amor,sexo & traição - midu gorini

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Midu Gorini AAAAmormormormor, sexo, sexo, sexo, sexo & traição& traição& traição& traição

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Amor, sexo & traição Contos de Midu Gorini

Epígrafe Indispensável

― Quem sabe respirar o ar de meus escritos

sabe que e um ar da altitude, um forte ar. E preciso ser feito para ele, senão o perigo de se resfriar não e pequeno. O gelo esta perto... , mas com que tranqüilidade esta todas as coisas, a luz, com que liberdade se respira... , o autentico livro do ar das alturas. Friedrich Nietzsche.

Preâmbulo

― São quarenta contos de suspense, terror e

drama para poucos, todos possuem o ar forte da altitude, o gelo esta ao lado, resta saber se você e feito para eles e sabe respirar o ar forte das alturas. Um ar, com pouco oxigênio e fragmentos de fatos verídicos, regados a sangue frio, dominados por violenta emoção. Midu Gorini

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Índice

Orkult Maldito ................................................ 8

“Amor, bem vindo ao mundo da AIDs” ....... 16

Sandoval, o escravo sexual. .......................... 21

A Amante ...................................................... 27

As Viúvas de maridos vivos. ........................ 34

O Corno ........................................................ 39

Temores Ardentes ......................................... 42

A vingança macabra ..................................... 51

Boa noite Cinderela! ..................................... 62

A Traição ...................................................... 66

Terror no apagão ........................................... 70

O Baile .......................................................... 78

O Maldito ...................................................... 85

Segredos Ardentes ........................................ 90

Amor Bandido! ............................................. 99

A Traição Fatal ........................................... 109

A morte pede licença .................................. 117

As Esposas .................................................. 122

Os Amantes ................................................. 127

Sobrevivi ao inferno ................................... 134

Amor Perfeito! ............................................ 142

Desejos Ardentes ........................................ 148

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Desejos Proibidos ....................................... 157

O Estuprador ............................................... 163

O triângulo amoroso ................................... 170

Infidelidade ................................................. 180

O julgamento final ...................................... 184

O Paciente terminal..................................... 194

O assassinato da Maria Chuteira ................. 200

O ladrão de sexo ......................................... 213

Perdido na solidão da noite ......................... 218

Mulher casada procura ................................ 225

Um estranho casal ....................................... 231

A fantasia sexual ......................................... 239

Uma estranha noite de amor! ...................... 249

O assédio sexual ......................................... 256

A escolha .................................................... 264

O garoto de programa ................................. 270

A garota de programa ................................. 274

O beijo na boca ........................................... 281

Imagens

As imagens fotográficas foram captadas na

internet, em sites de livre domínio. Portanto

são de domínio público e continuam assim.

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Orkult Maldito

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AGATHA uma jovem senhora, casada há pouco tempo com Vladimir, ela adorava teclar no Orkut, assim como ele adorava a novela depois do jornal da noite. Mais uma vez o casamento entre eles se deu perfeito, sem filhos para cuidar, enquanto Vladimir assistia à novela, Agatha teclava no Orkut. O casal vivia na mais completa felicidade, sexo com muito amor e paixão uma vez por semana, aos domingos, dia que não passava novela na televisão e Agatha descansava do Orkut. Contudo com o passar do tempo, paulatinamente a rede de relacionamento foi se tornando enfadonho para a jovem senhora, então ela teve uma grande idéia, resolveu apimentar a sua rede criando um perfil falso, porque não todo mundo já fez isso, que mal a nisso pensou Agatha com seus botões. Assim surgiu reluzente Flávio D’ Vieiras Antônio, lindo, maravilhoso com uma foto escolhida a dedo, por Agatha, em um discreto site pornô da Itália. Sexualmente um homem

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completo, um amante de habilidades perfeitas, refinadas, sedutor de palavras lavradas criteriosamente escolhidas nos mais requintados sites românticos de Portugal.

Palavras que ficavam cravadas fundas nos corações das mais exigentes jovens e belas mulheres que freqüentavam as páginas do Orkut, D’ Vieiras era um verdadeiro Don Juan moderno e repaginado. Mas no perfil “fake” do Orkut existia um único dado verdadeiro, a cidade de Natal, local onde o casal Agatha-Vladimir residia.

E como num passo de mágica Agatha se viu no meio de um maravilhoso mundo virtual, onde tudo era belo, o amor e a paixão reinavam o tesão a flor da pele. O desejo de aplacá-lo a luz dos olhos, um mundo onde se podia dizer “te amo” e quero me casar com você ao bel prazer.

Maravilhada Agatha vivendo na pele de Flávio D’ Vieiras Antônio, tratou de tentar identificar os perfis verdadeiros que passaram a ser adicionados na sua pagina, depois os perfis mais interessantes e “calientes”.

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Resultando na escolha de dois perfis, após três meses de intensa troca de informações no espaço virtual.

O primeiro escolhido para o delírio da jovem senhora, era o perfil de Carla ex-noiva do seu querido marido Vladimir. Carla se mostrava cada vez mais seduzida e apaixonada por D’ Vieiras, ela queria encontrá-lo para uma entrevista íntima em algum bom motel da capital potiguar o mais rápido possível, estava morrendo de tesão era um verdadeiro vulcão em erupção.

O outro perfil selecionado era de Sandro Mauro, ele se dizia morador de Natal, 30 anos, homossexual contumaz, raramente heterossexual. O rapaz possuía um perfil sensual com alto grau de erotismo que mexeu e remexeu intempestivamente com as fantasias mais intimas e inconfessáveis de Agatha. Sandro Mauro tentava a todo custo seduzir D’ Vieiras e levá-lo em seus braços cheios de burburinhos de carinhos para o leito perfeito.

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Uma interessante e excitante rotina se fez na vida de Agatha, como o seu marido trabalhava muito e nunca dava tempo de almoçar em casa com a esposa, ela teclava neste horário com Sandro Mauro. A noite no horário da novela ela teclava com Carla.

De Carla, Agatha vivendo na pele de D’ Vieiras conseguiu varias informações sobre Vladimir descobriu que ele fazia coisas com a ex-noiva na cama que nunca tinha feito com ela e outras coisas sem grande importância. Mas com o passar do tempo uma descoberta avassaladora chocou profundamente Agatha, Carla revelou para D’ Vieiras o real motivo do rompimento do noivado, Vladimir era bissexual, traía a ex-noiva com um primo dela, recém falecido em um trágico acidente de moto, foi à última vez que Agatha teclou com Carla.

Esta bombástica descoberta mexeu com os sentimentos amorosos de Agatha. Explicava a repentina tristeza do marido, a decepção com Vladimir foi muito grande, ela começou evitá-lo na cama, tinha nojo dele, quando não tinha

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jeito de evitá-lo, fingia um único e perfeito orgasmo, pois orgasmo já não mais conseguia sentir com o marido. A idéia de separação para este casamento tão recente começava a amadurecer lentamente na cabeça atordoada dela.

Toda essa situação conturbada fez com que Agatha tomasse uma decisão inimaginável para ela, até antes da fatídica descoberta.

Agatha vivendo na pele de D’ vieiras marcou um encontro com Sandro Mauro, na hora em que a sombra é mais curta, ao meio dia de quinta-feira em um discreto hotel da capital potiguar.

Lá ela pretendia revelar a ele toda a verdade, que D’ Vieiras era Agatha e ela tinha a plena convicção, a total certeza que Sandro Mauro utilizaria cheio de prazer a sua porção heterossexual esporádica para satisfazê-la de bom grado na cama.

Agatha chegou pontualmente ao hotel, como o combinado, logo ela foi informada pelo recepcionista que Sandro Mauro já se

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encontrava perfumadíssimo na suíte com a porta semi-aberta, cheio de amor para “dar”.

Quando Agatha chegou lá e abriu a porta cinematograficamente para surpreender Sandro Mauro, “à La femme fatale” revelando-lhe toda a verdade, o seu coração remoeu ódio, ela fuzilou Vladimir com o seu olhar esfolador, lhe causando um estranho tremor no corpo, a vergonha queimava-lhe o rosto. Os gritos aflitos de Agatha cortaram o tétrico silencio da suíte:

“Cretino você está se passando por Sandro Mauro para pular cerca de bundinha com o meu Flávio D’ Vieiras Antônio, com o meu perfil “fake” do Orkult, bizarro Vladimir, você é um cretino.”

Em seguida Agatha sai da suíte deixando Vladimir em prantos.

Um mês depois o casamento de Agatha e Vladimir acabou oficialmente, quanto o juiz de direito pediu para eles assinarem o divorcio. Vladimir envergonhado foi morar na capital paulista, nunca mais retornou a Natal, pois na

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capital potiguar virou motivo de piadas nas esquinas e nos bares. Carla quando soube de toda a verdade ficou indignada, entrou com uma ação criminal de falsidade ideológica e outra civil por danos morais contra Agatha, alegando que não se deve brincar com o sentimento alheio. Que resultaram em um escândalo social espetacular, amplamente divulgado pela imprensa local com todo estardalhaço, uma indenização de 25 salários mínimos em favor de Carla, além dos três anos de detenção transformados pelo juiz em um ano de trabalho voluntário em um posto de saúde da periferia de Natal. Agatha pagou a indenização, em dez prestações, cumpriu a pena de trabalho voluntário e continua solteira, nunca mais se casou, nunca mais teclou no Orkut. Ficou estigmatizada pela sociedade potiguar como sendo a mulher que quis trair o seu marido com um homossexual.

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“Amor, bem vindo ao mundo da AIDs”

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CADA VEZ que você dorme com uma pessoa, você também dorme com o passado dela, foi assim que Flávia ficou soropositiva para o HIV, ela não se conformava com a situação. Paulo lhe parecia um homem de meia idade muito distinto, bonito, charmoso, rico, jamais ela poderia imaginar que aquele homem, dormia com outros homens, além da sua esposa Sofia.

A primeira coisa que veio a mente de Flávia quando ela leu o resultado do exame, foi “vou morrer esta doença não tem cura”. Desesperada ela procurou o seu médico de confiança e ficou sabendo que a doença tem controle, à custa de um coquetel de medicamentos que provocam vários efeitos colaterais, principalmente a lipodistrofia. A notícia não melhorou em nada o estado emocional de Flávia.

Depois veio o sentimento de vergonha, como explicar aos amigos, aos familiares e a seu marido Juvenal que pegou AIDS de seu amante e patrão, um homem casado que era gay. Em seguida o sentimento de culpa,

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porque ela nunca exigiu que Paulo usasse camisinha, pois quem “vê cara não vê AIDS”, as campanhas de prevenção sempre falaram isso.

A depressão foi inevitável, ela não sabia se suportaria a discriminação por ser portadora do vírus, temia ser considerada uma “morta viva”, pois o Brasil é um país irremediavelmente preconceituoso. Sua agonia era a idéia de não ver sua filha caçula crescer, sua raiva era saber que só foi fazer o exame porque Sofia pegou Paulo na cama com outro homem.

Flávia estava perdida, não sabia o que fazer, Paulo envergonhado está isolado há dez dias em sua fazenda e provavelmente nem saiba que tem AIDS, talvez Sofia também seja portadora do vírus, mas como falar com ela ou com o seu marido Juvenal que também pode estar infectado.

O desespero só aumentava e um sentimento de vingança a sufocava, Flávia andava sem rumo e sem prumo na rua, ainda relendo e relendo o resultado do exame.

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Resolve ligar para sua casa, disse a sua filha mais velha que teria que resolver um assunto urgente da firma na capital e só retornaria no dia seguinte a tarde, isto lhe daria tempo para pensar melhor.

Flávia desembarca na estação rodoviária da Barra Funda em São Paulo, um homem desconhecido de cabelos grisalhos, descaradamente lhe dá uma cantada, “porque choras meu anjinho?”, imediatamente ela respondeu “solidão”. O homem insistiu e ela aceitou, foi até o apartamento dele, a cem metros da estação do metrô Santa Cecília, de manhã enquanto ele ainda dormia profundamente, deixou um recado escrito com o seu batom vermelho no espelho do banheiro “Amor, bem vindo ao mundo da AIDS”.

Flávia retornou para Jundiaí decidida a contar toda a verdade para o seu marido, quando ela entrou em seu apartamento, Juvenal estava na sala e lhe disse de supetão:

“As palavras da verdade são simples, estou com AIDS, fui contaminado pela minha

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amante que é viciada e eu não sabia, portanto eu tinha uma amante e agora tenho AIDS”. A notícia soou como um verdadeiro alívio para Flávia que não teria que explicar mais nada para os seus familiares e amigos, simplesmente respondeu ao marido “Vamos vencer isto juntos”. No dia seguinte ela entrou em contato com Paulo, e lhe disse que era HIV positivo, Sofia nunca descobriu o romance entre ele e Flávia, sete dias depois os exames de Sofia e Paulo deram negativos. Flávia não teve coragem de procurar o homem de cabelos grisalhos em São Paulo, gostaria de lhe pedir desculpas, mas sabia que tinha cometido um crime e se acovardou, nunca mais teve notícias dele.

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Sandoval, o escravo sexual.

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HAVIA uma luta incessante entre Sandoval e o seu destino, uma espécie de inconformismo amoroso sentimental. Jamais o destino lhe retribuiu com liberdade, sem cessar o escravizava. Por essa luta todos os seus sentimentos acabavam na dor que lhe corroia o peito.

Mais cedo ou mais tarde todos os apaixonados passam por uma fase onde a trilha sonora é a mais chorosa. “Porque me arrasto aos seus pés? Porque me dou tanto assim? E porque não peço em troca? Nada de volta pra mim?”.

Sandoval pensativo desliga o rádio interrompendo a musica do “Rei” que doía em seu peito. Ele se via nela, sempre se arrastou aos pés de sua amada e dominadora esposa Sandra, que fazia dele o que bem queria, colocava-o sempre no seu devido lugar de dia para noite, de noite para gato, de gato para sapato e de sapato para escravo sexual, servil e dócil.

Ele bem conhecia os mistérios da sua paixão, sabia que sua paixão era fogo que

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aquecia e queimava-lhe o sonho, a realidade, o erotismo, o místico, as suas mais intimas fantasias. Sandoval perdia completamente o controle nesta viagem de instinto selvagem, como a tempestade bruta na montanha sua paixão era algo inquietante que lhe retirava a razão.

Ele estava completamente domesticado por Sandra, não tinha nenhum direito a não ser consumir a sua esposa repleta de cheiros e sabores elementares, penetrantes e extremamente perturbadores que o deixavam desorientado aos seus pés.

Contudo Sandoval sabia que Sandra, um ser de amor, paixão e fogo, afeita a dominação extrema, não nascera para ser mulher de um só homem, ela tinha amantes ele estava cansado de saber disso, mas a esposa na sua vida era um hábito fatal, um vício no cio, uma crônica doença.

Enfim Sandra manifestou suas forças de vida e de morte sobre ele, primeiro Sandoval pensou em matá-la, ele não agüentava mais as freqüentes traições e humilhações, mas não se

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mata quem ama, seria renegar o seu amor por ela. Depois Sandoval pensou em suicidar-se já que abandoná-la estava terminantemente fora de questão, ele não suportaria a distância física, porém isso já seria demais, um suicídio facilitaria ainda mais a vida lasciva dela que receberia de bom grado o seu polpudo salário de alto funcionário público federal.

Assim Sandoval decompunha toda a volúpia de sua ardente paixão, remontando suas razões, às suas idéias mais intimas, os seus instintos mais primitivos, assim fez voltar todo o sentimento sentido e achou uma saída honrosa que lhe aplacasse em parte o sofrimento e a agonia dentro do seu peito. Resolveu ter uma amante, assim além de trair a sua esposa ele seria o ser dominante na relação, um verdadeiro grito de liberdade, mesmo que momentâneo e passageiro.

Decidido, com a posição financeira dele não foi difícil arranjar uma jovem mulher que se dispusesse a ir com ele realizar uma entrevista íntima em um luxuoso motel da cidade, enfim uma bela amante depois de 10

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anos de casado. Parecia tudo certo, tudo resolvido, porém na hora “H” Sandoval fracassou nas suas três tentativas de possuir sexualmente a simpática moça, que educadamente o dispensou para sempre.

Fato irrelevante para ele encarou como sendo coisa de principiante, apenas um acidente de percurso, não abalando a sua convicção de ter uma amante.

Sandoval arranjou uma nova jovem e bela mulher, desta vez foi mais precavido, antes de ir para o motel tomou um Viagra de 100mg e na hora “H” nada, só então ele percebeu que não tinha desejo de possuir mulher alguma, só queria a Sandra. Compreensiva a jovem e bela mulher entendeu a situação, ficaram bons amigos com o passar do tempo.

Sandoval fez mais uma tentativa com uma profissional do sexo e nada, conformado ele pagou a profissional, passou em uma loja de CDs e comprou um do Roberto Carlos, depois o escutou sozinho dentro do carro “Porque me arrasto aos seus pés? Porque me

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dou tanto assim? E porque não peço em troca? Nada de volta pra mim?...”. Sandoval então em um minuto sublime, como um raio prateado, a libertação penetrou até as raízes mais profundas do seu coração, libertou a sua alma, desarmou o seu espírito, apaziguou a sua consciência. Finalmente ele entendeu que não tinha desejos por outras mulheres, amava perdidamente a sua esposa Sandra e a queria do jeito que fosse. Sandoval atingiu a iluminação, a insurreição, sabia que em matéria de amor, paixão e desejo sexual saia do mapa das ilusões perdidas, das lágrimas que serpentearam o seu rosto e seguiu um rumo só seu não sofria mais. Não se importava mais em ser traído sistematicamente, não se importava mais em ser o dócil e servil escravo sexual de Sandra, fazendo tudo o que ela pedia de bom grado. Este era o preço a ser pago por ele para obter a sua plena felicidade na vida, e assim foi feito.

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A Amante

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ARNALDO mais uma vez saia do seu trabalho e observava aquela bela moça esperando o ônibus, no ponto ao lado do estacionamento que ele deixava o seu carro, discretamente passava por ela sentindo um estranho calafrio de desejo serpentear o seu corpo inteiro.

Ele nunca havia traído a sua mulher, estava casado há 12 anos, tempo suficiente para fazer Arnaldo perder o traquejo da paquera e da sedução, mesmo assim ele pediu para o manobrista do estacionamento descobrir o nome da moça, ela se chamava Renata.

E assim os dias iam passando, até que naquele fim de tarde chuvoso, ele tomou coragem e ofereceu uma carona a bela moça, a princípio Renata resistiu, mas a chuva apertou e ela aceitou. No caminho até a estação do metrô onde ela desceria, trocaram pouquíssimas palavras e um cartão com nome e telefone.

A partir desse dia, todos os dias da semana, Arnaldo levava Renata até a estação do metrô, não falavam quase nada, mas naquele dia algo diferente aconteceu, Renata

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segurou o braço de Arnaldo com carinho é disse “eu quero trair o meu marido com você, me leve a um motel”.

Atônito feito uma criança boba, ele respondeu “sim amor, já estamos a caminho”, o silencio do carro só era quebrado pelo som da respiração ofegante de Arnaldo, o suor frio brotava-lhe pela testa, suas mãos tremiam ao volante.

Quando entraram no quarto, pareciam dois alucinados no cio, Renata arrancou-lhe o paletó e a gravata com violência, a camisa e as calças com urgência de gozar. Arnaldo penetrou Renata feito um amante errante, rasgo-lhe tal e qual folha de papel, abriu-lhe como uma preciosa rosa formosa e fez-lhe tremer em suas carnes macias.

Eles se amaram como não houvesse amanhã, uma, duas, três vezes, na quarta Renata amarrou as mãos de Arnaldo na cama, subiu em cima dele, mas não cavalgou, ao invés disso começou a esmurrá-lo como uma louca desvairada, com uma força descomunal, ele não resistiu e desmaiou.

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Horas depois Arnaldo acordou dolorido, estava desamarrado e todo arrebentado, só teve a real noção do estrago quando foi procurar Renata no banheiro e se olhou no espelho, viu o seu rosto roxo, deformado pelo inchaço, não encontrou a moça, ela havia sumido.

Furioso ele foi para o seu apartamento, e contou toda a verdade para a esposa Andressa, ela se descontrolou, não se conformava com a vil traição do marido e deu uma sonora surra no Arnaldo dizendo “já que gosta de apanhar de mulher, agora vai apanhar para valer”.

Ele não reagia, apenas suportava em silencio, mais uma sessão de tortura. Depois sua mulher lhe falou aos berros “já que essa vagabunda quis acabar com o meu casamento, com o nosso casamento, somos nós que vamos acabar com o casamento dela”.

Arnaldo pega o telefone e liga para a casa de Renata, o marido dela atende, ele diz com voz calma “hoje sua mulher usou uma calcinha vermelha, deixei uma marca de chupão na nuca dela, veja você mesmo seu corno manso”, em seguida desliga o telefone.

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Dias depois, logo que Arnaldo saiu para trabalhar, Andressa atende a campainha da porta do seu apartamento, Renata lhe diz “vocês acabaram com o meu casamento, agora não tenho para onde ir, vou ficar aqui”. Andressa penalizada permite a entrada da moça no apartamento, mas diz que ela não poderia ficar lá, conversam longamente, colocam tudo em pratos limpos e uma estranha amizade começa a florescer entre elas, regada a ódio e admiração mútua. Renata ficou para o almoço e depois para o jantar, quando Arnaldo chegou do trabalho, levou um tremendo susto, mas os três conversaram e Renata acabou dormindo aquela noite no apartamento. Na manhã seguinte Renata não foi trabalhar novamente, ficou no apartamento ajudando Andressa nos afazeres domésticos, depois saíram para fazer compras, almoçaram fora e retornaram para o apartamento. No andar térreo confusas com tantos pacotes, o ódio acabou virando amor quando o elevador parou, elas nem perceberam. A porta

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se abriu e ia se fechando, quando juntas, ao mesmo tempo seguraram a porta e os pacotes, ficaram praticamente abraçadas, os seus seios se tocaram depois as pernas, isto de alguma forma mexeu com elas.

Entraram finalmente no apartamento, Andressa sentia o coração bater mais rápido e simplesmente se aproximou de Renata, mais e mais ela tremia dos pés a cabeça e a resposta de Renata foi imediata um longo e delicioso beijo em Andressa.

Ela sentia a pele de Renata ficando arrepiada, respondendo aos seus toques e carinhos, Andressa tocava o seio da amante, como se eles tivessem sidos feitos para o toque dela, instintivamente tiraram a roupa. Renata adivinhava os pontos fracos de Andressa como ninguém, e tremendo de prazer foram lentamente em direção ao quarto, à cama, os visinhos podiam até escutar os gemidos baixinho.

Era a ternura de corpos se encontrando, se amaram delicadamente a tarde toda e adormeceram uma do lado da outra.

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Quando Arnaldo chegou do trabalho, mais cedo que o normal, às encontrou assim, nuas, dormindo abraçadinhas, ele levou um choque e saiu sem fazer barulho, sem acordá-las. Retornou na hora do jantar, jantaram normalmente como nada tivesse acontecido, para o desespero de Arnaldo escutou Andressa lhe dizer em alto e bom som “amor, a Renata vai ficar aqui, até arranjar um lugar para morar”. Sem palavras ele apenas concordou com a cabeça e teve a nítida sensação que os seus chifres doíam e pesavam demais. Nota do autor: "A AMANTE" é uma adaptação livre inspirada no filme curta metragem “A Sauna”, de Marco Abujamra.

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As Viúvas de maridos vivos.

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RITINHA viu seu pai partir mais uma vez para o corte de cana de açúcar no estado de São Paulo, a maior parte do ano ele exercia essa profissão no estado vizinho, cortador de cana. Mais uma vez a seca do sertão expulsou seu pai para longe, mais uma vez a contragosto, como tantas outras mulheres no vale do Jequitinhonha, sua mãe seria chamada de “viúva de marido vivo” com a penosa tarefa de se tornar a chefe da família. Para Ritinha ficava a certeza que sua única alimentação diária seria fornecida pela merenda escolar. Quando chovia em dezembro, sua mãe conseguia algum emprego na roça do seu Geraldo, o restante do ano sua mãe fazia milagre com o pouco dinheiro, 90 reais por mês, que chegava do estado de São Paulo para criar ela e os seis irmãos pequenos. No pequeno comércio local, não havia vagas, a prefeitura entupida de funcionários públicos, não contratava mais ninguém. Quando o pai de Ritinha retornava para casa, na entre safra da cana, ficava pouco tempo, apenas três meses, deixava mais um

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irmãozinho na barriga de sua mãe e partia novamente para o corte de cana. Agora com 14 anos incompletos e um filho na barriga, Ritinha vê a historia se repetir, José, seu marido partiu esperançoso para a sua primeira temporada de corte de cana no estado de São Paulo, transformando Ritinha em mais uma “viúva de marido vivo” no sertão mineiro. Nas primeiras semanas ela recebia duas a três cartas por semana de José, com o passar dos meses essas cartas foram diminuindo, diminuindo até Ritinha não acreditar mais na saudade escrita e na volta prometida. Pouco antes de seu filho nascer saudável, José lhe escreveu a sua ultima carta, contando-lhe que tinha arranjado outra mulher. Ritinha ficou arrasada, abandonada pelo marido, rejeitada pela mãe que não aceitou a sua gravidez precoce e desprezada pela família do marido, que não aceitava o casamento. Ritinha morava sozinha em um casebre cedido pelo sogro, sobrevivia com a refeição da merenda escolar e o dinheiro da Bolsa Família, 80 reais por mês, mas procurava prover o seu

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filho Gabriel da melhor forma possível. Com o passar dos anos, Ritinha não perdia a esperança de rever o marido, um belo dia ele apareceu, lhe fez mais um filho e nunca mais voltou. Agora com um casal de filhos, Gabriel e Gabriela, e cansada de ficar sozinha Ritinha arranjou um novo companheiro, um funcionário da prefeitura de baixíssimo escalão, evangélico fervoroso, levou Ritinha para a Igreja, ela se converteu e então a fizeram escolher:

“Ou seu companheiro ou Deus” Pois ela, uma mulher casada nos laços sagrados do matrimônio, não poderia viver em pecado com seu esposo ainda vivo. Ficou sozinha com Deus, mas o pastor lhe deu uma ótima noticia, havia lhe arranjado um emprego de empregada doméstica na casa do prefeito, 200 reais por mês, uma verdadeira fortuna para ela. Dinheiro sabiamente investido na alimentação e nos estudos dos filhos, com o passar dos anos o seu marido José adoecido voltou. A principio Ritinha não quis, mas por

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insistência dos filhos e do pastor ela acabou acolhendo-o em sua casa, cedida pelo prefeito, o seu marido moribundo. O casal vivia como irmãos, nada de sexo e muito menos traição, José agora cuidava das crianças e do lar, enquanto Ritinha trabalhava na casa do prefeito. Ela sábia que o seu futuro e de sua família era incerto, mas nunca desistiu da luta para mudar a realidade de Gabriel, hoje advogado em Uberaba e Gabriela hoje professora universitária em Uberlândia. Ritinha e José continuam casados e vivem como irmãos no vale do Jequitinhonha, sertão de Minas Gerais.

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O Corno

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LUIZ homem letrado, bem afeiçoado sempre procurou a mulher certa para se casar, enquanto

isso se divertia muito com as erradas, até que um dia no baralho da vida encontrou uma dama, a mulher dos seus sonhos, das suas mais intimas fantasias. Luiza mulher de beleza acima da média, não resistiu às investidas amorosas de Luiz e logo se casaram, formava um belíssimo casal, uma bela família em uma moradia sadia de felicidade e paixão. Mas a luta pelo pão de cada dia era grande e Luiza começou a se sentir mal amada pelo marido amolecido pelo estresse do trabalho e se derreteu nos braços e abraços de outro homem bem vivido. Luiza vivia tarde após tarde um poema com poesia, suave beijava doce na tarde que arde covarde ao sol. Pensava que era uma fantasia com heresia, mas na verdade era apenas um grito de liberdade, contra a sua infelicidade dentro de um casamento que se transformou em rotina. Era puro desejo de uma alternativa, assim

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ela abandonou os resquícios de reserva e consideração pelo marido e buscou um novo horizonte sexual nos braços de outro homem.

Quando Luiz descobriu a traição de Luiza, ficou atônito, passado não teceu nenhum comentário para a sua mulher, que não sabia da descoberta. Luiz passou por um processo psicológico intenso primeiro a negação, não acreditava que era corno, depois veio à raiva ele não se culpava pela atitude de Luiza, mas culpava todos e tudo, inclusive a sogra e o trabalho extenuante.

