agricultura “caificada” no sudoeste de goiÁs · aos novos queridos que surgiram com a minha...

266
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS: do bônus econômico ao ônus sócio-ambiental Dinalva Donizete Ribeiro Niterói (RJ) 2005

Upload: vuongnga

Post on 01-May-2018

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS:

do bônus econômico ao ônus sócio-ambiental

Dinalva Donizete Ribeiro

Niterói (RJ)

2005

Page 2: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS: do bônus econômico ao ônus sócio-ambiental

Dinalva Donizete Ribeiro

Tese de doutorado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Geografia do Instituto de

Geociências da Universidade Federal

Fluminense, Niterói (RJ), como requisito à

obtenção do título de doutor em Geografia.

Área de Concentração: Ordenamento Territorial.

Linha de Pesquisa: Ordenamento Territorial

Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Jacob Binsztok.

Niterói (RJ) 2005

Page 3: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

R484 Ribeiro, Dinalva Donizete Agricultura “caificada” no Sudoeste de Goiás: do bônus econômico ao ônus sócio-ambiental./Dinalva Donizete Ribeiro. -- Niterói : s.n., 2005. 262 p. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal Fluminense, 2005. 1.Agricultura – aspecto econômico. 2.Agricultura – aspec to ambiental 3.Complexos agroindustriais. I.Titulo. CDD 630.98173

Page 4: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

COMISSÃO EXAMINADORA Presidente e Orientador: ...........................................................

Prof. Dr. Jacob Binsztok

2º. Examinador: .............................................................................. Prof. Dr. Carlos Alberto Franco da Silva 3º. Examinador: ............................................................................... Profa. Dra. Júlia Adão Bernardes 4º. Examinador: ............................................................................... Prof. Dr. Marcelo Rodrigues Mendonça 5º. Examinador: ................................................................ Prof. Dr. Ruy Moreira

................................................................. Dinalva Donizete Ribeiro

Niterói, 15 de dezembro de 2005.

Page 5: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Vejo na capacidade de entender a teia da vida, de ter discernimento e de

amar, o episódio mais importante e necessário à harmonia e à alegria.

Este privilégio não vem por si só, tampouco vem de repente. P’ra mim, ele só

veio pois conduzido por um fio muito sutil e sublime, que é a base da minha

formação pessoal e existencial.

Na realidade, esse fio é um feixe... E, tudo que de mim parte compartilho

com ele, que é composto pelos seres mais esplêndidos que tenho a regalia de

conhecer e conviver: Sr. Jair Coelho de Mesquita, Sra. Maria da Luz Ribeiro de

Mesquita, Terezinha Aparecida de Mesquita, Regina Ribeiro de Mesquita, Nicole

Ribeiro de Mesquita Borges, Cláudia [Cacau] Pires de Mesquita.

Feixe este que só pôde se formar com tal coesão, devido a um outro,

precursor, cuja origem está nos Senhores e Senhoras (in memorian): Américo

Ribeiro Borges e Rosamira Marciano Rosa, e Virmondes Cornélio de Mesquita e

Maria Coelho Borges.

Todos eles, Homens, Mulheres e Crianças, verdadeiros doutores que, com

suas origens e cultura rural, fundamentadas na honestidade, no respeito e na ética,

me formaram para a vida.

A todos dedico...

Page 6: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

AGRADECIMENTOS

O trabalho ora apresentado é fruto de trocas diversas, que ocorreram ao

longo dos últimos anos, de maneira formal e informal. Por isso, na verdade este

deveria conter a rubrica de tantos outros co-autores. A esses apresento a minha

estima e os meus mais sinceros agradecimentos.

Dentre eles agradeço nominalmente:

A todos que contribuíram com informações e dados, agradeço por meio de

Lívia Leite (SEMARH - Goiânia), Marilaque Barros da Silva (Secretaria de Ação e

Promoção Social - Rio Verde/GO) e Deuzeni Peres Assis (SINE – Jataí/GO).

Estas foram pessoas que, assim como as demais, tiveram muita disposição em

receber as solicitações e organizar e disponibilizar o material solicitado.

Aos que participaram na construção do trabalho, junto comigo em trabalhos

de campo, revisão, elaboração de material gráfico, coleta de dados e imagens.

São amigos que se dispuseram a contribuir, por generosidade e camaradagem:

Cláudia Graça (Trabalhandoarte), Nágela Melo, Lucimar Görgen, Adriano Oliveira,

Adriana Olívia, Leonardo Furtado de Freitas, Iza Carla. À Alessandra Cavalli por

informações agronômicas preciosas.

À professora Zilda de Fátima Mariano, à Cláudia Adriana Görgen e a

Maikon Eduardo Mantelli, pela disponibilização de fotografias.

Ao Lazinho (LF Produções), ao Cecílio (Papelaria Vila Rica) e ao Narciso

(TecnoCom Informática), pelo auxílio técnico nas etapas de impressão e de

confecção de cópias.

À Ibrantina Maria dos Santos (Branca) que gentil e serenamente realizou a

revisão gramatical do texto aqui apresentado.

Aos professores do curso de Geografia do Campus da UFG em Jataí-GO,

por terem criado as condições para que eu fizesse o curso de doutorado. Em

especial à professora Lucimar Görgen, que contribuiu com incontáveis

informações.

Page 7: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Ao professor Dr. Jacob Binsztok, orientador tranqüilo e respeitador das

minhas idéias, cuja inteligência e brilhantismo contribuíram sobremaneira para a

realização do trabalho. A este meu respeito sincero!

Aos professores Carlos Enrique Guanziroli, Carlos Alberto Franco da Silva e

Ruy Moreira que estiveram presentes em bancas anteriores (qualificação e

colóquios) e, com sábias ponderações, contribuíram para o crescimento reflexivo e

intelectual. Ainda, ao professor Ruy pelo bom senso e serenidade no conduzir das

coisas.

Aos colegas, professores e funcionários do Programa de Pós-graduação

em Geografia – Instituto de Geociências/ UFF.

Aos colegas do curso de pós-graduação que se tornaram amigos: Amélia e

Flávio; aos que já eram amigos, cuja amizade se reforçou: Viviane, Gilmar, Sandro

e Bira, este que, com carinho incomensurável, zelou de toda a minha trajetória

pelo curso.

Ao Mestre e Amigo professor Dr. Marcelo Rodrigues Mendonça, um dos

pilares da minha formação acadêmica, política e pessoal, cuja amizade e

proximidade foi reforçada, paradoxalmente, em momentos de ausência e de

distância física.

À família Fontes Graça: Sr. Rubens, Sra. Célia, Cláudia, Diego e Luíza, que

me acolheu de forma afetuosa, viabilizando minha estadia no Rio de Janeiro e em

Niterói. Sem os mesmos, certamente, o curso de doutorado teria sido mais

penoso. Verdadeiramente, os agradeço!

Ao meu Pai, à minha Mãe, à Têra, à Rege, à Nicole e à Cacau, que zelam

da saúde e da harmonia da nossa família e da nossa casa, me liberando, dessa

forma, para que eu possa me empenhar em outras tarefas, dentre elas o curso de

doutorado. À minha Mãe, em especial, que bravamente lutou por se manter viva,

garantindo, dessa forma, a minha alegria de tê-la Mãe! Ao meu Pai, em especial,

com um amor tão grande, que mal cabe no peito!

Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de

Janeiro e por Niterói: Albita, Luciana, Daniela, Yasmin, Flávia, Chico e Dácio.

Page 8: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

De forma muito especial, agradeço à Cláudia Graça, cujo encontro se deu

de forma inusitada, mas que, de forma muito rápida, se tornou um Ser

fundamental na minha existência. Agradeço pela acolhida, carinho, amizade,

idéias, risos, leveza, poesias e pães. “... O encontro é lindo por ser simplesmente

encontro” (Taiguara).

Por fim, agradeço ao sol e às águas frias e caudalosas das cachoeiras do

Cerrado, onde a paisagem forte, cheirosa, vezes colorida, vezes acinzentada, me

inspira à vida!

Page 9: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

“Cada vez tem-se gastado mais para

comer-se menos e pior”

(R. C. Aguiar).

Page 10: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

RESUMO

O presente trabalho trata da agricultura industrialmente integrada do

Sudoeste de Goiás; agricultura que aqui chamamos de “caificada”, por compor

com os CAI’s (complexos agroindustriais). Partindo da hipótese de que o

crescimento econômico gerado por esta agricultura não é acompanhado de um

processo de desenvolvimento, a pesquisa foi realizada com o objetivo de

demonstrar que a mesma é geradora de riquezas e condutora do crescimento

econômico regional, porém, que isso se dá às custas da expropriação, da

exploração, da exclusão, da segregação e do comprometimento dos recursos

naturais. Por isso, o modelo de exploração agrícola em vigor na região é tratado

aqui como insustentável, vez que além de não representar desenvolvimento

(apenas crescimento), é uma grave ameaça aos recursos naturais, isto é, à saúde

da natureza, incluindo-se aí a saúde humana. A pesquisa e a vivência cotidiana

revelam que há uma contradição, denotando a incompatibilidade entre os índices

de crescimento econômico e os índices de desenvolvimento social. Nos

municípios sudoestinos maiores produtores de grãos, podem ser verificadas a

pobreza e a miséria, contrastando com o luxo e a imponência. O bônus econômico

gerado pela agricultura “caificada” é privilégio de poucos, sendo que à maioria

resta o ônus social e ambiental decorrente da prática agrícola ali desenvolvida.

Page 11: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

ABSTRACT

This paper focus on the industrially integrated agriculture from the southeast

of Goiás. This kind of agriculture is locally called “caificada”, adjective derived from

CAIs (“Complexos Agroindustriais” – Agroindustrial Complexes). Based on the

hypotheses that the economic growth generated by this kind of agriculture does not

come with a development process, this research was carried out with the aim of

demonstrating that this very type of agriculture is a generater of wealth and a

booster of the regional economic growth, but that happens at a cost in

expropriation, exploitation, exclusion, segregation, and damage to natural

resources. Therefore, the current agricultural exploration model in the region is

dealt with here as unbearable, due to the fact that, beside not representing

development (only growth), it also means a serious threat to natural resources, that

is, to nature health including human health. The research and daily life reveal that

there is a contradiction, denotating the incompatibility between the econimic growth

indexes and the social development indexes. In the larger grain-producer

southeast counties, one might verify poverty and misery contrasting with luxury and

magnificence. The economic bonus generated by the “caificada” agriculture is a

privilege of an elite, costing to the majority of the population the social and

environmental price originated from the agricultural practice developed there.

Page 12: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

COMISSÃO EXAMINADORA ...................................................................

DEDICATÓRIA .…………….......................................................................

AGRADECIMENTOS …………..................................................................

EPÍGRAFE ................................................................................................

RESUMO ………………….........................................................................

ABSTRACT ..……………………….............................................................

ÍNDICE DE FIGURAS ...............................................................................

ÍNDICE DE GRÁFICOS ............................................................................

iii

iv

v

viii

ix

x

xvi

xix

ÍNDICE DE QUADROS ............................................................................. xxii

ÍNDICE DE MAPAS .................................................................................. xxiv

LISTA DE SIGLAS .................................................................................... xxv

Page 13: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................................................................

28

1. FORMAS DE APROPRIAÇÃO DA AGRICULTURA E DA

ECONOMIA GOIANAS ........................................................................

35 1.1 Goiás: lócus para a acumulação do capital .............................................. 36

1.1.1 A busca pelo crescimento horizontal e vertical ........................................... 39

1.2 O atraso como prerrogativa na elaboração do moderno................... 40 1.2.1 Atraso versus desenvolvimento desigual e combinado ............................ 44 1.2.2 O determinismo étnico e ambiental e a ocupação dos Cerrados goianos .. 46

1.3 A idéia de um Goiás moderno: instalação do capital produtivo na

agricultura – os campos da revolução verde .....................................1.3.1 Sudoeste de Goiás: atração para a agricultura mecanizada ......................

1.3.1.1 A gestação da nova elite regional ....................................................

51

54

56

1.4 Goiás: exploração agrícola com base na vocação de políticas

multilaterais ................................................................................................ 1.4.1 A financeirização da agricultura no Sudoeste de Goiás ……...…………….

1.5. Goiás em busca da não-especialização produtiva (?) ………....….....

58

60

62

2. O CENÁRIO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO SUDOESTE DE GOIAS ..................................................................................................

68

2.1 Políticas agrícolas e agrárias para a agricultura industrialmente

integrada ............................................................................................

2.2 Tecnologias de produção e “construção de solos” .............................

2.3 O uso da terra .....................................................................................

69

73

76

Page 14: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

2.4 A pauta de produtos ............................................................................

2.5 Os elementos paisagísticos da agricultura regional ............................

2.6 Condição do produtor: o arrendatário capitalista como mais um

sujeito na exploração agrícola ...........................................................2.6.1 O arrendamento enquanto estratégia de maior lucratividade .....................

2.6.2 O arrendamento enquanto estratégia de valorização da terra ....................

2.7 Imprevisibilidades da natureza e do mercado: crise regional .............

80

87

96

98

101

106

3. A INTEGRAÇÃO AGROINDUSTRIAL NO SUDOESTE DE GOIÁS ...3.1 A articulação agricultura/indústria ......................................................

3.1.1 Sudoeste de Goiás: campo fértil para a integração industrial .....................

3.1.2 Atrativos regionais para a agroindústria ......................................................

3.1.3 O sistema de escoamento dos produtos agrícolas regionais .............

3.2 Instalação do Complexo Agroindustrial da Perdigão no Sudoeste de

Goiás ..................................................................................................3.2.1 Projeto Buriti: Rio Verde-GO .......................................................................

3.2.1.1 Custos de produção do Complexo Buriti Perdigão Agroindustrial

S.A./ Rio Verde-GO ........................................................................

3.2.2 Projeto Araguaia: Mineiros-GO ...................................................................

3.3 Financiamentos via FCO para a Perdigão S.A. ..................................

109 109

113

118 122

129

131

134

151

153

4. A AGRICULTURA REGIONAL E O ÔNUS SOCIAL ........................... 157 4.1 Desenvolvimento agrícola e desenvolvimento rural ............................ 158

4.2 A agricultura contemporânea: sinônimo de riqueza e de

desenvolvimento (?) ...........................................................................

159

Page 15: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

4.3 Crescimento econômico e desenvolvimento social ............................4.3.1 Liderança na produção agropecuária versus aumento de problemas

sociais ........................................................................................................

4.3.1.1 Agricultores sem terra e Trabalhadores sem trabalho ..................

4.3.1.1.1 As promessas (não cumpridas) de trabalho e de riqueza

4.3.1.1.2 A atração de mão-de-obra e o trabalho bóia-fria .............

4.3.1.1.3 A procura e a oferta de empregos em Rio Verde e Jataí

(GO) .............................................................................

4.3.1.2 O aumento da violência em Rio Verde e Jataí (GO) .....................

160

163

164 165

167

173

175

4.3.1.3 Aumento da população urbana: deficiência infra-estrutural e

segregação espacial .......................................................................

4.4 Paradoxo: o luxo e a miséria dividem espaço .....................................4.4.1 Fatos e imagens da segregação no município de Jataí-GO .......................

4.4.2 Para a periferia e sua população resta o ônus ...........................................

4.5 Migração e a organização econômica e espacial para os “de fora” ....

178

182

184

190

192

5. O USO AGRÍCOLA DOS CERRADOS: especificidades do Sudoeste

de Goiás ...............................................................................................

196 5.1 Da agricultura que degrada à agricultura que enobrece ..................... 196

5.2 Agricultura e (in)sustentabilidade ambiental ...................................... 198 5.2.1 “Solução de mercado” e “solução ecológica” .............................................. 201 5.2.2 A socialização do ônus ambiental ...............................................................

5.2.3 Usos e abusos do discurso de sustentabilidade .........................................203

204

5.3 A (in)sustentabilidade ambiental da monocultura em áreas de

Cerrado ..............................................................................................

207 5.3.1 Proposições e controvérsias sobre a preservação dos Cerrados ................ 211

Page 16: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.4 Propósitos de reafirmação da agricultura patronal, monocultora, nos

Cerrados ............................................................................................ 5.4.1 Agricultura familiar: possibilidades e dificuldades apontadas........................

5.4.2 Pequena produção: possibilidades e dificuldades apontadas .......................

5.5 O uso da terra no Sudoeste de Goiás e a vulnerabilidade ambiental 5.5.1 Desmatamento e perda de biomassa ............................................................

5.5.1.1 Desmatamento: comprometimento da biodiversidade, das águas e

problema de saúde pública .............................................................

5.5.2 O indevido uso agrícola dos solos areno-quartzosos ....................................

5.5.3 A prática do plantio direto ..............................................................................

5.5.4 Insuficiência das estratégias de produção conjugadas à preservação dos

recursos ..........................................................................................................

213

219

222 226

231

236

238 240

245

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................

248

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 253

Page 17: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 01 - Plantação de soja (Aporé – GO) ......................... 87

FIGURA 02 - Plantação de girassol (Chapadão do Céu – GO) 87

FIGURA 03 - Plantação de sorgo (Jataí - GO) ......................... 88

FIGURA 04 FIGURA 05 FIGURA 06 FIGURA 07 FIGURA 08 FIGURA 09

- Plantação de sorgo, com árvore de cerrado ao

fundo (Jataí - GO) .................................................

- Plantação de milho, com árvore de cerrado ao

fundo (Jataí – GO) ...............................................

- Vista panorâmica de galpão reluzindo sob o sol

(Jataí – GO) ..........................................................

- Galpão de máquinas – plantação de sorgo ao

fundo (Jataí - GO) .................................................

- Silo graneleiro “ARGEPAZ” (Jataí - GO) ............

- Silo graneleiro da Fazenda Colorado (Jataí -

GO) .......................................................................

89

89

90

91

92

92

FIGURA 10 FIGURA 11

- Ema se alimentando na “soqueira” de soja

(Jataí - GO) ...........................................................

- Emas em área destinada a plantio direto (Jataí -

GO) .......................................................................

94

94

FIGURA 12 - Vista parcial das instalações da COINBRA –

fitas transportadoras de grãos (Jataí - GO) .........

114

FIGURA 13 - Vista parcial das instalações da COINBRA

(Jataí - GO) ...........................................................

115

FIGURA 14 - Armazém industrial da Cargill Agrícola (Jataí -

GO) .......................................................................

116

Page 18: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

FIGURA 15

- Vista panorâmica das instalações da Cargill

Agrícola (Jataí - GO) .............................................

116

FIGURA 16 FIGURA 17

- Linha de produção da Perdigão, unidade de Rio

Verde – GO ...........................................................

- Linha de produção (II) da Perdigão, Unidade de

Rio Verde – GO .....................................................

120

121

FIGURA 18 FIGURA 19

- Trecho da Ferronorte (Chapadão do Sul - MS)

- Vista aérea da unidade agroindustrial da

Perdigão em Rio Verde (GO) ................................

128

131

FIGURA 20 - Vista parcial da construção do Conjunto

Habitacional COHACOL 5 (Jataí - GO) ...............

182

FIGURA 21 - Vista panorâmica do Conjunto Habitacional

Sebastião Herculano (Jataí – GO) ........................

182

FIGURA 22 - Solicitação de asfalto, reivindicada ao poder

público por parte dos moradores da Vila Luíza

(Jataí - GO) ...........................................................

185

FIGURA 23 - Crianças residentes na Vila Luíza (Jataí - GO) .. 186

FIGURA 24 FIGURA 25 FIGURA 26 FIGURA 27

- Residência de empresário agrícola (Jataí - GO)

- Divisa lateral do “condomínio Barcelona” com a

Vila Luíza (Jataí - GO) ..........................................

- Entrada principal do Condomínio Barcelona

(Jataí - GO) ...........................................................

- Cerca elétrica no muro do Condomínio

Barcelona e vista parcial do interior do mesmo

(Jataí - GO) ...........................................................

187

188

189

190

Page 19: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

FIGURA 28 - Plantação de soja em solo areno-quartzoso

(Aporé - GO) .........................................................

202

FIGURA 29 FIGURA 30 FIGURA 31 FIGURA 32

- Plantação de soja em área com declividade

acentuada (Jataí - GO) .........................................

- Vista panorâmica da unidade agroindustrial da

COMIGO (Jataí – GO) ..........................................

- Instalação de carvoaria, com fornos em

funcionamento (Jataí - GO) ..................................

- Plantio de soja em solo areno quartzoso (Aporé

– GO) ....................................................................

202

221

236

242

FIGURA 33 FIGURA 34 FIGURA 35

- Plantação de milheto, a fim de formar “palhada”

para plantio direto (Jataí - GO) .............................

- Área em preparo para plantio direto – “soqueira”

de soja (Jataí – GO) ..............................................

- Área preparada para plantio convencional – solo

nu e gradeado (Jataí - GO) ...................................

245

246

246

FIGURA 36 - Pivô central, em descanso (Rio Verde – GO) ..... 248

Page 20: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

ÍNDICE DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - Evolução dos principais produtos cultivados

no Sudoeste de Goiás, no período de 1970 a

2000 .................................................................

77

GRÁFICO 02 - Evolução dos principais produtos cultivados

no município de Jataí-GO, no período de 1970

a 2000 ..............................................................

78

GRÁFICO 03 - Evolução dos principais produtos cultivados

no município de Rio Verde-GO, no período de

1970 a 2000 .....................................................

79

GRÁFICO 04 GRÁFICO 05 GRÁFICO 06

- Evolução da área utilizada para lavoura

temporária no Sudoeste de Goiás, no período

de 1970 a 1995 – 96 ........................................

- Evolução da área utilizada para lavoura

temporária no município de Jataí-GO, no

período de 1970 a 1995 – 96 ...........................

- Evolução da área (em ha) utilizada para

lavoura de soja na MRH Sudoeste de Goiás e

no estado de Goiás, no período de 1970 a

2000 .................................................................

81

82

84

GRÁFICO 07GRÁFICO 08GRÁFICO 09 GRÁFICO 10

- Custo de produção da ração – R$/ kg ...........

- Custo do milho consumido – R$/ Kg .............

- Custo do farelo de soja consumido ...............

- Custos da fábrica de rações de Rio Verde-

134

135

136

Page 21: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

GRÁFICO 11 GRÁFICO 12 GRÁFICO 13 GRÁFICO 14 GRÁFICO 15GRÁFICO 16 GRÁFICO 17GRÁFICO 18GRÁFICO 19GRÁFICO 20GRÁFICO 21GRÁFICO 22GRÁFICO 23 GRÁFICO 24GRÁFICO 25 GRÁFICO 26

GO - R$/ Kg .....................................................

- Custos da produção de rações na unidade

de Rio Verde-GO – R$/ Kg ..............................

- Custo de produção do Sistema Vertical

Terminação (SVT) ...........................................

- Participação unitária da ração no custo do

Sistema Vertical Terminação ...........................

- Conversão alimentar do Sistema Vertical

Terminação ......................................................

- Peso final do Sistema Vertical Terminação ...

- Percentual de mortalidade do Sistema

Vertical Terminação .........................................

- Custo da produção de leitão ..........................

- Custo de produção do pinto de um dia ..........

- Custo de produção do frango vivo .................

- Conversão alimentar do frango vivo ..............

- Peso médio do frango vivo ............................

- Custo de produção do ovo próprio ................

- Custo de produção do ovo produzido por

terceiros ...........................................................

- Percentual de aproveitamento de ovos .........

- Origem dos candidatos a postos de trabalho

na Perdigão, unidade de Rio Verde (GO) ........

- Variação populacional e da situação de

domicílio do estado de Goiás, nos anos de

1970 e 2000 .....................................................

137

138

139

140

141

142

143

144

145

146

147

148

149

150

151

171

179

Page 22: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

GRÁFICO 27 - Variação populacional e da situação de

domicílio do município de Jataí-GO, nos anos

de 1970 e 2000 ................................................

180

Page 23: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

ÍNDICE DE QUADROS QUADRO 01 - Estabelecimentos industriais cadastrados na

Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás

nos meses de jun/91, jun/93, mai/96, mai/99,

jan/01, jan/02 e jan/03 ......................................

65

QUADRO 02 QUADRO 03 QUADRO 04 QUADRO 05

- Uso da terra na microrregião Sudoeste de

Goiás, no período de 1970 – 1995/ 96 .............

- Evolução da produção de soja no Brasil,

Centro-Oeste e Sudoeste de Goiás no período

de 1970 a 2000 ...................................

- Evolução da área de soja (colhida/ha) no

estado de Goiás, na microrregião Sudoeste de

Goiás e nos municípios de Rio Verde e Jataí,

no período de 1970 a 2000 ..............................

- Investimentos do BNDES (desembolso de

recursos) no estado de Goiás (1999, 2000,

2001 e 2002) ....................................................

80

83

85

133

QUADRO 06 - Contratações por programa, com recursos

do FCO no estado de Goiás e na Região

Centro-Oeste, no período de 1989 a

novembro de 2002 ...........................................

157

QUADRO 07

- População economicamente ativa,

população ocupada e taxa de desemprego em

Goiás e no Brasil, nos anos de 1991, 1996,

1997, 1998, 1999, 2000 e 2001........................

163

Page 24: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

QUADRO 08 - Valor da produção extrativa vegetal (em mil

R$) por tipo de produto ....................................

237

Page 25: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

ÍNDICE DE MAPAS MAPA 01 - Localização da área de estudo ......................... 33

MAPA 02 MAPA 03

- Localização das PCH’s e UHE’s previstas para

o Sudoeste de Goiás ...........................................

- Estrutura Fundiária do Brasil .............................

63

72

MAPA 04 - Ferrovias no estado de Goiás ........................... 127

MAPA 05 MAPA 06 MAPA 07 MAPA 08

- Distribuição da área original e atual de Cerrado

na região Centro-Oeste ......................................

- Uso do solo e unidades fisionômicas no

Sudoeste de Goiás ..............................................

- Vulnerabilidade ambiental dos solos do

Sudoeste de Goiás ..............................................

- Focos de desmatamento na MRH Sudoeste de

Goiás (2004 – 2005) ............................................

212

230

232

234

Page 26: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

LISTA DE SIGLAS BDI - Confederação das Indústrias da Alemanha

BM & F - Bolsa de Mercadorias e Futuros

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Social

BOVESPA CAI’s

- Bolsa de Valores de São Paulo

- Complexos Agroindustriais

CBOT CI

- Chicago Board of Trade

- International Conservation

CNA COINBRA

- Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária

do Brasil

- Comércio e Indústrias Brasileiras

COMIGO - Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do

Sudoeste Goiano.

CONDEL/ FCO COS

- Conselho Deliberativo do Fundo Constitucional de

Financiamento do Centro-Oeste

- Centro de Orientação Social

CPR ECA

- Cédula do Produtor Rural

- Estatuto da Criança e do Adolescente

EIA EIBH EMBRAPA

- Estudo de Impacto Ambiental

- Estudo Integrado de Bacias Hidrográficas

- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

FAT FCA

- Fundo de Amparo ao Trabalhador

- Ferrovia Centro-Atlântica

FCO - Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-

Oeste

Page 27: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

FGV - Fundação Getúlio Vargas

FIEG GO

- Federação das Indústrias do Estado de Goiás

- Goiás

IBGE IDH IDH - M

- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

- Índice de Desenvolvimento Humano

- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IGPM - Índice Geral de Preços Médios

IIRSA INCRA IPEA

- Iniciativa de Integração de Infra-estrutura Regional

Sul Americana

- Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária.

- Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.

MAB MG MODIS

- Movimento dos Atingidos por Barragem

- Minas Gerais

- Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer

MRH MS NASA NDVI

- Microrregião Homogênea

- Mato Grosso do Sul

- Agência Espacial Americana

- Normalized Difference Vegetation Index

ONG - Organização Não Governamental

PCH’s PD PIB PNAD

- Pequenas Centrais Hidroelétricas

- Plantio direto

- Produto Interno Bruto

- Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares

PND POLOCENTRO

- Plano Nacional de Desenvolvimento

- Programa para o Desenvolvimento dos Cerrados

Page 28: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

PRONAF

- Programa Nacional de Financiamento à Agricultura

Familiar

PRONAF - RA - Programa Nacional de Financiamento à Agricultura

Familiar – Reforma Agrária

RIMA SA SAM SEMARH SEPLAN - GO SIAD SINE SVT

- Relatório de Impacto Ambiental

- Sociedade Anônima

- Serviço de Atendimento ao Migrante

- Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos

Hídricos

- Secretaria Estadual de Planejamento - Goiás

- Sistema Integrado de Alerta de Desmatamentos

- Sistema Nacional de Empregos

- Sistema Vertical Terminação

UFG - Universidade Federal de Goiás

UFMT UHE’s

- Universidade Federal do Mato Grosso

- Usinas Hidroelétricas

Page 29: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

AGRICULTURA “CAIFICADA”15 NO SUDOESTE DE GOIÁS: do

bônus econômico ao ônus sócio-ambiental

Apresentação

A agricultura contemporânea desenvolvida no Sudoeste de Goiás, pode ser

identificada e analisada a partir de dois matizes: um que reconhece a importância

e justifica este modelo de exploração, tendo em vista o bônus econômico que

gera; outro que percebe os problemas e prejuízos, sociais e ambientais,

decorrentes da mesma e, por isso, percebe-a como insustentável.

As análises pautadas no crescimento e nas vantagens econômicas são

mais usuais, quando se trata da agricultura regional. Embasadas nos elevados

índices de produção e de produtividade, grande parte das pesquisas e análises

desenvolvidas se preocupa em apresentar as bases tecnológicas, mecânicas,

biológicas, genéticas, sobre as quais a agricultura regional se assenta. Nesta

vertente analítica estão contidos os trabalhos e as teorias que consideram as

possibilidades do crescimento da economia regional apenas por meio da

agricultura do modelo revolução verde. Aí se entende como sucesso produtivo a

agricultura que não apresenta rendimentos decrescentes, que possui custos de

produção reduzidos e produtividade elevada de forma a competir no mercado

internacional de alimentos, fazendo uso, para tal, da tecnologia avançada,

sobretudo a química e a mecânica.

Nesta perspectiva o Sudoeste de Goiás é tido como um el dorado. O “mito

Rio Verde” é um exemplo disso, quando tal município é anunciado, em mídia

nacional, como sendo o lugar onde mais se gera riquezas e empregos no Brasil.

15 A expressão “caificada” é utilizada quando se refere a modelos de exploração agrícola, onde a agricultura é industrialmente integrada, no formato dos CAI’s (Complexos Agroindustriais).

Page 30: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Se consideradas a contemporaneidade das tecnologias de produção

utilizadas, os níveis de financeirização da agricultura, os crescentes números de

produção, produtividade, área plantada e incorporação de novas áreas e a

instalação de indústrias ligadas ao setor, dentre outras variáveis, nota-se uma

dinâmica real, em toda a região, que é derivada da prática agrícola ali instalada.

É a análise desta dinâmica, significativa do crescimento econômico, que é

considerada por muitos enquanto sinônimo de desenvolvimento. Dessa forma,

entende-se o Sudoeste de Goiás como sendo o lócus do desenvolvimento e da

geração de riquezas.

Em síntese, esta é a análise mais usual quando o foco é a agricultura

praticada no Sudoeste de Goiás.

Na tentativa de trazer uma outra perspectiva analítica, o presente trabalho

busca denotar que a agricultura da região, mesmo sendo geradora de riquezas e

condutora do crescimento econômico regional, e, em parte do estadual, é

concentradora, excludente e responsável pela gênese de problemas sociais e

ambientais, caracterizando-se como insustentável, já que além de não representar

desenvolvimento (apenas crescimento), é uma grave ameaça aos recursos

naturais, isto é à saúde da natureza, incluindo-se aí a saúde humana.

Embasamo-nos em Franco (2002) para afirmar que crescimento e

desenvolvimento não são sinônimos, tampouco podem ser considerados como tal.

Segundo o autor, todo desenvolvimento é desenvolvimento social, se assim não o

for, não se trata de desenvolvimento. Por isso não nos parece coerente afirmar

que há desenvolvimento no Sudoeste de Goiás em virtude da prática agrícola

intensiva em capital e em tecnologia, já que isto não significa alterações

significativas no capital humano e no capital social.

A contradição da existência da falta de empregos, da pobreza reforçada, do

aumento dos índices de violência e do comprometimento dos recursos naturais na

região que mais produz alimentos no estado de Goiás, e uma das maiores

produtoras do Brasil, é um exemplo disso e, ao nosso ver, não pode ser

subliminada.

Page 31: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mediante isso, nos propomos a apresentar o Sudoeste de Goiás sob outro

prisma, que não o do ufanismo em relação à agricultura ali desenvolvida. Nessa

perspectiva, a agricultura da região é vista como responsável, também, por

problemas e prejuízos, e não apenas como geradora de renda e riqueza, que, nos

parece, se concentram cada vez mais.

A hipótese que norteou a pesquisa pauta-se na idéia de que esta agricultura

gera um bônus econômico que é apropriado por poucos, ao mesmo tempo em que

gera um ônus sócio-ambiental que é compartilhado pela sociedade em geral.

Assim, movidos pelo desejo de investigar o rebatimento sócio-ambiental da

agricultura industrialmente integrada, “caificada”, da microrregião Sudoeste de

Goiás, aqui apresentada no mapa 01, a pesquisa foi conduzida de modo a buscar

as bases sobre as quais tal agricultura de assenta, bem como quais os seus

resultados econômicos, sociais e ambientais.

Para tal foram levantados dados secundários junto ao IBGE, Banco do

Brasil, Perdigão Agroindustrial S.A., Cargill Agrícola, COINBRA, SEPLAN, SINE,

Polícia Militar (GO), Secretarias Municipais de Ação e Promoção Social de Jataí e

Rio Verde (GO); dados primários junto a produtores agrícolas dos municípios de

Jataí e de Rio Verde (GO) e a moradores das cidades de Rio Verde, Jataí e

Chapadão do Céu (GO) e trabalhadores rurais, proprietários de terra,

comerciantes e técnicos agrícolas. Todos os trabalhos de campo foram

programados e orientados por questionários e entrevistas previamente

formuladas.

Os dados coletados, tanto os primários quanto os secundários, foram

investigados e analisados à luz de vasta bibliografia, revisada no decorrer da

elaboração deste trabalho, conforme consta ao final do mesmo, sendo que

diversos dados e informações aqui contidos foram extraídos do material

bibliográfico utilizado. Livros, jornais, revistas, informativos, artigos, sítios

eletrônicos foram os principais recursos bibliográficos utilizados.

O trabalho está organizado em cinco partes. A investigação principiou pela

forma como a economia de Goiás foi apropriada pelo capital, tendo na agricultura

sua base de reprodução e acumulação. Este assunto é tratado no capítulo um,

Page 32: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

apontando a articulação da agricultura goiana com o capital, primeiramente o

capital urbano-industrial, depois o capital produtivo e, por último, o capital

financeiro, que, associado à formação do complexo agroindustrial, dá o indicativo

do atual estágio da agricultura e da economia da região.

Dessa forma, os mecanismos econômicos que, historicamente,

apropriaram-se deste espaço de forma a reservá-lo ou a incorporá-lo aos arranjos

da divisão territorial do trabalho foram levantados de maneira a auxiliar na

compreensão de como a agricultura goiana foi, ao longo dos tempos,

metamorfoseada pelo capital, nas suas diversas faces.

Também foi objeto de análise a elaboração dos discursos do determinismo

étnico e ambiental que embalou as construções teóricas que nortearam as formas

de ocupação do território goiano ao longo dos tempos. Elaborações teóricas, de

cunho científico, criaram a idéia do “atraso”, enquanto prerrogativa para a

implementação do “moderno”.

O capítulo dois apresenta o cenário da produção agrícola da região, a partir

das mudanças na pauta de produtos, no uso da terra, nas relações de trabalho e

de produção. A introdução de novos cultivares, com destaque para a soja, e a

ampliação das lavouras temporárias, foram seguidas de novo conteúdo

paisagístico na região, formado nos “mares de soja”, ou “desertos de soja”, que

passaram a compor o cenário, dividindo lugar com os armazéns, silos graneleiros,

agroindústrias, máquinas etc.

O novo cenário produtivo comprometeu o cenário agrícola original da

região, a paisagem se homogeneizou, tornando-se muito semelhante ao que se vê

no Rio Grande do Sul, no Paraná, ou nos Estados Unidos, pois as características

paisagísticas que dão singularidade ao lugar cederam às características

homogeneizadoras da monocultura.

Neste esquema produtivo, a prática do arrendamento capitalista aparece

como indicativo da reorientação da relação do produtor com a terra. Uma relação

mercantil e capitalista, desprovida de qualquer relação extra, cujo objetivo é

aumentar o potencial de exploração e de lucratividade.

Page 33: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O processo de formação do complexo agroindustrial regional é o assunto

tratado no capítulo três. O padrão agrícola da região aparece de forma consoante

com os anseios da integração industrial. Para tal, a sofisticação técnica, os baixos

custos da ração e os investimentos privados e públicos, tendo os recursos do

BNDES e do FCO como elementos-chave, compõem a base do processo.

Neste contexto, a instalação do complexo agroindustrial da Perdigão em

Rio Verde(GO), e o seu projeto de expansão para Mineiros(GO) e Jataí(GO), foi

investigada com o objetivo de identificar as alterações promovidas na região. A

análise do complexo da Perdigão no Sudoeste de Goiás indica que o custo de

produção, juntamente com as políticas de isenção fiscal e financiamentos, tendo o

FCO como o principal expoente, são preponderantes na otimização dos resultados

da empresa.

No capítulo quatro são levantadas as questões tangentes à

correspondência entre o crescimento econômico e o desenvolvimento social

regional, ou seja: Até que ponto o crescimento econômico é viável socialmente? A

que custas se mantêm? Quais são os grupos que se beneficiam com ele, bem

como quais os excluídos?

Nesta seção procurou-se corroborar as hipóteses de que o bônus

econômico, resultado da agricultura em curso na região, é privilégio de poucos; e

de que não há um correspondente social do crescimento econômico verificado, ou

seja, não há uma transferência de renda para os setores da sociedade que não

estão diretamente envolvidos com o setor agroindustrial. Estas questões foram

elaboradas por meio das variáveis investigadas, a fim de avaliar a qualidade de

vida e o desenvolvimento nos “municípios da soja” do Sudoeste de Goiás.

Por fim, no capítulo cinco o uso da terra no Sudoeste de Goiás aparece

como tema central.

Aqui a investigação caminha no sentido de analisar e avaliar o uso que a

agricultura da região tem feito dos recursos naturais. Questões tangentes à

sustentabilidade e à agricultura que degrada e à agricultura que enobrece são

Page 34: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

levantadas no intuito de trazer à pauta de discussão os prejuízos ambientais que

se tem gerado aos Cerrados com a intensificação da monocultura na região.

O desmatamento progressivo, o uso de solos frágeis, a contaminação de

solos e águas, bem como outros aspectos foram trazidos à tona no intuito de fazer

rever a noção (que é quase um decreto) que prevê a intensificação constante da

pressão antrópica, por meio das lavouras, sobretudo de soja, no Sudoeste de

Goiás.

Page 35: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mapa 01: Localização da área de estudo

Page 36: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

1. FORMAS DE APROPRIAÇÃO DA AGRICULTURA E DA ECONOMIA GOIANAS.

Nesta seção apontamos como a agricultura goiana, ao longo dos tempos, foi

metamorfoseada pelo capital com suas diversas faces. Para tal, nos parece

importante a busca dos mecanismos econômicos que, historicamente,

apropriaram-se deste espaço de forma a reservá-lo ou a incorporá-lo aos arranjos

da divisão territorial do trabalho.

Assim, consideramos o período da produção agropecuária, que atendeu às

necessidades do capital urbano-industrial do Sudeste do país; o movimento da

revolução verde rumo ao Centro-Oeste brasileiro, com a agricultura goiana sendo

apropriada pelo capital produtivo; e, por último, a agricultura goiana apropriada

pelo capital financeiro, num crescente processo de financeirização. Ao final,

tratamos do esforço da economia goiana em não se limitar à especialização

produtiva, buscando mecanismos para ampliar suas possibilidades de produção a

fim de agregar de valor aos produtos agrícolas, ao invés de exportá-los in natura,

conforme historicamente se fez em Goiás.

Deste modo, buscamos compreender as diversas bases que sustentaram o

uso das terras goianas em momentos variados e ao mesmo tempo eleger os

elementos determinantes, os atores principais, que norteiam a produção do

espaço agrário e a ocupação do território goiano. Tais elementos têm sede

principal no capital, que apoiado e incentivado pelo Estado, apropria-se dos

espaços e remodela a estrutura produtiva de acordo com suas intenções de

acumulação, fazendo uso, para isso, dos latifundiários, dos empresários agrícolas

e dos recursos naturais. Foi objeto de análise a elaboração do discurso do determinismo étnico e

ambiental que embalou as construções teóricas que nortearam as formas de

ocupação do território goiano ao longo dos tempos.

Page 37: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

1.1 Goiás: lócus para a acumulação do capital.

Diversos estudiosos consideram o período anterior à incorporação das

tecnologias de produção oriundas do pacote tecnológico da revolução verde como

sendo de não-articulação da economia goiana com o desenvolvimento capitalista

então em curso no país. No entanto, consideramos importante ponderar a

existência de tal desarticulação, vez que a agropecuária goiana servia ao

desenvolvimento capitalista em curso no Sudeste do Brasil, fornecendo alimentos,

principalmente carnes de origem bovina, a baixos preços, contribuindo com a

manutenção do baixo custo da mão-de-obra. Por isso, representou campo fértil

para a acumulação do capital, já que permitia a reprodução do mesmo sem ter ali

desenvolvidas as relações capitalistas de produção, manifestas, sobretudo, no

trabalho assalariado.

A divisão inter-regional do trabalho é identificada no vínculo estabelecido e

articulado entre a especialização agropecuária goiana e a produção capitalista.

Quanto mais o estado de Goiás se especializava na produção de gêneros

alimentícios, mais se inseria na economia capitalista, isto é, apurava sua

participação no processo geral de reprodução do capital.

Assim, não nos parece ser válida essa perspectiva teórica que considera

Goiás como tendo estado na periferia da economia capitalista desenvolvida no

Brasil, mesmo porque desta teoria derivam as concepções de “desequilíbrio

regional” e/ ou “desenvolvimento desequilibrado”. Sobre esta questão Borges

(2000, p.13) afirma que:

a relativa defasagem no desenvolvimento da sociedade agrária goiana é explicada a partir da concepção do desenvolvimento desigual e combinado da economia capitalista, a qual produz e reproduz desigualdades sociais e regionais, estabelecendo ritmos diferenciados de acumulação nos diversos espaços econômicos integrados ao processo de produção de mercadorias.

Page 38: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Isto se dá porque é próprio do capitalismo iniciar seu processo de expansão

pela feitura de mercadorias e não, necessariamente, pela implementação de

relações de produção capitalistas, configurando a ausência do trabalho

assalariado. Este procedimento faz parte da fase primeira, de instalação, do

capital.

Disso decorre a apropriação e a manifestação do capital no território de

forma desigual e por vezes contraditória. As diversas regiões são incorporadas de

forma diferenciada e suas especificidades contribuem para completar a

acumulação e a reprodução do capital.

Neste sentido, a articulação da economia goiana à economia capitalista, sem

que se desenvolvessem relações capitalistas de produção, fez com que a

estrutura agrária e as relações sociais de produção permanecessem inalteradas

no agro goiano por longo período. Houve uma incorporação das antigas relações

de produção à nova função do capital, sem que isso representasse qualquer forma

de conflito.

As tradicionais relações de trabalho, baseadas na exploração do trabalhador

agregado, meeiro e/ou parceiro, atendiam, por um lado, aos interesses do capital

urbano-industrial, já que produziam alimentos a baixo custo; e, por outro lado,

atendiam à oligarquia local, reforçando a propriedade da terra e o latifúndio.

Mediante isso, “o capital industrial foi beneficiado, a estrutura agrária tradicional foi

preservada, o latifúndio foi reforçado, garantindo a sobrevivência econômica e

política das oligarquias fundiárias, sua riqueza e seu poder local“ (BORGES, 2000,

p. 126).

O criatório bovino traduzia-se no setor mais dinâmico da economia goiana e

o discurso de vocação pastoril era de grande importância para os latifundiários,

que tinham reforçados o status, o poder e a posse da terra.

Os rumos dados à economia nacional, pela política desenvolvimentista de

Vargas, tinham o caráter de (re)organizar as economias agrárias regionais. Em

Goiás, os anos que se seguiram aos anos (19)30 foram marcados pela

Page 39: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

incorporação de novas áreas de fronteira, embalados pelo discurso de ocupação

dos “espaços vazios” ou preenchimento dos “vazios demográficos”.

A política de Vargas reforçou a função da agricultura, de produzir gêneros

alimentícios para atender a demanda urbana, para tal incentivava a expansão da

fronteira agrícola. A Marcha para o Oeste, nos anos (19)40, foi a expressão deste

pensamento e buscou uma nova ocupação e colonização do Oeste brasileiro.

Em Goiás, a fronteira foi ocupada, após 1930, principalmente pelos

imigrantes mineiros e paulistas, trabalhadores pobres ou grandes fazendeiros, à

procura de novas terras que apresentassem preços acessíveis para exploração

agropecuária, na busca de maior rentabilidade com menor custo de produção.

Segundo Borges (2000), a criação da Fundação Brasil Central, em 1943, pelo

governo Vargas, constituiu-se na antecipação do Estado ao movimento

demográfico e ao capital, com abertura do caminho para a ocupação econômica

do Centro-Oeste e da Amazônia. “A Fundação Brasil Central era um órgão que

visava planejar e coordenar o processo de desbravamento e ocupação de áreas

desabitadas pelo homem branco nas regiões Oeste e Central do Brasil”

(BORGES, 2000, p. 79).

A construção de Brasília e de grandes e importantes rodovias ampliaram de

forma substancial as possibilidades de completar a ocupação econômica do

território brasileiro.

Porém, as relações de produção e de trabalho no agro goiano, já

anteriormente ocupado, permaneciam inalteradas. E o lavrador posseiro, quase

sempre migrante, era o principal personagem na nova ocupação da terra de

fronteira. Logo após a desbravada da terra, com o objetivo de produção para

subsistência, o camponês via sua terra sendo apropriada pelo grande fazendeiro,

que fazia da mesma área para pecuária extensiva. No entanto, os espaços

continuavam vazios, já que as grandes propriedades e a atividade pastoril eram as

responsáveis primeiras pela pequena quantidade de empregos no campo e pelo

incipiente uso e exploração do solo.

Page 40: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

a “ocupação dos espaços vazios” mantinha inalterada a estrutura fundiária, aliviava as tensões sociais criadas com o avanço das relações capitalistas de produção no sudeste [do país] e aumentava a produção agrícola para o mercado interno sem alterar a arcaica estrutura agrária brasileira (BORGES, 2000, p.154).

Ou seja, mantinha-se o processo de acumulação primitiva do capital, já que

se perpetuava a produção sem que relações capitalistas de produção se

desenvolvessem. O setor agrário goiano, manteve-se tradicional mesmo com o

discurso progressista que embalou o projeto de expansão da Marcha para o

Oeste”.

Na realidade, a perspectiva de eliminação das antigas relações de trabalho

no campo goiano veio a aparecer somente com a idéia de modernização, no pós

1960, quando da expansão das tecnologias do pacote tecnológico da revolução

verde rumo aos cerrados do Centro-Oeste brasileiro.

1.1.1 A busca pelo crescimento horizontal e vertical.

Os anos (19)70 se transformaram num marco no que tange às

transformações da economia agrária regional. Este é o período no qual se

completou a integração da economia agrária goiana à estrutura capitalista,

mediante o investimento de altas somas de capital e liberação de incentivos

creditícios, por parte do Estado, para que houvesse a incorporação das

tecnologias contidas do pacote tecnológico da revolução verde, cujo resultado foi o

que se convencionou chamar de modernização da agricultura. No entanto, a questão central teve continuidade. As transformações nas

relações de produção no campo e a expansão das relações capitalistas de

produção às atividades agrícolas goiana não significaram ruptura com a existência

das grandes propriedades e da concentração de terras, o que faz com que esta

modernização também seja conservadora.

Page 41: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Os objetivos da incorporação e da implementação das novas tecnologias de

produção eram o desenvolvimento de um tipo de agricultura que aglutinasse e

exercesse três funções, tidas como básicas, que conduzissem à formação de uma

empresa agrícola: capital, trabalho e administração. A atividade pastoril, que havia se mantido na posição de carro-chefe do agro

goiano enquanto a estrutura produtiva agrícola tradicional lhe favorecia o

desempenho, cedeu lugar aos novos produtos, com valores nutricionais

requisitados em escala internacional e com maior capacidade de agregação de

valor, principalmente a soja e o milho. A reorientação na forma de inserção da

agricultura goiana na divisão regional do trabalho, com base numa nova pauta de

produtos a ser implementada, requereu alterações nas relações de produção de

forma a atender o novo processo produtivo agrícola.

Dessa forma, tem-se a substituição da idéia de “vocação pastoril” pela idéia

de vocação monocultora. Percebe-se que a primeira idéia, segundo Borges

(2000), interessava aos grandes fazendeiros que controlavam o poder local e

monopolizavam a posse e a propriedade da terra, já que a pecuária extensiva era

a forma utilizada para a ocupação e o domínio de grandes áreas. Já a segunda idéia, baseada na criação de um novo discurso vocacional para

a agricultura goiana, é representativa do poder de criação que os setores e os

espaços hegemônicos têm, (re)criando conceitos para atender aos seus anseios,

que, neste caso, garantiu o agro goiano enquanto espaço de acumulação e

reprodução.

1.2 O atraso como prerrogativa na elaboração do moderno.

A estrutura produtiva agrícola goiana que vigorou até os anos (19)60,

caracterizada pelo monopólio da terra e pela atividade pastoril, foi favorável à

Page 42: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

produção naquele momento, constituindo-se numa aliada à acumulação capitalista

e não num empecilho. No entanto, uma elaboração teórica, afirmando ser a economia goiana

atrasada e desarticulada em relação à economia brasileira, fundamentou o

discurso da necessidade de transformar a estrutura produtiva agrícola de Goiás. O

objetivo era implementar uma prática agrícola pautada na produção de espécies

de fácil agregação de valor e de fácil comercialização no mercado internacional de

alimentos; a soja e o milho se traduziam no novo gargalo. Para tal, incorporar as

técnicas apresentadas pelo pacote tecnológico da revolução verde era condição

sine qua non.

A concepção do atraso é prerrogativa para a elaboração do moderno e a

formação de uma teoria de (sub)desenvolvimento regional, enquanto justificativa

intelectual, toma lugar central nas rodas acadêmicas e econômicas, apontando a

rusticidade técnica como a responsável por uma suposta estagnação econômica

da região, que só poderia ser superada por meio do conteúdo tecnológico

moderno da revolução verde, com práticas agrícolas intensivas em tecnologias e

em capital.

Estas elaborações teóricas fazem parte do que Guanziroli (2001, p.16) atesta

existir para a agricultura brasileira no geral, diante da estratégia adotada para

justificar “a necessidade de ‘modernizar’ o campo, de superar as estruturas

arcaicas e as limitações associadas à vida rural e aos camponeses, mediante o

estímulo à penetração e difusão de empresas agrícolas capitalistas”.

