e o paciente tinha hepatite C. Já no segundo acidente eu tinha informações adquiridas de como fazer no atendimento do IIER (Profissional 03).
• O profissional (23) referiu que, embora tivesse 12 anos de formado, não
teve na escola de graduação informações sobre como proceder em
acidentes e sim por meio de enfermeira (membro da equipe) do local de
trabalho que entre outras orientações, no momento do acidente, indicou
para ir ao IIER.
• O profissional (05) relatou saber como proceder em acidentes, pois
trabalhava com pacientes infectados de HIV, HCV e outras doenças
infecciosas e todos os protocolos de atendimento que além de
conhecidos eram seguidos. Verifica-se em:
Já tinha informações adquiridas no IIER, pois trabalho com pessoas infectadas (Profissional 05).
Entre os profissionais que disseram não ter as informações de como
proceder em acidentes, foi observado à seguinte disposição: quatro
profissionais descobriram na hora (39, 91, 95, 100); um pela mídia (103); nove
por colegas: cirurgiões- dentistas, médicos e enfermeiros (89, 42, 55, 56, 60,
26, 03, 07, 20); um refere à descoberta no próprio IIER (19); quatro pela equipe
de trabalho (42, 26, 30,07); seis por familiares, nestes casos, a figura que mais
contribuiu para as informações foram as mães (44, 53, 31, 32, 33,11); um
profissional relatou ter as informações pela cartilha do ministério da saúde (27).
4.2.2.2 Protocolo Ativo de Biossegurança
Entende-se por Protocolo Ativo um local que segue as normas e
condutas satisfatórias quanto a Biossegurança. Neste item, os quesitos mais
importantes destacados pelos participantes foram:
107
• Esterilização realizada por autoclaves;
• Uso de EPIs pelo profissional e equipe auxiliar;
• Vacinação contra Hepatite B;
• Agulhas, seringas e caixas de descarte descartáveis;
• Uso de Luvas descartáveis;
• Lavagem das mãos.
Na questão sobre Protocolo Ativo de Biossegurança:
Local SIM NÃO
Posto de Saúde 1 2
Instituição A 3
Empresa B 1
Consultório-Particular 26 4
Hospital A 1
Curso 1
IIER 1
Total 33 7
Quadro 5 - Descrição de Protocolo Ativo de Biossegurança
Dos profissionais que seguem protocolo ativo de biossegurança,
encontramos dispostos da seguinte forma:
O profissional 91 trabalha em posto de saúde onde tudo é realizado de
acordo com as normas adequadas de biossegurança. Os profissionais 71 e 26
também trabalham em posto de saúde e referiram que as normas não são
seguidas, pois, muitas vezes, há falta de estrutura e de funcionamento dos
equipamentos e nem sempre há recursos humanos compatíveis com a
demanda de trabalho. Confere-se em:
Eu estava terminando a raspagem de dentes de um paciente e fui descartar a ponta do ultrassom, que estava enferrujada e emperrada, quando furei o dedo e a minha auxiliar neste dia havia faltado (Profissional 26 ).
108
Os profissionais que trabalham na empresa A (95,100,37) em
diferentes unidades em São Paulo, relataram que o protocolo é sempre
seguido no que se refere a esterilização de instrumentais, uso de luvas
descartáveis, lavagem das mãos sempre, paramentação clínica; além disso,
alegam contar com informações para funcionários ligadas aos caso de
acidentes, bem como controle periódico de vacinas, tanto para profissionais
quanto para auxiliares. Verifica-se em:
Aqui na empresa, sempre temos orientações de seguimento de acidentes e também fazemos os exames periódicos ocupacionais, isto é para todos os que trabalham na área da odontologia (Profissional 100).
O profissional 103 relatou que trabalhava em uma empresa particular
B, onde o protocolo nem sempre era seguido, pois o volume de pacientes na
unidade em que trabalhava era muito grande.
Dos profissionais que atendiam em Hospital A (42), Curso (56) e no
IIER (05), todos concordaram que, nestes locais, o protocolo de biossegurança
é sempre seguido de uma forma exemplar. Confirma-se em:
Eu fazia especialização em um curso onde tudo as normas de biossegurança eram seguidas e havia um professor no dia do acidente que me orientou muito, principalmente a não lavar os instrumentais sem luvas adequadas de proteção (Profissional 56).
Quanto aos profissionais que clinicavam em consultório particular
próprio ou prestavam serviços em clínica particular (01,07, 11,16, 17, 18, 19,
20, 23,27, 30, 32, 33, 35, 39, 44, 45, 53, 55, 60, 61, 69, 70, 77, 89) esses
mostraram ter conhecimento sobre este quesito. Muitos deles apresentaram o
consultório durante a entrevista, o que facilitou esta conclusão. O profissional
106 tem 30 anos de formado e disse também que executa todos os protocolos
de biossegurança, além de controle periódico de vacinas e controle de hepatite
C. Verifica-se em:
Faço da minha profissão uma referência para não contaminar meus pacientes e vice-versa. Com o uso de paramentação adequada e cuidados para o atendimento e também controle periódico de Hepatite C (Profissional 106).
109
Quanto aos quatro profissionais que apresentaram protocolo inativo de
biossegurança (03, 08, 31, 50) e que trabalhavam em consultório particular,
destacaram-se aqueles que afirmaram não lavar as mãos entre os
atendimentos de um paciente para outro e também não lavam as mãos antes
do atendimento odontológico e sim, depois. Os consultórios onde prestavam
serviço não apresentavam normas ideais de esterilização e, muitas vezes, o
próprio equipamento de trabalho não funcionava de forma ideal para executar
as tarefas com precisão (sugador paralisado, caneta de alta-rotação quebrada,
esterilização feita por estufa e não por autoclave, entre outros). Por exemplo,
em:
Lavo as mãos sempre depois de atender o paciente, normalmente passo álcool sobre as luvas na hora de atender o paciente (Profissional 03).
4.2.3 Mudanças ocorridas após o Acidente
Na questão aberta: “O que mudou na rotina de trabalho e na sua vida
depois do acidente?” foram encontradas quatro categorias: Ordem Pessoal;
Ordem Técnica; Ordem de Trabalho e Ordem de Prevenção.
Na Ordem Pessoal houve uma subcategoria dos entrevistados que não
apresentou mudanças (5), sendo que três (3) entrevistados já eram criteriosos
e também tinham cuidado com prevenção e dois(2) entrevistados não
apontaram mudanças, mas ficou claro em seus discursos que foi por
banalização do próprio acidente e em não acreditarem na seriedade causada
por eles.
110
Ordem Pessoal Ordem Técnica Ordem do
Trabalho
Prevenção de
Acidentes
Aumento no Auto cuidado Mais Criterioso (20)
- Melhora da Técnica (12)
-Delegar Atividades (1)
- Noções de Alteridade (1)
Reduziram a Onipotência(5)
- Mudança da Técnica ( 2)
- Troca de Emprego ( 1)
- Heterocuidado (5)
Melhora na Auto Percepção (4)
- Melhora na Orientação para Conduzir Casos
Clínicos (1)
- Melhora na Percepção do Trabalho (1)
- Seriedade na Prevenção(4)
Seriedade no Uso da Terapia antirretroviral
(TARV) (3)
- Atenção na Limpeza (1)
Melhora na Atenção (12) - Uso Adequado de EPI ( 2)
Reconhece Limites (4)
Mudança de Emprego (3)
Melhora na Condição Pessoal (1)
Troca de Área/Especialidade(1)
Diminuição de Carga de Trabalho (2)
Total dos Discursos=55 18 3 10
Quadro 6 - Mudanças ocorridas após o Acidente
• Ordem Pessoal: Nesta categoria, ficaram agrupados os discursos de:
Aumento do AutoCuidado e Criteriosidade, Redução da Onipotência,
Melhora na AutoPercepção, Seriedade no Uso de TARV, Melhora na
Atenção, Reconhecimento de Limites, Mudança de Emprego, Melhora
em Condições Pessoais, Troca de Especialidades. Totalizaram-se, nesta
categoria, 55 discursos predominantes.
• Ordem Técnica: - Melhora da técnica, Mudança da técnica, Melhora da
orientação para os casos, Atenção na limpeza, Uso adequado de EPI,
• Ordem de Trabalho: Delegar as atividades, Troca de emprego, Melhora
na percepção do trabalho,
• Prevenção: Noções de alteridade, Heterocuidado, Seriedade na
prevenção.
111
4.2.3.1 Ordem Pessoal
Nesta categoria, ficaram agrupados os discursos que revelaram
aspectos dos entrevistados quanto à percepção de suas mudanças no seu
cotidiano e após o acidente de trabalho. Desta forma, agrupamos os motivos
alegados em:
a) Aumento no Autocuidado:
• Mais Criterioso
Autocuidado é a atenção e a ação que se exerce sobre si mesmo para
preservar e cultivar uma boa qualidade de vida de maneira responsável,
autônoma e livre nas escolhas das ferramentas para sua realização. A palavra
criterioso revela aquele que possui critério, ponderação, medida, equilíbrio,
discernimento para distinguir o verdadeiro do falso. (Dicionário do Aurélio,
2013).
Cuidado deriva do inglês ‘carion’ e das palavras góticas ‘kara’. Como
substantivo, significa aflição, pesar ou tristeza. Como verbo, significa aflição, ter
preocupação por, sentir uma inclinação ou preferência, respeitar, considerar,
no sentido de ligação de afeto, amor, carinho e simpatia.