Procurou ganhar tempo e analisou se o casamento ainda tinha alguma chance de sucesso, depois veio à fase da compreensão da realidade, com lamentação, tristeza interna e um enorme apego aos amigos e a outros que também foram corneados.

Depressivo e entristecido veio à fase da aceitação, Luiz resolveu por amor não falar nada com a Luiza, e levou o casamento em frente como nada tivesse acontecido ou acontecendo de novo nas tardes que ardem quentes ao sol.

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Temores Ardentes

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MAIS UMA vez às quartas-feiras de manhã, Beatriz fazia a sua rotina dos últimos quatro meses, deixava o seu filho Edgarzinho na porta do colégio, depois pilotava com maestria a sua BMW branca até um Shopping Center próximo. Estacionava o seu carro e com grande tensão nervosa caminhava até o banheiro feminino do lado externo do Shopping, retirava da sua sacola de tamanho considerável, uma muda de roupa preta, peruca morena, chapéu vermelho e óculos escuros. Depois vestida e disfarçada, com os nervos a flor da pele, que a excitava ainda mais, fazendo uma estranha mistura de prazer com medo no seu corpo, ela caminhava tremula até o ponto de taxi, pedia para o motorista levá-la até o estacionamento do Hipermercado, que não ficava longe. Lá Beatriz embarcava na velha camionete com vidros escuros de seu amante Paulo, em seguida eles se dirigiam até um discreto Motel e por duas horas e meia se amavam como não se houvesse amanhã. Saciada nos seus instintos mais íntimos,

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Beatriz pagava a conta do Motel e com os nervos aflorados pelo medo de ser descoberta novamente se disfarçava, retornando para estacionamento do Hipermercado. Onde pegaria um taxi até o Shopping e depois de mudar de roupa, com a sua BMW iria até o colégio, onde Edgarzinho a aguardava, seguindo depois para a sua casa. Mas nesta quarta-feira ensolarada, algo deu errada, quando ela desceu da camionete do Paulo e seguia caminhando até o ponto de taxi, Beatriz foi interceptada por uma mulher, que calmamente lhe falou: “Eu sei que você desceu da camionete do Paulo e agora está indo para o Shopping pegar a sua BMW branca e essa informação que possuo deve valer algum dinheiro” Beatriz entrou em pânico, simplesmente abriu a carteira e deu o dinheiro para a desconhecida, ficando apenas com o suficiente para pagar a corrida de taxi até o Shopping. Beatriz não conseguia raciocinar direito, mal conseguia dirigir a sua BMW, tal seu estado de nervos, ela pegou Edgarzinho no colégio e

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chegou a sua residência em frangalhos, o seu corpo doía de tanta tensão. Edgar o seu marido, chegou logo em seguida e não demorou muito para perceber o estado deplorável da esposa: “Beatriz alguma noticia ruim, aconteceu alguma coisa” Ela dissimulou: “Não amor é apenas uma forte enxaqueca, já tomei remédio, deve passar logo” Acabaram almoçando como nada tivesse acontecido. Depois do almoço ela se trancou no quarto, apavorada com a possibilidade do seu marido descobrir a sua traição, Beatriz não raciocinava direito, pensava como olhar nos olhos do filho Edgarzinho, explicar para os parentes e amigos o ocorrido. Começou a chorar quando imaginou a notícia no jornal: “Socialite casada com eminente advogado da cidade se separa, ela o traía com o jardineiro da mansão de nome Paulo”. Chorou mais ainda quando percebeu que o seu acordo pré-nupcial seria judicialmente

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cumprido na hora da separação, acabando praticamente com toda a sua mordomia financeira, adeus mansão, adeus BMW, pensou ela. Em fim depois de chorar muito, Beatriz conseguiu raciocinar melhor e concluiu que se a mulher a conhece realmente, iria chantageá-la na sua mansão, não aceitaria de jeito nenhum a quantia dada na rua. Portando deveria se tratar de uma aventureira que simplesmente deu um tiro no escuro, e não lhe procuraria mais, depois tomou uma decisão irrevogável, não se encontraria nunca mais com o seu jardineiro Paulo. No jantar e no café da manhã, Beatriz tratou Edgar como se ele fosse um reizinho, deixando o marido feliz da vida. Antes do almoço a mesma coisa, foi quando o marido disse para ela “Amor tem uma mulher te aguardando no portão”. Beatriz gelou na hora, o frio correu-lhe pela espinha, mas sem demonstrar ao marido a sua preocupação, ela foi até o portão e lá estava a mulher que a extorquira na rua. Beatriz

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concluiu que a mulher estava de conluio com Paulo, perguntou o que ela queria. A mulher respondeu que estava desesperada e precisava de muito dinheiro imediatamente, Beatriz rebateu falou que não tinha.

Então a mulher deu-lhe um ultimato, exigiu o relógio Rolex de ouro maciço que estava no pulso da Beatriz, ou ela entregava naquele momento o celular com as fotos de Beatriz entrando e saindo da camionete do amante Paulo, para o marido Edgar.

Beatriz desesperada explicou que o Rolex, pertenceu à mãe do Edgar e desde que ele a presenteou com o relógio ela nunca mais o tirou do pulso. A mulher retrucou, precisava de dinheiro urgentemente, e complementou “me entregue o relógio e nosso assunto se encerra para sempre”, neste momento o marido aparece na porta e diz “Beatriz, telefone sua mãe”.

Encurralada, discretamente Beatriz entrega o relógio para a mulher e disfarçando o braço sem o Rolex vai em direção dele, pega o telefone sem fio e conversa rapidamente com a mãe, assuntos sem importância, mas o

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telefonema deu a Beatriz alguns minutos para pensar em uma saída. Depois de conversar com a sua mãe, ela entrou na sala e falou para o Edgar que a mulher do portão era da relojoaria, que mandara o Rolex para fazer uma limpeza. Logo após pediu para a sua empregada ligar para o jardineiro Paulo e pedir que ele viesse no outro dia à tarde, porque ela queria fazer uma pequena reforma no jardim. No meio da manhã seguinte, na ensolarada sexta-feira, Beatriz liga desesperada para o escritório de advocacia do marido e noticia que ela foi assaltada, Edgar pede que venha até o escritório para explicar melhor o ocorrido e ver quais as medidas cabíveis ao caso. Em seguida Beatriz arranca bruscamente uma grosa pulseira de prata do braço, esfolando o seu pulso que ficou marejado de sangue. Beatriz chega ao escritório desesperada e diz ao marido que pegou o Rolex na relojoaria e quando parou em um sinal vermelho próximo, se aproximou um menino vendendo balas, com dó ela quis dar um dinheiro para ele.

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Quando abriu o vidro da BMW, um marmanjão surgiu não se sabe de onde e arrancou o relógio do seu pulso, deixando-o todo machucado, inchado e dolorido. Penalizado Edgar senta ao lado da sua escrivaninha, calmamente abre uma gaveta e retira o Rolex de ouro maciço, colocando-o em cima da escrivaninha. Beatriz empalideceu, o pânico correu-lhe pelas veias, ela entendeu que o seu pior pesadelo se realizou, foi descoberta, com a voz embargada e tremula, disse apenas: “Por favor, Edgar”. O marido responde ao apelo da esposa com voz calma: “Beatriz essa mulher que extorquiu você é uma detetive particular. Mas eu não queria que esse relógio marcasse o fim do nosso casamento, mas sim um novo começo, um recomeço para nós, na semana que vem é aniversário de oito anos do Edgarzinho, vamos fazer uma bela festa para ele e começar uma vida nova”. Emocionada Beatriz se levantou da poltrona abraçou o marido com carinho e lhe jurou fidelidade e amor eterno. À tarde o

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jardineiro Paulo apareceu na mansão, Beatriz deu uma boa quantia em dinheiro para ele, e disse: “Nunca mais apareça na minha frente” Sem entender nada o jardineiro agradeceu o dinheiro recebido com um sorriso amarelo e foi embora, para nunca mais voltar.

Nota Autor: O conto "Temores Ardentes" é uma adaptação livre inspirada no livro "Medo", de Stefan Zweig.

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A vingança macabra

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VICENTINA saiu do seu trabalho cansada como sempre, mas desta vez ela não resistiu, estacionou o seu velho carro do outro lado da rua, para não chamar atenção, depois olhou calmamente o carrão esporte posicionado em destaque na vitrine da concessionária de veículos importados.

Sem dúvida o modelo esporte era o seu objeto de desejo, o carrão não estava longe dos seus olhos, nem das suas mãos, ele estava longe do seu bolso.

Vicentina não pode disfarçar a sua inveja, quando viu a madame loira, sua patroa de muito tempo, sinalizar com a mão esquerda e sair da concessionária dirigindo um modelo de carro igualzinho o da vitrine, novinho em folha, brilhando, zerinho, zerinho.

No dedo anelar da madame uma grande aliança de brilhante e outra de ouro, irritada Vicentina pensou “porque eu não nasci em berço de ouro, ou gostosa como a minha patroa que logo tratou de arranjar um trouxa rico para casar, como tem homem otário nesse mundo, meu Deus do céu”.

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Vicentina desceu do carro, caminhou alguns metros até entrar em uma loja lotérica, o proprietário avisou a ela “fecharemos em cinco minutos”. Tempo suficiente para Vicentina fazer uma fezinha na mega sena. E não deu outra, ela ganhou oito milhões e quatrocentos mil. Feliz ela pensou: “Dinheiro não trás felicidade, manda buscar, mas primeiro preciso despedir a minha patroa” O que ela fez com grande prazer, depois Vicentina saiu comprando, comprou o carrão esporte, um apartamento de cobertura decorado com um guarda roupa repleto de roupas e jóias. O restante do dinheiro, cinco milhões aplicou a juros no banco garantindo o seu futuro. Ela adorava desfilar pela avenida principal da cidade, dirigindo o seu carão esporte. Observava os rapazes sorridentes para ela, cheios de amor para dar, e pensava: “Quando eu passava por aqui com o meu carro velho, ninguém olhava para mim, como o dinheiro embeleza a gente, mas também nos

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dias de hoje dinheiro compra até amor verdadeiro”. Foi nesse exato momento que Vicentina se perguntou: “Sou uma ganhadora, não resta à menor dúvida, mas será que sou uma pessoa vencedora?” E logo ela concluiu que não era uma pessoa vencedora, havia se transformado em uma pessoa extremamente egoísta e fútil, igualzinha a sua patroa madame, Vicentina teve vontade de vomitar. Atordoada e enauseada com a sua conclusão ela dirigiu o seu carrão esporte diretamente para o banco e expôs o seu problema para o gerente Geraldo, ele então sugeriu que Vicentina abrisse um negócio que permitisse a inclusão social de pessoas sem oportunidade no mercado de trabalho. E assim foi feito, com a consultoria de um economista e um administrador de empresas. Vicentina abriu um lucrativo Call Center, gerou oitocentos empregos e contratou pessoas que eram discriminadas no mercado do trabalho, como gordos, baixos, velhos, magros,

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homossexuais, ex-presidiários etc. Sua empresa lucrava o justo e pagava bem aos funcionários, que eram treinados no próprio Call Center. Agora sim Vicentina desfilava feliz da vida, dirigindo o seu carrão esporte pela avenida principal e pensava: “Agora todos me olham, pois sou uma pessoa vencedora, agora só falta eu ser realmente feliz, preciso me casar e constituir uma família”. E não é que ela conseguiu, a vida é mesmo assim, não raramente às coisas dão certo. Geraldo, o gerente do banco se encantou com Vicentina, ela se encantou com ele, mesmo com os ciúmes exacerbados de Vicentina, eles viveram felizes até hoje de manhã. Quando Vicentina no seu escritório, recebeu das mãos do detetive particular contratado por ela, para vigiar o marido, um envelope com o relatório e as fotos, tiradas pela equipe do detetive. Não restava a menor dúvida o seu marido a traia com uma mulher de quinta categoria, segundo Vicentina. E o pior ainda estava por vir, a mulher tinha um irmão procurado por

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pertencer a uma quadrilha de seqüestradores, que não raramente matavam as suas vítimas, mesmo depois de receberem o resgate. Para o detetive era eminente o risco que Vicentina corria de ser seqüestrada, pois, Geraldo foi fotografado por quatro dias seguidos, conversando em particular com o irmão seqüestrador de sua amante, ficando evidente para o detetive que havia um plano de seqüestro em andamento.

Vicentina para se proteger do marido, pediu para o detetive “plantar” provas irrefutáveis de pedofilia no computador pessoal do Geraldo, em dois dias o “serviço” ficou pronto, depois disso o detetive fez uma ligação anônima de um telefone público denunciando o fato, para a polícia.

Geraldo foi preso em flagrante, além das fotos dele com o seqüestrador, a polícia encontrou um vasto material de pornografia infantil no seu computador, ele negou ser pedófilo, mas confessou que tramava o seqüestro e morte de sua esposa Vicentina. Mesmo com o advogado de defesa

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alegando inocência de um dos crimes, ele aguardou o julgamento preso, como as provas eram irrefutáveis de pedofilia, mais a confissão de tentativa de seqüestro e assassinato, Geraldo foi condenado à pena máxima, o seu advogado pouco pode fazer para defendê-lo. Foi então que Vicentina chamou um dos seus funcionários ex-presidiário e pergunto-lhe se seu irmão continuava preso na mesma penitenciária que Geraldo foi enviado, o funcionário respondeu que sim. Ela pediu para ele levar mensalmente cigarros, chocolates e se possível dinheiro para o seu irmão que dividiria com outros dos presos, sem que eles soubessem da existência de Vicentina, em troca os presidiários judiariam bastante do Geraldo, mas sem matá-lo ou aleijá-lo, e assim foi feito. Anos mais tarde, quando o tempo de reclusão de Geraldo foi chegando ao fim o diretor da penitenciária pediu que o juiz determinasse uma avaliação psiquiátrica do preso antes dele ser posto de volta às ruas. Na penitenciaria no dia da avaliação, uma

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pequena mesa com duas cadeiras é colocada na sala de avaliação psiquiátrica, o carcereiro Julio pede por telefone para outro carcereiro trazer o Geraldo. Minutos depois ele e colocado na cadeira, junto à pequena mesa, está algemado. A psiquiatra Dra. Julia pergunta o seu nome e Geraldo cabisbaixo responde: - Qual deles? - O verdadeiro. - Suzi. Dra. Julia escreve em seu bloco, síndrome post traumática. - Como você está Suzi? - Sentado como a Doutora pode ver, por piedade não me aplique injeção, não posso pagar a consulta. Não sei por que se incomoda em vir me ver, todos vamos morrer meu mal não tem remédio estou perdido, virei mulher, não deixe o meu nome sair no jornal, que vergonha à noite irão comer o meu rabo. Dra. Julia escreve, não é homossexual, apresenta síndrome maníaco-depressiva com síndrome da perseguição. Então a psiquiatra pergunta: - O que vai fazer quando sair da prisão?

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- Virar advogado, porque vi Jesus pregado na cruz, ouvi o galo cantar, eu não quero ser a Virgem Maria, quero pegar meu avião cheio de ouro e ir para a lua, depois pra Arapiraca, você usa óculos e batom, sou o pior dos bandidos, queria ser advogado. Dra. Julia escreve delírio de grandeza, de auto-acusação, síndrome traumática com fuga das idéias. - Se você virar advogado o que falaria para o juiz? - Eu o mandaria prender o Senhor Deus. - Por quê? - Ele é um assassino cruel. - Que prova você tem contra o Senhor Deus? - Me dê uma Bíblia Sagrada. O carcereiro Julio pega a Bíblia que está na gaveta da mesa, retira as algemas do Geraldo e lhe entrega a Bíblia dizendo: - Vamos ver aonde isso vai dar. Geraldo abre a Bíblia em Gênesis 38 e lê em voz alta: - "Judá casou Er, o seu filho mais velho, com uma mulher chamada Tamar. O Senhor Deus não gostava da vida perversa que

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Er levava e por isso o matou. Então Judá disse a Onã: - Vá e tenha relações com a viúva de seu irmão. Assim, você cumprirá o seu dever de cunhado para que seu irmão tenha descendentes por meio de você. Ora, Onã sabia que o filho que nascesse não seria considerado como seu. Por isso, cada vez que tinha relações com a viúva do seu irmão, ele deixava que o sêmen caísse no chão para que o seu irmão não tivesse descendentes por meio dele. O Senhor Deus ficou desgostoso com o que Onã estava fazendo e o matou também".

- Senhor Juiz mande prender o Senhor Deus, Ele e um assassino, eu estou cansado, quero dormir.

Dra. Julia escreve em seu bloco de notas, Geraldo é mais um produto final, produzido pelo nosso sistema prisional brasileiro, e pede para carcereiro Julio levar Geraldo de volta para a sua cela.

Dra. Julia escreve no seu relatório final, “Este preso precisa sair urgentemente da prisão, para uma avaliação mais aprofundada e tratamento psiquiátrico, o seu quadro clínico

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psicológico é crítico, de difícil tratamento, ele precisa ser internado imediatamente no manicômio Judiciário. O tratamento precisa ser muito bem feito, senão, a sociedade estará correndo um grande risco, quando Geraldo for posto em liberdade.” Geraldo foi internado no manicômio Judiciário, poucos dias depois e foi considerado pelos médicos, como um caso perdido, um paciente que jamais receberia alta médica e acabaria ficando no manicômio até morrer. Vicentina não se casou de novo, mas depois de todos esses anos, ela ainda dirige feliz o seu carrão esporte zerinho, zerinho, pelas avenidas da cidade. Quando ela soube do diagnóstico dos médicos do manicômio, Vicentina apenas sorriu discretamente e pensou: “Uma pena, Geraldo fez por merecer, só que agora eu não vou mais judiar dele, vou contratar um enfermeiro, para ajudá-lo até o fim da sua vida”.

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Boa noite Cinderela!

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LARISSA amava bolsas, sapatos e garotos, sem nenhuma modéstia se considerava uma verdadeira delícia, seu esporte preferido namorar, sua atividade preferida se arrumar para a balada, seu hobby correr todos os riscos.

Larissa naquele dia acordou como de costume, às quatro horas da tarde, tomou um café reforçado, se arrumou e foi para a farmácia do seu José.

Com ele fez sexo como se não houvesse amanhã, em troca alguns comprimidos previamente transformados em pó, de Lorax, Lexotan e Rohypnol misturados, potentes sedativos que potencializam o seu poder quando ingeridos com bebidas alcoólicas.

Depois de um bom banho e com a maquiagem impecável, beijou o seu José e foi toda faceira e charmosa para o Yzi Kielv’s Bar. Famoso ponto de encontro para uma happy hour com chopps gelado e petiscos variados, logo que Larissa entrou no bar, chamou a atenção de todos, principalmente de um executivo bem trajado que exibia uma enorme aliança de ouro em seu anelar da mão esquerda.

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Larissa se fez de tímida e sentou sozinha em uma mesa, mas continuou a olhar discretamente para o executivo, que não resistiu e veio até ela, sem cerimônia ele disse com pinta de machão: “Gata você acredita em amor a primeira vista ou preciso passar novamente por aqui?” Alguns chopps depois, os dois entraram se beijando na suíte presidencial do Fru-Fru Motel, na primeira oportunidade Larissa misturou o pó preparado pelo seu José, na taça de champanhe francesa do executivo. Primeiro ele ficou eufórico e depois sonolento, dormiu o sono dos justos e só foi acordar às três horas da tarde todo ardido e fissurado, não se lembrava de nada. Pelo sangramento logo ficou claro para ele que tinha sido barbaramente violentado. Desesperado ele foi até a garagem da suíte e viu que o seu carrão esporte havia sumido, foi ate o banheiro e encontrou o seu celular, um bilhete e um pouco de dinheiro, suficiente para pagar um taxi e a conta do motel. Leu o bilhete em voz baixa:

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“ Boa noite Cinderela, você foi roubado e violentado por mim, sim violentado com o meu grande pênis de borracha, espero que tenha gostado. Diga adeus ao seu carro, veja as fotos que tirei de você, elas ficaram lindas, estão no seu celular e no meu, se não quiser vê-las na Internet vai para casa, não traia mais a sua querida esposa e seja feliz” Alguns meses depois o executivo avistou Larissa entrando no Yzi Kielv’s Bar, linda como sempre, charmosa como sempre, mas ele não podia fazer nada, pois estava com as mãos atadas.

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A Traição

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O SOL já ia alto, lá pelas bandas do interior de Minas Gerais, quando o caipira Zé das Flores, falou para a Mariazinha:

- Muié, tô indo trabaiá i só vorto di noiti.

- Tá bão Zé, vai com Deus e vê se num esqueci o facão dessa veiz, respondeu ela sem demonstrar muito interesse pela saída do marido.

Quando ele saiu da casa ao invés de ir para roça, subiu em um pé de manga e ficou bem escondido, só observando a sua mulher nos afazeres da casa.

Depois de uns bons minutos aparece um negão, vai até o pé de manga e nem percebe que o caipira estava lá escondido.

Pega uma manga e começa a chupar, pega mais uma, pega outra... pouco depois a mulher do caipira aparece e diz:

- Pode vi negão, o Zé já foi pra roça!

Sem titubear o negão joga fora a manga que estava chupando e entra na casa do caipira.

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Zé das Flores ficou transtornado, vermelho feito um pimentão, pega um facão e entra na casa. Quando ele abre a porta vê o negão chupando gulosamente os peitos da sua Mariazinha que estava peladinha, então levanta o facão e grita: - Vai morrêêêê negão!!! O negão calmamente saca um revolver 38 da cintura, aponta para caipira e diz: - Por que eu vou morrer? O caipira Zé das Flores, com voz tinhosa respondeu: - Chupô treis manga e agora tá tomando leite, assim tu vai morrê negão, manga com leite faiz mar, agora seis dão licença que eu tô indo trabaiá na roça i só vorto di noiti, só vim pega o facão que tinha esquecido. Mas o negão não se convenceu muito com a resposta e perguntou firmemente: - Porque tá vermeio caipira? Zé não se fez de rogado e respondeu: - é qui to cum muita vergonha do sinhô cumpadi, ô só os peitão caído da muié, ô só

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esse barrigão, i essas perna cheia de veia escura e torta, mi discurpi viu cumpadi, agora tô indo viu, fique a vontade. Depois desse dia Zé das Flores não voltou mais para a sua humilde casa, e pelo que se sabe o negão também não. *Nota do Autor: Conto com adaptação livre inspirado no folclore mineiro.

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Terror no apagão

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QUANDO Madalena soube da fuga de Ricardo do hospital psiquiátrico, pelo rádio do carro, sentiu um doloroso calafrio, este calafrio de medo e angústia percorreu seus ossos, relembrou bruscamente, depois de tanto tempo, aquele corpulento e estranho louco, talvez, maníaco psicopata, um medonho sádico.

Ele era um homem jovem, com olhos de alucinado, olhos azuis penetrantes, possuídos pelo mal com pupilas inquietas, aterrorizantes e angustiantes para quem as viam.

Aquele louco singular de olhar perturbador que lançava medo as pessoas, emanava ao redor de si um grande mal-estar, de sua alma e do seu corpo, dessas coisas incompreensíveis que nos fazem crer em influências sobrenaturais.

Uma tempestade desenhava-se no céu, abafado e negro, depois de um dia de calor atroz, nenhum sopro de ar movia as folhas, com o ar condicionado do carro quebrado e o transito congestionado, um calor de forno oprimia o rosto de Madalena, fazendo o seu

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peito ofegar. Ela se sentia mal, agitada, desejava chegar logo em sua casa, tomar um bom banho, jantar e dormir o sono dos justos ao lado do marido Onofre.

Então veio o clarão do raio acompanhado de um barulho ensurdecedor do trovão, um estrondo que percorreu a folhagem das arvores com uma rajada de vento gelado, em seguida o aguaceiro, a pancada d’água, chovia torrencialmente, depois o apagão tudo ficou as escuras, o transito piorou.

Madalena conseguiu chegar a sua residência com quase uma hora de atraso, não havia energia elétrica. Quando ela entrou na sala, teve uma agradável surpresa a mesa posta à luz de velas, Onofre a espera sentada à mesa, segurando um copo de vinho. Madalena fechou a porta e escutou aquela voz demoníaca do Ricardo que lhe causava um estranho tremor de pânico pelo corpo, “voltei meu amor, para te possuir de novo, agora na frente do seu amado maridinho”.

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Imediatamente estranhos arrepios tomaram conta da sua pele, os seus pés vibravam ocultos, dentro dos sapatos.

Ela se sentiu invadida de um temor confuso, poderoso, horrível, incrédula olhou para o marido, totalmente dominado, passivo, domesticado, assistia a tudo, não dizia nada. Madalena então ficou paralisada pelo medo, mas conseguiu pronunciar em alto e bom som “só não me corte de novo, não me faça sangrar novamente”.

Em estado de hipnose Onofre viu Ricardo despir lentamente a sua Madalena, ela estava petrificada pelo pavor, pelo terror de ter a sua pele novamente retalhada superficialmente pela navalha, que brilhava a luz de velas.

Ricardo penetrou Madalena de todos os jeitos, de todos os lados como um amante errante, fez-lhe tremer nas suas carnes, abriu-lhe como uma rosa preciosa, rasgou-lhe como folha de papel, ejaculou em suas pernas ternas, sem sangrá-la. Para depois se perder nas gotas de suor que serpentearam o corpo da pobre Madalena com passos embriagados de prazer,

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ofegante lhe diz sussurrando-lhe ao ouvido “hora do jantar à luz de velas”. Madalena sentou-se nua à mesa, bem a frente de Ricardo, entre eles na cabeceira Onofre. Ricardo com grande satisfação diz a ela: “Foi o seu maridinho que fez o jantar, veja Madalena ele fez um bom arroz temperado com sal, alho, cebola e cheiro verde, depois fez está carne, primeiro ele a ferveu, depois tirou todas as membranas, deixando-a bem limpinha. Em seguida a cozinhou com sal, depois às cortou nestas belas fatias que você pode ver, em seguida às fritou na manteiga temperada com ervas finas, que eu achei na cozinha. São doze pequenas fatias, quatro para você, seis para mim, e duas para o corninho, coma Madalena está uma delícia”. Ela pegou o prato servido das mãos dele e comeu um pedaço, gostou do sabor sui geniris da carne, parecia-lhe até um carinho recebido. Ansiosa com medo avidamente comeu as outras três fatias, ao contrário de Ricardo que as saboreava lentamente como se fosse uma

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iguaria dos deuses, quando ele terminou, notou que Onofre não tinha tocado no prato. Então irritado disse “corninho coma já, senão não vai ficar fortinho, para defender a sua Madalena quando eu voltar aqui de novo para jantar.”

Onofre pôs-se a tremer tão fortemente, que todo o seu corpo foi sacudido pelo tremor, um gosto amargo lhe subiu a garganta. Sentiu uma espécie diferente de náusea, ao mesmo tempo, que uma raiva cega, insensata, lhe convulsionava o peito, queria gritar, dar murros para liberta-se do horror desta realidade.

Ele fechou os olhos para não mais ver o semblante perverso de Ricardo, de riso escarninho e boca mal cheirosa que cheia de prazer, lhe escarrava em pleno rosto palavras tão infames, os seus braços amolecidos pelo medo se recusavam a transportar a carne até a sua boca.

Ricardo percebendo a indecisão dele pegou um pedaço de carne e disse-lhe, “coma corninho, coma”. Onofre comeu resignado, o naco de carne lhe fazia bola na boca, o desejo

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de vomitar era enorme, mas acabou engolindo-a, em seguida veio o segundo pedaço o desejo de vomitar lhe constrangia-lhe a garganta, no entanto passivamente engoliu a carne. Então Ricardo disse para os dois “vou embora com o seu carro Madalena, não se preocupe que vou retornar ao hospital, irá encontrá-lo estacionado lá”. Ele se levanta da mesa vai até Madalena, lhe dá um beijo na boca, depois até Onofre dá-lhe dois tapinhas no rosto e diz “só não te matei porque é um excelente cozinheiro”, se veste rapidamente e parte, sem dizer mais nada. Madalena com o seu coração remoendo ódio fuzilou Onofre com o seu olhar esfolador, lhe causando um estranho arrepio nos pêlos, a vergonha queimava-lhe o rosto, as palavras dela cortam o tétrico silencio da sala “seu covarde desclassificado, você não mexeu uma palha para me defender desse maníaco psicopata”. Neste exato momento a energia elétrica é restabelecida, a sala se ilumina toda e

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Madalena pode ver apavorara a profunda palidez na face de Onofre, seu rosto estava branco tal e qual uma vela. Ele levanta-se da cadeira com dificuldade e horrorizada Madalena viu os ferimentos do marido, só entendeu a real gravidade deles, quando Onofre lhe diz com a voz embargada “nos jantamos, os meus testículos.” Desesperada Madalena chama a polícia, pede uma ambulância, relata o destino do medonho sádico. O carro dela foi encontrado intacto, no outro dia perto de uma estação do metrô. Depois desta noite de apagão, ninguém soube mais nada sobre esse estranho louco corpulento, que atende pelo nome de Ricardo.