A integração capitalista da economia agrária goiana, representada pelo

avanço do capitalismo no campo, deu novo conteúdo à terra, que, além de riqueza

se transformou em capital, passando a representar, além de fonte de poder

econômico e político, fator de garantia de poder econômico (BORGES, 2000).

A terra em si passou a configurar reserva de valor, condicionando o acesso

aos meios de produção oriundos do mercado urbano e aos financiamentos. Assim,

se constituiu num produto, dentro do padrão de desenvolvimento capitalista, cuja

Page 43: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

riqueza é passível de conversão em dinheiro, ao passo que os recursos naturais

passaram a ser vislumbrados como estoques de riqueza em potencial.

A preparação do território para a aplicação do capital produtivo principiava

pela substituição das técnicas de trabalho e das relações sociais de produção e de

trabalho existentes. Estas passaram a ser enxergadas como arcaicas e obsoletas,

carecendo de reformulação, já que não se enquadravam mais na nova fase de

reprodução do capital. Haviam servido à acumulação do capital até o presente

momento, mas agora passavam a significar empecilho.

A nova teoria atestava que o estágio atrasado e a rusticidade das técnicas

utilizadas na agricultura goiana até se então deviam à exclusão, nas práticas

produtivas desenvolvidas no estado, das atividades capitalistas desenvolvidas no

Sudeste do país. Dessa forma foram definidas as técnicas de manejo

agropecuário como sendo rudimentares, no tempo e no espaço alheios às

técnicas apresentadas pela revolução verde.

No entanto, é notório que a discrepância no nível tecnológico das

ferramentas utilizadas na agricultura nas diversas regiões resulta da apropriação

diferenciada dos espaços por parte do capital e o discurso de “desequilíbrio

regional” e de “atraso econômico”, utilizado para explicar estas diferenciações, se

constitui numa justificativa de expansão da área de atuação deste capital, o que se

traduz num esquema de colonialismo interno. Assim, a introdução das técnicas da revolução verde na agricultura goiana,

bem como nas áreas de Cerrado do Brasil central, foi baseada na noção de

desenvolvido versus subdesenvolvido, moderno versus atrasado.

Sobre tal questão os estudos de Oliveira Vianna (1987), realizados em 1940,

apontam um traçado da configuração econômica e sociológica do estado de Goiás

e sugere a compreensão das diversas formas de uso do solo, do comportamento

da produção agrícola e da população a ela vinculada, a partir de uma leitura onde

as bases originais da agricultura goiana e das relações de produção, encontradas

no estado pelo capital, nada (ou muito pouco) tinham a ver com a produção

capitalista em curso no Sudeste do país.

Page 44: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Segundo Vianna (1987), o que ocorria é que as relações de produção

gestadas pela agricultura goiana eram alimentadas por ações e características

que, em grande parte dos casos, pouco tinham a ver com a lógica capitalista de

reprodução do capital e obtenção de lucro, funcionando “num esquema

antieconômico e antilucrativista”, incompatível com os padrões de uma empresa

do tipo capitalista.

O autor afirma que o predomínio fazia-se por propriedades, na sua maioria,

verdadeiros latifúndios tipicamente patrimonialistas, que tinham na sua lógica

produtiva a manutenção, por um lado, da propriedade da terra com suas relações

sociais e de trabalho constituídas, e por outro, do prestígio, bem-estar e status que

a posse da terra oferecia. Estas propriedades eram organizadas e funcionavam

para a produção de fartura de gêneros alimentícios e para o destaque, por parte

dos grandes proprietários, na vida social, religiosa e política da região (VIANNA,

1987).

Desta forma, atesta-se um traço cultural não mercantilista, onde um suposto

desinteresse pelo lucro traduz-se na concepção da inexistência de práticas

mercantis e da acumulação capitalista:

nos sertões goianos o que se verifica, ao invés do luxo e ostentação é o artesanato doméstico; a hospitalidade desinteressada e gratuita; a despreocupação do lucro; regime generalizado da troca. Isso é tanto verificado nos latifúndios mais extensos, quanto nas classes inferiores (VIANNA, 1987, p. 159).

A concepção de atraso e de rusticidade das técnicas e das práticas utilizadas

nas explorações agropecuárias de Goiás avultou-se, enquanto justificativa

intelectual, no momento em que surgiram novos interesses em que o espaço

agrário goiano passasse a representar território para a acumulação do capital não

mais a partir das suas relações de produção e de trabalho tradicionais, e, sim, a

partir da configuração das relações capitalistas de produção.

Logo, no intuito de instituir um novo padrão de produção e novas relações de

trabalho na agricultura goiana, de cunho essencialmente capitalistas, fortaleceram-

Page 45: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

se os discursos da necessidade de superação do “atraso” e da rusticidade. As

relações capitalistas de produção passaram a ser consideradas, então, a única

possibilidade de desenvolvimento para Goiás e, por isso mesmo, tornam-se

justificáveis todas as ações, principalmente do poder público, para implementá-las.

A concepção de atraso é, então, uma elaboração teórica acerca de uma

estrutura produtiva e de um modu vivendi que caracterizaram a exploração

agrícola e o modo de vida rural goiano, anteriores à década de (19)60.

De acordo com Mendonça (2004), o atraso passou a ser condição para a

modernidade. Foi necessário inventar e reforçar o atraso para dar sentido à

modernização que se pretendia instalar.

[...] a vegetação de cerrado tida como pobre e o chapadão como áspero, serão valorizados ideologicamente para justificar a eliminação, quase que por completo, do bioma Cerrado e de seus subsistemas, dentre eles as veredas, predominantes nas áreas de chapada. Se até mesmo os geógrafos tinham esta visão estereotipada, imagine-se então as construções teóricas e empíricas, elaboradas pelo Estado e pelo capital, no processo de incorporação da área às “necessidades” do progresso e da modernidade (MENDONÇA, 2004, p. 135).

Motivações de ordens natural e biológica foram tomadas a fim de explicar o

uso de técnicas artesanais e pouco renovadas, desconsiderando o

comportamento sócio-econômico regional e a consonância econômico-territorial

delas com a produção em curso.

1.2.1 “Atraso” versus desenvolvimento desigual e combinado.

Segundo Aguiar (1986) a modernização da agricultura, enquanto processo,

traduz a inserção da agricultura brasileira no sistema produtivo mundial e isto se

deu logo ao fim da Segunda Grande Guerra, quando da expansão do sistema

capitalista, marcada por uma sincronia de centralização e exportação de capital

produtivo, com amplo e crescente processo de internacionalização da produção e

tendência à unificação mundial do progresso técnico e das técnicas produtivas. A

Page 46: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

metamorfose na dinâmica do comércio internacional conduz à especialização os

sistemas produtivos nacionais, de maneira a estarem todos perfeitamente ligados.

“A grande empresa multinacional foi o instrumento decisivo deste processo de

internacionalização do capital produtivo” (AGUIAR, 1986, p.60).

Para Aguiar (1986) esse processo internacionaliza, também, as condições de

produção e a homogeneização das técnicas produtivas, por isso a opção

tecnológica faz parte de uma totalidade complexa. E ainda:

a internacionalização da produção implica, também, a transgressão do espaço em que se dá a acumulação, que passou a assumir uma feição mundial. A acumulação capitalista, no estágio monopolista, se realiza ao nível do conjunto do capitalismo internacionalizado, na medida em que se materializa através de operações localizadas nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos (AGUIAR, 1986, p. 66).

É, pois, no bojo desta teia econômica mundial que se iniciou a transferência

de tecnologias de produção agrícola para o Brasil. A articulação com o capital

internacional garantiu a entrada e a instalação de empresas forâneas vinculadas

ao setor, implicando na instalação de empresas multinacionais, agentes do

processo.

A agricultura brasileira pautada, sobretudo, nas tecnologias de produção

transferidas dos Estados Unidos passou a se constituir no elo de ligação entre o

processo de especialização do sistema produtivo nacional e a articulação da

divisão internacional do trabalho.

Uma vez propagadas e assimiladas tais tecnologias o mito do atraso é

reforçado, vez que ficam espacialmente combinadas técnicas antigas com as

técnicas mais avançadas do trabalho mundial, sendo estas consideradas

modernas e superiores em relação às primeiras.

Porém estas são manifestações espaciais dos traços do desenvolvimento

desigual e combinado do capitalismo mundial, onde as diferenciações no nível

técnico são inerentes às estratégias de desenvolvimento do modo capitalista de

produzir, diante das quais não é objetivo buscar a homogeneização das técnicas

de exploração agrícola pelo território (SMITH, 1988).

Page 47: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

1.2.2 O determinismo étnico e ambiental e a ocupação dos Cerrados goianos.

A concepção de um determinismo ambiental e étnico na base de análise e

explicação da exploração agrícola das terras de Goiás afirma que há um fator de

ordem natural e cultural determinante das possibilidades e limitações da

exploração agrícola do Cerrado e que este é responsável pelo atraso verificado na

agricultura goiana até a década de 1960.

A concepção eurocentrista de que a agricultura brasileira só conheceu o

êxito por meio da entrada dos imigrantes europeus tem seu reforço nesta teoria.

Essa é uma idéia que menospreza o latino, o mulato, de origem negro - escrava,

frente ao europeu, continuamente colonizador, considerado o inovador. Uma face

desta concepção é utilizada de maneira recorrente para justificar a sofisticação

técnica da agricultura goiana das últimas três décadas, atribuindo aos imigrantes

oriundos das regiões Sul e Sudeste do Brasil, de origem dominantemente alemã e

italiana, o cenário agrícola verificado atualmente. Desta forma, os europeus, e/ ou

seus descendentes, aparecem como sendo natural e biologicamente superiores

aos agricultores goianos, estes vistos como ociosos e acomodados.

Diante disso, dentre as diversas estratégias utilizadas pelo capital para

passar ao seu novo estágio de acumulação em Goiás - a reprodução do capital

produtivo a partir da exploração agrícola, está a elaboração de um discurso

afirmando a subtilização das áreas de Cerrado devido a uma incompetência

técnica, derivada de uma pobreza étnica.

Tal discurso justificava a aplicação de novas técnicas à exploração agrícola

goiana, de maneira a fazer com que aquelas áreas se convertessem em aliadas

do capital produtivo. Para tal foi reforçada a teoria de que o agricultor imigrante

seria o produtor ideal para manusear as novas técnicas e implementar as novas

formas de produzir nos cerrados.

O determinismo étnico conjuga-se ao determinismo ambiental, que juntos se

reforçam.

Page 48: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

A idéia de que a agricultura goiana era resultante das possibilidades naturais

dos cerrados foi algo que permeou diversos estudos e serviu para embalar as

análises na perspectiva teórica do dualismo econômico, apontando o Cerrado

como um limitador natural ao desenvolvimento de uma agricultura regional em

escala comercial.

Os estudos de Waibel (1979), realizados no final da década de 1940, foram

utilizados para corroborar tal premissa. Suas explicações, para as formas de

ocupação e de exploração da agropecuária goiana, se davam por meio de uma

análise determinista, que justificava a forma como as atividades agropecuárias

eram desenvolvidas em áreas de Cerrado.

Neste caso, observa-se a existência de um “ricardismo à brasileira”, onde o

rendimento da terra era visto numa perspectiva diagonal, num entendimento mata

- agricultura e cerrado - gado, o que se traduz num determinismo histórico e

geográfico no que tange à exploração das terras de mata versus terras de

Cerrado. Isto em conjunto com o discurso da viabilidade do desenvolvimento

agrícola da região por meio apenas do colono europeu e/ ou de seus

descendentes servia para reforçar as ações tomadas pelo capital produtivo e pelo

Estado a fim de destituir a estrutura produtiva agrícola pré-existente para a

implementação do modelo agrícola da revolução verde.

Ou seja, estudos, como os de Waibel (1979), partindo de análises

deterministas ambiental e cultural, tiveram importância significativa para a

incorporação da agricultura goiana aos anseios da revolução verde, já que,

determinando as condições naturais do cerrado como impróprias para a produção,

sugeria e justificava a incorporação de tecnologias de produção exógenas que

resolvessem a inaptidão agrícola regional.

O clima e os solos da região aparecem aos olhos de Waibel (1979) como

dois elementos amplamente desfavoráveis, uma vez que, na concepção do

mesmo, em nada contribuíam para o povoamento da região, principalmente para a

adaptação da população imigrante de origem européia - que o autor insistia ser

necessária para que houvesse a colonização da região. O clima, segundo o autor,

apresenta caráter tipicamente tropical pela insignificante oscilação diurna e anual

Page 49: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

da temperatura. “Se nestas condições uma população européia de pequenos

sitiantes se possa aclimatar, isto é, preservar através de sucessivas gerações a

sua capacidade física e intelectual, é absolutamente duvidoso” (WAIBEL, 1979,

p.308).

Quanto ao relevo, este aparece descrito como sendo muito favorável para o

povoamento e ótimo para as práticas agrícolas, porém, Waibel

(1979) salienta que em geral as chapadas são pobres em água e têm solo pouco

fértil e que isto se expressa pela ocorrência de imensas áreas de campos naturais.

Salienta também que nos estados de Goiás e Mato Grosso há extensas áreas de

mata com solos melhores, mas que estas matas estão separadas umas das outras

por imensas extensões de campo, o que torna um povoamento denso e contínuo,

nos moldes daquele realizado no Centro-Oeste dos Estados Unidos, praticamente

irrealizável. Numa referência à Bacia Amazônica afirma que tanto quanto o clima

os tipos de solos são decididamente desfavoráveis para um povoamento em

massa, principalmente para uma população de raça branca.

Nestes estudos é manifesto o desprezo pelo sertão e pela população mestiça

em contraponto com a extrema valorização das áreas economicamente

avançadas e dos imigrantes europeus.

Waibel (1979) afirma que para uma colonização em bases sólidas o Brasil

precisa do verdadeiro camponês, “segundo o conceito europeu”, cuja virtude é

estar intimamente ligado ao seu torrão e à sua propriedade, passando-a de pai

para filho.

Somente ele (o imigrante), por meio de seus métodos agrícolas intensivos, será capaz de transformar os solos esgotados do leste em terras permanentes de lavoura e com isso preencher as grandes lacunas de distribuição da população na região de povoamento antigo (WAIBEL, p.170).

Pode-se verificar a ratificação constante do eurocentrismo.

A elaboração teórica que dá aos imigrantes maior significado em relação ao

brasileiro também é encontrada em Vianna (1987, p.192), este afirma serem os

imigrantes “capitalistas potenciais”:

Page 50: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

[...] na verdade, o brasileiro, de classe média ou baixa, é sempre um homem de “economia de vivência”, isto é, cujo objetivo na vida é ter um meio de vida, que lhe permita puramente subsistir ou viver com relativo conforto. Todo nosso povo, do alto abaixo está sob este espírito e vive nesta forma de economia, mesmo os ricos e abastados. Somente nas zonas coloniais, ou entre os estrangeiros, que vêm para cá “fazer a América”, é que encontramos, mesmo entre trabalhadores (operários ou simples lavradores colonos), o espírito de riqueza e da acumulação.

Além do determinismo cultural, embasando o discurso de que a agricultura

de Goiás, bem como todas as atividades econômicas do Oeste brasileiro, não

poderiam atingir avanço satisfatório em função da predominância da população

mestiça, cabocla e da não adaptação do imigrante europeu, o determinismo

ambiental, afirmando serem improdutivas as áreas de cerrado, serviu, num

primeiro momento, enquanto justificativa para o colonialismo interno, disfarçado

sob o pseudônimo de “desequilíbrio regional”, e, num segundo momento, para a

criação de um novo padrão produtivo agrícola baseado em novas relações sociais

de produção, instituídas pelo capital produtivo.

Waibel (1979) afirmou que o contraste entre a mata e o campo

desempenharia sempre papel decisivo na agricultura e na colonização do Brasil.

Nessa perspectiva apontava obstáculos naturais para certas culturas nas áreas de

campo cerrado.

São relegadas às regiões de campo cerrado algumas plantas pouco exigentes como a mandioca, o algodão e o abacaxi, que aí se desenvolvem satisfatoriamente, enquanto outras plantas mais esgotantes como o milho, o arroz de espigão, a cana-de-açúcar e o café se limitam apenas a solos de antigas florestas (WAIBEL, 1979 p.184).

Diante disso, o capital produtivo apresentou, por meio do pacote tecnológico

da revolução verde, um antídoto ao suposto atraso na agricultura goiana, fazendo

surgir ali os mais altos índices de produção e de produtividade de grãos do país,

com destaque para a cultura do milho e da soja.

Logo, fez-se claro que as possibilidades agricultáveis naturais dos cerrados

não compunham o elemento determinante da menor ou da maior utilização

Page 51: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

daquelas terras para a agricultura. A busca do espaço agrário goiano pelo capital

produtivo após 1960 comprovou isso, esclareceu que quando se fez necessário as

terras de cerrado passaram a ser utilizadas; foram criados os meios para que elas

se prestassem ao cultivo, isso só não ocorrera em períodos anteriores porque

outras formas de exploração, baseadas na vocação pastoril, atendiam às

necessidades de acumulação do capital.

Quanto ao significado do imigrante para o desenvolvimento econômico do

Oeste brasileiro, não nos parece ter fundamento a afirmação de Waibel (1979), de

que somente o “verdadeiro camponês, segundo o conceito europeu, intimamente

ligado ao seu torrão e à sua propriedade”, poderia impetrar o desenvolvimento de

tal região, uma vez que na agricultura desenvolvida atualmente nos estados de

Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nota-se que o migrante,

predominantemente de descendência alemã e italiana, não tem tal relação com as

terras ocupadas por ele. Parece-nos que não é, então, a afinidade com a terra que

define os novos rumos produtivos, já que não há uma ligação afetiva dos

produtores com a terra cultivada e sim a intenção de reproduzir e ampliar o capital

aplicado a ela.

Na perspectiva do determinismo causal, limitante, o Cerrado é considerado o

responsável pelas organizações técnica e de trabalho, que se davam a partir das

suas condições naturais, descartando-se assim a articulação da economia

regional com a produção material capitalista, ou seja, não lida com a existência da

exploração capitalista da agricultura goiana anterior à década de (19)60.

Tal entendimento teve importância significativa para as formas de ocupação

que se seguiram e para a constituição da nova estrutura produtiva agrícola em

Goiás, já que atestava ser atrasado e antiproducente o modelo produtivo regional,

carecendo de substituição para que pudesse ocorrer o progresso. Neste caso

progresso é sinônimo da criação de mecanismos para a acumulação do capital

produtivo, por meio da importação de tecnologias, da criação de uma nova

estrutura produtiva e da formação de um novo perfil de produtores, situação esta

Page 52: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

que veio a ocorrer com a assimilação do pacote tecnológico da revolução verde e

com o desenrolar do que se convencionou chamar de agricultura moderna.

1.3 A idéia de um Goiás moderno: instalação do capital produtivo na

agricultura - os campos da revolução verde.

Com base na idéia das limitações naturais do Cerrado, da incapacidade da

população regional e da rusticidade das técnicas utilizadas, o capital produtivo

parte para a ocupação do espaço agrário goiano utilizando-se do discurso de

superação do atraso por meio da implementação das técnicas de produção

contidas no pacote tecnológico da revolução verde.

A investida do capital produtivo em Goiás reforça o seu processo de

acumulação e ampliação. Processo este que, segundo Santos (1994, p.73),

é feito sob o pretexto de ajudar a solucionar problemas de abastecimento de alimentos e de pobreza rural, mas a finalidade verdadeira é modernizar a economia rural e aumentar a composição técnica e orgânica do capital na agricultura.

A agricultura proposta para Goiás é um modelo explicado e justificado por

Schultz (1965) como uma agricultura que suplanta a agricultura tradicional,

equilibrada economicamente. Aponta que a agricultura tradicional traduz-se num

tipo particular de equilíbrio econômico e que este

é um equilíbrio a que gradualmente chega a agricultura, através de um longo período, desde que prevaleçam algumas condições particulares. Visto em perspectiva, um setor agrícola que no momento não é desse tipo finalmente, se mantidas as mesmas condições durante um longo período, chegará ao equilíbrio que caracteriza a agricultura tradicional. As condições críticas que formam a base desse tipo de equilíbrio, seja historicamente, seja no futuro apresentam: 1. o estado do conhecimento permanece constante; 2. o estado das preferências e dos motivos para manter e adquirir as fontes de renda permanece constante; 3. ambos esses estados permanecem constantes durante tempo suficiente para que as preferências e os motivos marginais para obtenção de fatores agrícolas

Page 53: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

como fontes de renda cheguem a um equilíbrio com a produtividade marginal dessas fontes [...] (SCHULTZ, 1965, p.40).

Nessa perspectiva, Schultz (1965) salienta que o conceito de “tradicional”

está elaborado de acordo com a manutenção das mesmas atividades,

desenvolvidas durante várias gerações, com base na tradição e na experiência. É

tradicional por ser mantida pela repetição e transmissão. Assim, o referido autor

considera que as probabilidades de crescimento, em produção e produtividade,

provenientes da agricultura tradicional são poucas, uma vez que os agricultores já

“esgotaram as possibilidades de produção lucrativas proporcionadas pelo nível

dos conhecimentos de que dispõem” (SCHULTZ, 1965, p.136), isto é, encontram-

se limitadas as possibilidades de inovação.

A agricultura moderna é então, nesta perspectiva, uma conseqüência de

terem os agricultores adquirido e aprendido a usar novos e superiores fatores de

produção.

Considera também que a tradição na repetição, as rotinas há muito

estabelecidas, no que tange às atividades de produção, e o estágio elevado de

consolidação do conhecimento sobre as técnicas utilizadas podem se converter

em resistência, que se opõe a qualquer mudança sugerida ao estágio do

conhecimento verificado. Diante disso,

introduzir um novo fator de produção significaria não somente um rompimento com o passado, como também ter que enfrentar um problema, porque as possibilidades de produção do novo fator estarão sujeitas a riscos e a incertezas até então desconhecidos (SCHULTZ, 1965, p.43).

Logo, do ponto de vista econômico, só é vantajoso investir na nova

agricultura, se o produtor que se dedicar a ela tiver o desejo, a oportunidade e o

incentivo para ultrapassar as barreiras da agricultura tradicional que lhe foi

transmitida por gerações anteriores, assimilar novos fatores de produção, e,

romper com o seu equilíbrio. Uma maior margem de lucro passa a ser, então, o

mecanismo atraente para que os agricultores já acostumados com a agricultura

Page 54: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

tradicional possam aceitar um novo fator de produção. Não se pode desconsiderar

que por se tratar de um novo fator deve-se estar preparado para os riscos e

incertezas dos resultados.

Diante disso, Schultz (1965) afirma que o aumento na produção agrícola em

diversos países deve-se a reações dos agricultores às novas oportunidades

econômicas, não se originando, necessariamente, de abertura de novas áreas,

nem do aumento relativo dos preços dos produtos agrícolas, mas de novos fatores

agrícolas mais produtivos e da disposição, por parte dos agricultores, em buscá-

los e assimilá-los.

Estas são as perspectivas teóricas que embalaram o pacote da revolução

verde, que no Brasil iniciou-se pelos estados da Região Sul e que, posteriormente,

foi expandida em direção às áreas de Cerrado. Porém, tal base teórica não nos parece ter consonância com a realidade

agrícola e agrária de Goiás, tendo em vista que o tradicional a que a teoria se

refere não se adequava à agricultura goiana até então praticada, já que esta

estava inserida no modelo plantation, não havendo a mencionada estagnação dos

fatores de produção.

O desenvolvimento das novas técnicas de produção não derivava de um

equilíbrio, ao qual a agricultura goiana havia chegado “por ter mantido constante o

estado de conhecimento e os fatores de produção”. Isto não é materialmente

visível na agricultura de Goiás, já que a agricultura goiana não se encontrava

estagnada e, sim, servindo ao capital em um outro estágio.

A teoria de superação da estagnação, por meio da implementação do novo e

do moderno, serviu para que o capital produtivo ocupasse o território por meio das

novas tecnologias de produção. A partir disso a exploração agrícola goiana

passou a carregar nos seus preceitos a constituição de uma agricultura comercial

ampla em capital e em tecnologias, com base num discurso de superação dos

rendimentos e de aumento da produtividade.

O capital produtivo, para ampliar sua reprodução, promoveu investimentos

em novos fatores de produção, necessários a esta fase, transformando as áreas

de Cerrado em extensos campos de cultivo. Para tal, foram feitos altos

Page 55: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

investimentos em tecnologias químicas, mecânicas e biológicas buscando reduzir

os fatores de aleatoriedade da natureza, garantindo dessa forma, altos índices de

produção e de produtividade.

As novas tecnologias de produção estavam conjugadas à reestruturação das

unidades produtivas e à conformação dos Complexos Agroindustriais (CAI’s),

criando uma nova estrutura produtiva, de forma a aproveitar numa escala cada

vez mais ampla as possibilidades de produção e de produtividade agrícola em

terras goianas.

Fica estabelecido, assim, o chamado agribusiness em Goiás. O setor

agrícola passa a ser compreendido enquanto setor dinâmico e articulado ao

conjunto do desenvolvimento econômico nacional e internacional. Estrutura-se,

dessa forma, em Goiás uma cadeia produtiva onde, com o objetivo de dar suporte

à produção,

vinculam-se com o setor agrícola as indústrias de fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos agrícolas, financiamento (crédito, rural para investimento e custeio), pesquisa agropecuária e os transportes desses insumos. Na fase de distribuição e processamento vinculam-se os transportadores dos produtos agrícolas, a agroindústria, os agentes financeiros que apóiam a comercialização, os armazenadores e o comércio (atacado e varejo), neste último encaixando-se inclusive o importante subsetor de alimentação comercial (restaurantes, lanchonetes, bares, etc.) (COELHO, 2000, p. 28).

Está instalado, por fim, o tão propalado moderno nos campos goianos.

1.3.1 Sudoeste de Goiás: atração para a agricultura mecanizada. No desencadeamento da tecnificação das atividades agrícolas em Goiás,

sua porção Sudoeste se destacou pela sua topografia e condições edafo –

climáticas favoráveis. O relevo tabuliforme convexo, plano, no máximo

suavemente ondulado, predominante em toda a região foi condição primordial

para a instalação da agricultura que se pretendia, plenamente mecanizada. Os

Page 56: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

índices de pluviosidade elevados, com um período de estiagem menor do que o

convencional no estado, também são elementos importantes.

Numa comparação com o Sudeste de Goiás, por exemplo, os chapadões

do Sudoeste são mais vastos e planos, oferecendo uma área infinitamente maior

para a mecanização no que no Sudeste. Quanto à pluviosidade, o rigor da

estiagem, que naturalmente se estende de abril a agosto no Sudeste, no Sudoeste

é quebrado com ocorrência de chuvas, mesmo que esparsas, em alguns anos, até

mesmo nos meses de junho, julho e agosto. Esta condição pluviométrica permite o

cultivo da safrinha, que é o plantio de uma segunda safra logo após a colheita da

safra convencional, de verão.

Soma-se a isso a disponibilidade de fosfato e de jazidas de calcário. Sendo

este um elemento fundamental para a correção dos solos a fim da instalação da

sojicultura, sua disposição em larga escala transformou-se num forte atrativo para

a região.

Historicamente a região já era estratégica para o desenvolvimento de

atividades com fins comerciais, devido à sua proximidade com o estado de São

Paulo, grande centro consumidor e distribuidor de mercadorias. Desde as décadas

anteriores, o Sudoeste de Goiás já mantinha relações comerciais com aquele

estado por meio da venda de gado de corte. Diante disso, a microrregião (MRH) já

era dotada de importância na dinâmica econômica estadual, regional e nacional,

uma vez que possuía papel relevante no abastecimento dos mercados

consumidores de carne bovina.

Junto com o gado de corte, o Sudoeste de Goiás comercializava, também,

a produção agrícola excedente. Além do cultivo em escala comercial do arroz e do

algodão.

O Sudoeste de Goiás, bem como todo o estado de Goiás e a grande

maioria do Centro-Oeste, possui predominância de cerrado. Este domínio,

considerado uma formação savânica tropical, é encontrado numa superfície de

aproximadamente 2 milhões de Km2 do território brasileiro, correspondendo

originalmente a 23,1% do total territorial. Brum (1988) já apontava o potencial da

produção de super safras em solos de Cerrado. Considerava que, naquele

Page 57: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

momento, o Cerrado brasileiro ocupava um quinto do território nacional e que seu

aproveitamento agrícola já estava comprovado.

Estes elementos fizeram com que a região se tornasse alvo das políticas

públicas quando da intenção de expandir as lavouras temporárias rumo à região

dos Cerrados. Soma-se à topografia plana, favorável, a grande disponibilidade de

terras, atraindo investimentos no estabelecimento de lavouras monocultoras

mecanizadas. Estas ações transformaram o Sudoeste de Goiás numa paisagem

fragmentada, descontínua, dividindo espaço as imensas lavouras, as pastagens e

(poucas) áreas de vegetação nativa.

1.3.1.1 A gestação da nova elite regional.

A chegada do moderno não aparece completamente destituída de conflito.

Parte do espaço hoje dominado pela soja estava marcado e demarcado por

pecuaristas quando da introdução desta leguminosa na região. Isso fez com que

emergissem contradições entre a elite tradicional regional e a elite que se gestava

e ali pretendia se instalar.

Porém, estes conflitos não se deram numa escala muito ampla, vez que as

áreas aspiradas pela sojicultura não correspondiam exatamente às terras que

estavam destinadas à pecuária. Isto pode ser corroborado ao se analisar o mapa

06 , de uso do solo (capítulo 5), onde, por meio de imagem de satélite, nota-se

que, ainda hoje, grande parte das terras da região são destinadas à pecuária, ou

seja, não houve uma completa substituição do criatório bovino pela soja. Por isso,

não houve, também, uma substituição completa do pecuarista pelo sojicultor, o

que poderia redundar em conflitos explícitos e tensos.

Mesmo os conflitos não tendo se dado numa escala muito ampla, ainda

assim é possível identificar que dividem espaço, político e econômico, os antigos

agropecuaristas tradicionais e os novos empresários agrícolas modernos. O

conflito aparece, de certa forma velado, entre os novos ricos, migrantes na sua

maioria, dotados de posses e prestígio econômico, e os ricos tradicionais, com

Page 58: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

sobrenomes conhecidos e respeitados, que, mesmo em alguns casos tendo

perdido o poderio econômico, continuam mantenedores de prestígio social e

político.

Por parte dos pecuaristas tradicionais há um ar, pautado numa pretensa

superioridade, de quem permitiu a entrada, a instalação e o enriquecimento dos

imigrantes. Estes, por sua vez, denotam, nas suas expressões, uma sensação de

superioridade em relação aos primeiros, por terem impingido à região,

historicamente daqueles, uma nova forma de produzir, que deu à mesma nova

conformação econômica e maior visibilidade no mercado de alimentos.

Como o agronegócio está compreendido como o gargalo da economia

brasileira, acaba por se sobressair a postura dos empresários agrícolas, voltados

à sojicultura. Diante disso, sua forma de agir e de se manifestar política e

culturalmente tem se sedimentado de forma aguda na região. A crescente

assimilação de hábitos e costumes da população forânea por parte da população

regional tem se fortalecido e, em alguns aspectos, chega a desqualificar a cultura

local.

Um exemplo disso são as diversas festas, com motivações agropecuárias,

comuns na região e em todo o estado de Goiás. Nestas têm-se identificado, a

cada ano, menos elementos da cultura regional; o que dá o tom são as músicas,

as comidas, os instrumentos de trabalho, que estão associados aos migrantes, à

forma de vida e ao trabalho dos mesmos.

Espacialmente é possível notar uma cisão na instalação residencial dos

ricos tradicionais e dos novos ricos. Os primeiros se mantêm, na sua maioria, na

região central das cidades, ou nos bairros próximos ao centro. Ocupam

residências imponentes, porém sem o traçado moderno, característico da

arquitetura dos bairros ocupados, na sua maioria, pelos sojicultores, como é o

caso do Setor Planalto, no município de Jataí.

Nos bairros mais novos, elaborados e equipados para os novos ricos, pode

se observar um padrão muito semelhante entre as construções. Todas

imponentes, com áreas de tamanho elevado, trazem no seu traçado arquitetônico

características em comum. Isso indica uma certa consonância dos anseios,

Page 59: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

valores, gostos dos migrantes, que quando percebida no seu conjunto nos dá a

noção da força de ação, inserção e mudança no espaço regional impetrada por

este segmento.

1.4 Goiás: exploração agrícola com base na vocação de políticas

multilaterais.

O estado de Goiás, que já teve sua atividade agropecuária explorada com

base na noção de vocação pecuária, na atualidade parece ter sua atividade

produtiva agrícola desempenhada com base na vocação de políticas e

negociações multilaterais, diante das relações estabelecidas entre os produtores,

os fornecedores de todo o aparato produtivo, o capital financeiro e o comércio

mundial de alimentos. Novas formas de interpretação do setor agrícola em Goiás se deram a partir

da internacionalização dos derivativos padronizados de bolsa, onde se tem a

elaboração dos contratos futuros, sobretudo da soja, que negociam a variação da

inflação com base num índice no futuro Índice Geral de Preços Médios (IGP-M) e,

assim, “oferece ao mercado um instrumento de hedge16 contra as oscilações de

preços de acordo com a taxa de inflação” (RESENHA BM&F, 2002, p. 63). Desta

forma, o contrato futuro viabiliza a cobertura de riscos de oscilação de preços.

Para Barros (2005) a estratégia de hedge tem que estar mais presente. “É difícil

imaginar alguém que tenha uma escala muito grande e não tenha travado um

pedaço da sua produção em mercado futuro, quando o bushel de soja estava em

US$ 8 e US$ 9” (BARROS, 2005, p. 15).

É, pois, de acordo com esta nova fase que se difunde a produção de

commodities, que são produtos padronizados que não variam consideravelmente

em termos de qualidade e de oferta abundante. As commodities garantem a

16 Hedge: fixação do dólar; garantia de que no futuro o dólar esteja no preço combinado. Ex: em 30 de março de 2004 o dólar estava cotado a $3,20, para garantir que esta cotação se mantenha pagar-se-á entre 16 e 18% do valor negociado.

Page 60: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

continuidade de suprimento de produtos à agroindústria processadora, com a

garantia de preços médios, ao mesmo tempo em que não permitem que os preços

abaixem demais para o produtor nos períodos de colheita concentrada. Isso

significa que o produtor, além de dominar novas técnicas de produção, deve

adotar práticas de gestão financeira modernas.

Isto é realizado por meio de Bolsas de Mercadorias & Futuros, que no

lançamento e na reformulação de seus contratos agrícolas buscam atender as

necessidades e as exigências do mercado, movimentar maior volume de

negócios, atrair investidores estrangeiros e aproximar o preço negociado em bolsa

do valor de exportação (RESENHA BM&F, 2002, p. 58).

As bolsas de mercadoria funcionam, dessa forma, como uma alternativa para

o produtor gerenciar os riscos de investimento e garantir seus lucros. Para Walter

(2004) o mercado futuro é a forma de reduzir os impactos dos problemas

climáticos e de mercado. Já que o seguro agrícola não funciona de forma

adequada no Brasil, e fatores climáticos são impossíveis de serem controlados,

busca-se, no momento da venda, garantir um preço capaz de cobrir os custos de

produção e ainda permitir uma maior margem de lucro. Tal movimentação só ocorre na medida em que há uma redução significativa

da intervenção do Estado nos mercados agrícolas, o que faz com que a renda

agrícola fique cada vez mais dependente do mercado internacional e menos

dependente da política agrícola oficial. Para isso o Estado brasileiro mudou sua postura em relação às negociações

internacionais envolvendo a agricultura, vejamos:

o ambiente de proteção comercial, que dominou a economia brasileira até fins da década de 1980, não colocava as questões relacionadas com o comércio exterior e as negociações internacionais entre os principais itens da pauta de prioridades de atuação das organizações empresariais no Brasil. O interesse pelo intercâmbio com o exterior estava, de modo geral, mais relacionado com preocupações pontuais de setores ou empresas quanto ao tratamento que seria dispensado a produtos específicos (BERALDO, 2000, p. 3).

Page 61: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

As mudanças de comportamento do Estado brasileiro, em relação às

negociações agrícolas, estão de acordo com a conclusão da “Rodada Uruguai”,

em 199417, quando se assinou um acordo agrícola enquadrando a agricultura

dentro das disciplinas do comércio. De acordo com Beraldo (2000), a partir daí as

negociações internacionais e a política de comércio exterior passaram a assumir

um papel de destaque no programa de trabalho das organizações empresariais.

Para o mercado interno, esta internacionalização tende a diminuir a volatilidade de

preços, ocasionada pelas condições de safra e entressafra.

1.4.1 A financeirização da agricultura no Sudoeste de Goiás.

Em Goiás a agricultura financeirizada é mais manifesta na sua porção

Sudoeste. Ali já é sabido pelos produtores que algumas estratégias de

comercialização adotadas, como esperar pelo preço mais alto, nem sempre é a

melhor prática. Frente a isso, antecipar a comercialização de parte da safra e

aplicar os recurso obtidos com a venda no mercado financeiro ou utilizar esses

recursos para o custeio das lavouras, negociando melhores preços na aquisição

de insumos, constitui-se numa importante alternativa na busca do preço mais alto.

Para tal a Cédula de Produto Rural (CPR) tem sido uma das melhores

opções.

Uma das principais vantagens da utilização da CPR, como forma de financiamento do produtor rural, é a possibilidade de aumentar a rentabilidade da atividade agrícola, mediante obtenção de recursos fora do período de liberação de recursos oficiais, em que os preços dos insumos e serviços utilizados têm uma elevação em razão do aumento da demanda. Outra vantagem é que a cédula, por ser garantida pelo banco, apresenta maior liquidez do que as outras formas de contratos a termo (AGUIAR, 2000 apud HONDA; WEYDMANN, 2001, p. 27).

17 Ver BERALDO (2000).

Page 62: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Em pesquisa realizada junto às agências do Banco do Brasil de Rio

Verde/GO e de Jataí/GO, em fevereiro de 2005, verificamos que a CPR é muito

mais eficiente para o produtor e para o capital do que o crédito rural, já que este

atende apenas parcialmente ao custeio da produção. A CPR antecipa os recursos

financeiros pela aquisição de uma mercadoria com entrega futura. Outra vantagem

para o produtor é que os custos de formalização e operacionalização deste tipo de

transação são bem menores do que os de outros tipos de contratos realizados.

Segundo Honda e Weydmann (2001) os compradores remuneram o capital

antecipado, aplicando uma taxa de juros sobre as cotações futuras do produto

para o mês de entrega, obtendo-se um valor presente que será o valor a ser pago

nas aquisições através da CPR. O papel do banco é avalizar as CPR’s emitidas

por seus clientes, produtores rurais, junto aos compradores, podendo, ainda, fazer

a intermediação do negócio, caso o produtor não tenha definido o seu comprador.

Segundo Barros (2005), a CPR começou a ser vista pelo sistema financeiro como

garantia porque tem lastro na produção.

A redução dos juros para a agricultura no ano de 2004 aumentou a busca por

financiamentos, principalmente a CPR. Isto, conjugado à elevação dos custos de

produção e ao difícil acesso a financiamentos em outras fontes, fez com que a

demanda por crédito junto ao Banco do Brasil, na forma da CPR, obtivesse índices

elevados.

O estado de Goiás figura como o segundo estado brasileiro que mais capta

recursos nas operações com a Cédula do Produtor Rural (CPR) no país, seguido

pelos estados do Paraná e de Minas Gerais, estando atrás do Mato Grosso, que é

o estado com a maior captação de recursos nesta operação.

Para os produtores do Sudoeste de Goiás o mercado futuro, enquanto

ferramenta para gerenciamento de riscos, tem sido cada vez mais usado. A

fixação protege os preços dos produtos das oscilações do mercado e pode ser

garantia de maior lucratividade.

O produtor que estabelece um preço para seu produto agrícola, com uma

margem considerável de antecedência, tem melhores condições de planejar suas

atividades ao longo do ano, tendo em vista que terá certo o valor a ser pago pelo

Page 63: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

seu produto no momento da comercialização. Este produtor corre menos riscos de

sofrer prejuízos já que o seu produto possui preço projetado e fixado no mercado

futuro, dessa forma não estará sujeito às alterações de preços, tão comuns na

venda à vista.

Esta prática não é comum a todos os produtores da região, já que exige uma

concepção de exploração agrícola que vá além da absorção e domínio de técnicas

avançadas de produção. Exige que se tenha, também, práticas de gestão

financeira avançadas, que, de acordo com Barros (2005, p.16), “mostram o que é

importante, o que o produtor não pode fazer, por isso mesmo é o grande desafio

dos empreendedores do campo”.

Para Walter (2004),

O produtor para negociar e obter sucesso no mercado futuro deve, necessariamente, seguir tal caminho: definir custo de produção; controlar fluxo de caixa e ter reserva financeira; analisar cuidadosamente os contratos de interesse antes de negociar; montar equipe para coordenar a comercialização; possuir estrutura financeira e de análise de risco; não fazer hedge de toda a produção; procurar corretora cadastrada na bolsa; usar a bolsa como garantia de preço; conhecer as regras do jogo; evitar especulações (WALTER, 2004, p.28).

No município de Jataí/GO os produtores contam com uma empresa

especializada no ramo e cadastrada junto à Bolsa de Mercadorias e Futuro

(BM&F) e ao Chicago Board of Trade (CBOT) para realizar as transações, a

“Grecco Corretora de Grãos” é responsável pelas negociações dos produtores da

região.

1.5 Goiás em busca da não especialização produtiva (?)

Embora a atividade agrícola dê o tom à economia goiana, os empresários e o

poder público de Goiás vêm lutando para extrapolar a geração de produtos

primários, buscando a não-especialização/ monoprodução. O estado, por meio de

guerra fiscal, busca atrair indústrias beneficiadoras/ processadoras de alimentos,

Page 64: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

de forma a não estar monoliticamente dominado por um único setor econômico. O

crescimento da entrada de capital nacional e internacional nas atividades

econômicas desenvolvidas, tendo o Estado como mediador, explicita isso.

Os diversos projetos de construção de Pequenas Centrais Hidroelétricas

(PCH’s) e Usinas Hidroelétricas (UHE’s) no estado podem ser tomados como

demonstrativo do esforço de fugir da característica de produção primária, já que a

ampliação do potencial energético é condição primeira para a instalação de

indústrias.

No Sudoeste do estado estão concentrados vários projetos de construção de

Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCH’s) e Usinas Hidroelétricas (UHE’s),

conforme pode ser verificado no mapa 02. No mapa estão representados todos os

projetos de represamento para os rios Alegre, Aporé, Claro, Corrente e Verde, que

compõem a Bacia do Sudoeste Goiano, que, por sua vez, faz parte da Bacia do

Paranaíba.

Nota-se que, das 29 unidades geradoras de energia previstas, 12 UHE’s e 03

PCH’s estão programadas para serem construídas na microrregião Sudoeste de

Goiás. As demais 14 estão previstas para outros municípios da vizinha

microrregião de Quirinópolis.

Page 65: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mapa 02: Localização das PCH’s e UHE’s previstas para o Sudoeste de Goiás.

Page 66: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Os projetos de geração de energia elétrica, sejam os já construídos, os em

construção ou os em estágio de elaboração/planejamento, têm sido recebidos com

muitas críticas e resistência por alguns segmentos da sociedade goiana. Porém,

mesmo com organizações da sociedade civil e manifestações populares contrárias

tais projetos vêm sendo implementados, vez que o poder público considera mais

importante o aumento do potencial energético à disposição das indústrias do que

os problemas sociais e ecológicos ocasionados pela construção das barragens

para fins de geração de energia hidroelétrica.

Outro aspecto que evidencia que o estado de Goiás não está restrito à

monoprodução é o crescimento e a multifuncionalidade da cidade de Goiânia, que

tem se destacado no cenário nacional enquanto cidade polivalente, de diversos

negócios. Goiânia tem sediado grande parte dos principais congressos da

comunidade científica brasileira e encontros empresariais de ramos diversos.

Reuniões, congressos e encontros que vão do agribusiness, à medicina e ao

turismo têm colocado Goiânia na rota dos principais eventos do Brasil. Reuniões como o 21º Encontro Econômico Brasil – Alemanha, realizado na

cidade de Goiânia em outubro de 2003, corroboram esta premissa. Na ocasião foi

assinado um convênio entre a Federação das Indústrias do Estado de Goiás

(FIEG) e a Confederação das Indústrias da Alemanha (BDI), firmando uma

cooperação para promover o intercâmbio comercial e técnico entre empresários

goianos e alemães, priorizando os setores têxtil, de confecções e calçados,

farmacêutico, de alimentos e bebidas, metal-mecânico, mineração, embalagens,

gráfico, mobiliário e de logística.

Dessa forma, busca-se o reconhecimento e o desenvolvimento do potencial

de produção do estado de Goiás para além da agricultura.

O quadro 01 apresenta a evolução dos estabelecimentos industriais

cadastrados na Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás nos anos de 1991,

1996, 1999, 2001, 2002 e 2003. Pode-se verificar que houve um aumento

considerável em alguns setores, com destaque para materiais elétricos e de

comunicação, material de transporte e transportes, papel e papelão, química,

produtos farmacêuticos e veterinários, produtos de material plástico, têxtil,

Page 67: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

vestuários, calçados e artefatos de tecidos, produtos alimentares e bebidas,

editorial e gráfica e borracha.

Quadro 01: Estabelecimentos industriais cadastrados na Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás nos meses de jun/91, jun/93, maio/96, maio/99, jan/01, jan/02 e jan/03.

Especificação Jun./ 1991

Jun./ 1993

Maio./1996

Maio./1999

Jan./ 2001

Jan./ 2002

Jan./ 2003

Produtos Minerais Não-Metálicos

887 1.007 1.013 803 819 916 937

Metalurgia 663 726 700 556 649 695 714Mecânica 97 110 136 119 125 138 155Materiais Elétricos e de Comunicação

61 83 106 81 98 108 122

Materiais de Transporte e Transporte

83 91 97 86 89 141 143

Madeira 497 505 458 266 296 307 296Mobiliário 706 759 774 600 627 651 625Papel e Papelão 33 33 39 40 49 59 63Couros, Peles e Produtos Similares

110 123 149 98 111 118 114

Química 122 145 157 148 151 324 299Produtos Farmacêuticos e Veterinários

44 51 55 48 57 76 83

Perfumaria, Sabões e Velas

47 56 84 60 77 87 87

Produtos de Material Plástico

62 78 90 88 109 138 147

Têxtil 31 40 48 67 83 86 100Vestuário, Calçados e Artefatos Tecidos

2.619 2.786 3.358 2.343 2.828 3.289 3.304

Produtos alimentares 2.484 3.074 3.470 2.989 3.116 3.209 3.068Bebidas, Álcool Etílico e Vinagre

62 70 85 63 84 153 142

Fumo 6 8 8 6 18 15 14Editorial e Gráfica 203 271 296 292 301 469 511Borracha 29 35 33 30 34 55 53Diversos 415 660 798 637 684 811 832Total 9.261 10.711 11.954 9.420 10.405 11.845 11.809

Fonte: SEPLAN-GO/SEPLIN. Gerência de Estatísticas Sócio-econômicas, 2003. Adaptação: Ribeiro, 2005.

Page 68: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

A maioria destes setores possui relação direta com a produção agrícola,

tendo suas atividades direcionadas para o suporte agroindustrial. Os

investimentos, financiamentos, construção de infra-estrutura energética e de

transportes evidenciam que Goiás tem buscado, cada vez mais, agregar valor aos

seus produtos dentro do seu território, ao invés de exportar produtos na sua

versão primária, de matéria – prima.

Verifica-se, então, que a economia goiana salta em direção à agregação de

valores. A consolidação do complexo agroindustrial na MRH Sudoeste de Goiás

corrobora tal premissa, já que elabora grande parte dos produtos agrícolas ali

produzidos, fazendo com que parte da exportação seja de produtos derivados e

não dos produtos na sua versão in natura.

Page 69: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

2. O CENÁRIO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO SUDOESTE DE GOIÁS.

A incorporação das práticas tecno-produtivas contidas no pacote

tecnológico da revolução verde promoveu novo arranjo espacial nas áreas alvo

das mudanças propostas. Isso se deu, pois de acordo com Santos (1988), todas

as vezes que o processo produtivo do momento impõe técnicas de trabalho

estranhas à região onde serão utilizadas, inicia-se a desestruturação das

organizações sócio-espaciais.

As terras goianas, diante da expansão e da introdução das frentes

modernas de produção, tiveram suas formas de exploração alteradas, fazendo

delas novos fronts produtivos. Novos cultivares passaram a compor a paisagem

agrícola, como as lavouras de soja e o cultivo do milho em escala comercial.

A incorporação dos novos instrumentos de trabalho e as alterações na

pauta de produtos, no uso da terra e nas relações de produção e de trabalho

inseriram a agricultura goiana num novo arranjo econômico nacional e

internacional, ocasionando uma reestruturação da organização espacial regional

pré-existente.

Neste processo, a MRH Sudoeste de Goiás despontou nos interesses dos

investidores como região propícia para o investimento dos novos equipamentos

produtivos, dada a sua conformação geomorfológica, condições edafo-climáticas,

e localização estratégica de entrocamento. O resultado de tudo isso pode ser

verificado atualmente na região, onde a agricultura intensiva em capital e em

tecnologia, industrialmente integrada, dá o tom à paisagem regional.

As tecnologias utilizadas e os números de produção e de produtividade e de

área plantada e colhida comprovam o avanço técnico e produtivo da agricultura

sudoestina em relação à desenvolvida nas outras regiões goianas. A reorientação

da pauta de produtos e as mudanças no uso da terra corroboram tal premissa e

denotam que mudanças profundas deram outra tônica à agricultura da região.

Page 70: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Neste esquema produtivo, a prática do arrendamento capitalista aparece

como indicativo da reorientação da relação do produtor com a terra. Uma relação

mercantil e capitalista, cujo objetivo é aumentar o potencial de exploração e de

lucratividade.

2.1 Políticas agrícolas e agrárias para a agricultura industrialmente integrada.

É indispensável, mesmo que breve, uma menção à atuação do Estado no

desenvolvimento de políticas de fomento para o setor agrícola, que conduziram as

mudanças ocorridas no agro brasileiro a partir da década de (19)60. Já foi

ressaltado, por diversos estudiosos da temática, que o Estado brasileiro foi o

principal agente, ao lado do capital, na promoção das transformações ocorridas no

campo brasileiro, dando a sustentação básica à implementação do que se

entendia moderno, conduzindo à consolidação dos Complexos Agroindustriais.

Para Sorj (1986, p.69),

a ação do Estado nesse contexto orienta-se para a modernização da agricultura, visando a integrá-la ao novo circuito produtivo liderado pela agroindústria de insumos e processamento de matéria-prima, ao mesmo tempo em que mantém seu papel de estabilizador entre as necessidades do mercado interno, e de gerador das condições infra-estruturais necessárias à expansão do conjunto do setor.

O conjunto de medidas políticas e creditícias implementadas pelo Estado

reformularam as bases infra-estruturais e tecnológicas da agricultura. As ações de

(re)organização do espaço para sua adequação às novidades dos setores

industrial e agropecuário, são, no dizer de Ramos (2001), políticas desenvolvidas

para o recebimento de novos objetos, por meio da criação de fixos e fluxos, para a

adequação do espaço.