O aumento no autocuidado sugere uma possibilidade para observar-se
e perceber como está o corpo físico, mental e emocional, e poder agir sobre ele
de maneira benéfica e saudável para melhoria na qualidade de vida. Ao se
perceber, o profissional se torna mais criterioso e menos negligente consigo
mesmo e capaz de cometer menos acidentes (Kovacs, 2010). Verifica-se em:
Tento tomar mais cuidado durantes as cirurgias quando não estou muito sobrecarregada porque nestes casos eu entro em desespero e não há um planejamento na minha agenda que é controlada por outras pessoas[...]” “ Eu tomo mais cuidado comigo, pois também viajo pela Dutra para trabalhar e eu aprendi a dar muito valor para a vida humana e também gostaria de ter mais voz ativa para cuidar de todos no serviço. (Profissional 71).
112
b) Reduziram a Onipotência
Apesar de muitos profissionais da saúde (pelo próprio exercício da
profissão) possuírem a falsa idéia da onipotência, em que Onipotência é
entendida como o poder supremo ou absoluto; Autoridade extrema; o poder de
fazer tudo (Dicionário do Aurélio, 2013).
Em seus relatos, fica claro o entendimento de que é preciso que se
tenha consciência e trabalhe com fatos reais, saber que a vida é vulnerável e
que nem sempre se podem ultrapassar as barreiras físicas, emocionais e de
biossegurança, bem como se expor a acidentes de riscos de doenças
infectocontagiosas. Confirma-se, em:
Fiquei mais criteriosa comigo e passei a delegar tarefas e também a encaminhar pacientes de cirurgia para outros colegas que fazem a especialidade dentro de serviço, pois minha área de atuação é prótese e endodontia (Profissional 100).
c) Melhora na AutoPercepção
A melhora na auto percepção está relacionada aos aspectos da saúde
física, cognitiva e emocional e com a capacidade que o profissional possui de
se perceber no ambiente e no contexto (Ofstedal et al., 2002).
Autopercepção é definida como a reação do sujeito a um estímulo
exterior, que se manifesta por fenômenos químicos, neurológicos, relativos aos
dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central, e por diversos
mecanismos psíquicos tendentes a adaptar essa reação a seu objeto, como a
identificação do objeto percebido (ou seu reconhecimento), sua diferenciação
por ligação aos outros objetos etc. (Dicionário do Aurélio, 2013). Confirma-se,
em:
Mudou tudo na minha rotina! Mudou a biossegurança do meu trabalho, fiquei mais atenta com as pessoas que me auxiliam, mais atenta aos detalhes e com a possibilidade de ocorrer acidentes fiquei mais cuidadosa, pois estou reingressando na profissão, depois de 28 anos e até vacina de hepatite eu tive que tomar por conta do acidente (Profissional 07).
113
d) Seriedade no Uso da Terapia Antirretroviral
Os profissionais acidentados, quando procuram o serviço público para
atendimento, são avaliados por um profissional que vai indicar o tratamento
com terapia antirretroviral, de acordo como histórico relatado. A seriedade no
uso da medicação esta relacionada com a adesão e o acompanhamento
adequado para sua continuidade ou não.
O Brasil garante acesso universal e gratuito à terapia antirretroviral.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 30 mil pessoas iniciam o tratamento
antirretroviral, no país a cada ano. Das 530 mil pessoas que vivem com HIV no
país, atualmente, 135 mil desconhecem sua situação e, cerca de 30% dos
pacientes, ainda chegam ao serviço de saúde tardiamente (Brito, 2012). Por
exemplo, em:
O que me fez procurar ajuda imediatamente foi o medo de ter que tomar a medicação preventiva novamente, pois já tinha sofrido um acidente em 2009 e que me fez passar muito mal durante o período de tratamento (Profissional 42).
e) Melhora na Atenção
O comportamento voltado para a atenção do profissional se deveu ao
fato de estar mais atento aos riscos com acidentes perfurocortantes e tentar
preveni-los por meio da concentração na atenção, no instante do atendimento,
principalmente nos momentos de manipular objetos como agulhas, e terminar o
atendimento com calma. A falta de atenção associada à pressa de terminar o
atendimento também favoreceu a ocorrência de acidentes (Teixeira,
Fernandes, Serratini, 2008). Confirma-se em:
Agora eu tenho maior conscientização dos riscos em que os profissionais da saúde estão expostos no dia a dia e, redobrei a atenção em relação à anamnese de pacientes e ao manuseio com objetos perfurocortantes e sempre que possível, utilizo dupla luvas para atendimento a pacientes de grupo de risco a doenças infectocontagiosas (Profissional 01).
114
f) Reconhecimento de Limites
Reconhecer os limites da profissão faz parte de um processo de
reflexão e maturidade que colabora para a saúde mental e física dos
profissionais da saúde. Ultrapassar os limites saudáveis do trabalho pode levar
o profissional a desenvolver a síndrome de Burnout ou síndrome do estresse
profissional, reconhecida como uma condição experimentada por profissionais
que desempenham atividades em que está envolvido um alto grau de contato
com outras pessoas. É definida como uma resposta ao estresse emocional
crônico intermitente e, em profissionais da área de saúde, é composta por
sintomas somáticos, psicológicos e comportamentais. Os sintomas somáticos
compreendem: exaustão, fadiga, cefaléias, distúrbios gastrointestinais, insônia
e dispnéia, e os psicológicos: humor depressivo, irritabilidade, ansiedade,
rigidez, negativismo, ceticismo e desinteresse. A síndrome de Burnout envolve
atitudes e condutas negativas com os usuários, clientes, organização e
trabalho. É um processo gradual, de experiência subjetiva que resulta em
problemas práticos e emocionais no trabalhador e na organização (Nogueira-
Martins, 2003). Observa-se, em:
Eu me acidentei por conta da pressa em reencapar agulha anestésica, eu queria limpar tudo rápido! E deixar tudo em ordem, pois tinha que fazer um encaixe de um paciente com dor e isto me trouxe muita preocupação e ansiedade! Mas, depois do acidente, eu não atendo mais os pacientes com pressa! Faço tudo com mais calma, e qualquer coisa eu remarco os pacientes e também não faço mais reencape de agulha, mudei a forma de fazer (Profissional 08).
g) Mudança de Emprego
O mercado de trabalho, na área da odontologia, aponta, nos dias
atuais, a predominância de mulheres e a concentração dos profissionais na
região Sudeste, com estes atuando, principalmente, como autônomos. A idéia
de seguir carreira autônoma em consultório particular, pautada nas
possibilidades de lucro, ainda é um fator dominante. A realidade da
Odontologia tem permanecido cada vez mais vinculada à realidade das classes
operárias, nas quais a jornada de trabalho é superior a 40 horas semanais,
tendo, em algumas situações, mais de um vínculo e possibilidades de
115
remuneração menores, além do atrelamento quase que compulsório a
convênios (Saliba et al., 2012).
A mudança de emprego neste tema relacionou-se com a saída do
profissional de um consultório próprio particular, onde aconteceu o acidente,
para uma instituição, a fim de uma carreira multidisciplinar mais focada na
prevenção odontológica e sem riscos com material perfurocortante. Observa-
se, em:
Abandonei meu consultório, pois não queria ficar entre quatro paredes! Estava muito cansada com tudo e queria ficar em consultoria de empresas. Ainda estou me identificando com outras áreas para fazer mudanças e comecei um trabalho de odontologia preventiva dentro de uma empresa com crianças, onde eu ensino e não trato clinicamente! (Profissional 27).
h) Melhora na Condição Pessoal
A melhora na condição pessoal está relacionada a uma melhora na
qualidade de vida e que é um conceito muito mais amplo, subjetivo e que
envolve vários componentes essenciais da condição humana, quer seja físico,
psicológico, cultural ou espiritual. Atitudes sadias implicam prevenir e estar livre
de doenças; para tanto, é necessário adotar práticas saudáveis de: higiene
pessoal, cuidados médicos, prevenção de acidentes e equilíbrio das atividades
diárias, como trabalho, recreação, sono e repouso. Todos esses fatores
colaboram para a satisfação pessoal e profissional, além de resultarem em um
bom desempenho no trabalho (Regis Filho, Ribeiro, 2012).
[...] Eu não sabia como fazer na hora do acidente e quase desisti do atendimento, pois o médico que me atendeu sugeriu que se eu tivesse 60 anos e seis filhos eu não precisaria de terapia antirretroviral, mas eu insisti e depois isto me valeu, pois logo que atendo os meus pacientes, desmonto tudo para evitar acidentes e fiquei muito mais atenta durante o tratamento com os pacientes e comecei a deixar tudo que tem ponta na direção contrária a mim (Profissional 61).
i) Troca de Área/ Especialidade
As especialidades odontológicas surgiram com a função de aprofundar
em uma área específica do conhecimento e que, pela complexidade ou
116
especificidade, foge ao alcance do clínico geral (Conselho Federal de
Odontologia (CFO), 2010).
Hoje eu procuro administrar mais e trabalhar menos e comecei a me dedicar a áreas específicas como ortodontia e odontopediatria que me expõe menos a acidentes (Profissional 03).
j) Diminuição de Carga de Trabalho
A diminuição da carga de trabalho é essencial para o ser humano, seja
pela ordem econômica, social ou biológica. Na Declaração Universal dos
Direitos do Homem (Organização das Nações Unidas (ONU), 1948), destaca-
se no artigo XXIV - Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a
limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. O
fundamento legal dessa lei está na Constituição Federal, CLT, Capítulo II,
Artigos 57 a 75, e Lei 605/49 (Brasil, 1949). Confere-se, em:
Era um momento muito difícil da minha vida, muito tumultuado e estressante, com jornadas de trabalho das 8: 30 h as 22h e ainda fazia especialização[...] e, devido a isto eu acabava me sentindo muito cansada e sobrecarregada para atender e acabei me perfurando no reencape da agulha e hoje eu mudei a minha rotina de trabalho, não faço mais reencape e ajustei os meus horários da rotina profissional e sai de um emprego para ganhar mais qualidade de vida com menos horas de trabalho (Profissional 47).