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O Baile

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QUE ESPETÁCULO da natureza, que vistas soberbas, aparatosas. Que abismo de beleza sem rival. Vede aqueles montes, aquelas matas estes campos, vede que rios, que céu e que sol. Este é o território mato-grossense, é o Pantanal tocando todas as gamas da poesia na terra virgem.

Índias donzelas no florejar dos anos, com saiotes de fios de pindaíba, dançavam em longas filas uma dança estudada, ensaiada, jovial e amável. Cantando e louvando Tupã criador das belas flores e da chuva mansa para mantê-las cada vez mais belas.

Na grandiosa terra virgem, surpresas incontadas encantaram os seus destemidos desbravadores. Foi nesta época de bravura rumo ao desconhecido, que aconteceram os fatos que passo a narrar.

Quando a roça e a criação do gado foram introduzidas na bela região, onde a única distração era a sanfona e a viola, depois de muitos dias de árduo trabalho. Aparecia gente com alma pura de todos os lados, muitos com

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as ferramentas e uma muda de roupa no embornal, alegres faziam um pequeno baile.

Onde se dançava, jogava truco, muitos abusavam da pinga para criar coragem e dançar com a Rosinha ou com outra “Zinha”, ali no terreiro bem varrido com a sanfona tocando o batido e o trem bom até o amanhecer.

Foi num desses bailes improvisados e amados pela gente simples da região pantaneira que a humilde mulher do Zezinho passou pelo pior bocado de sua vida. O fato começou quando um sujeito forte e arrogante com fama de “desmancha baile”, chamado Raimundo convidou a mulher do Zezinho para um arrasta-pé. A coitadinha primeiro escusou dizendo que não sabia dançar, ele insistiu e ela recusou dizendo que era casada e não ia dançar.

Raivoso Raimundo olhou para o Zezinho jogando truco e se afastou sem mais delongas, encostando-se à chaleira do quentão, bebeu muito, depois foi embora sem criar caso ou arruaça para o alívio e surpresa de todos. O sol

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já ia alto quando Zezinho e sua mulher Juraci partiram rumo a sua morada lá nas terras do Coronel Guilhermino.

No meio do caminho atravessaram um capão de mato e deram com o Raimundo e sua espingarda engatilhada na mão. Sem defesa o casal parou e rezou, mas não tiveram tempo de terminar, pois atenderam a ordem de Raimundo e ficaram pelados como bicho nascido de novo.

Raimundo deu dois tiros que remexeram a terra por baixo dos pés de Zezinho e veio uma nova ordem, imediatamente atendida pelo casal. O marido trêmulo batia palmas e assobiava uma alegre melodia, enquanto Raimundo dançava com a Juraci até ela ficar destrambelhada de tanto requebrar e o músico com os beiços duros de tanto assobiar, suas mãos ardiam como fogo.

Satisfeito com o arrasta-pé, Raimundo ordenou que Zezinho fosse embora feito um cachorro livre da corrente, se não matava sua mulher. Depois abusou da pobre Juraci de todos os jeitos de todos os lados e foi embora

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dando gargalhadas ao vento. A coitadinha humilhada, vilipendiada, chorando muito se recompôs, levantou do chão e envergonhada foi para sua casa ao encontro do Zezinho.

Chegou cabisbaixa, queria um conforto do marido, talvez até um carinho, mas o marido havia partido levando o cavalo baio, alguns mantimentos e o pouco dinheiro da casa. Inconformada com a covardia do Zezinho fugitivo foi para a casa do Coronel Guilhermino.

Com um enorme nó na garganta e muito envergonhada, emocionada Juraci contou ao coronel todo o ocorrido.

Primeiro o coronel consolou a pobre mulher, depois amaldiçoou Raimundo e praguejou contra o covarde Zezinho, em seguida chamou quatro de seus peões e ordenou em alto e bom som "arreiem os cavalos e a charrete". Com tudo arrumado e todos armados partiram rumo à tapera de sapé de Raimundo, que dormia tranquilamente na rede quando chegaram.

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Raimundo acordou assustado, mas sozinho na humilde tapera e na mira de quatro espingardas nada pode fazer, a não ser gaguejar suplicando pela própria vida. O coronel ordenou e Raimundo imediatamente ficou pelado como um bicho nascido de novo, depois o coronel olhou para a Juraci e falou “agora é com você, seja feita a sua vontade”

Com humildade, mas sem piedade a pobre mulher falou “eu só quero a justiça de Deus, coronel”, que lhe respondeu “tá certo, mas deixa eu fazer a justiça dos homens”. E assim foi feito, com Raimundo chorando e clamando copiosamente, teve um arame liso muito bem enleado nas suas honras físicas com muito capricho e esteio, ele urrava feito garote na castragem.

Em seguida amarraram a ponta do arame no pé do fogão a lenha e lhe deram uma faca muito bem afiada, mas sem a potência de um alicate para cortar o arame, depois veio à ordem do coronel em alto e bom som “taquem fogo na tapera” e assim foi feito.

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Restavam apenas dois caminhos para Raimundo: o suicídio ou desfazer-se dos seus elementos de procriação. Quando o fogo já lhe tostava os pelos, fechou os olhos e apartou-se do amarrado e com a faca ensangüentada em sua mão emprenhou-se mato adentro pedindo perdão. Por muitos dias ele fez os curativos com pó de café e cordas de fumo picado, ficou vagando pelas matas espantando as varejeiras ate cicatrizar a automutilação. E continuou vagando agora pelos vilarejos. O eunuco Raimundo ganhava comida, fumo e pinga, mostrando a cicatriz para o divertimento dos peões e dos pequenos comerciantes. Em pouco tempo engordou como um porco bem cevado, quando foi morar com um afro-descendente originário dos quilombos dos palmares, no meio da mata virgem. Depois disso ninguém soube de mais nada... *Nota do Autor: Conto com adaptação livre inspirado no folclore nordestino.

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O Maldito

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SÁLVIO OTAVIANO chegou à rua de sua residência, como nunca havia chegado antes, a pé na calada da noite escura, o carro ficou estacionado a duas ruas atrás, ele amaldiçoou os parcos ruídos da escuridão que feriam a madrugada sem maldade, mas lhe aumentava em muito o medo, estava trêmulo.

O pânico circulava em suas veias, causando-lhe estranhos calafrios na espinha, Sálvio suava frio, algumas gotas de suor serpenteavam o seu rosto como se quisessem lhe mostrar uma saída.

Apavorado ele observou atentamente a sua modesta casa, certificou-se que ela não estava sendo vigiada, depois olhou para baixo feito um enforcado. Sálvio não teve coragem de entrar pela porta da frente, preferiu pular o muro lateral de sua residência, junto ao terreno baldio e entrar sorrateiramente pela porta da cozinha.

Ele estava exausto, sabia que não podia deixar o sono anestesiar os seus sentidos, com a luz apagada coou um café negro como a noite, amargo tal e qual a morte, quente como

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um vulcão em erupção. Bebeu uma xícara e depois outra enquanto observava na penumbra da noite o relógio em cima da geladeira cotejar agoniados minutos.

Sálvio tinha certeza absoluta que ninguém sabia onde ele morava, fazia de sua casa o seu esconderijo, o seu refúgio, a sua ilha de paz e segurança na capital paulista.

Os primeiros raios de sol vieram entre nuvens acompanhadas de um forte estrondo na porta da sala, quebrando-a em mil pedaços, Sálvio estremeceu, virou-se para a porta da cozinha e se pôs em sagaz fuga voraz.

Pulou o muro do pequeno quintal para o terreno baldio como um atleta olímpico e viu desolado as chamas consumirem ao longe o seu carro popular, não havia luz no fim do túnel, estava tudo sem pé e sem perdão.

Sálvio Otaviano imóvel no meio do terreno baldio, largado ao próprio destino, mais uma vez se arrependeu de ter vivido um tórrido romance com a esposa do chefão, de ter encurtado a sua vida deliberadamente.

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Mas suas memórias recentes sangravam em borbulhante alegria, sorriam para o mundo a felicidade do amor eterno vivido. Suas lembranças vibrantes gozavam os grandes chifres do marido ferido, safadeiavam, sacaneavam e depois lirizavam com burburinhos de carinhos o prazer obtido através do amor proibido, no leito perfeito.

Pena que sua amada amante Adalgisa também deveria estar em uma situação desesperadora, talvez nem viva estivesse mais, ela só queria alguns orgasmos múltiplos, nada mais que isso. Talvez se o chefão não fosse um autoritário broxa Adalgisa não tinha adotado Sálvio, dez anos mais novo que ela, como amante e garoto de recados.

As memórias recentes de Sálvio salpicavam, continuavam em ritmo frenético cortavam, recortavam, assinalavam, sublinhavam e sem cerimônia rasuravam com um fio de esperança mansa a brutalidade da vida vivida na boca loca do submundo.

Sálvio sente pelo corte frio da navalha a primeira ferida se abrir no seu rosto, no

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amanhecer seu sangue parece poesia jorrando no silencio da incomunicabilidade, só às crianças vilipendiadas, as putas ejaculadas e mal pagas, juntamente com as esposas espancadas, entenderiam este silencio tétrico.

Sálvio sente pelo furo quente da bala a segunda ferida se abrir no seu peito, pela calma banida da mão bandida ele cai com tristeza, sem defesa, mas com reza, delirando diz balbuciando: “Esta é a lei do chefão, “o maldito” manda matar quem lhe desagrada e como eu lhe desagradei, para o resto da vida será um sujeito corno, muito bem corneado por mim, ah! Meu Deus rogo a deusa Afrodite, crias todas as delícias do amor aos amantes com delírios alucinantes agora e sempre, agora e...”. Sem o estribilho da valentia, nem o rastilho da covardia o coração de Sálvio Otaviano se calou para sempre, pouco depois sem uma lástima a polícia no local, à tarde sem uma lágrima a notícia no jornal. Restou o cheiro forte da morte no lamento do vento ao norte e a impunidade de mais um crime não solucionado na cidade.

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Segredos Ardentes

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JAIR entrou na sala de jantar do Resort Fazenda Hotel e sentou-se em uma discreta mesa lateral, pediu um vinho verde português e um prato de bacalhau a moda do chefe, solitário escutou uma voz feminina que lhe fez bem aos ouvidos e ao corpo, causando-lhe um estranho arrepio na espinha “Edgarzinho coma mais um pouquinho da sobremesa”

Discretamente ele se virou e olhou para a mesa do lado, por alguns breves segundos fitou nos olhos a jovem senhora, que discretamente retribuiu o olhar, em seguida chega o garçom com o seu vinho e Jair faz todo o ritual da prova, como manda o figurino. Quando ele se vira e olha novamente para a mesa ao lado, ela estava vazia.

De manhã Jair entra no salão do café matinal, vê Edgarzinho sozinho logo a sua frente “Qual o seu nome menino?”; “Edgarzinho”, respondeu ele desinteressado.

Então Jair insistiu: “Aposto que é Edgarzinho, porque o seu pai se chama Edgar”; “Puxa você é inteligente mesmo, só falta ser flamenguista”, respondeu ele em tom

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de ironia. Jair em tom de quem quer fazer uma amizade rápida, não percebendo a ironia do menino respondeu “Sou Mengão, uma vez Flamengo, sempre Flamengo”; “Uma pena não poderemos ser amigos, sou Vasco” respondeu Edgarzinho rindo da situação. Sem saída Jair teve que se render “ Sou Vasco desde criançinha, só estava brincando com você, vamos sentar e tomar café juntos” Quando a jovem senhora entra no salão, vê o seu filho a mesa tomando café e conversando animadamente com Jair. Ela se aproxima, Jair levanta e a convida para juntar-se a eles, ela aceita e chama à atenção do filho “Edgarzinho, você está incomodando o moço, me desculpe ele só tem nove anos, o meu nome é Beatriz o seu é...”; “Jair”, respondeu ele encantado. Tomaram café como uma família unida e feliz, depois eles combinaram de irem à piscina do Resort. Na piscina enquanto Beatriz se banhava ao sol, o seu filho se esbaldava na água com Jair, Edgarzinho estava feliz com seu novo

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amigo, recebia uma atenção que a muito não recebia de seu próprio pai. No almoço Jair procurou conversar mais com Beatriz, Edgarzinho ficou enciumado, ela comentou com o amigo do filho, que o marido não pode vir ao Resort, pois estava com uma emergência no seu escritório de advocacia. Com astúcia Jair percebeu a irritação de Edgarzinho e tratou de arrumar as coisas, sugeriu que eles fossem conhecer o novo parque de diversões da cidade, depois do almoço, o menino topou na hora e insistiu para a mãe ir. No parque Jair não acompanhou Edgarzinho em todos os brinquedos, que concluiu que seu amigo era tão medroso como sua mãe, se divertia sozinho na maioria dos brinquedos enquanto via Beatriz conversar animadamente com Jair. Chegaram ao Resort com o sol se pondo e combinaram jantar juntos às vinte horas. Novamente Edgarzinho percebeu que Jair já não lhe dava tanta atenção, durante o jantar, o menino ficou profundamente enciumado e

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irritado, com desculpa que estava cansado se retirou antes da sobremesa para dormir. Beatriz e Jair ficaram e conversaram por um bom tempo, depois ele a levou até a porta do quarto, ela abriu a porta e disse “Até amanhã bem cedinho no café”. Jair com suave violência segurou o rosto de Beatriz e lhe beijou amorosamente os lábios, ela correspondeu ao saboroso beijo e escutou Edgarzinho dizer “É você mãe”, Beatriz entrou no quarto e respondeu “Sim, querido”. Ela estava em uma encruzilhada ou se resignava de vez há um casamento de dez anos desgastado e corroído pelo tempo ou se entregava de vez a uma aventura erótica. Na manhã seguinte, eles tomaram café juntos depois foram para a piscina, Edgarzinho se sentiu abandonado pelo novo amigo e também pela sua própria mãe que já não lhe dava a devida atenção. Durante o almoço foi à mesma coisa e depois no passeio a cavalo pelo Resort Fazenda Hotel, o menino foi literalmente colocado para escanteio.

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Edgarzinho preferiu jantar no quarto, enquanto Beatriz foi jantar com Jair, o menino não compreendia o que estava acontecendo, qual segredo sua mãe e seu amigo estavam guardando dele, sentia-se culpado, mas não sabia direito o que tinha feito para gerar tamanha distância de pessoas que ele adorava tanto.

Então ele tomou uma decisão radical, resolveu vigiá-los, desceu sorrateiramente até a sala de jantar e avistou Beatriz e Jair saírem pela varanda do Resort, dali foram em direção ao bosque com árvores ornamentais.

Edgarzinho os seguiu em mais completo silencio, pensou o que será que está acontecendo, porque o meu amigo leva minha mãe para tão longe.

Entre as árvores ele viu o amigo abraçar sua mãe e segurá-la pelo quadril, Edgarzinho saiu correndo e empurrou Jair que caiu no chão levanto junto Beatriz, ela beijou Jair nos lábios e disse “Amanhã a gente conversa no café”. Saindo em disparada atrás do filho, não dando tempo para uma resposta de Jair.

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Beatriz entrou furiosa no quarto, Edgarzinho apavorado lhe falou “Pensei que Jair fosse estrangulá-la...”. Irônica a mãe o interrompeu e disse “Escorreguei, ele apenas me segurou”, depois exigiu que o filho pedisse desculpa para Jair. Edgarzinho foi dormir sem entender nada, na manhã seguinte sua mãe lhe pediu para permanecer no quarto enquanto ela falava com Jair, depois viria buscá-lo para ele pedir desculpa ao amigo.

Beatriz entrou no salão do café matinal, mas não viu Jair, perguntou por ele na recepção do Resort e recebeu um bilhete que dizia “ Beatriz tive que partir de madrugada, hoje às quatro horas embarco para Paris, onde vou fazer o meu pós-doutoramento, só retorno ao Brasil daqui a três anos, uma pena não termos nos amado, um beijo”

Beatriz percebeu que ali havia terminado a sua aventura amorosa, retornou para o quarto, mas não encontrou o filho, procurou por todos os lugares e nada, desesperada ligou para o marido, ele lhe disse que chegaria ao Resort em duas horas.

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Edgarzinho havia fugido, ele se encontrava sentado em um banco de uma pequena praça na periferia da cidade. Não entendia qual era o segredo tão bem guardado por sua mãe e Jair, depois de quatro horas cansado e com fome ele resolveu voltar, subiu no mesmo ônibus urbano que veio e retornou ao Resort. Na portaria foi reconhecido por um funcionário que o acompanhou até uma sala no saguão onde estavam os seus pais. Desesperado o seu pai lhe perguntou o que havia acontecido para ele fugir daquele jeito, sua mãe discretamente levou o dedo indicador da mão direito aos lábios e lhe fez um sinal de silencio. Edgarzinho entendeu tudo agora ele era o guardião do segredo, entendeu que sua mãe fez alguma coisa que o seu pai não poderia saber, não sabia exatamente o que, mas ele era o guardião do segredo. Ficou orgulhoso com a confiança depositada a ele por sua mãe e respondeu com voz calma e honesta “Pai eu não me comportei

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bem no Resort e com medo de ficar de castigo, fugi, mas prometo serei um filho obediente de hoje em diante”. Edgar abraçou Edgarzinho com carinho e disse “Vamos arrumar as malas, vamos para casa meu filho”. Nunca mais Edgarzinho tocou no nome Jair com sua mãe.

Nota Autor: O conto "Segredos Ardentes" é uma adaptação livre inspirada no livro "Um segredo ardente", de Stefan Zweig.

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Amor Bandido!

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LINDOMAR era um sujeito solitário, fisioterapeuta de renome, com vasta clientela na cidade, ele possuía poucos e bons amigos que se reunião regularmente no final do dia para um animado happy hours. O lema da turma “tudo vale a pena, se a alma não for pequena e a cerveja gelada”, parafraseando Fernando Pessoa comemoravam eles nos dias de semana.

Não raramente Lindomar, após o happy hours, saia acompanhado de uma ou outra amiga para um sexo vazio, nada além do prazer pelo prazer, portanto o problema da solidão de Lindomar estava justamente nos finais de semana.

Divorciado há quatro anos, sentia-se cada vez mais solitário aos sábados e domingos, contava as horas, os minutos para chegar logo segunda-feira e reencontrar a sua clientela e os seus amigos no fim do dia.

Certo sábado matando a solidão na internet, ele encontrou um site de perguntas e respostas, onde profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, respondiam as

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perguntas feitas pelos internautas, tudo feito de forma anônima, tanto para o perguntador como para o respondedor.

Lindomar adorou o site, ficou entusiasmado e logo se inscreveu para participar com o codinome Pilates, uma singela homenagem ao pai da fisioterapia. Ele achou que o site era uma boa oportunidade dele fazer um pouco de caridade e orientar essas pessoas internautas, que buscavam uma luz na área da fisioterapia.

Agora sim, Lindomar se sentia menos solitário ele passava o final de semana inteirinho orientando com a maior boa vontade, às pessoas que faziam perguntas na sua área de conhecimento, chegando até a formar uma boa clientela virtual.

Uma perguntadora com o codinome Viví, era a sua paciente mais assídua, ela sofria de LER, lesão de esforço repetitivo, em decorrência da sua profissão de costureira, especializada no desenho e confecção de vestidos de noiva. Frente a este diagnóstico de LER, Lindomar sempre utilizando o codinome

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Pilates, pediu a ela um endereço de e-mail, para melhor pode orientá-la. Assim Pilates e Viví começaram a trocar e-mails, ele a orientava no tratamento da sua doença, ela como sinal de gratidão lhe enviava poemas, a maioria de sua própria autoria. Porém Lindomar percebeu que a sua paciente virtual discretamente lhe deu uma cantada amorosa em um dos seus poemas, ele resolveu responder a ela, também na forma de poema aceitando sutilmente a cantada, levou dias compondo os versos. Começando assim um jogo de sedução entre os dois até ficarem perdidamente apaixonados, sem que um conhecesse a fisionomia ou a voz do outro, tudo era feito por e-mail, sem fotos, criaram até um blog em conjunto com os seus poemas em dueto. Com o tempo Lindomar revelou o seu verdadeiro nome a Viví, lhe enviando uma foto sua por e-mail, exigindo que ela fizesse o mesmo. Então Viví após relutar por alguns dias, revelou o seu verdadeiro nome Cristina, e lhe

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enviou uma única foto de corpo inteiro, sensual, linda aos olhos de Lindomar. Encantado com a foto, ele toma a iniciativa e sugere que está na hora de se conhecerem melhor, Cristina concorda e a partir desse dia começaram a teclar pelo MSN, todas as noites, mas sem câmera de vídeo. Situação que não perdurou por muito tempo, eles não resistiram e ligaram a câmera de vídeo na madrugada calada de um sábado abafado pelo calor de verão. Sem dizer uma só palavra Cristina com sua beleza crua mostra-se nua em suas formas mais delicadas pondo brilho nos olhos de Lindomar, água em sua boca e aroma apaixonado nos seus lábios. Em seguida ela diz “eu te amo” causando-lhe um estranho arrepio na espinha, depois Cristina complementa rapidamente, sem dar a menor chance de resposta, a ele, “vou te mandar um e-mail, agora tenho que desligar”. E como num passo de mágica a imagem dela desaparece da tela do computador, mas não dos sonhos mais românticos de Lindomar.

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O e-mail recebido por ele foi avassalador, Cristina revela que se Lindomar quisesse encontrá-la e continuar o romance, em dois dias ela iria a Curitiba fazer compras de aviamentos para os vestidos de noiva que ela confeccionava. Lindomar completamente apaixonado aceita encontrá-la e combina os detalhes finais do encontro, também por e-mail.

Ele chegou ao aeroporto Afonso Pena, na capital paranaense às nove horas da manhã, seguiu direto para a estação rodoviária, onde Cristina desembarcaria as dez.

Se encontraram com brilho nos olhos, um discreto comprimento em público, pois ela temia que algum conhecido os visse entre beijos e abraços, foram para a loja de aviamentos fazer as compras, conversaram pouco, depois se hospedaram em um discreto hotel.

Os ruídos da rua feriam à tarde sem maldade, de mãos dadas Lindomar e Cristina entram no quarto, trocam olhares, palavras, trocam bocas, gostos. A mão dele acariciava as

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costas dela com malícia, os seus dedos descansam suaves nos lábios da loira doce de doce abrigo. Lindomar sentia o desejo nos lábios de Cristina como a tarde que arde ao sol. Mas ela relutou e lhe disse com voz languida: - Sou casada.

Lindomar lhe respondeu suavemente: - Eu te amo e quero ficar com você, não temas a traição, agora a minha boca convida o teu desejo com dentes de marfim, aroma e água, bela e pura, nua e crua para o leito perfeito.

Sem uma palavra Cristina não resistiu aos encantos sedutores que fizeram o seu coração bater enamorado e com um abraço abrasado se entregou com movimentos ardentes, ofegantes, alucinantes às vezes leves suaves e tentantes, às vezes violentos como os movimentos das grandes tempestades.

Lindomar penetrou Cristina como um amante errante, fez-lhe tremer em suas carnes, abriu-lhe como uma rosa preciosa, rasgou-lhe como folha de papel, ejaculou em suas pernas ternas, para depois se perder nas gotas de suor

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que serpenteavam o corpo da amada com passos embriagados de prazer. Cristina respirou com gosto a natureza sem censura daquela intimidade, transpirou com gozo o destino sem futuro daquele amor bandido, saciando os seus instintos mais primitivos em suas fantasias mais íntimas. Depois ela revelou com mais detalhes a Lindomar que era casada com Eugenio, tinham uma filha de 18 anos chamada Mariana e se Lindomar quisesse continuar o romance mesmo assim, deveria aceitar a situação como ela era, pois Cristina amava o seu marido e julgava ser ele o seu companheiro ideal. Lindomar completamente arrebatado rende-se a situação, aceitando ser seu amante. Retornaram para as suas respectivas cidades à noite, ela no ônibus das vinte horas ele no vôo das vinte e duas. A meia noite eles já estavam nas suas respectivas casas, teclaram pela internet com a câmera de vídeo ligada, sem Cristina perceber, Eugenio passou por detrás dela fixando o seu olhar na imagem de Lindomar na tela, ele

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perguntou a ela “quem é?”. Cristina respondeu “é o fisioterapeuta, ele vai atender você amanhã ao meio-dia”, depois teclou rapidamente para o Lindomar entrar on line ao meio dia, sem falta, desligando o computador em seguida. No outro dia pontualmente ao meio dia, Lindomar escutou pelo MSN às queixas das dores nas costas de Eugenio que o tratava ironicamente como se ele, Lindomar, fosse um homossexual. Irritadíssimo com a ironia, o fisioterapeuta encurtou a consulta virtual, deu apenas algumas dicas para Eugenio diminuir as suas dores e encerrou a conversa, alegando que tinha um paciente de emergência à sua espera. À noite Lindomar teclou novamente com Cristina, ela lhe disse que falou para o marido que ele era gay, para não despertar ciúmes nele. Lindomar ficou inconsolável com a solução encontrada, pela amante, pois era um fisioterapeuta de renome, tinha amigos que

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moravam na pequena cidade de Cristina e uma fama repentina de homossexual, era uma coisa que ele não queria, era se humilhar demais perante a mulher amada. Então Lindomar achou por bem terminar o seu romance com Cristina, abandonou o site de perguntas e respostas, excluiu o blog de poemas em conjunto, bloqueou o e-mail dela, nunca mais se encontraram ou falaram. Lindomar preferiu morrer de amor por Cristina, para ressuscitar dois anos mais tarde, com um amor mais forte, bonito e saudável, casando-se com Margarida, a verdadeira mulher da sua vida.

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A Traição Fatal

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OS COSTUMES de uma cidade pequena do sudeste brasileiro, não são iguais aos costumes das grandes cidades, por isso talvez a pequena população local reparasse tanto em Bianca. Uma moça simpática expansiva de conversa e sorriso fácil, ela teve vários namorados. Na pequena cidade até se comentava que Bianca não era exatamente a mulher ideal para se casar, mas se casou com o melhor partido da cidade, Denis um jovem recatado, fino, estudioso das ciências jurídicas era um promissor advogado.

Eles formavam um casal no mínimo interessante, ele muito discreto e tímido, ela muito extrovertida e espalhafatosa. Nem sempre estavam juntos, pois Bianca tinha a sua loja de moda feminina e Denis o escritório sempre lotado de novos clientes.

Naquela tarde ensolarada de quarta-feira, Juarez rapaz forte e bonito, segundo as meninas da cidade, foi até a loja de Bianca pedir um emprego de auxiliar de contabilidade. Conversaram animadamente por alguns instantes, levando ele a dar uma

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discreta cantada nela, fato imediatamente observado e escutado por dona Clotilde que saiu da loja com a blusa nova no pacote embaixo do braço e logo tratou de espalhar o fato pela cidade, a caminho de sua casa.

Bianca simpatizou com o rapaz, gostaria de dar-lhe um emprego, mas na loja não havia vagas, então ela sugeriu que Juarez procurasse Denis, quem sabe o marido poderia ajudá-lo a arranjar um emprego. Sorridente e agradecido, o rapaz se dirigiu em direção ao escritório de advocacia.

Todas as quartas-feiras feiras, Denis jantava na casa da sua mãe e conversava com o seu pai, até altas horas, tratando dos negócios da família. Bianca nunca o acompanhava, pois achava tudo aquilo uma verdadeira chatice, ficava solitária em casa a espera do marido.

No entanto nesta quarta-feira, Bianca resolveu visitar uma amiga na cidade vizinha e informou o marido por telefone, que ela iria às cinco horas da tarde e só retornaria após as onze horas da noite. Depois Bianca ligou para

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a sua residência e pediu à empregada Marta, para não ir embora, ficar e dormir aquela noite no quarto dos fundos, evitando assim que a casa ficasse tanto tempo vazia e sozinha, á mercê dos ladrões.