Page 71: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Tal esforço redundou, dentre tantos outros procedimentos, no financiamento

e no desenvolvimento de pesquisas para o setor agropecuário, que tiveram papel

preponderante na incorporação das áreas de Cerrado ao modelo de exploração

agrícola que se pretendia.

Quanto ao estado de Goiás, este já vinha sendo alvo de medidas que

ambicionavam o uso mais intenso de seus solos, porém, as políticas agrícolas

implantadas a partir de 1930 e a Marcha para o Oeste atingiram o território goiano,

mas não alteraram a dinâmica da estrutura produtiva. Mesmo a criação de

Colônias Agrícolas, a construção de Goiânia e de Brasília e a construção de

algumas rodovias não se constituíram em fatores determinantes para a alteração

da estrutura produtiva e das relações de produção, o que só veio ocorrer no pós

1960, de acordo com os objetivos do I e II PND (Plano Nacional de

Desenvolvimento).

As políticas18 que objetivavam a ocupação dos espaços vazios na realidade

representaram uma forma legal, impetrada pelo Estado, para que outras formas

não capitalistas, clandestinas, não ocupassem as terras, ou, onde estas já se

manifestavam, que não se fortalecessem e/ ou se recriassem. Isto configura o

Estado se antecipando ao capital, organizando a ocupação e a exploração das

terras e, em seguida, disponibilizando-as aos empresários rurais.

Segundo Delgado (2001), no mundo todo, em países com diferentes graus

de desenvolvimento econômico, o Estado tem tradição na intervenção na

agricultura, com o objetivo de regular os mercados agrícolas, de maneira a

garantir preços e rendas para os agricultores, e estimular a produção doméstica,

para que o abastecimento alimentar, principalmente urbano, não seja

comprometido pela escassez de produtos e por preços internos muito elevados.

Delgado (2001, p.21) sugere que quando o tema é intervenção do Estado na

agricultura deve-se ter em mente dois tipos de políticas, a macroeconômica e a

setorial: 18 Sobre políticas públicas para o Centro-Oeste e para a agricultura nos Cerrados ver Ferreira,

2001; Borges, 2000; Belik, 1998; Delgado, 1997.

Page 72: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

1. A política macroeconômica busca afetar os grandes agregados da ECONOMIA, tanto em termos de quantidades - por exemplo, o nível, a composição e a taxa de crescimento da renda e da demanda agregadas, da quantidade total de moeda, dos gastos governamentais, das exportações e das importações, bem como dos fluxos de entrada e de saída de divisas estrangeiras e de capital externo em geral – quanto de preços – os chamados preços macroeconômicos básicos, como a taxa de câmbio, a taxa de juros, a taxa de salários, e o nível geral de preços. 2. A política setorial refere-se à política econômica formulada com o objetivo de influenciar diretamente o comportamento econômico-social de um setor específico da economia nacional (indústria, agricultura, transportes, etc.). Em relação à agricultura, pode-se mencionar três tipos principais de política econômica setorial: a agrícola, a agrária e a política diferenciada de desenvolvimento rural.

No pacote das políticas agrícolas estão as questões referentes a preços,

crédito e comercialização, isto é, o mercado de uma forma em geral, e as

questões estruturais tais quais infra-estrutura, disponibilidade de recursos,

pesquisa, extensão etc, que buscam satisfazer necessidades de curto prazo, mas,

também, investir em fatores de ordem estrutural.

Numa agricultura de escala, mercantilizada, integrada agroindustrialmente,

como a agricultura do Sudoeste de Goiás, a política agrícola age no que tange à

regulamentação dos preços, dos fatores de produção aos produtos finais, no

padrão tecnológico adotado, no processo de integração agroindustrial, que quase

sempre quer dizer internacionalização.

Em relação à política agrária, esta é mais específica para a posse e a

propriedade da terra, englobando questões como a reforma agrária e políticas de

colonização.

A política agrária está assentada na concepção de que a propriedade e a posse da terra – especialmente em economias e sociedades como as latino-americanas, são fatores especiais que condicionam a estrutura da produção agrícola, as condições de reprodução de grupos sociais distintos e as relações de poder no campo, e determinam a distribuição de riqueza e da renda entre os diferentes tipos de agricultores que coexistem no meio rural (DELGADO, 2001, p. 23 – 24).

Page 73: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O significado destes dois tipos de políticas indica que a separação entre as

mesmas não deve existir, ambas devem ser integradas para surtirem efeitos reais,

de forma mais democrática. É arcaico se aplicar estas políticas de maneira

isoladas, disso decorre que os resultados são tendenciosos em direção à elite

rural e/ ou urbana.

No caso das políticas impetradas pelo Estado de forma a alterar a estrutura

produtiva agrícola da Região dos Cerrados, o que se identifica são políticas

agrícolas que beneficiaram as elites em detrimento dos camponeses,

trabalhadores rurais, pequenos produtores e agricultores familiares. Os interesses

das elites urbana e rural orientaram as ações públicas, que trataram de proteger a

propriedade da terra e os interesses da indústria de insumos e de equipamentos

agrícolas.

Como as políticas agrícolas para os Cerrados não vieram acompanhadas de

uma política agrária, o resultado foi a manutenção da concentração da terra,

acompanhada da seleção dos produtores que se enquadrassem no modelo

produtivo proposto, bem como a exclusão dos demais.

As políticas públicas não tiveram o caráter de desconcentrar a estrutura

fundiária. A concentração das terras, característica nos campos brasileiros, é

fielmente representada nas áreas de Cerrado do Brasil Central e as políticas

econômicas, agrária e agrícola, implementadas ao longo dos anos funcionaram

como estímulos ao agravamento desta concentração. A dimensão das

propriedades nas áreas de Cerrado ultrapassa os limites exigidos pela técnica e

pela economia.

O mapa 03 explicita tal questão. Pode-se verificar que a Região dos

Cerrados é marcada pelo predomínio das grandes propriedades, contemplando

não só a Região Centro-Oeste, mas também as áreas de Cerrado dos estados de

São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Bahia e Piauí.

Page 74: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mapa 03: Estrutura Fundiária do Brasil

2.2 Tecnologias de produção e “construção de solos”.

A absorção de tecnologias avançadas e intensivas em capital permitiu a

incorporação das áreas recobertas por Cerrado à prática agrícola especializada na

monocultura tipo exportação, de forma que a Região dos Cerrados passou a ser a

principal responsável pelo aumento da produção agrícola brasileira. Diante disso,

Cunha (1994) afirma que a agricultura dos Cerrados brasileiros é efetivamente um

produto da tecnologia moderna.

Em se tratando da mudança no padrão tecnológico da agricultura no

Sudoeste de Goiás, as técnicas desenvolvidas para a preparação e o

aproveitamento dos solos foram as que mais se destacaram. Estas ampliaram de

forma acentuada a capacidade de ação do homem sobre a natureza, dando a

Page 75: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

áreas consideradas como imprestáveis para o cultivo o status de terras de elevada

produtividade.

Sobre tal questão Cunha (1994) explica o ocorrido nas áreas de Cerrado

afirmando que os solos do Cerrado foram construídos. Salienta, ainda, que além

da melhoria do potencial agrícola destes solos, deve-se considerar a importância

do resultado de diversas pesquisas que redundaram em melhoramento genético e

na elaboração de novas variedades, principalmente no caso da soja, que só

poderiam ser exploradas mediante a redução dos níveis de acidez dos solos.

Cunha (1994, p.124) descreve o processo de construção de solos da

seguinte forma:

Os solos muito ácidos e pobres em nutrientes da região eram imprestáveis à agricultura. Formas de limpeza e preparo do terreno e correção da acidez dos solos foram desenvolvidas assim como fórmulas de fertilização. Pela aplicação de calcário corrige-se a acidez e elimina-se a toxidez do alumínio. Em parte, por isso, aumenta-se a eficiência do fósforo. O enxofre ajuda a transportar o fósforo até camadas mais profundas e em velocidade adequada. Particular importância pelo que representou em termos de redução de custos de produção, economia de divisas e por seu impacto na preservação ambiental teve o desenvolvimento de raças de rizóbium apropriadas ao cerrado. Graças a esse avanço o cultivo da soja, hoje, dispensa completamente a aplicação de nitrogênio. Para que se passasse da teoria à prática, equipamentos especiais tiveram de ser desenhados e mão-de-obra teve de ser treinada [...] De recurso natural, herdado, os solos dos cerrados transformaram-se em capital artificialmente produzido.

Sobre a evolução técnica na agricultura Graziano da Silva (1978, p.253)

afirma que esta tem o objetivo de libertar as condições de produção do ciclo da

natureza, de corrigi-la e até mesmo de superá-la, minimizando o efeito das secas,

das geadas, dos solos ruins, das pragas, etc. sobre a produção agrícola, de forma

a melhor assegurar a rentabilidade do capital investido. Nesse sentido, o chamado

progresso se revela no fato de que “sob o domínio do capital, transformações que

poderiam levar séculos para serem efetivadas tornam-se possíveis em poucas

décadas”.

Page 76: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Este foi o caráter das transformações ocorridas na agricultura de Goiás,

especificamente na sua porção Sudoeste, e parte do Sul e do Sudeste. As

técnicas aplicadas tiveram a função de transformar a prática agrícola e permitir um

tipo de exploração que até então não se tinha desenrolado.

Deve-se considerar que a exploração que se ansiava viabilizar era a

agricultura pautada nas relações capitalistas de produção, com novos cultivares e

destinos internacionais. Essa agricultura, para se desenvolver nestes moldes,

carecia de novas condições de solos, de sementes, de insumos e de máquinas,

todos dimensionados para produzir grãos em áreas de Cerrado, numa escala

comercial.

Não é válido, pois, afirmar e reproduzir o atestado de que a produção

agrícola, no geral, não era viável em áreas de Cerrado. Absolutamente! As

práticas agropecuárias ali desenvolvidas pela sua população nativa, há séculos,

permitiam boas safras e bons rebanhos, com fartura para o abastecimento local e

comercialização com outras regiões. Os agricultores, homens e mulheres da terra,

dotados de conhecimentos minuciosos sobre o clima regional, os recursos

hídricos, a vegetação, as estações e as variações climáticas, souberam, e ainda o

sabem, aproveitar-se das condições naturais para desenvolver uma exploração

agrícola rica, variada e suficiente para viverem com bonança.

Quando se trata, então, de “viabilização da produção agrícola em áreas de

cerrado goiano”, está se referindo à introdução de técnicas e cultivares exógenos

naquelas áreas, onde o relevo tabuliforme convexo, plano, dos chapadões é ideal

para o uso de máquinas, mas as condições naturais dos seus solos não são

adequadas à formação de grandes lavouras. No afã de se aproveitar os

chapadões, para ali instalar extensas lavouras de soja, milho, algodão, dentre

outras, precisava-se alterar as características químicas dos solos, bem como

desenvolver todo o aparato de suporte para os novos cultivares que entrariam em

cena.

Por isso, as tecnologias de produção, simbolizadas pelas técnicas de preparo

do solo, uso de máquinas, de insumos e de sementes, chegaram ao Sudoeste de

Goiás carregadas de conteúdo revolucionário e, tudo, em termos de prática de

Page 77: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

exploração agrícola, que precedeu tal momento foi concebido, como que por

decreto, como atrasado, e, por isso era necessário ser suplantado.

Por conseguinte, o produtor goiano também passou a representar uma figura

arcaica e retrógrada diante do dinamismo trazido pelo produtor gaúcho19, este foi

visto enquanto símbolo do progresso e enriquecimento por meio da disposição

para o trabalho e que, por isso, tornou, as áreas de Cerrado no celeiro de grãos do

Brasil, coisa que, reza a regra, o agricultor regional em séculos não conseguira

fazer. Dessa forma, determina-se uma superioridade do gaúcho em relação à

população regional. Tal questão lembra, de certa forma, o “mito Matarazzo”,

tratado por Martins (1990)20.

2.3 O uso da terra.

A disseminação das lavouras temporárias de soja, milho, algodão, cana,

sorgo e trigo, dentre outros cultivares, ilustra os novos rumos dados à agricultura,

pintando novo desenho no cenário agrícola regional.

Os gráficos 01, 02 e 03 auxiliam na leitura da evolução da área plantada,

em hectare, dos principais produtos agrícolas na MRH Sudoeste de Goiás e nos

municípios de Rio Verde e Jataí, no período compreendido entre 1970 e 2000.

São apresentadas culturas tradicionais, como a mandioca e o café, ao lado

de novos cultivares, como a soja. O algodão, a cana, o arroz, o feijão e o milho

sempre foram cultivados pela população regional, fazendo parte do consumo

19 A denominação gaúcho e/ou sulista é aplicada a todos os produtores que vieram das Região Sul e Sudeste e se assentaram em áreas de Cerrado para ali instalarem as lavouras monocultoras com base em tecnologias modernas e práticas de cultivo outras. Não significa, necessariamente, que o mesmo seja oriundo do Rio Grande do Sul. 20 Martins (1990) tratou de como a burguesia agrária atestou que o trabalho e a privação levavam ao enriquecimento do trabalhador. Os imigrantes serviram para a validação desta idéia. O Conde Francisco Matarazzo destacou-se como “prova absoluta” desta concepção. Matarazzo teria sido um imigrante pobre e sem recursos que “enriquecera no Brasil graças ao trabalho árduo e à aspiração de independência”.

Page 78: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

desta, com venda do excedente doméstico. Porém, a partir da década de (19)70

novas variedades foram introduzidas e estes cultivares ganharam nova roupagem.

Verifica-se que, exceto o cultivo da soja e do milho, os demais produtos

tiveram suas áreas de plantio reduzidas quase à extinção. Em alguns casos, como

a mandioca, historicamente base na alimentação do brasileiro em geral, não existe

mais o cultivo numa escala que se possa mensurar. Esta tem sua área limitada a

pequenas roças e/ ou quintais, lotes urbanos, corredores das rodovias, etc. O

cultivo do café, que geralmente se dava de forma consorciada com o milho,

também não pode mais ser mensurado devido à sua insignificante área plantada.

O arroz foi bastante utilizado no processo de abertura das áreas de cerrado

para a instalação das grandes lavouras, objetivava-se reduzir a acidez dos solos a

partir do cultivo deste e da aplicação de calagem. Por isso, até a década de 1980

verifica-se que a área deste cultivar ainda era significativa. Porém, na medida em

que os recursos químicos foram sendo aprimorados e disponibilizados os campos

de arroz tiveram suas áreas reduzidas, ao passo que se tornaram crescentes os

campos de soja e de milho. Este último é uma cultura endógena, diferente da soja,

que é um cultivar exógeno à agricultura goiana. Porém, o mesmo só veio a ser

cultivado em grande escala, em quantidade para ser exportada, a partir da

implementação das formas de exploração agrícola calcadas nas tecnologias do

pacote tecnológico da revolução verde, quando passou por transformações

substanciais, de forma a se tornar mais resistente e com maior produtividade,

para, assim, extrapolar o mercado regional de alimentos e trilhar o caminho da

exportação.

Situação semelhante à do milho foi a da cana e a do feijão, que passaram

por processos de melhoramento, isto é adequação aos novos padrões de

produção, sendo que a produção deixou de se dar em conformidade com o

consumo regional.

Esta realidade pode ser verificada no Sudoeste de Goiás como um todo. Do

conjunto da MRH destacamos os municípios de Rio Verde e Jataí por serem estes

expoentes regionais na produção agrícola industrialmente integrada.

Page 79: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 01: Evolução dos principais produtos cultivados no Sudoeste de Goiás, no período de 1970 a 2000.

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

800000

1970 1975 1980 1985 1996 2000

CaféAlgodãoArrozCanaFeijãoMandiocaMilhoSoja

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96; Levantamento

Sistemático da Produção Agrícola Municipal, IBGE, 2000. Organização: Ribeiro, 2005.

Page 80: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 02: Evolução dos principais produtos cultivados no município de Jataí-GO, no período de 1970 a 2000.

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

1970 1975 1980 1985 1996 2000

CaféAlgodãoArrozCanaFeijãoMandiocaMilhoSoja

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96; Levantamento

Sistemático da Produção Agrícola Municipal, IBGE, 2000. Organização: Ribeiro, 2005.

Page 81: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 03: Evolução dos principais produtos cultivados no município de Rio Verde-GO, no período de 1970 a 2000.

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

200000

1970 1975 1980 1985 1996 2000

CaféAlgodãoArrozCanaFeijãoMandiocaMilhoSoja

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96; Levantamento

Sistemático da Produção Agrícola Municipal, IBGE, 2000. Organização: Ribeiro, 2005.

2.4 A pauta de produtos.

As mudanças no que tange ao uso da terra se dão de forma consorciada às

alterações na pauta de produtos. A área cultivada com lavouras temporárias que,

nas décadas de (19)70 e (19)80, se dava em pequenas parcelas, na década de

1990 avultou, tornando-se superior, inclusive, à área utilizada para pastagens

naturais, evidenciando a transição do perfil pecuário para o perfil agrícola na

região, embora a área utilizada para pastagens plantadas também tenha

aumentado, o que evidencia que as tecnologias de produção também se

estenderam ao setor pecuário.

Page 82: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O quadro 02 demonstra a evolução da área utilizada para lavouras

temporárias e permanentes e para pastagens naturais e plantadas nos anos de

1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-6, no Sudoeste de Goiás. Os dados apresentados

indicam que a incorporação de novos cultivares à pauta de produtos promove

alterações no cenário produtivo no que tange ao uso da terra, poiscultivares como

a soja e o milho simbolizam a ampliação da área com cultivos anuais. A

sofisticação técnica que diz respeito à pecuária também se traduz no aumento da

área de pastagens plantadas.

Quadro 02: Uso da terra na Microrregião Sudoeste de Goiás (em ha), no período de 1970 a 1995-96.

SUDOESTE DE GOIÁS

1970 1975 1980 1985 1995/96

Lavouras Permanentes

4.561 2.022 3.949 3.752 5.617

Lavouras Temporárias

180.611 266.077 350.524 643.912 715.787

Pastagens Naturais

2.593.54 1.759.723 977.518 1.530.139 589.096

Pastagens Plantadas

618.625 535.813 1.054.183 2.078.539 2.256.415

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96. Organização: Ribeiro, 2002.

O gráfico 04 apresenta, de forma mais específica, a evolução das lavouras

temporárias no Sudoeste de Goiás. Nota-se o crescimento acentuado no período

em recorte.

Page 83: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 04: Evolução da área (em ha) utilizada para lavoura temporária no Sudoeste de Goiás, no período de 1970 a 1995-96.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

1970 1975 1980 1985 1995 - 96

Lavouras temporárias

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96. Organização: Ribeiro, 2005.

É utilizada a referência do mesmo período para diagnosticar as alterações

no uso da terra do município de Jataí, localizado na MRH Sudoeste de Goiás. Este

apresenta crescimento do uso da terra para fins de cultivo de lavouras temporárias

maior do que a média regional, conforme pode ser observado no gráfico 05.

Page 84: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 05: Evolução da área (em ha) utilizada para lavoura temporária no município de Jataí, no período de 1970 a 1995-96.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

1970 1975 1980 1985 1995 -96

Lavouras temporárias

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96.

Organização: Ribeiro, 2005.

As mudanças no uso do solo em Jataí acompanham as transformações

regionais e estão em consonância com a evolução do cultivo da soja e do milho

em escala comercial. A disseminação do cultivo da soja na região, bem como o

aumento de sua produção e produtividade, são representativas do aumento da

produção do grão objetivada pelo Brasil nestes últimos 20 anos.

A soja se transformou no grão de ouro para a economia brasileira, que tem

neste cultivar, desde os anos (19)80, a base de exportação e de equilíbrio da

balança comercial. Por isso, o poder público e setores privados têm canalizado

seus investimentos, dando à soja e seus derivados prioridade no setor de

exportação.

Page 85: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Observando-se o quadro 03 pode-se verificar a evolução da produção de

soja no Brasil, na Região Centro-Oeste e na microrregião Sudoeste de Goiás nos

anos de 1970, 1975, 1980, 1995-6 e 2000.

Quadro 03: Evolução da produção de soja no Brasil, Centro-Oeste e

Sudoeste de Goiás, no período de 1970 a 2000. Produção (t.) Ano

Brasil Centro-Oeste Sudoeste de Goiás Toneladas 1970 =

100 Toneladas 1970 =

100 Toneladas 1970 =

100 1970 1.508.543 100 18.813 100 8.587 100

1975 9.893.008 656 346.016 1.839 70.865 825

1980 15.155.804 1.005 1.908.758 10.146 329.756 3.840

1985 18.278.585 1.212 2.418.001 12.852 933.953 10.876

1995-96 25.682.637 1.702 10.080.110 53.581 1.508.058 17.562

2000 32.820.826 2.176 15.446.445 82.105 2.131.237 24.819 Fonte: Ferreira, 2001 e Levantamentos Sistemáticos da Produção Agrícola Municipal, IBGE, 2000. Adaptação e Organização: Ribeiro, 2005.

Ao observarmos o gráfico 06, numa comparação estabelecida entre a

produção de soja do Sudoeste de Goiás e o total produzido pelo estado, percebe-

se que aquela representa, aproximadamente, a metade da soja produzida em

Goiás, desde 1980. O gráfico 06 apresenta a área utilizada (em ha) para lavouras

de soja no estado de Goiás e na sua porção Sudoeste. Nota-se que o crescimento

da área destinada ao cultivo da soja no Sudoeste de Goiás é maior do que toda a

área restante do estado destinado ao cultivo da leguminosa.

Page 86: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 06: Evolução da área (em ha) utilizada para lavoura de soja na MRH Sudoeste de Goiás e no estado de Goiás, no período de 1970 a 2000.

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1970 1975 1980 1985 1995 -96 2000

GoiásSudoeste de Goiás

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96; Levantamento

Sistemático da Produção Agrícola Municipal, IBGE, 2000. Organização: Ribeiro, 2005.

As mudanças na pauta dos produtos cultivados e na utilização das terras

para fins de lavouras temporárias foram resultantes da incorporação e da

intensificação do uso de novas tecnologias de produção, sendo elas de cunho

biológico, mecânico e químico. Tais novidades se expressam nas novas

variedades de sementes, elaboradas em laboratórios, a fim de se adequarem às

condições naturais dos Cerrados; no uso e dimensionamento de novas e

avançadas máquinas de preparo do solo, plantio e colheita; e na elaboração de

insumos de suporte aos novos cultivares que entraram em cena, com destaque

para os herbicidas e fungicidas.

Page 87: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No Sudoeste de Goiás os municípios que receberam as maiores somas de

incentivos e investimentos, de forma a tecnificar a agricultura, foram Rio Verde e

Jataí, ambos foram amplamente beneficiados com recursos do POLOCENTRO.

Os resultados dos incentivos creditícios foram a completa mudança nos seus

cenários agrícolas, tendo na inserção de novos cultivares na pauta de produtos a

mudança de maior visibilidade. Sabe-se que condição a sine qua non para que

isto ocorresse foram os investimentos realizados, sobretudo na/da EMBRAPA

(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), para a elaboração de novas

variedades de sementes e construção dos solos, de forma a preparar os

chapadões para a exploração agrícola em grande escala.

As pesquisas buscando o desenvolvimento de sementes de soja que se

adequassem às condições de solo e clima dos Cerrados foram as que mais

despontaram e obtiveram investimentos. Disso resultou a elaboração de tipos

variados de soja, especificamente desenvolvidas para serem cultivadas nos

Cerrados, gerando um salto na produção da leguminosa em Goiás a partir da

década de (19)80, conforme pode ser constatado no quadro 04.

Quadro 04: Evolução da área de soja (colhida/ha) no estado de Goiás, na microrregião Sudoeste de Goiás e nos municípios de Rio Verde e Jataí, no período de 1970 a 2000.

Área de soja colhida (em há) 1970 1975 1980 1985 1995 - 96 2000

Goiás 11.514

61.905 213.487 599.555 863.422

1.333.646

Sudoeste de Goiás

4.745 4.284 40.271 282.374 425.498 744.328

Rio Verde 1.705 3.713 25.012 73.233 104.747 175.000Jataí 5 140 1.372 52.120 91.768 157.300

Fonte: IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995-96; Levantamento Sistemático da Produção Agrícola Municipal, IBGE, 2000.

Organização: Ribeiro, 2005.

Page 88: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

2.5 Os elementos paisagísticos da agricultura regional.

As ações de reorganização da agricultura regional, de modo a adequá-la às

exigências dos setores industrial e agropecuário, significaram a preparação da

região para o atendimento da demanda do mercado internacional de alimentos.

Fizeram com que as áreas de Cerrado se tornassem alvo dos agricultores

capitalistas e empresários do agronegócio, de maneira a desenvolver extensas

lavouras de novos cultivares, mudando, por completo, a paisagem dos Cerrados

do Sudoeste de Goiás.

A paisagem com a qual o olhar do observador se depara atualmente na

região é de extensas lavouras, que, assim como afirma Melo et. al. (2003), mais

se assemelha ao mar, “mar de soja”, que, se considerado o seu poder destrutivo

em termos de biodiversidade, acreditamos ser mais adequado chamá-las de

“desertos de soja”.

Devido à característica plana dos solos, vê-se as lavouras se estendendo

até encontrar-se com a linha do horizonte, numa paisagem muito semelhante ao

que se vê quando se olha o mar, ao mesmo tempo semelhante à imensidão dos

desertos.

As figuras 01, 02 e 03 ilustram tal paisagem. A soja é o principal cultivar na

safra convencional (de verão). O sorgo, o girassol, o milho e outros são os

cultivares que, usualmente, ocupam a área cultivada no plantio de safrinha, após a

colheita da soja.

Page 89: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 01: Plantação de soja (Aporé - GO).

Fonte: Mariano, 2005.

Figura 02: Plantação de girassol (Chapadão do Céu - GO).

Fonte: L. Görgen, 2005.

Page 90: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 03: Plantação de sorgo (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005

Em meio às lavouras percebe-se, vezes aqui, vezes acolá, uma ou outra

árvore (conforme ilustrado nas figuras 04 e 05) que foi deixada, estrategicamente,

para servir de sombra para o descanso, para as refeições ou para estacionar

máquinas, veículos e proteger produtos, enquanto se planta e/ ou se colhe.

Page 91: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 04: Plantação de sorgo, com árvore de Cerrado ao fundo (Jataí-GO).

Fonte: Ribeiro, 2005. Figura 05: Plantação de milho, com árvore de Cerrado ao fundo (Jataí-GO).

Fonte: Freitas, 2005.

Page 92: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O sol intenso faz reluzir as coberturas de zinco dos grandes galpões que

pontilham os chapadões (conforme figura 06). São coberturas construídas a fim de

guardar as máquinas e os produtos nas sedes das fazendas (conforme figura 07),

estas quase sempre cercadas por eucaliptos, os chamados quebras-vento21. Tal

paisagem em nada lembra as construções típicas das fazendas goianas,

tradicionalmente cercadas de paiol, curral e extensos pomares, com o gado, e

outros animais domésticos, circulando pelos arredores.

Figura 06: Vista panorâmica de Galpão reluzindo sob o sol (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

21 Os eucaliptos plantados ao redor das sedes, escritórios, silos e galpões servem como barreira contra o vento que, devido à retirada da vegetação natural, torna-se mais intenso.

Page 93: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 07: Galpão de máquinas - plantação de sorgo ao fundo (Jataí-GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Ao longe também podem ser vistos de forma reluzente os enormes

armazéns e silos graneleiros, instalados para receber e armazenar os grãos

colhidos. A figura 08 ilustra um silo de grande porte situado às margens da

Rodovia GO 184, no trecho entre Jataí e Serranópolis. A figura 09 apresenta o silo

graneleiro da Fazenda Colorado, uma das grandes produtoras de grãos na região,

também localizada às margens da Rodovia GO 184.

Page 94: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 08: Silo graneleiro “ARGEPAZ” (Jataí-GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Figura 09: Silo graneleiro da Fazenda Colorado (Jataí-GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Page 95: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Este conjunto paisagístico faz com que o observador identifique esta

paisagem como sendo um lugar qualquer especializado na monocultura, com

características muito semelhantes ao que se vê nas áreas produtivas do Rio

Grande do Sul, do Paraná, ou mesmos dos Estados Unidos. Em depoimento, uma

visitante (C. F. G, 2004) que nunca estivera antes em áreas de Cerrado, afirmou

que é capaz de se confundir e pensar se encontrar nas extensas lavouras de soja

dos Estados Unidos a caminho do Canadá. Isso ocorre pois as particularidades

paisagísticas que dão singularidade à paisagem do lugar cederam às

características paisagísticas homogenizadoras da monocultura.

Dividem espaço com a lavoura centenas de emas, que andam em bando,

aproveitando-se dos grãos para se alimentarem, conforme pode ser verificado nas

figuras 10 e 11. O transeunte pode vê-las com facilidade ao transitar por qualquer

uma das estradas, pavimentadas ou não, que cruzam as lavouras de grãos do

Sudoeste de Goiás. A ema, maior ave do Brasil, é no único animal do Cerrado que

convive, por ora sem grandes prejuízos, com as lavouras de grãos, já que esta se

aproveita dos mesmos para se alimentar. Os demais animais, típicos da região,

têm sido dizimados e/ ou estão em vias de extinção.

Page 96: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 10: Ema se alimentando na soqueira22 de soja (Jataí-GO).

Fonte: Ribeiro, 2005. Figura 11: Emas em área destinada a plantio direto (Jataí-GO).

Fonte: Freitas, 2005.

22 A expressão soqueira é utilizada para denominar os restos de vegetação que ficam na lavoura após efetuada a colheita. No caso das lavouras de grãos estes também sobram e são ingeridos pelas emas.

Page 97: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

2.6 Condição do produtor: o arrendatário capitalista como mais um

sujeito na exploração agrícola.

As transformações promovidas na agricultura do Sudoeste de Goiás

recriaram a estratégia do arrendamento, que apareceu como sendo fundamental

para o novo modelo de exploração agrícola regional, pois ao mesmo tempo em

que atende aos objetivos de produção do capitalista agrícola, permite-lhe

mobilidade para buscar novas áreas de produção.

Numa leitura da constituição da cadeia produtiva da soja no município de

Jataí, no Sudoeste de Goiás, verifica-se que a prática do arrendamento capitalista

é corriqueira, no que tange às relações de produção estabelecidas, vez que a

base da produção da soja não exige, necessariamente, a combinação num único

agente das formas do proprietário fundiário e do capitalista agrícola.

Tomamos o município supracitado como base de análise por ser este um

espaço onde é manifesta de forma bastante consolidada a agricultura com

elevados índices de financeirização, intensa em tecnologia e em capital e

industrialmente integrada, com destaque para a cadeia produtiva da soja.

As análises aqui apresentadas são embasadas em pesquisa realizada com

trinta produtores agrícolas do município de Jataí, tendo estes suas atividades

econômicas baseadas na sojicultura. Os dados apresentados vêm de pesquisa

realizada nos primeiros meses de 2005 com os mesmos produtores entrevistados

no segundo semestre de 2001. Retornamos aos mesmos produtores com o intuito

de verificar se ocorreram mudanças ao longo dos últimos 3 anos e meio no que

diz respeito à prática de arrendamento.

Consideramos inicialmente que, de forma geral, a propriedade da terra tem o

maior peso no processo produtivo da agricultura brasileira. No geral, a produção

agrícola passa pela propriedade do solo. Numa estrutura produtiva dominada pela

propriedade da terra, quem não tem a propriedade (ou a posse) da terra deve

buscar mecanismos outros para produzir, mesmo sendo desprovido do que é tido

Page 98: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

como o principal fator de produção, a terra. O arrendamento é um destes

mecanismos, onde o produtor pode desenvolver suas explorações agrícolas sem a

necessidade de se tornar proprietário da terra em exploração.

Pode-se identificar dois tipos de arrendamento: o tradicional, realizado por

pequenos produtores, quase sempre de agricultura familiar, buscando a produção

simples de mercadorias e a manutenção da família lavradora; e o arrendamento

capitalista, realizado em grandes áreas, buscando produção e renda elevadas.

Com base no trabalho assalariado permanente, este tipo de arrendamento difere

substancialmente do primeiro, já que busca reprodução do capital com base no

princípio de investimento D – M – D’23.

Diversos pesquisadores24, amparados pelos censos agropecuários do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirmam que o arrendamento

capitalista não é prática corrente na agricultura brasileira, que só ocorre

esporadicamente, sendo comum a fusão, na pessoa do empresário agrícola, do

proprietário territorial e do capitalista, de modo que o empresário agrícola aufere

lucro e renda da terra ao mesmo tempo.

Rezende (2003, p.182) diz ser generalizada a opinião de que o arrendamento

de terra para a agricultura no Centro-Oeste é muito comum, muitas vezes como

parte de um processo que, no final, deixa para o dono da terra (em geral um

pecuarista) uma pastagem renovada. Não apostando nesta hipótese afirma que

“se isso fosse verdade, então seria menor ainda a imobilização de capital por parte

do produtor”. Porém, o que podemos perceber, para o município de Jataí-GO, é que o

arrendamento ali é prática corrente por ser altamente lucrativa tanto para o

proprietário quanto para o arrendatário. Os produtores arrendatários naquele

município têm sido bastante eficientes, do ponto de vista econômico, em muitos

casos mais do que os próprios proprietários. Os arrendatários também conjugam produção em áreas arrendadas e em

áreas próprias, assim não imobilizam todo o capital em aquisição de imóveis na 23 Sobre a equação D – M – D’ e M – D – M’ na agricultura, ver Oliveira, 1990. 24 Sobre tal questão ver Cunha, 1994.

Page 99: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

região, visando novas aquisições fundiárias em futuras áreas de fronteira, à

medida em que essas se expandem.

2.6.1 O arrendamento enquanto estratégia de maior lucratividade.

No município de Jataí-GO a instalação das lavouras de soja se desenvolveu

sob o signo de três categorias de produtores: o produtor proprietário, o produtor

arrendatário e o produtor misto, proprietário e arrendatário ao mesmo tempo. Este

conjunto de formas, diversas e distintas, deu condições, também diversas, de

reprodução e acumulação do capital aplicado, sempre dependente da grande

propriedade fundiária, caracterizando a manutenção do latifúndio.

O embrião do sistema de produção da soja baseado no arrendamento

capitalista está na acumulação prévia de capital por produtores, proprietários ou

não, oriundos, principalmente, do Rio Grande do Sul e do Paraná, e na real

condição de obter rentabilidades superiores à taxa média de lucro em relação ao

capital investido e à renda fundiária a ser paga, condições estas derivadas da alta

produtividade alcançada a partir dos investimentos em tecnologias de produção e

na existência de mão-de-obra disponível para a exploração da mais-valia – que,

num momento posterior, se transformará em lucro e em renda da terra. Soma-se a

estes fatores o destino, praticamente integral, da soja produzida para o mercado

externo, o que significa importante fonte de renda agrícola.

De posse da nova lógica para o cultivo dos solos jataienses os produtores

migrantes, sobretudo do Sul do país, adotaram a estratégia de arrendamento

concomitante à de compra de terras, em alguns casos em detrimento desta, de

forma a não imobilizar todo o capital em aquisição fundiária.

É sabido que a aquisição de terras transforma-se em renda fundiária

capitalizada, mas diante do indicativo de buscar, posteriormente, novas áreas de

fronteira para o cultivo da soja, o lucro a partir do arrendamento tende a se realizar

mais rápido do que a capitalização do investimento feito na aquisição de uma

Page 100: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

parcela de solo, daí a opção pelo arrendamento e não pela aquisição, num

primeiro momento.

Por outro lado, a disposição em larga escala de terras a serem arrendadas

significa mobilização de pequenas somas de capital aplicadas a tal aluguel,

baixando o custo de produção. Mesmo a prática do arrendamento, no seu

princípio, tendo se consolidado a preços baixos foi rentável também para os

proprietários que possuíam grandes extensões de terra, porém pouco utilizadas

para o cultivo. Isso se deve ao fato de os solos serem naturalmente frágeis para o

cultivo de lavouras devido ao Ph baixo, o que indica acentuada acidez dos

mesmos e, conseqüentemente, a necessidade de altas somas de capital para

disponibilizá-los à agricultura em escala comercial.

Diante disso, estabelece-se a relação entre os produtores migrantes, dotados

de capital e experiência na lavoura monocultora, e os proprietários locais,

possuidores de grandes extensões de terras, porém sem conhecimentos técnicos

para fazê-las produzir.

Dessa forma, num intervalo inferior a uma década, as extensas faixas de

terra do município de Jataí, que eram utilizadas para pecuária extensiva ou

simplesmente funcionavam como status de propriedade, transformaram-se nos

“mares de soja”, ou “desertos de soja” (termo que nos parece mais apropriado),

tendo como uma das características básicas o arrendamento capitalista.

O arrendamento, que embasou a expansão e a consolidação das lavouras

monocultoras nos solos de Jataí, mantém-se ainda hoje como elemento central

nas relações de produção. Em pesquisa realizada em novembro de 2001,

constatou-se que 35% da área cultivada pelos produtores entrevistados eram

arrendados, indicando que o arrendamento significava estratégia de produção na

busca de maior lucratividade por parte dos produtores. Esta realidade foi

confirmada por meio da última pesquisa realizada nos meses de janeiro e

fevereiro de 2005, onde se comprovou que 37% (e não mais 35%) do total da área

cultivada atualmente pelos mesmos produtores são de áreas arrendadas.

Porém, uma das questões centrais que se formam é: quais os motivos que

levam o produtor misto, já proprietário de área por ele cultivada, a tomar em

Page 101: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

arrendo outra área a ser plantada, uma vez que ele possui capital para a compra,

caso assim o desejar.

A resposta pode estar numa outra estratégia de produção adotada pelos

capitalistas agrícolas, que se constitui em possuir mais de uma propriedade

fundiária para fins de uso agrícola, na maioria dos casos em mais de um município

e/ ou estado. Com a desconcentração espacial das propriedades e do

arrendamento, vez que também se mantêm propriedades arrendadas em outros

municípios e/ ou estados, ampliam-se as probabilidades de obter maior

lucratividade de acordo com as possibilidades locais de exploração da terra e da

mais-valia, tendo em vista que estas outras áreas produtivas são sempre em

direção ao Norte, tendo como referência o ponto aqui em estudo, onde há grande

disponibilidade de terras e de mão-de-obra para a realização das tarefas

agrícolas.

Dentre os produtores pesquisados 53,33% possuem mais de uma

propriedade, sendo que a localização destas se dá no próprio município, em

outros municípios do Sudoeste de Goiás ou ainda em outros estados,

principalmente Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde se obtêm condições

iguais ou melhores de produção e de produtividade.

Partindo do pressuposto de que é a possibilidade de maior lucro o que atrai o

capital, verifica-se, que no caso da monocultura da soja, a prática do

arrendamento continua sendo a forma de investir capital na produção agrícola e

realizar o lucro médio, porém garantindo a possibilidade de expansão da atividade

agrícola para outras áreas, caso isso seja mais rentável. Isto está diretamente

associado à abertura constante de novas áreas para a produção agrícola na

Região Centro-Oeste e Norte do país, considerando ainda o sul da Bahia e o

Maranhão, na região Nordeste, o que permite uma maior realização do lucro.

Assim, afirma-se a não-disposição em imobilizar todo o capital na aquisição de

terra.

Neste caso, de deslocamento espacial da sojicultura em direção a novas

áreas, a renda diferencial obtida é elemento bastante significativo, uma vez que a

Page 102: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

disponibilidade de terras e a capacidade produtiva de seus solos apontam a

possibilidade de instalação de lavouras com geração de lucros acima da média,

indicando a obtenção de uma renda diferencial do solo em relação às lavouras

com maior custo de produção ou menor produtividade das regiões já ocupadas e

em exploração para fins da monocultura da soja.

2.6.2 O arrendamento enquanto estratégia de valorização da terra25.

Uma vez constituída e consolidada a cadeia produtiva da soja no Sudoeste

de Goiás, a lucratividade elevada se pauta na relação entre os custos da produção

e os preços de mercado, na alta produtividade alcançada em áreas de Cerrado, na

garantia da existência de um mercado consumidor externo, na existência de

recursos para investimento de custeio, produção e infra-estrutura territorial, e na

manutenção da propriedade privada da terra, reforçando a concentração e dando

continuidade à existência dos latifúndios.

Então, verifica-se a elevação da renda da terra, influenciando na elevação do

preço da mesma e sua valorização no mercado fundiário.

Dessa forma a terra torna-se dotada de maior valor venal e de maior

capacidade de geração de renda, resultado da conversibilidade de parte do lucro

do arrendatário (capitalista agrícola) para lucro do proprietário da terra, na forma

de renda capitalista fundiária, que, segundo Wanderley (1979, p.73), é

responsável pela "expressão econômica da propriedade da terra" e quanto mais o

lucro é superior à média, ou seja, quanto maior for o sobrelucro, maior será o

preço reivindicado pelo proprietário para autorizar a exploração da terra, daí maior

será a renda fundiária.

Por isso, as relações de produção na agricultura no município de Jataí, a

partir da constituição da cadeia produtiva da soja, permitiram a continuidade de

25 Este assunto volta a ser tratado no capítulo 5, quando se analisa a prática do PD (Plantio Direto) em áreas de cerrado.

Page 103: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

existência de grandes proprietários de terra, sem, necessariamente, que eles se

tornassem capitalistas agrícolas. Esta característica pôde se manter porque dentro

da lógica da produção para o mercado internacional e para a agroindústria não

existe a necessidade da combinação do proprietário fundiário e do capitalista

agrícola no mesmo agente.

E, também, uma das bases para a constituição da cadeia produtiva da soja

foi a produção em grandes extensões associada ao arrendamento capitalista, o

que, conjugado à disponibilidade de força de trabalho, ao suporte tecnológico e

aos recursos naturais favoráveis, permitiu a formação e expansão da cadeia. Isto

significa que houve disponibilidade de capital para a produção e escoamento e

recursos naturais no volume necessário à produção.

Neste caso a questão que se forma é: Por que os proprietários fundiários dão

continuidade ao arrendamento ao invés de investirem, eles próprios, na produção

agrícola nas suas áreas. Para tratar desta questão faz-se necessário remontar os

estudos à renda fundiária capitalista.

Quanto à renda fundiária, fundamentando-se em Marx (1982), deve-se

considerar tudo o que o arrendatário paga ao proprietário na forma de tributo pela

permissão de explorar a terra. Este tributo, independente da sua composição ou

fonte, tem com a renda fundiária, propriamente dita, alguns pontos em comum.

Um deles é o fato de o monopólio sobre um pedaço de terra capacitar o

proprietário a cobrar um tributo; outro ponto é que esse tributo, como a renda

fundiária, determina o preço da terra, que nada mais é do que a receita

capitalizada do aluguel da terra.

Dessa forma Beskow (1986, p.123), embasado em Flichmann (1977)26,

afirma que "a renda do solo é uma parte de mais-valia social, da qual se apropriam

os proprietários fundiários, já que a terra, meio de produção não produzido,

limitado e relativamente não reproduzível, é propriedade privada".

No caso do arrendamento de terras para o desenvolvimento da monocultura

da soja, a renda fundiária capitalista é a apropriação de parte da mais-valia, 26 FLICHMANN, G. Sobre a teoria da renda fundiária. CEBRAP. São Paulo, (20): abri./maio./jun., 1977.

Page 104: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

extraída no momento da produção pelo trabalhador assalariado, pelo proprietário

da terra, mesmo que este não participe diretamente do processo produtivo. É o

que, no dizer de Wanderley (1979), significa a apropriação em segunda mão de

parte da mais-valia que o capital apropriara-se em primeira mão.

Os constantes investimentos em tecnologias de produção aumentam o

montante de meios de produção disponíveis e necessários ao processo produtivo

de forma a aumentar a eficiência do trabalho e a produtividade das áreas

cultivadas, gerando, assim, o excedente econômico que transformar-se-á no lucro

do arrendatário capitalista e na renda fundiária do proprietário da terra.

Diante dos altos custos de produção da soja, seguido do seu alto valor de

mercado, ceder a terra para arrendamento é de maior interesse para grande parte

dos proprietários do que investir no processo produtivo. Se por um lado a

produção demanda grandes somas de capital em tecnologias químicas,

mecânicas e biológicas, representando altos investimentos, por outro, os preços

do mercado internacional de alimentos permitem que o proprietário aumente o

valor do aluguel da terra, ampliando a renda obtida e valorizando a propriedade

fundiária.

Num ano instável para os sojicultores, como o de 2005, fica clara tal questão.

As imprevisibilidades do mercado e do clima, que comprometeram os rendimentos

dos produtores no referido ano, pouco atingiram a renda a ser obtida pelo

proprietário das áreas arrendadas para o cultivo. O preço do arrendamento foi

fixado no contrato de arrendamento e, independentemente da produção e da

produtividade obtida pelo produtor, o proprietário da terra terá seu pagamento de

acordo com o pré-fixado no contrato de cessão da terra.

O arrendatário terá que fazer o pagamento, independentemente da

produtividade alcançada. Porém, mesmo assim o arrendamento ainda é viável

também para o arrendatário, pois é tomado enquanto uma das estratégias de

gestão financeira moderna, já que adquirir novas terras significa contrair novas

dívidas, o que pode vir a comprometer o patrimônio da empresa ou levá-la à

bancarrota em períodos de instabilidade, como o ano agrícola de 2005. O produtor

Page 105: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

arrendatário poderá ter dificuldades em saldar os acordos dos contratos de

arrendamento, diante de uma safra prejudicada; passará por um período

financeiramente delicado, mas, ao final, corre menos risco de quebrar do que o

produtor que converteu seu caixa em novas terras e, conseqüentemente, em mais

dívidas.

Por isso, a estratégia de arrendamento aparece como sendo uma

característica de agriculturas avançadas, monetizadas, não se assemelhando, em

nada, a práticas arcaicas. O município de Jataí-GO nos parece um bom exemplo

disso.

Diante disso, explicita-se o interesse em manter a prática do arrendamento

por ambos os lados: o capitalista agrícola, que prefere não investir todo o seu

capital na aquisição de terras, de forma a não imobilizá-lo, tendo em vista a

intenção de deslocamento espacial da sua prática produtiva em direção a novas

áreas agrícolas; e o proprietário fundiário, que não está disposto a investir no

processo produtivo da monocultura da soja, por tudo que ele demanda em termos

de disponibilidade de capital, acompanhamento de tecnologia e de mercado,

investimento em mão-de-obra e relações de trabalho.

Logo, a prática do arrendamento capitalista caracteriza-se como estratégia

de ampliação dos lucros dos capitalistas agrícolas e como forma de ampliação do

preço da terra e de manutenção da propriedade da terra e do latifúndio, e se dá

por meio da aplicação de altas somas de capital no processo produtivo e pela

exploração da mais-valia de trabalhadores que, ao longo do processo de

ocupação e consolidação da área pela exploração agrícola em escala comercial,

foram sendo expropriados, transformando-se em trabalhadores assalariados.

Tal relação é altamente lucrativa para ambos os lados. Para o proprietário,

por um lado, porque a terra tem seu valor venal e de renda aumentado

gradativamente, devido à maior capacidade produtiva a partir dos insumos

aplicados a cada safra; por outro, porque, embora não participando do processo

produtivo, participa dos ganhos econômicos com a venda da produção, uma vez

que o arrendamento se dá mediante o pagamento referente a uma porcentagem

Page 106: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

do produto colhido, que tanto pode ser em dinheiro quanto em espécie

(usualmente em espécie). Quanto ao arrendatário, este terá disponível maior

parcela de capital para investir no processo produtivo, vez que não o imobilizou

totalmente na compra de terras, além de ter a flexibilidade de expandir sua

atividade econômica rumo a novas áreas que apresentem maiores e melhores

condições de lucratividade.

Uma relação entre a prática do arrendamento e a concentração da terra

pode ser estabelecida, já que este funciona como um mecanismo de manutenção

e recriação das grandes propriedades.

No que tange aos problemas ambientais gerados pela monocultura, a prática

de arrendamento pode ser apontada como um dos grandes responsáveis pelo

agravamento dos prejuízos ambientais ocasionados nessas áreas. Nem sempre o

arrendatário faz um planejamento de exploração da área a longo prazo, já que a

devolverá ao seu proprietário ao findar o contrato de arrendamento. Isso,

associado aos objetivos imediatistas de maximização dos lucros, submete a área

a explorações intensas, já que, em grande parte das vezes, os ganhos pessoais

do arrendatário são prioridade em relação à conservação ambiental.

Logo, a manutenção da prática de arrendamento para fins de lavouras

monocultoras em áreas de Cerrados aponta para um agravante no que se refere

ao uso dos recursos naturais. A previsão de devolução da terra ao seu proprietário

legal pode gerar a omissão por parte do arrendatário em relação aos prejuízos

ambientais, principalmente no que tange ao cumprimento da legislação ambiental

que reza a manutenção das áreas de reservas legal e permanente, já que nem

sempre a preservação dos recursos fica legalmente a cargo do produtor

arrendatário.

2.7 Imprevisibilidades da natureza e do mercado: crise regional.

Page 107: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O ano agrícola de 2005 está marcado por imprevisibilidades de cunho

natural e mercadológico, tais quais: o retorno do preço internacional da soja aos

patamares normais, por volta de U$$ 11,00 a saca, o que muitos consideram

como queda do preço; os altos custos de produção; o aumento da oferta da soja

estadunidense no mercado; as restrições da China à soja brasileira em virtude do

episódio de 2004, quando sementes contaminadas foram encontradas em meio

aos grãos para consumo; a ocorrência de veranico no Sudoeste de Goiás nos

meses de fevereiro e março; a política cambial do governo federal. Isso fez com

que os lucros obtidos, em muitos casos, não fossem compatíveis com os custos

de produção, ocorrendo, desta forma, dificuldade, por parte dos produtores, em

saudarem suas dívidas e cumprirem suas agendas de financiamentos.

Em momentos como estes produtores agrícolas podem ter, e vários têm,

suas máquinas e veículos de trabalho confiscados, deixam dívidas por serem

saldadas no comércio local e financiamentos por serem pagos junto a bancos. No

entanto, mantêm seus carros de luxo e suas residências imponentes, no intuito de

perpetuar o status quo e a superioridade que acreditam ter pelo poderio

econômico.

Diante disso, o discurso corrente nos municípios de Jataí, Rio Verde,

Chapadão do Céu e Montividiu, dentre outros, é de que este será um ano em que

todos os segmentos da sociedade e setores produtivos sofrerão quedas em

detrimento da falta de dinheiro oriundo da agricultura, o que significa redução no

consumo e crise para o comércio local e regional. Na realidade os setores que se

organizam em função da agricultura apresentarão dificuldades financeiras, mas os

setores e a parcela da população que estão fora desta esfera não serão afetados.

Ao contrário, como os bens de consumo são cotados em soja, talvez estes se

tornem mais acessíveis a uma maior parcela da população que, quando o preço

do grão está em alta, não dispõe de recursos para adquiri-los.

A sociedade e o poder público de municípios como Rio Verde, Jataí,

Chapadão do Céu e Mineiros, dentre outros da microrregião (com destaque para

os dois primeiros), desenvolveram ao longo das últimas décadas uma empáfia, a

partir de uma suposta superioridade que julgam ter em função da agricultura ali

Page 108: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

desenvolvida. Existe uma certa arrogância e os depoimentos, tanto da sociedade

(de indivíduos envolvidos ou não com o processo produtivo agrícola), quanto do

poder público, indicam uma discriminação de tudo e todos que estão fora do

círculo agroindustrial.