4.2.3.2 Ordem Técnica
a) Melhora da Técnica
O cirurgião-dentista tem sido apontado na literatura como um
profissional vulnerável a riscos ocupacionais, devido às características
peculiares à sua atuação profissional e os resultados conseguidos na execução
do trabalho. Com a melhora da técnica odontológica, seja ela manual ou por
meio de técnica automatizada, conferem maior segurança e domínio para se
evitar acidentes com perfurocortantes. Confirma-se, em:
[...] Em consultório não deixei de atender nenhuma pessoa que fosse portadora de HIV. Se eu me acidentasse de novo, não espremeria mais o dedo e melhorei a técnica cirúrgica comecei a usar afastador labial durante o procedimento de sutura com agulhas (Profissional 33).
117
b) Mudança de Técnica
A mudança da técnica está associada à execução de alguns
procedimentos odontológicos geradores de ansiedade profissional e que
aumentam antes de sua execução, independentemente da colaboração do
paciente. Quando o profissional consegue observar o seu próprio
comportamento e fica atento não somente aos aspectos técnicos da prática
odontológica, mas também aos efeitos desta prática sobre o repertório de
comportamentos do paciente e dos acompanhantes, se estabelece uma
interação de segurança e tranquilidade, o que facilita a realização dos
procedimentos, de forma rápida e segura, para todos os envolvidos, com a
diminuição dos acidentes de risco (Possobon, 2007). Por exemplo, em:
Já tinha medo de acidentes! E agora eu tomo muito mais cuidado, mudei a técnica cirúrgica para me sentir mais segura (Profissional 69).
c) Melhora na Orientação dos Casos Clínicos
Para muitos profissionais da odontologia, o aparecimento do HIV
revelou despreparo, preconceito e medo em relação ao tratamento de
pacientes portadores do vírus, em razão da estigmatização em torno da
doença. Quando os procedimentos de proteção precaução são utilizados como
rotina, em qualquer atendimento odontológico, associados à busca de
conhecimentos adequados em Biossegurança, acabam funcionando como
prevenção das infecções e também um caminho para vencer o preconceito.
Porém, quando o profissional não se sente apto ao atendimento de
casos complexos, pode contar com assistência de especialistas, a fim de
garantir a eficiência de tratamento (Silva, 2010). Confirma-se, em
[...] Realizo uma anamnese mais detalhada. Fiquei muito apavorada com tudo que aconteceu, pois eu fui muito mordida pelo paciente que convulsionou durante o atendimento e tive que segurá-lo no PS para esperar o atendimento e tentava estancar a hemorragia do dente, depois do atendimento e agora eu peço mais exames de sangue e trato todos como se tivessem a doença. O principal é que agora eu indico para os serviços especializados os pacientes suspeitos de HIV e Hepatite (Profissional 20).
118
d) Atenção na Limpeza
O controle da Infecção odontológica deve fazer parte de um protocolo
de biossegurança no interior de cada consultório. Os instrumentos
odontológicos são classificados em três categorias: críticos, semicríticos e não
críticos. Instrumentos cirúrgicos e outros que são utilizados para penetrar o
tecido ou osso são classificados como críticos e devem ser esterilizados em
autoclave, após cada uso. Esses dispositivos incluem fórceps, curetas, cinzel
de osso, sondas e brocas. Os instrumentos, tais como espelhos e
condensadores de amálgama, que não penetram tecidos macios ou não
desossam tecidos orais são classificados como semicríticos e devem ser
também esterilizados em autoclave, após cada uso. Os materiais não
descartáveis utilizados durante o atendimento clínico devem ser lavados
separadamente, em pias exclusivas para esta finalidade, após processo de
degermação. Se, entretanto, a esterilização não é praticável porque o
instrumento será danificado pelo calor, o instrumento deve receber, pelo
menos, a desinfecção de nível elevado. Os instrumentos ou os dispositivos
odontológicos que entram em contato somente com pele intacta são
classificados como não críticos, porque estas superfícies têm relativamente um
baixo risco para transmitir infecção; dessa forma, pode ser feita a desinfecção
de nível intermediário ou baixo, por exemplo, lavagem com detergente e água.
Desinfecção é o processo que elimina micro-organismos na forma
vegetativa, excetuando-se os esporos. Esterilização é o processo capaz de
destruir todas as formas de vida microbiana como bactérias, fungos e vírus,
inclusive na sua forma vegetativa e esporulada (Knackfuss, Barbosa, Mota,
2010). Observa-se, em:
Perfurei o dedo após instrumentação de canal e eu sabia que o paciente tinha HCV! E depois disto presto muito mais atenção durante o procedimento de limpeza das limas e brocas e tudo. Troco os estopes (borracha) que encaixam nas limas mais frequentemente e cuido bem do controle de esterilização (Profissional 11).
e) Uso Adequado de EPI
119
O uso de equipamentos de proteção individual (EPI) tem a finalidade
de impedir que microrganismos provenientes de pacientes por sangue, fluidos
orgânicos, secreções e excreções contaminem o profissional de saúde e sua
equipe. Os EPIs incluem luvas próprias para cada procedimento, avental
impermeável de mangas compridas, gorro com cobertura da orelha, máscara e
óculos de proteção que não deve ser confundindo com o uso de lentes
corretivos e que devem ser usados pelos cirurgiões-dentistas (Jorge, 2002).
Confirma-se, em:
Não atendi mais no consultório do local do acidente. Passei observar melhor a qualidade e a quantidade de instrumental e equipamentos para trabalhar. Nunca deixo de utilizar a paramentação em biossegurança, embora onde trabalho no período da manhã, as normas e protocolos são sempre executados (Profissional 50).
4.2.3.3 Ordem do Trabalho
a) Delegar Atividades
Delegar significa transmitir poderes por delegação; incumbir alguém.
Em odontologia delegar tarefas esta relacionado com a contratação de pessoas
qualificadas como o auxiliar de consultório dental (ACD) e o técnico de higiene
dental (THD), profissões estas regulamentadas a partir de junho de 2000, pelo
CFO, órgão responsável pela regulamentação do exercício profissional da
classe odontológica no Brasil. A produtividade máxima de um profissional só
pode ser alcançada com a adoção de pessoal auxiliar e com delegação de
funções e não pode ser confundida com busca de status ou aumento de
custos. Seu principal objetivo é a promoção de maior eficiência, elevação do
rendimento, a otimização do uso do tempo e diminuição de custos
operacionais, além de prevenir acidentes com perfurocortantes (Queluz, 2005).
Por exemplo, em:
Hoje eu evito trabalhar até muito tarde. No dia do acidente eu estava sem auxiliar e muito sobrecarregado (Profissional 89).
b) Troca de Emprego
120
Do mesmo modo que na ordem pessoal, também apareceu à troca de
emprego relacionada à ordem do trabalho. Na Declaração Universal dos
Direitos do Homem de 1948, o artigo XXIII, refere nos Parágrafos 1 e 2 que:
• Toda pessoas tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a
condições equitativas e satisfatórias do trabalho e à Proteção contra o
desemprego.
• Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por
trabalho igual.
Por exemplo, em:
Eu decidi sair do emprego, pois meu chefe responsável, também ia sair, por conta de conflitos administrativos e sei que não seria bom para mim, continuar com a equipe que estava lá, além do que, eu já tinha sofrido o acidente! (Profissional, 95).
c) Melhora na Percepção do Trabalho
Os acidentes com instrumentos perfurocortantes são característicos,
muitas vezes, da sobrecarga de trabalho e da exaustão profissional à qual está
submetido o profissional. A melhora na percepção do trabalho resgata o
reconhecimento dos sinais e sintomas indicadores deste desgaste laboral e
deixa reflexos nas condições de vida destes. Confere-se, em:
Eu me sentia muito mal, pois meu cachorro havia morrido naquela semana. Hoje estou mais atenta nos procedimentos de raspagem periodontal e atendo todos os pacientes como se fossem portadores do vírus HIV e Hepatite (Profissional 23).
4.2.3.4 Prevenção de Acidentes
a) Noções de Alteridade:
A noção de alteridade está relacionada com o caráter ou estado do que
é diferente; que é outro; do que é distinto, que se opõe a identidade. Em
filosofia, relaciona-se com a condição ou característica que se desenvolve por
relações de diferença, de contraste, de mudanças (Dicionário do Aurélio, 2013).
Confirma-se em:
121
Por conta do acidente que eu sofri com alguém que nem sei quem era e contrai hepatite C, em um momento que não se usava luvas, eu decidi terminar meu tratamento no IIER, pois não queria ter nenhuma surpresa com vírus HIV e também não queria mais nenhum problema para minha vida (Profissional 106).
b) Heterocuidado
O conceito de heterocuidado faz parte das competências profissionais
e se relaciona com o cuidado do outro, que é diferente do cuidado de si próprio,
possibilitando efetivamente uma condição de saúde para o outro, encargo ou
uma responsabilidade. O heterocuidado sugere um processo de reflexão e,
também, argumentos para o cirurgião-dentista reconhecer sua realidade
pessoal de ser finito e aponta caminhos para o reabastecimento de sua
vitalidade, por meio do cuidado de si. Um profissional adoecido que está em
burning-out também está envolvido em atitudes e condutas negativas que
podem trazer problemas no relacionamento com seus pacientes, colegas e,
também, queda na produtividade e na qualidade dos serviços prestados, além
de não conseguir pensar no outro. (Garbin, Saliba, Gonçalves, 2006). Observa-
se em:
Em relação ao acidente, eu aconselho os meus colegas, que trabalham nas mesmas condições em que me encontrei, a usarem óculos de proteção nos momentos em que realizam cirurgias e usam brocas para remover dentes, para aumentar a proteção e evitar acidentes (Profissional 31).
c) Seriedade na Prevenção
Dentre os cuidados em biossegurança na Odontologia que devem ser
observados internacionalmente, destacam-se o uso correto dos Equipamentos
de Proteção Individual (EPI), principalmente o uso correto de luvas, óculos de
proteção, máscara, avental e gorro, o que não exclui lavar frequentemente as
mãos. Para que haja proteção ideal do profissional contra exposições a
doenças infectocontagiosas, ele deve estar, também, devidamente vacinado,
por exemplo, contra Hepatite B. Observa-se, em:
Neste momento estou conseguindo usar duplas luvas em pacientes suspeitos e sem dificuldades e também pedi para todo o corpo auxiliar da minha clínica tomar vacina de hepatite
122
B e as pessoas foram procurar o serviço por conta do que aconteceu comigo (Profissional 17).