Às cinco horas da tarde em ponto, Bianca sai da loja dirigindo o seu carro. Às cinco e meia Denis transfere o jantar e a reunião de negócios com o seu pai, para quinta-feira à noite, alegando que estava muito cansado e precisava dormir um pouco.

Ás sete e meia da noite, daquela quarta-feira enluarada, Denis liga desesperado para o seu colega de profissão Jonas, lhe diz “fiz uma grande besteira, matei a minha esposa e o Juarez, os dois estavam fazendo sexo quando eu entrei no quarto, eu os matei com o meu revolver 38.” O advogado Jonas aconselha o amigo a se refugiar em local seguro, para não ser preso em flagrante delito, enquanto isso ele tomaria as medidas cabíveis ao caso.

Logo após os disparos, Marta sem que o patrão percebesse, foi em estado de choque para a sua humilde residência, lá em prantos

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noticiou ao vizinho, que o patrão tinha matado a patroa e o Juarez, sem dizer mais nada, foi dormir apavorada com os fatos ocorridos.

Rapidamente a noticia se espalhou pela cidade, no outro dia todos apoiavam Denis, diziam “ele fez o que um homem honrado tinha mesmo que fazer”. Outros diziam, “o Juarez fez o que qualquer homem macho tinha que fazer, comer a dona”, nem as mulheres apoiaram Bianca, diziam “ela não valia nada mesmo”. Mas num ponto de vista todos estavam de acordo, uma situação dessas de traição explícita, naquela cidade, sempre foi resolvida na bala, com a graça do Senhor Bom Deus.

Jonas descobriu por terceiros que Marta estava na casa na noite do crime e foi procurá-la, a moça estava atordoada, falou que não viu nada, apenas escutou os disparos e saiu correndo. Então Jonas lhe explicou todos os fatos ocorridos naquela noite e pediu para ela confirmá-los para a delegada, isso facilitaria em muito a defesa do patrão, ela concordou desde que continuasse no emprego e recebesse

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um aumento de salário, assim ficou acordado entre eles.

Passado o período do flagrante, Denis se apresentou a justiça, relatou os fatos à delegada Aldira e foi liberado para aguardar o seu julgamento em liberdade. No outro dia pela manhã Dra. Aldira fez a oitiva de Marta, que confirmou os fatos relatados pelo patrão, mas cometeu um deslize quando a delegada lhe perguntou por que Bianca pediu para ela dormir na residência naquela noite. Marta não encontrou uma resposta plausível para a pergunta.

Dra. Aldira começou apertá-la com suas perguntas, a delegada insistia em saber por que Bianca que iria trair o marido, em sua própria residência, pediria para a empregada dormir na casa. Marta começou a se esquivar afirmando repetidamente que não sabia o motivo. A delegada lhe acuou mais ainda insinuando que ocorreu uma orgia envolvendo Bianca, Marta e Juarez.

Sem saída Marta começou abrir o jogo e revela que fez um acordo com o advogado de

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defesa do Denis, para obter melhores salários. Frente a essa revelação a Dra. Aldira ameaça indiciá-la naquele momento como cúmplice nos crimes, se ela não lhe revelar toda a verdade.

Temendo ser indiciada por cumplicidade em duplo assassinato, pela delegada, Marta começou a revelar todos os fatos presenciados por ela naquela noite, disse que ouviu gritos na casa, que julgava vazia. Com muito receio ela aproximou-se em silencio da janela fechada do quarto. Mesmo assim ouviu Bianca falar em alto e bom som “Denis sua bicha louca, você está fazendo papel de mulherzinha com o Juarez, está dando para ele, cachorro sem vergonha”.

Neste momento Marta escutou Juarez interceder dizendo “calma dona Bianca, eu vou embora, vamos fazer de conta que nada disso aconteceu”. Isto pareceu irritar mais ainda a dona Bianca, segundo ela, que gritou “vou contar pra toda cidade que o Dr. Denis, não passa de um viadinho safado”, depois ela escutou Bianca gritar “o que você vai fazer

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com esse revolver na mão, você não tem coragem, você é uma bichinha safada”. Marta escuta o primeiro disparo, em seguida Juarez diz “cara você tá louco, matou a sua mulher”, ela escuta o segundo disparo e minutos depois o telefonema de Denis para Jonas. Marta não chegou a ouvir a conversa toda, pois saiu sorrateiramente rumo a sua casa. Depois de saber desse depoimento bombástico dado a delegada pela empregada da casa, Denis fugiu para lugar incerto e desconhecido. Os comentários o achocalhavam, Denis virou motivo de piadas, nos bares, nas esquinas, nos lares em todos os lugares da pequena cidade. Não suportando a vergonha Denis suicidou-se duas quartas-feiras após os assassinatos, com um tiro na cabeça, ao por do sol, quando o dia já ardia covarde ao sol. *Nota do autor: “A TRAIÇÃO FATAL” é uma adaptação livre inspirada no filme “Vox Populi” de Marcelo Laffitte, para conto literário policial.

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A morte pede licença

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O AMOR era de difícil definição para Vanda, mas ela sentia que ele funcionava como uma verdadeira obsessão. Vanda não conseguia parar de pensar no Mário, ele era uma necessidade imperiosa, era como um vício incontrolável. Dependência, desejo, a disposição de se arriscar e até morrer pelo Mario, a cegueira absoluta quanto às falhas do seu amado, não deixava Vanda perceber o lado esquisito do marido.

Para ela no início tudo era felicidade, a sua vida ficou em estado de graça depois que se casou, há quatro anos, só alegrias nos três primeiros. O amor que Vanda sentia por Mário era um vício muito belo, saudável e positivo quando estava indo tudo muito bem, mas era para ela um vício horrível e muito forte quando as coisas iam mal.

E começaram ir de mal à pior, depois que o irmão de Vanda, Vanderlei, veio morar com eles, há um ano. Ela percebera que desde então o seu marido se afastava cada vez mais dela, enquanto se aproximava sutilmente do irmão, praticamente os dois não desgrudavam mais.

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A idéia de o seu marido ter um caso com Vanderlei era insuportável para Vanda, roubava-lhe o ar, tirava-lhe o sono. Contudo ela se controlava, Vanda dominava o seu ciúme, não saia pelas ruas às escondidas seguindo os dois, mas bisbilhotava escutando às escondidas o que eles conversavam no apartamento, nunca escutou nada de comprometedor, porém Vanda tinha a convicção que Mario estava se apaixonando por Vanderlei.

O amor de Vanda por Mario antes belo se torna feio, caótico em termos de relacionamento, começaram a brigar por motivos fúteis, não faziam mais sexo como antes, pensamentos inconfessáveis de suicídio ou crime passional, rondava-lhe a cabeça, não havia nada mais violento que um amor ferido nos seus pensamentos.

Os pesadelos de Vanda eram constantes, quando ela dormia sempre o mesmo pesadelo. Vanda abrindo a porta do seu quarto e seu coração remoendo ódio fuzilava o marido com o seu olhar esfolador, causando-lhe um

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estranho tremor pelo corpo, a vergonha de Mario queimava-lhe o rosto, as palavras de Vanda cortavam o tétrico silencio, com gritos aflitos: “Cretino, você está pulando cerca de bundinha com o meu irmão.”

Vanda não suportava mais as suas desconfianças, o seu sofrimento psicológico era intenso, resolveu chamar o marido e o irmão para uma conversa séria, ela foi direta ao assunto e perguntou-lhes em alto e bom som “Vocês estão apaixonados?”. A resposta dos dois foi muito simples e cheia de alívio “Sim.” Vanda sentiu a loucura percorrer o seu sangue e respondeu, “De hoje em diante vocês irão dormir no meu quarto e eu dormirei no quarto do Vanderlei”, e assim foi feito, e assim os dias iam se passando.

Um ambiente de convívio e respeito mútuo se estabeleceu entre eles, Mario trabalhava, Vanderlei estudava e Vanda cuidava da moradia como sempre cuidou. Mario e Vanderlei se comportavam exemplarmente como dois homens heterossexuais, na presença de Vanda, por sua

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vez ela não demonstrava para os dois o seu imenso amor sentido por Mario e o seu ódio mortal nutrido e reprimido por Vanderlei. Certo dia na portaria do prédio em que morava, Vanda percebeu o olhar estranho, trocado pelo seu irmão e a nova vizinha de apartamento, para ela não havia dúvidas, Vanderlei se interessou pela jovem vizinha. Ela não se conteve e relatou o fato para o Mario, ele ficou desesperado com a possibilidade da perda do seu grande amor, então Vanda lhe convenceu que a sua figura masculina estava afastando Vanderlei dele. Sem falar nada com Vanderlei e seguindo os conselhos de Vanda, Mario colocou silicone e ficou com seios enormes, tirou a barba definitivamente com laser, se vestia como uma recatada esposa dedicada. Mas de nada adiantou, Vanderlei estava realmente interessado na vizinha e com ela foi morar. Neste dia de madrugada, Vanda se deitou ao lado de Mario na cama de casal e se suicidaram tomando veneno de rato.

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As Esposas

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FLORES experiente fazendeiro, amante carinhoso de Sonia Sueli fazia tudo por ela, dava casa comida e dois dias por semana para ela lhe fazer de corno. Os poucos amigos que sabiam da situação estranhavam, mas ele dizia em tom de brincadeira “mulher amante bonita é igual melancia grande, madura, docinha ninguém consegue comer sozinha”

Nestes dois dias Flores fazia uma pequena viagem de 50 km, dizia para Sonia Sueli que tinha que cuidar da outra fazenda, mas na verdade passava o fim de semana com a esposa Maria e os filhos já crescidos e casados. O fato é que ninguém desconfiava que ele fosse casado no papel por duas vezes, nem eu o seu melhor amigo. Julgava que ele era casado e tinha uma amante que lhe fazia de corno, duas vezes por semana.

Flores um dia me procurou e me pôs a par de todos os fatos, ele sabia muito bem que bigamia era ter mulher demais passada no papel. Mas não estava satisfeito com o casamento com a dona Maria e desabafou “ Eu vou separar da Maria, meu amigo, quando

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casei com ela, Maria tinha uma filha e quis a fatalidade que meu pai viúvo se enamorasse e casasse com a filha da minha mulher. Resultado a Maria se tornou sogra do meu pai, a filha da Maria passou a ser a minha mãe e o meu pai virou ao mesmo tempo meu genro, tá entendendo meu amigo” - Sim Flores, continue, por favor. - Bom após algum tempo, a filha da Maria pôs no mundo uma criança que veio a ser meu irmão, porem neto da Maria e eu passei a ser avô do meu irmão. Com o passar dos dias a Maria pôs no mundo um menino, que como irmão da minha mãe, era cunhado do meu pai, passando a Maria a ser nora da própria filha. Portanto meu amigo sou pai da minha mãe, irmão dos meus filhos e a Maria tornou-se minha avó, já que a filha dela se casou com o meu pai, entendeu meu amigo. - Complicado, mas entendi sim Flores. - Portanto antes que a coisa se complique mais resolvi separar da Maria, e continuar casado só com a Sonia Sueli. Uma separação apenas pro forma, pois quero que a Maria seja

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minha amante, o amigo que é advogado dos bons faria essa separação para mim? - Faço sim Flores, fique tranqüilo. - Bom agora tenho que ir, tenho que falar com a Maria sobre esse assunto, quando a papelada ficar pronta para assinar me avise, passar bem. - Aviso sim Flores, passar bem. E aconteceu a tragédia, Flores foi atropelado por um motorista bêbado ao sair do meu escritório, teve morte instantânea não deu nem para socorrer, foi levado direto ao Instituto Médico Legal – IML. Coube a mim a penosa função de informar as esposas do ocorrido. Maria quando soube ficou inconformada com a situação e Sonia Sueli inconsolável pela perda do marido. No velório as duas lado a lado ao lado do caixão, Maria mais conformada falou para a Sonia Sueli “Coloquei uma garrafinha cachaça no caixão e um maço de cigarros no bolso do paletó” - Então eu vou colocar o isqueiro dele no bolso do paletó, Maria.

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- Não precisa Sonia, para onde o Flores está indo, tem fogo demais. Sonia Sueli não gostou da resposta e se afastou sem dizer nada. No cemitério veio o adeus final das esposas, Sonia Sueli emocionada falou para todos ouvirem “Senhor, desejo que recebas meu esposo, com a mesma alegria que me mandastes!” e complementou também muito emocionada a Maria “Até as flores tem diferentes sortes, umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte! Não receba o Flores no céu Senhor” Sonia Sueli que já estava irritadíssima com a Maria, desta vez não agüentou e partiu para cima dela, as duas se atracaram e acabaram caindo dentro da cova, no desequilíbrio da queda Maria segurou na alça do caixão que acabou caindo em cima delas, provocando a morte instantânea das duas. Morreram abraçadinhas, no outro dia as duas foram enterradas na mesma cova do Flores, e acho que agora sim, os três viveram felizes para sempre.

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Os Amantes

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JORGE mais uma vez saiu cedo de sua casa para a colheita da uva no parreiral do seu João, no Sítio das Uvas, despediu de sua jovem esposa Maria com um leve carinho no braço e da filha de quase dois anos, Fátima, com um beijinho no rosto. No caminho, encontrou Flávio o novo proprietário do Sítio das Flores, eles se cumprimentaram discretamente e Jorge seguiu o seu caminho até o trabalho, que não ficava longe. Todos os dias da semana eles se encontravam e acabaram ficando amigos, às vezes até tomavam uma cachaça da boa na venda do Mané, depois do árduo trabalho no campo. Certo dia Jorge convidou Flávio para jantar em sua casa, pois era aniversário da filha, o amigo compareceu levando um pequeno presente para Fátima em uma das mãos e um ramalhete de flores para a Maria enfeitar a casa, na outra mão. Jantaram felizes, cantaram parabéns para a Fátima, contaram causos, riram se divertiram

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muito naquela noite feliz. Flávio foi embora impressionado com a beleza da esposa do amigo e a partir daquele dia, todos os dias que Jorge saia para trabalhar, Flávio dava um jeitinho de colocar uma rosa na janela de Maria, sem que ela percebesse ou o visse.

Mas Maria percebeu, o viu e estava encantada com a gentileza, gentileza tal que raramente recebia do marido. Jorge não percebia nada, apenas sentia que lentamente a sua esposa estava se afastando dele, no entanto ele não entendia o motivo, achava que era excesso de trabalho nos afazeres da casa que estava sempre florida e limpa. Flor do jardim pensou Jorge.

Naquela manhã no acalento lento do vento, Flávio sorrateiramente colocou mais uma rosa vermelha na janela de Maria, quando ele se virou para ir embora, Maria o chamou, disse simplesmente “entre que a Fátima está dormindo”. Eles se amaram como não houvesse amanhã, de todos os lados de todos os jeitos e todas as manhãs o fato se repetia.

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Preocupado com a inapetência sexual da esposa, Jorge começou a ficar desconfiado, alguma coisa de muito errado estava acontecendo, resolveu espiar a esposa, viu o amigo entrar em sua casa às escondidas, Jorge atordoado, nervoso, inconsolável chegou atrasado ao trabalho, mas consegui trabalhar normalmente o restante do dia.

À noite deitado ao lado da esposa, ele a procurou, fez carinho, não adiantou Maria o desprezou, se virou e dormiu profundamente.

De manhã Jorge armou uma tocaia para Flávio, quando ele passou montado no seu cavalo, Jorge se atirou do alto do barranco sobre ele, rolaram ao chão, depois Flávio ficou imóvel, quebrou o pescoço na queda, respirou por alguns segundos e morreu olhando fixamente os olhos do amigo traído.

Jorge saiu correndo, mais uma vez chegou atrasado ao trabalho, trabalhou como nada tivesse acontecido satisfeito por ter se livrado do problema, ele retornou direto para casa no fim do expediente, encontrou sua

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mulher apreensiva, depressiva, em silêncio até parecia que ela pressentia o fato ocorrido.

À noite Jorge teve pesadelos com o amigo morto, não conseguiu dormir direito, na manhã seguinte bem cedo acharam o corpo de Flávio, concluíram que a morte foi acidental, por queda de cavalo.

O enterro ocorreu logo depois do almoço, Maria em estado de choque, vestindo luto fechado acompanhou o cortejo de longe, Jorge fingindo-se muito abalado de perto.

A comoção pela morte na pequena cidade foi grande, praticamente todos os moradores acompanharam o enterro, e depois ninguém foi trabalhar, ficaram conversando saudosamente sobre o amigo morto.

No fim do dia Jorge e Maria, juntamente com a pequena filha, voltaram para casa, o casal em silêncio profundo, e assim permaneceu durante o jantar e depois, o marido percebeu toda a dor que a sua jovem esposa estava sentindo pela perda inesperada do amante.

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À noite Jorge voltou a ter pesadelos, em seu pior pesadelo via a esposa nos braços do amante, fazendo coisas inconfessáveis que ele mesmo tinha vontade de fazer, mas nunca teve coragem de pedir a Maria, acordou assustado e viu Flávio sorrindo para ele ao lado da cama.

Jorge deu um pulo, se levantou assustado, a imagem de Flávio continuava sorrir para ele, agora acariciando sua a esposa que dormia profundamente vestida com um pijama velho, de pouca conversa. Ele tentou esmurrá-lo, no entanto não tem como esmurrar um fantasma, a sua mão passou por dentro da imagem do amante, que gargalhava.

Jorge foi até a sala, bebeu cachaça até embriagar-se. Não adiantou a imagem de Flávio continuava a gargalhar ao seu lado, bêbado adormeceu e os pesadelos voltaram, via o fantasma se deliciar no corpo da sua jovem esposa, que retribuía aos carinhos recebido, desesperado ele queria acordar, mas a embriagues não deixava.

Conseguiu acordar de manhã bem cedo, a imagem gargalhando o seguiu até o quarto

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onde a esposa continuava a dormir, Jorge percebeu que Maria dormia nua apenas coberta por um lençol. Atordoado e temendo que sua esposa realmente tivesse feito sexo com o fantasma do amante, ele saiu para o quintal, depois para o trabalho, a imagem de Flávio o seguia sorrindo por onde quer que fosse. Por três dias e três noites estes fatos repetiram-se, no quarto dia Jorge não agüentou mais, despediu-se da filha, da esposa com um simples olhar e partiu junto com a imagem sorridente de Flávio ao seu lado. Quando ele chegou ao alto do morro, percebeu que o fantasma de Flávio parou de segui-lo, retornando rapidamente a casa onde Maria o esperava de braços abertos, nua, então Jorge entendeu que havia perdido a sua família para sempre, seguiu o seu caminho para nunca mais voltar.

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Sobrevivi ao inferno

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NÃO TEM como negar, foi um amor fulminante, avassalador, um amor à primeira vista, um casamento relâmpago. Eu percebia que Ivânia cada vez mais se transformava em uma pessoa dominadora e ciumenta, transpirava o medo de me perder, respirava a necessidade de controlar todos os meus passos. Depois da alta vigilância exercida por Ivânia, tinha que provar todos os dias que eu era inocente, de sua visão deturpada dos fatos normais e corriqueiros da vida. Eu percebia que Ivânia sofria por ser ciumenta, não quereria que esse ciúme me machucasse, sofria por ser dominada por qualquer banalidade cotidiana, que aprofundasse sem motivo a sua insegurança. Cheguei a pensar que Ivânia me traía, por medo de ser traída ou me traía e se refugiava no seu ciúme extremado, para eu não desconfiar da sua traição. Mas, ela nunca me traiu, seu pensamento girava de forma obsessiva, 24 horas ao redor de mim. Ivânia foi ficando cada vez mais uma mulher caseira, transformando a minha vida de

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casa para o trabalho, do trabalho para casa, ela controlava até o meu jogo de futebol pela televisão, quando a bandeirinha Ana Paula atuava no trio de arbitragem, ela não me deixava ver o jogo em paz. Sua única amiga era a sua mãe, ficavam horas e horas no telefone, enquanto eu estava na fábrica trabalhando com os meus 43 colegas da linha de produção. Foi então que eu tive a idéia de pedir para o meu irmão, detetive particular, me ajudar a descobrir o que se passava com Ivânia. Passei a gravar todos os telefonemas de casa e escutava as fitas, que ele me levava na fábrica, nos poucos momentos de folga que tinha. E as surpresas apareceram logo na primeira fita: “Mãe não me interrompa eu quero desabafar. Mãe eu quero uma pessoa mesmo para ficar, ali, do meu lado, quando eu precisar está ali, sabe? É isso que eu quero. E com meu marido eu não tenho essa segurança. Eu o acho muito infantil, entendeu? Eu sou mais madura do que ele, eu acho ele muito assim, ele tem coisas

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diferentes de mim, não é igual, a mim. Ele gosta de sair, tomar uma cervejinha, comer uma pizza, eu acompanho, eu vou, participo, mas eu percebo que as mulheres hoje em dia estão dando em cima de qualquer um, não respeitam mais homens casados! Então não saímos mais para comer pizza e pronto. As mulheres estão muito atiradas, atrevidas, olham sem parar, acho que mudou o papel, sabe? Os homens estão mais reservados. A minha preocupação atual é os amigos da fábrica, sabe como é mãe, eu me preocupo muito com a influência dos solteiros e dos separados sobre meu marido, porque todo mundo fala: pô cara, casou? Iiii... não vai nunca mais poder tomar chopp com a gente, você está encoleirado, coitado... E eu tenho certeza, isso deve influenciar muito ele e isso, é claro, me deixa angustiada e cheia de ciúme, então nas raras vezes que nos saímos eu fico vigiando para ver se ele está olhando para alguma mulher ou se uma mulher está olhando para ele! Vou para um shopping, é a mesma coisa! Vou para um cinema, a mesma coisa!

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Eu não consigo me divertir, não me sinto feliz! Não é possível que ele não olhe pra ninguém. Eu vejo na rua os homens olham pra tudo quanto é mulher! É aleijada, é torta, é gorda, é magra, é bonita, é feia, eles olham! Parece, sabe? É uma coisa horrível! Ele não vai olhar por quê? Ele fala que não, que não olha, mas olha, eu sei que olha! Eu acho que todo mundo tá dando mole prá ele, acho que eu vou ser traída sempre, entendeu? Eu não consigo confiar nele nem nos amigos dele, sabe, teve uma situação que eu vi ele, o irmão, mais uma mulher na portaria da fábrica, eu já achei que a mulher era amante do meu marido eu me descontrolei totalmente. Passei a vigiá-lo e a cena se repetiu por mais uma vez , aí eu me descontrolei, fiquei louca, a minha mão tremia, passou um rapaz olhou para mim e eu lhe falei: quer transar, vamos estou a disposição é de graça. E o rapaz me comeu mesmo, em um hotelzinho pulguento ali perto, depois para o meu desespero descobri que a mulher da portaria da fabrica era namorada do irmão dele, portanto o meu marido não me traria com

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ela, de jeito nenhum. Ih! tenho que desligar, ele chegou, depois eu continuo”.

Eu fiquei sem ar, sem fala, sem chão, o meu coração disparou, minha pressão arterial subiu, fui atendido no centro médico, depois dispensado do restante da jornada de trabalho, guardei a fita no meu armário da fábrica e fui para casa.

Cheguei decidido, abri a porta da sala e falei para a Ivânia:

- Acabou, você me traiu, acabou vou pegar algumas roupas e vou para a casa do meu irmão. Ela ficou estática em estado de choque, não respondeu nada. Fui para o quarto pequei a mala e senti a primeira facada em minhas costas, me virei rapidamente e senti a segunda facada na minha barriga, a minha vista ficou turva. Na terceira facada eu consegui me defender parcialmente, mas a faca rasgou o meu braço esquerdo, da quarta facada eu não sei como consegui me desviar, também não sei da onde saiu à força para esmurrar Ivânia no queixo, ela caiu ao chão desacordada.

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Consegui chegar à portaria do prédio, o porteiro pediu socorro e chamou a polícia, entrei em estado de coma, e fiquei assim por nove dias. Depois me contaram, quando eu estava sendo socorrido, Ivânia saiu correndo do elevador completamente alucinada, esfaqueou um policial e consegui me dar mais uma facada do lado direito do peito em seguida ela levou um tiro na cabeça disparado pelo policial esfaqueado, Ivânia morreu quando estava sendo levada para o hospital.

Enfim recebi alta, o pesadelo havia acabado, um enfermeiro me acompanhou até a portaria do hospital, me despedi dele, cumprimentei o policial militar, que fazia guarda na portaria e liguei para o meu irmão vir me buscar.

Guardei o celular no bolso da camisa e escutei em alto e bom som “Você é o responsável pela morte da minha filha, seu desgraçado”.

Em seguida a mãe de Ivânia disparou o primeiro tiro, ele acertou em cheio o lado

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esquerdo do meu peito, voei para trás, mas eu respirava, estava consciente. Escutei o zunido da bala do segundo tiro passando ao lado do meu ouvido, vi o policial sacando a sua arma e atirando para matar a minha ex-sogra em legitima defesa da minha vida. Fui socorrido imediatamente por um médico residente que exclamou “Cara você teve muita sorte, olhe a bala cravejada no seu celular”. Agora sim o pesadelo acabou, sobrevivi ao inferno.

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Amor Perfeito!

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EDUARDO nasceu no mesmo dia que Sueli, na mesma cidade e na mesma maternidade, ele nasceu de manhã ela à tarde, foram batizados no mesmo dia e na mesma igreja. Estas coincidências acabaram aproximando os pais das crianças, que se tornaram grandes amigos, verdadeiros compadres e comadres, com passar do tempo resolveram matricular as crianças na mesma escola.

Eduardo se destacava na matemática e nos esportes de atletismo, Sueli se destacava em português e na prática da natação. Ambos ganharam várias e várias provas e medalhas nos campeonatos estudantis da região, eram considerados verdadeiros ídolos do esporte na cidade, chegaram até a sair em uma reportagem especial de um jornal da capital.

Foi nesta época que o pai de Eduardo descobriu que sua esposa, não era uma mulher totalmente fiel. Ela andava com o quitandeiro, com o padeiro, o açougueiro, leiteiro e até com o peixeiro, motivo pelo qual a geladeira da casa estava sempre lotada de coisas. O pai de Eduardo tomou uma atitude radical, foi nas

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casas Bahia e comprou uma geladeira nova, enorme, assim a vida do casal seguiu em paz.

No dia que chegou a geladeira nova, na casa do pai de Eduardo. Eduardo começou namorar com Sueli, namoro que foi motivo de grande alegria e orgulho para as duas famílias, pois formavam um belíssimo casal, feitos um para o outro.

Eles acabaram se formando no colegial no mesmo dia, em seguida os dois começaram a trabalhar. Eduardo abriu uma pequena loja de vinhos, Sueli uma pequena doceria, obtiveram grande sucesso nos seus negócios, o comentário geral na cidade era “em uma boa festa, não pode faltar os vinhos de Eduardo e nem os bolos de Sueli”.

Com o dinheiro ganho, Eduardo e Sueli se casaram, o casamento movimentou a cidade, a fila para cumprimentar os noivos, na entrada do clube social, quase chegava à cidade vizinha. Logo depois que o casal voltou da pequena viagem de lua de mel, o pai da Sueli descobriu que sua mãe estava o traindo com o vizinho da casa ao lado.

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Sem saber que fora descoberta a mãe de Sueli confiou no marido e lhe pediu que trouxesse um copo de água com as dez gotas de seu remédio para dormir, o pai de Sueli colocou uma imensa quantidade de gotas no copo.

Depois que a esposa adormeceu, abriu as torneiras de gás do fogão e deixou uma vela em cima da mesa da cozinha, fechou cuidadosamente todas as entradas de ar da casa, acendeu a vela e saiu para jogar sinuca com os amigos. A explosão e a conseqüente morte da mãe de Sueli foram dadas como acidental, pela perícia dos bombeiros e da polícia.

Com o tempo, Eduardo de tanto provar os seus vinhos começou a chegar todos os dias bêbado em sua casa, por sua vez Sueli de tanto provar os seus bolos engordou, muitos achavam que ela ia estourar, de tão gorda. As brigas do casal até então esporádicas, ficaram cada vez mais freqüentes e violentas, não raramente acabavam na delegacia da mulher, por agressões mútuas do casal. Eles não

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tiveram filhos e os negócios começaram a ir por água abaixo.

Foi nesta época que o pai de Eduardo, médico ginecologista, se separou da esposa infiel, alegando que estava enjoado de vaginas, segundo ele via 12 nas consultas diárias, 60 por semana, 240 por mês e 2880 por ano. Fora a vagina da própria esposa que ele usava religiosamente a cada quinze dias, resultado se aposentou e virou gay.