Esta condição psicológica criada faz com que só sejam reconhecidos

enquanto agentes sociais os indivíduos envolvidos com o agronegócio. Por isso,

há um esforço constante, reincidente, ano a ano, por parte dos produtores em

elevar suas áreas plantadas, sendo estas próprias e/ ou arrendadas, renovar e

ampliar sua frota de veículos e investir em novidades para suas residências, já

que tais aspectos funcionam enquanto termômetros, indicando o sucesso de um

dado indivíduo, bem como seu reconhecimento perante a sociedade.

Em momentos como o atual, quando se verificam questões (supracitadas)

que reduzem as margens dos lucros dos produtores agrícolas, ocorrem diversas

tentativas, junto aos organismos financiadores, de renegociação (em alguns

casos, até perdão) de dívidas, redução de juros, busca de novos financiamentos,

mas o que pode ser notado é que não há disposição dos agricultores em reduzir

os seus padrões de consumo.

O mês de junho foi marcado por diversos protestos e manifestações, que

ocorreram em todo o Brasil, objetivando tornar pública a redução dos lucros por

parte dos produtores agrícolas, o que comprometeu o cumprimento da agenda de

pagamento dos financiamentos e gerou dificuldades para plantar as novas safras.

Tais atos culminaram com a chegada de um grupo de aproximadamente 20 mil

pessoas, agricultores e outras ligadas ao agronegócio, a Brasília, no dia 29 de

junho passado (2005).

Esta agenda de manifestações foi seguida pelos produtores do Sudoeste de

Goiás, que saíram às ruas, bloquearam rodovias e foram, em caravana, à capital

federal. Nestes municípios, o comércio se solidarizava, aderindo aos

manifestantes. No entanto, uma imagem, no mínimo curiosa, retratava

caminhonetas e maquinários agrícolas de última geração compondo o buzinaço e

o tratoraço. Nos municípios de Rio Verde e Jataí as manifestações foram regadas

ao “verdadeiro churrasco gaúcho” e enfeitadas com L200, hillux, F250, S10,

Page 109: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

pagero, frontier, dakota, X-Terra. Veículos estes que são adquiridos pelos

produtores rurais a juros de 7% ao ano, um juro infinitamente menor dos

apresentados a qualquer outro perfil de consumidor.

Os produtores estão afinados em torno de um discurso único, o da “crise”.

Este é o assunto corrente em todas as rodas de conversa, sejam elas compostas

por quaisquer pessoas, de qualquer segmento da sociedade: a “crise”! Mesmo

muitos indivíduos não sabendo exatamente do que se trata.

Porém, mesmo diante de tal “crise”, o que, segundo os produtores, os

obrigam a não saldar suas dívidas junto aos bancos, comércio e outros

financiadores, mantém-se elevado o padrão de consumo, responsável pela

também manutenção do status quo.

Vale ressaltar que o tratoraço em Brasília, no último mês de junho (2005),

conseguiu R$ 3 bilhões, que se originaram do FAT (Fundo de Amparo ao

Trabalhador), para pagamento de dívidas dos produtores, benefício que foi

estendido, inclusive, aos inadimplentes.

Enquanto isso, os pequenos agricultores, assentados ou não, por vezes são

inadimplentes em R$ 8, 10, 15 mil e por isso não têm acesso a financiamentos. A

maioria destes agricultores não consegue saldar suas dívidas, tampouco obter

liberação de crédito devido à dívida, ao passo que os grandes produtores o

conseguem mesmo devendo, além do que, com recursos do FAT.

Outro aspecto merecedor de menção é que o tratoraço foi estimulado pelas

indústrias de máquinas, de forma a não sofrerem grandes reduções nas suas

vendas e terem o pagamento dos financiamentos garantidos.

3. A INTEGRAÇÃO AGROINDUSTRIAL NO SUDOESTE DE GOIÁS.

Page 110: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Nesta seção tratamos de como a agricultura do Sudoeste de Goiás se inseriu

no contexto da “caificação”, isto é, da formação dos Complexos Agroindustriais

(CAI’s). Damos ênfase à instalação do complexo agroindustrial da Perdigão na

cidade de Rio Verde e ao seu projeto de expansão e instalação nas cidades de

Mineiros e Jataí.

Numa análise do complexo da Perdigão no Sudoeste de Goiás, nota-se que

o custo de produção, juntamente com as políticas de isenção fiscal e

financiamentos, tendo o FCO como o principal expoente, são preponderantes na

otimização dos resultados da empresa. Para tal análise foram utilizados os

números do custo de produção e da conversão alimentar, tanto dos suínos quanto

das aves, da unidade de Rio Vede e das demais unidades da empresa, a fim de

investigar as vantagens que a unidade de Rio Verde tem em relação às demais

unidades de produção da empresa.

Em virtude da consolidação da região como um pólo agroindustrial, as

preocupações com a malha viária têm tomado lugar central na pauta política

regional, podendo ser notada a retomada da discussão de projetos de rodovias,

ferrovias e hidrovias, para, desta forma, dar maior fluidez aos equipamentos

necessários à produção, bem como aos bens produzidos, de forma mais ágil e o

menos onerosa possível.

3.1 A articulação agricultura/indústria

A atual paisagem agrícola do Sudoeste de Goiás, com o predomínio das

extensas lavouras monocultoras, corrobora as teses27 que afirmam que a

modernização conservadora beneficiou preferencialmente a agricultura de

exportação, reforçando e dando continuidade à grande propriedade e à agricultura

27 Ver BENJAMIM, 1998.

Page 111: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

patronal, instalada no Brasil desde os tempos primário-exportador, priorizando a

empresa agrícola, sendo a propriedade da terra privilégio de uma minoria.

Diferentemente do que ocorreu em outros países, sobretudo da Europa e

também o Japão, a agricultura brasileira foi incentivada a se desenvolver em

outros moldes. Enquanto naqueles a preocupação sempre foi com os mercados

internos, aqui a preocupação está voltada para exportação. Foi este o sentido que

a agropecuária goiana e, especificamente, a agricultura do Sudoeste de Goiás

tomou nas últimas três décadas.

Esta situação faz com que a agricultura regional esteja inserida numa

articulação econômico-financeira internacional, que traz no seu bojo diversas

empresas nacionais e internacionais dos vários setores ligados à atividade

agrícola, proprietários e produtores rurais, além do próprio Estado.

O complexo agroindustrial, tal qual é tratado por Moreira (2004) tem presença

marcante no espaço e na economia da região.

É o complexo agroindustrial uma unidade de economia que integra em um só sistema atividades dos setores primário, secundário, terciário e quaternário, levando a divisão territorial do trabalho agroindústria estruturalmente para além da combinação primário-secundária (agricultura-indústria) a que a agroindústria até então se limitara, rumo a uma divisão de trabalho estruturada em rede de produção e de trocas de dimensão e abrangência territorial enormemente diversificada e ampla [...] É esta estrutura em rede que organiza em toda sua extensão o domínio espacial da agroindústria, provoca a criação generalizada dos sem-terra e muda por completo a forma de organização do espaço agrário do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte (MOREIRA, 2004, p. 143).

Tal articulação é o que expressa a consolidação da agricultura regional, que

pode ser mensurada pela presença da agroindústria, indicando, dessa forma, a

confiança do mercado nos produtos gerados.

Verifica-se, no Sudoeste de Goiás, a formação de um agricluster, que na

definição de Veiga (2000, p. 148) é uma:

concentração geograficamente delimitada de negócios independentes que se comunicam, dialogam e transacionam para partilhar coletivamente tanto

Page 112: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

oportunidades quanto ameaças, gerando novos conhecimentos, concorrência inovadora, chances de cooperação, adequada infra-estrutura, além de freqüentemente também atraírem os correspondentes serviços especializados e outros negócios correlacionados.

Porém, ao mesmo tempo em que tal articulação cria as condições para a

elevação da produtividade cria, também, uma condição de vulnerabilidade,

já que pressionada pelos custos dos insumos que adquire no mercado, dependente do cálculo capitalista e integrada a complexos agroindustriais, ela se desorganiza com facilidade, ao contrário do que ocorria com o setor agrícola tradicional, muito mais auto-suficiente (BENJAMIM, 1998, p. 83).

Esta fragilidade pode ser verificada atualmente na agricultura industrialmente

integrada desenvolvida no Sudoeste de Goiás. Após dois anos de preços elevados

nos mercados internacionais e obtenção de recordes em exportações, houve uma

queda no preço médio da safra de grãos no ano de 2005. Deve-se tal ocorrido à

grande produção de soja dos Estados Unidos, 27% a mais do que no ano de

2003, ao aumento mundial de outras commodities agrícolas, que fizeram os

preços cair, e ao aumento dos custos de produção, além de outros motivos

supracitados. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) estima

que, devido aos altos custos de produção e aos baixos preços no mercado de

soja, a agricultura brasileira poderá sofrer perdas de mais 1,5 bilhão de dólares no

ano de 2005.

Segundo Barros, (2005) não serão todos os setores do agronegócio que

enfrentarão perspectiva ruim em 2005; mas o algodão, o trigo, o arroz, o milho e a

soja estarão entre os que sofrerão queda, já que todas as variáveis, como câmbio

e preços, se voltaram contra o produtor. Porém, o agricultor que possui uma

gestão estratégica e financeira conseguirá se sobressair à crise.

Castillo (2004) já apontava as possibilidades de “quebra” da soja como um

risco real. Diz que a produção de soja é movida pelo imperativo da exportação,

com parâmetros de produtividade ditados pelo mercado internacional e, em

Page 113: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

considerando a tendência que já se anunciava, de ocorrência dos problemas

mencionados, o mercado de soja estaria em baixa no ano de 2005. Neste caso, de

interpretação de estoques, a informação é componente fundamental. A precisão

sobre estoques estratégicos é que definem a formação dos preços e as

tendências do ano agrícola.

Para Castillo (2004) quem menos ganha com a soja (cultivada nos Cerrados)

é o produtor, uma vez que:

o lucro maior fica com as empresas que dominam o circuito. Grupos como Cargil, ADM, Maggi, Bunge – Ceval e Caramuru começam a lucrar antes mesmo do plantio, vendendo máquinas, insumos e antecipando créditos ao agricultor. Depois compram a soja, transportam, armazenam, processam, comercializam e exportam tanto os grãos como os seus derivados, sobretudo o farelo da soja e os cremes e óleos vegetais [...] Com exceção do grupo Maggi deve-se notar que as demais empresas não possuem terras nem plantam soja (CASTILLO, 2004, p. 03).

Outra questão a ser considerada, diante da realidade marcada pela

agricultura industrialmente integrada, é que tal modelo não tem nas suas bases

nenhum direcionamento para a pequena produção. A tecnologia foi posta à mesa,

para ser adquirida pelos produtores, mas de forma tal que o pequeno produtor foi

se distanciando cada vez mais da possibilidade de adquiri-la, as políticas públicas

se encarregaram da seleção dos produtores28. A policultura tradicional foi

desestruturada, ao passo que a concentração da terra foi reforçada, o que

redundou em mão-de-obra dispensada das atividades agrícolas, sem a sinalização

de uma outra colocação para os trabalhadores.

Benjamim (1998, p.85) ostra ainda que:

O padrão do mundo rural brasileiro se tornou completamente anacrônico. Aquela agricultura que produzia fundamentalmente bens de exportação e enviava gente para as cidades era funcional sob outro ponto de vista, na fase primário-exportadora e nos primórdios da industrialização. Hoje não é mais. O papel da agricultura, ao contrário, deve ser reter mão-de-obra, apoiar a rede de pequenas e médias cidades (para desconcentrar as atividades dinâmicas) e baixar o custo de alimentação (para ampliar o mercado interno).

28 Sobre objetivos e direcionamentos das políticas públicas para a agricultura ver Gonçalves Neto (1997).

Page 114: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Os rumos dados à agricultura brasileira pelas políticas públicas no pós 1960

conduziram ao que Rangel (2000) chama de a “modernização da agricultura

expelindo gente”. Nessa perspectiva a dispensa de mão-de-obra pela agricultura

desenvolvida no Sudoeste de Goiás, intensa em tecnologia, se configura em um

problema e sua continuiação poderá gerar problemas sociais e econômicos

diversos, além de agravar os já existentes.

3.1.1 Sudoeste de Goiás: campo fértil para a integração industrial.

O Sudoeste de Goiás é a parcela do território do estado onde é mais visível o

efeito espacial das transformações ocorridas no agro goiano. Ali a produção de

grãos imprimiu a marca dos objetos de que necessita para se fazer existir. Os

efeitos fluídos da produção podem ser identificados na indústria esmagadora de

grãos, no processamento do óleo e do farelo, no estabelecimento de granjas de

produção de aves e suínos, acompanhadas da indústria processadora dos

animais, conjugados a uma eficiente rede de distribuição de insumos que dão

suporte à produção, de forma a buscar a maior eficiência em todos os elos da

cadeia produtiva.

Isto deriva do empenho, tanto do poder público quanto dos demais

envolvidos com o setor agropecuário, em buscar uma maior agregação de valor

aos produtos. Busca-se investir em produtos com demanda elástica, que permitem

a agregação de valor, atrelados à economia de escala e ao processamento

industrial, como é o caso da soja e do milho.

Os programas oficiais visam a atrair agroindústrias e, desta forma, extrapolar

a produção unicamente de matérias-primas. A instalação do complexo

agroindustrial da Perdigão em Rio Verde, maior parque agroindustrial da América

Latina, é um dos resultados concretos desses esforços. O Projeto Buriti, fatura em

Page 115: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

torno de 700 milhões de reais por ano, a partir de uma produção de cerca de 6000

toneladas de processados, entre presunto, empanados, massas, hambúrguer,

mortadela e lingüiça (PERDIGÃO, 2005).

Diversas outras indústrias, principalmente de embalagens e distribuidoras de

insumos, se instalaram no município em decorrência da instalação do pólo

Perdigão. Estima-se em torno de 400 empreendimentos industriais.

Já no município de Jataí uma das principais empresas é a COINBRA

(Comércio e Indústrias Brasileira), empresa do grupo francês Louis Dreyfus e uma

das 3 maiores empresas de processamento e industrialização de oleaginosas da

América do Sul. Instalada em Jataí em 1982, atualmente ocupa uma área de

142.525,58 m2 . Iniciou suas atividades no município com a comercialização de

grãos, posteriormente, em 1989, passou à produção de óleo e de farelo de soja,

com capacidade de processamento de 900 toneladas/dia. Atualmente opera com

capacidade em torno de 2.000 toneladas/dia, o equivalente a aproximadamente

52.000 toneladas/mês. A refinaria opera com capacidade de 400 toneladas/dia. O

processamento da soja gera três subprodutos: farelo, óleo e “casquinha” de soja.

O primeiro, destinado à alimentação animal, obtêm teor protéico de 46%, o último

tem teor de proteína de 12%, sendo vendido no mercado para ser adicionado à

ração animal. No processo de refino do óleo extrai-se, além deste, mais dois

subprodutos, os ácidos graxos e a lecitina de soja.

Os produtos têm destinos variados. A totalidade do óleo refinado é destinada

ao mercado interno e toda a lecitina é destinada à exportação; 95% do óleo bruto

destina-se ao refino; 90% do farelo destina-se à exportação e 10% ao mercado

nacional (COINBRA, 2005).

As figuras 12 e 13 ilustram, parcialmente, as instalações da COINBRA em

Jataí. Na figura 12 pode-se verificar as fitas transportadoras de grãos, que os

levam do local de recebimento ao armazém. Este processo é desenvolvido por

sistema eletrônico. A figura 13 apresenta o armazém de farelo, as instalações de

envaze do óleo, a instalação da refinaria e, ao fundo, a chaminé da caldeira.

Page 116: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 12: Vista parcial das instalações da COINBRA - fitas transportadoras

de grãos (Jataí – GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Figura 13: Vista parcial das instalações da COINBRA (Jataí - GO).

Page 117: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Ribeiro, 2005.

A Cargill Agrícola, implantada em Jataí-GO em 1987, também tem

expressividade no setor agroindustrial. Atuando no comércio de soja e de

fertilizantes e no fabrico de óleos industriais, lubrificantes, fertilizantes e adubos, é

hoje uma importante empresa no ramo, tendo recebido, em 2000, 110.000

toneladas de soja em grão, dos quais, parte foi destinada às fábricas em

Uberlândia-MG e Mairinque-SP e parte à exportação (CARGILL, 2005).

As figuras 14 e 15 ilustram parte das instalações da Cargill Agrícola, no

município de Jataí-GO. A figura 14 apresenta o armazém da indústria e a figura 15

apresenta vista panorâmica das instalações da agroindústria.

Figura 14: Armazém industrial da Cargill Agrícola (Jataí - GO).

Page 118: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Ribeiro, 2005.

Figura 15: Vista panorâmica das instalações da Cargill Agrícola (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Page 119: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Além destas, outras empresas como Caramuru, ADM, Bunge – Ceval,

recebem incentivos diretos e indiretos do poder público para se instalarem e

desenvolverem suas atividades na região. A política de isenção ou parcelamento

de impostos é a mais usual. Além disso, a ineficiência (ou ausência) de leis

ambientais, de leis fiscais e de organização sindical dos trabalhadores fazem com

que as empresas tenham ampliadas suas possibilidades de exploração da mão-

de-obra, abundante e barata, e dos recursos naturais, desprotegidos legalmente,

ampliando as possibilidades de obtenção de lucro e de reprodução do capital.

Para Castillo (2004), as novas regiões da soja são dominadas por grandes

empresas (na maior parte estrangeiras), que influenciam na distribuição das infra-

estruturas, nos investimentos dos governos federal, estadual e municipal. “Os

municípios, em guerra para atrair investimentos, esquecem a política social e

comprometem o orçamento para oferecer isenções fiscais e obras de engenharia

às empresas. Acham que a soja será a salvação da lavoura” (CASTILLO, 2004,

p.03). Esta realidade pode ser identificada na região, onde os bairros das cidades

são carentes de infra-estrutura básica, as escolas e a saúde pública desprovidas

de recursos e repasses de verba, enquanto incentivos e isenções são dadas às

empresas para ali se instalarem e desenvolverem suas atividades produtivas.

A agroindústria se instala e se sedimenta no Sudoeste de Goiás diante da

possibilidade de reduzir custos por meio da integração de instituições, além de

captar economias de escala na produção e no abate de animais. Estas são

possibilidades anunciadas a partir da ampliação de tecnologias, sobretudo no que

tange à criação de suínos e de aves.

3.1.2 Atrativos regionais para a agroindústria.

O promissor enunciado de que os preços dos grãos caem, em áreas de

Cerrado, ao passo que a produtividade tende a aumentar, contribui para que o

Page 120: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Sudoeste de Goiás se torne um pólo estratégico para a implantação do setor

agroindustrial. Há uma projeção sobre os preços no futuro e, de acordo com

Helfand e Rezende (2003), é provável que as decisões estratégicas da indústria

alimentícia levem em conta essas mudanças.

Porém, os autores consideram, ainda, que não são apenas os grãos baratos

(e, conseqüentemente, as rações) os responsáveis pelo deslocamento da

agroindústria de animais para as diversas localidades no Centro-Oeste, senão os

fluxos de comércio das carnes de frango e de porco seriam mais intensos que os

de milho. Afirmam que se assim fosse o desenvolvimento agrícola do Centro-

Oeste apresentaria um impacto muito maior sobre o desenvolvimento industrial

regional e as regiões no Sul do Brasil, onde hoje se concentram atividades de

aves e suínos, teriam que passar por um processo difícil de substituição de

atividades (HELFAND; REZENDE, 2003).

Helfand e Rezende (2003) utilizaram dados, do período de 1980-1995,

obtidos junto à Fundação Getúlio Vargas (FGV), para verificar a hipótese de que a

Região Centro-Oeste estaria atraindo a produção de aves e suínos não apenas

devido a preços baixos do milho e, portanto, da ração. Afirmam o que se segue:

A análise dos diferenciais de preços sugere que pode haver economia considerável de custos, resultado da transferência da produção de animais do Sudeste para o Centro-Oeste. O preço do milho nos anos de 1990 foi em média R$ 25 a R$ 80 mais barato em Goiás que nos quatro estados do Sudeste. O mesmo não pode ser dito sobre o Sul. Os preços do milho no Paraná tenderam a ser menores do que em Goiás nos anos 1990 e, com exceção de alguns anos, a diferença com Santa Catarina e Rio Grande do Sul não tem sido muito grande. Então, se a produção animal deve migrar do Sul para o Centro-Oeste, é provável que o seja por outras razões que não o preço do milho (HELFAND; REZENDE, 2003, p.25).

Afirmam, ainda, que:

de todos os estados produtores de milho apenas o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul tiveram taxas maiores de crescimento do que o Paraná e o Rio Grande do Sul nos anos 1990 e que, ainda assim, o Sul continuou a ter 45% dos estoques brasileiros em 1995, comparados com 7% no Centro-Oeste. Então, mesmo havendo um crescimento um pouco maior no Centro-Oeste, não há evidência – por volta de 1995 – de um êxodo em

Page 121: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

massa da produção avícola do Sul para a região, já que no período de 1990/ 1995, no Centro-Oeste, localizava-se apenas 6% das aves e 12% dos suínos, sendo que Goiás produziu 9,6% do milho produzido no país e só consumiu 4,1%, ao passo que São Paulo importou 4,2% da produção nacional do grão (HELFAND; REZENDE, 2003, p. 36).

Partindo desta premissa conclui-se que uma empresa não faria economia

considerável migrando de estados da Região Sul para Goiás, por exemplo, já que

o custo com o transporte do produto final faria perder parte das vantagens em

relação aos preços do milho e derivados.

Logo, o que parece, é que a realocação da indústria do Sul e do Sudeste

para o Centro-Oeste está baseada, além de no baixo custo da ração, na adoção

de uma nova tecnologia, que, aliada a novas formas de organizar a produção no

Centro-Oeste, tem o potencial de reduzir o custo da carne, para os consumidores,

de inúmeras formas:

Primeiro, a construção de megaabatedouros que integrarão grandes criadores de animais poderia apropriar economias de escala na produção e no abate. Segundo, a integração com um número menor de produtores poderia contribuir para a redução dos custos de logística associados com o suprimento de insumos, a provisão de ração e serviços veterinários, e a coleta dos animais quando estiverem prontos para o abate. Apesar de o modelo de pequenos agricultores integrados do Sul ter contribuído para um período de excelente crescimento na produção e na produtividade, está sendo visto como um obstáculo para a continuação do crescimento e da redução de custos (HELFAND; REZENDE, 2003, p. 49).

No que tange ao baixo custo da ração, os dados apresentados nos gráficos

adiante, nas páginas 134, 135 e 136 desta seção, indicam que este é um

elemento de fundamental importância a ser considerado no processo de

realocação, juntamente com os outros elementos apontados pelos autores

supracitados.

Quanto às novas tecnologias dos abatedouros e à nova forma de

organização da produção, as figuras 16 e 17 ilustram a linha de produção da

Perdigão, na unidade de Rio Verde. Ali a organização da produção, aliada à

estrutura do megaabatedouro, permite uma otimização do trabalho, e, por

conseguinte, da lucratividade, fazendo com que, além dos baixos custos da ração,

Page 122: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

a empresa aproprie-se de uma economia de escala tanto no abate quanto na

produção.

Figura 16: Linha de produção da Perdigão (Frango), unidade de Rio Verde - GO.

Fonte: Arquivos da Empresa, 2005.

Page 123: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 17: Linha de produção da Perdigão (Suínos), unidade de Rio Verde - GO.

Fonte: Arquivos da Empresa, 2005.

Porém, mesmo com todas estas vantagens e novidades elaboradas para o

segmento agroindustrial de aves e suínos, no Sudoeste de Goiás, e em todo o

estado, o peso do transporte é bastante significativo no custo do produto final, que

é onerado pelos fretes, já que não se pode transferir, simplesmente, estes custos

aos preços finais dos produtos agrícolas, pois estes são fixados com base nos

mercados internacionais.

3.1.3 O sistema de escoamento dos produtos agrícolas regionais.

Sobre o sistema de transporte, Castro (2003) afirma que as firmas

agropecuárias podem ser vistas como um elo de uma longa cadeia de produção,

Page 124: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

armazenagem e transporte. Nessas cadeias surgem várias possibilidades de

complementariedade e de substituição entre transporte e armazenagem, e os

demais insumos e fatores de produção.

Quanto maior a disponibilidade de transporte, em termos de confiabilidade e freqüência, menores são as necessidades de recursos de armazenagem, mão-de-obra e outros fatores de produção. Isto se deve à elevada dependência de variáveis internas e externas aleatórias (a disponibilidade de equipamentos, o clima, os preços dos insumos e produtos) que torna ainda mais forte a interação entre o nível de serviço de transporte, a disponibilidade de armazenagem e o uso de demais insumos e fatores de produção (CASTRO, 2003, p. 301).

Castro (2003) sugere a comparação entre a produtividade de máquinas

equivalentes em duas regiões servidas, de forma distinta, de infra-estrutura de

transporte, a fim de esclarecer a importância dos transportes na formação do elo

da cadeia de produção:

Imaginem a diferença de produtividade entre dois tratores iguais (produtividade média em termos de horas efetivamente trabalhadas por ano), um operando em Ribeirão Preto (SP), contando com serviços amplos e acessíveis de manutenção e peças de reposição, e outro operando no município de Alta Floresta, situado no norte de Mato Grosso. Ou ainda,a diferença de produtividade de mão-de-obra entre duas fazendas: uma que conta com transporte próprio para disponibilizar a tempo e a hora, fertilizantes, adubo, semente, remédio, ração, etc. e outra que depende da entrega ‘quase sempre fora de hora’ desses insumos. Concluindo, piores condições de transporte implicam maiores estoques e maiores perdas para se obter o mesmo resultado em termos de aplicação efetiva de insumos (CASTRO, 2003, p. 301-302).

Conclui-se, então, que um sistema de transporte confiável e estável significa

diminuição e, em alguns casos, eliminação das perdas e/ ou dos danos aos

produtos agrícolas.

Neste particular, o estado de Goiás tem buscado diversas estratégias de

modo a facilitar o escoamento dos produtos gerados, e, ao mesmo tempo suprir as

empresas rurais e urbanas do suporte técnico de que necessitam para produzir.

Page 125: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O governo do estado de Goiás vem buscando, desde o ano de 2004,

parcerias para investimento, que está orçado em R$ 250 milhões, na construção

de uma plataforma logística em Anápolis, cidade goiana situada no eixo Goiânia –

Brasília. O objetivo, segundo o projeto do governo, é integrar os transportes

intermodais: ferroviário, rodoviário, aéreo e fluvial, além de investir no Porto Seco

Centro-Oeste.

O Porto Seco foi alfandegado em setembro de 1999 e vem desempenhando

papel fundamental no desenvolvimento econômico de Goiás,

Uma nova visão de comércio exterior foi estabelecida em Goiás, aproximando a região do mercado global. Tendo como missão principal atender às necessidades de importadores e exportadores, o Porto Seco assessora seus clientes a otimizarem suas transações nacionais e internacionais, ganhando, assim, mais competitividade de mercado através de agilidade e redução de custos de armazenagem dos seus produtos. A localização do Porto Seco não poderia ser melhor. Situado na cidade de Anápolis, possui uma ampla e moderna infra – estrutura com área total de 109.707,97 m2. A empresa está em uma região estrategicamente privilegiada, a 55 Km de Goiânia, capital do estado de Goiás, e 171 Km de Brasília, capital do Brasil. Três rodovias federais se interligam em Anápolis: as BR’s 060, 153 e 414, formando, juntamente com as ferrovias, o que pode ser chamado de “Trevo Brasil” [...] Podem ser transportados, assim, inúmeros tipos de cargas, interligando todo o mercado do Centro-Oeste a outros pontos do país, transformando grandes distâncias em distâncias economicamente competitivas (Porto Seco Centro-Oeste, 2005, p. 01).

Objetiva-se, com tais ações, o barateamento de matérias-primas que chegam

às indústrias situadas em Goiás, ao mesmo tempo que a redução dos custos de

escoamento dos bens produzidos, principalmente dos grãos, que dessa forma

podem se tornar mais competitivos no mercado, vez que terão custos mais baixos.

No que tange às rodovias, a malha viária do Centro-Oeste, de forma geral, é

bastante precária. No estado de Goiás as rodovias responsáveis pelo escoamento

da safra colhida são de péssimas qualidades, o que acaba por encarecer os

custos dos produtos transportados. Apenas uma pequena parte das rodovias,

sejam elas federais ou estaduais, apresenta pistas duplicadas. Poucos, também,

são os projetos de duplicação. No estado, o predomínio é de rodovias estaduais,

Page 126: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

estas não possuem acostamentos e a sinalização é insuficiente. Quanto às

federais, no geral, o estado de conservação é de ruim a péssimo.

Transitando-se pelas estradas do Sudoeste de Goiás verifica-se o grande

desperdício dos produtos agrícolas. Os grãos podem ser vistos saltando dos

caminhões e se amontoando nas valetas laterais, de escoamento de águas

pluviais. Nestas laterais forma-se, também, um “cordão” branco, devido ao

algodão caído das carrocerias de transporte.

Isso ocorre, pois, segundo Garçon (2004), nas áreas de fronteira agrícola do

“coração do país”, o cultivo chegou antes do asfalto, por isso,

a maior parte da produção cruza o país chacoalhando em caminhões. No trajeto para a costa, nas estradas mal conservadas, a trepidação do veículo faz com que uma quantidade equivalente a cerca de 3% de toda a safra se extravie [...] no treme-treme da viagem, os grãos e cereais simplesmente pulam tanto que acabam escapando do baú dos caminhões. Esse índice já pode estar na casa dos 5% nos trajetos do Centro-Oeste aos portos. Calcula-se que essas perdas tenham sido de R$ 1 bilhão no ano de 2004 (GARÇON, 2004).

Além do prejuízo, em relação à perda dos produtos em si, há o prejuízo

provocado aos proprietários dos caminhões e das carretas responsáveis pelo

transporte. A cada quilômetro percorrido depara-se com veículos estacionados,

com problemas diversos (pneus, rodas, amortecedores, eixos). Os proprietários

dos veículos têm seus lucros reduzidos em função da precariedade das rodovias.

Parte do que recebem é investido nos reparos exigidos pelas más condições

rodoviárias.

Soma-se a estes problemas os constantes assaltos que ocorrem nos trechos

onde as rodovias não permitem que os veículos transitem numa velocidade

superior a 30 quilômetros por hora. Aí, quadrilhas se aproveitam da baixa

velocidade para se aproximar dos veículos, fazer reféns os motoristas e roubar

veículos e cargas. Esta situação é corriqueira na rodovia BR 364, na altura dos

municípios de Jataí, Mineiros e Aparecida do Rio Doce; na BR 060, na altura do

município de Rio Verde e na BR 452, na altura dos municípios de Bom Jesus e

Itumbiara, dentre outras rodovias.

Page 127: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Os assaltos também são muito comuns a ônibus que transitam pela região no

período noturno. A cada semana, no mínimo, um ônibus é assaltado. A

impossibilidade de manter a velocidade na média necessária torna os veículos

vulneráveis à ação de quadrilhas que se especializaram em assaltos em regiões

de rodovias precárias.

Diante do custo elevado de manutenção das estradas rodoviárias e/ou da

construção de novas, as soluções buscadas têm sido investir no transporte

hidroviário e ferroviário no Centro-Oeste, uma forma de ampliar as possibilidades

de rendimento por meio da redução dos custos de produção e de transportes.

O transporte hidroviário tem sido apontado como a melhor, mais eficiente e

mais barata forma de escoar os produtos regionais, sobretudo a soja e seus

derivados destinados ao comércio exterior. A Hidrovia Paraná-Paraguai, no

pantanal matogrossense, tem sido veiculada enquanto proposta alternativa de

transporte no ramo. A hidrovia enquanto canal de escoamento da produção

agrícola centroestina, em especial da soja, surgiu dentro das articulações do

Mercosul, proposta pela Iniciativa de Integração de Infra-estrutura Regional Sul

Americana (IIRSA). O projeto foi abandonado em 1998 e deveria ter sido retomado

no início de 2004, porém a falta da realização e da apresentação dos relatórios

dos Estudos de Impacto Ambiental e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA/RIMA),

por parte do governo brasileiro, atrasou a retomada das obras (SILVA, 2004).

Outros dois projetos hidroviários que objetivam reduzir os custos dos

produtos agrícolas da Região Centro-Oeste são as hidrovias Tocantins - Araguaia

e do Tapajós, que encaminharão os produtos aos portos do Norte do Brasil,

também com o intuito de reduzir os custos com transporte.

Por outro lado, a construção de hidrovias vem sendo recebida com receio e

resistência por parte da sociedade regional. Segundo Silva (2004), a hidrovia

traduz uma concepção antiga e ultrapassada de manejo dos rios. Trata-se de uma

visão linear e fragmentada, na medida em que considera as navegações para fins

de transporte como o principal e prioritário uso do rio. A exclusão social e

ecossistêmica da rede integrada de sistemas ecológicos e sócio-cultural

Page 128: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

adjacentes ao rio é o principal problema/ prejuízo apontado como conseqüência,

em havendo a construção das hidrovias.

Outro projeto de expansão da capacidade de transporte dos produtos

agrícolas dos Cerrados é a retomada da construção da Ferronorte. Este projeto,

datado de 1989, ambiciona construir 5 mil quilômetros de ferrovia, ligando o

Centro-Oeste e a Amazônia Legal ao Sul do Brasil. A rota original da ferrovia

passa pelo estado do Mato Grosso, tendo nele entrado pelo Oeste Paulista, e vai

em direção a Rondônia. O projeto de expansão prevê a construção de um ramal

da ferrovia que passará pelos municípios de Jataí e Rio Verde, no Sudoeste de

Goiás, em direção a Uberlândia, indo se encontrar com os terminais da Ferroban e

da FCA, no Triângulo Mineiro (GEOCITES, 2003), conforme pode ser verificado no

mapa 04.

De acordo com informações publicadas no Geocites (2003),

a Ferronorte é considerada hoje a ferrovia mais moderna do mundo, construída a partir de tecnologia avançada, que emprega, entre outros itens, dormentes de concreto, mais duráveis e ecologicamente corretos. As suas composições são puxadas por modernas locomotivas Diesel – Elétricas, com capacidade de transportar volumes próximos a 10 mil toneladas, em vagões de alumínio, outra novidade que a ferrovia introduziu no país (GEOCITES, 2003).

Page 129: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mapa 04: Ferrovias no estado de Goiás.

Na Figura 18 vê-se ilustração da Ferronorte, no município de Chapadão do

Sul (MS).

Page 130: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 18: Trecho da Ferronorte (Chapadão do Sul – MS).

Fonte: L. Görgen, 2005.

3.2 Instalação do complexo agroindustrial da Perdigão no Sudoeste de Goiás.

A Perdigão é uma companhia de capital aberto, que, desde de 1994, é

controlada por um pool de fundos de pensão. A valorização dos seus ativos é

ampliada tendo em vista os esforços da companhia em melhorar a relação com os

investidores, por meio da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA)

(PERDIGÃO, 2005).

Baseada numa política de recuperação de renda, a Perdigão S.A. reforçou

seus investimentos na ampliação do mercado interno. A companhia tem buscado

ampliar as vendas de produtos de menor valor, elevando suas vendas nos

pequenos e médios varejos, o que aumenta o capital de giro da empresa.

Page 131: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Estas estratégias contribuíram para o crescimento das vendas e da receita,

que aumentaram substancialmente a partir do segundo semestre de 2003,

colaborando com uma redução de R$ 385,5 milhões da dívida líquida da empresa,

que passou de R$ 899,5 milhões no final de junho de 2003 a R$ 514 milhões em

igual data de 2004. Considerando, ainda, a crise aviária (gripe do frango) que

tomou conta do mercado asiático neste mesmo ano, este conjunto de fatores se

somou para que a ações da Perdigão S.A tivessem uma alta de 3,5% na Bovespa

(www.info.adpt.org.br).

Nessa estratégia de produção e comercialização, a instalação de três

complexos da Perdigão S.A no estado de Goiás parece ser fundamental para

aproximar a produção não apenas dos centros produtores de grãos, mas também

dos centros consumidores emergentes, tendo em vista que a região do Brasil

Central desponta como um novo pólo de desenvolvimento regional, urbano e

industrial. A empresa tem sua capacidade produtiva ampliada em virtude de

incentivos fiscais municipais e estaduais, da disposição regional para a atividade

agroindustrial, da mão-de-obra abundante e da suposta ausência de competidores

no ramo produtivo (idem).

Porém, quando se trata da ausência de competidores o quadro tende a

apresentar mudanças. No ano de 2004, a Sadia, principal concorrente da

Perdigão, adquiriu, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do

Centro-Oeste (FCO), a “Só Frango Produtos Alimentícios”, de Brasília. Os motivos

que embasaram este negócio são similares aos que levam a Perdigão a expandir

seu parque agroindustrial. A Sadia se interessou pela empresa tendo em vista a

proximidade das regiões produtoras de grãos e o elevado mercado consumidor

local de 3,5 milhões de consumidores, que juntamente com as vantagens de

financiamento oferecidas pelo FCO, fizeram com que se concretizasse a

transação comercial entre as duas empresas (ibidem).

Também, a Sadia concorreu com a Perdigão S. A. à compra da Frango Gale,

de Jataí. De uma proposta inicial de R$ 60 milhões, feita pela Perdigão, a

transação, efetuada na primeira semana de outubro, foi fechada, em prol da

mesma, em R$ 90 milhões, diante da concorrência estabelecida pela Sadia. De

Page 132: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

acordo com as intenções de produção da empresa, será feito um investimento de

mais R$ 200 milhões a fim de adequar a estrutura da antiga Frango Gale às sua

organização produtiva.

As negociações entre a Frango Gale e a Perdigão têm sido tratadas no

mais absoluto sigilo, o que faz surgirem diversas especulações. De acordo com a

“Folha do Sudoeste”, jornal de circulação regional, o valor da venda superou a

marca dos R$ 100 milhões e a nova empresa já inicia ampliando o abate para 370

mil aves/ dia e as jornadas de trabalho passam a 24 horas diárias (Folha do

Sudoeste, 2005).

No elo da cadeia produtiva, quando se trata dos produtores integrados à

Perdigão, estes, no ano de 2001, reclamaram o alongamento do prazo de

pagamento do financiamento. O prolongamento foi ampliado de um para três anos

de carência e de um para seis anos para pagamento. Entendemos esta solicitação

dos produtores como uma manifestação de que as facilidades no produzir e os

lucros alardeados não vieram no tempo e na proporção propagandeados.

3.2.1 Projeto Buriti: Rio Verde-GO.

No ano de 2003 foi inaugurada a unidade industrial de Rio Verde, no

Sudoeste de Goiás. Na realidade, as atividades em Rio Verde se acentuaram já

em 1998, quando foi implantado no município um centro de difusão genética,

sendo este um dos maiores centros de inseminação artificial do Brasil.

O projeto Buriti, em Rio Verde, constitui-se no principal investimento da

Perdigão nos últimos anos. A unidade construída é considerada um dos maiores

complexos agroindustriais do mundo, segundo Soares Filho (2002). A figura 19

apresenta a unidade agroindustrial da Perdigão em Rio Verde. Por meio de

fotografia aérea pode-se observar a grande e complexa estrutura da agroindústria.

Page 133: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 19: Vista aérea da unidade agroindustrial da Perdigão em Rio Verde (GO).

Fonte: Arquivos da Empresa, 2005.

A estratégia de localização tem a ver com o perfil produtivo da região, grande

produtora de grãos, e com a proximidade com os mercados emergentes nacionais.

Além disso a unidade de Rio Verde objetiva desconcentrar a produção das

unidades da Região Sul, que devem se especializar cada vez mais nas demandas

do mercado internacional.

De acordo com dados da empresa, o empreendimento foi dimensionado com

a capacidade de produzir 260 mil ton/ano de carnes, equivalentes a 25% da

capacidade total planejada da companhia e gerar um faturamento de cerca de R$

Page 134: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

1 bilhão a partir do ano de 2004. Já no primeiro ano de funcionamento (ainda

parcial), do total produzido pela unidade, 600 toneladas de carne de aves foram

exportadas para a União Européia e para o Japão. Do investimento total, de R$

700 milhões, R$ 412milhões partiram da própria companhia; o restante dos

investimentos foi feito pelos produtores rurais e transportadores integrados.

Segundo Secches (2004), a capacidade de abate da unidade de Rio Verde é

de 281.660 aves e de 3.520 suínos por dia. Além do mercado regional, os

produtos originados da unidade de Rio Verde são destinados aos mercados da

Espanha, Rússia, Alemanha, Holanda, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Hong

Kong e Japão.

Ao final, tem-se, atualmente, uma das maiores companhias de alimentos da

América Latina instalada em Rio Verde, no Sudoeste de Goiás, com uma

capacidade de abate diário de 281 mil frangos e 3.500 suínos (SOARES FILHO,

2002), onde a padronização dos equipamentos e o controle automático da

alimentação e do clima garantem o padrão de qualidade dos produtos.

A companhia goza de privilégios fiscais e financeiros em diversos setores.

Argumentando ser necessário buscar melhorias na infra-estrutura da cidade, a

mesma firmou uma parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico Social (BNDES), na qual para cada real investido pela Perdigão em

benefícios sociais em Rio Verde, o BNDES aplica outro na forma de redução dos

juros. A Prefeitura Municipal colaborou com a cessão de terrenos para a

construção do complexo e ainda operacionaliza diversas ações e garante a

manutenção dos projetos.

O BNDES tem sido um dos maiores investidores na economia do estado de

Goiás. O quadro 05 apresenta os números dos investimentos aplicados no estado

de Goiás pelo BNDES nos anos de 1992, 2000, 2001 e 2002, nota-se que, dos

investimentos realizados, a maior parte tem sido direcionada para a agricultura e/

ou para os setores de comércio e serviços a ela vinculados.

Page 135: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Quadro 05: Investimentos do BNDES (desembolso de recursos) no estado de Goiás (1999, 2000, 2001 e 2002).

(R$ mil) Goiás

Especificação 1999 2000 2001 2002 Variação (%) 1999/2002

Agropecuária 75.603 136.549 167.397 291.804 285,97 Indústria extrativa 301 365 1.158 1.529 407,97

Indústria de transformação 205.553 170.797 161.657 125.504 -38,94

Comércio/ serviços 191.689 260.276 82.037 593.164 209,44

Op. no mercado secundário - - - - -

Total 473.146 567.987 412.249 1.012.001 113,89 Fonte: BNDES, ano 2002, apud SEPLAN-GO/ SEPIN. Gerência de Estatísticas Socioeconômicas,

2003. Adaptação e organização: Ribeiro, 2005.

3.2.1.1 Custos de produção do Complexo Buriti Perdigão Agroindustrial S.A/ Rio Verde-GO.

Os investimentos da Perdigão S.A no Complexo Buriti, em Rio Verde,

justificam-se tendo em vista fatores de logística, de financiamentos e de custo de

produção conforme já tratado anteriormente.

Aqui vamos nos ater a explicitar os índices que denotam a redução dos

custos de produção, como os custos da alimentação e a conversão alimentar dos

animais, nesta unidade de produção em relação a outras unidades da empresa.

Os dados aqui apresentados foram disponibilizados pela Perdigão

Agroindustrial S.A., unidade de Rio Verde, e permitem uma comparação entre os

custos de produção desta unidade e as unidades de Videira (SC), Herval D’Oeste

(SC), Marau (RS), Carambeí (PR) e Catanduvas (PR).

Os gráficos 07, 08 e 09 demonstram o custo de produção da ração e o

custo do milho e do farelo de soja consumido nas unidades de Rio Verde (GO),

Videira (SC), Marau (RS), Carambeí (PR) e Catanduvas (PR). Nota-se que em Rio

Page 136: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Verde o custo de produção da ração é acentuadamente menor do que nas outras

unidades. O custo do milho e do farelo de soja consumido, em média, também é

bem menor em Rio Verde, mesmo sendo superado em alguns períodos por outras

unidades.

Gráfico 07: Custo de produção da ração – R$/KG.

0,3300

0,3500

0,3700

0,3900

0,4100

0,4300

0,4500

0,4700

0,4900

0,5100

0,5300

0,5500

Videira/ SC

Catanduvas/PRMarau/ RS

Carambeí/ PR

Rio Verde/ GO

Videira/ SC 0,4944 0,4771 0,4453 0,4606 0,4495 0,4472 0,4327 0,4326 0,4117 0,4405 0,4715 0,4476 0,4435

Catanduvas/ PR 0,4986 0,4743 0,4426 0,4587 0,4407 0,4317 0,4241 0,3984 0,4006 0,4362 0,4262 0,4162 0,4241

Marau/ RS 0,5204 0,4917 0,4641 0,4776 0,4522 0,4279 0,4288 0,4220 0,4202 0,4364 0,4574 0,4350 0,4322

Carambeí/ PR 0,5415 0,5289 0,5086 0,4890 0,4687 0,4546 0,4369 0,4261 0,4238 0,4370 0,4749 0,4784 0,4605

Rio Verde/ GO 0,4347 0,4337 0,3995 0,4071 0,3948 0,3723 0,3673 0,3677 0,3441 0,3494 0,3497 0,3641 0,3687

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005

Page 137: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 08: Custo do milho consumido - R$ /KG.

0,2400

0,2500

0,2600

0,2700

0,2800

0,2900

0,3000

0,3100

0,3200

0,3300

0,3400

Videira/ SC

Catanduvas/PR

Marau/ RS

Carambeí/ PR

Rio Verde/ GO

Videira/ SC 0,3324 0,3067 0,2953 0,2944 0,2884 0,2848 0,2757 0,2676 0,2626 0,3033 0,3332 0,3158 0,3146

Catanduvas/PR 0,3233 0,2955 0,2787 0,2890 0,2806 0,2857 0,2814 0,2656 0,2630 0,3001 0,3239 0,3065 0,3043

Marau/ RS 0,3376 0,3061 0,3007 0,3100 0,3002 0,2784 0,2646 0,2414 0,2824 0,3014 0,3236 0,3144 0,3101

Carambeí/ PR 0,3160 0,2889 0,2890 0,2892 0,2749 0,2699 0,2654 0,2537 0,2482 0,2658 0,3078 0,3104 0,2985

Rio Verde/ GO 0,2534 0,2629 0,2650 0,2649 0,2669 0,2633 0,2708 0,2639 0,2545 0,2520 0,2536 0,2571 0,2585

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Page 138: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 09: Custo do farelo de soja consumido – R$ / KG.

0,3600

0,3900

0,4200

0,4500

0,4800

0,5100

0,5400

0,5700

0,6000

0,6300

0,6600

0,6900

Videira/ SC

Catanduvas/ PR

Marau/ RS

Carambeí/ PR

Rio Verde/ GO

Videira/ SC 0,6213 0,6124 0,5152 0,5680 0,5460 0,5347 0,5090 0,4896 0,4670 0,4670 0,5205 0,4950 0,4873Catanduvas/ PR 0,6583 0,6551 0,5821 0,5391 0,5232 0,4964 0,4704 0,4262 0,4623 0,5094 0,4835 0,4638 0,4966Marau/ RS 0,6277 0,5923 0,5228 0,5442 0,4662 0,4602 0,4486 0,4633 0,4275 0,4748 0,4979 0,4518 0,4527Carambeí/ PR 0,6717 0,6876 0,6339 0,5633 0,5234 0,5207 0,4750 0,4550 0,4542 0,4562 0,4793 0,4863 0,4672Rio Verde/ GO 0,5981 0,6037 0,4782 0,4695 0,4487 0,4050 0,3845 0,4118 0,3793 0,4057 0,4082 0,3859 0,4004

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005. Numa comparação com as demais unidades de produção, a unidade de Rio

Verde apresenta menores custos de produção em virtude de seus custos

específicos terem obtido redução ao longo do último ano. O gráfico 10 demonstra

que os custos da fábrica de rações em Rio Verde sofreuram queda substancial no

farelo de soja, mantendo-se relativamente estável quanto ao milho e ao sorgo a

granel. Como o primeiro é a principal matéria – prima na elaboração da ração,

esta também sofreu redução no seu custo de produção.

Page 139: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Diante disso, pode-se notar por meio do gráfico 11 que o custo de produção

da ração para todos os segmentos (leitões, frangos, sistema vertical terminação –

SVT) obteve redução significativa na unidade de Rio Verde.

Gráfico 10: Custos da fábrica de rações na unidade de Rio Verde – R$/KG.

0,1000

0,2000

0,3000

0,4000

0,5000

0,6000

0,7000

Farelo de Soja

Ração

Milho

Sorgo a Granel

Farelo de Soja 0,5981 0,6037 0,4782 0,4695 0,4487 0,4050 0,3845 0,4118 0,3793 0,4057 0,4082 0,3859 0,4004

Ração 0,4347 0,4337 0,3995 0,4071 0,3948 0,3723 0,3673 0,3677 0,3441 0,3494 0,3497 0,3641 0,3687

Milho 0,2534 0,2629 0,2650 0,2679 0,2669 0,2633 0,2708 0,2639 0,2545 0,2520 0,2536 0,2571 0,2588

Sorgo a Granel 0,1846 0,1747 0,1720 0,1733 0,1745 0,1777 0,1698 0,1720 0,1750 0,1872 0,1956 0,1856

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Page 140: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 11: Custo da produção de rações na unidade de Rio Verde – R$ / KG.

0,3000

0,3300

0,3600

0,3900

0,4200

0,4500

0,4800

0,5100

0,5400

0,5700

0,6000

0,6300

0,6600

0,6900

Sistema Vertical TerminaçãoFrangosLeitõesTotal

Sistema Vertical Terminação 0,4329 0,4197 0,3729 0,3822 0,3615 0,3460 0,3402 0,3414 0,3193 0,3111 0,3081 0,3312 0,3363

Frangos 0,4349 0,4393 0,4098 0,4133 0,4053 0,3771 0,3744 0,3744 0,3495 0,3596 0,3629 0,3743 0,3818

Leitões 0,6324 0,6773 0,6432 0,6792 0,6816 0,6245 0,6153 0,6031 0,5829 0,6098 0,6233 0,6196 0,6229

Total 0,4347 0,4337 0,3995 0,4071 0,4071 0,3723 0,3673 0,3677 0,3441 0,3494 0,3497 0,3641 0,3687

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

A redução dos custos da ração permite que os custos de produção do

Complexo Buriti Perdigão Agroindustrial S.A. também sejam menores em relação

às demais unidades. Isso pode ser notado tanto no caso dos suínos quanto das

aves.

No caso do Sistema Vertical Terminação (SVT), a fase final de formação

dos suínos, nota-se o menor custo de produção (gráfico 12), sendo que para tal a

participação da ração, com custo de produção reduzido, é elemento

preponderante (gráfico 13).

Page 141: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 12: Custo de Produção do Sistema Vertical Terminação.