Dois acidentes foram banalizados, pois um profissional, embora
dissesse na entrevista que não houve mudanças após o ocorrido, acabou
demitindo-se do emprego por insatisfação pessoal, readequando-se a outro
local de trabalho, fato que contradisse sua fala e comportamento. Outro
profissional não atribuiu nenhuma mudança na vida ou rotina de trabalho, pois
segue os protocolos recomendados pela instituição na qual trabalha, sempre
usa todos os EPIs a cada atendimento, e também, óculos de proteção sobre
lentes corretivas. Confere-se, em:
[...] eu estava passando por um momento delicado de insatisfação dentro da empresa e por fim acabei me desligando [...] E quanto à rotina de trabalho? Não mudou nada na minha vida e na minha rotina, pois o que devemos fazer para evitar, e eu faço normalmente e o que tiver que acontecer de acidentes vai acontecer. È uma profissão de riscos e acidentes acontecem (Profissional 95).
123
5 DISCUSSÃO
___________________________________________________________________
124
A predominância dos profissionais foi do sexo feminino e idade média
de 33,6 anos e mínima de 22 anos, o que está compatível com Moysés (2003),
que revisou outras publicações sobre política de saúde e formação de recursos
humanos em odontologia e relatou progressiva feminização do trabalho, com
predomínio de profissionais jovens, até 30 anos, com altíssima concentração
na região sudeste, especialmente no estado de São Paulo, atuando como
clínicos gerais e/ou especialistas nos seus consultórios particulares. A maioria
tem a autopercepção de que ainda são profissionais liberais autônomos.
Contudo, a realidade mais típica das classes trabalhadoras assalariadas
confronta esta autopercepção liberal dos dentistas. Mais de 40% deles
declararam exercer uma jornada de trabalho igual ou maior de 44 horas
semanais, 37% admitem duplo vínculo com emprego público ou privado, e mais
de 48% deles admitem uma renda familiar máxima mensal de até sete salários
mínimos. Um número bastante importante dos profissionais, exercendo a
prática privada, também reconhece serem dependente dos convênios /
credenciamentos, que poderiam ser percebidos como uma forma de
“assalariamento indireto”, exercido no próprio consultório privado, dada à
grande dependência desta modalidade de vínculo na geração de “receita”
(Moysés, 2003).
Neste contexto, foram relatados acidentes em 25 (24,3%) profissionais
do grupo geral e 3 (7,5%) do grupo entrevistado que trabalha no período
noturno. A maioria dos acidentes ocorreu durante o dia. Os consultórios
particulares privados funcionam, principalmente, no período diurno e, poucos,
no noturno. Paralelamente à enfermagem, os acidentes ocorreram no final de
plantão e relacionados ao cansaço físico (Bakke, Araújo, 2010).
A sexta-feira foi o dia com maior ocorrência dos acidentes
perfurocortantes apontado pelos profissionais. Esse dado é pouco mencionado
na literatura para Odontologia.
Para estudos realizados na área de Enfermagem temos que os
acidentes ocorrem predominantemente às segundas-feiras (27,7% em 2003 e
24,6% em 2004) e no período da manhã (63%, em 2003, e 54,8%, em 2004).
Constatou-se queda acentuada da ocorrência dos acidentes de trabalho aos
125
sábados e domingos bem como no período da noite, fato que pode estar
relacionado à redução de atividades e do número de trabalhadores expostos ao
risco, uma vez que as equipes de trabalho são reduzidas, nos finais de semana
e no período noturno.
No período da manhã, nos hospitais, geralmente, são efetuadas
atividades nas quais há manuseio de material perfurocortante, entre os quais
cateteres intravenosos, agulhas, lâminas de bisturis, entre outros. Considera-se
que, devido à rotina adotada, o trabalhador, no período da manhã, está mais
exposto a riscos acidentais (Marziale et al., 2007).
Na Odontologia, isso pode estar ligado ao fato de ser a sexta-feira o dia
em que se acumula o maior nível de estresse e ansiedade, muitas vezes ligado
ao fato de uma semana extenuante de trabalho e mais de um local de atuação.
Poucos estudos referem o dia da semana como o de maior risco para o
acontecimento de acidentes. O que parece uma relação lógica por ser a sexta-
feira o último dia da semana de trabalho, o mais exaustivo e o mais
estressante. Considerando a população de cirurgiões dentistas vulnerável para
o risco de acidentes, cabe ressaltar que, muitas vezes, tais riscos estão
associados a fatores como stress físico e emocional, horas demasiadas de
trabalho, diferentes locais de trabalho com rotinas diversas que requerem maior
atenção, distração, pressa e fatores como dia da semana e hora provável do
acidente.
O estresse é relatado por Carlotto (2009) como fator preponderante
para o acontecimento de acidentes. A preocupação com a questão do estresse
reside na sua provável relação com o adoecimento ou sofrimento que ele
provoca. Os sintomas físicos mais comuns relatados por Carlotto são: fadiga,
dores de cabeça, insônia, dores no corpo, palpitações, alterações intestinais,
náusea, tremores, extremidades frias e resfriados constantes.
Entre os sintomas psíquicos, mentais e emocionais, encontram-se
diminuição da concentração e memória, indecisão, confusão, perda do senso
de humor, ansiedade, nervosismo, depressão, raiva, frustração, preocupação,
medo, irritabilidade e impaciência (Murofuse, Abranches, Napoleão, 2005). De
126
acordo com as cargas psíquicas, essas são exemplificadas pela expôsição à
atenção permanente no trabalho, à supervisão com pressão, à consciência da
periculosidade do trabalho, aos altos ritmos de trabalho, à repetitividade, à
monotonia e à falta de criatividade (Sarquis, Felli, 2002).
Há trabalhos de Odontologia que apontam o cansaço excessivo como
um agravante do stress e que pode levar à síndrome de Burnout que é uma
doença de ordem psicofisiológica, como uma resposta ao estresse laboral
crônico, tratando de uma experiência subjetiva interna que agrupa sentimentos
e atitudes e que tem um perfil negativo para o indivíduo, pois implicam
alterações, problemas e disfunções, pela qual o profissional perde o sentido da
sua relação com o trabalho e este deixa de ter a importância de vida e qualquer
esforço parece ser inútil. Trata-se de um conceito multidimensional que envolve
três componentes, os quais podem aparecer associados, ainda que são
independentes como a exaustão emocional e a despersonalização do trabalho,
tornando-o mecânico, o que e levando à desmotivação e á falta de
envolvimento no trabalho (Regis Filho, Ribeiro, 2012).
Entre as causas relatadas de acidentes, os autoacidentes ocorreram
em 78 (75,7%) dentistas do grupo geral e 26 (65%) do grupo dos entrevistados,
seguido de reencape de agulhas, com um total de 9(8,7%) e 3(7,5%),
respectivamente. A maioria dos estudos focaliza uma determinada categoria de
trabalhador, sendo os profissionais de enfermagem os mais estudados,
aparecendo, portanto, como os mais expostos (Silva, 2010).
O acidente com perfurocortante acometeu 87 (84,5%) dos dentistas no
grupo geral e 36 (90%) no grupo entrevistado. Esse tipo de acidente é o mais
comum entre enfermeiros, médicos e dentistas e é o mais grave e de maior
risco. Esses dados vêm ao encontro com a literatura que afirma ser o
perfurocortante o objeto mais frequente nos acidentes de trabalho. Nas
instituições hospitalares de outros países como Austrália, Arábia Saudita e
países europeus as frequências de acidentes com perfurocortantes entre os
trabalhadores de enfermagem são altas e variadas (Sarquis, Felli, 2002).
127
A predominância do objeto perfurocortante como causa do acidente
aparece com um percentual significativo de 53,7% expresso por trabalhadores
de enfermagem que manuseiam objetos perfurocortantes, sendo na maioria,
agulhas. O tipo de material associado à exposição em nosso estudo foi diverso,
à semelhança de Oliveira et al., (2011), o que refletiu a heterogeneidade de
instrumentos usados em Odontologia, com ligeiro predomínio de agulha oca.
No estudo de Martins, Pereira e Ferreira (2010), os acidentes
aconteceram principalmente com os instrumentos como brocas, seguidas por
sonda exploradora. Para evitar tais acidentes, deve-se tomar cuidados ao
receber, manipular ou passar instrumentos pontiagudos, não mantendo a ponta
direcionada para o profissional e para equipe. Além disso, seringas e agulhas
não devem ser reutilizadas, curvadas, quebradas ou manipuladas pelas mãos.
Procedimentos simples, como não deixar brocas e outros instrumentos
rotatórios montados no micromotor ou alta-rotação, podem reduzir os
acidentes, durante o exercício da clínica odontológica.