No dia que Eduardo e Sueli completaram dez anos de casados, eles não saíram de casa, no outro dia a mesma coisa, fato que se repetiu de novo naquele dia ensolarado de terça-feira. Os vizinhos chamaram a polícia, que arrombou a porta da casa e do quarto e encontrou o casal morto, um do lado do outro deitado na cama de casal.

O médico do Instituto Médico Legal concluiu que o Eduardo ingeriu vinho com arsênico e a Sueli comeu bolo com estriquinina, mas o delegado ficou em dúvida se foi duplo suicídio ou duplo homicídio, na verdade isso pouco importa agora.

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O padre que fez o enterro e celebrou a missa de sétimo dia do casal deixou a batina para se casar, seduzido pela beleza de uma atriz de filme pornô, que abandonou a profissão, seduzida pela santidade dele, depois de se confessar regularmente com o padre na igreja. Mas o casamento não deu certo, ele queria sexo e muita sacanagem, ela queria castidade e muita santidade, coisas do coração que sempre procura um amor perfeito! Nota do autor: “AMOR PERFEITO” É uma adaptação livre inspirada no filme curta metragem “Amor!” de José R. Toreno.

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Desejos Ardentes

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NA UNIVERSIDADE, conheci Isabelle uma francesa de vinte e três anos, estudante de psicologia, dezessete anos mais nova que eu.

Ela linda e simpática eu sozinho e carente em uma cidade francesa, fazendo o meu pós-doutoramento, morávamos no mesmo prédio de pequenos apartamentos, eu no terceiro andar ela no segundo, os seus país moravam, em Monte Carlo, que não ficava longe de Nice.

Um dia ela me disse que eu lembrava muito o seu pai, quando era jovem, eu parecia ser um irmão mais novo dele, me lembrei das palavras que li na revista sobre a atração de algumas mulheres jovens por homens mais velhos.

Já havia percebido algo no olhar de Isabelle, ela sentia-se atraída por mim, um homem mais velho, do mesmo modo que eu me sentia atraído por ela, uma mulher mais jovem.

Sentia-me bem na sua companhia, mas não era amor, não era amizade, era pura atração, puro desejos ardentes.

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Um dia coincidiu de voltarmos juntos da universidade e fomos para o meu apartamento. Depois de um jantarzinho a luz de velas, preparado por nós dois e, excedermos na quantidade de elogios mútuos, misturado com um pouco de vinho e boa música francesa, ficamos susceptível às sensações do momento.

Ah, como ela era jovem! Usava um vestido preto de tecido suave ao toque de minhas mãos, enquanto dançávamos lentamente, um colado dois pra lá, dois pra cá, passos que foram se transformando em um pra lá, um pra cá, ao som romântico de Édith Piaf.

Isabelle estava linda, risonha como quem se prepara pra fazer uma travessura, a mesma travessura de sempre, sempre me provocando com seu olhar felino, sensual.

Naquela noite, não pude resistir aos seus apelos que até então resistidos e, excitados e entregues nas delicias da carne, do prazer pelo prazer, deixamos explodir ardentemente os nossos instintos mais selvagens.

Apaguei a luz do abajur deixando a penumbra da vela sobre a mesa, ela abriu as

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cortinas do apartamento, deixando penetrar no ambiente o frescor da noite e o luar e, chamou-me para dançar.

O luminoso da loja em frente piscava suave, dado um leve toque avermelhado ao ambiente, comecei a acariciá-la ao som da música enquanto dançávamos envolto ao clima de sedução, fascino, eu a beijei longamente, sentindo aquele corpo de menina em meus braços.

Uma delicada flor de amor, tão mulher com os seus desejos afluídos, tão menina segura do que quer. Tudo era como um sonho, e como num passo de mágica estávamos no sofá, num agradável ninho de amor.

Nossos beijos e carícias audaciosos deixaram explicito que era uma menina-mulher, com desejos ardentes, como braseiro em fornalha que não se apaga nunca.

Seus anseios buscavam em meu corpo, a saciedade do prazer, enquanto eu experimentava um deleitável êxtase. Seus olhos lânguidos, seus lábios trêmulos de boca sensual,

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se preparavam para sugar-me, e beijando-me de cima abaixo, ajoelho-se lentamente.

Em minhas mãos sua cabeça frenética de cabelos sedosos, abri o zíper do seu vestido, que escondia a mais misteriosa beleza, e beijei sua nuca perfumada e, como se houvesse ligado algum interruptor, Isabelle cavalgou-me num sexo selvagem que nos levou a loucura.

Depois de um demorado banho, onde exploramos a pele, os lábios, os desejos de um e de outro, num jogo de sedução e prazer. Estávamos prontos para nova aventura e, nos amamos suavemente... E novamente... E muitas vezes... Serenamente... Suavemente, como se o mundo pertencesse somente a nós dois; em uma sincronia anatomicamente perfeita, como se tivéssemos sido criado um para o outro.

Em poucos dias nos mudamos para o sexto andar, um apartamento de cobertura, um pouco maior e mais aconchegante, a paixão estava no ar, na pele, nas palavras e na alegria de viver por viver, na época do festival internacional de cinema, fomos à Cannes, que também não ficava longe.

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Em algum momento da vida, devemos responder a quatro perguntas fundamentais: - O que é sagrado? - O que é o espírito? - Porque vale a pena viver? - Porque vale à pena morrer? E, a única resposta existente para essas quatro perguntas. É o amor que pensei sentir por Isabelle, ledo engano o tempo desgastou a nossa relação, uma atração física que nunca virou amor e agora chegou ao fim.

Quando cheguei ao apartamento, naquele início de noite, todas as luzes estavam apagadas, Isabelle fingia emburrada que dormia no quarto, com sua camisola de pouca conversa. De manhã eu lhe dei a notícia.

- Isabelle, eu vou retornar ao Brasil. Com voz decidida ela me responde: - Eu já pressentia isso, não vá Jair, se você ficar eu me caso de papel passado com você!

- Eu fui criado no Brasil, minha cultura é brasileira, meus costumes são brasileiros, não me adapto à Europa. Sem disfarçar a sua irritação, ela alterou discretamente o seu tom de voz: - Eu não vou deixar o primeiro mundo para morar com você no terceiro. Meu lugar é

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aqui na França, mas se você acha que o seu lugar é no Brasil, eu não posso fazer nada, a não ser lhe desejar boa viagem Jair. - Então estamos entendidos, o apartamento fica de presente de despedida para você, tá bom? Com a intenção explícita de me fazer sentir um lixo, ela respondeu cinicamente: - Vou pegar algumas roupas e vou para a casa de Jean Pierre, não quero vê-lo partir. Seja feliz, Jair. - Mas quem é Jean Pierre? Não é o dono da loja de ferramentas em frente? - Exatamente ele, meu amante querido de muito tempo. - De quanto tempo? Mas ele é um velho! Isabelle - Desde sempre e com uma maturidade muito superior a sua, que não passa de uma criança mimada. Mas isso agora não interessa mais, não é verdade Dr. Jair. Adeus. Surpreso com a notícia de ter sido traído, chifrado na cara dura todos esses três anos, por um velho de sessenta e poucos anos. Surpreso comigo mesmo por nunca ter suspeitado de

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nada, só me restou dizer a ela: - Seja feliz Isabelle, adeus. Embora estivesse surpreso e com o orgulho de macho ferido, me sentia aliviado por terminar com Isabelle de forma tão pacífica e prática, lhe deixava o apartamento e pronto. Mesmo dividida entre eu e o seu amante senil de cabelos brancos, Isabelle aplacou com perfeição a minha solidão na cama. Nos fins de semana passeávamos pela Riviera Francesa, por suas famosas praias de Nice, Cannes e do Principado de Mônaco, isto sem falar no Gran Prix de F1 do Principado, não perdíamos uma corrida, nunca me diverti tanto. Por esses motivos seria uma injustiça, eu tomar uma atitude machista, pueril e não cumprir a minha palavra de lhe deixar o apartamento.

Durante a semana, os dias eram corridos, nunca almoçava com a Isabelle às quintas-feiras, com certeza era o dia que o seu amante senil, entrava em ação. No dia da minha partida, enquanto o motorista de táxi guardava a minha bagagem no carro, atravessei a rua e entrei na loja de ferramentas do Jean Pierre,

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como sempre ele estava atrás do balcão lendo atentamente o seu jornal matinal. Aproximei-me e lhe disse: - As chaves e a escritura do apartamento de Isabelle. Ele olhou nos meus olhos, pegou as chaves e a escritura e me disse como um pai diz a um filho: - Dr. Jair não leve rancor da Isabelle, ela é apenas uma criança, antes de me aposentar e abrir essa loja eu fui professor dela, e desde que ela tinha treze anos estamos juntos.

Quando Isabelle conheceu o senhor, ela se encantou toda, se derreteu toda, eu incentivei, disse-lhe, vai Isabelle, vai meu amor. Ela foi, mas nunca me esqueceu, essa é a nossa história, Você não me magoou, muito pelo contrário, fiquei muito feliz ao ver Isabelle feliz do seu lado, eu espero não tê-lo magoado também. Tenha uma boa viagem, adeus Dr. Jair.

- Adeus Jean Pierre; Isabelle é uma pagina muito bem virada na minha vida, nunca mais a vi.

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Desejos Proibidos

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JUNTOS o discreto casal de noivos caminhava pela calçada tateada por suas bengalas, suprindo em parte a deficiência visual deles, cegos desde a mais tenra infância, esta coincidência acabou aproximando eles quando se conheceram a dois anos na sala de espera da clínica oftalmológica.

Desde então Roberta Maria e Luiz Pedro não se largaram mais, amigos inseparáveis por muito tempo, até que a solidão afetiva e a carência amorosa contribuíram muito para eles começarem a namorar e noivar em seguida.

Com um parcimonioso beijo nos lábios de Roberta Maria, Luiz Pedro se despede dela e entra no prédio onde trabalha como advogado assistente, eles voltariam a se encontrar na manhã seguinte, depois que ele retorna-se de sua rápida viagem de trabalho.

Ela continua a caminhar com calma, a biblioteca onde trabalhava digitando textos em Braille, não ficava longe. No meio do caminho o som estridente do telefone público, atordoante, irritante ninguém atendia, ao se aproximar com certa dose de irritação e o

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firme propósito de fazer aquele telefone calar, Roberta Maria atente com um simples “alo” e escuta “é a Messalina Italiana?” uma suave voz masculina que lhe fez bem aos ouvidos e ao corpo, causando-lhe um estranho arrepio na espinha.

Arrebatada pela voz ela em tom de quem está fazendo uma grande arte infantil responde com voz languida “agora eu sou a Mascarada Sedutora, o que você quer pelo preço de sempre?”, novamente a voz masculina seduz os seus ouvidos “quero te abrir como uma preciosa rosa formosa, fazer-lhe tremer em suas carnes macias e me perder nas suas gotas de suor com passos embriagados de prazer Mascarada Sedutora, quando poderemos nos encontrar flor de amor?”.

Estranhos tremores percorrerem por todo o corpo de Roberta Maria sentia uma excitação em êxtase que jamais sentira. Desvairada com voz de desejos proibidos marca o encontro “hoje à noite, às nove horas em ponto estarei te esperando em uma suíte no Hotel Trianon Inn, enfrente a Estação de Metro Trianon-Masp”.

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Sem esperar uma resposta ela desliga, o jogo erótico estava feito, a sorte lançada às fantasias mais íntimas de sua mente.

Roberta Maria não sabia se o dono da voz apareceria no hotel, mas se sentia nas nuvens, pela primeira vez sentiu o doce prazer de se sentir verdadeiramente fêmea, não foi trabalhar na biblioteca. Preferiu pegar um taxi e ir até um sex shopping e viver intensamente a sua fantasia, respirar com gosto a natureza sem censura desta intimidade, transpirar com gozo o destino sem futuro desta incerta infidelidade.

Entrou na Loja dos Prazeres, pediu a vendedora um lingerie sensual e acabou comprando um modelo que fazia muito sucesso entre as prostitutas de fino trato, além de uma venda longa para os olhos de cetim vermelho. Em seguida foi até o hotel e se hospedou em uma romântica suíte, depois passou a tarde recebendo uma relaxante e estimulante massagem, ansiosa se arrumou para o encontro duas horas antes do horário marcado.

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Tempo que ela aproveitou para conhecer detalhadamente a suíte com iluminação de penumbra sem o auxilio de sua bengala para cegos, os minutos passam com agonia e êxtase a ansiedade oprime-lhe o peito, respira com dificuldade, ofegante, arruma pela enésima vez a venda sob seus olhos.

O telefone toca às nove horas da noite, o recepcionista avisa que a pessoa esperada pagou pela diária da suíte e está subindo, Roberta Maria inebriada com seus desejos proibidos a flor da pele, o espera com a porta entre aberta. Ele chega a abraça com a pegada de quem sabe o que está fazendo e diz junto ao ouvido dela com carinho “minha boca convida o teu desejo com dentes de marfim, aroma e água, bela e pura, nua e crua para o amor perfeito”.

Sem uma palavra Roberta Maria não resistiu aos encantos sedutores dele que fizeram o seu coração bater lascivamente enamorado e com um beijo abrasado ela se entregou com movimentos ardentes, ofegantes, alucinantes, às vezes leves, suaves e tentantes,

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às vezes violentos como os movimentos das grandes tempestades. Em uma viagem selvagem de instintos primitivos, em idas e vindas com temperaturas altas, altíssimas ela descobriu o prazer pleno, onde sedutores suores feriram sem maldade a madrugada com burburinhos de carinhos.

Quando Roberta Maria acordou ao nascer do sol, o homem já não estava mais lá, apenas o dinheiro ao seu lado na cama com um recado escrito em uma pequena folha de papel, que ela pediu para o motorista do taxi ler enquanto rumava para a sua casa. “Eu quero sentir de novo a vida beijar o meu rosto, o calor acariciar o meu corpo, o prazer tecer a minha pele e nela o seu corpo estremecer ardente neste vai e vem que me deixou refém de você”.

Às oito horas em ponto Roberta Maria encontra Luiz Pedro na calçada, o mesmo beijo parcimonioso de sempre, as mesmas palavras de sempre, depois calados rumam juntos, abraçadinhos para o trabalho.

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O Estuprador

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A MAIS cara de todas as loucuras é acreditar apaixonadamente naquilo que claramente não é a pura verdade, assim Valéria acreditava piamente na felicidade plena do seu casamento de sete anos com Augusto, até aquela fatídica tarde, daquele fatídico sábado chuvoso de verão, abalado pela intensa frente fria.

Quem abriu os olhos de Valéria para a sua infelicidade foi sol, as nuvens, o frio inesperado, à tarde que não arde ao sol, assim como a sua pele não ardia mais pela pele do Augusto.

O sol entre as nuvens não era radiante, era um sol frio tal e qual os escassos carinhos e a atenção que ela recebia do marido, era um sol amolecido feito o pênis sempre cansado do Augusto, esta última conclusão aflorou a sua suspeita dele ter uma amante.

Sábado único dia da semana em que se livravam do filho pequeno, levando-o para dormir na casa de uma das avós. O casal desfrutava os sábados à noite, eles sempre saiam, jantavam fora em alguma pizzaria, dançavam um pouco no pagode, depois faziam

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uma insatisfatória entrevista intima nos lençóis da vida, de algum motel da cidade. Era sempre assim, a revelação estava feita por um fim de tarde escuro de verão, abalado por uma inesperada frente fria. Valéria tinha frente aos seus olhos à claridade da mais pura verdade, cristalina como a água da chuva que começava a lhe a molhar as roupas, o rosto, a alma. Resignada, molhada, de alma lavada, era o início do fim, sem ter para onde ir Valéria entrou no seu carro e foi para casa, pelo caminho mais longo. Dirigindo em baixíssima velocidade como se não quisesse chegar, então ela resolveu estacionar o seu carro em frente da charmosa loja de conveniência em um belo posto de gasolina recém inaugurado. Valéria sentia-se mal, sentia-se injustiçada pela vida, injuriada com Augusto, veio em seu peito um sentimento de vingança contra tudo e contra todos. Quando ela entrou na loja de conveniência com a roupa respingada pela chuva, que lhe fez arrepiar os bicos dos seios

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por baixo da camisa de seda branca, foi imediatamente notada por Itamar com o seu olhar esfolador sem cerimônia lambeu o corpo de Valéria, de cima em baixo.

Ela não se fez de rogada e olhou fixamente nos olhos de Itamar, que sem pestanejar a convidou para sentar-se à mesa e acompanhá-lo em um saboroso chocolate quente ao rum a moda da casa, Valéria aceitou o elegante convite dizendo: “Vejo pela sua aliança que é um homem noivo eu sou casada, assim não vejo mal nenhum em tomarmos uma bebida quente juntos”.

Na mesa trocaram palavras, olhares e endereços, no carro trocaram abraços, beijos e gostos, no motel trocaram carícias, desejos e fantasias, durante o ato de amor proibido, Valéria pede para Itamar bater nela, com mais e mais força.

Gemidinhos transformam-se em gritos de prazer, com voz lânguida ela pede mais e mais, pede para ele bater em todo o seu corpo, Itamar extasiado de prazer descontrola

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enquanto goza, o rosto dela se deforma, os dois se abraçam extenuados.

Depois de alguns minutos e derradeiros beijos, Itamar paga o motel e vai feliz da vida para sua casa, onde morava sozinho.

Já Valéria vai diretamente para a delegacia mulher, faz exame de corpo delito, sêmen e retirado de sua vagina para exames, Itamar é preso em flagrante na sua residência, poucas horas depois dela registrar uma queixa de estupro contra ele.

Itamar desesperado, depois de reconhecido por Valéria, contou a sua versão dos fatos para a delegada, diante das provas irrefutáveis contra ele, ela não acreditou em uma só palavra dele, Itamar acabou sendo jogado em uma cela que possuía capacidade para vinte presos, mas tinha um efetivo real de oitenta.

Ele foi imediatamente submetido às regras do cárcere, onde vige a lei do mais forte, a lei da selva, onde o crime de estupro não é aceito pelos demais detentos.

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Como primeira medida interna Itamar apanhou muito, foi espancado incessantemente pelos companheiros de cela, após algumas horas de “animadíssima diversão” e com algumas costelas trincadas passou-se a segunda fase.

Ele foi violentado sexualmente das maneiras mais perversas que nós humanos podemos imaginar, depois foi transformado em “mulherzinha”, sendo seviciado por diversos agressores de uma só vez. Que diziam a ele “Ah faz assim, porque as puta da zona também faz...” ficou apenas de calcinha e sutiã improvisados enquanto era depilado, maquiado e tatuado no rosto com uma pinta, identificando-o como um homossexual passivo, algo animalesco, indelével, indescritível...

Sempre muito maquiado, Itamar assumiu todas as tarefas femininas da cela, inclusive as sexuais, até o seu advogado de defesa conseguir o relaxamento de sua prisão, cinco dias depois, já que na delegacia não havia cela especial denominada “seguro” e nem vaga em

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outro presídio para ele ser transferido com urgência. Valéria e Augusto viveram juntos por mais um mês, divorciaram-se a pedido dela, ela não retirou a queixa de estupro contra Itamar e se nega a falar com o advogado de defesa dele. Sem noiva e inconformado com a situação Itamar aguarda em liberdade, sem esperanças de ser inocentado, o seu julgamento por estupro.

### ___________________________________ ADENDO: *Nota Autor: O conto anterior "DESEJOS PROIBIDOS" é uma adaptação livre inspirada no filme curta-metragem "Messalina", de Cristiane Oliveira. ___________________________________

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O triângulo amoroso

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AVENTURANDO a vida Carmen se tornou uma mulher independente, livre, por isso machucava os homens, por muitas vezes eles ficaram desorientados aos seus pés. Ela mesma se considerara uma cigana, uma mulher de malandro, mas não gostava de apanhar e sim de dominar, gostava de colocar o homem no seu devido lugar, de dia para a noite, de noite para gato, de gato para sapato.

Sempre provocativa expunha a sua exuberante sensualidade, charme e beleza física nos palcos da vida das mais requintadas casas noturnas da capital, onde interpretava como uma Diva os mais variados sucessos da musica romântica francesa. Neste clima de boemia Carmen teve o seu coração dividido por dois homens totalmente apaixonados por ela, completamente diferentes entre si.

Peixoto o inocente noivo, delegado da policia civil, especializado em

desvendar homicídios e Ademar o “caliente” amante, requintado malandro carioca, atolado até o pescoço com o jogo do bicho. Os três formavam um típico triangulo amoroso, onde

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uma delas é comprometida. E só duas sabem da existência do tal triângulo. Carmem a princípio resistiu às investidas amorosas de Ademar e preferiu noivar com Peixoto, um homem determinado, austero do tipo machão, fato que desagradou profundamente Ademar. Contudo ele não se fez de rogado e continuou a insinuar-se acintosamente para a amada, com palavras cada vez mais doces e sorrisos fáceis, dividiu o coração de Carmem, arrebatada nos seus instintos mais primitivos, ela não resistiu aos encantos de Ademar e decidiu ficar com os dois. Ela não tinha mais o poder da escolha, sentia-se realizada no amor com os carinhos certinhos de Peixoto e na cama com as carícias sábias do amante. O triangulo amoroso corria a boca pequena no meio da boemia, todos sabiam ninguém comentava abertamente. Carmem controlava a situação dominando os dois homens, perdidamente apaixonados aos seus pés, seu coração cada vez mais dividido,

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porém na boemia, mais cedo ou mais tarde os segredos da noite, acabam ferindo sem maldade a madrugada apiedada. Uma carta anônima acompanhada por três fotos comprometedoras desvelou a verdade dos fatos para Peixoto, sua ira quase irracional.

Ele percebeu que não se tratava de uma trepadinha de Carmen fora do noivado, existia um relacionamento à parte, com vários encontros amorosos. Onde se devia falar de tudo, principalmente em paixão, em amor, em carinho, onde havia lágrimas e sorrisos, e onde se faziam planos com o amante dormindo abraçadinhos de forma despudorada.

O mais dolorido para Peixoto era saber que depois Carmem voltava para os seus braços como se nada tivesse acontecido, dócil e amável, talvez para amenizar a sua culpa, Peixoto entendeu que fora traído na cama e nos sentimentos.

No final da carta anônima o endereço de um restaurante italiano no centro da cidade, onde Ademar almoçava sozinho todas as quartas-feiras, em uma discreta mesa afastada

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dos demais clientes. Peixoto refletiu e decidiu não falar nada com Carmem por enquanto, a tratou como nada tivesse acontecido, com o carinho de sempre. Naquela noite ele não conseguiu dormir, fumou dois maços de cigarros, preferiu aguardar o dia fatídico e encontrar pessoalmente o amante de sua noiva, para uma conversa definitiva.

Ademar entrou no restaurante pontualmente ao meio dia, hora em que a sombra é mais curta e seu pensamento mais longo em Carmem, fantasiando um amor ideal, vivendo uma eterna paixão. Sentia-se solitário sabia que não podia escolher os momentos para estar com ela, tinha que ser sempre servil aos horários disponíveis da amada, tampando buracos de uma relação desgastada ou pelo menos insatisfatória entre ela e Peixoto.

Encontros furtivos e apaixonados, sexo selvagem, discussões torrenciais e excitantes, presentes, elogios mútuos intermináveis e medo, muito medo de assumir o papel de marido em uma relação homem-mulher,

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embora este fosse o sonho mais íntimo, deixar de ser o outro e assumir o papel principal.

Ademar percebeu o noivo traído entrando pela porta do restaurante e caminhar com passos firmes, direto e reto em sua direção, temeu pelo pior, então desabotoou o seu paletó de linho branco deixando a mostra o cabo madrepérola do revolver calibre 38, que portava na cintura da calça.

Peixoto não se intimidou e chegando à mesa, puxou a cadeira sem pedir licença e sentou bem na frente do amante de sua noiva e disse com voz calma, porém firme: “Não vamos duelar a moda antiga, isso da cadeia nos dias de hoje, portanto feche o paletó, que vai acabar chamando atenção dos clientes com esse revolver a mostra na cintura”.

Ademar concordou lentamente com a cabeça, abotoou o paletó e olhando fixamente nos olhos de Peixoto disse-lhe “continue”, “vamos disputar a Carmem agora, neste momento, em uma única mão de poker aberto, o perdedor sai para sempre da cidade e da vida de Carmem”. Novamente Ademar concordou

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com a cabeça em seguida no melhor estilo mafioso italiano, pegou a faça que estava sobre a mesa e fez um pequeno corte no polegar esquerdo. Peixoto fez o mesmo, depois selaram um pacto de sangue e honra, ficando claro para os dois que quem quebrasse o pacto, morreria sem piedade.

Peixoto retirou do bolso do paletó um maço de baralhos fechado e colocou sobre a mesa, Ademar desprezou as cartas afastando-as do centro da mesa, chamou o gerente do restaurante e pediu urgência na compra de um novo maço de baralhos na banca de revista em frente, Peixoto concordou com a cabeça.

O ódio mútuo impregnava o ar, os dois olhando fixamente um para o outro, nos olhos, esperaram em mais completo silencio o retorno dele. Quando ele retornou, Ademar falou para o gerente “o jogo é poker aberto, em uma única mão, embaralhe bem e de as cartas”, sem pestanejar, percebendo o clima quente entre o delegado e o bicheiro, o gerente embaralhou e deu as cartas.

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Primeiro para Peixoto que recebeu satisfeito com um sorriso no canto da boca uma trinca de oitos, um dez e um rei, em seguida Ademar recebeu um par de valetes e um de damas, mais um inútil sete. Causando-lhe um estranho arrepio na espinha, apreensivo sabia que seu jogo de partida era inferior, antes das trocas das cartas. Logo compreendeu que se Peixoto na troca das duas cartas, dez e rei, imprestáveis para o seu jogo, resultasse em uma carta oito tudo estaria perdido, sua única chance era obter um valete ou uma dama para completar um full-house, jogo superior a trinca, mais inferior a quadra de oitos.

Nas trocas das cartas, novamente Peixoto recebeu primeiro as cartas trocadas, um sete e um ás, não desanimou, esperançoso sabia que seu jogo ainda era superior, em seguida Ademar pediu para receber sua única carta trocada fechada, Peixoto concordou com a cabeça e assim foi feito. Ele com as mãos trêmulas pegou a carta sobre a mesa delicadamente, como fosse à coisa mais preciosa do mundo, lentamente foi erguendo-a

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até o seu campo de visão, a altura dos olhos. Nesta ocasião, as duas mãos tiveram um gesto particularmente terrível, como que saltassem para agarrar algo que não existia mais e caíram agonizantes sobre a mesa, obedecendo unicamente à lei da gravidade, a carta era um nove, tudo estava perdido, Peixoto manteve a serenidade e a discrição dos bons vencedores.

Ademar num gesto seco levantou-se como alguém se sentindo mal e levantasse para não sufocar, por trás dele a cadeira rolou barulhenta pelo chão, em seguida com passos desesperados ele se afastou da mesa, sem dizer nada, sem se importar com nada mais em direção ao banheiro. Peixoto policial experiente percebeu que aquele homem estava prestes a suicidar-se e rapidamente foi atrás dele.

Quando o delegado entrou no banheiro encontrou o bicheiro com o revolver calibre 38 apontado para a cabeça, Peixoto gritou desesperado: “Não faça isso, não quero levar a sua morte na minha consciência, fique com a Carmem, você a ama mais que eu”, Ademar

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mantendo o revolver apontado para a sua própria cabeça, desolado respondeu com a voz embargada e trêmula: “Isso não é justo para com o nosso pacto de sangue e honra, eu me caso com a Carmem e você fica como amante dela, concorda?”, “concordo”, respondeu Peixoto resignado, em seguida os dois calados se dirigiram rumo ao apartamento de Carmem.

Carmem os recebeu com descrição e cortesia, mas estranhamente não demonstrou surpresa alguma ao vê-los juntos, em seguida escutou atentamente a proposta dos dois e com um largo sorriso de felicidade no rosto deu sua resposta final “aceito a proposta com muito amor, paixão e carinho”. Depois complementou “eu enviei a carta anônima para você, Peixoto, achei que já estava na hora de vocês dois se acertarem, e nós três sermos felizes até quando a vida assim permitir”.

Os comentários correram à boca miúda pelos boêmios da noite carioca, "será que onde cabe um, cabem dois?". O casamento se deu um mês depois com o triângulo amoroso equilibrado e pacificado.