1,5800

1,6200

1,6600

1,7000

1,7400

1,7800

1,8200

1,8600

1,9000

Videira/SC

Herval D´Oeste/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 1,8252 1,8014 1,7859 1,7882 1,7987 1,7852 1,7858 1,8050 1,7905 1,7778 1,8944 1,8862 1,8756

Herval D´Oeste/SC 1,7470 1,7265 1,7370 1,7558 1,7335 1,7094 1,7391 1,7341 1,7110 1,7358 1,8229 1,8491 1,8302

Marau/RS 1,7640 1,7672 1,7324 1,7188 1,7636 1,7592 1,7482 1,7612 1,7609 1,7775 1,8954 1,8503 1,8518

Carambeí/PR 1,7803 1,7588 1,7712 1,8013 1,7662 1,7542 1,7514 1,6737 1,6209 1,6167 1,6775 1,7132 1,7056

Rio Verde/GO 1,7384 1,7400 1,7023 1,6823 1,6864 1,6808 1,6808 1,6566 1,6684 1,6352 1,6170 1,6208 1,6517

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Page 142: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 13: Participação unitária da ração no custo do Sistema Vertical Terminação.

0,7000

0,7300

0,7600

0,7900

0,8200

0,8500

0,8800

0,9100

0,9400

0,9700

1,0000

1,0300

1,0600

1,0900

Videira/SC

Herval D´Oeste/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 1,0339 1,0177 0,9669 0,9569 0,9380 0,9161 0,8869 0,8529 0,8208 0,8064 0,8980 0,8953 0,8832

Herval D´Oeste/SC 1,0194 0,9689 0,9389 0,9129 0,8830 0,8449 0,8189 0,7946 0,7516 0,7474 0,8258 0,8280 0,8313

Marau/RS 1,0320 0,9993 0,9496 0,9037 0,9167 0,8944 0,8521 0,8159 0,8053 0,7905 0,9037 0,8713 0,8763

Carambeí/PR 1,0861 1,0555 1,0411 1,0446 1,0370 1,0088 0,9667 0,9213 0,8778 0,8659 0,9221 0,9402 0,9394

Rio Verde/GO 0,9728 0,9683 0,9168 0,8782 0,8536 0,8220 0,8045 0,7982 0,7888 0,7493 0,7318 0,7271 0,7660

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

A conversão alimentar do SVT também é mais eficiente em Goiás do que

nos demais estados, conforme pode ser conferido no gráfico 14 e o peso final dos

animais em Rio Verde é maior do que nas demais unidades da Perdigão

Agroindustrial S.A., de acordo com os dados apresentados no gráfico 15.

Page 143: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 14: Conversão Alimentar do Sistema Vertical Terminação.

2,450

2,500

2,550

2,600

2,650

2,700

2,750

2,800

2,850

2,900

2,950

Videira/SC

Herval D´Oeste/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 2,778 2,728 2,727 2,731 2,718 2,695 2,684 2,668 2,657 2,635 2,584 2,628 2,661

Herval D´Oeste/SC 2,769 2,712 2,728 2,730 2,704 2,682 2,670 2,657 2,572 2,544 2,545 2,663 2,718

Marau/RS 2,739 2,690 2,642 2,588 2,604 2,597 2,583 2,514 2,517 2,470 2,517 2,556 2,669

Carambeí/PR 2,833 2,741 2,799 2,877 2,919 2,917 2,845 2,784 2,706 2,667 2,644 2,702 2,735

Rio Verde/GO 2,700 2,756 2,748 2,751 2,734 2,731 2,759 2,795 2,816 2,784 2,787 2,788 2,833

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Gráfico 15: Peso Final do Sistema Vertical Terminação.

106,00

107,00

108,00

109,00

110,00

111,00

112,00

113,00

114,00

115,00

116,00

117,00

Videira/SC

Herval D'Oeste/SC

Marau/RSCarambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 106,94 109,21 107,06 113,13 112,22 112,44 111,41 112,26 113,21 114,78 112,63 112,21 109,67

Herval D'Oeste/SC 115,67 112,08 112,79 111,21 114,83 113,63 111,68 116,40 114,11 114,62 114,14 113,44 112,09

Marau/RS 116,14 113,29 115,41 115,55 115,76 114,73 115,67 115,05 115,30 114,85 114,37 114,08 110,16

Carambeí/PR 112,92 111,87 107,65 108,75 111,26 109,36 108,49 110,01 109,68 109,70 110,29 110,25 110,90

Rio Verde/GO 114,06 113,44 113,62 112,72 111,54 110,74 112,03 114,24 115,08 114,84 115,15 114,91 115,37

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Page 144: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Porém, a unidade de Rio Verde apresenta uma desvantagem, que tem

importância considerável, em relação às demais unidades, que é o índice de

mortalidade do SVT. Em Rio Verde tem-se os maiores índices dentre todas as

unidades de produção,conforme pode ser verificado no gráfico 16.

Gráfico 16: Percentual de mortalidade do Sistema Vertical Terminação.

1,00%

1,25%

1,50%

1,75%

2,00%

2,25%

2,50%

2,75%

3,00%

3,25%

3,50%

3,75%

Videira/SC

Herval D´Oeste/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 3,36% 3,00% 2,78% 2,79% 3,14% 2,76% 3,09% 2,87% 2,44% 2,66% 2,94% 2,49% 2,86%

Herval D´Oeste/SC 1,95% 2,22% 2,22% 2,32% 2,03% 2,00% 2,18% 2,09% 2,33% 2,05% 2,08% 2,33% 2,72%

Marau/RS 2,04% 1,84% 2,09% 2,17% 2,08% 2,11% 1,76% 2,42% 1,69% 1,52% 1,52% 1,71% 1,69%

Carambeí/PR 2,39% 1,89% 2,03% 2,71% 2,77% 2,41% 2,18% 2,35% 2,58% 2,10% 2,02% 1,88% 2,19%

Rio Verde/GO 2,06% 2,58% 2,16% 2,19% 2,12% 2,42% 2,64% 2,77% 3,46% 3,57% 3,16% 3,01% 2,95%

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Um outro elemento desvantajoso, ainda em relação à produção de suínos,

para a unidade de Rio Verde, é o custo de produção do leitão, que nesta unidade

é maior do que na unidade de Carambeí (PR), conforme apresentado no gráfico

17.

Page 145: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 17: Custo da produção de leitão.

52,0000

56,0000

60,0000

64,0000

68,0000

72,0000

76,0000

80,0000

84,0000

88,0000

92,0000

96,0000

100,0000

Videira/SC

Herval D´Oeste/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 70,5775 73,4332 79,7558 84,9430 82,8077 85,2858 93,7583 94,5603 94,7251 96,1439 92,2022 80,2961 76,7105

Herval D´Oeste/SC 72,1488 75,7462 81,1326 86,2286 83,7362 86,4827 96,3904 97,2318 96,7118 97,3056 93,6345 82,0466 79,9626

Marau/RS 74,3228 76,2625 80,9656 86,2597 82,8487 84,8263 96,2929 96,2081 96,6285 97,2083 93,0295 80,7574 78,2190

Carambeí/PR 58,1945 57,6182 60,1110 58,0692 56,1745 55,5852 56,2785 56,8604 55,7237 57,7666 63,7859 67,4591 64,4289

Rio Verde/GO 65,6387 67,0927 71,6271 74,4209 74,3673 74,1782 77,4921 77,2032 77,3686 77,0573 76,8427 73,3235 72,1419

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

No que tange à produção de aves a situação de produção não é tão

favorável e vantajosa em relação às demais unidades, como a produção de

suínos.

Quanto ao custo de produção do pinto de um dia, nota-se que a média

obtida está acima da meta pré-fixada para a unidade de Rio Verde, conforme pode

ser verificado no gráfico 18, porém, ainda assim, possui um custo mais elevado do

que Videira (SC), Carambeí (PR) e Marau (RS).

Page 146: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 18: Custo de produção do pinto de um dia.

0,3200

0,3300

0,3400

0,3500

0,3600

0,3700

0,3800

0,3900

0,4000

0,4100

0,4200

Videira/SC

Catanduvas/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Meta RioVerde/GO

Videira/SC 0,3964 0,3859 0,3694 0,3714 0,3609 0,3586 0,3508 0,3477 0,3381 0,3527 0,3591 0,3680 0,3824

Catanduvas/SC 0,3707 0,3511 0,3442 0,3597 0,3498 0,3459 0,3515 0,3371 0,3311 0,3291 0,3497 0,3505 0,3431

Marau/RS 0,4018 0,4017 0,3953 0,3823 0,3803 0,3747 0,3718 0,3727 0,3702 0,3788 0,3926 0,3645 0,3683

Carambeí/PR 0,4185 0,4027 0,3917 0,3867 0,3843 0,3882 0,3812 0,3678 0,3670 0,3830 0,3749 0,3675 0,3578

Rio Verde/GO 0,3724 0,3718 0,3763 0,3863 0,3858 0,3618 0,3628 0,3733 0,3756 0,3659 0,3625 0,3497 0,3553

Meta Rio Verde/GO 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600 0,3600

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Quando se trata do custo de produção do frango vivo, este é

consideravelmente menor em Rio Verde do que nas demais unidades de produção

(gráfico 19), diferentemente do pinto de um dia. Porém, sua conversão alimentar é

superada pelas unidades de Herval D’Oeste (SC) e de Marau (RS) (gráfico 20), da

mesma forma que seu peso médio também é maior nestas duas unidades do que

na unidade de Rio Verde, conforme ilustrado no gráfico 21.

Page 147: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 19: Custo de produção do frango vivo.

1,0400

1,0800

1,1200

1,1600

1,2000

1,2400

1,2800

1,3200

1,3600

1,4000

Videira/SC

Catanduvas/PR

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/SC 1,3214 1,2936 1,2377 1,2387 1,2420 1,2176 1,2203 1,2033 1,1685 1,1476 1,2335 1,2051 1,1870

Catanduvas/PR 1,3230 1,2669 1,2281 1,2301 1,2081 1,1965 1,1871 1,1768 1,1352 1,1290 1,1960 1,1403 1,1368

Marau/RS 1,3348 1,3050 1,2491 1,2334 1,1976 1,1642 1,1406 1,1537 1,1214 1,0985 1,1909 1,1488 1,1377

Carambeí/PR 1,3904 1,3496 1,3418 1,3056 1,2480 1,2335 1,2197 1,1995 1,2123 1,2079 1,2682 1,2759 1,2857

Rio Verde/GO 1,2090 1,1838 1,1655 1,1618 1,1637 1,1012 1,0880 1,0883 1,0830 1,0612 1,0889 1,1045 1,0866

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Gráfico 20: Conversão alimentar do frango vivo.

1,550

1,600

1,650

1,700

1,750

1,800

1,850

1,900

1,950

2,000

2,050

Videira/ SC

Herval D´Oeste/ SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/ SC 1,670 1,660 1,653 1,683 1,650 1,699 1,698 1,699 1,690 1,650 1,605 1,628 1,658

Herval D´Oeste/ SC 1,910 1,871 1,884 1,914 1,888 1,943 1,939 1,991 1,952 1,903 1,888 1,888 1,849

Marau/RS 1,917 1,901 1,897 1,915 1,866 1,899 1,900 1,952 1,902 1,869 1,849 1,819 1,843

Carambeí/PR 1,738 1,753 1,784 1,799 1,739 1,741 1,733 1,764 1,751 1,727 1,686 1,658 1,667

Rio Verde/GO 1,777 1,794 1,822 1,802 1,784 1,751 1,752 1,808 1,804 1,799 1,790 1,826 1,782

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Page 148: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 21: Peso médio do frango vivo.

1,3800

1,4800

1,5800

1,6800

1,7800

1,8800

1,9800

2,0800

2,1800

2,2800

2,3800

2,4800

2,5800

2,6800

2,7800

Videira/ SC

Herval D´Oeste/SC

Marau/RS

Carambeí/PR

Rio Verde/GO

Videira/ SC 1,4306 1,4364 1,4282 1,5271 1,4326 1,4858 1,4510 1,4818 1,4641 1,4729 1,4726 1,4789 1,5071

Herval D´Oeste/SC 2,6525 2,5943 2,5943 2,5624 2,6332 2,6332 2,6268 2,6115 2,6137 2,6604 2,7166 2,7483 2,6751

Marau/RS 2,4147 2,4811 2,4659 2,5545 2,5380 2,5394 2,4487 2,4896 2,5351 2,5375 2,6052 2,5566 2,5270

Carambeí/PR 1,5238 1,6091 1,6599 1,6606 1,5498 1,5061 1,4766 1,4824 1,4521 1,4533 1,4484 1,4590 1,4530

Rio Verde/GO 2,0901 2,0717 2,1036 1,9942 1,9955 2,0374 1,9712 2,0631 2,0206 1,9750 1,9350 1,9524 2,0027

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Quanto à produção de ovos a unidade de Rio Verde obtém o menor custo

de produção, sendo que este custo aumenta quando a produção dos ovos é

realizada por terceiros, conforme pode ser verificado nos gráficos 22 e 23.

Page 149: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 22: Custo de produção do ovo próprio.

0,2240

0,2310

0,2380

0,2450

0,2520

0,2590

0,2660

0,2730

0,2800

0,2870

0,2940

0,3010

0,3080

0,3150

0,3220

0,3290

Videira/ SC

Herval D'Oeste/SC

Marau/ RS

Rio Verde/ GO

Videira/ SC 0,2499 0,2420 0,2509 0,2397 0,2385 0,2356 0,2276 0,2254 0,2606 0,2304 0,2397 0,2762 0,2521

Herval D'Oeste/SC 0,3235 0,3037 0,2727 0,2702 0,2530 0,2760 0,2496 0,2646 0,2607 0,2739 0,2814 0,2762 0,2811

Marau/ RS 0,2898 0,2764 0,2641 0,2694 0,2629 0,2695 0,2625 0,2679 0,2834 0,2827 0,2800 0,2453 0,2585

Rio Verde/ GO 0,2659 0,2496 0,2713 0,2532 0,2406 0,2425 0,2594 0,2388 0,2531 0,2398 0,2319 0,2393 0,2490

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Page 150: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 23: Custo de produção do ovo produzido por terceiros.

0,2250

0,2300

0,2350

0,2400

0,2450

0,2500

0,2550

0,2600

0,2650

0,2700

0,2750

0,2800

Videira/ SC

Herval D'Oeste/SC

Marau/ RS

Rio Verde/ GO

Videira/ SC 0,2764 0,2600 0,2562 0,2543 0,2512 0,2513 0,2468 0,2402 0,2474 0,2480 0,2557 0,2609 0,2650

Herval D'Oeste/SC 0,2505 0,2483 0,2534 0,2550 0,2505 0,2471 0,2452 0,2297 0,2396 0,2434 0,2520 0,2452 0,2430

Marau/ RS 0,2686 0,2660 0,2551 0,2603 0,2573 0,2475 0,2473 0,2527 0,2572 0,2473 0,2550 0,2556 0,2516

Rio Verde/ GO 0,2570 0,2700 0,2647 0,2750 0,2652 0,2603 0,2682 0,2566 0,2523 0,2514 0,2490 0,2532 0,2538

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Em relação ao aproveitamento dos ovos, a unidade de Rio Verde apresenta

um índice de aproveitamento substancialmente mais elevado do que as demais

unidades de produção (gráfico 24), fazendo com que, embora o custo de produção

de ovos por terceiros seja maior, ainda assim, ao final, tenha-se maiores

condições de lucratividade.

Page 151: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Gráfico 24: Percentual de aproveitamento de ovos.

93,50

94,00

94,50

95,00

95,50

96,00

96,50

97,00

97,50

Videira/ SC

Herval D'Oeste/ SC

Marau/ RS

Rio Verde/ GO

Videira/ SC 96,49 96,35 95,58 96,04 96,25 95,14 95,29 95,85 95,47 95,40 96,24 95,51 95,00Herval D'Oeste/ SC 95,88 95,50 95,01 94,72 93,73 94,44 94,26 94,70 94,73 94,99 95,05 95,34 95,69Marau/ RS 94,60 95,05 95,15 94,40 94,61 94,57 94,62 94,47 95,20 96,03 95,58 94,82 95,34Rio Verde/ GO 96,51 96,66 96,07 95,97 96,54 97,04 97,11 96,51 96,88 96,35 96,54 96,83 97,19

jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Fonte: Perdigão, 2005.

Pode-se concluir, então, que embora em algumas variáveis a unidade de

Rio Verde possua desvantagens em relação a outras unidades produtivas, no

cômputo geral aquela unidade apresenta atualmente melhores e maiores

condições de lucratividade à Perdigão Agroindustrial S.A. Tais condições derivam

Page 152: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

de um conjunto de fatores que vão do baixo custo da ração, à infra – estrutura e à

organização do trabalho, aos benefícios fiscais e à fragilidade das leis ambientais

e trabalhistas.

3.2.2 Projeto Araguaia: Mineiros-GO.

Um ano após a inauguração do Complexo Buriti, em Rio Verde, a Perdigão

começou a trabalhar na ampliação de seus investimentos visando implantar no

município de Mineiros, o Complexo Araguaia, especializado no abate e

processamento de peru e chester, consideradas “aves pesadas”. Prevê-se a

construção de dois abatedouros, um incubatório, uma fábrica de ração e um

Centro de Distribuição. O ano de 2006 está marcado para o início das atividades,

buscar-se-á o máximo funcionamento até 2008.

Do investimento total de R$ 510 milhões, cerca de R$ 240 milhões serão

recursos da empresa, que terá financiamento do Programa de Crédito Especial

para Investimentos do Governo de Goiás, ao passo que os outros R$ 270 milhões

serão aplicados pelos produtores parceiros na implantação do Sistema de

Integração da Perdigão.

O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) aprovou

a liberação de recursos para a construção e instalação do Projeto Araguaia em

Mineiros. Ainda, a Prefeitura Municipal de Mineiros doou uma área de 121

hectares para as instalações do complexo, além de outra área de 989 hectares

onde a empresa se compromete a realizar reflorestamento, cumprindo normas

ambientais. O poder público municipal está empenhado na elaboração e

desenvolvimento de todos os instrumentos necessários para o funcionamento da

unidade da Perdigão, principalmente no que tange à recuperação das vias de

transportes instaladas no território municipal. O município é servido por duas

rodovias federais e duas estaduais (www.icepa.com.br).

A Perdigão objetiva aumentar a sua capacidade produtiva e, dessa forma,

ampliar suas vendas no mercado nacional e internacional. Sendo Mineiros um

Page 153: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

expoente produtor de grãos, isso serve como estímulo para a implantação do

complexo, que deverá consumir 210 mil toneladas de milho e 120 mil toneladas de

farelo de soja por ano.

Segundo declaração do presidente da Perdigão Nildemar Secches (2004), os

fatores que levaram a Perdigão para Mineiros são, principalmente, a

“disponibilidade de grãos, a mão-de-obra abundante, o clima favorável para as

atividades da empresa e a segurança sanitária”.

Segundo Secches (2004), o Projeto Araguaia contará com 207 produtores

parceiros, gerará 2 mil empregos diretos e 6 mil empregos indiretos no município e

na região. Dentre os 2 mil empregos diretos previstos pelo complexo, 700 virão

dos produtores integrados e 1.300 da própria indústria. A companhia busca com

esta medida de expansão abrir novos mercados e reaquecer o mercado interno a

partir de uma política sustentável de recuperação de renda.

Mineiros está localizada no extremo Sudoeste do estado de Goiás, no

caminho que leva a Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul; desta, dista

550 Km e de Goiânia 420 Km. O município possui área de 8.896 Km2, com uma

população de 45 mil habitantes, com renda média per capita de R$ 810,25.

Mineiros está a 120 Km de Jataí e a 200 Km de Rio Verde, ao mesmo tempo em

que está no eixo de acesso a outros mercados emergentes em direção ao oeste.

Além da expansão do Projeto Araguaia em Mineiros, a compra da Frango

Gale consolida a instalação de um terceiro complexo da Perdigão no Sudoeste de

Goiás, na cidade de Jataí, que localiza-se entre Rio Verde e Mineiros. As três

cidades estão situadas num intervalo de 180 quilômetros, sendo Rio Verde

distante 80 quilômetros de Jataí, e esta 100 quilômetros de Mineiros.

Dessa forma, a Perdigão S.A. consolida o seu complexo agroindustrial em

meio à maior produção de grãos do estado de Goiás, o que aumenta a vantagem

em termos de custo de produção devido ao baixo custo na produção de ração.

Page 154: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

3.3 Financiamentos via FCO para a Perdigão S/A.

Soma-se aos baixos custos da ração a oportunidade de captar economias de

escala na produção e a redução dos custos de transação na instalação deste

porte de empreendimento em Goiás. Helfand e Rezende (2003) afirmam que essa mudança “tecnológica e

institucional” não é passível de ocorrer no Sul. Daí a busca de espaços na região

Centro-Oeste que ofereçam condições outras que não apenas o baixo preço da

ração.

Em primeiro lugar, a mudança para o Centro-oeste permite às grandes empresas começarem do zero no redesenho das instituições de integração. Em segundo lugar, a estratégia de relocalização tem a vantagem adicional de evitar os custos que poderia ser um processo penoso politicamente explosivo de ajustamento no Sul. Em terceiro lugar, as políticas públicas podem estar favorecendo o Centro-Oeste. O Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) beneficia investimentos nesta região relativamente ao Sul, e incentivos fiscais num nível estadual estão também induzindo as empresas a se expandirem no Centro-oeste. É possível que, além disso, restrições ambientais relacionadas com o odor, com a poluição da água e com o manejo dos dejetos estimulem mais ainda o abandono das regiões mais densamente povoadas do Sul (HELFAND; REZENDE, 2003, p. 50).

Dos fatores apresentados a disponibilização de recursos do FCO tem tido

papel preponderante.

O FCO foi criado pelo governo federal em 1989 e oferece financiamentos

com juros e prazos diferenciados tendo como base, para tal diferenciação, o

tamanho do projeto e/ou propriedade. Os projetos a serem financiados devem ter

a aprovação do Conselho Deliberativo do FCO (Condel/FCO); uma vez aprovados

nesta instância o Banco do Brasil deve liberar os recursos desde que os projetos

estejam em consonância com o “Plano Regional de Desenvolvimento” de cada

estado (www.seplan.go.gov.br). Diversas áreas podem ser contempladas pelos

recursos do FCO. A agropecuária, a indústria e o turismo são as que mais têm

recebido benefícios, com destaque para as atividades rurais e/ou agroindustriais.

Page 155: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Para a liberação dos recursos há uma exigência no que tange à localização do

empreendimento, que deve estar situado no Centro-Oeste, o que não impede que

o produtor e/ou o empresário tenham origem e/ou residência em outra região.

Um dos segmentos que mais têm se beneficiado dos recursos do FCO no

Sudoeste de Goiás é a suinocultura. Na safra de 2000/2001 o FCO liberou, via

Banco do Brasil, R$ 3,2 milhões para este segmento produtivo em toda a região

Centro-Oeste (idem). O Programa de Desenvolvimento de Sistemas de Integração

Rural tem beneficiado este segmento com financiamentos de empreendimentos

agropecuários, seja instalação ou ampliação, pautados no direcionamento do

processo produtivo para uma unidade integradora. É com a liberação de recursos

para este segmento que a Perdigão mais se beneficia.

O prazo para quitação total dos financiamentos efetuados pelo FCO é de até

12 anos, podendo-se adicionar um período de carência de até 03 anos. Os juros

cobrados variam de 6% a.a. para o micro produtor/empresário a 10,75% a.a. para

o grande produtor/empresário (ibidem).

O projeto de instalação do novo complexo agroindustrial da Perdigão S.A. na

cidade de Mineiros também conta com incentivos do FCO. Os recursos serão

disponibilizados para que os produtores integrados possam cumprir a cota de R$

270 milhões a serem investidos por eles na construção de 200 módulos de

produção (www.seplan.go.gov.br) .

Além do FCO, outra modalidade de crédito vem sendo liberada para os

produtores e empresários da região Centro-Oeste. Foi criada, pelo Banco do

Brasil, uma nova opção de crédito que conta com recursos do Fundo de Amparo

ao Trabalhador (FAT) para complementar os recursos do FCO. Esta linha de

crédito é destinada aos pequenos e médios produtores rurais e empresas. Uma

outra modalidade de crédito, o FAT/Integrar, foi criado para implantar, ampliar,

modernizar ou relocalizar grandes empreendimentos na região Centro-Oeste.

No ano de 2004 a cidade de Rio Verde sediou a 27ª. reunião do Conselho

Deliberativo (ConDel) do FCO, que contou com a presença do Ministro da

Integração, Ciro Gomes, para discutir a liberação de recursos do FAT para o

Page 156: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fundo. Além das solicitações de financiamento, da ordem de R$ 20 milhões, feitos

pela Perdigão, foi feito, também, o pedido de R$ 40 milhões pela Mitsubishi

Automotores do Brasil, a serem investidos na unidade de Catalão, localizada no

Sudeste de Goiás (idem).

A seguir, o quadro 06, apresenta as contratações por programa com recursos

do FCO no período compreendido entre 1989 e novembro de 2002. Os números

apresentados referem-se ao estado de Goiás e à região Centro-Oeste, bem como

à participação dos recursos destinados a Goiás no cômputo geral da região. Pode-

se verificar que os programas rurais tiveram a maior quantidade de atendimento e

a maior soma de valor disponibilizado. Dentre os programas rurais subsidiados o

Programa Nacional de Financiamento à Agricultura Familiar (PRONAF) e o

Programa Nacional de Financiamento à Agricultura Familiar - Reforma Agrária

(PRONAF – RA) foram os que menos receberam recursos, o que demonstra o

pouco incentivo que os organismos oficiais têm dado à agricultura familiar e à

reforma agrária no estado de Goiás.

Page 157: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Quadro 06: Contratações por programa, com recursos do FCO no estado de Goiás e na região Centro-Oeste, no período de 1989 a novembro de 2002.

Goiás Centro-Oeste Goiás / Centro Oeste (%) Programa

Qtde Valor (R$ mil) Qtde Valor

(R$ mil) Qtde Valor

Empresarial 1.752 580.014 6.332 1.361.678 27.67 42,60Industrial 821 462.910 3.895 903.394 21,08 51,25Infra-estrutura 17 10.222 438 180.949 3,88 5,65Turismo 42 9.312 127 31.903 33,07 29,19Comércio/ serviços 872 97.570 1.872 245.432 46,58 39,75

Rural 43.799 1.442.536 184.196 4.200.323 23,78 34,34Rural/ integração 22.190 1.330.266 53.375 3.635.977 41,57 36,59PAPRA 10.893 37.032 86.280 253.064 12,63 14,63PRONAF – RA 4.795 51.016 15.680 171.635 30,58 29,72Pronatureza 5.914 23.459 28.846 133.848 20,50 17,53Giro/ Custeio 7 763 15 5.799 46,67 13,16Total 46.537 2.063.983 191.841 5.635.379 24,26 36,63Fonte: Banco do Brasil/FCO, 2003 apud SEPLAN-GO/SEPIN. Gerência de Estatísticas

Socioeconômicas, 2003. * valores atualizados pela TR, posição 30/11/2002. Adaptação e organização: Ribeiro, 2005.

Page 158: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

4. A AGRICULTURA REGIONAL E O ÔNUS SOCIAL.

Esta seção busca averiguar até que ponto o crescimento econômico

regional é viável socialmente, a que custas se mantém, quais são os grupos que

se beneficiam com ele, bem como quais os excluídos.

Embora os números do IDH – M apontem o crescimento dos índices de

desenvolvimento humano em todos os municípios da MRH, pesquisas de campo,

considerando outras variáveis além das tratadas pelo índice de mensuração

supracitado, tais quais violência, oferta e procura de emprego, demanda por

serviços sociais, segregação espacial, evidenciam uma realidade diferente

daquela sugerida pelo IDH – M.

O IDH, enquanto índice de mensuração, surgiu nos anos 1990, diante do

caráter restritivo do PIB, possibilitando mensurar o desenvolvimento humano e

econômico, captando uma realidade um pouco mais complexa já que considera

expectativa de vida, taxa de alfabetização, escolaridade e PIB per capita. Porém,

mesmo sendo menos restritivo do que o PIB, tal índice não é capaz de dar a real

dimensão do desenvolvimento humano do universo pesquisado.

Diante disso, partimos para a investigação de outras variáveis que

consideramos importantes para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento

nos “municípios da soja” do Sudoeste de Goiás. Por meio de tal pesquisa

corroboramos a tese de que o bônus econômico, resultado da agricultura em

curso na região, é privilégio de poucos; não há um correspondente social do

crescimento econômico verificado, ou seja, não há uma transferência de renda

para os setores da sociedade que não estão diretamente envolvidos com o setor

agroindustrial.

A frustração chega àqueles que ansiaram por melhorias na qualidade de

vida por meio da chegada do moderno e da implantação da rede comercial e

industrial de apoio à agricultura. Os empregos prometidos não chegaram, a

riqueza também não!

Page 159: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

4.1 Desenvolvimento agrícola e desenvolvimento rural.

No dizer de Carvalho Filho (2001) não se pode aceitar que desenvolvimento

rural signifique apenas modernização tecnológica e crescimento da produção.

Desenvolvimento inclui distribuição de renda e redução das desigualdades entre

pessoas e regiões.

Nesta perspectiva, vimos a importância de refletir sobre o significado do

crescimento da produção e da produtividade agrícola regional; se estas implicam

em desenvolvimento rural ou apenas em crescimento e desenvolvimento agrícola.

Para tal consideramos que haver desenvolvimento agrícola não significa,

necessariamente, que há ou que haverá desenvolvimento rural. Um exemplo

característico disso é o desenvolvimento agrícola brasileiro verificado nos anos

pós 1970, quando se acentuou o aumento dos índices de produção e de

produtividade na agricultura, via mecanização e industrialização do campo, ao

mesmo tempo em que se elevaram os índices de pobreza rural e urbana

decorrente da expulsão do trabalhador e dos pequenos proprietários das áreas

rurais29.

Assim, partimos da premissa de que os números do desenvolvimento

agrícola não são suficientes para afirmar o desenvolvimento rural e social de uma

dada região, já que não é possível avaliar e mensurar o desenvolvimento rural

sem um estudo integrado do desenvolvimento econômico e social.

Outra questão a ser considerada em qualquer estudo que prime pelo

desenvolvimento rural é não considerar que os destinos da agricultura já estejam

definitivamente traçados, já que uma vez aceita esta idéia não há esperança e

esforços no sentido de buscar uma outra possibilidade de prática agrícola.

Neste particular, se compormos com o pensamento, quase unânime,

de que o destino da agricultura brasileira “globalizada” é predominantemente caracterizado pela proliferação das cadeias alimentares, pela fusão de capitais, pela desnacionalização da indústria agroalimentar, pela difusão das tecnologias geneticamente sofisticadas

29 Sobre tal assunto ver Graziano da Silva (1982).

Page 160: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

monopolizadas por grandes empresas transnacionais e também pelo avanço de tecnologia mecânica altamente poupadora de mão-de-obra – haja vista o que vem ocorrendo com a introdução de máquinas em culturas tradicionalmente trabalho-intensivas (CARVALHO FILHO, 2001, p.196),

não encontraremos lugar para outro tipo de exploração agrícola que não esta,

integrada aos mercados internacionais, baseada na monocultura tipo exportação.

Diante disso, consideramos ser necessário ampliar a perspectiva de análise

para, assim, poder captar a realidade para além do desenvolvimento agrícola no

Sudoeste de Goiás.

4.2 A agricultura contemporânea: sinônimo de riqueza e de

desenvolvimento (?)

A agricultura contemporânea no Sudoeste de Goiás é reconhecida como

altamente avançada e considerada o dínamo do desenvolvimento econômico

regional pelo elevado grau de capital e tecnologia aplicadas. Ali existe um certo

deslumbramento quando se faz referência aos elevados índices de produção e de

produtividade alcançados, ao tamanho das áreas cultivadas, à frota de máquinas à

disposição dos produtores capitalizados, e aos lucros obtidos pelos mesmos,

dentre outros aspectos. A dinâmica que a agricultura “caificada” demanda e gera é

tida como sinônimo de riqueza e desenvolvimento.

Desta realidade nos interessa avaliar até que ponto este crescimento

econômico se traduz em desenvolvimento rural e social. Analisada pelo viés da

técnica e do capital a agricultura ali desenvolvida é altamente rentável e

promissora, no entanto envidamos nosso esforço de reflexão na tentativa de

identificar qual a qualidade ambiental, social e humana gerada por tal atividade

econômica.

A questão que se forma é se há uma compensação entre a riqueza e os

ganhos econômicos gerados e os transtornos e desequilíbrios ocasionados, estes

Page 161: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

manifestos, sobretudo, nas áreas urbanas, uma vez que a maior parte da renda

gerada não fica na região.

Em parte, esta realidade deve-se à condução que foi dada às políticas

públicas de incorporação dos Cerrados à agricultura moderna (assunto já tratado

no capítulo 2). Tais políticas mantiveram a terra concentrada, além de selecionar

quais produtores se integrariam ao modelo de exploração agrícola (sabe - se que

seleção vem acompanhada de exclusão). Considerando a dispensa de mão-de-

obra pelo uso intensivo de máquinas, a exclusão dos pequenos proprietários e a

manutenção da estrutura fundiária concentrada, a agricultura regional se

configurou em excludente e concentradora, seguindo o perfil das demais áreas

que já haviam passado por tal processo de transformação no país.

Sobre a dispensa de força de trabalho e o expurgo da população rural,

Rezende (2003, p.181) afirma que isto resulta da implementação de políticas não-

agrícolas e agrícolas mal gestadas, que prevêem um desenvolvimento regional

baseado apenas no desenvolvimento econômico, desconsiderando

desenvolvimento humano e social. Diante disso, “o problema da exclusão pela

agricultura patronal intensa em capital e tecnologia é particularmente aguda em

áreas de Cerrado” (Rezende, 2003).

Estas questões, materialmente verificadas na agricultura do Sudoeste de

Goiás, nos conduzem à afirmação de que o desenvolvimento agrícola regional não

é acompanhado do desenvolvimento rural e social. Ao contrário, verifica-se nos

municípios sudoestinos a exclusão social e a segregação espacial dos “de fora”

da agricultura tecnificada, na mesma proporção e intensidade que a ascensão

econômica dos que estão “dentro”.

4.3 Crescimento econômico e desenvolvimento social.

O aperfeiçoamento e o aumento da produção agrícola têm promovido

alterações na estrutura produtiva do Sudoeste de Goiás, tanto no setor agrícola

Page 162: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

quanto no industrial, por meio do desenvolvimento do segmento agroindustrial,

com destaque para o complexo soja/milho – carne.

O crescimento econômico verificado na região nos últimos 20 anos, calcado

na expansão da agricultura intensiva em capital e em tecnologia, firmou a

instalação do complexo agroindustrial, atraindo dezenas de novos

estabelecimentos, entre indústria e comércio, para o estado de Goiás como um

todo. Paradoxalmente, este crescimento econômico é acompanhado do também

crescimento dos índices de desemprego no estado.

Esta assertiva pode ser confirmada no quadro 07, que apresenta a

população economicamente ativa, a população ocupada e a taxa de desemprego

do Brasil e do estado de Goiás nos anos de 1991, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000 e

2001. Observa-se que a taxa de desemprego em Goiás cresceu de 4,48% em

1991 para 8,05% em 2001, tendo um crescimento médio percentual maior do que

a média nacional, que nesses anos apresentou os seguintes índices,

respectivamente: 5,41% e 9,35%. Isto é, enquanto no Brasil a taxa de desemprego

teve crescimento de 3,94% entre 1991 e 2001, em Goiás esta taxa foi de 4,57%.

Isso evidencia que os elevados índices de produção, a instalação de novas

e modernas indústrias no estado e a quebra dos recordes na produção

agrícola,não se traduzem na redução da taxa de desemprego. Ou seja, Goiás, que

tem sua economia historicamente pautada nas atividades agrícolas, não apresenta

redução nos índices de desemprego a partir das suas práticas agroindustriais

recentes, ampliadas e sofisticadas.

Page 163: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Quadro 07: População Economicamente Ativa, População Ocupada e Taxa de Desemprego em Goiás e no Brasil, nos anos de 1991, 1996, 1997, 1998, 1999 e 2001.

GOIÁS BRASIL População

Economicamente Ativa (Milhões)

População Ocupada (Milhões)

Taxa de Desemprego

(%)

População Economicamente

Ativa (Milhões)

População Ocupada (Milhões)

Taxa de Desemprego

(%) 1991 (1)

1.656.018 1.581.843 4,48 58.456.128 55.293.311 5,41

1996 (1)

2.145.617 1.986.852 7,40 73.120.101 68.040.206 6,95

1997 (1)

2.325.800 2.169.325 6,73 75.213.283 69.331.507 7,82

1998 (1)

2.417.103 2.225.541 7,92 76.885.732 69.963.113 9,00

1999 (1)

2.418.888 2.203.410 8,91 79.315.287 71.676.219 9,63

2000 (2)

2.399.147 2.105.815 12,23 76.158.531 64.704.927 15,04

2001 (1)

2.611.727 2.401.611 8,05 83.243.239 75.458.172 9,35

(1)PNAD (2)Censo Fonte:IBGE Elaboração: SEPLAN - GO/ SEPIN/ Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003. Adaptação: Ribeiro, 2005.

Page 164: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

4.3.1 Liderança na produção agropecuária versus aumento dos problemas sociais.

Quanto ao crescimento no setor agropecuário e agroindustrial, no conjunto

do estado de Goiás, sua porção Sudoeste é a principal responsável por tal

crescimento, seja na agropecuária per si, seja esta enquanto fornecedora de

matéria-prima para a agroindústria.

O município de Rio Verde lidera o ranking da agropecuária goiana (4,97%),

com o 1º lugar na produção de soja, de tomate e de suínos; o 2º na produção de

bovinos, leite, trigo e sorgo e 3º na produção de milho, feijão e arroz. O seu

vizinho Jataí (4,39%) ocupa o 2º lugar no ranking da agropecuária do estado de

Goiás. É 1º lugar na produção de milho, sorgo e aves; 2º lugar em suínos e soja;

3º em trigo e bovinos.

Especificamente no setor de serviços, Rio Verde representa 3,19% e Jataí

1,92% do total gerado no estado (SEPLAN, 2003). Ambos os municípios estão

muito avançados em termos de produção e de tecnologias aplicadas à

agropecuária em relação aos demais municípios do estado.

No Sudoeste de Goiás, além dos dois municípios supracitados destaca-se

também no ranking da agropecuária goiana o município de Mineiros (2,56%), que

é o 3º produtor de soja e o 4º de leite; o município de Chapadão do Céu (2,15%),

sendo o 1º produtor de arroz, o 2º de milho e o 3º de algodão, além dos

municípios de Montividiu (1,85%), Caiapônia (1,61%) e Santa Helena de Goiás

(1,47%). Diante desta realidade produtiva, o Sudoeste de Goiás apresenta a

segunda maior concentração de riqueza do estado, atrás apenas da região

metropolitana de Goiânia.

No estado de Goiás, cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) gerado

está concentrado em vinte municípios. O ranking é liderado pela capital, Goiânia,

(28,95%), seguida por Anápolis, cidade localizada no eixo Goiânia – Brasília,

(6,04%). Em terceiro lugar está o município de Rio Verde (3,57%), neste o setor

agropecuário é determinante no cômputo da economia municipal.

Especificamente no setor industrial Rio Verde representa 3,41% da indústria

Page 165: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

goiana, ocupando o 6º lugar no ranking. A consolidação do cluster agroindustrial e

a instalação da Perdigão no município foram fator preponderante para tal.

Quando se trata especificamente de PIB per capita, os municípios com

atividade econômica expressiva e pequenos em população apresentam melhores

resultados, como no caso dos municípios de Chapadão do Céu e Perolândia,

também situados no Sudoeste do estado (SEPLAN, 2003).

Porém, dados sobre procura e oferta de empregos, obtidos junto ao

Sistema Nacional de Empregos (SINE); sobre índices de criminalidade e

delinqüência, obtidos junto a comandos da polícia militar e sobre solicitação de

serviços e benefícios, obtidos junto a Secretarias Municipais de Ação e Promoção

Social demonstram que nos municípios que mais produzem alimentos no estado

de Goiás os níveis de qualidade de vida não acompanham os índices do

crescimento econômico.

4.3.1.1 Agricultores sem terra e Trabalhadores sem trabalho.

Homens, mulheres e crianças olham, por vezes, sem entender para os

extensos campos de soja; ouvem dizer que isso significa riqueza, mesmo não

participando nada, ou quase nada, da renda que é gerada. Estão/são

marginalizados deste/neste processo produtivo, que foi elaborado às custas da

expropriação das suas terras e de sua expulsão dos seus locais de trabalho no

campo.

A maioria dos exilados, hoje residente nas periferias urbanas, não sabe

explicar muito bem o que ocorreu, porque teve que deixar as terras onde

trabalhava como agricultor camponês. Os que tinham pequenas extensões de

terra também não sabem dizer exatamente porque, de repente, não mais

sustentavam a si e a suas famílias com a produção de sua pequena propriedade.

É comum atribuírem a “quebradeira” a problemas de saúde, quando se gastou

grande soma de recursos, ou à constituição de uma segunda família, por parte do

Page 166: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

patriarca, onde uma suposta “amante”, abusando do consumo, escasseou os

recursos financeiros do mesmo.

Dessa forma, alguns excluídos entendem os gaúchos como os salvadores

da situação, pois estes compraram as terras, inclusive os chapadões, que não

tinham valor comercial, por seus solos serem de difícil cultivo. Alguns ex-

proprietários partem da lógica de que a situação poderia estar pior se não

tivessem para quem vender as terras em momento de crise, isto é, se não

tivessem migrado para lá os gaúchos dispostos a comprá-las. O que não

reconhecem, certamente por falta de informação, é que tal crise, seguida da

necessidade da venda da propriedade, é uma invenção para retirá-los dos

campos, deixando livre o espaço para a implementação de um novo modelo de

exploração agrícola, para o qual ele, enquanto produtor, não era apropriado.

Inventar a idéia e elaborar o discurso de incompetência do agricultor

regional era questão fundamental para apresentar o gaúcho como alternativa para

a exploração agrícola nos Cerrados. Faz parte da estratégia, convencer o

agricultor regional da sua incompetência. E isso foi feito, atestando a

incompetência administrativa deste, que, não sabendo administrar a sua

propriedade e/ou produção, “quebrava” diante de qualquer dificuldade. Como um

dos tripés da agricultura capitalista tipo exportação é a administração, este foi o

motivo crucial para expurgar da terra o agricultor regional e apresentar o migrante

do Sul e do Sudeste como o agricultor ideal para os Cerrados.

4.3.1.1.1 As promessas (não cumpridas) de trabalho e de riqueza.

A cada momento surgem novas propagandas de melhoria na qualidade de

vida da população, por meio da chegada e da instalação de novas empresas, de

indústria e de comércio, de suporte ao agronegócio. Usualmente elas são

anunciadas em períodos eleitorais, funcionando como mecanismo de captação

dos votos da população que concorre a uma vaga no mercado de trabalho. No

Page 167: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

entanto, a frustração é recorrente, já que as empresas que se firmam nos

municípios sudoestinos, diante do elevado grau de sofisticação técnica da

agricultura, demandam mão-de-obra de alto nível qualitativo e técnico, o que

significa exclusão, contínua, da mão-de-obra que, historicamente, já se encontra

excluída. Esta, no máximo, pode participar da fase de construção e instalação

física das empresas. Para os postos de trabalho com maiores exigências

profissionais, virão trabalhadores de outros estados, regiões, países, ou serão

recrutados dentre os trabalhadores que, de certa forma, já estão inseridos no

círculo do agronegócio.

De acordo com Castillo (2004), a anunciada criação de empregos no

campo, alardeada pela mídia, não passa de uma retórica cruel.

A produção agrícola moderna é muito exigente em serviços especializados e pede pouca mão-de-obra barata. Há empregos para engenheiros, técnicos em informática, pilotos de avião, gente que saiba lidar com máquinas que custam trezentos mil dólares. Ao contrário da modernização ocorrida nas regiões tradicionais, em que comunidades foram se aglomerando e as necessidades urbanas aumentaram gradativamente, no novo front o campo é que já nasce moderno (CASTILLO, 2004, p.03).

Considerando as áreas de Cerrado como o novo front agrícola, nesta

região os empregos são direcionados e seletivos do ponto de vista da técnica.

É comum encontrarmos entre os vendedores, atendentes, agrônomos,

assistentes técnicos, administradores, funcionários das empresas rurais e/ou

ligadas ao agronegócio, trabalhadores, geralmente originários do Sul e do

Sudeste, vinculados de diversas formas aos produtores e empresários agrícolas.

Isso significa que a ocupação dos postos de trabalho gerados se dá de

maneira a atender a mão-de-obra oriunda das regiões de partida dos produtores.

As funções que, comumente, são ocupadas por trabalhadores locais estão,

geralmente, nas etapas de construção ou como motoristas e operadores de

máquinas. Estas últimas, dado ao elevado grau de tecnologia, tais como

computadores de bordo, já vêm selecionando os operadores em função do grau

de conhecimento técnico e de informática exigidos, ao mesmo tempo em que vêm

Page 168: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

demandando um número cada vez menor de operadores, devido à eficiência

técnica das máquinas.

O número de empregados na operação de máquinas tem se reduzido na

medida em que estas se tornam mais potentes e eficientes. Um relato sobre o

plantio de soja na Fazenda Brasilândia, no município de Rio Verde, corrobora tal

questão: “[...] com 10 plantadeiras e 40 trabalhadores, a Brasilândia entrou em

campo para plantar, em 03 fazendas, 4.300 hectares de soja e 200 hectares de

milho [...]” (BLECHER, 2002, p. 68). Este depoimento evidencia o baixo índice de

emprego gerado pela exploração agrícola intensa em tecnologias e em capital,

desenvolvida no Sudoeste de Goiás.

Estas situações não significam que a população regional não possua

ocupações junto aos postos de trabalho que o agronegócio estimula, indica, isso

sim, que as possui, mas em porcentagem muito menor do que os trabalhadores

de outras regiões.

4.3.1.1.2 A atração de mão-de-obra e o trabalho bóia-fria.

A demanda pelo trabalhador bóia-fria tem aumentado na região Sudoeste

de Goiás; eles são requisitados, principalmente, para o corte de cana e para a

limpeza nas lavouras de algodão e de feijão. Assim como em outras regiões do

Brasil, a maioria destes trabalhadores é trazida de estados da região Nordeste,

principalmente de Alagoas.

Em entrevista com trabalhadores bóias-frias, originários da Bahia e de

Alagoas, em março de 2005 no município de Jataí, os mesmos afirmaram

estarem vindo de lavouras do Mato Grosso para trabalharem em lavouras de Rio

Verde e, posteriormente, de Santa Helena de Goiás. Indagados sobre o

pagamento pelos trabalhos desenvolvidos, disseram que só receberiam ao final

da temporada, por ocasião do retorno às suas cidades. Por enquanto recebem os

víveres necessários e o alojamento do encarregado.

Page 169: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Sobre esta questão a literatura nos mostra o desfecho deste tipo de acordo

de trabalho, onde ao final descontam-se todos os gastos com alimentação,

transporte e alojamento dos trabalhadores, restando-lhes nada ou, quando muito,

muito pouco, enquanto pagamento pelas atividades desenvolvidas ao longo de

meses de trabalho longe de casa, desprotegidos das leis trabalhistas, submetidos

a jornadas de trabalho intensas e a condições de vida árduas.

No ano de 2002, após veiculação de matéria numa emissora de televisão

local (TV Jataí), a Promotoria Pública da Comarca de Jataí abriu processo sobre

investigação de trabalho escravo em uma fazenda especializada no cultivo de

cana no município de Serranópolis. Os trabalhadores bóias-frias lá encontrados

eram originários de Campo Alegre, estado de Alagoas, e haviam sido trazidos por

um encarregado que, na ocasião, exercia o cargo de vereador no município

alagoano.

Num acordo com o proprietário da fazenda, o empreiteiro recrutou 148

trabalhadores para a limpeza e o corte da cana, com a promessa de boa

remuneração e condições de estadia no período combinado. No entanto, os

trabalhadores não estavam recebendo pelos trabalhos prestados, sob a

argumentação de que deviam o transporte, a alimentação e a hospedagem. Por

deverem, não podiam se ausentar do local de trabalho, o que caracterizou a

situação de escravidão.

Estes trabalhadores, segundo entrevista à TV Jataí, dormiam amontoados

em camas improvisadas e trabalhavam, por vezes, até 12 horas por dia,

recebendo para tal, em alguns dias, apenas pão e leite; houve dias em que o

alimento foi leite com sal. A comida, quando era disponibilizada, estava mal

acondicionada e/ou estragada, impossível de ser ingerida, o que os obrigava a

trabalharem com fome durante o dia e irem dormir com fome, à noite (Cezar,

2002).

A Promotoria, acompanhada da Polícia Federal, realizou uma vistoria

surpresa no local, autuando o fazendeiro em flagrante. Uma vez acertados os

direitos trabalhistas, os trabalhadores foram conduzidos de volta às suas cidades.

Page 170: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Porém, este desfecho não é o corriqueiro nestes casos. Na maioria das

vezes a polícia é conivente com a situação e coíbe a tentativa de saída dos

trabalhadores aprisionados, sob o pretexto de que eles seriam devedores dos

seus patrões e se saíssem estariam fugindo à responsabilidade de pagarem o

devido, ou seja, se tornariam ladrões e, por isso, devem permanecer presos. Por

outro lado, retornar às cidades de origem não significa, em nada, o fim desta

condição para estes trabalhadores, já que, certamente, voltarão a sair em busca

de trabalho e estarão sujeitos às mesmas, ou piores, formas de exploração.

Outro caso de trabalho escravo foi identificado na Fazenda Colorado, no

município de Jataí, no ano de 2004. Nesta, uma área de eucalipto foi empreitada

para corte, quando o encarregado recrutou trabalhadores e os submeteu à

exploração e a tratamento considerados escravidão, vez que os mesmos não

recebiam os honorários combinados, nem alimentação suficiente e não

dispunham de condições de trabalho, tampouco de repouso, ideais.

O caso veio a público após um dos trabalhadores procurar serviço médico,

na cidade de Serranópolis, para tratar de um olho lesionado no trabalho16. O

mesmo já havia solicitado ajuda ao encarregado, que se negara a auxiliar. O

médico que atendeu o trabalhador fez a denúncia ao Ministério Público, que

tomou as devidas providências.

Neste caso, o proprietário da fazenda não acertou previamente, com o

encarregado, o recrutamento dos trabalhadores (como no primeiro caso citado),

porém, não tomou providências ao perceber que o tratamento a que eram

submetidos configurava-se em regime de escravidão.

O crescimento dos gastos com o “Terminal dos Trabalhadores” (Terminal

Pauzanes e Terminal Santa Cruz), na cidade de Rio Verde, explicita o

crescimento do trabalho de bóias-frias na região. Segundo o Relatório de

Gestão/2004, da Secretaria de Promoção e Ação Social de Rio Verde, o

Programa “Terminal dos Trabalhadores” tem como objetivo fornecer lanches a

trabalhadores bóias-frias que trabalham nas lavouras da região. Em 2003 foram

Page 171: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

distribuídos 195.650 lanches, num gasto total de R$ 15.537,04. No ano de 2004

estes números subiram para 202.000 lanches, com gastos de R$ 25.710,16.

A chegada constante de trabalhadores aos municípios do Sudoeste de

Goiás deve-se à propaganda da região como sendo grande gerador de riqueza e

postos de trabalho no Brasil.

Considerando a unidade da Perdigão instalada em Rio Verde como o

principal atrativo de trabalhadores em busca de emprego na região, pode-se

observar, por meio do gráfico 25, que a procura de emprego por parte de

trabalhadores oriundos de outras cidades e de outros estados é substancialmente

maior do que de trabalhadores de Rio Verde e do estado de Goiás.