Além do mais, o acidente com perfurocortante é o de maior risco para
aquisição de doenças, segundo Marziale, Nishimura e Ferreira (2004), o que
pode contribuir para maior notificação e/ou busca de acompanhamento. Um
estudo, em hospital universitário, 76% das ocorrências corresponderam a
acidentes com perfurocortantes e fluidos corporais entre os profissionais que
prestam assistência á saúde (Bakke, Araujo, 2010).
O sangue foi o material biológico observado no momento do acidente
por 56,3% dos cirurgiões dentistas. O contato com sangue mostrou ser
responsável pela transmissão do HIV e do vírus da hepatite, apesar do baixo
risco de transmissão. Devem-se avaliar todas as exposições ocupacionais a
sangue ou outro material potencialmente infectante, incluindo saliva,
independentemente da presença de sangue visível.
Um estudo, envolvendo perfurocortantes, com alunos de Odontologia
em Recife, também, apontou que a maioria dos acidentes foram com
procedimentos invasivos, exposição repetida aos microorganismos do sangue
o que resultou em uma incidência mais elevada de determinadas doenças
128
infecciosas nesses profissionais do que a observada na população geral
(Orestes-Cardoso et al., 2009).
Autores como Almeida e Benatti (2007) ressaltam que o material
orgânico da maioria das exposições ocupacionais foi o sangue, com 87,3% dos
acidentes ocupacionais em trabalhadores da saúde, principalmente a equipe de
enfermagem com 71,5% dos casos relatados, a área de odontologia neste
estudo ficou com 3,2% dos casos relatados.
Machado et al. (1992), em seu estudo, apontou que é recomendável
manter os profissionais de saúde, mais intensamente expostos ao risco de
transmissão do HIV e do vírus da Hepatite B e C, orientados quanto á atual
dimensão do problema da AIDS no ambiente de trabalho, levando-se em conta
o sangue visível nos materiais de trabalho, a contaminação e os aspectos
emocionais que seguem os acidentes.
A topografia do acidente mostrou a mão esquerda dos profissionais
como a mais acometida nos acidentes. Foram relatados acidentes na mão
esquerda em 48 (46,7%) pessoas do grupo geral e 21 (52,5%) no grupo
entrevistado. No grupo entrevistado, foi possível caracterizar que a maioria dos
acidentes ocorreu na mão não dominante (22 de 34). Isto representou 64,7%
dos acidentes com acometimento nas mãos.
Ribeiro, Hayashida, Moriya (2007) em um estudo específico para
Odontologia, relacionando acidentes com material biológico entre estudantes
de graduação em odontologia, mostrou que, dos 122 (70,9%) alunos que
sofreram algum tipo de exposição acidental com material biológico
contaminado, a região dos olhos (53,3%) foi a mais acometida, seguida das
mãos (51,6%) e dedos (45,9%) que foram as regiões mais atingidas pelas
exposições.
Em outro estudo, que envolveu 102 cirurgiões-dentistas, 68
acidentados relataram que as partes do corpo mais envolvidas foram,
respectivamente, os dedos das mãos, em 25 casos, seguida do dorso das
mãos, em 20, a palma da mão, em 18, olhos, em 4, e antebraço, em 1 acidente
(Gabler et al., 2012).
129
Os EPIs mais utilizados pelos profissionais foram as luvas
descartáveis, em 89 (86,4%) dos dentistas no grupo geral e 32(80%) no grupo
entrevistado, somente 10(9,7 %) do grupo geral e 4 (10%) do grupo
entrevistado estavam sem nenhum EPI.
Martins, Pereira e Ferreira (2010) relatam que uma única luva pode
reduzir o volume de sangue injetado por agulhas de sutura em 70% e, no caso
de agulhas ocas, a luva pode reduzir de 35% a 50% a inoculação do sangue.
Garantir o uso de EPI com material de boa qualidade diminuirá riscos
de contaminação para todos, cirurgiões, equipe e pacientes. Timler et al.,
(2014) relatam que a qualidade das luvas e o uso de duas luvas podem
contribuir para redução de exposições. Isso pode não ser uma tarefa fácil, mas
medidas educativas práticas e efetivas devem contribuir para trabalhos efetivos
nesta área.
Apesar de as luvas não impedirem a perfuração, elas funcionam como
uma barreira mecânica auxiliar para diminuir o risco de contato com patógenos
transportados pelo sangue e outros fluidos corporais e podem reduzir o volume
de sangue injetado por agulhas de sutura em 70% e a inoculação de sangue
por agulhas para o tratamento intravenoso em 35% a 50%, considerando que
parte deste sangue pode permanecer no bisel da agulha (Marziale et al.,2007 ).
Para que haja proteção ideal do profissional contra exposições
ocupacionais, ele deve utilizar todos os equipamentos de proteção individual
recomendados, em todos os atendimentos. Quando se compreendem os
motivos e as medidas de controle de infecção, os profissionais são mais
propensos a aderir às medidas de proteção que resultem na redução da
ocorrência de acidentes com exposição à material biológico (Garcia, Blank,
2006).
Um aspecto adicional ao uso de EPIs, que contribui para acidentes é a
precarização do trabalho (equipamentos e recursos humanos), pressa,
descuido, sobrecarga de trabalho, múltiplos empregos, disposição incorreta em
bancadas de perfurocortantes que facilitem os acidentes associado, muitas
vezes, a estresse e cansaço físico.
130
Há a necessidade de uma reavaliação da estrutura e de conteúdos das
aulas de biossegurança oferecidas nos cursos de graduação e, também, uma
necessidade de reciclagem para o profissional graduado que corroborem para
a adoção de práticas seguras para pacientes e profissionais (Vasconcelos et
al., 2009).
O acidente prévio foi relatado por 33 (32%) dos profissionais, sendo
que, destes, somente 10(30,3%) fizeram acompanhamento. Segundo Garcia e
Blank (2006), profissionais que referiram acidentes, 10,8% dos dentistas e
2,7% dos auxiliares, buscaram atendimento por ocasião do acidente e 76,9%
dos dentistas e 30,6% dos auxiliares com acidentes em anos anteriores
completaram a vacinação indicada.
Um estudo realizado com 318 cirurgiões-dentistas sobre risco de
infecção ocupacional e práticas sexuais apontou que 32% não se sente seguro
em atender pacientes portadores de HIV; que 69% já se feriram com
instrumentos perfurcortantes. No entanto, apenas 24,8% procuraram o serviço
especializado e fizeram acompanhamento de tratamento. Em relação às
práticas sexuais 60,3% nunca utilizaram preservativo nas relações sexuais. O
estudo mostrou que o alto índice de acidentes ocupacionais reportados e a
insegurança diante do atendimento de pacientes portadores de HIV e/ou HBV,
quando relacionados com o baixo percentual de utilização de preservativos em
todas as relações sexuais, revelaram um contexto de vulnerabilidade
desfavorável para os dentistas pesquisados (Oliveira et al., 2011). Convém
ressaltar que não foi questionado sobre prática sexual segura no presente
estudo.
A adesão a um protocolo pós-exposição tem por finalidade a redução
das chances de infecção e seu controle, quando ocorrem. Em alguns estudos,
a não adesão a protocolo pós-exposição ocupacional foi explicada pelo fato de
os profissionais se sentirem acanhados para se submeterem ao tratamento e
também, o paciente, às medidas e ao relato de ocorrência do acidente em
questão. Entretanto, as condições de trabalho, a anamnese parecem também
interferir na adoção de protocolos pós-exposição (Martins, Pereira e Ferreira,
2010).
131
A adesão é a principal variável na qual os serviços de saúde podem
intervir a fim de aumentar a eficácia da medicação e diminuir a possibilidade de
resistência aos antirretrovirais. No entanto, são poucas as publicações
internacionais e nacionais sobre a adesão à QP em trabalhadores da saúde
pós-exposição a material biológico. Em um estudo que envolveu a prescrição
de quimioprofilaxia com antiretroviral, os dados encontrados, entre os 379
acidentados em um hospital com trabalhadores da saúde, mostraram que 165
casos (43,5%) tiveram prescrição medicamentosa com ARV, distribuídos em 62
casos (37,5%) com paciente-fonte conhecido e 103 casos (62,5%) com
paciente-fonte desconhecido. Entre os 165 acidentados com prescrição de QP,
12 recusaram a medicação, representando 7,3% de recusa (Almeida, Benatti,
2007). Donatelli (2007) relata que, para se conseguir a adesão, no tocante aos
acidentados, e diminuir o abandono, são necessários fatores como a garantia
de bom acolhimento, informações sobre a importância dos procedimentos
indicados e do seguimento, além de reestruturar o fluxo de atendimento,
retirando do acidentado a responsabilidade pela busca de resultados de
exames e estabelecer mecanismos de busca de faltosos ao seguimento (por
exemplo, por telefone).
Garcia e Blank (2006) ressaltam que a educação continuada dos
profissionais da Odontologia deve servir para melhorar o conhecimento a
respeito da transmissão de doenças infecciosas, sendo este fator
preponderante para a adesão de práticas de controle de infecção e também a
fixação de conteúdos relevantes que resultem em impactos na mudança de
comportamento dos profissionais, quanto à necessidade de aderir às práticas
biosseguras.
Entre as medidas adotadas após o acidente, a expressão local após foi
à medida mais comum em 27(31%) de 87 exposições percutâneas no grupo
geral e 11 (27%) dos 40 do grupo entrevistado. As demais medidas usadas
incluíram a lavagem com água, água e sabão, água e antisséptico em
77(74,8%), 63(61,2%) e 47 (45,6%), respectivamente, no grupo geral. No grupo
dos entrevistados, a distribuição foi bem semelhante ao geral.