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Infidelidade

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O primeiro encontro.

A MADRUGADA bem nascida com o aroma da chuva fina, acalento suave que diminuiu o calor em volta da lagoa prateada, onde a lua deitava o seu beijo sobre a pele d’água. Os ruídos da noite feriam a madrugada sem maldade, de mãos dadas Paulo e Paula, trocam olhares, palavras, trocam bocas, gostos. A mão dele acariciava as costas dela com malícia, os seus dedos descansam suaves nos lábios da loira doce de doce abrigo. Paulo sentia o desejo nos lábios de Paula como um vulcão em erupção. Mas ela relutou e lhe disse com voz languida: - Sou casada. Paulo lhe respondeu suavemente: - Eu vi a sua aliança, mas porque temes a traição se minha boca convida o teu desejo com dentes de marfim, aroma e água, bela e pura, nua e crua para o amor perfeito. Sem uma palavra Paula não resistiu aos encantos sedutores que fizeram o seu coração bater enamorado e com um abraço abrasado se entregou com movimentos ardentes, ofegantes,

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alucinantes às vezes leves suaves e tentantes, às vezes violentos como os movimentos das grandes tempestades. Paulo penetrou Paula como um amante errante, fez-lhe tremer em suas carnes, abriu-lhe como uma rosa preciosa, rasgou-lhe como folha de papel, ejaculou em suas pernas ternas, para depois se perder nas gotas de suor que serpenteavam o corpo da amada com passos embriagados de prazer. Paula respirou com gosto a natureza sem censura daquela intimidade, transpirou com gozo o destino sem futuro daquela infidelidade, prometendo a si própria que nunca mais trairia o seu marido, que nunca mais marcaria um encontro, com um desconhecido, pela internet. Doce ilusão, Paula adorava trair o seu marido.

O segundo encontro.

SACIADA nos seus instintos mais primitivos em suas fantasias mais intimas Paula voltou para o seu apartamento e dormiu o sono dos justos, até ás sete horas da manhã,

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quando o marido chegou de viagem com Flávia, a filha única do casal. À tarde Paula ficou sabendo da grande novidade, Flávia traria o seu novo namorado para jantar e antecipou à grande notícia, ela estava grávida e eles pretendiam casar-se o mais breve possível. À noite Paula desconsertada e enciumada conheceu o futuro genro Paulo, o mesmo que tinha levado ela ás nuvens na noite anterior. Jantaram normalmente e meses depois teve que engolir os seus ciúmes a seco, quando Paulo se casou com Flávia lhe prometendo amor eterno.

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O julgamento final

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ESTAVA esperando a chegada do meu cliente, junto com o agente penitenciário, Ernesto Gordo, na sala dos advogados da penitenciária, quando Ernesto apavorado saca sua arma e me diz “Doutor o barulho interno da penitenciária sumiu”. Em menos de dois minutos a porta se abre, o silêncio era mórbido, entra o meu cliente Daniel com as mãos sobre a cabeça, parado na entrada da sala; o carcereiro fala do corredor, com a voz trêmula “Ernesto Gordo abaixe a arma, que eu estou com um 38, encostado na minha nuca”.

Ernesto coloca seu revolver 38 em cima da mesa e se encosta, na parede, o carcereiro entra na sala, que é invadida por quatro elementos. Entre eles, Jorginho da Vila Nova, chefão do tráfico na capital, com seu boné vermelho na cabeça; ele vai até a mesa e coloca o 38 em sua na cintura, olha para mim, e me diz “Eu te conheço, bota-fora (advogado), você é aquele cara que apareceu na TV, e este é o seu cliente malucasso que matou a nega dele na praça do correio”.

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Concordei com a cabeça e ele pergunta para o Daniel “Quanto esse coió (idiota) tá te cobrando, para defendê-lo”. Daniel nervoso responde “nada”. Jorginho ordena “Zé leva o carcereiro e o Ernesto Gordo e amarra junto dos outros, nos botijões de gás, lá na cozinha, e você bota-fora vai viver porque não tá cobrando nenhuma bufa (dinheiro) desse migué (otário); agora de joelhos, beije a minha bondosa mão e me agradeça por te deixar viver”. Sem alternativa, ajoelhei-me e beijei-lhe a mão direita, as gargalhadas dos amotinados na sala foram generalizadas. “Calados” berra Jorginho, o silêncio é imediato e complementa “quero ouvir o bota fora”, beijei-lhe novamente a mão direita, para não aumentar o meu risco de morte e falei em alto e bom som “senhor Jorginho, agradeço sinceramente essa grande oportunidade, graças a sua benevolência, de me deixar continuar a viver”.

“Até parece a minha Tchôla (amante de bandido) resmungando”, disse Jorginho, as gargalhadas se generalizaram de novo, até

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Daniel gargalhou, só que este último gargalhou de nervoso misturado com pânico. Jorginho levanta a mão, as gargalhadas cessam imediatamente e me ordena com o dedo em riste “Pode levantar bota fora bundão, fique encostado do lado dele na parede e nenhum píu, fique caladinho ou corto sua língua”. Fui até a parede e fiquei onde Jorginho ordenou com o dedo em riste, ao lado de Daniel.

A sirene de alerta de rebelião soa por toda penitenciária, Jorginho de posse de um celular liga para o diretor da penitenciária e fala “é uma rebelião, logo te devolvo a faculdade (penitenciária) com uma única condição, não ter esculacho, volto a ligar mais tarde; esculacho da tropa de choque é a violência contra os presos que geralmente ocorre após as rebeliões”, me explica Jorginho após desligar o celular, como se eu não soubesse e complementa “hoje você, bota-fora bundão, vai aprender muito da lei dos presos”. Gritos de pavor cada vez mais altos são escutados por todos dentro da sala, um forte cheiro de queimado, vai tomando conta do ar, vários

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presos entram na sala, uns armados outros com as mãos sobre a cabeça.

Um deles fala, para o Jorginho “Tá dominado, tá tudo dominado, chefe”, que pergunta “Joel e os otário do seguro?”, “tudo morto chefe, um duquequartoze (estuprador de homem), um duquetreze (estuprador) e um dedo duro (delator)”.

Jorginho ordena “vamos começar o julgamento”. Os oito presos que entraram na sala, como reféns, são despidos e colocados de pé, com o rosto colado na parede. O barulho de vandalismo é enorme, Jorginho, vai até a porta e berra para todo mundo calar a boca, no corredor, o silêncio é imediato. Jorginho senta, calmamente na cadeira dos advogados junto à mesa e diz “caso um”. Joel vai até a parede, e trás quatro presos reféns e diz “chefe esses quatro otário, invadiram nosso território, lá no centro da cidade, pra vende coisa (maconha), que roubaram lá na mercearia da “vovó do tráfico”, eles falaram que foi o Pedrinho que mandou”.

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“E cadê o Pedrinho?” perguntou Jorginho “Tá bordejando ai, elas esquinas”. “Tá feito (morto), manda um braço (pessoa de confiança) faze uma casinha (armadilha) antes dele canelar (fugir) e leva esses quatro otário pro corredor e volta aqui”, sentencia Jorginho. Os quatro implorando piedade são levados para o corredor, Joel retorna e Jorginho fala em voz alta “mata os cara devagar, só na porrada”. E o massacre começa, a gritaria é geral no corredor, em menos de quinze minutos, volta a reinar o silêncio.

Jorginho fala “caso dois”. Joel vai até a parede e trás três presos, que chegam perto da mesa em desespero, pedindo desculpas. Joel manda-os calarem a boca e fala “esses três otário, são aqueles que no ano passado, foram espiantar (furtar se aproveitando de um descuido) a quirela (dinheiro), lá na boca de fumo da Marlene Sapatona e caíram (foram presos) num cabrito (carro roubado), no estacionamento do shopping. Jorginho ordena “Tranca os três, na cela do fim do corredor, junto com um monte de colchão e taca fogo”.

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O desespero dos três é tão grande que tiveram que ser carregados até a cela. Em poucos minutos gritos horripilantes ecoam pela sala e continuaram ecoando por aproximadamente dez minutos com um fortíssimo cheiro de carne queimada, que não desapareceu mais.

Quando o silêncio volta a reinar no corredor, Jorginho se levanta vai até a parede e pega o último preso refém pela orelha e diz "seu ôta (otário) você quis talaricar (paquerar) a minha feinha (esposa)”, leva-o até a mesa.

O rapaz implora Jorginho o coloca deitado, de barriga para cima, sobre a mesa, pega uma faca e corta-lhe a orelha direita, o rapaz berra de dor, Jorginho enfia a orelha na boca do rapaz e ordena "coma tudo", comeu a orelha em estado de choque. Jorginho fala, "você olhou para a minha namorada, escolha um olho para eu furar", o desespero do rapaz e total, vou furar os dois insiste Jorginho, o rapaz fala agoniado e baixinho, "o esquerdo".

Assim foi feito o rapaz com o olho esquerdo vazado, rola da mesa e cai no chão, à

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dor se torna insuportável, ele desmaia, Jorginho manda chamar o Tião Boiadeiro.

Após quinze minutos, o rapaz vai recuperando, lentamente, os sentidos e começa agonizar de dor, rola pelo chão, se arrasta em desespero, implora piedade, beija os pés de Jorginho, que diz “você falou com a minha namorada, mas eu não vou cortar sua língua, eu quero que o povo escute suas eternas lamentações”.

E ordena para o Tião Boiadeiro “Capa esse vagabundo como você capava os bois lá na roça”. Tião pega a faca, pede para cinco companheiros, imobilizar o rapaz, que aos gritos implora clemência, mas não adianta calmamente Tião Boiadeiro, extirpa-lhes os dois testículos e o rapaz volta a desmaiar de dor. Jorginho pergunta a Joel, "mais alguma pendência", Joel diz que "não", e o julgamento termina.

Jorginho olha para mim e diz “Bota-fora bundão eu vou te liberar, você vai sair com esse otário capado, eu não quero que ele morra, nem aqui, nem no hospital, se ele

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morrer você fica jurado de morte, entendeu ou preciso explicar de novo?”, “Entendi”, respondi com voz em choque. Jorginho me ordena “Diga ao diretor da faculdade, que dez presos morrerão no acerto de contas, a rebelião acabou e a tropa de choque pode entrar de manhã, às dez horas, mas sem esculachar os presos, deixe o seu melzinho (celular) em cima da mesa e saia daqui, bota-fora bundão, com o seu cliente migué”.

Eu e Daniel saímos da sala dos advogados, levando o rapaz desmaiado para receber atendimento médico, meu cliente, quase sem fôlego esbraveja “Ta vendo Doutor, porque sempre disse pra nega, que sou totalmente favorável a pena de morte, pena que ela não acreditou e me traiu”.

Não tinha a menor disposição de dizer nada, mas disse simplesmente para distrair o meu pânico “eu sou contra, mas de hoje em diante sou totalmente favorável a lobotomia, inventada pelo português Antônio Egas Moniz, premio Nobel de medicina, pela invenção”; “Mas que diabo de coisa é essa?”; “Lobotomia

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é uma cirurgia do lóbulo pré-frontal do cérebro, que se faz em doentes mentais perigosos, ou criminosos violentos, isto os deixa em estado de apatia grave crônica”; “Deixa como Doutor?”; “Mansinhos, mansinhos, pelo resto da vida”; “Então de hoje em diante, também sou favorável, a esse negócio, Doutor, esse premio que o portuga ganhou, é igual aquele do cinema?”; “É quase igual, mais rápido Daniel, senão esse coitado morre em nossos braços”. Assim que chegamos a ultima porta de ferro, fomos resgatados pelo diretor da penitenciária, que não permitiu a saída de Daniel. O rapaz foi logo socorrido pelo SIATE e levado às pressas para o Hospital Metropolitano, transmiti o regado de Jorginho para o diretor, que apenas comentou “é a lei das massas, você nasceu de novo advogado”.

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O Paciente terminal

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QUANDO Negariosvaldo retornou da UTI cardiológica para a enfermaria 2 do SUS, ainda estava acordando da sedação que lhe foi imposta. No entanto percebeu a presença de um novo paciente na cama ao lado da sua, o paciente anterior havia morrido de morte súbita antes de conseguir o tão esperado e inadiável transplante do fígado.

Imediatamente após Negariosvaldo se acomodar no seu leito hospitalar escutou em alto e bom som a pergunta do seu novo companheiro de quarto: - Meu nome é Orlando, porque fizeram isso com você?

- Fizeram o que? Respondeu Negariosvaldo com a voz ainda sonolenta.

- O seu nome, eu escutei o enfermeiro falar?

- Todo mundo me pergunta isso, já encheu o saco, há muito tempo esta mesma pergunta, a resposta é sempre a mesma, outra chateação.

- Se a minha pergunta foi inconveniente não responda, vamos falar de outra coisa, o médico acha que eu “to” com câncer no pulmão, fumei 40 anos.

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- É a vida Orlando, o médico tem certeza que eu tive um grave infarto do coração, também fumei 40 anos, mas no meu caso acho que foi a Lurdinha. - O que ela fez companheiro? - Partiu o meu coração em mil pedaços de tristeza quando ela me traiu com o meu sócio. - Pois é, é a vida, a minha Beatriz também não foi uma mulher totalmente fiel, Negariosvaldo. Ela andava com o quitandeiro, com o padeiro, o açougueiro, leiteiro e até com o peixeiro, motivo pelo qual a geladeira da minha casa estava sempre lotada de coisas. Contudo eu não me fiz de rogado tomei uma atitude radical, comprei uma geladeira novinha em folha, enorme, assim a nossa vida seguiu em paz, até Deus chamá-la no ano passado. - Então você foi corno manso, á vida toda? - No começo não brigávamos, mas depois me conformei coisas do coração. Depois desta resposta um silêncio reflexivo tomou conta do quarto, sendo cortado com a entrada de um grupo religioso, formado por quatro mulheres e um jovem

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dedilhando um violão. Negariosvaldo olhou para o Orlando, que lhe retribuiu o olhar dizendo ao grupo: - Eu fumei 40 anos, “tô” com o pulmão arrebentado, o meu companheiro também fumou 40 anos, “tá” com o coração dilacerado, enfim estamos com os pés na cova, se vocês vão rezar nos vamos “pro” céu, então melhor não rezar, o que você acha Negariosvaldo? - É melhor toca um sambinha... “quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela gravada com o nome dela”. A líder do grupo, mulher morena de pele clara com olhar penetrante e fisionomia que misturava malícia com austeridade, vestia-se da mesma forma, escondendo o corpo bem feito, não era bonita, mas também não era feia, talvez se mudasse o penteado, ficou indignada. Perguntou com rigidez na voz: - Os senhores poderiam ao menos informar-nos se o atendimento médico-hospitalar e a alimentação estão satisfatórios?

Negariosvaldo respondeu primeiro: - O atendimento é bom, a comida é ruim, o que você acha Orlando?

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- Concordo a comida “tá” ruim, não servem nem uma costela assada com uma cervejinha gelada, pelo menos uma cachaça com um torresminho de tira gosto...

- Sem condições, vamos embora, passar bem. Argüiu a líder do grupo, interrompendo abruptamente a fala animada de Orlando, foram embora resmungando pelos corredores: “assim não dá, sem condições...acho que pintou uma ternura entre eles...”

Negariosvaldo e Orlando riram do infeliz comentário em seguida conversaram sobre vários assuntos, a maioria deles amenidades lúdicas, pareciam até compadres de longa data e assim depois da medicação noturna dormiram o sono dos justos.

Às três e meia da madrugada, uma correria desenfreada na enfermaria acordou Negariosvaldo, médicos, enfermeiros, um desfibrilador, seguido de uma injeção no peito direto no coração, não foram suficientes para salvar a vida de Orlando. Meia hora depois, às quatro horas em ponto foi dado como morto, o

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câncer no pulmão fez o coração dele se calar para sempre.

Emocionado Negariosvaldo pede para um dos enfermeiros auxiliá-lo até a cama onde estava o corpo do amigo recém falecido, ele pegou a mão de Orlando com carinho como se quisesse consolá-lo da fatalidade ocorrida e disse em tom de despedida: - Companheiro o meu papai se chamava Osvaldo a minha mamãe Rita, mas todos a conheciam por Nega Ri, resultado me batizaram como Negariosvaldo, era para ser pior com dois erres, ficando Negarriosvaldo. Entretanto amigo, o idiota que fez o meu registro escreveu o meu nome com um erre só, o meu pai com a cuca cheia de cachaça nem percebeu o erro, minha mãe semi-analfabeta quando leu o registro de nascimento, também não percebeu nada de errado nele. Adeus Orlando você está mortinho da silva, é a vida amigo.

Então só Negariosvaldo escutou com nitidez uma voz vinda não se sabe da onde: “Adeus amigo é a vida”.

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O assassinato da Maria Chuteira

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A DENÚNCIA ANÔNIMA feita por um telefone público, naquela manhã de domingo ensolarado, para a delegacia de homicídios chefiada pela Dra. Aldira foi aterrorizante, o corpo de uma jovem e bela mulher estava sendo devorado por urubus-rei em um lixão próximo ao aeroporto.

A policial atendente a princípio suspeitou tratar-se de um trote, pediu mais informações ao denunciante anônimo e ele com sua voz envelhecida que provavelmente cheirava a álcool foi incisivo.

Disse que viu estacionar um carro preto provavelmente importado nos fundos do lixão, isso lhe chamou atenção, curioso sorrateiramente se aproximou as escondidas, então a policial atendente lhe interrompeu e perguntou sobre as placas do veículo, mas elas ficaram ilegíveis pela posição do carro estacionado.

Ele continuou o seu relato, em surdina viu o corpo de uma linda jovem nua com um saco plástico transparente envolvendo toda a sua cabeça e rosto, amarrado no pescoço.

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Impedindo-a de qualquer possibilidade de respiração, ser retirada do porta-malas do veículo morta com as mãos e os pés amarrados entre si pelas costas, o corpo ainda flexível não apresentava rigidez significativa, indicando que a morte se deu a menos de 36 horas.

A moça foi colocada ao chão de bruços retiraram as amarras, o saco plástico que a asfixiou e a retalharam a faca do tipo peixeira, facilitando o trabalho dos urubus. Serviço feito por dois homens altos de óculos escuros e chapéu de palha, tudo feito sob a supervisão de uma mulher de estatura mediana com óculos escuros e lenço na cabeça.

Em seguida a mulher e os homens se afastaram do corpo e com calma na alma esperaram no acalento lento do vento os urubus chegarem, dezenas deles, depois centenas, todos atacando furiosamente ao mesmo tempo. A mulher deu a ordem e partiram deixando o corpo da jovem a sua própria sorte, momento em que o denunciante saiu da cena do crime em segurança sem ser

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visto por eles, a procura de um telefone público.

Novamente a policial atendente insiste quanto às placas do veículo, mas o carro partiu em disparada deixando muita poeira para traz, sem mais informações uma equipe policial completa chefia pela delegada Aldira imediatamente se deslocou para o local.

Quando chegaram ao lixão os urubus-rei já estavam se dispersando e os cachorros, a maioria vira-latas se aglomerando as dezenas, a cena do crime era terrível do corpo apenas ossos carcomidos espalhados pelo chão, em uma vasta área do tamanho de dois campos de futebol.

A perícia recolheu os ossos, para posterior exame de DNA, porém faltaram muitos para completar um esqueleto, os cachorros acabou com eles. A arcada dentária destruída pelos bicos fortes dos urubus-rei ávidos para comerem a língua e lábios da vítima, impossibilitando a identificação dela por esse meio, sem dúvida se não fosse à

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denúncia anônima o corpo desapareceria rapidamente, sem deixar vestígios da vítima.

Em seguida a perícia periciou as marcas encontradas no local da desova do corpo, primeiro as dos pneus, eram compatíveis com pneus não fabricados no país da marca Dunlop AT20 que equipavam os carros Honda CR-V importados do México com muitas unidades vendidas no Brasil.

Depois as marcas dos sapatos, números 43, 41 e 36, onde foram feitos moldes e fotografias das pegadas, o calçado número 43 possuía um solado compatível com tênis da marca Nike, modelo Dunk, finalizando assim o trabalho pericial no local.

Dra. Aldira pode então iniciar a sua linha investigativa. A veracidade da denúncia anônima permitia concluir com grande chance de acerto que a causa da morte foi sufocação criminosa provocada por um saco plástico amarrado suavemente ao pescoço da vítima, depois dela ser devidamente amarrada e imobilizada, levando-a a uma lenta, dolorosa e fatal asfixia.

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Tratava-se, portanto de homicídio triplamente qualificado, crueldade, premeditação e impossibilidade de defesa da vítima que morreu por asfixia, nestes casos o sangue se acumulam nos órgãos, facilitando o processo da putrefação corpórea, que ocorre em menos de 24 horas da morte.

Como ninguém levaria um corpo nu em putrefação em um carro preto ou em qualquer outro veículo, pois os odores seriam insuportáveis, a Dra. Aldira concluiu que a vítima foi assassinada na madrugada de sábado para domingo, deveria surgir uma queixa de desaparecimento em breve.

Mas a eficiente delegada resolveu ampliar a sua linha investigativa, como o carro envolvido na cena do crime era um modelo automotivo muito visado por ladrões, ele deveria ter um sistema de GPS. Na segunda feira de manhã Dra. Aldira entrou em contato com todas as firmas da capital que trabalhavam com rastreamento veicular por satélite e com um mandato judicial, pediu um relatório do destino de todos os carros pretos

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da marca Honda modelo CR-V no domingo, dentro dos limites do município.

A imprensa não deu muita importância ao caso, apenas divulgou que ossos humanos foram achados e recolhidos no lixão pela perícia policial, a delegada não divulgou para os jornalistas a existência de uma testemunha anônima e nem o conteúdo dos seus relatos. As pessoas envolvidas no bárbaro crime não contavam com a possibilidade de existir uma indesejável e inoportuna testemunha ocular dos fatos em local tão ermo do lixão, não estavam preparados para ela, deixaram muitas pistas.

A tarde veio a confirmação, um Honda CR-V preto cuja proprietária era Maria Emilia de Sousa Silva Nesau, esposa do famosíssimo centro avante Pedro Paulo Nesau, mais conhecido nos meios futebolísticos como Nescau, “o matador”. O Honda CR-V dela ficou estacionado por exatos 40 minutos no lixão, no domingo das 08h30min às 09h10min.

Na terça feira de manhã uma denuncia de desaparecimento foi feita por uma mãe

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desesperada carregando uma netinha de dois meses no colo na delegacia central, o fato chamou a atenção da delegada Aldira, pois se tratava de Larissa Strecke. Ela movia uma ação de paternidade contra Alfredino, também jogador de futebol, para reconhecimento de sua filha de dois meses de idade, como sendo filha legítima dele.

Um cerco investigativo sigiloso começou a se fechar ainda mais sobre o casal Nesau, quando a delegada Aldira descobriu que Nescau calçava 43, a esposa Maria Emilia 36, o motorista, e amigo de infância dele Eduardo, mais conhecido como Dudu, usava sapatos 41, todos possuíam a estatura descrita pelo denunciante anônimo.

Mas nem tudo que reluz é ouro, Nescau estava fora do país com o seu time de futebol, participando de um jogo decisivo pela Taça Libertadores da América. Portanto a pegada 43 não podia ser dele, a pegada 36 também não era da sua esposa Maria Emilia, pois ela estava internada há dois dias em um hospital da capital, se recuperando de uma cirurgia

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plástica, porém neste período Dudu ficou com o Honda CR-V, prestando serviços à família do centro avante.

Então a delegada passou a investigar Larissa, dada como morta assim que o exame de DNA dos ossos encontrados ficou pronto, ela vinha de uma família operária completamente desagregada, pai aposentado alcoólatra, vivia cambaleando de boteco em boteco. Mãe afeita a ter amantes, nem sempre às escondidas, qualquer um que se dispusesse a consumir o seu corpo sofrido que ainda guardava traços de boniteza com carinho, palavras suaves e algum dinheiro para as despesas da casa.

Filha única, Larissa tinha somente o que Deus lhe deu, um ótimo corpo com um rostinho lindo, uma vontade enorme de viver e ambição, muita ambição, queria mudar rapidamente de vida. A sua primeira opção foi tentar ser modelo, mas descobriu com tristeza que lhe faltava altura e lhe sobravam três quilinhos, justamente os que deixavam o seu

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corpinho mignon, contudo ela queria ser muito rica, pois a pobreza ela já conhecia.

O acaso em um shopping Center a levou a conhecer Dudu, motorista e amigo íntimo do craque Nescau. Assim Larissa começou a participar de uma combinação quase sempre explosiva que ocorre nas relações entre jogadores de futebol, suas mulheres legítimas, amantes e afins, começando pelas orgias, coisa corriqueira que faz parte do universo do futebol. Em uma delas Larissa acabou encantado Alfredino, craque do meio campo, cérebro da equipe de Nescau.

Enfim a bela moça visualizou um horizonte melhor para a sua vida, Larissa queria tudo de Alfredino, carinho, afeto, conforto, e principalmente um casamento de papel passado e tudo mais, só tinha um senão. O gênio do meio campo era casado com Flávia, atriz talentosa e modelo de sucesso que tomava conta das capas e páginas das revistas quando desfilava no carnaval carioca, como sendo a mais bela rainha da bateria.

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Para azedar essa relação Alfredino-Flávia, Larissa engravidou em vão dele, para a surpresa geral dela o casal aparentemente não se abalou, nem se separou quando ela disse a toda imprensa da capital paulista que o filho era dele. Na época a imprensa chamava Larissa de “Maria Chuteira”, dentro do vestiário do time de Alfredino, “bagaço”, assim Nescau e os outros jogadores se referiam a esse tipo de mulher interesseira, criticando o descuido do companheiro que engravidou sem querer o bagaço.

Dra. Aldina não condenou a conduta de Larissa, apenas lamentou, pois Larissa estava no papel dela, cabia ao craque saber onde estava se metendo, uma coisa era ter relações com uma porção de mulheres, viver na gandaia, outra completamente diferente era a mulher que você vai colocar dentro da sua casa. No seu lar o jogador tinha que ter uma mulher de verdade, como Flávia, não um uma aventura, por isso a delegada aprovou os esforços exitosos de Alfredino salvando o seu

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casamento, embora ela condenasse veementemente a traição cometida.

Alfredino não viajou para o exterior com a delegação futebolística, cumpria suspensão automática pela expulsão do último jogo, também não estava presente no lixão naquela manhã, pois calçava chuteiras 39, a esposa Flávia muito menos, gravava um filme no exterior. Dra. Aldira resolveu ter uma conversa informal com Dudu, interceptaram ele quando saia ao raiar do sol de sua residência dirigindo o Honda CR-V.

Levaram o veículo e o rapaz para lugar ermo e desconhecido, depois o fizeram abrir o bico e como ele abriu, nem precisou de muita ameaça de tortura. Receoso de ter um herdeiro indesejável para dividir o seu enorme patrimônio, Alfredino convidou Larissa para ir sozinha a sua chácara fazer um acordo. Lá ele ofereceu dinheiro para ela desaparecer de vez, Larissa não aceitou queria o reconhecimento da paternidade e a respectiva pensão mensal. O jogador se descontrolou e acabou desferindo um violento soco no queixo dela, Larissa

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desmaiou Alfredino a despiu, amarrou e colocou o saco plástico na cabeça e no rosto dela e viu atônito a bela moça morrer. Em seguida Alfredino ligou para Dudu e pediu a sua presença urgente na chácara, sem saber do que se tratava o rapaz chegou até lá, encontrou o jogador ao lado do casal que trabalhava na chácara como caseiro e o corpo da moça nua estendido no chão. Alfredino pegou a maleta onde estava o dinheiro que ia ser destinado a Larissa e disse aos três, em alto e bom som, desapareçam com esse corpo sem deixar vestígios e dividam o dinheiro. Com a promessa de ser beneficiado por uma delação premiada, Dudu assinou o seu extenso depoimento na delegacia, mandatos de prisão foram imediatamente expedidos pelo juiz. Com grande estardalhaço da imprensa o jogador foi preso e aguarda julgamento em liberdade juntamente com os outros envolvidos no crime, um crime que causou grande comoção social.