Gráfico 25: Origem dos candidatos a postos de trabalho na Perdigão,

unidade de Rio Verde (GO). 16 O trabalhador perdeu o olho lesionado.

Page 172: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Perdigão, 2005.

No ano de 2004 foi veiculado pela mídia, em cadeia nacional, que Rio

Verde era a cidade brasileira que disponibilizava os maiores índices de postos de

trabalho. Esta declaração, feita no programa “Globo Repórter” da Rede Globo de

Televisão, gerou uma série de transtornos à cidade e à população rioverdense.

No intervalo de poucos dias chegaram dezenas de ônibus à cidade, abarrotados

de trabalhadores de todas as regiões do Brasil, que viam ali a possibilidade de

trabalharem e construirem suas vidas e histórias. No intervalo de uma semana, o

custo de vida em Rio Verde teve aumento significativo. Preços de alimentos,

aluguéis, imóveis e vestimentas, dentre outros, foram elevados, vez que

aumentou a procura por estes bens e serviços repentinamente.

A região, como um todo, sofreu as conseqüências deste ocorrido. Grande

parte dos trabalhadores que se deslocaram para Rio Verde não teve como

Page 173: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

retornar aos seus locais de origem e se dispersou por outros municípios da

região, aumentando, ainda mais, a população urbana desassistida e esperançosa

por trabalho e vida digna.

No entanto, a informação veiculada não procedia, tanto que o Prefeito da

cidade e autoridades locais, ligadas ao comércio, à agricultura e à indústria, foram

à mídia, escrita e televisiva, ratificar o que havia sido divulgado, no intuito de

interromper o fluxo migratório intenso que se direcionava para a cidade.

Dados do Relatório de Gestão/2004, da Secretaria de Promoção Social do

Município de Rio Verde, evidenciam que os números de atendimento e os

investimentos realizados pelo SAM (Serviço de Atendimento ao Migrante), da

cidade de Rio Verde, indicam o crescimento do fluxo migratório em direção à

cidade, bem como a não-colocação profissional dos trabalhadores que lá chegam

em busca de emprego. O SAM foi implantado em 2001 e tem seu funcionamento

na rodoviária da cidade. Lá os migrantes obtêm informações, orientações e

concessão de passagens para retornar às suas localidades, no caso de não

obterem os empregos que procuram.

No ano de 2003 foram concedidas 1.375 passagens para pessoas que

desejavam retornar aos seus lugares de origem. No ano de 2004 este número

cresceu para 2.149 passagens, num gasto de R$ 53.334,97 com passagens

rodoviárias.

De acordo com o relatório de gestão/2004 da Secretaria de Promoção

Social de Rio Verde (2004, p. 09),

as pessoas vulnerabilizadas pela pobreza estão cada vez mais saindo dos seus locais de origem, trazendo consigo a esperança de que em cidades como Rio Verde as oportunidades e ofertas de trabalho sejam diferenciadas. Quando aqui chegam percebem que nem sempre é possível conseguir o emprego desejado e suprir as suas necessidades, restando como única alternativa retornar.

O crescimento na demanda e no atendimento de mais dois programas da

Secretaria de Promoção e Ação Social de Rio Verde pode ser tomado como

Page 174: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

parâmetro para se verificar o aumento dos índices de carência da população

local. Um deles é o programa COS (Centro de Orientação Social), que segundo a

Secretaria de Promoção social, visa “assistir pessoas em risco pessoal e social,

atendendo-as por meio de serviços sociais, na maioria emergenciais”. Neste, os

serviços prestados tiveram um aumento de 53%, passando de 5.082 em 2003

para 9.448 em 2004.

O outro programa, o “Bolsa-Família”, também pode ser tomado como

parâmetro para mensurar o crescimento da pobreza e da carência da população

municipal. Este programa cadastra e concede assistência a famílias com renda

per capita de até ½ (meio) salário mínimo. No ano de 2003 este programa

registrou 7.356 ações de atendimento, ao passo, que em 2004, este número

aumentou para 16.971.

De acordo com o Relatório de Gestão (2004, p.23), estas medidas não são

suficientes, vez que a demanda é constantemente crescente no município e, na

realidade, não há encaminhamento de medidas que visem solucionar

verdadeiramente os problemas sociais gerados e agravados.

Apesar dos esforços para propiciar às famílias empobrecidas o acesso a políticas públicas, percebeu-se que a demanda tem sido maior que os benefícios oferecidos. Constatou-se, também, que as pessoas precisam de outros estímulos e oportunidades para exercer sua cidadania, como: escola que ofereça ensino de qualidade; trabalho com remuneração condizente para suprir suas necessidades básicas; segurança para que as pessoas não fiquem expostas à violência urbana; assistência médica para que todos tenham saúde e qualidade de vida; habitação para sua proteção; e os mínimos sociais para que sem distinção possam usufruir todas as políticas públicas existentes na Constituição Brasileira. Para que isso aconteça se faz necessário que os recursos sejam distribuídos de forma justa, de acordo com a realidade local, para que a pobreza não continue sendo selecionada e motivada a depender sempre dos benefícios sociais, favorecendo cada vez mais os oportunistas desses processos que muitas vezes não atingem aqueles que precisam. Só assim poderão existir ações que combatam e previnam os desajustes sociais.

4.3.1.1.3 A procura e a oferta de empregos em Rio Verde-GO e Jataí-GO.

Page 175: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Dados sobre a procura e a oferta de emprego, coletados nas unidades do

SINE de Rio Verde e de Jataí corroboram a defasagem entre a oferta e a procura

de emprego. Por meio destes dados pôde-se verificar que a oferta não

acompanha a procura e que os trabalhadores sem emprego reincidem na busca,

ao mesmo tempo em que a maior parte das vagas captadas são de reposição e

não de aumento de quadro, o que significa que a maioria dos empregos gerados

não é em virtude de novos postos de trabalho que têm surgido, e sim, por

necessidade de reposição de trabalhadores em vagas já existentes.

De acordo com a unidade do SINE de Rio Verde, no período compreendido

entre 01 de janeiro de 2001 e 31 de agosto de 2005 (04 anos e 07 meses) um

total de 151.872 pessoas foram atendidas na unidade à procura de emprego.

Destas, apenas 34.696 foram inscritas, das quais 34.468 foram encaminhadas a

um posto de trabalho. Isto é, do total de atendidos apenas 23% obtiveram

encaminhamento para os postos de trabalho. Quanto às vagas captadas, do total

de 17.231 apenas 11.499 receberam novas colocações, o que indica que, nos

postos de serviços anunciados, somente em 66% realizaram-se contratações.

Num balanço geral, para o município de Rio Verde no período de 01 de

janeiro de 2001 a 31 de agosto de 2005, têm-se, de um lado, um número de

151.872 pessoas desempregadas que procuraram os serviços do SINE, e, de

outro, um número de 17.231 vagas oferecidas, o que significa que, neste intervalo

de tempo, a procura por empregos no município foi 881 vezes maior do que oferta

e que apenas 11% dos solicitantes obtiveram vagas no mercado de trabalho.

A mesma pesquisa, realizada no SINE de Jataí-GO, para o período de 09

de novembro de 2004 a 14 de setembro de 2005 (10 meses), apresenta um total

de 17.107 atendimentos, dos quais 12.308 pessoas já haviam procurado a

unidade anteriormente e estavam retornando à procura de emprego, o que

significa que apenas 4.799 estavam procurando o SINE pela primeira vez. Isto

demonstra que 72% dos trabalhadores que procuraram o SINE neste período já o

haviam procurado antes e não obtiveram sucesso na busca de emprego, o que

fez com que os mesmos retornassem à unidade, reincidindo na procura.

Page 176: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Do total de atendimentos efetuados pela unidade de Jataí, 2.002 pessoas

foram encaminhadas a postos de trabalho, isto é, 12% do total. Destas, apenas

523 obtiveram colocações, ou seja, 26% dos encaminhados foram colocados em

vagas de emprego. Das colocações efetuadas somente 76 foram por aumento de

quadro, isto é, 14,5% das pessoas foram colocadas em novos cargos gerados.

No cômputo geral, dos 17.107 atendimentos registrados SINE de Jataí, no

período, apenas 523 pessoas obtiveram colocações, o que significa 3% do total

solicitante na unidade.

Quanto ao aumento no quadro de vagas geradas neste período, o SINE de

Jataí registrou 1.685 vagas captadas, das quais 991 foram para reposição e

apenas 287 corresponderam a aumento de quadro, isto é das vagas oferecidas,

somente 17% significavam novas vagas.

Num balanço geral, para o município de Jataí no período de 09 de

novembro de 2004 a 14 de setembro de 2005, têm-se, de um lado, um número de

17.107 pessoas desempregadas que procuraram os serviços do SINE, e, de

outro, um número de 1.685 vagas oferecidas, o que significa que, neste intervalo

de tempo, a procura por empregos no município foi 11 vezes maior do que oferta

e que apenas 10% dos solicitantes obtiveram vagas no mercado de trabalho.

Nota-se que, embora o período utilizado para a análise tenha sido quatro

vezes e meia maior para o município de Rio Verde (04 anos e 07 meses) do que

para Jataí (10 meses), o índice de colocação para os trabalhadores que

procuraram o SINE foi praticamente o mesmo: 11% para Rio Verde e 10% para

Jataí. Isto indica que, guardadas as devidas proporções do tempo em recorte, do

tamanho da população dos municípios e do grau da procura e da oferta de

empregos, o nível de empregos gerados e de colocações efetivadas não varia de

forma substancial entre os dois municípios.

4.3.1.2 O aumento da violência em Rio Verde-GO e Jataí-GO.

Page 177: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Outro indicativo da não-correspondência do crescimento econômico com o

desenvolvimento social diz respeito ao aumento da violência nos municípios de

Rio Verde e Jataí nos últimos anos.

De acordo com o comando da Polícia Militar de Jataí, os crimes que mais

aumentaram foram contra pessoas e contra o patrimônio.

No ano de 2003 foram registradas 679 ocorrências contra pessoas. No ano

de 2005, até o mês de agosto, foram 510 registros da mesma natureza. Neste

mesmo período, em 2003, haviam sido registrados 453 casos.

De acordo com os relatórios da polícia, há um crescimento acentuado de

roubos, furtos e homicídios. Em Jataí, este último crime apresentou um

crescimento de 300% de agosto de 2003 para agosto de 2005. Na cidade de Rio

Verde, os registros de homicídio também apresentam crescimento substancial,

vez que em setembro de 2005 já se iguala ao total ocorrido no ano de 2003: 14

casos registrados.

Quanto aos crimes contra o patrimônio, os registros da Polícia Militar de

Jataí mostram que em 2003 ocorreram 1.109 registros, número este que em 2004

subiu para 1.118 e até agosto de 2005 alcançou 1.122, sendo que em agosto de

2003 foram registrados 811 ocorrências desta natureza.

Furtos em residência, furtos em veículo e furtos simples foram os que

apresentaram maiores índices de crescimento.

No que tange à violência no trânsito pode-se notar um crescimento

significativo de acidentes e problemas ocasionados. No município de Jataí, os

acidentes de trânsito com vítima aumentaram em 89% nos últimos 2 anos, ao

passo que os acidentes sem vítima reduziram em 12%. O número de óbitos no

trânsito em agosto de 2005 já se iguala ao total do ano de 2003, tendo tido um

crescimento de 75% em igual período de 2003. Em Jataí, ocorrências envolvendo menores também apresentaram

crescimento nestes últimos 2 anos, principalmente furtos e roubos.

Page 178: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Tal problema se repete em Rio Verde, e de acordo com o Relatório de

Gestão/ 2004, da Secretaria de Promoção e Ação Social de Rio Verde (2004, p.

12)

No município de Rio Verde constantemente nos defrontamos com situações envolvendo adolescentes furtando, se drogando, vadiando e matando. Frente a este quadro não é realizada ação pública e privada eficaz, capaz de sanar efetivamente esta problemática de responsabilidade de toda a sociedade, pelo efeito cruel que ela proporciona. Temos, através da atuação técnica, observado que a criminalidade envolvendo jovens vem aumentando a passos largos, sendo necessário que o Delegado, o Ministério Público, o Juiz competente, o Poder Público e a Sociedade Civil se envolvam para que as medidas sócio – educativas realmente sejam cumpridas pelos adolescentes, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Ainda, segundo o mesmo Relatório (p. 30),

O Conselho Tutelar do município não vem atendendo à real necessidade da criança e do adolescente de forma adequada e satisfatória. Considerando o número de atendimentos durante o ano, este não é significativo, dado à quantidade de crianças que estão na rua diariamente e ao aumento de drogas lícitas e ilícitas consumidas pelas crianças e adolescentes.

Segundo o Relatório de Gestão/2004, da Secretaria de Promoção Social

de Rio Verde (p. 34), os problemas sociais neste município devem-se, em grande

parte, ao desemprego:

Os problemas sociais existentes no cotidiano da população deste município não são diferentes do contexto da população brasileira, no que se refere aos seguintes aspectos: os recursos destinados à área de assistência social continuam e estão cada vez mais insuficientes para causar mudanças efetivas na vida da população vulnerabilizada pela pobreza; atualmente, para a inserção no mercado de trabalho as exigências têm sido maiores do que anteriormente, pois exige-se escolaridade e satisfatório nível de qualificação profissional. Devido a um número considerável da população não atender estas exigências, o mercado informal tem crescido significativamente e as políticas públicas não têm conseguido atender a demanda social excluída do exercício da cidadania.

Page 179: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Esta realidade indica que somados aos recordes de produção de milho e

de soja os municípios do Sudoeste de Goiás apresentam outros números

elevados, só que estes atestando a concentração de renda e o nível de pobreza

de grande parte da população. Dividindo o podium com o município que ocupa o

1º lugar no ranking brasileiro de produção de milho e o 8º lugar na produção

nacional de soja, a população de Jataí não celebra o índice que aponta, segundo

dados do IBGE, que 40% dos chefes de família do município têm uma

remuneração inferior a um salário mínimo.

Isto serve, dentro dos nossos propósitos, para esclarecer que, assim como

afirma Franco (2002), todo desenvolvimento é desenvolvimento social, se assim

não o for, não se trata de desenvolvimento.

Logo, não nos parece coerente afirmar que há um desenvolvimento no

Sudoeste de Goiás em virtude da prática agrícola intensiva em capital e em

tecnologia, já que isto não significa alterações no capital humano e no capital

social. O que parece haver é um crescimento econômico, que difere, na sua

essência, de desenvolvimento social.

4.3.1.3 Aumento da população urbana: deficiência infra-estrutural e segregação espacial.

Dados da situação de domicílio do estado de Goiás e do município de Jataí

indicam que os índices de crescimento populacional e o aumento da população

urbana se dão numa velocidade bastante elevada, sendo que a mesma não é

acompanhada da elevação da qualidade de vida e das possibilidades de trabalho.

Assim como, por meio de visitas a campo, verifica-se, também, que não há

planejamento urbano de modo a atender às necessidades básicas da crescente

população.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), em 1970, o estado de Goiás apresentava uma população de 2.997.570

habitantes. Desta, 42,34% tinham residência na cidade, ao passo que 57,66% da

Page 180: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

população moravam no campo. No ano de 2000 a população do estado de Goiás

alcançou o número de 4.994.897 habitantes, sendo que, destes, 87,88%

habitantes residiam na área urbana e apenas 12,12% moravam no campo. O

gráfico 26 elucida o aumento populacional, bem como a inversão quanto ao local

de moradia da população goiana.

Gráfico 26: Variação populacional e da situação de domicílio do estado de

Goiás, nos anos de 1970 e 2000

Page 181: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

605.789

1.728.535

4.389.108

1.269.035

4.994.897

2.997.570

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

1970 2000

População rural

População urbana

População total

Fonte: IBGE. Organização: Ribeiro, 2005.

Quanto ao município de Jataí, verifica-se que a população elevou-se de um

total de 41.374 pessoas em 1970, para 75.451 pessoas em 2000. Em 1970, mais

de 35% da população tinham moradia rural e apenas 65%, aproximadamente,

residiam na cidade. Já no ano de 2000, os dados indicaram que apenas 8% da

população residiamm na zona rural, enquanto 92% possuía residência urbana, um

índice mais elevado do que a média estadual e nacional. Tais alterações podem

ser analisadas com auxílio do gráfico 27.

Gráfico 27: Variação populacional e da situação de domicílio do município

de Jataí, nos anos de 1970 e 2000.

Page 182: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

6633

68818

75.451

14.672

26.702

41.374

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

1970 2000

População rural

População urbana

População total

Fonte: IBGE. Organização: Ribeiro, 2005.

O estado de Goiás concentra 43% de toda a população do Centro-Oeste. É

o estado mais populoso da Região, tendo apresentado na década de (19)90 um

índice de crescimento populacional 1,02% maior do que o índice nacional. Porém,

a renda per capita goiana é proporcionalmente inversa a esta realidade. Segundo

o IPEA é a menor renda da Região Centro-Oeste, também inferior à renda média

brasileira.

É sabido que a coexistência de má distribuição de renda e ausência de

desenvolvimento humano e social é realidade comum em regiões de estrutura

fundiária concentrada. Em Goiás isto não é diferente, as grandes propriedades

rurais, com mais de mil hectares, totalizam 47,1% do território goiano, somando

apenas 4,9% dos estabelecimentos agrários. Por outro lado, as pequenas

propriedades, que possuem até 100 hectares, totalizam apenas 9,2% da área do

estado, correspondendo a 60,5% do total das propriedades existentes em Goiás.

Page 183: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Um indicativo dos reflexos sociais da má distribuição de renda é a falta dos

serviços de água e de esgoto e de coleta de lixo, que, em Goiás também, se

encontram abaixo da média nacional.

A precariedade na infra-estrutura urbana e a má qualidade e/ou ausência

de serviços urbanos é ilustrada por meio da figura 20, que demonstra a

construção de um conjunto habitacional na cidade de Jataí, em meio ao

“matagal”; sem que serviços básicos, como asfaltamento, rede de esgoto,

iluminação pública, tenham sido executados. A figura 21 apresenta outro conjunto

habitacional, onde se vê o aglomerado de casas afastado da cidade e ilhado em

meio ao Cerrado, além de sofrer da falta de infra-estrutura, no que tange aos

serviços urbanos.

Figura 20: Vista parcial da construção do Conjunto Habitacional COHACOL 5 (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Figura 21: Vista panorâmica do Conjunto habitacional Sebastião Herculano (Jataí -GO).

Page 184: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Ribeiro, 2005

4.4 Paradoxo: o luxo e a miséria dividem espaço. A análise retrospecta da evolução de área colhida, produção e

produtividade, dentre outras variáveis, dos principais produtos agrícolas da MRH

Sudoeste de Goiás e dos principais municípios produtores, como Rio Verde e

Jataí, nos dá a devida dimensão da amplitude técnica da agricultura desenvolvida

na região. No entanto, isso não significa afirmar que o novo padrão produtivo,

intenso em tecnologia e em capital, redunda em ganhos e benefícios para todos

os segmentos da sociedade.

Em contraste, bastante acentuado, verifica-se a segregação social e

espacial nos municípios que apresentam os maiores índices de produção e

produtividade agrícola no estado de Goiás. Em visitas a campo, realizadas nos

meses de abril e maio de 2005, pudemos perceber a miséria convivendo lado a

lado com o luxo, a imponência e a ostentação.

Aliás, ostentação é marca registrada dos agentes envolvidos com o

agronegócio no Sudoeste de Goiás. “As roupas de grife e as caminhonetes de

Page 185: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

última geração” são determinantes da identificação das pessoas pela cidade e do

tratamento que elas devem receber, em qualquer ambiente, seja ele público ou

privado.

No desejo de se inserir nas rodas da sociedade e na busca de se fazer

aceitar nos diversos espaços, sobretudo nos de entretenimento, parte da

população excluída do setor do agronegócio investe os seus parcos recursos

financeiros na compra de objetos e instrumentos que a deixem mais próxima

daqueles a quem quer se juntar, de forma a poder se relacionar com eles.

Exemplo disso é que em cidades como Rio Verde e Jataí não se vê na sua

frota de veículos um número significativo de automóveis de modelos antigos e/ou

com aparência envelhecida; porque mesmo os trabalhadores cujos salários são

baixos se endividam para a compra de carros novos ou semi-novos. Não se vê,

também, nestas cidades, um contingente elevado de pessoas transitando pela

cidade, independentemente de dia e de horário, com indumentária e calçados de

modelos antigos e/ou de baixa qualidade. Isso faz com que o observador conclua,

aparentemente, que toda a população tem acesso aos produtos disponibilizados

para consumo, podendo chegar também à conclusão de que há uma distribuição

da renda gerada pelo agronegócio, o que, na essência, não se confirma.

Além dos indivíduos que investem os seus parcos recursos financeiros com

o intuito de se juntar à elite ligada ao agronegócio, existe uma gama de pessoas,

trabalhadores, subempregados e desempregados, vivendo à parte, excluídas de

todo o processo da produção material em curso. Os pobres e miseráveis que

sobrevivem nas periferias das cidades foram, em outros tempos, na sua maioria,

camponeses, que aos poucos foram tendo suas condições de produção e de

reprodução sufocadas e comprometidas pelos moldes da recente exploração

agrícola. Compõem este quadro, também, trabalhadores oriundos de outras

regiões que para lá se deslocam e se fixam em busca de trabalho.

É sobre o retrato que traduz essa realidade que queremos nos debruçar,

na tentativa de evidenciar que o tão alardeado bônus econômico decorrente das

explorações agrícolas no Sudoeste de Goiás não se estende a todos os setores

Page 186: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

da sociedade, como afirmam os empresários rurais, os comerciantes e o poder

público, responsável pelo financiamento, isenção fiscal, relaxamento de leis

ambientais e consolidação do complexo agroindustrial nestas mesmas áreas.

4.4.1 Fatos e imagens da segregação no município de Jataí.

As visitas aos bairros periféricos das cidades do Sudoeste de Goiás são

embaladas por muitas histórias de vida que relatam fatos experimentados e

vivenciados por atores sociais antes protagonistas do campo e da agricultura e

que agora estão marginalizados e vivendo do assistencialismo do poder público,

que mantém a indigência assistida no estado de Goiás.

As histórias são regadas pelo saudosismo de um “tempo bom”, de

predomínio de valores considerados, pelos relatores, como elementares, tais

como a ética, a moral, a responsabilidade, a religiosidade, o respeito, além da

fartura de alimentos e das festividades, que segundo os mesmos já não existem

mais.

O desânimo estampado nos rostos destes agricultores sem terra e destes

trabalhadores sem trabalho atesta que a vida é tocada e, não, vivida. A falta de

perspectivas e de expectativas faz com que eles vejam a vida passar sentados

nos bancos nas portas de suas casas, em frente às ruas empoeiradas, que a

cada ano eleitoral recebem nova promessa de asfaltamento.

Na figura 22 pode-se verificar o descrito. Os dizeres “H M Queremos

Asfalto” referem-se a uma solicitação ao prefeito Humberto Machado, Prefeito do

Município de Jataí, no período de 1996 a 2004.

Figura 22: Solicitação de asfalto, reinvidicada ao poder público por parte

dos moradores da Vila Luíza (Jataí - GO).

Page 187: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Ribeiro, 2005.

A figura 23 segue retratando a pobreza que acomete os moradores dos

bairros de Jataí. As crianças são desprovidas dos elementos básicos à saúde, ao

crescimento e à existência digna. Pode-se verificar o desânimo estampado nos

seus rostos, a fragilidade dos seus corpos, bem como das suas vestes e

calçados.

Estas crianças, juntamente com os demais moradores, vêem num lance de

olhar, a poucos metros dali, a manifestação da riqueza oriunda da soja. Convivem

lado a lado com a imponência de residências luxuosas, carros importados e

roupas de grife, onde uma outra parcela da população se esconde atrás dos seus

muros eletrificados, dos vidros escuros dos seus carros, dos seguranças que

rondam suas mansões, para a se proteger da miséria e dos miseráveis por ela

criados. São dois lados da mesma moeda, manifesto espacialmente.

Page 188: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 23: Crianças residentes na Vila Luíza (Jataí-GO).

Page 189: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Ribeiro, 2005

A figura 24 mostra a fachada da residência de um empresário agrícola, em

cuja calçada transita permanentemente um segurança. Tal residência está situada

a, aproximadamente, três quarteirões das paisagens ilustradas nas figuras 22 e

23.

Figura 24: Residência de empresário agrícola (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

A presença de um forasteiro nos bairros acende uma ponta de esperança

naqueles necessitados de quase tudo, inclusive de atenção. Acostumados a

Page 190: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

receberem visitas de pessoas de fora do bairro apenas por ocasião das eleições,

ou por qualquer outro tipo de barganha política, os moradores vêem na presença

do visitante a possibilidade de ter suas reivindicações atendidas e, por isso

mesmo, fazem diversas solicitações, que vão desde roupas a asfalto, dentaduras

e aposentadorias.

Manifestamos, aqui, a tamanha angústia que acomete o visitante diante de

tanta miséria e desprovimento, contrastados com a riqueza opulenta, que pode

ser verificada num lance de olhar, há poucas metros dali.

A figura 25 denota este contraste. O muro à esquerda é o limite de um

condomínio de luxo. A rua empoeirada, sem pavimentação asfáltica, separa o

bairro, logo a direita, e sua população da riqueza e do luxo que se protege por

trás dos muros. A figura 26 ilustra a entrada principal do condomínio supracitado.

Figura 25: Divisa lateral do Condomínio Barcelona com a Vila Luíza (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Page 191: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 26: Entrada principal do Condomínio Barcelona (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

As estratégias de separação entre os moradores do condomínio e a

população externa, do bairro que o circunda, podem ser observadas na figura 27.

Além do muro alto, a cerca elétrica com alarmes é o mecanismo utilizado para

hostilizar quem, porventura, se aproxime do muro. Aliás, a cerca elétrica é

bastante comum na cidade de Jataí; pode ser verificada em grande parte das

residências, sobretudo nas mais luxuosas. Nestas, a cerca elétrica é regra. Uma

visita ao Setor Planalto comprova isso. Tal setor, assim como toda a parte alta da

Page 192: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

cidade é ocupada, na sua maioria, por casas e edifícios de sojicultores e

empresários ligados ao agronegócio.

Figura 27: Cerca elétrica no muro do Condomínio Barcelona17 e vista parcial do interior do mesmo (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

4.4.2 Para a periferia e sua população resta o ônus.

Em trabalhos de campo realizados na Vila Luíza, nos Conjuntos

Habitacionais, Sebastião Herculano, Mauro Bento, Filóstro Machado, COHACOL

e no Bairro Jacutinga, na cidade de Jataí, nos deparamos com toda sorte de

problemas sociais.

Percebemos que a grande influência que a agricultura exerce sobre estes

Bairros, Conjuntos e Vilas, e seus respectivos moradores, diz respeito aos

17 Lê-se na placa: “PERIGO: cerca elétrica com alarme”.

Page 193: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

problemas ambientais e de saúde gerados pelas lavouras que são plantadas até

nos limites dos mesmos. No Bairro Jacutinga, em Jataí, a plantação de uma

lavoura de soja que se estende até a cerca limítrofe com a rua do Bairro gera, no

período de chuvas intensas, alagamentos nas ruas, já que toda a vegetação

natural foi retirada e o solo se encontra em estágio de compactação, dificultando a

infiltração da água, que associada a uma leve declividade do terreno, canaliza a

água para dentro do Bairro, que invade casas, causa erosões nas ruas e

transmite doenças à população. Curiosamente, quando a mesma área é utilizada

para o cultivo de milho (cultivo de safrinha) a lavoura fica afastada cerca de 200

metros da cerca que separa a lavoura do Bairro, isso para dificultar que os

moradores, porventura, se apropriem de parte do milho para consumo.

Nos Conjuntos Habitacionais COHACOL e Mauro Bento, outro problema

diz respeito à contaminação da população por venenos utilizados no combate a

pragas18. A proximidade da área plantada com os conjuntos habitacionais faz com

que o vento dissemine as substâncias tóxicas sobre estes e com que os

residentes as recebam de maneira intensa e desprotegida. Problemas

respiratórios e de pele são os mais comuns. Moradores do Bairro Jacutinga

também atestam o surgimento de tais sintomas em períodos de combates aéreos.

Na cidade de Rio Verde os mesmos problemas são recorrentes. E até

mesmo na cidade de Chapadão do Céu, que foi planejada e construída a partir de

um projeto que, segundo seus idealizadores e executores, não permitiria exclusão

e segregação espacial, verifica-se a incidência de tais problemas nos bairros

periféricos.

Na realidade estas contradições são natas do modo capitalista de produzir

e da organização sócio-espacial correspondente. O que colocamos em xeque

aqui é o discurso de que a agricultura tecnificada desenvolvida no Sudoeste de

Goiás e a consolidação do Complexo Agroindustrial estão acima disso, como uma

prática capitalista de exploração que gera riqueza e distribuição de renda para

18 São consideradas “pragas” todas as plantas, animais e microorganismos, visíveis e invisíveis, que competem com a cultura plantada, por isso são matados com venenos (agrotóxicos), que os produtores e empresas do ramo chamam de defensivos agrícolas.

Page 194: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

toda a sociedade onde se instala. Discurso este preferido nas rodas de

empresários, no poder público e pelos estudiosos e pesquisadores que defendem

o agronegócio enquanto a única possibilidade de se produzir nos Cerrados.

A aplicação de venenos por pulverização aérea é uma das questões que

vemos com maior gravidade, vez que as partículas são disseminadas pelo vento a

longas distâncias, podendo ter efeitos graves sobre a saúde humana, vegetal e de

animais, com manifestações em tempo indeterminado, desde alergias

respiratórias imediatas até cânceres de pele e de pulmão num futuro próximo.

No ano de 2004 um acidente grave ocorreu em uma lavoura de soja no

município de Jataí, de propriedade do Sr. D. G., quando uma criança de

aproximadamente 04 anos recebeu, diretamente, sobre seu corpo o veneno

aplicado por um avião de pulverização. A menina, em estado de saúde

gravíssimo, foi levada para hospitais de Goiânia para tratamento.

Em entrevista com moradores do Acampamento “Gurita”, do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais de Jataí, às margens da BR 364, no sentido sul, a mãe de

duas crianças relata o deslumbramento dos filhos com os vôos rasantes do avião

pulverizador. Afirma que o avião quase toca o teto do barraco de lona preta e que

as crianças correm acompanhado-o.

É um momento de diversão para as crianças, que estão há anos sob a

lona, aguardado decisão judicial de desapropriação de parte da fazenda ao lado,

onde ocorre a pulverização. Já vítimas da violência do latifúndio, o que estas

crianças não sabem é que estão sendo bombardeadas com substâncias tóxicas

e letais para o ser humano, podendo virem a ter graves problemas de saúde.

4.5 Migração e a organização econômica e espacial para os “de fora”. O olhar, ora intrigado, ora admirado, do agricultor regional lançado sobre os

produtores forâneos, que para o Cerrado se dirigiram, não capta a realidade do

Page 195: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

arsenal de informações e formações técnicas que estes produtores possuíam,

tampouco as facilidades que tinham para conseguir financiamentos e vantagens

creditícias junto aos órgãos e programas públicos de fomento. Vantagens estas

que o produtor regional na maior parte das vezes não possuía.

A idéia de crescimento econômico pautada no eurocentrismo, conforme

tratado no capítulo 1, já tinha suas bases fincadas nas teorias sobre a exploração

agrícola e o crescimento econômico das áreas de Cerrado e se fortaleceu com a

onda de migração dos “gaúchos” em direção à fronteira agrícola do Centro-Oeste

brasileiro.

Assim, convencionou-se que o produtor migrante era dotado de maior

capacidade para o trabalho do que o produtor goiano, preguiçoso e dotado de

pouca inteligência para assimilar as novas tecnologias. Parte dos produtores

goianos, diante dos imensos campos de cultivo que se formaram em áreas de

chapadão, incorporou o discurso de superioridade do produtor estrangeiro em

relação a si.

Começa aí um círculo de desvalorização do povo, do trabalho, da cultura, da

paisagem, enfim, da forma de vida regional, em face da forma de viver dos

produtores agrícolas migrantes que ali se instalaram.

A chamada de um artigo de Blecher (2002), publicado na Revista Exame,

explicita de forma contundente o que acabamos de apontar. Lê-se: “O

ELDORADO GOIANO: o agricluster transformou a antes modorrenta região de

Rio Verde numa das que mais crescem no interior do país”.

Terra do pequi, da galinhada com quiabo e da guariroba, o sudoeste goiano incorporou um novo sabor ao cardápio nos anos 70 [...] ‘Pouco tempo atrás, Rio Verde era uma dessas cidades fantasmas dos grotões brasileiros, cheia de botecos e cães vadios perambulando pelas ruas esburacadas’, diz Álvaro Martins Henkes, vice-presidente da COMIGO. Quem anda hoje pela cidade vê uma paisagem bem diferente, em que se destacam os novos edifícios em construção. As meninas desfilam suas roupas de grife no calçadão central, enquanto os jovens agricultores e pecuaristas exibem suas caminhonetes novas pelas avenidas [...] (BLECHER, 2002, p. 64-65).

Page 196: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Segundo [Evandro Arantes]19 Abib foram os estrangeiros, e não os empresários nativos, os primeiros a investir em Rio Verde. “O pessoal de fora aproveitou a primeira onda de crescimento da cidade”, afirma. “Os empresários daqui não percebem que cavalo arriado não passa duas vezes na sua frente”20. Forasteiros não faltam em Rio Verde. Há os que migraram de outras regiões, principalmente do Sul e do Sudeste, e também os que vieram de longe, como os holandeses, os menonitas americanos e russos (BLECHER, 2002, p. 66).

De acordo com Ferreira (2001) modorra significa prostração mórbida, ou

sonolência, ou preguiça; insensibilidade, apatia. A expressão “modorrenta”,

derivada de modorra, foi utilizada para descrever a paisagem da cidade de Rio

Verde no período anterior à chegada do migrante dotado de “capacidade e de

visão de futuro”, com o intuito de evidenciar que o município e seus moradores

eram preguiçosos e apáticos, não tendo condições de impetrar o desenvolvimento

e o progresso hoje alcançado na região pelos migrantes.

Outra chamada para o mesmo artigo diz: “À PROVA DE CRISE: o dinheiro

do campo irriga o comércio de Rio Verde”.

Investimento é uma espécie de palavra de ordem em Rio Verde. Os 230 apartamentos dos seis prédios em construção foram vendidos ainda na planta, a preços entre 115.000 e 250.000 reais. A revenda local da Volkswagen registrou um crescimento de 30% nas vendas de carros novos de 2000 para 2001. De cerca de 900 unidades comercializadas por ano passou para 1300. Neste ano, deverá fechar com pequena queda, mas o resultado final deverá ser bem melhor do que em outros lugares. “Aqui a crise tem um sabor menos amargo”, diz Evandro Arantes Abib, um dos donos da revenda. Abib também está investindo na construção de um hotel na cidade [...].

Empresários urbanos investem no campo, agricultores e pecuaristas no comércio. É o caso da agrônoma Patrícia Kompier. De manhã ela cuida do plantel de vacas mestiças da Fazenda Brasilândia, pertencente ao seu pai, em Montividiu. À tarde, volta à cidade para atender a clientela da Kompier, loja multimarcas de moda masculina e feminina que trabalha com grifes como Richrad’s, Brooksfield, Spezzato e Colcci. “Estamos aprendendo a lidar com moda”, diz Patrícia. A poucas quadras dali, Lincoln Martins, de 43 anos, bacharel por formação e gastrônomo por vocação, inaugurou em setembro as novas instalações do Bistrô, o restaurante mais sofisticado da cidade. Com investimentos de 200.000

19 Grifo nosso. 20 Expressão popular que significa dizer que a sorte não bate duas vezes na mesma porta, ou seja, que não se deve desperdiçar boas oportunidades.

Page 197: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

reais dobrou o número de mesas. “Agora tenho espaço para os eventos promovidos pelas empresas da cidade”, diz Martins ao lado da mulher Sandra, que já abriu três franquias de “O Boticário” (BLECHER, 2002, p.68).

Observa-se que o espaço e a economia desta região estão organizados em

consonância com os segmentos da sociedade representativos do produtor

agrícola capitalista e de fora. Isso é manifesto e de fácil verificação na paisagem

rural e urbana. Cidades como Jataí e Rio Verde têm sua rede de comércio,

restaurantes, escolas e clubes de entretenimento direcionados para uma classe

consumidora predominantemente de empresários rurais, e de categorias de apoio

a estes, oriundas de outras regiões, sobretudo do Sul e do Sudeste.

Os depoimentos coletados pelo artigo supracitado corroboram tal assertiva.

Os apartamentos de 250 mil reais, os carros de última geração, o restaurante

sofisticado, as grifes internacionais não são acessíveis para outros consumidores

que não os ligados à agricultura. E estes consumidores não significam, nem de

longe, a totalidade dos consumidores da cidade; logo, há uma segregação no que

tange ao acesso a este comércio, não podendo haver, então, a noção de que toda

a cidade e sua população se beneficiam com os novos empreendimentos

instalados e estimulados a partir do agronegócio.

Os valores de imóveis, automóveis e outros bens de consumo são cotados

em soja e sofrem oscilação de acordo com os preços do grão no mercado

internacional de alimentos. Isso indica a discriminação, a segregação e a

exclusão dos demais setores da sociedade, não envolvidos com a exploração

agrícola tipo exportação, da vida social, comercial e política, bem como dos

espaços públicos e privados da cidade. Esta realidade se estende, e é de certa

forma padronizada, a outros municípios produtores de grãos do Sudoeste de

Goiás.

Diante disso, nos vimos na obrigação de divergir do Ministro da Agricultura,

Sr. Roberto Rodrigues, quando este afirma que “o agronegócio engloba todo

mundo, que todos os setores da sociedade lucram com ele, dos trabalhadores

rurais sem terra aos segmentos de serviços da cidade” (RODRIGUES, 2004). Isso

Page 198: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

não nos parece real, vez que o agronegócio é extremamente seletivo e só

compõem o seu ciclo de produção, processamento, circulação, comercialização e

consumo, os profissionais e setores empresariais e comerciais que estejam

afinados com sua lógica produtiva. Quem não atende a esta lógica está fora do

círculo, e, numa região que quem dá o tom é o setor agroindustrial, quem não se

ajusta a ele é sumariamente.

A segregação e a exclusão têm manifestações espaciais explícitas. Isso por

si só é suficiente para nos contrapormos ao discurso predominante de que a

cadeia produtiva da soja gera renda e riqueza para todos os segmentos nas

regiões em que se desenvolve.

5. USO AGRÍCOLA DOS CERRADOS: especificidades do Sudoeste

de Goiás.

Nesta seção trata-se de como o uso agrícola dos Cerrados está pautado

nas previsibilidades, na confiabilidade e, para tanto, nos comandos técnicos.

A agricultura praticada reforça o predomínio do patronato, da monocultora

e da exclusão, tornando-se, também, a principal ameaça àquele domínio.

Pode-se notar por meio dos mapas de uso do solo, de vulnerabilidade

ambiental e de desmatamento, bem como junto a outros dados e informações,

Page 199: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

que a exploração agrícola no Sudoeste de Goiás nos moldes atuais é

insustentável no que tange aos recursos naturais, vez que utiliza os seus

estoques de energia de forma absorvente e contínua, sinalizando para o seu

esgotamento num futuro próximo.

5.1 Da agricultura que degrada à agricultura que enobrece.

A terra, e as criaturas nela existentes, estão sendo encaradas como nada mais que “fatores de produção”. Elas são, naturalmente, fatores de produção, o que quer dizer meios para alcançar fins, mas esta é sua natureza secundária, não a primária” (SCHUMACHER, 1977, p.92).

Schumacher (1977) retornou a Herber (1968) para afirmar que, já naquele

período, nas cidades modernas, o morador urbano estava mais isolado do que

seus ancestrais o estavam na região rural: “O homem da cidade em uma moderna

metrópole atingiu um grau de anonimato, atomização social e isolamento

espiritual praticamente sem precedentes na história humana” (SCHUMACHER,

1977, p.99).

Na sua economia “que leva em consideração os pequenos” o autor

preconiza que a vida tende a se tornar intolerável para todos, exceto para os

muito ricos. Para mudar tal quadro afirma que só há uma possibilidade: a da

modificação urgente na agricultura. Esta reconciliação do homem com o meio

natural se tornou uma necessidade, e não apenas um desejo. Schumacher (1977)

sugere que deveríamos buscar políticas para reconstruir a cultura rural, em vez de

procurar meios para acelerar a fuga da agricultura; abrir a terra para ocupação

lucrativa por maiores números de pessoas, em regime de tempo integral ou

parcial e orientar todas as nossas ações no campo no rumo da tríplice idéia de

saúde, beleza e permanência.

A estrutura social da agricultura, que foi produzida (e é geralmente sustentada para obter sua justificação por ela) pela mecanização em grande escala e uso exagerado de produtos químicos, impossibilita

Page 200: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

manter o homem em contato real com a natureza viva; com efeito, ela suporta as mais perigosas tendências modernas de violência, alienação e destruição ambiental. Saúde, beleza e permanência são dificilmente assuntos respeitáveis para debate, e isto é outro exemplo ainda de desrespeito pelos valores humanos – o que significa desrespeito pelo homem – que inevitavelmente resulta da idolatria do economismo (SCHUMACHER, 1977, p.99 – 100).

Ocorre que a agricultura amplamente tecnificada acaba por padronizar e

degradar o habitat do homem, gerando exatamente o contrário do que deveria se

dar com a prática agrícola. De fato, a atividade agrícola deveria promover o

enobrecimento do homem e do seu meio ambiente, a partir da simbiose entre

ambos. A agricultura brasileira, em especial a desenvolvida na região dos

Cerrados, não difere ao perfil apontado. Ao contrário, esta é fidedigna do perfil

agrícola descrito por Schumacher (1977) como sendo a agricultura que

desrespeita o homem e os demais níveis da natureza. As posturas políticas,

empresariais e públicas aplaudem a agricultura intensiva em capital e em

tecnologias, por conseguinte, pobre em mão-de-obra, e o desenvolvimento rural,

no seu sentido real, é secundarizado. A reforma agrária, por sua vez, se tornou

instrumento de jogatina política. Estas formas de exploração agrícola, do tipo patronal, fundamentadas na

monocultura, cuja literalidade pode ser verificada no Sudoeste de Goiás, se

desenvolveram aniquilando o camponês, a pequena propriedade e o trabalho

familiar, se constituindo excludentes e concentradoras.

Por isso, naquela região o que pode se verificar é um desenvolvimento

econômico que não é consoante com o desenvolvimento humano e social, pois

existem duas outras modalidades de capital que devem ser criadas para se obter

um desenvolvimento que vá além do econômico: o capital humano e o capital

social, que dizem respeito à qualidade dos recursos humanos e ao

compartilhamento de elementos qualitativos, como a cultura, o lazer, o bem-estar,

de maneira que todos os cidadãos possam agir e produzir bens sociais.

Nesta perspectiva Abramovay, (apud VEIGA, 2000) afirma que é somente

por meio da criação de capital social que se pode ter a construção de um novo

sujeito coletivo capaz de exprimir a capacidade de articulação das forças

Page 201: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

dinâmicas de uma determinada micro ou mesoregião, o que não tende a se dar

por meio da agricultura patronal, fundamentada na grande propriedade. Ao

contrário, sugere ser a prática agrícola desenvolvida em pequenas propriedades a

mais eficiente do ponto-de-vista do capital humano e social, extrapolando o

desenvolvimento agrícola rumo ao desenvolvimento rural.

5.2 Agricultura e (in)sustentabilidade ambiental. Sustentabilidade, em si, é um conceito que possui incontáveis vertentes,

não sendo nosso objetivo apresentá-las e discuti-las aqui.

A questão da sustentabilidade é algo que vem ocupando os principais

espaços no debate sobre o desenvolvimento agrícola e rural no Brasil. Neste caso

sustentablidade pode ser compreendida como sendo a ampliação das

possibilidades de desenvolvimento agrícola e rural, sem que haja o

comprometimento dos estoques de recursos naturais, havendo conservação dos

mesmos, sendo que a ampliação na disponibilidade de bens e de serviços deve

estar em consonância com o uso dos recursos naturais.

No que tange ao desenvolvimento rural sustentado este deve apresentar

crescimento da produção e da produtividade agrícola, nivelando a distribuição de

renda, ao mesmo tempo em que não comprometa os estoques de recursos

naturais, tampouco as gerações vindouras, das populações de todas as espécies.

Partindo desta noção, deve-se considerar, para o desenvolvimento agrícola

sustentável, alguns aspectos fundamentais e co-relacionados, a saber: a técnica

utilizada no processo de exploração; a sustentabilidade econômica; a estabilidade

social e a coerência ecológica. Tais elementos são básicos para a definição de

medidas que visem a exploração agrícola em bases sustentáveis, de forma a

haver crescimento local associado à conservação dos recursos.

Porém, uma questão recorrente é o fato de, mesmo de posse dos

conhecimentos que conduzem à agricultura em bases sustentáveis, grande parte

Page 202: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

dos agricultores fazer suas opções de produção baseadas no esgotamento dos

recursos naturais, que sustentam suas práticas agrícolas. Isto é facilmente identificável, bastando, para tal, observar as áreas

destinadas às atividades agropecuárias para se visualizar a incoerência ecológica

dos processos produtivos21. É muito comum nos depararmos com campos de

cultivo e/ou pastagens em áreas de preservação permanente ou em áreas

suscetíveis à erosão e à desertificação, encostas íngremes etc.

Neste particular nos interessa mais de perto a implantação de lavouras

monocultoras nas áreas de Cerrado do Sudoeste de Goiás. As figuras 28 e 29

demonstram procedimentos inadequados na prática agrícola regional. Na primeira

vê-se uma plantação de soja instalada num solo areno-quartzoso, cuja

conseqüência é o surgimento de voçorocas, lixiviação, assoreamento de leitos

d’água; na segunda, observa-se uma plantação de soja em área de declividade

acentuada, em que a lavoura chega às margens de um leito d’água, cuja mata

ciliar foi parcialmente retirada.

Nos dois casos tem-se uma tentativa de otimizar a área de cultivo,

apropriando-se, para tal, de áreas que deveriam ser e estar preservadas, com

suas vegetações naturais, para, desta forma, protegerem as águas e evitarem a

lixiviação e o surgimento de voçorocas.

Figura 28: Plantação de soja em solo areno-quartzoso (Aporé - GO). 21 Pádua (2001), utilizando-se de dados da PNUD, apresenta a realidade de degradação promovida pela agricultura desenvolvida no estado de São Paulo, área tradicional e tecnologicamente bastante avançada da agricultura brasileira: “O balanço da agricultura de São Paulo, a mais capitalizada e empresarial do país, é uma mostra eloqüente dos impactos negativos da chamada ‘agricultura moderna’ no Brasil. Dos 18 milhões de hectares utilizados, cerca de 4 milhões estão em estágio avançado de desertificação. A perda agregada de solos é de 200 milhões de toneladas por ano e o balanço negativo de certos produtos é enorme: para cada quilo de soja produzido perde-se 10 quilos de solo. Para cada quilo de algodão, 12 quilos de solo” (Pádua, 2001, p.21)

Page 203: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: C. Görgen, 2005

Figura 29: Plantação de soja em área com declividade acentuada (Jataí - GO).

Page 204: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Fonte: Ribeiro, 2005. 5.2.1 “Solução de mercado” e “solução ecológica”. As incoerências identificadas nos processos produtivos agrícolas não são

casuais, ao contrário, denotam que “solução de mercado” e “solução ecológica”

não se entrecruzam, mas, sim, correm paralelamente de forma dissociada. Ambas

concorrem entre si, pois o tempo do retorno econômico é diferente entre as

mesmas. A “solução de mercado” apresenta benefícios e menores custos em

curto prazo, ao passo que a “solução ecológica” tem seus benefícios econômicos

esperados a longo prazo. Diante disso, pode-se afirmar que a agricultura

desenvolvida no Sudoeste de Goiás é baseada num curto prazismo, que prioriza

as “soluções de mercado” em detrimento das “soluções ecológicas”.

É uma agricultura que parte do pressuposto de que romper com as leis da

natureza é mais barato e mais rápido. Porém, a longo prazo isto se manifesta

altamente inseguro e perigoso, já que o poder de transformar a natureza, dado ao

Page 205: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

homem pela ciência, não consegue repor os estoques naturais nem prover a

natureza de novos elementos.

Um discurso corrente, e comumente aceito, justifica a assimilação da

“solução de mercado” em detrimento da “solução ecológica”, em função de que a

conservação ambiental redundaria em baixos índices de produção,

comprometendo desta forma os estoques de alimentos exigidos pela demanda

mundial22.

Porém, tal justificativa não é plausível. Quantitativamente falando, existem

alimentos suficientes para suprir a demanda; no entanto, milhões de pessoas

sofrem a falta de alimentos no mundo todo; da mesma forma, é cientificamente

comprovado que explorações agrícolas em pequenas dimensões e em maior

consonância com os recursos naturais são mais produtivas do que a agricultura

em escala, do tipo patronal, intensiva em capital e em tecnologias (Veiga, 2000).

Assim, este discurso quer atender às exigências do capital e da geração de lucros

e não à exigência de quantidade de produção de gêneros para alimentar a

população mundial.

Ou seja, tem-se buscado a sustentabilidade da produção, que não deve ter

seus custos aumentados, para poder continuar competitiva e viável. Esta

sustentabilidade não se traduz em sustentabilidade ambiental, ao contrário:

Ambas são antagônicas.

Os recursos naturais, concebidos como insumos, com valores decorrentes

da capacidade que têm de gerar renda na forma de um fluxo de bens destinados

ao mercado, é um entendimento tido pela maioria dos produtores agrícolas.

Assim, os recursos são explorados com maior ou menor intensidade dependendo

de como essa decisão vá influir no fluxo de renda (Cunha, 1994).

5.2.2 A socialização do ônus ambiental.

Page 206: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Apesar de se tornar objeto de apropriação privada, o solo, pelo uso que seus proprietários passaram a fazer dele, continua afetando indiretamente o bem-estar coletivo, seja pela interligação que estabelece com os recursos hídricos, seja pela fertilidade que encerra, e da qual dependem as gerações futuras de proprietários e não-proprietários de terra, seja pelo uso que é feito dos recursos biológicos vegetais e animais que contém (ACSELRAD, 1992, p. 22).

Cunha (1994) alerta para a socialização dos problemas que a apropriação

privada dos recursos naturais pode trazer: considerando que a natureza é um

bem público, para o qual não há mercado, nos casos em que recursos naturais

são apropriados de maneira privada, tendo a terra como exemplo disso, sua

exploração gera deseconomias que recaem sobre o conjunto da coletividade.

A socialização do ônus sócio-ambiental pode se dar de diversas maneiras,

todas elas perversas, já que o bem-estar coletivo passa a ser afetado pelo tipo de

exploração privada que se faz de parcelas do solo. É a apropriação, por alguns,

do bônus econômico e a socialização, para todos, do ônus sócio-ambiental.