132
O Ministério da Saúde, também, preconiza como medida imediata após
o acidente, a lavagem exaustiva do local exposto com água corrente e
soluções antissépticas; para exposições em mucosa, lavar abundantemente
com água ou solução fisiológica. Não há evidência de que o uso de
antissépticos ou a expressão do local do ferimento reduzam o risco de
transmissão. Não devem ser realizados procedimentos que aumentem
exposição percutânea ou cutânea, entretanto, o uso de antisséptico não é
contraindicado à área exposta, tais como cortes e injeções locais. A utilização
de soluções irritantes (éter, glutaraldeído, hipoclorito de sódio) também está
contraindicada (Brasil, 2006).
Recomenda-se após o acidente a retirada imediata da luva e as lesões
lavadas abundantemente com água e sabão e o sangramento não deverá ser
estancado imediatamente, sugere-se fazer um curativo compressivo ou sutura,
caso haja necessidade no local do acidente (Graziano, Silva, Bianchi, 2000).
A expressão local foi relatada em um estudo de condutas pós-
exposição ocupacional a material biológico na odontologia, no qual no grupo 2,
17,0% dos dentistas e 20,6% dos auxiliares indicaram espremer o dedo para
estimular o sangramento como procedimento a ser realizado após sofrer lesão
percutânea. O grupo 1 procedeu com a lavagem do local afetado, com 98,5%
dos cirurgiões-dentistas e 89,2% dos auxiliares, após lesão percutânea (Garcia,
Blank, 2006).
Em outro estudo envolvendo a realização da expressão do local
atingido, durante o acidente, esteve presente em 3,8% dos relatos como
complemento a outro cuidado entre profissionais e estudantes de odontologia
que fizeram parte da população estudada; 701 (11,6%) corresponderam aos
acidentes com acidente com material biológico, atendidos em uma instituição
de referência para o atendimento, no período de 1996-2010, em Goiânia (Lima,
2012).
Teixeira et al., (2008) relataram que a conduta profissional mais comum
seguida pelos acidentados é a de lavar bem o local afetado em um estudo que
133
envolveu oitenta cirurgiões-dentistas e mostrou que 69,5 % realizaram este
procedimento.
O tempo transcorrido até o primeiro atendimento do acidente variou
entre 30 minutos e 288 horas, sendo a mediana de 5 e a média de 14 horas.
Ao considerarmos o tempo adequado para início de antirretrovirais como 2
horas, apenas 24 (23,3%) profissionais foram atendidos nesse prazo. O
protocolo pós-exposição ocupacional recomenda ainda a realização de exames
sorológicos anti-HIV e anti-HBsAg, dos profissionais e dos pacientes fonte, a
fim de direcionar a quimioprofilaxia com antirretrovirais para infecção pelo HIV,
que deverá idealmente ser iniciada após duas horas do acidente, ou a
aplicação de gamaglobulina hiperimune para hepatite B, cuja maior eficácia é
obtida com uso precoce, dentro de 24 a 48 horas após o acidente. Além disso,
o acompanhamento clínico laboratorial deve ser realizado para todos os
profissionais acidentados que tenha sido expostos a pacientes fonte com
sorologia desconhecida ou pacientes fonte infectados pelo HIV, HBV ou HCV,
independentemente do uso de quimioprofilaxias ou imunizações (Martins,
Pereira, Ferreira, 2010).
O paciente-fonte era conhecido do cirurgião-dentista, em 90( 87,4%),
porém, as sorologias para HIV, HCV, HBV não foram solicitadas previamente
ao tratamento clínico ou cirúrgico, o que pode estar associado a falta de
conhecimento ou menosprezo ao risco de aquisição de doenças infecciosas,
falta de protocolos referenciados e padronizados, por preconceito de solicitar
tais exames, ou inabilidade em lidar com questões de pacientes que
apresentem sorologias positivas para tais doenças.
Independentemente do conhecimento de resultado de sorologia, o
atendimento deve seguir as mesmas normas de biossegurança. A vantagem da
identificação sorológica é permitir pronta adoção de profilaxia correta a cada
situação. Em vários estudos, o conhecimento da sorologia do paciente-fonte
permite redução desnecessária da terapia ARV para o profissional acidentado.
Em nossa casuística, apenas 15 (14,56%) eram HIV positivos, contudo, foram
prescritos ARVs no Pronto Socorro para 60 (58,3%) pessoas e 33 (32%)
usaram por 4 semanas.
134
Para Lima (2012), em um estudo sobre registros de acidentes com
material biológico na prática odontológica no estado de Goiás, 1996-2010, que
envolveu 701 cirurgiões dentistas com acidentes em Goiânia, a identificação do
paciente-fonte foi possível na maioria dos casos apresentados, com (82,6%).
Dado considerado previsível na odontologia, pelas características em que o
paciente é assistido; entretanto, observou-se que, em 109 casos, mesmo
sendo conhecidos, não foi solicitado pela vítima que o paciente-fonte fosse até
o serviço ou que fornecesse amostra de sangue para testagem sorológica, o
que pode estar relacionado a diversos fatores como a falta de conhecimento,
dificuldades estruturais e inabilidade técnica para coleta, dentre outras. Entre
os auxiliares odontológicos, houve maior frequência (32,3%) de paciente-fonte
desconhecido, o que pode ser atribuído ao fato desses profissionais serem
responsáveis por executar o processamento de produtos para a saúde, bem
como a descontaminação dos equipamentos odontológicos e o controle
ambiental, como os cuidados com os resíduos, atividades essas que não
caracterizam assistência direta ao paciente.
Nesse contexto, vale lembrar que o estado sorológico do paciente-fonte
é apresentado como um dos critérios para a avaliação das exposições
ocupacionais a materiais biológicos, devendo ser analisado quanto à infecção
pelo HIV, hepatite B e hepatite C, no momento da ocorrência do acidente,
sendo fundamental para a escolha da conduta a ser seguida (Brasil, 2000,
2006, 2009).
Brozoski et al., (2010) descreveram em seu estudo sobre a ocorrência
de acidentes com perfurocortantes em um curso de odontologia e, que das 40
notificações com acidentes quanto à conduta realizada, foi possível constatar
que houve 21 solicitações de sorologia, sem discriminação do teste ou do
sujeito submetido (acidentado e/ou paciente-fonte); 8 registros de prescrição de
quimioprofilaxia; 4 pacientes orientados, mas não medicados e 1 prescrição de
vacina antitetânica. Dessas, 10 (dez) notificações não descreviam claramente
quais as condutas foram tomadas.
Das 21 solicitações de sorologia, 10(dez) não descreviam os
resultados. 9 casos (acidentado e paciente-fonte) foram negativos para HIV,
135
HBV e HCV. 2 pacientes-fonte apresentaram resultados positivos: um para
hepatite B e um para HIV.
Em outro estudo, quando a fonte não possui exames, mas se
disponibiliza a fazer teste rápido, também há uma redução significativa das
indicações desnecessárias de TARV que podem, muitas vezes, demorar mais
de 48 horas, gerando mais ansiedade para o profissional que aguarda os
resultados. (Coutinho et al., 2004 ).
Os resultados sorológicos para HIV são desconhecidos. A profilaxia
com drogas antirretrovirais pode reduzir a possibilidade de infecção por HIV.
Cardo et al. (1997) apontam que o uso profilático da Zidovudina (AZT) resultou
em redução de 79% do risco de soro conversão após o acidente. A indicação
de terapia antirretroviral (TARV) é sempre nas primeiras duas horas e, no
máximo, vinte e quatro horas após o acidente, com tratamento de duração de
quatro semanas. Entretanto, segundo informações da CCIH da instituição
estudada, observa-se que muitos profissionais abandonam o tratamento,
devido à intolerância ao medicamento e, muitas vezes, dão-se conta que o
acidente causou pânico e, diante dos efeitos colaterais, interrompem a
medicação.
Shimizu e Ribeiro (2002) mostraram que os profissionais da saúde
costumam abandonar o tratamento com drogas antirretrovirais devido aos
diversos efeitos colaterais. Além disso, constataram que muitos deles
interrompem o uso da medicação porque acreditam que pode aumentar a
chance de estarem realmente contaminados com o vírus HIV. Por fim, os
resultados do estudo mostram que muitos profissionais têm medo de adquirir
AIDS, principalmente pelo estigma da doença.
Nesse estudo, o grupo dos entrevistados revelou um total de 82,5%
(33) profissionais que finalizaram o tratamento com intervenção.
Dessa forma, a profilaxia para a doença após acidente de trabalho
precisa ser abordada com cuidado, ou seja, esclarecendo-se sobre a
importância, os benefícios e os prováveis efeitos colaterais.
136
A vacina contra a hepatite-B é obrigatória. Apesar da disponibilidade e
recomendação sobre a vacinação contra hepatite B, as taxas de vacinação
entre os profissionais da área odontológica têm-se mantido consistentemente
baixa em países em desenvolvimento. As razões para as taxas de vacinação
contra hepatite-B abaixo do ideal entre os trabalhadores de saúde incluem a
falta de oportunidade, falta de motivação, falta de informação, falta de
consciência, falta de disponibilidade, alto custo da vacina, o medo de efeitos
colaterais, o medo de ser reconhecido como portador de hepatite-B, a falta de
percepção da necessidade da vacina, e crença errônea de não susceptibilidade
à infecção (Azodo et al., 2012). Em nosso estudo, 94 (91,3%) dos profissionais
referiram vacinação completa contra hepatite B, mas apenas 44 (42,7%)
realizaram controle sorológico e 27 (61,4%) destes relataram resultado protetor
(acima de 10 UI). Foram colhidas sorologias para hepatite B em 85
profissionais e 73 (77,5%) foram antiHBs reagentes. Isto reforça a importância
de realizar controle sorológico pós-vacinação e minimizar uma falsa sensação
de proteção apenas por ter recebido as vacinas.