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O ladrão de sexo

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EUZEBÍOZINHO nasceu em berço de merda, pai desconhecido, mãe alcoólatra e para piorar as coisas na mais completa miséria. Nasceu negro em terra de brancos, cresceu abandonado pelas ruas praianas da pequena cidade paradisíaca, famosa por sua requintada praia de nudismo, depois de apanhar muito do padrasto e ser expulso de casa pela mãe, que não tolerava mais vê-lo apanhar tanto do seu amado e fiel companheiro. Na rua, Euzebíozinho foi discriminado desde cedo, a elite local não se incomodava com sua presença nas ruas cuidando dos luxuosos carros de veraneio, diziam aos turistas “pode confiar nele, esse menino é bonzinho, é negro, mas tem ações brancas”. Frases como esta entre outras doía fundo nos ouvidos e no peito de Euzebíozinho, apelido que ele recebeu na escola e odiava assim como ele começou a odiar os brancos que o vilipendiavam. Mas nestas ocasiões em que se sentia discriminado, Euzebíozinho repetia em voz

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baixa e embargada a única coisa que aprendeu na sala de aula, antes de abandoná-la para sempre, alguns versos de Cruz e Souza: “Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres. Embriagado tonto dos prazeres, O mundo para ti foi negro e duro”.

Embora não entendesse o que o poeta quis dizer com “embriagado tonto dos prazeres...”, repetir esses versos lhe fazia bem, acalmava-lhe o espírito revoltado e o coração apaixonado pela namorada Bernadete, jovem empregada domestica na casa do prefeito, com futuro promissor desde que prestasse alguns favores sexuais ao patrão.

Fato que partiu o coração de Euzebíozinho, “quanta vida vivida até chegar aos beijos teus, Bernadete, e agora isso”, murmurou com voz embasbacada, sentindo na alma o antigo e cruel castigo do gato sobre o rato, no peito a sobrevida que agoniza perdida, na sua cabeça vingança era a palavra de ordem. Lágrimas sonoras serpentearam-lhe o rosto como um rio amargo, estava decidido

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para Bernadete o desprezo, pois não se mata quem se ama, para o prefeito a cobrança da honra em forma de dor e sofrimento eternos, levados sem dó nem piedade às ultimas conseqüências.

A tocaia foi feita, quando o prefeito abriu a porta de sua camionete, Euzebíozinho encostou uma faca na garganta do vil político, e disse com imensa calma na voz: “Branco eu sou Negro com ações brancas, isto é um assalto sexual”. Em local ermo o prefeito é seviciado por horas a fio, violentamente espancado e abusado sexualmente foi encontrado clamando por socorro, por pescadores no dia seguinte. No hospital imediatamente após o prefeito detalhar o fato ocorrido, a intensa caçada ao criminoso começou. Sensibilizado o governador pediu ao ministro da justiça a Polícia Federal no caso, enquanto isso a primeira dama fazia o maior escarcéu, demitiu Bernadete colocando-a abaixo de zero nos jornais, com estardalhaço nas rádios locais noticiou a ação de divorcio com uma salgada pensão mensal.

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Tudo jogo de cena da esposa do prefeito, todos sabiam, foi ela quem descobriu a traição do marido e colocou Euzebíozinho a par da situação. As más línguas diziam até que ela deu algum dinheiro para ele fazer o que fez fato este não comprovado nas investigações.

Os correligionários do prefeito pediam a justiça de Deus e exigia a justiça dos homens, inclusive a dos apenados, aludindo ao fato de que, uma vez no presídio, Euzebíozinho seria transformado em “mulherzinha” pelos demais presidiários, pedido em vão, pois os presos fizeram um pacto de não agressão.

A oposição se deliciava com tudo isso fazendo chacota dos fundilhos do prefeito, das espalhafatosas entrevistas da primeira dama, além de esculhambarem com a vida de Bernadete, que acabou retornando para sua cidade natal no nordeste.

Depois de árduas diligencias policiais os investigadores concluíram apenas que Euzebíozinho conseguiu chegar à capital paulista, depois disso ninguém soube de mais nada.

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Perdido na solidão da noite

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TRÊS minutos sem respirar, três dias sem beber, três semanas sem comer, três meses sem escrever, Flávio sabia que em qualquer uma dessas situações estaria morto. Ele era afeito a fazer obras primas, segundo as críticas mais criteriosas, seus livros os mais vendidos da editora, mas a inspiração lhe faltava há dois meses e meio.

Flávio se sentia em estado de coma em uma UTI do SUS, ele escrevia pelo mesmo motivo que uma pessoa respira, bebe ou come, Flávio escrevia para viver e sentir-se vivo, não suportava mais o fim súbito da sua vocação inquestionável de criar belos poemas, contos, crônicas e romances.

Mas nada como um dia após o outro, intercalado por uma noite de amor, um jantar a luz de velas no apartamento da Gabriela com muita magia e fantasia de sobremesa, excitados e entregues nas delicias da carne, do prazer pelo prazer, fizeram amor como se não houvesse amanhã.

Gabriela adormeceu com seus instintos de fêmea saciados, Flávio abre as cortinas do

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apartamento, deixando penetrar no ambiente o frescor da noite e o luar, o luminoso da loja em frente piscava suave, dando um leve toque avermelhado ao quarto.

Em seguida ele pega um bloco de notas que estava ao lado do telefone e na solidão da noite começa a escrever, depois de alguns minutos beija carinhosamente o rosto adormecido de Gabriela e parte silenciosamente, tomando cuidado em não fazer barulho ao fechar a porta da sala do pequeno apartamento.

Os primeiros raios de sol acordaram Gabriela e iluminaram os escritos de Flávio que se encontrava na cabeceira da cama, ela os leu avidamente, como se devorasse palavra por palavra, letra por letra:

“MEU profuso olhar azul desliza na penumbra dessa cama onde ecoam os nossos burburinhos de carinhos e pela primeira vez pousa em ti com o brilho do fogo do esmerilho. Difuso neste silencio atencioso vejo

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a retidão imóvel do espelho refletir olhos azuis sem mágoas tingindo o teu corpo amoroso. Na penumbra vejo miragens sobre a tua pele desnuda muda, vejo suas formas mais delicadas com aromas mais que selvagens, mais uma vez os meus olhos passeiam encantados, extasiados sobre a translucidez das tuas curvas felinas e sofrem com o seu ciúme. Sois o vil ciúme, amor de dor, remóis, destróis, corróis depois deseja os meus açoites á flor da noite, a meia noite, mas foi-te no pernoite com o teu ácido a cor dos meus desejos, a luz dos meus olhos e o mel dos meus lábios. Remóis o meu peito dividido no leito antes e depois do seu perfume, destróis os meus carinhos, os meus fascínios, dos encantos sobram os desencantos, do leito só a saudade no peito. Corróis a minha alma com calma, entregue a palma de sua mão de peito aberto, de coração aberto, ser fiel já não basta para o teu fel. Assim vou para a rua de lua a lua á espreita de esquina em esquina.

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Assim eu me vingo do seu ácido, nos braços de uma morena de bom tom, gostooosa como bombom, assim eu me vingo da sua fúria nos lábios de uma loira de doce abrigo gostooosa como figo.

Assim eu me vingo do seu vil ciúme como um pássaro vil, até ele aprender que sou cavalo selvagem, vara que verga, mas não quebra. Até ele aprender que o seu mel não pode ser fel, até ele aprender que te amo como nunca amei ninguém.

Clamo por ti, gemo, tremo, te amo irracionalmente, por instinto, por impulso não resisto és tatuagem irreversível marcada no meu corpo, cravada no meu coração, tatuada em minha alma. Minha boca convidará sempre o teu desejo com dentes de marfim, aroma e água, bela e pura, nua e crua para o leito perfeito.

Entrego-me sempre aos seus prazeres, às suas vontades de peito aberto, às suas fantasias feito unha e carne, corpo e alma. Meus olhos te celebram, meu peito se encanta, mulher dos meus cuidados, mulher dos meus prazeres.

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Respiro com gosto a natureza sem censura dessa intimidade, transpiro com gozo o destino sem pudor dessa felicidade, até o seu coração falar chega e sei que não falará, o seu cio é o meu vício, o seu amor ciumento a minha dor.

Hora de partir, a esperança dança perto dos olhos, a cicatriz feliz da saudade levo dentro do meu peito.

Na rua os ruídos da noite ferem a madrugada sem maldade, amanhã voltarei trazendo o vinho, o pão, o aroma gostoso e o desejo de um beijo amoroso.”

Assim terminava os escritos de Flávio, depois de dois meses e meio sem escrever uma linha sequer, escreveu estas para a pessoa amada, infelizmente Gabriela não reagiu bem, delírios de ciúmes lhe atormentaram a mente, tiraram-lhe o bom senso e o discernimento da medida dos pesos, da medida das forças.

Como disse certa vez um amigo meu: “Fantasmas, eu entendo, espíritos vingadores,

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eu entendo, demônios, eu entendo. Mas pessoas? Pra mim é só um bando de malucos!” Ao meio dia em ponto, hora em que a sombra é mais curta, um canal de televisão noticia com todo o estardalhaço espalhafatoso de uma edição extraordinária que interrompeu abruptamente a programação local, o mais longos dos erros de Gabriela: “A literatura está de luto, inconformada com as traições do noivo, noiva mata poeta com um tiro no coração no centro da cidade...”. Definitivamente Gabriela não soube amor, mas pode aprender, nunca é tarde para isso.

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Mulher casada procura

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NÃO ERA do feitio de Jorge falar não para o sexo, Carla não fazia o seu tipo, ela estava longe disso, mas ele não podia dizer não. Vivia na dieta da “sopa”, mulher deu “sopa” Jorge comia sem titubear, mesmo sendo casado há oito anos com Gabriela a qual carinhosamente chamava de “Cravo e Canela”.

Ele traia a sua esposa sem remorsos, pois achava que o sexo fora do casamento fazia parte do universo masculino, o seu avô fez, seu pai fez, porque ele não faria, afinal de contas todo homem que é verdadeiramente macho faz?

Jorge fez sexo com Carla como não se houvesse amanhã, aplacou seus instintos mais selvagens e primitivos em um motel de quinta categoria na periferia da cidade, durante toda à tarde de terça-feira que não arde covarde ao sol, depois com o acalento do vento lento lhe acariciando o rosto, foi para a sua casa como nada tivesse acontecido.

Chegou lá como sempre chegava, com um largo sorriso no rosto acarinhou Gabriela, depois beijou e brincou com as filhas, tomou

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um bom banho, jantou, verificou os e-mails no computador da sala e foi dormir cedo, no mesmo horário das filhas pequenas alegando que o dia de trabalho tinha sido extenuante.

Sua esposa não sabia de nada, nunca desconfiou de nada, abandonou a profissão para cuidar das duas filhas, do marido e da casa.

Mas o fato é o que os olhos não vêem o coração não sente, assim Gabriela vivia feliz da vida em seu lar, até aquela fatídica noite de terça-feira, quando Jorge chegou como sempre chegava e foi dormir cedo esquecendo o computador da sala ligado, com sua caixa de entrada de e-mails aberta.

Toda a traição de Jorge veio à tona, Gabriela descobriu que seu amado marido envolveu-se sexualmente com muitas mulheres das quais a maioria ela não conhecia, várias prostitutas, e até com o seu primo homossexual.

Estavam quebrados os laços de confiança matrimoniais e desvelados os segredos mais

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íntimos, juntamente com as esdrúxulas mentiras contadas pelo marido. Até então Gabriela sentia-se muito segura de si, achava que era a única mulher na vida de Jorge, se entregou de cabeça para ele, fazia de tudo para agradá-lo, era fogosa na cama, dona de casa zelosa, excelente mãe. A cegueira mágica da paixão de Gabriela por Jorge, da simbiose das trocas amorosas, dos papéis complementares, das estruturas e rituais do lar, que davam a ela a ilusão de um amor verdadeiro, respeito e conhecimento mútuo acabou com um enorme sentimento que misturava ódio, raiva e sede de vingança, como se fosse uma faca cravada no seu coração. Com o coração sangrando Gabriela não dormiu naquela noite, fumou dois maços de cigarros, estava desesperada, não sabia o que fazer separar-se sem emprego jamais, como manteria as filhas? Com a pensão do Jorge, e ela como se manteria? As dúvidas lhe atormentavam a mente, dificultando o seu raciocínio lógico, decidiu se

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calar, dissimular fazer de conta que nada daquilo que leu nos e-mails do marido tinha realmente acontecido. E assim ela tentou fazer dia após dia, mas não conseguiu, tinha nojo do marido, perdeu totalmente o desejo sexual por ele, o amor acabou veio à insônia, a depressão e o desespero vivo, seu único alento as filhas, vivia para elas. Jorge não entendia as mudanças intempestivas no comportamento de Gabriela, sugeriu para a esposa uma consulta psiquiátrica, ela disse que faria isso, pois também não entendia o que estava acontecendo. Mas Gabriela não procurou um médico e sim uma Lan Hause, postou em um site de relacionamento, duas fotos suas de lingerie, uma de frente outra de costas, ambas escondendo o rosto, logo abaixo delas o seguinte recado: “Olá, moro em São Paulo, tenho 32 anos, 1,66 e 55 kg. Procuro um HOMEM casado, com carro e algum dinheiro para dividir o motel ou

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um lugarzinho para termos deliciosos momentos de prazer. Estou muito carente e com muito amor para dar. Meu e-mail [email protected], aguardo contatos, não tenho nenhum preconceito, mas que você tenha aparência física e idade compatível com a minha, higiene, sigilo absoluto, nada de compromisso, mais camisinha, e claro, há! se quiser fumar eu não ligo, pois também eu fumo.” Alguns dias depois Gabriela informou ao marido que a partir daquela data, toda terça-feira à tarde, ela teria uma sessão de psicoterapia com o psiquiatra, para ele não se preocupar que o convênio médico cobriria todos os custos do longo tratamento médico que começaria naquela tarde, sem prazo para terminar.

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Um estranho casal

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VALERIA conheceu a sua verdadeira cara metade, tinha convicção disso, estava realmente convencida que esse era o homem ideal, não vacilou nem por um segundo para aceitar o pedido de casamento.

“Maduro, bonito, simpático e experiente”, assim Valéria definia o seu marido Alberto, eles se identificaram por terem tido uma infância muito parecida, ele preocupado em sustentar a sua mãe e ela com os seus irmãos, a fome, a falta de amor embora ambos tivessem pais. Enfim, à vontade de viver, a necessidade de amar, os sofrimentos, o apoio mútuo os uniu.

Aberto era uma pessoa livre, não havia cobrança da esposa nos seus horários comerciais, devido à profissão por ele exercida, corretor autônomo de seguros, mas Valéria sabia que isso o facilitava a um contato maior com o sexo oposto e com o passar do tempo veio à descoberta da traição.

A partir deste dia a dor, desconfiança, mais a magoa levaram Valéria a sentir-se um farrapo, os filhos sabiam que algo estava

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acontecendo, não dava para disfarçar, ela não acreditava mais no marido. A verdade tornou-se mentira, era como ter construído algo muito grande e ver destruído em minutos, o sentido da vida para ela ia sendo perdido pouco a pouco.

Então tudo começou a mudar na vida de Valéria, começou a olhar mais para ela, pois vivia em função do marido traidor, voltou a estudar, tirou carteira de motorista, enfim tentou recuperar o tempo que perdeu, sem ter, no entanto, novos horizontes claramente bem definidos na sua cabeça.

Não havia mais atividade sexual com Alberto, às horas em que ele não se encontrava em casa era um martírio para Valéria e quando ele chegava ao apartamento ela sentia nojo de tocar em seu corpo, a coisa piorou muito quando as crianças foram para a colônia de férias com os avôs.

Alberto passou a exigir sexo, Valéria fechou as pernas e abriu a boca, soltando os cachorros em cima dele, até aquela fatídica noite quando ele chegou alterado pelo álcool,

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doses a mais de uísque 12 anos fizeram Alberto perder o bom senso e o bom discernimento. Exigiu veementemente sexo, Valéria negou peremptoriamente, sem dó nem piedade ele a agrediu, os vizinhos ouviram a gritaria e intercederam junto à porta do apartamento, ameaçaram chamar a polícia.

O que se passou a seguir foi um verdadeiro descalabro, Valéria vai chorando para o quarto, Alberto permanece furioso na sala, respira fundo vai até a cozinha pega uma faca tipo peixeira e se dirige com passos firmes em para o quarto. Coloca a faca na garganta de Valéria e diz “se der um píu morre”, ele a estupra de todas as formas de todos os lados, ela sofre calada.

Depois estranhamente ele vai até a sala, pega um litro de uísque quase cheio no barzinho e se dirige arrependido ao banheiro, sussurra as quatro paredes: “o que faço com minha lucidez que atrapalha a minha embriaguês?” Entra na banheira de hidromassagem completamente vazia e

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começa a beber até adormecer completamente embriagado.

Após duas horas de ser desumanamente estuprada, Valéria vai até o banheiro, encontra Alberto alcoolizado em profundo sono, retorna ao quarto, pega dois comprimidos sublinguais de Bromazepam 6 mg, que o médico lhe receitou como sedativo e volta pensativa ao banheiro, coloca os dois comprimidos na boca de Alberto, ele nem percebeu.

Em poucos minutos os comprimidos se dissolveram, em pouco mais de meia hora o álcool potencializou em muito o efeito do medicamento, transformando o sono profundo dele em um sono comatoso. Sem dó nem piedade Valéria pega a peixeira que estava jogada ao chão e calmamente decepa o pênis de Alberto na base, ele nem sentiu. Depois se sentindo vingada, ela coloca a faca na mão direita dele, joga o membro decepado no vaso sanitário, da descarga e liga apavorada com o sangramento pedindo urgente socorro médico para o marido desmaiado.

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O socorro chega, Alberto é levado em estado grave para o hospital, Valéria dá a sua versão dos fatos. Diz que o marido chegou embriagado, brigaram porque ele queria sexo, os vizinhos intercederam, Alberto se acalmou temporariamente, mas tentou estuprá-la. Como não conseguiu ereção por causa da embriagues, revoltado com a impotência ele entrou no banheiro com uma garrafa de uísque e uma faca, enfim fez o que fez.

Os bombeiros retiraram o vaso sanitário, eles procuraram em vão o pênis decepado, Alberto estava condenado a nunca mais fazer sexo ativo, quando ele acordou não se lembrava de quase nada, apenas de ir arrependido para o banheiro, por isso acabou aceitando a versão de Valéria para o ocorrido.

Valéria sabia que ela não era mais a mesma, Alberto também mudou muito, eles reuniram com os filhos, ele pediu perdão depois disse que começou a freqüentar uma igreja e nunca mais se envolveu com ninguém, mas esporadicamente pagava para praticar o sexo passivo.

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Com o passar do tempo Valéria começou a brincar com o marido, para melhorar o astral entre eles, conversavam bastante, mas é como se Alberto fosse outra pessoa. Certa vez, perguntaram para ela se ainda o amava, a resposta foi clara, “não quero outra pessoa, mas acho que não o amo mais”.

Valéria procurava encarar a situação com os pés no chão, não adianta pensar em mais vingança, procurava valorizar-se como mulher, certo dia um homem mais novo, começou a observar as suas boas qualidades e valorizá-las com simpáticos elogios.

Assim começou um tórrido romance entre Valéria e Pedro, repleto de desejo, sensualidade e paixão avassaladora. Quando Arnaldo descobriu a traição da Valéria, ficou atônito, passado não teceu nenhum comentário para a sua mulher, que não sabia da descoberta.

Alberto passou por um dramático processo psicológico, primeiro a negação, não acreditava que era corno, depois veio à raiva ele se culpava pela atitude de Valéria.

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Procurou ganhar tempo e analisou se o casamento, depois veio à fase da compreensão da realidade, com lamentação e tristeza interna. Depressivo e entristecido veio à fase da aceitação, Alberto resolveu não falar nada com a Valéria, pois achava que ela era a sua companheira ideal, mãe exemplar, ele não queria separar a família e levou o casamento em frente como nada tivesse acontecido ou acontecendo. Viveram assim como irmãos por muito tempo, fingiam não saber de nada, sempre se declaravam fiéis, contudo um estranho remorso mútuo aumentava dia após dia dentro do coração amargurado deles, corroendo-lhes impiedosamente a alma.

Eles com muita competência criaram, formaram, casaram os filhos, batizaram os netos e depois morreram em um trágico acidente de carro, deixando para trás duas cartas de despedida endereçadas a um amante e aos filhos. Que ficaram inconsoláveis no duplo velório, chocados com a barbárie dos crimes praticados por ambos, abaixo da linha da cintura.

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A fantasia sexual

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BRASÍLIA, última primavera do século passado... Henrique homem alto, mais bonito que nota de dinheiro novo, coisa que lhe sobrava nos bolsos e nos bancos, funcionário público federal de altíssimo escalão no Ministério da Justiça, com o seu grisalho topete avantajado chegava a um metro e noventa de altura. Uma beleza de 38 anos, estonteante segundo as mulheres da repartição.

Dentro do seu coração, bem no fundo, mesmo amando e desejando muito a sua mulher, incrustado nos seus sonhos mais íntimos Henrique gostaria de ter uma jovem e bela esposa, a qual os homens a desejassem e as mulheres a invejassem.

Porém os caminhos percorridos pelo amor, desejo e paixão são tortuosos, muitas vezes incompreensíveis à razão. Desprovida de qualquer vaidade, atributo ou beleza física, oito anos mais velha que Henrique, Adalgisa sua simpática e fogosa mulher também tinha um metro e noventa.

Mais precisamente noventa centímetros de altura por um de largura, estranha realidade,

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mas era a pura e cristalina verdade para o desespero de muitas jovens mulheres invejosas de plantão, que cobiçavam e se ofereciam descaradamente, sem sucesso algum para Henrique.

Porém havia entre elas, uma belíssima exceção, Tereza Maria moça gostosa de corpo e rosto perfeito mexia com as mais sensuais fantasias sexuais dele, mas não passava disso, ele era um marido fiel.

O casal Henrique-Adalgisa não tinha a discrição como virtude, amava-se desfrutando deleitosamente todos os seus momentos, minutos, segundos como não houvesse amanhã. Independente do local um amor vivido dia a dia sem medo de ser feliz, ultrapassava todas as barreiras sem dificuldades.

Em público invariavelmente por onde o casal passava sempre de mãos dadas, chamava atenção. Na maioria das vezes de forma pejorativa como se o amor e a alegria existente entre eles fossem medidos pela diferença de idade, beleza ou altura.

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O feliz casal aguçava a curiosidade alheia com um pingo de inveja feminina e muitas vezes com alguma gozação masculina. Como uma mulher feia daquelas poderia ter um homem daqueles de tirar o fôlego até das mais recatadas mulheres casadas da sociedade local, se perguntavam entre si estes curiosos injuriados, levantando mirabolantes hipóteses absurdas para justificarem o relacionamento amoroso do alto e belo Henrique com a feia e anã Adalgisa.

Contudo, ninguém sabe os males que se escondem nos corações humanos, já dizia na antiga Grécia o velho filósofo, a jovem e bela Tereza Maria não se conformava com o desprezo recebido de Henrique, resolveu agir sozinha. Contratou por um bom dinheiro pago a vista, logo após do “serviço” feito, um menor, Jorginho Dedo Nervoso, rapagão de 17 anos afeito a praticar crimes de morte sob encomenda.

Quando Jorginho foi detido em flagrante, algumas horas depois de receber e esconder em local seguro a boa quantia paga por Tereza

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Maria e a arma do crime, disse em seu depoimento ao delegado que havia fugido da FEBEM. Depois foi à procura de um revolver 38, roubado e escondido há tempos, em seguida praticou o assalto à mão armada ao carro de Adalgisa preso no congestionamento. Ato realizado sem qualquer premeditação com a única e exclusiva intenção de obter algum recurso financeiro para sobreviver temporariamente. Neste ponto do seu relato o menor infrator foi incisivo, falou que ele não era viciado e só atirou na mulher porque ela foi egoísta e reagiu à voz de assalto acelerando indevidamente o veículo. Tentando em vão empreitar uma fuga desesperada no meio do pesado transito lentíssimo, preferindo perder a vida ao invés de perder a bolsa com algum dinheiro, enfim pura ganância dela lamentou o depoente de 17 anos, recém completados. Abismado com o cinismo, falta de arrependimento e a cara de pau do menor-serial killer o delegado perguntou-lhe onde

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estava à arma do crime, ele disse que não sabia, havia perdido-a durante a fuga em disparada do local dos fatos. Com mais um crime de morte nas costas, feliz da vida Jorginho Dedo Nervoso retornou a FEBEM. O menor sabia que sairia com 21 anos para desfrutar o bom dinheiro ganho com os seus vários assassinatos por encomenda e talvez tentar uma vida nova, quem sabe? Nenhum psiquiatra seria louco o suficiente para atestar a sua insana periculosidade, prolongando-lhe em muito o período de internação na própria instituição corretivo-educacional ou em um manicômio judiciário, locais de fácil fuga. Por isso, seguro de si, Jorginho praticamente se entregou ao delegado confessando-lhe tudo espontaneamente, mas sem despertar suspeitas sobre a premeditação desse último crime, assim o caso foi encerrado e dado como resolvido. A morte prematura de Adalgisa chocou os amigos, parentes e conhecidos do estranho casal, Henrique ficou inconsolável, durante

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todo o velório, enterro e missa de sétimo dia, era um choro só, um choro incoercível que cortava o coração de todos. Ao lado dele como um belo grude inseparável, Tereza Maria, de forma prestimosa e carinhosa procurava ajudá-lo da melhor forma possível e ajudou mesmo, seis meses depois trocavam “sim” no altar da Igreja Central.

Enfim Henrique tinha uma jovem e belíssima esposa desejada pelos homens, invejada pelas mulheres. Coisa que intimamente lhe agradava muito lhe inflava o ego, mas lhe tirava completamente o apetite sexual, fato que levou Tereza Maria a uma profunda depressão, obrigando-a a uma consulta psiquiátrica e posterior medicação, dormia somente sob efeito de soníferos.

Para restabelecer a sua libido, atividade e principalmente realizar a sua mais íntima fantasia sexual Henrique procurou Pai Abadhá, um renomado mago sado masoquista, mestre nas artes das magias negras. Sob efeitos de fortes soníferos Tereza Maria foi levada até ele, pelo marido impotente, mas ávido por uma

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cura, uma denúncia de seqüestro mediante resgate foi feita por Henrique a polícia, a pedido dele.

A cerimônia da missa negra encomendada e paga a peso de ouro, foi realizada pelo velho mago três dias depois do suposto seqüestro, em local pouco conhecido e ermo na zona rural de Brasília, a céu aberto no místico planalto central.

Consciente Tereza Maria teve com requintadas técnicas médicas-cirúrgicas, mas sem a utilização de anestésicos a língua arrancada, as mãos amputadas, a coluna vertebral dilacerada e os olhos perfurados, durante a celebração da longuíssima cerimônia macabra.

Tratada com eficientes curativos e ótimos antibióticos, mas nunca analgésicos, por 43 dias Tereza Maria ficou “desaparecida”. A polícia encontrou-a abandonada, depois de um telefonema anônimo, em uma estrada rural de terra batida, junto a ela um bilhete: “Dr. Henrique o senhor se negou a pagar o resgate em sua totalidade, problema seu agora receba

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o que sobrou de sua bela esposa, uma mulher paraplégica, sem mãos, muda e cega”. O caso chocou profundamente a sociedade local da capital federal, comovida com os esforços infrutíferos de Henrique para levantar os fundos monetários necessários à totalidade do resgate, dinheiro que na verdade foi destinado ao Pai Abadhá. Sem pistas a polícia procura os seqüestradores até hoje, diz que foi trabalho de profissionais e jamais encerrará o caso. Prisioneira da fantasia e das taras do seu marido, Tereza Maria vive a sua história de calvário, sem sentir nada da cintura para baixo, sem poder visualizar o seu próprio terror, nem gritar todo o seu horror, sem poder ao menos escrever um simples bilhete pedindo socorro. Enquanto Henrique se delicia com a sua mais íntima fantasia sexual, possuir uma ex-bela jovem mulher, 100% submissa, 100% dependente, 100% alienada às suas vontades. Com o passar do tempo a curiosidade alheia se aguçava cada vez mais, sempre com um pingo de inveja feminina e alguma

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gozação masculina. Como uma mulher naquelas condições físicas poderia ter um homem daqueles de tirar o fôlego até das mais recatadas mulheres casadas da sociedade local da capital federal perguntavam-se entre si estes curiosos de plantão. Injuriados levantavam as mais absurdas hipóteses mirabolantes para justificarem o relacionamento amoroso do fiel, belo e desejado Henrique com a depressiva, paraplégica e mutilada Tereza Maria. A vida é assim, como nos ensinou o velho filósofo grego, ninguém sabe os males que se escondem nos corações humanos...