O comprometimento dos recursos hídricos, do potencial fértil dos solos, da

biodiversidade em geral e a dispersão de poluentes, entre outros ônus, dizem

respeito a todos os indivíduos, indiscriminadamente, sendo eles produtores ou

não, proprietários ou não de áreas agricultáveis; significa toda a sociedade, de

forma involuntária e compulsiva, dividir os prejuízos com quem os provocou.

Trabalhadores excluídos do processo produtivo e de consumo e pequenos

proprietários e produtores expropriados das suas terras e dos seus meios de

produção se vêem atingidos pelos problemas gerados pela prática agrícola

responsável pelas suas expulsões e expropriações.

São os problemas gerados por alguns recaindo sobre a coletividade,

comprometendo a democracia e a liberdade.

Nem sempre isso se traduz em conflito social, pois para este ocorrer faz-se

necessário que a sociedade se dê conta de que o bônus econômico de alguém,

ou de alguns, está se dando às custas do comprometimento da qualidade de vida

de todos, isto é, que a natureza e a sociedade estão se onerando para custear os

22 Sobre tal questão ver Conway (1997).

Page 207: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

lucros e o enriquecimento de uma minoria, consciência esta que quase não

ocorre.

No Sudoeste de Goiás o ufanismo predominante, manifesto num orgulho

exacerbado por parte da sociedade em ter na região elevados índices de

produção e de produtividade, faz com que os conflitos sociais não eclodam, ou

caso eclodam se dêem na forma de conflitos implícitos.

Ali se nota a dificuldade da geração de uma consciência crítica em relação

à prática agrícola desenvolvida e aos malefícios gerados. Há uma idéia comum

que sugere um crescimento estendido a toda a sociedade em decorrência da

agricultura industrialmente integrada. No entanto, mesmo isto não sendo

realidade, conforme tratado no capítulo 4, a sociedade não se dá conta desta

mitificação formada, a ponto de não identificar e não questionar os problemas

consequentes pela exploração agrícola em curso.

5.2.3 Usos e abusos do discurso de sustentabilidade.

Na atualidade a sociedade desenvolveu um ambientalismo simplista, pelo

qual tornou-se moda ser consumidor de produtos orgânicos, participar de

Organizações Não-Governamentais (ONG’s) voltadas para a conservação

ambiental e se considerar defensor da natureza. Estas atitudes nem sempre têm

a ver com saberes reais sobre o equilíbrio da biosfera, e a prova maior de que,

em grande parte dos casos, é um movimento panfletário vem da exigência que

esta mesma sociedade faz aos recursos naturais, quando os pressiona em busca

de novos produtos para novos e elevados padrões de consumo. Ao mesmo tempo

em que assume o discurso em defesa do meio ambiente, a sociedade

contemporânea busca o padrão de consumo estadunidense, altamente

individualista, elevado em consumo e em desperdícios.

A maioria destas ações parte de noções superficiais, que não dão a

dimensão real da questão ecológica. De acordo com Acselrad (1992), ter a

dimensão implica discutir, tanto as formas e o controle sobre a propriedade,

Page 208: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

quanto os modelos de produção e consumo e as formas e a organização do

processo de trabalho e tecnologia.

Para Sachs (1990), deve-se estar atento para se ponderar o “economismo

selvagem” e o “ecologismo excessivo”, de forma a não cair nas armadilhas dos

discursos progressistas que encaram os recursos naturais como sendo bens de

capital, disponíveis para o processo capitalista de produção e acumulação e, ao

mesmo tempo, não absorver os discursos ambientalistas superficiais e

panfletários, tão em moda nos últimos tempos.

No Brasil a temática do ecologismo eclodiu na década de 1990, porque,

segundo Ferreira e Ferreira (1995), até a década de 1970 o mito do

desenvolvimentismo não permitia que a questão ambiental tivesse lugar de

destaque na sociedade e fosse tratada como antítese ao desenvolvimento

nacional; ao longo dos anos (19)70 veio a público a verdadeira face do mito

desenvolvimentista que, não se realizando concretamente e funcionando apenas

como proclamação ideológica, passou a ser encarado pelo lado da devastação; a

década de (19)80 foi marcada por um caloroso debate sobre a qualidade

ambiental; a partir da década de (19)90 a temática foi incorporada ao discurso

político do Estado, do movimento sindical e de candidatos a cargos eletivos em

geral, isso acompanhado da disseminação de Organizações Não-Governamentais

(ONG’s).

Porém, as empresas e o Estado só passaram a se preocupar e a

implementar medidas de contenção quando o desperdício e a poluição

extrapolaram os problemas referentes às condições de vida e de consumo das

populações humanas e passaram a dizer respeito à própria base de reprodução

da esfera produtiva (ídem).

Assim, os problemas ambientais foram incorporados à agenda, colocados

na pauta de organismos públicos, privados e de diversos organismos e

segmentos da sociedade, porém, nem sempre se traduzindo, na prática, numa

redução do comprometimento dos recursos naturais.

Na questão específica das práticas de exploração agrícola, é dever ter

cautela diante dos discursos que afirmam que determinados projetos, estratégias

Page 209: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

e obras são desenvolvidos com o intuito de preservar as características naturais

das áreas em exploração. Na maioria dos casos eles são desenvolvidos com

objetivos outros, que se traduzem em ampliar as possibilidades de otimização da

exploração. Exemplos disso são as contenções de erosão e a exclusão, para o

cultivo de grãos, das áreas de encosta. No primeiro caso evita-se que sejam

desperdiçados os nutrientes naturais e os que já foram acrescentados ao solo. Já

no segundo a questão central está na dificuldade (mecânica, principalmente) em

explorar as áreas de declividade acentuada. Não é o equilíbrio do ecossistema,

em si, que induz à implementação desses projetos, estes são, na realidade,

mecanismos de ampliação das possibilidades de exploração agrícola e otimização

do uso dos recursos naturais.

Nesse sentido, os recursos naturais só passam a ser considerados pelo

produtor, nas suas tomadas de decisão, quando se tornam fator limitante à

exploração agrícola. A inviabilidade de se produzir em determinadas áreas ou a

escassez de recursos geram uma motivação econômica que cria mecanismos de

conservação, que acaba por ser confundida com uma motivação ecológica.

Segundo Acselrad (1992),

O tipo de ordem estabelecida na sociedade está hoje, sem dúvida, gerando desordem na natureza. A desorganização das leis da natureza parece estar refletindo as injustiças da vida social. A crise ambiental coloca, portanto em questão, o próprio modo de organização da sociedade e as leis que regem sua reprodução [...] Se investigarmos na presente crise ambiental os elementos que refletem processos de destruição de direitos e de produção de desigualdades, estaremos, também, identificando nas lutas ambientais os caminhos que levam, ao mesmo tempo, ao restabelecimento do equilíbrio da natureza e à construção da democracia na sociedade (ACSELRAD, 1992, p.18 – 19).

Na perspectiva deste autor defender os direitos ambientais das populações

significa lutar pela democratização de controle sobre os recursos naturais. A luta

contra a degradação do meio ambiente é, antes de tudo, luta pela preservação

dos direitos dos cidadãos à vida e ao trabalho, já que o meio ambiente é o suporte

natural da vida e do trabalho. Sendo as relações das populações com o meio

ambiente formas culturais específicas de existência dos grupos sociais, a

Page 210: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

degradação ambiental é, via de regra, um processo de destruição de modos de

vida, do direito à diversidade cultural e do relacionamento das comunidades com

a natureza (ACSELRAD, 1992).

Quando se trata especificamente da destruição dos laços constituídos entre

os camponeses e a terra percebe-se que fica comprometida a existência social

daquele grupo, já que é da terra, por meio do trabalho, que os camponeses

retiram seus alimentos (ídem).

Em agricultura não é possível desconsiderar o meio ambiente, vez que este

é fator de produção. Meio ambiente é, então, um recurso natural a ser utilizado

em prol da produção agrícola, sendo que, com base nas atuais formas de

exploração, as leis de mercado e a produção de lucros orientam em que medida

se aproveitará e se respeitará as leis da natureza.

Nas explorações agrícolas do Sudoeste de Goiás, a maneira como os

agricultores, conhecidos como modernos, percebem os recursos naturais e os

utilizam denota que, na perspectiva racional (do lucro), não vale a pena preservá-

los. Enquanto a racionalidade monetária23 for dominante, este quadro não sofrerá

alterações, já que a partir da racionalidade ambiental a expectativa de ganhos é

em longo prazo, o que se torna contraditório com o interesse que vigora, que é o

retorno em curto prazo.

5.3 A (in)sustentabilidade ambiental da monocultura em áreas de Cerrado.

Sobre a sustentabilidade econômica da agricultura desenvolvida no

Cerrado, Cunha (1994) faz uma análise pormenorizada das possibilidades e dos

mecanismos desenvolvidos e utilizados para a exploração agrícola em escala. O

pesquisador aponta quais estratégias devem ser adotadas para que a agricultura

nos Cerrados seja sustentável, do ponto de vista econômico.

23 Sobre “racionalidade monetária” ver Pádua (2001).

Page 211: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No que tange à avaliação da sustentabilidade econômica seguimos o

estudo de Cunha (1994) que diz ser necessário analisar quatro aspectos,

considerando suas dimensões técnicas, para avaliar a sustentabilidade

econômica da agricultura nos Cerrados; são eles, na íntegra:

1. O comportamento dos rendimentos físicos da terra. Deve-se verificar até que ponto a degradação do meio ambiente, não compensada pela mudança tecnológica, se faz refletir no comportamento da produtividade média da terra para diferentes culturas. Este indicador requer interpretação adequada: é que, em resposta à própria queda de rendimentos, a área cultivada não é mantida constante. Mas não importa. Sustentabilidade não é um conceito estático. Pressupõe adequação. Se a mudança da área cultivada é a forma que se encontra para evitar os rendimentos decrescentes, presumivelmente enquanto se regenera o solo cuja capacidade produtiva se reduziu, então, a manutenção dos níveis de produtividade, seja por que meios, será um indicador da sustentabilidade; 2. As possibilidades de crescimento da produtividade da terra. Este é um determinante do produto potencial. Quanto maior a diferença entre o produto potencial obtido mais segurança se terá da sustentabilidade da produção; 3. As possibilidades oferecidas pela tecnologia para reparar danos. Os problemas ambientais serão tanto menos graves quanto maior for a capacidade da tecnologia de reparar os danos a custos que não comprometam a viabilidade econômica da atividade; 4. A capacidade das instituições de pesquisa de responder aos desafios da sustentabilidade (CUNHA, 1994, p.07 – 08).

Estes aspectos segundo Cunha (1994), garantem a relação sustentável

entre o meio ambiente e o tipo de exploração dele, fazendo com que a agricultura

dos Cerrados possa se tornar competitiva com a agricultura de outras regiões e

com a de outros países, por ser uma atividade sustentável.

Tal análise parece ser necessária para avaliar a relação existente entre a

sustentabilidade econômica e a sustentabilidade ambiental, ou seja, se há

coerência entre ambas. Ao que tudo indica as tecnologias utilizadas para

aumentar os índices de produção e de produtividade não respondem aos

requisitos de preservação e de conservação dos recursos naturais. Para Ruttan, apud Cunha (1994), a incompatibilidade entre economia e

ecologia é algo próprio do processo de produção de alimentos, já que a

agricultura tradicional, que poderia atender às exigências de um meio ambiente

mais saudável, não é capaz de atender às exigências de crescimento da

Page 212: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

demanda de produtos agrícolas a preços compatíveis com a capacidade de

aquisição da maioria da população. Considera, desta forma que a agricultura

poluidora continuará existindo ainda por muito tempo. O que, ao nosso ver, se

dará de maneira a alimentar o capital produtivo e financeiro e não, exatamente,

pela pressão humana por alimentos24.

Assim, aspectos nocivos à saúde do meio ambiente, incluindo aí a

sociedade humana, resultantes da prática agrícola intensiva em tecnologia e em

capital, são tomados como males necessários e, portanto, que devem ser

tolerados. Estes problemas manifestam-se no que tange aos solos (compactação,

erosão, lixiviação, desertificação, perda da capacidade produtiva), às águas

(assoreamento, contaminação) e à biodiversidade (destruição do habitat natural

das espécies, novas doenças, destruição de germoplasma). Todos estes

prejuízos possuem valor econômico incalculável.

Em áreas de Cerrado problemas como os supracitados podem ser

facilmente identificados. Estimativa da Organização Não-Governamental

International Conservation (CI – Brasil) mostram que o Cerrado brasileiro pode

desaparecer até 2030, caso o ritmo do desmatamento continue em 1,5% por ano,

o que significa 3 milhões de hectares de Cerrado desmatado a cada ano. Esta

estimativa foi elaborada a partir da análise de imagens de satélite do ano de 2002,

que indicavam que, dos 204 milhões de hectares originais de Cerrado, 57%

tinham sido totalmente destruídos; imagens do ano de 1998 indicavam que, neste

ano, esse índice era de 49%; e imagens de 1985, indicavam que, neste ano, o

índice de desmatamento era de 37%. Numa comparação, pode-se afirmar que “o

Cerrado brasileiro perde 2,6 campos de futebol por minuto de sua cobertura

24 Josué de Castro, nos idos dos anos 1950, já alertava para a questão de que a carência de alimentos disponíveis para todos os indivíduos, bem como a presença da fome, não se dava devido à quantidade da população e à incapacidade de se produzir alimentos na quantidade necessária para suprir a pressão por gêneros alimentícios. “A humanidade produz o suficiente para que todos possam satisfazer suas necessidades básicas há pelos menos 40 anos. A verdade é que o mundo produz mais do que necessita para a alimentação, mas nem sempre o produz onde é preciso” (CASTRO, 1965). É certo que a população mundial aumentou, e muito, após a publicação de tal estudo, no entanto, a capacidade de produzir alimentos tomou rumos antes inacreditáveis, considerando-se aí as tecnologias químicas, mecânicas, biológicas, biogenéticas. Logo, a assertiva de Josué de Castro é tão atual quanto há meio século.

Page 213: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

vegetal. Essa taxa é dez vezes maior que a da Mata Atlântica, que é de um

campo a cada quatro minutos” (MACHADO, 2004).

Pode-se notar a dimensão dos números apresentados, por meio do mapa

05, que ilustra o grau de comprometimento de áreas de Cerrado. A monocultura

de soja e as pastagens plantadas são as principais responsáveis pela

devastação.

Mapa 05: Distribuição das áreas original e atual de Cerrado na região

Centro-Oeste.

Page 214: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.3.1 Proposições e controvérsias sobre a preservação dos Cerrados.

O tema “projetos ambientais que visem recuperar áreas agredidas e

preservar e manter as não-agredidas nos Cerrados” é ponto de pauta há bastante

tempo e continua sendo alvo de análises, proposições e controvérsias.

Segundo Rezende (2003), o custo de preservação no cerrado, em geral, é

alto, exceto nas áreas de baixa aptidão agrícola. Estas, segundo o autor, somam

um total de 77 milhões de hectares, o que supera o mínimo de 20% requerido

para preservação pelo Código Florestal. Por isso, sugere a adoção de um

zoneamento, na política ambiental, no caso específico do Cerrado, que leve em

conta a biodiversidade, já que pode haver regiões com grande potencial agrícola,

mas também muito importantes do ponto de vista da biodiversidade. Dessa forma

,restringir-se-ía a “essas regiões de baixa produtividade agrícola a proibição de

desmatamento e de abertura de novas áreas à atividade agrícola, criando-se

grandes parques nacionais onde se preservaria o meio ambiente e a

biodiversidade” (Rezende, 2003, p.202).

O autor insiste que não se pode continuar com a política atual de proibição

de não desmatar20% da área de todo e qualquer estabelecimento agrícola,

independentemente de seu tamanho ou localização, tampouco se pode aumentar

essa proibição (para 35% da área dos estabelecimentos), como consta em projeto

de lei em discussão no Congresso Nacional.

Sobre esta mesma questão Cunha (1994, p.197) faz os seguintes

questionamentos:

Se a sociedade deseja que 20% da área dos Cerrados seja preservada, por que não fazê-lo precisamente nas áreas com aptidão para preservação permanente? Não faz qualquer sentido obrigar o proprietário a preservar sua terra de cultura, só para preencher a quota dos 20%, enquanto outro, cuja propriedade localiza-se em área de aptidão para a preservação, tem licença para cultivar terras cujo melhor uso seria justamente a preservação. Será a criação de pequenas “ilhas” de vegetação nativa a melhor maneira de garantir a sobrevivência de espécies animais e vegetais? 20% de um estabelecimento grande pode ser um espaço suficiente à sobrevivência de espécies; mas 20% de uma propriedade pequena não passará de um ponto de disseminação de

Page 215: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

pragas. Nada garante que essas áreas tenham qualquer valor ecológico; entretanto, preservá-las ociosas representará um ônus ao proprietário.

Questões presentes na “Carta de Montes Claros”, como a proposta de

moratória, que sugere um período de, no mínimo cinco anos, para a não-abertura

de novas áreas de Cerrado para a agricultura e pecuária, são vistas com

ressalvas por parte dos segmentos empresariais, governamentais e, muitos,

teóricos.

De acordo com Theodoro, Leonardos e Duarte (2002, p. 154),

O efeito imediato desta moratória seria o estancamento, pelo menos temporário, do avanço da fronteira agrícola e, portanto, a possibilidade de se redimensionar e reavaliar a importância de determinados produtos no mercado mundial. Vale dizer que seria uma parada estratégica, com a finalidade de repensar um novo rumo para a produção e a relação do homem com a Terra. No entanto, cabe mencionar que esta diretriz ainda não conta com o apoio da grande maioria dos segmentos empresariais e mesmo governamentais envolvidos com a questão rural. No entendimento destes setores, tal medida comprometeria os atuais níveis de produção, além de inviabilizar temporariamente a busca por terras mais baratas e férteis. Outro argumento dos representantes deste segmento refere-se aos altos custos de recuperação das áreas já degradadas devido ao uso intenso. Este embate é recente, mas poderá provocar mudanças significativas na forma de uso e, conseqüentemente, de recuperação de grandes áreas da região do Cerrado.

Sobre a proposta de “moratória”, Rezende (2003) afirma que ela não

diferencia as regiões em função de seu potencial agrícola e da própria

biodiversidade e que a restrição de construção de solo25 pela abertura de novas

áreas em vez da incorporação de terras já utilizadas para pastagens, mesmo que

degradadas, fará o preço da terra do cerrado subir, pois:

a produção de terra agrícola superior a partir de terra de pastagem, mesmo degradada, resulta em uma terra mais cara do que a alternativa da conversão de terra virgem, pois, a terra de pastagem tem um preço próprio, enquanto a terra virgem, não-passível de uso agrícola, não tem esse preço próprio, sendo, portanto residual. Aliás, não é à toa que se observa, hoje, uma contínua expansão da agricultura em direção às terras virgens, em vez de intensificar o uso das áreas já ocupadas, mediante a

25 Sobre “construção de solos” no Cerrado ver Cunha (1994).

Page 216: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

conversão de áreas de pastagens (degradadas ou não) em áreas de lavouras (REZENDE, 2003, p.203).

Tal questão, abordada desta forma, sugere a transferência, para a política

ambiental de preservação do Cerrado, da responsabilidade de um possível

aumento do preço da terra na região, em função da restrição da ocupação de

novas áreas, o que, segundo o autor, pode comprometer o potencial competitivo

do Brasil no mercado mundial de alimentos e aumentar os preços dos produtos no

mercado doméstico, o que prejudicaria, sobretudo, as populações de baixa renda,

os pequenos agricultores e os trabalhadores rurais sem terra, já que um aumento

no preço das terras dificulta o acesso a elas por parte dos pequenos agricultores,

ao mesmo tempo em que os programas de reforma agrária também podem ter

menor sucesso (REZENDE, 2003).

Porém, mesmo que o preço das terras venha a aumentar, não é este o fato

primordial que dificulta o acesso à terra por parte dos pequenos agricultores, nem

a não execução dos programas de reforma agrária. A exclusão destes segmentos

se dá em virtude da condução do processo de tecnificação das atividades

agrícolas e da integração agroindustrial, que exclui os agricultores despossuídos

do perfil moderno.

Dessa forma, sugere-se uma atribuição de responsabilidades às políticas

ambientais, no que tange a problemas de perda da biodiversidade, de exclusão

social e de encarecimento das terras, defendendo, a partir disso, a não-ampliação

das áreas de reserva legal por propriedade.

Ao nosso ver, este raciocínio teórico pode se configurar num apoio à

abertura de novas áreas de Cerrado à agricultura monocultora tecnificada.

Page 217: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.4 Propósitos de reafirmação da agricultura patronal, monocultora, nos Cerrados.

Rezende (2003) afirma que, seja em função do relevo mais plano e das

boas características físicas do solo, seja porque o preparo da terra no Cerrado é

também feito de maneira mais barata e mais adequada com a máquina, seja

ainda pelo baixo preço da terra, o fato é que, devido a tudo isso, a produção em

grande escala se torna mais competitiva no Cerrado – ou seja, tem o custo

unitário menor vis - a - vis à produção em pequena escala.

O predomínio da produção em grande escala no Cerrado está associado às maiores vantagens econômicas da mecanização e à própria estrutura agrária preexistente, fundada na grande propriedade. Apontou-se que essa maior “aptidão à mecanização”, num país onde se procura fugir da mão-de-obra assalariada na agricultura, tornou a região mais competitiva, reforçando-se ainda mais o importante papel exercido pelo baixo preço da terra. Essa maior competitividade regional já se expressa na migração de agricultores americanos para produzirem no Cerrado (REZENDE, 2003, p.181).

Análises como esta, que apontam a inviabilidade da produção realizada em

pequenas explorações em áreas de Cerrado, corroboram o pensamento unânime

que considera a agricultura regional somente sob o prisma da agricultura

“caificada”, isto é, industrialmente integrada, só enxergando as possibilidades e o

destino da agricultura regional a partir da consolidação e da proliferação das

cadeias alimentares, integrada aos mercados internacionais, não vendo espaço

para as pequenas explorações agrícolas, familiares ou outras.

Considerada dessa forma, há um elevado grau de desvantagem que a

pequena produção vai tendo, em relação à grande propriedade, na medida em

que se direciona para o mercado. A desvantagem não se limita à superfície

cultivada e ao tamanho da área; se estende, principalmente, à falta de incentivos/

financiamentos, o que se traduz na geração de produtos mais caros, pouco

competitivos no mercado. Um exemplo destas dificuldades é a inexistência de um

mercado de aluguel de máquinas. No Sudoeste de Goiás a ausência de tal

Page 218: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

mercado inviabiliza a produção por parte dos pequenos produtores. O aluguel de

máquinas seria uma forma de ampliar as oportunidades produtivas para além dos

empresários dotados de capital para custear a aquisição das tecnologias

mecânicas necessárias ao processo produtivo. Em entrevista realizada em maio

de 2005, o Sr. S.D26. reitera as dificuldades que o pequeno produtor encontra em

virtude da insuficiência de máquinas disponíveis, a serem alugadas:

a maior dificuldade é quando chega o tempo da colheita. Aí, só tem uma máquina na cidade p’ra gente alugar e ainda é velha, quebra toda hora. A gente tem que ficar na fila de espera e pode demorar chegar a nossa vez. Os prejuízos ficam grandes (S.D, 2005).

Não são, então, as áreas de Cerrado incompatíveis com as pequenas

explorações agrícolas; a orientação produtiva e mercadológica, que domina a

agricultura regional, é que dificulta as pequenas explorações, priorizando um perfil

produtivo intensivo em capital e em tecnologias, realizado em grandes extensões,

de maneira a tornar os produtos competitivos no mercado internacional de

alimentos.

Logo, conclui-se que diante da exigência de recursos financeiros, e mais

particularmente de recursos humanos, quase não há espaço para pequenos

agricultores no Sudoeste de Goiás. Isto se dá, pois, de acordo com Cunha (1993),

sem um substancial aporte de capital não se tem como tornar os solos de áreas

de Cerrados produtivos, e, estes, uma vez recuperados, exigem, para a mesma

produtividade, quantidade de fertilizantes equivalente à das áreas mais férteis do

país.

Partir do pressuposto da inviabilidade da pequena agricultura em áreas de

Cerrado serve também para defender o insucesso da reforma agrária na região.

Pois, segundo Rezende (2003), o público da reforma agrária é composto, na sua

maioria, por pequenos produtores e trabalhadores assalariados, e estes são

incompatíveis com os requisitos técnicos e de capital necessários para a

agricultura nos Cerrados se desenvolver em bases competitivas.

26 O Sr. S. D. é agricultor no município de Jataí, proprietário de uma área de 40 ha.

Page 219: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O mesmo autor enfatiza que as terras de Cerrado não são passíveis de

utilização na política de assentamentos de reforma agrária do governo, pelo

menos da forma como essa vem sendo exercida, já que as características

peculiares da dotação de recursos naturais, da tecnologia e o próprio baixo preço

da terra, “e não as supostas políticas agrícolas inadequadas (o crédito rural, por

exemplo), como alguns autores argumentaram”, pressupõem a expansão agrícola

do Cerrado em padrões claramente concentradores, como indicado pela fraca

absorção de mão-de-obra e pela estrutura agrária apoiada na produção em

grande escala.

A verdade, entretanto, é que assentamentos de tipo tradicional, em que o governo se limita a dividir a área e “‘assentar” os beneficiários – que passam então a explorar a terra dentro de condições muito limitadas no que se refere aos recursos financeiros e à capacitação tecnológica - são totalmente inviáveis em áreas de Cerrado, que requerem não só uma “construção de solo” inicial, mas, posteriormente, uma manutenção desse solo, sob pena de ocorrer uma reversão à situação inicial de baixa aptidão agrícola (REZENDE, 2003, p.205).

Segundo Rezende (2003), a possibilidade de se instaurar uma reforma

agrária no Cerrado poderia se dar a partir de duas questões: 1) a formação de um

mercado de aluguel de máquinas, de forma que os pequenos produtores tivessem

acesso às tecnologias mecânicas sem que precisassem imobilizar capital nelas; e

2) um sistema de viabilidade da comercialização da produção. Porém, a par da realidade agrícola vigente nos Cerrados, Rezende (2003)

não vê a possibilidade do desenvolvimento da agricultura familiar; ao contrário,

considerando muito difícil o desenvolvimento desta, sugere o fomento do trabalho

assalariado.

Para o pesquisador, uma reforma agrária com as características usuais é

tão necessária nas condições do Cerrado quanto difícil de ser implementada.

Além de ser muito cara e muito exigente em termos de um programa de

treinamento dos assentados, ela requer uma capacitação técnica e administrativa

do órgão executor (o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -

INCRA) que simplesmente não existe. “Em face dessas dificuldades, é mais

Page 220: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

adequado fomentar o emprego assalariado agrícola, atuando nas restrições que

hoje pesam sobre o mercado de trabalho agrícola” (REZENDE, 2003, p.205 –

206).

Tais argumentos explicitam que não são, então, as condições naturais do

Cerrado que inibem a pequena produção, a agricultura familiar e os

assentamentos de trabalhadores rurais sem terra. Na realidade os motivos são o

que o próprio autor está sinalizando: “a inexistência de políticas de reforma

agrária que tragam no seu bojo um treinamento adequado, com capacitação

técnica e administrativa”. O assentamento de trabalhadores e o fomento e o

desenvolvimento de pequenas explorações agrícolas, familiares ou não, em áreas

de Cerrado é, então, um problema de ordem burocrática, política e técnica e, não,

de ordem natural.

Sobre tal questão Helfand (2003) chama a atenção para a necessidade de

se reduzir as escalas de análise, já que o setor agrícola é por demais

heterogêneo, e faz um convite de forma a rever o decreto que aponta a

impossibilidade da pequena produção e do trabalho familiar em áreas de Cerrado.

Quanto às possibilidades de sucesso da pequena produção e de assentamentos

de reforma agrária considera o seguinte:

Se fosse possível criar um ambiente tal que os estabelecimentos pequenos e médios (20 - 200 ha, por exemplo) tivessem o mesmo acesso às instituições que aumentam a produtividade, e acesso facilitado a modernas tecnologias e insumos, então esses estabelecimentos poderiam produzir de forma mais eficiente que os estabelecimentos no intervalo 2.000 – 20.000 ha. Portanto, mesmo no Centro-Oeste do Brasil, uma região caracterizada por imensas propriedades e níveis relativamente altos de tecnologia, a reforma agrária continua oferecendo uma possibilidade de aumentar ao mesmo tempo a equidade e a eficiência. Seu sucesso, porém, é fortemente condicionado pelas instituições complementares, investimentos e serviços que permitem que os estabelecimentos pequenos e médios possam competir com as mesmas condições (HELFAND, 2003, p.352).

Aqui, as formas de investimento aparecem como responsáveis pelo não-

favorecimento do aumento da produtividade nas pequenas propriedades, na

realidade, impedindo o aumento da produtividade destas. Os investimentos são

destinados às grandes propriedades. Por isso as dificuldades encontradas para o

Page 221: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

crescimento e para o fortalecimento da pequena produção em áreas de Cerrado

aparecem mais como resultante da falta de investimentos do que da questão

natural. Isto só ocorre por que o capital não percebe na produção de alimentos

básicos uma atividade rentável, tendo em vista o mecanismo de fixação de preços

,que potencializa os ganhos dos produtos de exportação e de commodities.

Assim, os incentivos e investimentos são direcionados para as grandes

explorações, do tipo exportação, ao passo que a produção de alimentos para o

consumo interno fica a cargo dos pequenos produtores desprovidos de terra,

capital, assistência e tecnologias de produção.

A estes produtores restam proletarizar-se ou migrar em direção às áreas de

fronteira agrícola.

A não inclusão dos pequenos produtores, bem como a proletarização dos

mesmos, é algo materialmente explícito nas cidades da soja do Sudoeste de

Goiás. Conforme tratado no capítulo 4, os problemas decorrentes deste processo

são manifestos, sobretudo, no espaço urbano e afetam o conjunto da sociedade.

Uma outra possibilidade que usualmente é aventada pelos produtores que

não são reconhecidos pelo modelo produtivo é a criação de cooperativas ou de

associações. Porém, no caso da agricultura do Sudoeste de Goiás, o surgimento

das cooperativas se deram dentro da lógica da revolução verde, de acordo com

os estímulos dados pelo Estado, que incentivou a criação de cooperativas com a

missão de auxiliar na transição da agricultura regional para a agricultura

industrialmente integrada. Por isso, as cooperativas criadas neste período se

configuraram em grandes empresas, daí não têm características e funções

cooperativistas reais diante de seus cooperados.

Este é o caso da COMIGO (Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do

Sudoeste Goiano), a maior cooperativa da região Centro-Oeste, com faturamento

de aproximadamente R$ 1 bilhão no ano de 2004. Esta já nasceu, em 1975,

distante das características de uma cooperativa, no seu sentido lato,

assemelhando-se muito mais a uma empresa, na realidade uma grande

Page 222: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

agroindústria. A COMIGO, atualmente, se traduz numa cooperativa de

beneficiamento, industrialização e comercialização de produtos agrícolas.

Em Rio Verde encontram-se a sede administrativa, o complexo industrial, o centro tecnológico de transferência de tecnologias agropecuárias, lojas, fazendas florestais para fins energéticos e armazéns. Em mais oito municípios vizinhos, a COMIGO marca presença diretamente por meio de lojas agropecuárias e de armazéns (COMIGO, 2004).

Essa teia produtiva apresenta a COMIGO essencialmente enquanto

empresa. Abaixo, a figura 30 apresenta parte das instalações da COMIGO, em

Jataí-GO, onde possui armazéns e beneficia e industrializa derivados de soja.

Figura 30: Vista panorâmica da Unidade Agroindustrial da COMIGO (Jataí- GO).

Fonte: Ribeiro, 2005

Page 223: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.4.1 Agricultura familiar: possibilidades e dificuldades apontadas.

Investigando, não a partir do já mencionado pensamento unânime,

consideramos que a agricultura familiar não é sinônimo de pobreza e

subdesenvolvimento. Ao contrário, a existência de extensas propriedades e de

trabalhadores assalariados nas atividades agrícolas é que indica pobreza, já que

denotam uma estrutura produtiva agrícola altamente concentrada e

discriminatória, conforme sinaliza Veiga (2000):

na Europa é fácil encontrar assalariados agrícolas em Portugal, Espanha ou Grécia. Mas é preciso muita paciência para localizá-los na França, Alemanha ou Grã-Bretanha. Na América do Norte, ainda são numerosos nas áreas próximas ao México, tornando-se cada vez mais raros à medida que se sobe para o Canadá. No Japão e em suas ex-colônias será necessária uma lupa para descobrir assalariados agrícolas. Ou seja, a citada crença de que o caminho do campo é o da grande empresa e do trabalho assalariado só faz sentido se esse for o caminho do sub desenvolvimento” (VEIGA, 2000, p.100).

O mesmo autor aponta que bem-sucedido é o padrão característico de

sociedades que valorizam a agricultura e o espaço rural em vez de muitas favelas

e um punhado de “reis”, sejam eles do gado, da soja, da cana ou da laranja. No

padrão bem-sucedido há uma clara opção preferencial pela agricultura familiar. A

opção inversa é o cerne do padrão de “expulsão prematura do trabalho, que

parece tão inevitável aos entusiastas do patronato agrícola brasileiro” (VEIGA,

2000, p.90).

Isso é tão verdade que, de acordo com pesquisa do IBGE, sobre índices de

desenvolvimento humano no Brasil, os municípios rurais que têm o predomínio do

trabalho familiar na agricultura são os que registram os maiores índices de

desenvolvimento humano. Estes estão localizados na região Sul do Brasil.

O trabalho familiar tende a ser um setor mais homogêneo, disso decorre

uma produtividade média maior, ao mesmo tempo em que se reduz a

concentração de renda. Por sua vez, se a renda é distribuída de maneira mais

ampla os índices de consumo também têm suas taxas elevadas, envolvendo um

número maior de pessoas, o que aquece e movimenta o comércio local. Então,

Page 224: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

ainda que a produtividade do trabalho familiar obtivesse índices menores do que

os da agricultura patronal, se considerado o conjunto, a primeira ainda seria mais

interessante para a sociedade, já que a segunda é concentradora de renda e de

riqueza.

É, pois, necessário acabar com o mito de que o trabalho familiar significa o

“pobre do campo alimentando o pobre da cidade”; tese tão defendida por

estudiosos de diversas áreas. A agricultura baseada no trabalho familiar pode ir

além do abastecimento das feiras e das mercearias da cidade mais próxima.

Pode ir além do achatamento dos salários urbanos, por fornecer alimentos a baixo

custo. Além destes fatores, existe potencial em gerar e distribuir renda e elevar a

qualidade de vida dos envolvidos no processo produtivo.

Ocorre, porém, que os agricultores familiares encontram diversas

dificuldades, que os debilitam enquanto tal. As políticas governamentais são um

dos principais problemas, principalmente quando se trata da adoção ou não de

inovações por parte destes agricultores. De acordo com Veiga, é sabido que

em qualquer processo de modernização agrícola são os menos aptos a adotar novas tecnologias os condenados a desistir [...] O que não é intrínseco a qualquer processo de modernização é que sejam os agricultores familiares os menos aptos a adotar inovações e os grandes fazendeiros os mais aptos a adotá-las. Também não é obrigatório que somente os grandes fazendeiros estejam capacitados a comprar os ativos postos à venda pelos que saem. Isso tudo é que depende das políticas governamentais (VEIGA, 2000, p.89).

Na verdade, as políticas governamentais, na sua maioria, não contemplam

a atividade agrícola desenvolvida pelos pequenos proprietários, familiares ou não,

ou pelos não-proprietários camponeses, posseiros, arrendatários e/ou parceiros.

Contrariando esta assertiva, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues

(2004), afirma que o agronegócio não é o inimigo dos pequenos agricultores e

trabalhadores rurais sem terra, já que considera que este ramo produtivo é a

soma das cadeias produtivas do setor, nas quais estão incluídos "todos os

produtores rurais". O ministro afirma que não há qualquer razão para separar do

agronegócio a agricultura familiar ou o pequeno produtor.

Page 225: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No entanto, a afirmação enfática do Sr. Ministro não nos parece ter

fundamento material, vez que é notável a deficiência de políticas agrícolas e

agrárias, que não as direcionadas para a agricultura patronal, preferencialmente

a monocultora, tipo exportação. Ao contrário do que se afirma, os pequenos

proprietários, os produtores familiares e os trabalhadores rurais sem-terra são

pouco, ou nada, contemplados pelas políticas públicas direcionadas à agricultura

no Brasil.

O que urge em ser compreendido é que, em havendo políticas públicas

adequadas, a agricultura familiar é altamente viável e que o desenvolvimento de

uma “vitalidade social” em regiões agrícolas, tais quais o Sudoeste de Goiás, está

intrinsecamente vinculada à agricultura familiar já que esta promove, além do

desenvolvimento agrícola, o desenvolvimento do capital humano e social,

distribuindo renda e elevando a qualidade de vida.

5.4.2 Pequena produção: possibilidades e dificuldades apontadas.

Ariovaldo Queda, prefaciando Graziano da Silva (1978), faz a seguinte

observação: “de acordo com a versão oficial a ‘pequena produção’ é ineficiente e

improdutiva. Daí a conclusão imediata: é preciso eliminá-la (por decreto?)”. Tal

observação abre a questão sobre a tentativa de eliminação sumária, quase que

por decreto, da pequena produção.

Este pensamento deriva de um simplismo no que tange ao tema latifúndio

versus minifúndio. É preciso ter claro que grande propriedade não significa,

necessariamente, eficiência de cultivo em grandes campos; e que pequena

propriedade não significa pequena produção ineficiente.

A concepção de que é apenas a partir de uma grande área, fundamentada

no trabalho assalariado, que se constitui uma empresa agrícola traduz um

pensamento limitado sobre a prática agrícola. Áreas pequenas podem apresentar

produção bastante elevada, em função das técnicas desenvolvidas e aplicadas à

Page 226: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

exploração agrícola e da utilização sistematizada do trabalho, neste caso a área

em si, se menor ou maior, não tem peso primordial.

A diferença crucial entre a prática agrícola no Brasil e nos países citados

por Veiga (2000) está nesta questão, já que aqui a extensão da terra ainda tem a

importância predominante, dando à agricultura brasileira um caráter extensivo. “A

distribuição da propriedade da terra torna-se, então, elemento essencial que irá

condicionar as principais características dessa agricultura. A estrutura agrária

torna-se, por assim dizer, o ‘pano-de-fundo’ sobre o qual se desenrola o processo

produtivo” (REZENDE, 2003, p.36). Essa forma de perceber a propriedade da

terra faz com que a estrutura fundiária do Brasil apresente os elevados níveis de

concentração verificados, conforme ilustrado no mapa 03.

No Brasil, é muito difícil dissociar grande produção (em termos de renda

bruta) de grandes áreas. As propriedades de rendas mais elevadas são, também,

as de extensões maiores. No caso da agricultura desenvolvida no Sudoeste de

Goiás, pautada na monocultura, isso é evidente. Ali as lavouras possuem, em

média, área de 1000 hectares. Na região, é comum justificar a dimensão das

lavouras a partir do custo de produção, sobretudo o mecânico, onde para se

pagar uma máquina no valor de US$ 300 mil dólares, esta deve trabalhar, no

mínimo, 700 hectares de lavoura. Porém, sabe-se ser perfeitamente possível

produzir em menores extensões utilizando-se, para tal, tecnologias mecânicas

mais baratas e acessíveis.

O que ocorre é que o predomínio do pensamento que concebe o rural

como sinônimo da prática agropastoril não permite perceber os outros diversos

usos e formas que pode ser produzido no campo. Se deixarmos de lado tal

concepção e considerarmos a diversidade das atividades rurais, concluiremos que

a pequena produção tende a ser mais eficiente do que a grande produção.

Para tal é necessário considerar a amplitude da rentabilidade da atividade

agrícola e o quanto os resíduos agrícolas podem e devem ser utilizados. Neste

sentido Sachs (1990, p.122) mostra que:

a agricultura brasileira subutiliza os resíduos agrícolas, com exceção do bagaço da cana-de-açúcar e dos resíduos de produção de suco de laranja

Page 227: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

[...] O potencial energético dos resíduos agrícolas é superior às necessidades em energia rural da maioria dos países do terceiro mundo. A utilização dos resíduos precisa ser otimizada, levando em consideração quatro possibilidades: energia, adubos, alimento para o gado e matéria-prima industrial.

Uma análise deste porte leva o debate para além do tema latifúndio versus

minifúndio, voltando-o para a perspectiva de exploração e de rentabilidade que

oferecem as pequenas extensões.

A concepção de que a pequena produção é ineficiente tem lugar garantido

entre os diversos segmentos ligados ao setor agrícola, sejam eles o de comércio,

o setor produtivo, o financeiro, o de políticas públicas ou de pesquisas.

Porém, a pequena produção existe em grande escala nos campos

brasileiros e tem papel a cumprir na sociedade e na economia do país. O que

deve ser considerado não é o tamanho da propriedade em si, e, sim, o valor da

produção desenvolvida na área. Sua renda bruta é maior ou menor de acordo

com o seu grau de inserção no mercado, independente da escala deste.

Na perspectiva de Graziano da Silva (1978), a tecnologia não está posta

para o pequeno produtor, e sua busca pela sobrevivência e reprodução acaba por

gerar mais e novas possibilidades de rentabilidade para o capital. O autor afirma

isso a partir do seguinte:

à medida que aumenta o número dos pequenos agricultores, colocados ao lado dos grandes, multiplica-se o número de braços postos à disposição destes últimos. Aumentam, então, por conseqüência, a vitalidade da grande empresa e sua superioridade em relação à pequena (GRAZIANO da SILVA, 1978, p.04).

O autor supracitado enfatiza que o pequeno produtor é penalizado em

diversos aspectos. No que tange às terras, as suas são de pior qualidade, com

pequenas possibilidades de formação de lucro médio, enquanto as melhores já

foram apropriadas pelos grandes produtores capitalistas. Em relação à venda dos

produtos, estes acabam por serem vendidos em períodos de preços baixos, por

falta de infra-estrutura de estocagem.

Page 228: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Tudo isso reforça, segundo Graziano da Silva (1978), o processo de

expropriação, cujo resultado é o endividamento que, no caso do produtor-

proprietário, pode levar à hipoteca e à perda da propriedade.

Em relação ao uso da terra, o mesmo autor mostra que há um paradoxo na

agricultura brasileira, porque, de um lado estão as grandes propriedades,

explorando a terra de maneira extensiva, obtendo uma alta produtividade do

trabalho, e do outro estão as pequenas propriedades, explorando a terra de

maneira intensiva, porém, obtendo uma baixa produtividade do trabalho.

Sobre este tema Rezende (2003) aponta que a pequena produção em

áreas de Cerrado é inviável diante do rigor climático da região, o que dificulta a

geração de renda no período seco. Assim, os custos fixos, representados pelas

despesas de consumo da família, não podem ser mantidos.

O mesmo autor afirma que a inviabilidade histórica da pequena produção

na região dos Cerrados (devido à baixa fertilidade das terras) e a existência da

grande propriedade territorial - única compatível com a pecuária extensiva

associada à agricultura itinerante, de baixa produtividade - facilitaram a rápida

adoção, pela agricultura regional, do novo padrão tecnológico caracterizado pela

produção em grande escala.

Porém, esta assertiva nos parece duvidável, já que historicamente a

grande propriedade foi viabilizada e mantida de forma a beneficiar o patronato

rural do Centro-Oeste brasileiro, e não por ser “a única passível de

desenvolvimento em áreas de Cerrado”, uma vez que, mesmo diante das

dificuldades encontradas, o pequeno produtor, proprietário e/ou camponês,

desenvolveu estratégias de produção em áreas de Cerrado e, assim, viviam com

abonança, até a chegada das técnicas de produção oriundas do pacote

tecnológico da revolução verde.

A perspectiva analítica de Rezende (2003) só procede se se considerar a

exploração agrícola nos Cerrados exclusivamente nos moldes atuais,

monocultora, intensiva em tecnologias e em capital, buscando a produção em

grande escala para comercialização no exterior. Dentro desta lógica produtiva,

Page 229: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

realmente, os espaços são reservados para o agricultor dotado de grandes somas

de capital e de recursos tecnológicos.

No entanto, se consideradas as possibilidades de exploração agrícola

calcada em outras bases, que não a monocultura tipo exportação embasada em

tecnologias avançadas, a pequena produção é perfeitamente viável, já que pode

utilizar-se de outras técnicas de exploração menos intensivas em capital.

Técnicas estas que o agricultor natural do Cerrado desenvolveu e transmitiu aos

seus descendentes, de forma altamente eficiente ao longo de décadas. O

agricultor teve que compreender o Cerrado, aprender a lidar com ele, a retirar

dele as possibilidades de produzir o seu alimento. E o compreendeu e aprendeu!

Por isso, as dificuldades de exploração agrícola verificada em áreas de Cerrado

não podem, e não devem, ser utilizadas como pano de fundo para justificar a

exclusão da pequena produção do atual processo de exploração agrícola, vez que

o agricultor regional sabe lidar com tais dificuldades e superá-las nos momentos

necessários.

Técnicas de cultivo simbióticas foram criadas e recriadas pelos agricultores

ao longo dos tempos, de forma a retirar do cerrado o alimento e a (re)produção

das suas condições materiais de existência, ao mesmo tempo em que

respeitavam as necessidades de o Cerrado se reestabelecer e se (re)vigorar.

Logo, afirmar que as pequenas explorações são inviáveis em áreas de Cerrado é

tentar passar um atestado de que o agricultor regional não domina técnicas de

exploração agrícola e é incompetente diante da realidade natural que se tem. Isso

não procede, e pode ser verificado na existência e manutenção do povo

cerradeiro, vivendo nos campos, com autonomia e fartura de gêneros

alimentícios, até que se viu expurgado pelos novos moldes exploratórios do pós

1970.

Page 230: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.5 O uso da terra no Sudoeste de Goiás e a vulnerabilidade ambiental.

A análise do uso da terra, bem como da vulnerabilidade ambiental dos

solos utilizados, nos parece ser um importante mecanismo de averigüação do real

uso agrícola que se tem impingido ao Sudoeste de Goiás.

Ao investigar o mapa 06 pode-se verificar que a maior parte das terras do

Sudoeste de Goiás são utilizadas a fim de instalar lavouras temporárias (cultivos

anuais). Nota-se que, ao lado dos cultivos anuais, a pastagem ainda hoje ocupa

grandes extensões de terra, porém em áreas mais descontínuas, o que indica que

a pecuária divide espaço com a monocultura no Sudoeste de Goiás, gozando de

importância no cenário econômico regional, porém numa escala menor do que a

da soja, já que esta funciona como commoditie no mercado internacional de

alimentos.

No que tange à vegetação nativa, a área ocupada por florestas estacionais,

cerrado denso, cerradão, campo limpo úmido, cerrado ralo e veredas compõe

parte muito pequena em relação ao total da área da microrregião, estando a

vegetação mais, ou menos, presente em alguns municípios, dependendo do uso

agrícola específico dos solos de cada um. Os municípios de Rio Verde, Montividiu

e Chapadão do Céu possuem quase a totalidade de suas áreas destinadas a

lavouras temporárias. Neste último não há registro de vegetação reservada,

exceto umas poucas manchas margeando os cursos d’água que funcionam como

limite com os municípios de Serranópolis e Aporé.

Numa análise dos cursos d’água que cruzam a microrregião em destaque,

pode-se observar que em áreas circundantes de diversos leitos não há

vegetação, o que, de acordo com a legislação ambiental vigente, é

expressamente proibido. As margens do rio Claro, na altura dos municípios de

Jataí e Aparecida do Rio Doce, e as do rio Corrente, na altura dos municípios de

Chapadão do Céu e Aporé, são elucidativas deste evento. De acordo com o mapa

07 (de vulnerabilidade ambiental), tais áreas, cuja vegetação nativa foi retirada,

estão classificadas como sendo de grau vulnerável, ou seja, são áreas que

Page 231: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

obrigatoriamente e legalmente, deveriam estar preservadas devido à sua

vulnerabilidade, mas estão antropizadas, expostas ao comprometimento, com

possibilidades reais de rápido desgaste e degradação.

Observa-se que a existência de culturas que demandam irrigação por meio

de pivô central está concentrada, sobretudo, no município de Rio Verde, onde

podem ser encontrados aproximadamente 20 aparelhos.

Quanto ao uso dos solos para fins de lavoura temporária, pode-se

averiguar ainda, com auxílio do mapa 08 (de desmatamento), a intensificação de

tal uso e a ampliação da área a ser cultivada nos municípios de Jataí, Mineiros e,

sobretudo, no município de Caiapônia, onde foram identificados 14 pontos de

desmatamento no último ano.

Page 232: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mapa 06: Uso do solo e unidades fisionômicas no Sudoeste de Goiás.

Page 233: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Julgamos importante esclarecer que toda a área intensivamente

antropizada e explorada para fins agropecuários no Sudoeste de Goiás possui

considerável grau de vulnerabilidade, sendo classificada como moderadamente

vulnerável, medianamente estável/vulnerável e vulnerável, conforme pode ser

conferido no mapa 07. Nas regiões nas quais têm sido promovidos

desmatamentos em níveis mais expressivos, tais como nos municípios de

Caiapônia, Jataí e Mineiros, o grau de vulnerabilidade é mais acentuado, são

áreas consideradas vulneráveis.

Disso decorre a preocupação com a qualidade ambiental, gerada a partir

da anexação de novas áreas à exploração monocultora na região, em prol do

crescimento horizontal do processo produtivo em curso.

Page 234: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Mapa 07: Vulnerabilidade ambiental dos solos do Sudoeste de Goiás.

Page 235: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.5.1 Desmatamento e perda de biomassa. No Sudoeste de Goiás o desmatamento tem se acentuado. O mapa 08

indica o número e a localização dos desmatamentos na região. De acordo com a

Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Goiás (SEMARH,

2005), a detecção e o mapeamento efetuados para a confecção do mapa de

desmatamento basearam-se fundamentalmente na comparação consecutiva de

imagens obtidas pelo sensor MOD13Q1 (imagens NDVI – índices de vegetação,

com resolução espacial de 250 m). Esta comparação entre as imagens, realizada

pixel a pixel, se deu em função de um determinado limiar de mudança (10%) na

imagem NDVI, verificado pela redução de biomassa verde. O sistema utilizado

para detecção (Sistema Integrado de Alerta de Desmatamentos/SIAD–GO) foi

ajustado para detectar desmatamentos acima de 25 ha.

Ainda segundo a SEMARH (2005), uma das principais bases de dados

para o SIAD - Goiás é composta por imagens de satélite obtidas, diariamente,

pelo sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer). Este

sistema de “imageamento” é o carro-chefe de um programa institucional da NASA

(Agência Espacial Americana) que, a bordo das plataformas orbitais TERRA e

AQUA, está voltado, desde 1999, para o monitoramento global da Terra, incluindo

os ambientes terrestres, aquáticos e atmosféricos. O sensor MODIS opera com

36 bandas espectrais, as quais propiciam recobrimento global e contínuo a cada

dois dias, com resoluções espaciais de 250, 500 e 1000 metros (resoluções

identificadas pelos códigos Q1, A1 e A2, respectivamente). Entre os vários

produtos MODIS, destaca-se o MOD13Q1 (250 metros), contendo, entre outras

informações, os índices de vegetação Normalized Difference Vegetation Index

(NDVI) (SEMARH, 2005).