Um estudo, de 1995, apontou que o percentual de cirurgiões-dentistas
vacinados foi o maior entre os estudos brasileiros. Resultado semelhante foi
observado entre cirurgiões-dentistas canadenses (90,6%), inferior ao
encontrado entre cirurgiões-dentistas ingleses (97%) e superior ao registrado
entre cirurgiões-dentistas japoneses (64,3%); alemães (74%) e italianos
(56,2%) (Nagao et al.,2008).
Ashfaq, Chatha e Sohail (2011), em estudo conduzido entre 139
profissionais e estudantes de odontologia de uma instituição de ensino
odontológico do Paquistão, evidenciaram dados ainda mais alarmantes, em
que, entre os indivíduos que afirmaram nunca terem sido vacinados (13,0%),
90,0% eram auxiliares de saúde bucal.
Um estudo realizado por Kabir et al. (2010), no Iran, entre alguns
profissionais da área da saúde, observaram que 100,0% dos CD pesquisados
informaram vacinação contra hepatite B, sendo que desses, 75,0% haviam
realizado o anti-HBs.
137
No Brasil, ao comparar resultados de estudos da década de 1990 e
2000, foi observado um aumento no percentual de cirurgiões-dentistas
vacinados, principalmente entre aqueles que participavam de congresso
odontológico no período de 1991 a 1996, sendo de 9,29% a 34,7% e variando
de 73,1% a 82,2% nos anos 2000. Essa observação, provavelmente, evidencia
o impacto positivo das campanhas de vacinação entre os cirurgiões-dentistas
brasileiros e o aumento da adesão às medidas para controle de infecção
(Ferreira et al., 2012).
Um dos aspectos previstos nos protocolos pós-exposição inclui a
notificação dos acidentes ao Serviço de Medicina Ocupacional, conforme
indica:
Uma portaria Nº 777/GM de 28 de abril de 2004. Dispõe sobre os procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de serviços sentinela específica, no Sistema Único de Saúde – SUS e ainda resolve que: Art. 1º Regulamentar a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador - acidentes e doenças relacionados ao trabalho – em rede de serviços sentinela específica. § 1° São agravos de notificação compulsória, para efeitos desta portaria: III - Acidente com Exposição a Material Biológico; (Martins, Pereira, Ferreira, 2010)
Os profissionais que trabalham em instituições privadas ou públicas
são obrigados a notificar; porém, para os profissionais que trabalham em
consultório particular, não há um local específico de notificação.
Na presente casuística, apenas 13 (12,7%) dentistas notificaram seus
acidentes. Garcia e Blank (2006) relataram menos notificações que esta
pesquisa.
Embora a NR-32 estabeleça a obrigatoriedade de comunicação dos
acidentes de trabalho, os profissionais frequentemente não o fazem, pois,
muitas vezes, o acidente não gera nenhuma das situações previstas na
definição de acidente de trabalho e pode não ter a transmissão caracterizada
de imediatamente em curto prazo. A comunicação, apenas quando a doença
se desenvolve, demonstra, claramente, uma negligência no componente
preventivo (Caixeta, Barbosa-Branco, 2005).
138
Para garantir os benefícios trabalhistas dos empregados em caso de
acidente, grande parte dos hospitais procura estabelecer alguma forma de
registro desses acidentes, mas, na prática, há falta de normalização desse
procedimento e uma deficiente divulgação aos profissionais de saúde. Além
disso, é necessário o estabelecimento de rotinas relacionadas às medidas de
precaução imediatas, bem como as orientações e a disponibilidade da
quimioprofilaxia em casos de acidentes com material biológico de pacientes
soropositivos para o HIV ou desconhecidos (Orestes-Cardoso et al., 2009).
Alguns acidentes, neste estud
o, aconteceram devido ao uso inadequado de técnica odontológica,
como reencape de agulhas anestésicas.
Rodrigues (2002) ressaltou que o reencape de agulhas é um fator de
risco e uma prática comum entre os profissionais de Odontologia. Em seu
trabalho, constatou que 78,6% dos CDs e 74,5% dos auxiliares de
odontologias reencapavam as agulhas antes de descartá-las. No Canadá, em
um estudo semelhante, McCarthy, Koval e Morin (1995) observaram que 60%
dos CDs reencapavam agulhas.
A seringa carpule é um instrumento de uso múltiplo e utilizada para
anestesia e pode ser esterilizada; nela são acoplados o tubete de anestésico e
uma agulha rosqueável, ambos descartáveis. A conduta segura, porém, é
descartar os materiais perfurocortantes em coletores adequados, com
dispositivo que permita que a agulha seja desenroscada e descartada sem o
auxílio da outra mão, evitando-se assim a ocorrência de acidentes. O registro
de acidentes envolvendo a atividade de reencapar agulhas indica a
necessidade de treinamento dos cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório
dentário, no intuito de erradicar práticas inadequadas e reforçar a
implementação de medidas de proteção que resultem na redução da
ocorrência de acidentes com exposição a material biológico. Considerando-se
que esses acidentes podem resultar na aquisição de doenças, é fundamental
que todos os membros da equipe odontológica conheçam as doenças que
podem ser transmitidas e seus modos de transmissão, para que possam se
139
proteger adequadamente. Quando compreendem os motivos da necessidade
de adoção de medidas de controle de infecção, as pessoas são mais
propensas a melhorarem a técnica operacional (Garcia, Blank, 2006).
Em um estudo sobre a epidemiologia dos acidentes ocupacionais com
material de risco biológico, em São Paulo, com a equipe de enfermagem, onde
a atenção com a técnica é importante, alguns acidentes são acusados por
desprezo do material em local inadequado, levando ao acidente de um
profissional que nem sempre estava diretamente envolvido no procedimento.
Esse fato é também uma causa passível de intervenção técnica preventiva
(Bakowski, 2012).
Convém enfatizar que o acidente com material perfurocortantes muitas
vezes, influencia negativamente a vida do profissional acidentado em razão do
estresse psicológico, mudanças nas práticas sexuais, nos relacionamentos
sociais, familiares e profissionais, principalmente durante o período de espera
de resultados e a possibilidade de soroconversão. As mudanças variam, por
exemplo, o estilo de vida, como, a abstinência sexual ou a prática sexual
segura, a suspensão de aleitamento materno até a confirmação da ausência de
soroconversão, detectada após a realização dos testes sorológicos. Essas são
práticas rotineiras que passam a ser vistas como algo proibido, ensejando
conflitos para si e para seus componentes familiares.
A experiência proporcionada pelo acidente de trabalho com materiais
perfurocortantes gera sentimentos como medo, angústia, desespero,
ansiedade e tensão. Tais sentimentos são sempre decorrentes do medo de
terem sido, possivelmente, infectados pelo vírus HIV, em primeira instância, e,
depois, pelo da hepatite B e C, em razão de alterações permanentes no modo
de viver, oriundas da infecção por estes vírus. Além disso, a AIDS é uma
doença incurável e, portanto, reflete a proximidade da morte, pois o medo é
causado por estar assustado com algo, uma dor, a rejeição de uma pessoa ou
grupo, a perda de alguma coisa ou alguém, ou o momento de morrer (Lima,
Pinheiro, Vieira, 2007).
140
Nesse estudo, o acidente de trabalho com perfurocortantes apontou
que os mesmos aconteceram em momentos de estresse, seguidos de falhas
de ordem técnica e falta de conhecimento dos profissionais em como agir
diante da ocorrência. Protocolos de exames sorológicos podem contribuir para
um rápido diagnóstico da situação e nos procedimentos a serem seguidos,
além de colaborar, para diminuir custos.
141
6 CONCLUSÕES
___________________________________________________________________
142
• A maioria dos cirurgiões-dentistas atendidos no ambulatório do IIER foi
do gênero feminino, até 34 anos, trabalhando em consultórios
particulares durante o dia e que não fizeram CAT- SINAN (notificação da
medicina do trabalho).
• Na maioria, foram auto-acidentes percutâneos durante procedimentos
com agulha oca e, principalmente, acometendo a mão esquerda (não
dominante).
• Aproximadamente 35% dos entrevistados relataram acidente prévio e
número semelhante executou expressão da região perfurada.
• A fonte é sempre conhecida, mas não realiza exames sorológicos por
ocasião do acidente
• Quanto às práticas de biossegurança, observou-se: carteira de
vacinação e uso de EPIs foram incompletos. EPI mais usado foram
luvas, e metade dos profissionais usavam avental e/ou máscara.
• Foram relatados inadequações de técnica odontológica como
negligência na lavagem das mãos, sutura guiada pelo dedo do
profissional, reencape de agulhas. Profissionais formados há menos
tempo sabiam o que fazer e onde buscar atendimento.
• Após acidente, cerca de 1/3 dos profissionais fez expressão local e
lavagem com água e sabão. Menos da metade usou antisséptico.
• O motivo principal dos acidentes foi de ordem pessoal, relacionado à
desatenção, descuido, distração e estresse.
• Alguns acidentes foram banalizados, pois o profissional, embora
dissesse na entrevista que não houve mudanças após o mesmo,
confirmou, posteriormente, a saída do emprego, readequando-se a outro
local de trabalho, o que contradisse sua fala e comportamento.
• Outros profissionais, embora não banalizassem o acidente, atribuem à
profissão um risco inerente a ela.
143
• Quanto à ordem de trabalho, os principais fatores foram relacionados a
estresse e a insatisfação pessoal. O cirurgião-dentista deveria ter um
roteiro melhor orientado muito bem orientado para acidentes.
• Os profissionais acidentados entrevistados relataram mudanças na
rotina de trabalho e a questão pessoal foi a mais referida para a melhora
no autocuidado, na atenção e no reconhecimento de limites na própria
profissão. Na questão de ordem técnica, também se evidenciou maior
cuidado com uso de EPIs e maior adequação de técnica profissional.