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Uma estranha noite de amor!

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LEONARDO fazia parte daquele grupo de pessoas que são incapazes de tolerar uma pontada de ciúme. Fazia parte daquelas pessoas que desejam ser fiéis e que desejam uma intensa intimidade com a esposa. Ele interpretava o ciúme de Camila como uma evidência clara de desconfiança; fato conseqüentemente ofensivo para Leonardo.

A mensagem, ao sentir o ciúme vindo dela é de que ele ainda não era merecedor de confiança suficiente, apesar de ter sido sempre leal à esposa, isto tirava lhe o sono.

Está situação afetava diretamente a intimidade do casal, Camila percebeu a olhos vistos o distanciamento do marido, diminuía cada vez mais a freqüência do carinho e principalmente da atenção que Leonardo sempre deu de bom grado para ela, mas não do sexo.

Durante o dia as provocações, várias descortesias, a explosão irada de Leonardo e choro de Camila se generalizou no casamento, contudo depois de cenas lamentáveis durante o

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dia, à noite a cena final um ato sexual intenso e apaixonado.

Porém esta situação recheada de cenas e cenas colocava o casal fora do contesto social, não tinham mais amigos. Estas cenas mesmo as mais tórridas sexuais não aproximavam o casal, eles se afastavam cada vez mais, a indiferença e o desprezo começaram a entrar no dia a dia do jogo conjugal que se transformou o casamento deles. Um jogo que sempre acabava a noite depois do fatídico e prazeroso ato sexual.

Um belo dia, depois de cinco anos de casados e três de sérios desentendimentos, Leonardo conversou seriamente com Camila, chegaram à conclusão que o ciúme era a causa de tudo, ou acabavam com os ciúmes ou com o casamento. Resolverão acabar definitivamente com os ciúmes, decidiram ir a uma casa de swing, estava decidido iriam fazer uma troca de casais e enterrar os ciúmes para sempre.

Quando Leonardo entrou na casa de swing percebeu que acabara de entrar em um mundo onde havia uma só regra o homem é

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heterossexual e a mulher se desejar bi-sexual, sem que isso implicasse em dúvidas sobre a sua feminilidade. Nessas condições todo mundo transava com todo mundo, nervoso Leonardo sorriu quando cantarolou a música do Tim Maia “só não vale “dançar” homem com homem, o resto vale tudo”.

O medo de brochar era enorme, isto colocaria em jogo a sua qualidade de macho, correu até o banheiro e tomou um Viagra só para se garantir, aí o bicho pegou de vez quando se perguntou: “será que o meu pênis ereto é grande o suficiente para não passar vexame, pois grandão “ele” nunca foi?”

Camila enquanto aguardava a saída do marido do banheiro, fantasiava em sua mente, queria ver Leonardo totalmente submisso de quatro transando com outro homem, fazendo a mesma coisa que ela adorava fazer de quatro com o marido, “que absurdo” pensou ela rindo.

Camila sabia que esta fantasia jamais se realizaria, então fantasiou em ser uma prostituta de luxo, cheia de clientes aos seus

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pés, desorientados com sua beleza, que na realidade não era lá grande coisa.

Contudo para Camila a beleza das pessoas na casa de swing deixava muito a desejar naquela noite, tinha vontade de fazer uma strip tease no pequeno palco da casa, mas perdeu o interesse quando enfim Leonardo saiu do banheiro e exclamou “uh vamos lá”.

Por uma questão de finesse em nenhuma casa de swing um homem ou mulher deseja a mulher do próximo, quando o próximo não está próximo, o casal estava junto, na saída do banheiro.

Um homem levou Camila para um quarto cheio de buracos na parede, onde todos podiam enfiar as mãos e ver o que estava acontecendo, depois entrou uma jovem mulher e continuou a transar com a esposa de Leonardo. Ele viu tudo sem poder fazer nada, estava apavorado, mesmo sob efeito de medicamento não conseguia uma ereção, não conseguia focar em nenhuma mulher, definitivamente falhou na hora “H”, o pior pesadelo de Leonardo estava acontecendo.

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Camila encontrou o marido desolado, com um copo de uísque na mão, assistindo á um show de strip tease no pequeno palco da casa, Leonardo abraçou a esposa como se escondesse dos homens e das mulheres que passavam ao seu lado. Camila beijou suavemente o marido ele foi acalmando, acalmando e terminaram por transar na sala reservada para o sexo grupal, ao lado de mais dois casais onde os homens trocavam as parceiras freneticamente.

Cena que chamou atenção de duas mulheres que se beijavam, no mais não chamou a atenção de ninguém, pois todo mundo transava com todo mundo nos vários compartimentos da casa neste momento, Leonardo e Camila saíram da casa de swing para nunca mais voltar.

O casal chegou ao aconchego do lar quando os ruídos da noite feriam a madrugada sem maldade e se amaram mais uma vez, uma única vez como não houve amanhã, de todos os jeitos de todas as formas. Fizeram os seus corpos estremecer em suas carnes macias,

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gotas de suor perdidas de prazer de prazer serpenteavam lhes a pele, exaustos adormeceram agarradinhos, depois da estranha noite de amor. Acordaram ao meio dia em ponto, na hora exata em que a sombra é mais curta e chegaram à conclusão que entre eles nunca houve amor, apenas uma irresistível atração sexual, resolveram acabar com o casamento. Havia chegado à hora deles procurarem um amor verdadeiro, e assim foi feito, após nove meses Leonardo se casou jurando amor eterno a Priscila, Camila continua solteira à procura do seu grande amor.

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O assédio sexual

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ÀS DEZOITO horas Carla a gerente de recursos humanos, está com alguns funcionários em sua sala, Lara a simpática secretária, entra e discretamente pergunta “posso ir para casa”. Carla sorri e diz “ainda preciso dos seus serviços”, Lara senta-se no sofá de três lugares e aguarda.

Depois de dez minutos elas estão sozinhas na sala, mas a porta está aberta e realmente trabalham por mais dez minutos, quando o segurança, pede licença e pergunta “a Doutora vai trabalhar até mais tarde”. Carla diz “sim e apague as luzes do corredor”, o segurança faz sinal de positivo, em seguida, Carla pede para Lara fechar a porta da sala de espera. Trabalham por mais dez minutos em seguida Carla se levanta da poltrona, passa a mão pelos cabelos de Lara e com muito cuidado tranca a porta do seu escritório.

Carla senta confortavelmente em sua poltrona e diz: - Lara se você não fosse funcionária da empresa, eu lhe daria casa, comida e dois dias na semana para me fazer de corna. Em seguida liga o som ambiente e pede

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“Lara rebole bem devagar, dance lentamente, que hoje vou gozar na sua boca”.

Lara levanta-se com a cabeça baixa e começa o seu desajeitado strip tease. Carla começa tirar sua roupa com uma rapidez bem maior, começa a se masturbar lentamente, pede para Lara, quase despida, fazer um sexo oral bem gostoso, Lara para de dançar e nega veementemente, dizendo: - Não vou mais fazer isso, Carla.

Ela para de se masturbar e diz, com voz firme: - Se me desobedecer está na rua Lara, despedida entendeu.

- Não vou mais fazer isto, Carla, não adianta insistir.

Carla se irrita e fala em voz alta: - Você tem filho para criar, faça ou te ponho na rua. Lara pede piedade: - Te suplico Carla me liberte de suas taras sexuais.

- Não Lara, você é a minha única fonte de prazer, meu marido é broxa, um Mané na cama, um corno manso que eu adoro chifrá-lo.

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- Eu continuo a dançar para você se masturbar, por favor, Carla me deixe só dançar. Ela se levanta e diz: - Lara você tem mãe para cuidar. - Não posso mais Carla, me perdoa. Carla veste a roupa e diz: - Amanhã você receberá o aviso prévio, de manhã bem cedo. E sai do escritório esbravejando “vou-te por na rua sua vagabunda”. Lara se recompôs chorando copiosamente sentada no sofá de três lugares. O que a irritada gerente de recursos humanos não sabia, é que as dezoito em ponto, Dr. Morares presidente da fábrica me recebeu em seu amplo escritório, simplesmente me disse: - Boa tarde Dr. João vou precisar de seus serviços advocatícios. Em seguida nos acomodamos em frente à TV acoplada a um vídeo cassete gravando as imagens, todas as imagens dos fatos recém ocorridos no escritório da gerente de recursos humanos. Lara parcialmente refeita do seu choro nos encontrou no escritório do Dr. Moraes, todos

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chocados com a situação escabrosa: - Como advogado e amigo eu pergunto a você Lara e ao Sr. Dr. Moraes, faremos justiça hoje nesta fábrica? Lara respondeu: – Dr. João eu sou pobre e quem é pobre tem que se submeter... Interrompe o Dr. Moraes: - Não vai mais se submeter dona Lara o Dr. João, achará um modo de se fazer justiça nesta fabrica hoje, causando o mínimo de prejuízos morais para a senhora e para a imagem da nossa boa fábrica. - Faço justiça sem nenhuma exposição do bom nome da sua fábrica, fique tranqüilo Dr. Moraes, que não haverá prejuízo moral para ninguém. Intranqüilo Dr. Moraes diz: - Dr. João o que acontecerá com Carla, estou com muita pena do marido, o coitado é um bom homem tem duas filhinhas com essa demente, sou padrinho de uma delas. - Às conseqüências para a Carla, serão a demissão por justa causa e dois anos de detenção, pena máxima da lei do assédio sexual, a nossa prova de flagrante delito é

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lícita não foi forjada e sim um flagrante esperado, portanto válida como prova material do crime.

Inseguro Dr. Moraes diz: - Dr. João o sigilo é absoluto mesmo?

- A delegada será obrigada a assegurar o sigilo do inquérito. Carla será presa em flagrante delito quando o aviso prévio for entregue para Lara. Ultimo ato do seu crime, mesmo se não entregar o aviso, o flagrante, horas depois do crime, com a meticulosidade da delegada será livre de nulidades processuais com certeza. E fique tranqüilo Dr. Moraes a imprensa jamais tomará ciência desse caso horripilante.

- Confio no senhor, Dr. João, tome as medidas cabíveis ao caso, vou chamar a minha secretária para assessorá-lo, agora venha comigo Lara, vou pedir para o motorista, levá-la embora. Disse o Dr. Moraes se retirando da sala rapidamente. Entrei em contacto com a delegada da delegacia da mulher, ela veio até a fábrica, elegantemente vestida com um taieur

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verde musgo, com detalhes verde limão, confesso que não gostei da cor.

Ela assistiu à repugnante fita e armou uma estratégia simples para prender Carla, em flagrante delito. Depois me disse "ah! que delícia vai ser prender essa gerente abusadora inveterada de bela funcionária indefesa da fábrica, em flagrante delito para depois interrogá-la adequadamente, nos fundos da minha delegacia e entregá-la totalmente domesticada e dócil aos bons cuidados da carcereira Maguila".

Na manhã seguinte, Carla chamou Lara em sua sala e com uma postura arrogante, entregou-lhe o aviso prévio. Lara assinou e saiu com sua cópia do aviso, entregando-a imediatamente para a delegada, que entrou na sala de Carla com mais dois agentes, e deu voz de prisão em flagrante delito.

Carla não entende nada, mas passa a entender quando a delegada educadamente lhe mostrou os locais das micro-câmeras. É algemada por um dos agentes e sai chorando, envergonhado com um paletó cobrindo a sua

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cabeça, ao lado da elegante delegada que segura o seu braço, conduzindo-o calmamente até a viatura estrategicamente estacionada, para ninguém ver nada. Várias e várias pessoas procuraram Carla no escritório, durante todo o dia. Lara simplesmente informava: “Carla entrou na fábrica pegou os seus pertences e sem dar maiores explicações, entregou em caráter irreversível o seu pedido de demissão e foi embora. Dr. Moraes foi pego de surpresa, pela intempestiva atitude que me promoveu à gerente de recursos humanos. Com certeza, Carla foi trabalhar em outra fábrica, agora eu sou a nova gerente, deseja alguma coisa?”.

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A escolha

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FOI COMO um vulcão em erupção, puro como as águas cristalinas que nascem nas montanhas rumo ao mar o sentimento de liberdade de Clara Maria. Porém naqueles tempos idos os costumes de uma cidadezinha do sudeste brasileiro, não eram iguais aos costumes das grandes cidades. Por isso ela sabia que na condição de uma jovem mulher não tinha a menor chance de fazer valer a sua opinião, apenas obediência e submissão ao pai, a mãe e depois ao futuro marido. Mesmo sabendo do risco “de ficar para titia”, algo inadmissível à época, pois isso seria uma desqualificação para Clara Maria perante a conservadora sociedade local, ela insistia com toda convicção para si mesma: “Eu não quero ser mais uma escolhida entre tantas jovens mulheres destinadas a aplacar os desejos de um homem, aprovado pelo meu pai e se realizar na maternidade com alguns filhos, as escusas de uma vida pessoal e profissional”. Como por sinal sua mãe o fez e ela própria faria com seu futuro marido Arnaldo,

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devidamente aprovado pela família dela. Então um choro incoercível com lágrimas sonoras que serpetiaram desesperadas por longos dias e noites o rosto angelical de Clara Maria, não foi eficiente para sensibilizar o coração do seu pai e a cabeça dura da sua mãe, o casamento foi marcado.

Sem escolha Clara Maria realizou as provas do matrimônio, disse “sim” no altar perante o padre, fez juras de amor e fidelidade frente aos convidados, recebeu um discreto beijo do noivo, sob os olhares atentos. Sorriu na festa no salão paroquial, fingindo alegria, chorou discretamente quando perdeu a virgindade sem nenhum prazer na noite de núpcias e depois viu os dias passarem iguais aos outros, dia após dia uma rotina infindável com um abominável sexo aos sábados à noite.

Assim a vida do casal seguia até que certo dia ensolarado chegou à feliz notícia do laboratório de análise clinicas, depois de nove meses, como manda o figurino, o primeiro filho de parto normal, mais dois anos e quatro de casamento, outro parto nasceu uma filha. O

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casal não teve mais filhos à rotina do trabalho doméstico aumentou, na mesma medida que a pífia intimidade do casal diminuía aos sábados.

Com o passar do tempo as crianças cresceram, Clara Maria vivia em função delas e do bem estar do marido, sempre fiel sob todos os aspectos, que vivia em função de todos na casa, um verdadeiro paizão. Às vezes Arnaldo sentia-se pai até da esposa, que não raramente lhe retribuía a atenção como filha mais velha ou irmã, companheira, amiga, esposa dedicada ao lar ou coisa que o valha.

Mas o fato é o casal não se via mais como macho e fêmea, homem e mulher, não namoravam, nem se acarinhavam, apenas conversavam simplesmente não faziam sexo, estavam completamente assexuados, a diabetes melittus deixou Arnaldo irremediavelmente impotente.

Clara Maria não queria outra família, amava os filhos e Arnaldo feito um irmão mais velho, tal e qual diziam um dos antigos ditados árabes “o excesso de alguma coisa é a falta de

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alguma coisa”, ela sentia falta de se sentir mulher, sentia falta de um homem na cama.

Enfim Clara Maria sentia-se forte o suficiente para não ser mais a escolhida, dentre tantas jovens mulheres à época e efetuar a sua escolha a partir do seu desejo, estudou as possibilidades.

Ela sem peso na consciência criou um espaço ocioso as quintas-feiras a tarde, onde passou a se relacionar em ardentes entrevistas intimas onde conheceu e sentiu orgasmos múltiplos com vários homens, ao longo dos anos subseqüentes, todos casados. Homens comprometidos até o pescoço com suas famílias, que não queriam confusão ou publicidade do fato entre amigos na mesa do botequim.

Quando a diabetes ceifou a vida de Arnaldo, Clara Maria chorou desesperada, não se conformava em ter perdido o pai dos seus filhos. O seu companheiro de sua vida que ela amava como se fosse um irmão mais velho, durante um ano se vestiu de luto fechado,

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neste período não fez nenhuma entrevista intima. Aos cinqüenta e cinco anos, depois de um ano de luto, Clara Maria deu o seu grito de liberdade e escolheu para ser seu marido e homem até o fim dos seus dias, Agnaldo José um jovem senhor de cinqüenta e dois anos, viúvo, que correspondeu imediatamente às investidas amorosas dela. Casaram-se pouco depois com as bênçãos dos filhos e muita festa.

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O garoto de programa

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SOU UM profissional do sexo, alguns me chamam de prostituto, outros de garoto de programa, mas isso não me irrita, porém duas coisas me irritam nesta manhã ensolarada na esquina da vida, na boca loca da cidade.

A primeira o menino jornaleiro gritando sem parar, se deliciando com a trágica notícia “extra, eeeeextra, extra! marido voador! Sim marido voadooooor, Voou do edifício Jafé com dor no coração, pegou mulher com Ricardão, p'ra que tanta dor Mané? P'ra que tanta dor Manééééé, extra, eeeeextra...”.

A segunda o som estridente dos quatro sinos coralinos anunciando a Santa Missa, uma Igreja no meio do inferno, os féis com fé cega e rostos caídos caminhavam recatados rumo a ela como anjos subtraídos, entre eles o padre pedófilo, sem dúvida buscava o perdão e a salvação em vão.

Do outro lado da esquina, as meninas prostituem-se desinibidas, os meninos traficam às escondidas, os senhores sofridos, as mães recém paridas e o caboclo retorcido, recém foragido trocam palavras lavradas com

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esperança mansa de um emprego e meio luto puto, na longa fila que dobra a esquina da vila. Depois preenchem as fichas sem rixas, com identificação, Fé e desnutrição, com mãos trêmulas entregam os currículos sabendo que o trabalho é o máximo, o salário é o mínimo.

Mas hoje infelizmente não há vagas, talvez amanhã de manhã. O retorcido aborrecido voltou para o crime, os outros lamentaram com seus gritos aflitos, as meninas diminutas, cada vez mais prostitutas continuam nas esquinas, os meninos magros, cada vez mais magros continuam ás escondidas.

Com o frescor depois do sol onde a lua beija a pele prateada do mar que parou para amar e sonhar, a noite chega. As garotas bonitas ejaculadas e mal pagas iluminam a esquina perigosa e gostosa.

Os garotos travestidos iluminam o marido enrustido disfarçado de cabra-macho, mais um grande cambalacho. O viciado traficante, a viciada nauseante e mais um sangue acima de

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qualquer suspeita, cheio de AIDS no meio da pop-gangue. O bangue-bangue ilumina a esquina agora perigosa, a polícia policia a navalha, o canalha, o pivete, o canivete e mais um sangue acima de qualquer suspeita cheio de maracutáia e birita no meio do mangue. No silêncio macio do lado calado gostoso e amoroso que ilumina a esquina, no fundo do mundo, beijo a boca loca da casada madame direita e mais um sangue acima de qualquer suspeita, cheio de prazer sombrio e vadio acaricia o meu peito. Pago eu me deito com a vida perdida entre gritinhos e gemidinhos que ecoam na esquina perigosa e gostosa ao lado do mangue, satisfeito depois do leito perfeito, me retirei, voei como um vil pássaro virgem. Voei lá para o velho e bom Grêmio, lá só tem gente bamba que faz samba p'ra boêmio e tem uma loira que é um prêmio, enfim por alguns momentos deixei para traz o lado calado, da vida vivida nas esquinas.

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A garota de programa

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NINA corpo de menina, carinho de mulher, alma feminina, linda menina-mulher. Nina que ilumina a esquina, nos lençóis da vida ambição feminina, sonha! Jeito funk, sorriso dark twist, mas a vida insiste e passa triste, pena menina-mulher... O amor quando possível, quando permitido era sentido e valorizado no coração dela, misturado ao medo e ao prazer vividos nas esquinas da vida, por michê. Uma simples e sigilosa prestação de serviço, sexo em troca de dinheiro, para o cliente uma “masturbação terceirizada”, para ela o seu trabalho, o seu ganha pão, que sempre envolvia o medo do desconhecido e não raramente prazer, traduzidos em orgasmos múltiplos.

O amor sempre machucava o coração de Nina. Ela se “casou” algumas vezes e fazia de tudo para agradar o seu homem, mas seus “maridos” não aceitavam a sua profissão, odiavam ser chifrados profissionalmente por ela, por outro lado nem um deles foi capaz de mudar a sua realidade e tirá-la da vida nas esquinas. Muito pelo contrário, às vezes pediam dinheiro para Nina. Ela entendia

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perfeitamente bem os “maridos” que passaram por sua vida, eles não queriam ter uma prostituta como esposa, qual homem quer ter? O “marido” estava lá só para tirar proveito dela.

A prostituição era uma rota de fuga, que Nina começou a trilhar há muito tempo atrás, quando aos onze anos pediu socorro a sua professora, esta encaminhou às presas a menina para um posto de saúde. Ela sangrava pela vagina, o doutor constatou o estupro, informou a delegada e o padrasto de Nina foi preso. Ele confessou tudo na delegacia em cínico depoimento, desprovido de remorsos o padrasto disse que estava desempregado e beijava Nina na boca e nos peitos todos os dias quando a sua esposa se ausentava para trabalhar de faxineira na casa de alguma madame. Depois completava os seus atos libidinosos introduzindo o dedo indicador na vagina e no ânus da enteada.

Chegando a penetrá-la na tarde anterior pela primeira vez na vagina com o seu pênis, ferindo-a e provocando um vasto sangramento

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na menina, em seguida como sempre fazia ele ameaçou Nina de morte, depois de bater nela com o chinelo e enxugar o sangue que saia da vagina dela. A Mãe de Nina, abismada com os fatos ocorridos foi buscá-la na delegacia, desconsertada e perturbada com a descoberta da situação, se isentava de culpa, disse que não sabia e nem desconfiava de nada.

O seu esposo estuprador acabou ficando preso na penitenciária por três anos, quando ganhou a liberdade condicional e foi recebido de braços abertos por ela, foi quando aos quatorze anos Nina fugiu de casa para não mais voltar, a mãe não foi atrás, muito menos o padrasto.

Sem ter para onde ir, Nina refugiou-se na casa de uma amiga, um ano mais velha que ela, esta amiga estava se iniciando na prostituição e levou Nina para morar na casa de um travesti que também se prostituia, ele ficou completamente encantado por ela. Ensinou tudo que sabia a Nina, ensinou a ela como se vestir sensual, beber moderadamente, não fumar, ficar longe das drogas, seduzir um

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homem e dançar com maestria, o que a ajudou muito no seu primeiro emprego, dançarina em uma boate, na zona do meretrício da cidade.

A primeira vez que Nina fez um “programa”, foi com um coroa que ela achou lindo, cheio da nota, sujeito da capital, foram a um motel chique, Nina estava nervosa, uma dose de uísque a acalmou, correu tudo bem. Mas rapidamente ela compreendeu que sair com vários homens, sem escolher parceiro, cobrar pelos serviços prestados, ser vista pela sociedade como um fator de risco para a disseminação de doenças, como a AIDS. Além de vivenciar algumas situações de violência, maus tratos, estupro e extorsão da polícia, tornava sua profissão de garota de programa, uma profissão que a expunha a riscos, preconceitos, estigmas e descriminação, sem alternativa de emprego dito digno pela sociedade, continuou na “vida fácil”.

Uma bela noite, quando Nina comemorava os seus dezesseis anos, ela viu o seu padrasto entrar na boate em que trabalhava, Nina foi até a casa do travesti.

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Colocou suas coisas em uma mochila se despediu longamente dele e com pouco dinheiro guardado, ela pegou um ônibus na rodoviária, tinha jeito de moça, ninguém pediu documento, Nina largou a boate, a escola, os amigos, alguns clientes e caiu no mundo, nunca estudou, nunca voltou a dançar.

Chegou à capital praticamente com uma mão na frente outra atrás, começou a fazer “programas”, a noite sua atividade alcança seu zênite, não tanto pelos maiores ganhos ou pelo maior número de clientes, mas porque a prostituição integrava o universo noturno da boemia. Com vinte e cinco anos Nina, embora fosse muito bonita e sensual, não conseguia mais clientes à noite em número suficiente para se manter financeiramente, era considerada “velha” para o trabalho. Passou então a trabalhar à tarde, eram “programas” mais rápidos e seguros, a clientela era de melhor nível social, composta por muitos profissionais liberais que pretendiam ter uma pequena entrevista intima com Nina entre o período de saída do trabalho e a ida para a

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casa. Aos trinta e cinco anos e ainda mantendo os seus traços de beleza e sensualidade, Nina não conseguia mais clientes à tarde em numero suficiente para se manter, ficou “velha” para o serviço vespertino. Sem saída foi trabalhar de manhã, fazia programa com uma clientela, onde predominava os velhos aposentados, assim permaneceu até completar sessenta anos. Foi quando Nina informou aos amigos e clientes que iria se mudar em breve para o interior, e assim foi feito. Lá ela queria realizar os seus três grandes sonhos de sua vida, comprar uma casinha popular com um carro popular na garagem e se aposentar como profissional do sexo pela Previdência Social, pois ela pagava a Previdência como autônoma. Depois disso, ninguém soube de mais nada.

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O beijo na boca

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“UMA VISÃO, um deus passeando pela orla da praia”, assim pensou Luciana Maria quando avistou Bruno, noivo de Renata sua melhor amiga.

Ele passou ao lado da amiga da noiva e não percebeu a presença dela, caminhava como estivesse desfilando o seu corpanzil bronzeado naquela tarde que arde covarde ao sol.

Luciana Maria teve vontade de chamá-lo e cumprimentá-lo com simpatia, mas a excitação tomou conta do seu corpo. A proximidade dela com o peito desnudo de Bruno provocaram os instintos mais selvagens de Luciana Maria intensos arrepios serpentearam enlouquecidos pela sua pele, seguido de estranhos calafrios na espinha que desceram freneticamente e contraíram prazerosamente as suas partes mais íntimas.

Convicta que teve um orgasmo múltiplo resolveu prolongar esse momento único de intenso prazer que ela jamais tinha sentido e passou a segui-lo à distância, Católica não praticante sabia que estava cometendo um

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pecado mortal, pois desejava acintosamente o homem da sua melhor amiga.

Bruno não percebia nada, vestiu a camiseta preta que levava nas mãos, atravessou a Av. Atlântica da capital fluminense e continuou caminhando agora bem mais rápido, entrou em uma deserta ruela sem saída, parou subitamente ascendeu um cigarro e fumou-o rapidamente com ansiedade, como se esperasse alguém muito importante.

Assim passaram-se longos minutos, excitada Luciana Maria ao longe observava tudo, quando caíram as derradeiras sombras do fim da tarde seguidas do frescor depois do sol, uma visão aterrorizadora deixou-a paralisada. Boquiaberta ela observou um longo e bizarro beijo na boca dado por Bruno, em um jovem rapaz que transbordava homossexualidade por todos os poros.

Depois deste beijo onde a ternura pairou com amor e desejo sobre o ar, eles entraram de mãos dadas como dois namorados em um hotel de quinta categoria, destinado exclusivamente a entrevistas íntimas. Luciana

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Maria perdeu o chão, o rumo, o prumo, não sabia o fazer, contar para Renata ou se calar para sempre?

Eis a questão que atormentou a mente e o coração dela por vários dias, Luciana Maria ponderou, seguiu seus valores e princípios, queria provocar o menor dano possível a Bruno. Por outro lado não queria ser a responsável pelo fim do noivado da melhor amiga ou quem sabe até o fim da amizade com Renata, pois a quem delata cabe o ônus da prova e dificilmente ela provaria com provas materiais os fatos ocorridos naquele fim de tarde.

Enfim Luciana Maria chegou há uma conclusão definitiva considerou que a infidelidade de um modo geral é um assunto restrito ao casal, e cabe a ambos a resolução da situação, contar a Renata que ela estava sendo traída era se intrometer de forma indevida na relação do casal.

Um ano depois Luciana Maria aceitou de bom grado o convite para ser madrinha do casamento de Renata e Bruno, como a melhor

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amiga de Renata estava sem namorado à época, o casal de nubentes convidou um jovem rapaz para fazer par com ela como padrinho no altar. No dia do casamento Luciana Maria foi madrinha ao lado do mesmo jovem rapaz que ela viu beijando Bruno naquele fatídico fim de tarde. Só então Luciana Maria percebeu o estranho triângulo amoroso entre sua melhor amiga Renata, o noivo Bruno e o jovem rapaz que transbordava homossexualidade por todos os poros.

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MIDU GORINI Amor, sexo & traição

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Primeira edição 2011

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