Pode-se notar, por meio do mapa, a ocorrência de 48 pontos de

desmatamento no Sudoeste de Goiás no intervalo de 2004 a 2005; os municípios

de Caiapônia, Jataí e Mineiros são os que apresentam as maiores incidências. De

acordo com dados da SEMARH (2005), o menor desmatamento possui área de

aproximadamente 27 ha e o maior, área de aproximadamente 306 há. No total o

Page 236: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

desmatamento neste período destruiu uma área de aproximadamente 2.700 ha na

microrregião.

Mapa 08: Focos de desmatamento na MRH Sudoeste de Goiás (2004 – 2005).

Page 237: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O desmatamento acentuado e acelerado no Sudoeste de Goiás pode ser

corroborado pelas inúmeras carvoarias na região, cada uma delas com dezenas

de fornos, onde se faz carvão a partir das árvores derrubadas. Os caminhões

carregados com sacas de carvão vegetal podem ser vistos diariamente nas

rodovias. Estes caminhões, na sua maioria, possuem placas de registro de Bom

Despacho (MG) e de Pitangui (MG), como de outras localidades próximas à

região metropolitana de Belo Horizonte. O carvão produzido é levado às

siderúrgicas mineiras, para abastecimento das caldeiras.

Pode-se contabilizar, pela figura 31, aproximadamente, 50 fornos que, de

acordo com os vestígios da fumaça, estão em pleno funcionamento27. A área que

aparece em primeiro plano já é tradicional de lavoura e a que aparece ao fundo

está sendo desmatada para ampliar, a partir da próxima safra, a área plantada.

O proprietário de terras empreita o cerrado para o carvoeiro limpar. Ele

recolhe as árvores, depois de derrubadas, usualmente por correntão28, e produz o

carvão em fornos construídos para esta finalidade, conforme pode ser verificado

na figura 31.

27 Não tivemos permissão para entrar na propriedade sede da carvoaria. Sendo a propriedade de dimensão bastante elevada, a imagem foi captada a uma distância média de 10Km, por isso a qualidade da mesma não nos permite identificar com precisão os detalhes do processo de funcionamento da carvoaria. 28 A prática do “correntão” é a mais agressiva utilizada no desmatamento do Cerrado. Uma corrente grande e resistente tem suas extremidades presas a dois tratores, um em cada extremidade, que quando colocados em movimento arrastam a corrente derrubando todas as plantas encontradas no percurso. A resistência da corrente faz com que nenhuma planta resista, não permanecendo nenhum exemplar de qualquer espécie onde tal método é aplicado. Por sua agressividade, tal método de desmatamento é proibido por lei, porém continua sendo utilizado em larga escala no Cerrado.

Page 238: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 31: Instalações de carvoaria com fornos em funcionamento (Jataí- GO).

Fonte: Ribeiro, 2005

Segundo relatório do Estudo Integrado de Bacias Hidrográficas do

Sudoeste Goiano (EIBH, 2005), o extrativismo vegetal é uma importante atividade

comercial nos municípios da região. O Estudo Integrado foi realizado para as

Bacias dos rios Aporé, Corrente, Verde, Alegre e Claro e contempla os municípios

de Aparecida do Rio Doce, Aporé, Caiapônia, Chapadão do Céu, Jataí, Mineiros,

Perolândia, Portelândia, Rio Verde e Serranópolis, na microrregião Sudoeste de

Goiás, além de outros municípios vizinhos a estes, pertencentes à microrregião

de Quirinópolis. Segundo tal relatório,

em função da expansão das áreas de pastagens e agricultura é comum a presença de carvoarias por toda a região, conforme constatado em sobrevôo realizado nas Bacias em janeiro de 2005. O produto do desmatamento é comercializado na forma de madeira em tora, lenha e carvão vegetal (EIBH, 2005, p.67).

Page 239: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No quadro 08 pode-se observar o quão rentável tem sido o desmatamento

para alguns municípios sudoestinos. Além de abrir a área para pastagem e/ou

lavoura, as árvores são utilizadas enquanto matéria-primas variadas.

Quadro 08: Valor da produção extrativa vegetal (em mil R$) por tipo de

produto.

Município Carvão vegetal

Lenha Madeira/ Tora

Produtos/ Lenha

Aparecida do Rio Doce 60 01 00 00

Aporé 00 05 00 00

Caiapônia 132 123 118 00

Chapadão do Céu 00 00 00 00

Jataí 340 213 90 00

Mineiros 290 144 29 00

Perolândia 00 06 215 00

Portelândia 00 46 26 00

Rio Verde 08 32 01 609

Serranópolis 00 36 10 00

Fonte: EIBH, 2005. Adaptação: Ribeiro, 2005.

O fato de Aporé e Serranópolis não apresentarem produção significativa

registrada não significa que os mesmos possuam baixos níveis de desmatamento.

Nestes municípios torna-se difícil avaliar a quantidade de carvão e de lenha

produzidos e exportados, devido ao escoamento ilegal efetuado pelas estradas do

Mato Grosso do Sul. “Esta informação de escoamento ilegal de carvão, com

documentação do estado vizinho, foi prestada e confirmada por vários carvoeiros

da região” (EIBH, 2005, p.69).

Nota-se que apenas Rio Verde possui algum processamento de madeira.

De acordo com relatório do EIBH (2005), a maioria da matéria-prima, na forma de

lenha ou carvão vegetal, é vendida para usinas e destilarias, para alimentação de

caldeiras.

Page 240: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.5.1.1 Desmatamento: comprometimento da biodiversidade, das águas e problema de saúde pública.

O relatório do EIBH (2005) mostra ainda o crescimento do desmatamento

no entorno do Parque Nacional das Emas (que também pode ser verificado no

mapa 08):

As carvoarias presentes nos trechos a montante das Bacias dos Rios Aporé, Corrente e Verde são bastante numerosas. O desmatamento das áreas ainda preservadas de mata nativa no entorno do Parque Nacional das Emas vem sendo realizado agressivamente, fato que pôde ser constatado nos dois sobrevôos efetuados na região: o primeiro, em meados de 2003, voltado para os trabalhos do Estudo da Bacia do Rio Verde, realizado para a complementação do EIA/Rima dos empreendimentos Salto e Salto do Rio Verdinho e o segundo, em janeiro de 2005, objetivando fornecer subsídios para o diagnóstico do EIBH. Comparando-se as imagens destes dois sobrevôos, registradas em filmagens, pode-se constatar que as áreas desmatadas e a presença de carvoarias aumentaram significativamente (EIBH, 2005, p. 68).

A retirada da vegetação do entorno do Parque Nacional das Emas, embora

esteja além dos limites deste, compromete a vida e o equilíbrio ecossistêmico do

mesmo, já que impede a formação dos corredores de biodiversidade. Dessa

forma, o Parque se torna uma área descontínua e, por isso, não consegue

cumprir seu objetivo de elemento preservador dos Cerrados.

Da área remanescente de Cerrado do Sudoeste de Goiás a maior parte já

passou por alterações, o que significa que esta não é mais a ideal para a

conservação da biodiversidade. Isso compromete a mais rica savana do planeta,

caso prossiga a sua exploração para fins de monocultura na escala em que está

se dando atualmente.

O fato de a vegetação do Cerrado não ser caracterizada por densas

florestas tropicais, como as Floresta Amazônica e Mata Atlântica, faz com que, de

forma ignorante, os empresários, os proprietários de terra, os produtores e o

poder público defendam o desmatamento com o objetivo da instalação de

lavouras monocultoras, principalmente de soja.

Page 241: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Além de graves prejuízos para a biodiversidade e sobrevivência de

milhares de espécies, a destruição do Cerrado compromete as principais bacias

hidrográficas da América do Sul, já que nele estão as nascentes de importantes

bacias como a Platina, a do São Francisco e a Amazônica. A exploração

indiscriminada desencadeia o assoreamento dos cursos d’água, provoca erosões

e processos de contaminação no que é considerado o berço das águas.

Diante dessa situação, Machado (2004) alerta para a necessidade urgente

de frear este processo de degradação. A sugestão feita pela International

Conservation (CI – Brasil), no ano de 2004, foi de que o Governo Federal

destinasse parte dos recursos previstos para a financiar a safra de 2005 para a

constituição de um fundo, cujas verbas seriam utilizadas para a manutenção de

unidades de conservação, para a recuperação de áreas degradadas e para a

proteção de mananciais hídricos.

No entanto, tal sugestão não foi aceita, evidenciando que as políticas de

produção não são conjugadas com as políticas ambientais.

Quanto aos prejuízos acarretados pelo desmatamento intensivo, o EIBH

(2005) afirma que o aumento de casos da enfermidade leishmaniose, em alguns

municípios, possui relação direta com a redução da vegetação nativa, pois os

intensos desmatamentos e a conseqüente perda de habitat do seu transmissor

gera um desequilíbrio fazendo com que tal enfermidade se manifeste nas áreas

urbanas.

Entre 2001 e 2004 os casos de leishmaniose aumentaram em vários

municípios sudoestinos. No período foram registrados os seguintes números da

doença: Mineiros, 64 casos; Jataí, 50 casos; Caiapônia, 44 casos; Rio Verde, 35

casos; Serranópolis, 07 casos; Portelândia, 07 casos; Chapadão do Céu, 04

casos; e Aparecida do Rio Doce, Aporé e Perolândia, 01 caso cada um.

Nota-se que há uma correspondência entre os municípios alvo do

desmatamento e os que apresentam os maiores índices da doença. Os

municípios de Caiapônia, Jataí, Mineiros e Rio Verde, mais afetados pela doença,

são os que apresentam mais focos de desmatamento (conforme mapa 08).

Page 242: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.5.2 O indevido uso agrícola dos solos areno-quartzosos. A realidade agrícola do Sudoeste de Goiás nos conduz à conclusão de que

em havendo alterações na legislação ambiental, relativizando a porcentagem a

ser deixada enquanto área de reserva nas propriedades, como sugerido por

Rezende (2003) e Cunha (1994), o nível do desmatamento e do

comprometimento do Cerrado se dará em patamares mais elevados, pois não há

nenhuma garantia, tampouco indicativos, de que as áreas frágeis e vulneráveis

serão poupadas.

A expansão das lavouras de soja em áreas de solo areno-quartzoso é um

exemplo disso.

Estes solos não são adequados para o cultivo devido à sua estrutura física;

há pouca retenção de umidade devido à rápida infiltração. Ainda assim os

agricultores têm, a cada ano, estendido o plantio nos mesmos, o que,

invariavelmente, acarreta problemas de erosão, lixiviamento, voçorocas e

assoreamento dos rios. Ou seja, não há limites para a racionalidade monetária,

em havendo área disponível esta será utilizada para o plantio. Logo, se flexibiliza

a legislação, que prevê 20% da área para fins de reserva legal pautada na idéia

de que haverá propriedades que averbarão áreas maiores que essa cota por

motivos de impedimentos naturais. Mas isso faz com que as áreas

comprometidas aumentem, vez que serão utilizadas para o cultivo áreas

disponíveis, mas frágeis, que deveriam ser preservadas.

O plantio nos solos areno-quartzosos tem aumentado no Sudoeste de

Goiás, como uma forma de anexar mais áreas ao cultivo. Neste caso o

arrendamento29 está na base do cultivo, vez que nestas áreas os preços do

arrendamento são mais baixos do que nas áreas de latossolo; nestas,

geralmente, o contrato prevê o pagamento de 04 a 05 sacas/ha no primeiro ano,

06 sacas/ha no segundo ano, 07 sacas/ha no terceiro ano e 08 sacas a partir do

quarto ano, até o final do contrato.

29 Especificamente sobre a prática do arrendamento agrícola no Sudoeste de Goiás retornar ao capítulo 2.

Page 243: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No caso dos contratos de arrendamento em áreas areno-quartzosas, que

ainda não foram abertas com utilização de pastagem, ou seja, área virgem, prevê-

se o não-pagamento de renda no primeiro ano, o pagamento de 1 saca/ha no

segundo ano, 2 sacas/ ha no terceiro ano e assim sucessivamente. No caso de

uma área já aberta, utilizando pastagem, o contrato apresenta variações, podendo

começar com o pagamento da renda com 1 ou 2 sacas/ha e ampliar o pagamento

em 1 ou 2 sacas/ha, a cada ano. Esta variação deve-se ao fato de onde já houve

a pastagem existir uma pequena quantidade de matéria orgânica, possibilitando

uma produtividade maior dos solos.

Ao final do contrato de arrendamento, que em média se dá em 5 anos,

podendo chegar a 08 e até a 10 anos, o proprietário da área recebe seus solos

com matéria orgânica acumulada, decorrente da palhada resultante dos cultivares

ali introduzidos, além dos benefícios oriundos do tratamento com calcário,

alumínio, gesso, enxofre, fósforo e potássio, dentre outros, fazendo com que a

partir daí sejam ampliadas as possibilidades de obter melhores safras.

O proprietário da área pode assumir o plantio, depois de encerrado o

primeiro contrato de arrendamento, obtendo lucros maiores do que o arrendatário

teve, como pode arrendá-la novamente, agora com valores maiores, vez que a

capacidade produtiva dos solos foi elevada.

Neste caso, de exploração agrícola dos solos areno-quartzosos, os

problemas ambientais gerados devem-se ao fato de se deixar exposto um solo

que é estruturalmente muito frágil. Em havendo chuva, o material, transportado,

será depositado no leito dos rios, assoreando-os, perder-se-á a embrionária

camada de solo existente, além de, a enxurrada, produzir erosões e voçorocas.

A figura 32 ilustra o plantio de soja num solo areno-quartzoso. Nota-se o

aspecto arenoso do solo exposto. Esta é uma área suscetível aos problemas

descritos acima.

Page 244: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 32: Plantio de soja em solo areno-quartozo (Aporé - GO).

Fonte: Mantelli, 2004.

Nesta perspectiva, as sugestões de alteração da legislação ambiental

vigete, no que tange à flexibilização do tamanho da área a ser averbada enquanto

reserva, podem se tornar um aparato teórico para justificar a anexação de áreas

frágeis e inadequadas à prática agrícola do Cerrado.

5.5.3 A prática do plantio direto.

Desde o desenvolvimento das tecnologias contidas no pacote da revolução

verde, a agricultura vem sendo aprimorada para se aumentar constantemente a

produtividade dos solos e do trabalho e, portanto, aumentar lucros e rentabilidade;

porém, tal tecnologia, se utilizada de forma inadequada, pode se transformar,

conforme Cunha (1994), numa verdadeira “caixa de Pandora”, trazendo à tona

problemas incalculáveis, tanto quanto incontroláveis.

Page 245: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No Sudoeste de Goiás as tecnologias avançadas são aplicadas em busca

da sustentabilidade econômica, que para ocorrer exige que a atividade agrícola se

mantenha em condições de competitividade. Os problemas de degradação e de

comprometimento dos estoques de recursos naturais ocorrem como

conseqüência desta busca constante, que exige cada vez mais a exploração

intensiva por meio de novas técnicas.

Mediante a tecnologia disponível, a produtividade elevada é manifesta

rapidamente e os problemas só vêm num prazo mais longo, e só aí poder-se-á

dizer se a produção é, realmente, sustentável econômica e ambientalmente.

É comum citarmos os problemas que atingem os solos, as águas, a

biodiversidade, enquanto exemplos de degradação. Estes são os chamados

“problemas de primeira geração”, diretamente causados pela prática agrícola em

si, como o uso intenso de agrotóxicos30, a redução da diversidade biológica e os

desequilíbrios ecológicos. Existem, também, os “problemas de segunda geração”,

que surgem como desdobramento dos primeiros ou em conseqüência da tentativa

de solucioná-los. A ocorrência da segunda geração de problemas traduz a

gravidade dos impactos gerados, que se manifestam não apenas local e

momentaneamente e dão a real dimensão do comprometimento ambiental gerado

por práticas de exploração inadequadas. Os problemas se desdobram e alcançam

elementos, espaços e indivíduos que, aparentemente e espacialmente, não estão

envolvidos com a exploração agrícola.

Considerando que as lavouras são as atividades que mais intensamente

utilizam a terra no complexo agrícola regional e que estão na ponta desta cadeia,

conforme já verificado no mapa 06, tecnologias poupadoras de recursos e menos

degradantes estão em voga, para garantir a continuidade da exploração. São

tecnologias que nascem apenas de motivação econômica, buscando potencializar

a prática exploratória.

A prática do plantio direto (PD) é um exemplo disso. Prevê o plantio da

semente diretamente sobre a palhada de forma a não ser necessário revolver o

30 O uso de agrotóxicos nas lavouras monocultoras em áreas de Cerrado é intenso, mesmo sendo baixo o grau de umidade, o que contribui para uma maior salubridade das plantas.

Page 246: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

solo. Isso diminui as chances de ocorrer erosões e compactação, preservando

parcialmente a estrutura física dos mesmos, também porque é uma prática de

cultivo com menos movimentação de solo, por demandar pouco uso de máquinas.

Por isso, o desenvolvimento deste método de plantio conjuga a maior

rentabilidade com a proteção dos solos.

O que levou os produtores do Sudoeste de Goiás a iniciarem os

experimentos de PD, há aproximadamente duas décadas, foi o fato de que nesta

modalidade de plantio têm-se os custos de produção reduzidos. No plantio

convencional gradea-se o solo e aplica-se veneno, logo em seguida efetua-se o

plantio e aplica-se veneno novamente; e se caso ocorrer chuva intensa, após o

plantio e a segunda aplicação de veneno, as sementes e o veneno podem ser

levados pela enxurrada.

No sistema de plantio direto, a palhada funciona como matéria orgânica.

Logo após a colheita (ou a maturação, no caso do plantio de outras culturas

somente para a formação da palhada, como o milheto) aplica-se veneno

(dessecante) para murchar e secar os restos da vegetação e, logo em seguida,

efetua-se a plantação das sementes sobre a palhada, que recebem maior

quantidade de veneno no processo de tratamento, mas ainda assim numa escala

menor do que para o plantio convencional. No PD não há o processo de

gradeamento, por isso as máquinas são menos utilizadas, o que significa

menores custos com combustível, peças e manutenção e mão-de-obra. A

palhada protege o solo do calor do sol e permite a concentração de umidade por

mais tempo, além de dificultar a germinação de outras espécies vegetais,

concebidas como pragas, reduzindo a presença de espécies competidoras com

as sementes plantadas, por isso diminui, também, o uso de venenos para “folhas

largas” e “folhas estreitas”. Já o uso de venenos de combate à ferrugem e às

lagartas ocorre de forma semelhante, tanto no plantio direto, quanto no plantio

convencional.

A figura 33 mostra o preparo do solo para o plantio direto a partir do cultivo

do milheto. Observa-se a área ainda recoberta por este cultivar, em processo de

secagem. Neste caso é aplicado um dessecante para agilizar a decomposição do

Page 247: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

vegetal, que tem por objetivo formar a palhada. Uma vez seca a vegetação, faz-se

o processo de calagem, nas áreas que demandam a aplicação de calcário. Na

figura 34 pode-se observar, pelo aspecto esbranquiçado do solo, que a área

passou por um recente processo de calagem. Nesta, a palhada foi formada a

partir da soqueira da soja colhida na safra anterior.

A fim de propor uma análise comparativa, a figura 35 mostra uma área

preparada para o plantio convencional, onde o solo está nu, tendo passado por

processo de gradeamento. Nota-se que a exposição do solo é maior quando a

área é submetida a preparo para o cultivo convencional. Figura 33: Plantação de milheto, a fim de formar palhada para plantio direto

(Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Page 248: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Figura 34: Área em preparo para plantio direto - soqueira de soja (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Figura 35: Área preparada para o plantio convencional - solo nu e gradeado (Jataí - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Page 249: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

5.5.4 Insuficiência das estratégias de produção conjugadas à preservação dos recursos.

O plantio direto é tido, atualmente, como a estratégia mais avançada em

termos de aumento de produtividade associada à preservação dos recursos,

neste caso os solos. Porém, as estratégias de conjugação do aumento de

produção e produtividade com a preservação dos recursos ainda são insuficientes

e a exploração agrícola regional continua a promover problemas de ordem

ecológica, tanto pela opção do crescimento horizontal quanto pela do vertical da

produção. O primeiro significa anexação de novas áreas à prática agrícola, com

perturbação dos sistemas até então não-ocupados. Já o crescimento vertical

requer intensificação do uso dos solos e das tecnologias utilizadas, aumentando a

pressão sobre os recursos explorados.

Tal questão pode ser identificada de diversas formas, que vão do

desmatamento indiscriminado de áreas de Cerrado, com o comprometimento das

espécies animais e vegetais típicas deste domínio, à contaminação de nascentes

e leitos de rios, retirada de matas ciliares e vegetação nas nascentes e olhos

d’água, gradeamento de áreas de covais (campos de murunduns), contaminação

do ar, por aplicação de agrotóxicos, descarte inadequado de vasilhames de

venenos, plantio de lavouras até as margens dos cursos d’água e ao

comprometimento das reservas hídricas em virtude do uso indiscriminado para

irrigação.

Em relação ao escasseamento da água admite-se que a Região dos

Cerrados tende a apresentar mais problemas, e num espaço de tempo mais curto,

do que outras regiões do Brasil, tendo em vista a intensidade da irrigação, que

vem sendo cada vez mais utilizada na busca de compensar os longos períodos de

estiagem31.

31 Na Região dos Cerrados as estações do ano são bem definidas, caracterizadas por um longo período chuvoso, que se estende de outubro a março, seguido de um outro longo período de estiagem, quando se registra baixíssimos índices de pluviosidade, este compreende os meses de abril a setembro, podendo ser ainda mais intenso dependendo da região e das condições específicas de cada ano.

Page 250: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

No Sudoeste de Goiás, pode-se encontrar aproximadamente 40 pivôs

centrais instalados, a maioria deles nos municípios de Rio Verde e Jataí,

conforme apresentado no mapa 06. A figura 36 ilustra pivô central, em descanso,

no município de Rio Verde.

Figura 36: Pivô central, em descanso (Rio Verde - GO).

Fonte: Ribeiro, 2005.

Sobre o uso da água, as propostas que têm surgido, propondo o uso

devidamente correto, têm um caráter extremamente enviesado. Propõe-se a

compra do direito ao seu uso. Esta medida, se levada a cabo, configurar-se-á em

mais um mecanismo de exclusão dos pequenos produtores e dos camponeses

das possibilidades de produzir, já que estes, certamente, não disponibilizarão de

grandes somas de recursos para adquirir sua cota de água.

Se o problema tem surgido em conseqüência do uso intensivo e/ou do

desperdício pelas grandes lavouras, cujos proprietários querem manter elevada a

produtividade, mesmo em períodos de baixa pluviosidade, não nos parece correto

Page 251: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

que, mais uma vez, os pequenos produtores, proprietários ou não, sejam

onerados com as medidas de racionamento e pagamento pelo uso da água.

Page 252: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se muito bem, hoje em dia, que a revolução verde não ajudou nem os agricultores, nem a terra, nem os consumidores. O uso maciço de fertilizantes e pesticidas químicos mudou todo o modo de se fazer agricultura, na mesma medida em que as empresas agroquímicas convenceram os agricultores de que poderiam ganhar dinheiro plantando um único produto agrícola em áreas enormes e controlando as pragas e ervas daninhas com agentes químicos. A prática da monocultura, além de acarretar o forte risco de que uma grande área plantada seja destruída por uma única praga, também afeta seriamente a saúde dos lavradores e das pessoas que moram nas regiões agrícolas[...] A verdade nua e crua é que a maioria das inovações na área da biotecnologia alimentar foram motivadas pelo lucro e não pela necessidade (Capra, 2002, p. 196).

A microrregião Sudoeste de Goiás é a parcela do território goiano que mais

recebeu fixos, fluxos e investimentos financeiros para a tecnificação da

agricultura. A região recebeu incentivos diretos do POLOCENTRO, por meio da

constituição do pólo Rio Verde – Jataí, sendo preparada, a partir disso, para os

objetos tecnificados disponíveis no pacote tecnológico da revolução verde. A

partir de então, a MRH é tida como sinônimo da agricultura no seu estágio mais

bem elaborado, tendo sua capacidade produtiva reconhecida nacional e

internacionalmente, o que cria um certo ufanismo, ao se exaltar os recordes da

produção regional.

A integração industrial da agricultura regional, que aqui chamamos de

“caificação”, gera um fluxo de produção e de capital responsável pela interligação

da região com as bolsas de valores, empresas, capitais e investidores do mundo

todo.

As formas assumidas pelo capital se manifestam na territorialização de

diversos agentes, como a Perdigão, a Cargill, a COMIGO, a COINBRA, a ADM, a

Bünge Alimentos, o Banco Safra, a Caramuru e diversos armazéns, escritórios e

lojas.

Os níveis de produção e de produtividade alcançados elevam-se a cada

safra, elevando, também, o lucro dos agentes envolvidos no processo produtivo

Page 253: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

agrícola e no seu suporte. Por isso, o crescimento econômico resultante da

agricultura regional, industrialmente integrada, é passível de ser notado, seja pela

observação dos objetos dispostos no território, seja por meio dos dados

disponíveis.

A partir disso, criou-se uma noção de desenvolvimento regional, pautada

na riqueza gerada pela agricultura. No entanto, por meio da pesquisa realizada,

esta noção nos parece equivocada, vez que, como também pode ser notado, seja

pela paisagem, seja pelas estatísticas, o crescimento econômico verificado não se

traduz em desenvolvimento. Ao contrário, é um crescimento que se dá às custas

da expropriação, da exploração, da exclusão, da segregação e do

comprometimento dos recursos naturais, o que é antagônico ao verdadeiro

desenvolvimento.

Há uma contradição, denotando a incompatibilidade entre os índices de

crescimento econômico e os índices de desenvolvimento social. Nos municípios

sudoestinos maiores produtores de grãos, podem ser verificadas a pobreza e a

miséria ao lado do luxo e da imponência. O bônus econômico gerado pela

agricultura “caificada” é privilégio de uma minoria; à maioria resta o ônus social e

ambiental decorrente da prática agrícola ali desenvolvida.

Nestes municípios, recordistas em produção e produtividade, sobretudo, de

soja, não foram encontrados índices de desenvolvimento de capital humano e

social compatíveis com esses recordes, corroborando a tese de que o bônus

econômico resultado da agricultura regional, é privilégio de poucos.

Ao longo do trabalho foram enumeradas razões desta afirmação. O

crescimento da violência, da procura por emprego, não acompanhada da oferta

destes, a precariedade dos bairros periféricos, o aumento da solicitação de

assistência social e de menores desassistidos são algumas delas.

Além do ônus social, também foi identificado o ônus ambiental,

conseqüente da exploração agrícola predatória, que é socializado para todo o

conjunto da sociedade.

O uso inadequado dos recursos naturais e a anexação ao cultivo de áreas

de preservação promovem desequilíbrios, tais como a contaminação das águas, o

Page 254: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

assoreamento dos leitos e drenagens, a poluição do ar, o comprometimento da

biodiversidade, a lixiviação dos solos e o surgimento de erosões e voçorocas,

problemas estes que recaem sobre a sociedade como um todo.

As informações sobre o uso da terra na MRH corroboram essa tese,

porque mostram claramente a pouca remanescência da vegetação nativa, que em

alguns municípios já foi extinta, quase por completo, como é o caso de Chapadão

do Céu, e a predominância, na grande maioria da área de cultivos temporários e,

numa escala um pouco menor, de pastagens plantadas.

A gravidade do problema é reafirmada quando se analisa os dados sobre

desmatamento, pois vê-se que a área de vegetação nativa tem sido

comprometida rapidamente a fim da instalação de novos cultivos temporários, ao

passo que as árvores derrubadas viram carvão, que vai se transformar, por meio,

principalmente, das siderúrgicas mineiras, no aço que vai para o Canadá.

Dessa forma, considera-se que a agricultura que se pratica na região dista,

completamente, da agricultura que deveria ser praticada, porque reforça o

predomínio do patronato, da monocultora e da exclusão, além de comprometer os

estoques de energia e de recursos naturais.

Grande parte dos produtores e da população regional foi decretada

inadequada para compor esse processo produtivo, e, por isso, não participa do

bônus econômico gerado por ele. Porém, mesmo estando excluída do processo

de produção e da renda gerada, a população é onerada com os prejuízos que

esse processo ocasiona.

O “decreto” de exclusão da pequena produção e da agricultura familiar,

conjugado à abertura e anexação de novas áreas para o cultivo, está pautado

numa, de certa forma, contemporaneidade do discurso malthusiano. Justifica-se,

aí, a agricultura excludente e predatória em nome da “pressão mundial por

alimentos”. Porém, sabe-se que o volume dos alimentos mundialmente

produzidos, e passíveis de serem produzidos, é suficiente para alimentar a

população mundial. Isto mostra que a exploração agrícola predatória está pautada

na fome do capital, ao passo que nem sempre sacia a fome de alimentos,

paradoxalmente, promove a falta destes.

Page 255: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

O aumento da população de indigentes, pedintes e mendigos pelas ruas

das cidades sudoestinas corrobora tal assertiva. Se a agricultura ali desenvolvida

é pautada na intenção de suprir a demanda por alimentos, como pode coexistir

com os extensos campos de cultivo e com a renda gerada por eles, o crescimento

da população esfomeada? (Esta realidade nos faz lembrar Vandré: “Pelos

campos há fome em grandes plantações”).

É bem certo que, em virtude da especialização monocultora regional, não é

possível que a alimentação se paute nos cultivares ali produzidos, porém, dever-

se-ia ter a renda gerada distribuída de forma a contemplar todos os segmentos da

sociedade, para, assim, poder se tratar de um desenvolvimento regional.

Dessa forma, nos esforçamos para apresentar o Sudoeste de Goiás, e a

agricultura ali instalada, a partir do olhar que capta a realidade espacial,

paisagística e econômica para além dos cifrões gerados pela agricultura

“caificada”. Esta também constrói, destrói e reconstrói elementos outros,

usualmente escamoteados no intuito de fazer sobressair a noção de riqueza, e de

eles servirem à legitimação da exploração dos recursos naturais e humanos para

a reprodução do capital.

No entanto, mesmo partindo da premissa de que o capital, associado ao

Estado, redefine as relações de produção e a ocupação do espaço, buscamos

estar atento ao uso diferenciado do território. A territorialização do capital, e a

consolidação da agricultura industrialmente integrada, não excluem, na sua

totalidade, a existência de relações de produção não capitalistas e/ou práticas

alternativas de exploração agrícola na região.

Co-existem com a agricultura empresarial agrícola na região, embora numa

escala pequena, explorações com base no trabalho familiar e na pequena

propriedade. Por isso, acreditamos que investigar a administração, a disposição

de tecnologias e de capital, a organização do trabalho e o uso de mão-de-obra

nas explorações agrícolas que não estão industrialmente integradas é uma forma

de demonstrar que não há impedimentos de ordem natural e étnica, para as

pequenas explorações agrícolas e para o trabalho familiar em áreas de Cerrado.

Há, sim, dificuldades de ordem financeira e burocrática, vez que todas as

Page 256: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

atenções e esforços são envidados na direção da agricultura industrialmente

integrada.

Logo, acreditamos que uma outra forma de exploração agrícola é possível,

pautada na relação sadia entre os elementos da natureza, incluindo-se aí o

homem; onde um ser humano mais evoluído e consciente aja na natureza para a

co-existência e não para a exploração, conforme orienta Altieri (2002).

Acreditamos, também, que tal transformação é urgente, já que o modelo

atual de exploração agrícola em curso no Sudoeste de Goiás não só compromete

a distribuição de renda e os recursos naturais, como torna impossível a dignidade

dos trabalhadores e dos produtores não inseridos no modelo em curso, e sem

garantias a continuidade do domínio dos Cerrados.

Page 257: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: HUCITEC, 1992. ABREU, M. de P.; LOYO, E. H. de M. M. Globalização e regionalização: tendências da economia mundial e seu impacto sobre os interesses agrícolas brasileiros. Revista Estudos de Política Agrícola – sumários executivos. IPEA – BSB. n. 3, p. 07-15, dez., 1993. ACSELRAD, H. Cidadania e meio ambiente. In: ACSELRAD, H. (Org.). Meio ambiente e democracia. Rio de Janeiro: IBASE, 1992. p. 18-31. AGUIAR, R. C. Abrindo o pacote tecnológico: Estado e pesquisa agropecuária no Brasil. São Paulo: Polis; Brasília: CNPq, 1986.

ALENCAR, J. O campo salvou o Brasil: vice atribui crescimento da economia às exportações rurais. Dinheiro Rural, 4. ed., São Paulo, ano 2, p. 69, fev., 2005. ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Ed. Agropecuária, 2002. ALTVATER, E. O preço da riqueza. São Paulo: Ed. Edunesp, 1994. ARAÚJO, B. J. de. (Coord.). Reflexões sobre a agricultura brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. BARROS, J. R. M. de. Falta de visão de longo prazo nas fazendas. Revista Dinheiro Rural. 4. ed. São Paulo, ano 2, p. 14-16, fev., 2005. Entrevista concedida à Revista Dinheiro Rural. BELIK, W. Estado, grupos de interesse e formulação de políticas para a agropecuária brasileira. Revista de Economia e Sociologia Rural. Brasília, SOBER, v. 36, n.1, p.09-33, jan./mar., 1998. BELIK, W.; PAULILLO, L. F. O financiamento da produção agrícola brasileira na década de 90: ajustamento e seletividade. In: LEITE, S. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre: Ed. da Universidade/ UFRGS, 2001. p. 95 – 120. BENJAMIM, C. et. al. A opção brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 1998. BERALDO, A. D. As negociações agrícolas e a evolução do comércio agrícola mundial. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura,

Page 258: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano IX, n. 04, p. 03-09, out./ nov./ dez., 2000. BERNARDES, J. A. As estratégias do capital no complexo da soja. In: CASTRO, I. E. de. et al. Brasil: questões atuais da reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 325 - 366. BESKOW. P. R. O arrendamento capitalista na agricultura. São Paulo: Hucitec; Brasília: CNPq, 1986. BLECHER, B. O Eldorado Goiano. Revista Exame. São Paulo, p.64 - 70, 30 de out., 2002 BORGES, B. G. Goiás nos quadros da economia nacional: 1930 – 1960. Goiânia. Ed. da UFG, 2000. CAPRA, F. As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Ed. Cultrix, 2002. CARVALHO FILHO, J. J. de. Política agrária do governo FCH: desenvolvimento rural e a nova reforma agrária. In: LEITE, S. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2001. p. 193 – 223. CASTILLO, R. Soja: perigo nos novos fronts. Jornal da UNICAMP. Campinas (SP), p. 03, 26 de abr. - 02 de maio, 2004. CASTRO, J. de. Geopolítica da fome: ensaios sobre os problemas de alimentação e de população. 7ª. Ed. São Paulo; Ed. Brasiliense, 1965. CASTRO, I. E. de. et al. Brasil: questões atuais da reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. CASTRO, N. de. Custo de transporte e produção agrícola no Brasil – 1970 – 1996. In: HELFAND, S. M.; REZENDE, G. C. de (Orgs.). Região e espaço no desenvolvimento agrícola brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. p. 297-330. CASTRO, N. de. Expansão rodoviária e desenvolvimento agrícola dos Cerrados. In: HELFAND, S. M.; REZENDE, G. C. de (Orgs.). Região e espaço no desenvolvimento agrícola brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. p. 213-243. CÉZAR, C. Trabalhadores escravos no município de Serranópolis, 2002. Acervo pessoal de entrevistas realizadas para a TV Jataí. Jataí, 2005. CHESNAIS, F. A mundialização do capital. Tradução de Silvana Finzi. São Paulo: Xamã, 1996.

Page 259: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

CINTRA NETO, M. F. Internacionalização da BM&F e o novo agronegócio brasileiro. Resenha BM&F. São Paulo, n. 133, p. 05-06, jul./ ago., 1999. COELHO, C. N. O “agribussiness” brasileiro e as macrotendências mundiais. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano IX. n. 01, p. 27-36, jan./ fev./ mar., 2000(a). COELHO, C. N. O aproveitamento econômico dos Cerrados. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano X, n. 01, p. 03-05, jan./ fev./ mar., 2001(b). COMIGO. Informativo comemorativo dos 29 anos. Rio Verde, 2004. COSTA, V. M. H. de M. A modernização da agricultura no contexto da constituição do complexo agroindustrial no Brasil. In.: Encontro Nacional de Geografia Agrária, 11. Maringá. ANAIS ENGA, 1992. p. 02 – 26. COUTINHO, L. Campo high – tech. Revista Veja (edição especial: Agronegócio), São Paulo, p. 24-29, abril de 2004 CRUVINEL, P. E; CONTINI, E. Automação na agricultura do século XXI. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano IX, n. 01, p. 43-45, jan./ fev./ mar., 2000. CUNHA, A. S. (Coord.). Uma avaliação da sustentabilidade da agricultura nos cerrados. Estudos de política agrícola. Brasília (DF): IPEA, n. 11, 1994. (Relatórios de pesquisas). DANSREAU, P. A terra dos homens e a paisagem interior. Belém (PA). NAEA/ UFPA, 1999. DELGADO, N. G. Política econômica e ajuste externo e agricultura. In: LEITE, S. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre (RS): Ed. da UFRGS, 2001. p. 15 – 52. DELGADO, G. C. Capital e política agrária no Brasil: 1930-1980. In: SZMRECZÁNYI, T.; SUZIGAN, W. (Orgs). História econômica do Brasil contemporâneo. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 209-263. DIVERSIFICAÇÃO, A MARCA DA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA EM GOIÁS. Revista de Economia e Desenvolvimento, jul. – set, 2004. < Disponível em: www.seplan.go.gov.br >. Acesso em 08 de julho de 2005.

Page 260: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

DELGADO, G. C.; CARDOSO Jr., J. C. Universalização de direitos sociais no Brasil: a previdência rural nos anos 80. In: LEITE, S. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2001. p. 225-250. DUARTE, L. M. G; THEODORO, S. H. (Orgs) Dilemas do Cerrado. Entre o ecologicamente (in)correto e o socialmente (in)justo. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. EIBH, Estudo Integrado de Bacias Hidrográficas para Avaliação de Aproveitamentos Hidroelétricos. Goiânia, 2005. FERREIRA, A. B. de H. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. FERREIRA, D. F. Análises das transformações recentes na atividade agrícola da Região Sudoeste de Goiás, 1970/ 1995-6. 145 f. Dissertação. (Mestrado em Desenvolvimento Econômico). Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Economia, Uberlândia (MG), 2001.

FERREIRA, L. da C.; FERREIRA, L. da C. Limites ecossistêmicos: novos dilemas e desafios para o Estado e para a sociedade. In: HOGAN, D. J.; FREIRE, P. (Orgs.). Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustentável. 2. Ed. Campinas (SP) : EDUNICAMP, 1995. p. 13-35. FIBGE, Censos agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985 e 1995 – 96. FRANCO, A. de, Pobreza & Desenvolvimento Local. Brasília. ARCA, 2002. FRANCO da SILVA. C. A. Grupo André Maggi: corporação e rede em áreas de fronteira. Cuiabá: Entrelinhas, 2003. GALE NEGOCIA COM PERDIGÃO. Folha do Sudoeste, 06 a 12 de outubro de 2005. Jataí, 2005. GARÇON, J. Precariedade afeta o agronegócio, 2004. <Disponível em: www.agr.feis.unesp.br>. Acesso em 17 de abr., 2005. GENTILI, P. (Org.). Globalização excludente: desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. Petrópolis: Vozes, 1999. GEOCITES, 2003. <Disponível em: www.geocites.com.br/estradadeferro/ferronorte.htm>. Acesso em: 17 de abr., 2005. GOIÁS busca sócios privados, 2005. < Disponível em: www.antf.org.br/notícias>. Acesso em 17 de abr., 2005.

Page 261: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

GONÇALVES, C.W.P. A invenção de novas Geografias. Revista Território e territórios. Niterói: Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFF/ AGB, 2002. GOODMAN, D. et al. Da lavoura às biotecnologias. Rio de Janeiro: Campus, 1987. GRAZIANO da SILVA, J. A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira agrícola e trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. GRAZIANO da SILVA, J. (Coord.). Estrutura agrária e produção de subsistência na agricultura brasileira. São Paulo: Hucitec, 1978. GRAZIANO da SILVA, J. Progresso técnico e relações de trabalho na agricultura. São Paulo: HUCITEC, 1981. GUANZIROLI, C. et. al. Agricultura familiar e reforma agrária no século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. HAHN, A. Terceira revolução industrial: materiais avançados, novo paradigma industrial e globalização. In: VELLOSO, J. P. dos R. (Org.). A nova ordem internacional e a terceira revolução industrial. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1992. p. 181-191. HELFAND, S. M.; REZENDE, G. C. de. Mudança na distribuição espacial da produção de grãos, aves e suínos no Brasil: o papel do Centro-Oeste. In: ______. (Orgs.). Região e espaço no desenvolvimento agrícola brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. p. 13-56. HELFAND, S. M. Os determinantes da eficiência técnica no Centro-Oeste brasileiro. In: HELFAND, S. M.; REZENDE, G. C. de. (Orgs.). Região e espaço no desenvolvimento agrícola brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. p. 331-353. HOGAN, D. J.; FREIRE, P. (Orgs.). Dilemas socioambientais e desenvolvimento sustentável. 2. ed. Campinas: EDUNICAMP, 1995. HONDA, A. M.; WEYDMANN, C. L. Condicionantes da cédula de produto rural – CPR, na comercialização do produtor. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano X, n. 02, p. 27-32, abr./ maio/ jun., 2001. KHATOUNIAN, C.A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu: Ed. Agroecológica, 2001.

Page 262: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

KAUTSKY, K. A questão agrária. Tradução de O. E. W. Maas. São Paulo: Nova Cultural, 1986. (Série Os Economistas). LAVINAS, L.; LARLEIAL, L. M. da F.; NABUCO, M. R. (Orgs.). Integração, região e regionalismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. LEITE, S. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2001. LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA MUNICIPAL. IBGE, 2000. LUXEMBURG, R. A acumulação do capital. Tradução de M. Bandeira. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983. MACEDO, J. Os Cerrados brasileiros: alternativa para a produção de alimentos no limiar do século XXI. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano IV. n. 02., p. 11-18, abr./ maio/ jun., 1995. MACHADO, R. Cerrado brasileiro pode desaparecer até 2030. Jornal O Estado de São Paulo, 19 de julho de 2004. p. A8. Entrevista concedida a Eduardo Kattah MALTHUS, T. R. Economia. São Paulo: Ática, 1982. MARTINS, J. de S. O cativeiro da terra. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1990. MARX, K. Economia. São Paulo: Ática, 1982. MAZZALI, L. O processo recente de reorganização agroindustrial: do complexo à organização “em rede”. São Paulo: UNESP, 2000. MELO, N. A. de. Interação campo – cidade: a (re)organização sócio-espacial de Jataí no período de 1970 a 2000. Dissertação (mestrado). Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2003. MELO, N. A. de; RIBEIRO, D. D.; SOARES, B. R. O chapadão que virou mar: (mar) de soja - o caso de Jataí (GO). Revista Educação & Mudança. Anápolis (GO): FAEE, n. 11/12, p. 49-72, jan./ dez., 2003. MENDONÇA. M. R. A urdidura espacial do capital e do trabalho no Cerrado do Sudeste Goiano. 448 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente (SP), 2004.

Page 263: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

MOREIRA, R. A nova divisão territorial do trabalho e as tendências de configuração do espaço brasileiro. In: LIMONAD, E; HAESBAERT, R; MOREIRA, R. (Orgs.). Brasil século XXI, por uma nova regionalização? Agentes, processos e escalas. São Paulo. Ed. Max Limonad, 2004. p. 123-152. MORIN, E. O enigma do homem. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1973. MULLER, G. Complexo agroindustrial e modernização agrária. São Paulo: Hucitec; EDUC, 1989. NATAL. J. L. A. Império norte-americano e território no Brasil dos anos 1980 e 1990. Cadernos do IPPUR/UFRJ. Rio de Janeiro: IPPUR, p. 265-284, 2001/ 2002. (Ensaios sobre a desigualdade). OCORRÊNCIAS REGISTRADAS, de janeiro de 2003 a agosto de 2005. Centro integrado de operações estratégicas – seção de estatística, análise criminal e informática. 15º. BPM, Jataí, 2005. OCORRÊNCIAS REGISTRADAS, de janeiro de 2004 a agosto de 2005. Seção de estatística e comunicação social. 2º. BPM, Rio Verde, 2005. OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 3. ed. São Paulo: Ática, 1990. PÁDUA, J. A. Produção, consumo e sustentabilidade: o Brasil e o contexto planetário. Trabalho apresentado na Conferência Internacional Sul – Sul “Globalização, dívida ecológica, mudanças climáticas e sustentabilidade”. Cotonou e Qüidah (República do Benin), 26 a 29 de novembro de 2001. PAULILLO, L. F.; ALVES, F. (Orgs.). Reestruturação agroindustrial: políticas públicas e segurança alimentar regional. São Carlos. EDUFSCAR, 2002. PERDIGÃO, Relatório de Desempenho. Rio Verde. Perdigão Agroindustrial S/ A, Regional Centro-Oeste. Relatório de Desempenho, 2005. PERDIGÃO FAZ NOVO APORTE E AVANÇA NO CENTRO-OESTE, 2004 <Disponível em: www.info.adtp.org.br> . Acesso em: 08 de Julho de 2005. PERDIGÃO TERÁ NOVA FÁBRICA, 2004.<Disponível em www.icepa.com.br>. Acesso em: 08 de Julho de 2005. PINHEIRO, S.; NASR, N. Y.; LUZ, D. Agricultura ecológica e a máfia dos agrotóxicos no Brasil. Rio de Janeiro. Edição dos Autores, 1998.

Page 264: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

PORTO SECO CENTRO – OESTE. Histórico da empresa, 2005. <Disponível em www.portocentrooeste.com.br/historico.html>. Acesso em: 28 de outubro de 2005. PORTUGAL, A. D. O desenvolvimento da biotecnologia agropecuária no Brasil. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano IX. n. 03, p. 16-23, jul./ ago./ set, 2000. RAMOS, S. Sistemas técnicos agrícolas e meio técnico-científico-informacional no Brasil. In: SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do Século XXI. 3. ed. São Paulo: Record, 2001. p. 375-387. RANGEL, I. Questão agrária, industrialização e crise urbana no Brasil. Porto Alegre. Ed. da UFRGS, 2000. (Org. José Graziano da Silva). RELATÓRIO DE GESTÀO, referente ao exercício 2003. Secretaria de Ação e Promoção Social de Rio Verde. Rio Verde, 2005. RELATÓRIO DE GESTÀO, referente ao exercício 2004. Secretaria de Ação e Promoção Social de Rio Verde. Rio Verde, 2005. RESENHA BM&F. São Paulo. n.151, p. 58-67, set./ out., 2002. REZENDE, G. C. de. Ocupação agrícola, estrutura agrária e mercado de trabalho rural no Cerrado: o papel do preço da terra, dos recursos naturais e das políticas públicas. In: HELFAND, S. M.; REZENDE, G. C. de. (Orgs.). Região e espaço no desenvolvimento agrícola brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. p. 173 – 212. RIBEIRO, D. D. Modernização da agricultura e (re) organização do espaço no município de Jataí-Go. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. (SP), 2003. RODRIGUES, R. O segredo é negociar. Revista Veja, São Paulo, p. 46-47, 15 de out., 2003. RODRIGUES, R. Agronegócio inclui todos os produtores rurais, 2004. <Disponível em: www.agroeste.com.br > Acesso em 04 de julho de 2005. ROMEIRO, A. R. et al. (Orgs.). Economia do meio ambiente: teoria, políticas e a gestão de espaços regionais. 3. ed. Campinas: UNICAMP, 2001 SACHS, I. Recursos, empregos e financiamento do desenvolvimento: produzir sem destruir – o caso do Brasil. Revista de Economia Política, n. 1(37), v. 10, p. 111-132, jan./ mar., 1990.

Page 265: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambient. São Paulo: Ed. Studio Nobel, 1993. SANTOS, M. (et al) Território territórios. Niterói: UFF, Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2002. SANTOS, M. A totalidade do diabo – como as formas geográficas difundem o capital e mudam estruturas sociais. Revista Ciência Geográfica. Bauru. AGB. p. 73 – 77, 1994. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia, São Paulo: Hucitec, 1988. SCHULTZ, T. A transformação da agricultura tradicional. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. SCHUMACHER, E. F. O negócio é ser pequeno. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. SECCHES, N. Perdigão vai construir nova unidade em Goiás. Jornal “O Popular”, Goiânia, 07 de agosto de 2004, p.14. Entrevista concedida a Sônia Ferreira. SEMARH, Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Goiás – gerência de geoprocessamento Of. no. 953/2005. Informações sobre detecção e mapeamento de desmatamentos. SEPLAN-GO/SEPLIN. Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás, Gerência de Estatísticas Socioeconômicas, 2003. <Disponível em: www.portalsepin.seplan.go.gov.br/goiasemdados2003>. Acesso em: 12 de abr., 2005. SILVA, C. J. da. Transporte hidroviário é polêmico, 2004. <Disponível em: www.riosvivo.org.br>. Acesso em: 17 de abr., 2005. SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO DE POSTO DE ATENDIMENTO. Período: 09/11/2004 a 31/08/2005. SINE, Rio Verde, 2005. SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO DE POSTO DE ATENDIMENTO. Período: 01/01/2001 a 14/09/2005. SINE, Jataí, 2005. SMITH, N. Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produção do espaço. Tradução de E. de A. Navarro. Rio de Janeiro: Bertrand, 1988. SOARES FILHO, M. Estado em ebulição: novos empreendimentos estão mudando a fisionomia de Goiás. Agroanalysis, Revista de Agronegócios da FGV.

Page 266: AGRICULTURA “CAIFICADA” NO SUDOESTE DE GOIÁS · Aos novos queridos que surgiram com a minha passagem pelo Rio de Janeiro e por Niterói: Albita ... o modelo de exploração agrícola

Rio de Janeiro: FGV, p.08 – 18, janeiro de 2002. Entrevista concedida a Márcio Bueno. SORJ, B. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. THEODORO, S. H; LEONARDOS, O. H; DUARTE, L. M. G. Cerrado: o celeiro saqueado. In: DUARTE, L. M. G; THEODORO, S. H. (Orgs) Dilemas do Cerrado. Entre o ecologicamente (in)correto e o socialmente (in)justo. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. p. 145 – 176. VEIGA, J. E. da. A face rural do desenvolvimento: natureza, território e agricultura. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2000. VELHO, O. G. Sociedade e Agricultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. VELLOSO, J. P. dos R. (Org.). A nova ordem internacional e a terceira revolução industrial. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1992. VIANNA, F. J. de O. História social da economia capitalista no Brasil. Rio de Janeiro: UFF, v. 1-2, 1987. WAIBEL, L. Capítulos de Geografia tropical no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE,1979. WALTER, W. Revista Agrinova. São Paulo, ano 3, n. 34, p. 24-32, abr., 2004. Entrevista concedida a Alexandre Inácio. WANDERLEY, M. de N. B. Capital e propriedade fundiária na agricultura brasileira. In: ARAÚJO, B. J. de. (Coord.).Reflexões sobre a agricultura brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. WARNKEN, P. F. A influência da política econômica na expansão da soja no Brasil. Revista de Política Agrícola. Brasília (DF): Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, ano VIII. N. 01, p. 21-25, jan./ fev./ mar., 1999.