• Foram relatados impactos nas relações familiares, nas relações de
trabalho, com dispêndio de tempo, finanças e desgaste psicossocial com
o tratamento.
144
7 SUGESTÕES
___________________________________________________________________
145
As sugestões visam à eliminação e/ou neutralização de fatores
envolvidos nas questões do acidente com perfurocortantes, dentre eles:
É importante rever a organização do trabalho, adequação do número de
pacientes e de procedimentos quanto ao período de atendimento,
introdução de pausas para descanso durante a jornada, adequação da
carga de trabalho aos recursos disponíveis, ajuste da quantidade de
locais de trabalho com sobrecarga, dentre outros para minimizar ou
eliminar fatores predisponentes aos acidentes;
Outro aspecto se refere a análise da disponibilidade e possibilidade de
uso de dispositivos de segurança que evitem o reencape das agulhas
carpule nos procedimentos de analgesia;
Maior atenção quanto ao dia da semana, levando-se em conta a sexta
feira como o dia de maior estresse e risco para os acidentes;
Disponibilização de recipientes para descarte de perfurocortantes
instalados em locais próximos à sua geração, em tamanho adequado à
demanda, assim como substituição correta deles. É fundamental que os
profissionais sejam instruídos a utilizá-los de modo seguro;
Uso de EPI em quantidade, qualidade e tamanho adequado aos
profissionais e à demanda de atendimento, bem como de medidas que
visem facilitar a aderência de uso pelos profissionais;
Uso de EPIs e busca de técnicas mais seguras podem ser adquiridas,
por meio de divulgação em congressos e entidades de classe que visem
à educação continuada, como medida para se obter conhecimento.
Maior domínio da técnica odontológica por meio de aperfeiçoamentos e
especializações que ampliem o olhar do profissional.
Uso de Técnicas de meditação, relaxamento, tai chi chuan ou esporte
que possam diminuir estresse físico e mental, ansiedade, prevenção da
depressão e favorecer elevação da autoestima, melhoria do sistema
imunológico e prevenção de doenças;
146
Apoio psicológico com psicoterapia para tratar de emoções e situações
cotidianas conflitantes o que possa auxiliar no gerenciamento adequado
entre a profissão e a vida.
Em algumas situações os profissionais podem se beneficiar da inserção
do conteúdo de segurança no trabalho, nos currículos de graduação dos
cursos de odontologia, para capacitar e identificar riscos ocupacionais e
como prevenir acidentes.
Trabalhos preventivos relacionados ao estresse desde a graduação de
Odontologia.
147
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158
ANEXOS
___________________________________________________________________
159
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO (TCLE)
Este é um termo de consentimento livre e esclarecido que visa convidá-lo para participar como
voluntário desta pesquisa intitulada: “Avaliação de Cirurgiões Dentistas atendidos pela CCIH do
Instituto de Infectologia Emílio Ribas e mudanças da rotina de trabalho, após exposição a acidente
de risco”.
E que apresenta como objetivos:
• Caracterizar os aspectos epidemiológicos dos acidentes ocupacionais em cirurgiões dentistas
com material de risco biológico.
• Identificar quais as práticas de biossegurança são adotadas pelos profissionais que realizam
procedimentos com instrumentos pérfuro – cortantes.
• Avaliar o grau de percepção dos cirurgiões-dentistas frente ao acidente e as mudanças de
comportamento após acidente e profilaxia medicamentosa.
Será aplicado um questionário com duas partes, sendo que a primeira contém: informações
pessoais, informações profissionais e outras informações ligadas a biossegurança. E a segunda parte
possui questões do acidente com instrumento pérfuro-cortante. Nesta pesquisa a sua participação é
somente o preenchimento de questionário. Os resultados, ao final da pesquisa, caso queira será
fornecido.
A pesquisadora responsável é Kátia Ferreira dos Santos, aluna do Curso de Pós-Graduação em
Ciências da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES/ SP), sob a orientação da Prof. (o). Dr.
Nilton José Fernandes Cavalcante (Emílio Ribas – SES/ SP). A mesma coloca-se à disposição para
discutir e esclarecer quaisquer dúvidas sobre o trabalho, em qualquer etapa do estudo. Não há despesas
pessoais para os participantes em qualquer fase do estudo e, também, não há compensação financeira
relacionada à sua participação. Serão assegurados o anonimato e o sigilo sobre as declarações, assim
como o direito de não participar ou retirar-se da pesquisa em qualquer fase, sem que isso implique em
penalidades de qualquer natureza, permanecendo as garantias a mim oferecidas. Caso os participantes
queiram tirar dúvidas quanto a ética da pesquisa poderão procurar diretamente o Comitê de Ética em
Pesquisa do instituto de Infectologia Emilio Ribas, situado na Av: Dr. Arnaldo, 165 - Casa Azul (
fone:3896-1406).
Eu,________________________________________________________, declaro também que, após ter
sido convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em
participar desta pesquisa.
Assinatura do participante: ____________________ ______/______/2013.
_____________________________ _____/______/2013.
Kátia Ferreira dos Santos
(Pesquisadora que obteve o TCLE)
Para quaisquer outros esclarecimentos, favor contatar: Fones: (0xx11) 2674-7743/ E-mail: ka.fs@ig.com.br
160
ANEXO B – QUESTIONÁRIO – PARTE 1
Instruções para preenchimento do QUESTIONÁRIO
Você deve preencher esse questionário usando caneta esferográfica.
O questionário consta de:
Parte I
• Informações pessoais_____ 09 itens • Informações profissionais__ 05 itens • Outras informações_______ 14 itens
A- INFORMAÇÕES PESSOAIS
Nome: __________________________________________
• Idade: _______
• Sexo:
1. Feminino 2. Masculino
Estado Civil
• Casado
• Viúvo
• Divorciado
• Separado
• Solteiro
• Vive em união livre
Cor ou raça
1. Parda
2. Preta
161
3. Branca
4. Amarela
5. Indígena
Local de nascimento
• Cidade
• Estado: _____________ ( ______ ) não preencher
• Há quanto tempo reside no Município de São Paulo
1. menos de 1 ano
2. de 1 a 5 anos
3. de 6 a 10 anos
4. 11 e mais anos
5. nasceu em São Paulo
• Escolaridade
1. Curso ____________________________________
Ano de conclusão _________ Instituição__________________________________
Pós-graduação - Obs: No caso de ter concluído alguma pós-graduação preencher
também as informações da graduação
2. especialização
Área _____________________
Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________
Área _____________________
Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________
3. mestrado
Área _____________________
Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________
4. doutorado
Área _____________________
Ano de conclusão_________ Instituição__________________________________
162
• Endereço de moradia
Rua/ Av______________________________ nº ______ complemento _________
Bairro: ___________________________________
Telefone: _______________ / ________________
E mail de contato: ___________________________
B- INFORMAÇÕES PROFISSIONAIS
• Cargo atual
• Cirurgião-Dentista
• Médico
• Enfermeira
• Outros
• Se cirurgião-dentista qual/ quais a área de atuação e o período:
área 1: _______________ período: ____; _____
área 1: _______________ período: ____; _____
área 1: _______________ período: ____; _____
• Tempo de trabalho na profissão
(Obs: se tempo for superior a 12 meses favor colocar em anos)
____ anos
____ meses
• Tempo no cargo ( área predominante ou função atual
(Obs: se tempo for superior a 12 meses favor colocar em anos)
____ anos
____ meses
163
• Quantos pacientes atende em média por dia com procedimentos
executados
( )1 a 5
( ) 6 a10
( ) 11 a 20
C-OUTRAS INFORMAÇÕES
Lava as mãos quando da execução dos procedimentos clínicos rotineiros?
( ) sim ( )não
Qual o material utilizado?
______________________________
Usa luvas descartáveis em todos os procedimentos?
( ) sim ( )não
Lava as mãos antes dos procedimentos cirúrgicos?
( ) sim ( )não
Qual o material utilizado?
_______________________________
Utiliza algum tipo de produto especial após lavagem das mãos?
_______________________________
Usa luvas descartáveis cirúrgica em procedimentos cirúrgicos?
( ) sim ( )não
Já sofreu algum tipo de contaminação em procedimentos?
( ) sim ( )não
Caso seja afirmativo qual o tipo?
164
Segue protocolo de paramentação quando em cirurgia?
( ) sim ( )não
Usa duplas em procedimentos cirúrgicos?
( ) sim ( )não
12. Tem percepção de perfuração de luvas quando executa procedimentos
cirúrgicos?
( ) sim ( )não
• Caso afirmativo, efetua a troca de luva durante o ato cirúrgico?
( ) sim ( )não
• Você é canhoto ( ) ou ( )destro?
165
PARTE 2 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DO
ACIDENTE COM PÉRFURO CORTANTE.
I) IDENTIFICAÇÃO
Nome:
Sexo: ( )masc. ( )fem. Estado civil:_________, Idade:___________
Categoria profissional:______________Tempo de serviço_______
Turno de trabalho: ( ) M ( ) T ( ) N Jornada ( ) 6hs ( ) 8hs ( ) 12hs
Número de empregos:___________
II) DADOS REFERENTES AO ACIDENTE DE TRABALHO
Tipo:_________________________________
Data do acidente:_____________Horário:__________
Objeto causador:_______________ Região atingida__________
Uso de precaução: ( ) sim ( )não
Qual:________________________________________________
Procurou o serviço público de atendimento de imediato ? ( )sim ( ) não
Descrição sumária do acidente e consequências:
III) INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:
O que mudou na sua rotina de trabalho e na sua vida depois do acidente?
ASS: DATA:
166
ANEXO C – FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE ACIDENTE COM
MATERIAL BIOLÓGICO
167
168
169
170
ANEXO D – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
171
172
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