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Page 1: Ae11 Craig Owens

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o impulso alegoacuterico so bre uma teoria do poacutes-modernismo

I I f

Craig Owens

o autor examino o que ocorre no interior dos trabalhos de arte quando o alegoria descreve suo estruturo evidenciando-se como modelo criacutetico cujo objetivo eacute

colocor outro significado no formo de suo apresentaccedilatildeo sendo o imaginaacuterio alegoacuterico um imaginaacuterio apropriado em que os imagens satildeo confiscados

Considerando o reemergecircncia do alegoria no arte contemporocircnea o despeito de suo rejeiccedilatildeo pelo criacutetico do arte moderno Owens busco exemplos no histoacuteria do

arte e no literatura inclusive no modernismo que lhe sugerem natildeo serem o alegoria e o modernismo antiteacuteticos pelo menos no praacutetico 00 constatar que apenas no

teoria o impulso alegoacuterico tem sido reprimido A alegoria eacute concebido tonto como uma atitude quanto uma teacutecnico uma percepccedilatildeo quanto um procedimento

Arte alegoria apropri occedilaacuteo

Cada imagem do passado que natildeo eacute reconhecida pelo presente como uma de suas proacuteprias referecircncias ameaccedila desaparecer irremediavelmente

Walter Benjamin Sobre o conceito de histoacuteria

Sei que em um determinado momento a arte alegoacuterica foi considerada atraente e agora eacute

Em uma anaacutelise do conjunto de textos de intoleraacutevel Sentimos que aleacutem de ser Robert Smithson publicada na revista October intoleraacutevel eacute estuacutepida e friacutevola Nem mesmo

no outono de 1979 propus que o gecircnio de Dante que contou a histoacuteria de sua paixatildeo Smithson era alegoacuterico envolvido na liquidaccedilatildeo na Vrta Nuova nem Roman Boethius de uma tradiccedilatildeo esteacutetica que ele percebia como escrevendo seu De consolatione na torre de mais ou menos arruinada Atribuir um motivo Pavio agrave sombra da espada de seu carrasco alegoacuterico agrave arte contemporacircnea eacute aventurar-se poderiam ter compreendido nosso sentimento em um territoacuterio proscrito pois a alegoria tem Como posso explicar aquela difeacuterenccedila de visatildeo sido condenada por aproximadamente dois sem simplesmente apelar ao princiacutepio de seacuteculos como aberraccedilatildeo esteacutetica a antiacutetese da mudanccedila do gosto arte Em Esteacutetiacuteco Croce a ela se refere como ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Borges certa Essa anrmaccedilatildeo eacute duplamente paradoxal pois vez a chamou esteacutetica do erro Embora natildeo somente contradiz a natureza alegoacuterica da certamente permaneccedila um dos mais alegoacutericos proacutepria ncccedilatildeo de Borges como tambeacutem nega agrave escritores contemporacircneos Borges contudo alegoria o que eacute sua maior caracteriacutestica a vecirc a alegoria como um artifiacutecio fora de moda capacidade para resgatar do esquecimento exaurido um tema do histoacuterico a despeito do histoacuterico aquilo que ameaccedila desaparecer A interesse criacutetico As alegorias de fato aparecem alegoria primeiramente emergiu em resposta a a Borges para representar-lhe a distacircncia entre o uma espeacutecie de sentido de estranhamento da presente e o passado irrecuperaacutevel tradiccedilatildeo ao longo de sua histoacuteria ela tem

funcionado na fenda entre um presente e um passado que sem uma reinterpretaccedilatildeo

TEMAT ICA CRAIG OWENS 113

ae R E v 1ST A o o P R o G R A M A o E POacute S - G R A o U A ccedil Aacute o E M A R T E S V I SUA I S E 6 A bull U F R J 2 o o 4

alegoacuterica poderia ter permanecido excluiacutedo Uma convicccedilatildeo a respeito da distacircncia do

passado e o desejo de redimi-Io ao presente satildeo seus dois impulsos fundamentais Eles contribuem tanto para o papel que a alegoria tem na investigaccedilatildeo psicanaliacutetica quanto para seu significado em Walter Benjamin o uacutenico criacutetico

do seacuteculo 20 a tratar do tema sem preconceito

filosoficamente 2 Eles ainda falham em explicar

por que o potencial esteacutetico da alegoria parecia ter-se exaurido haacute algum tempo nem satildeo capazes de localizar a brecha na qual a proacutepria alegoria retrocedeu nas profundezas da histoacuteria

Investigar as origens da atitude modema sobre a alegoria tambeacutem poderia parecer estuacutepido e friacutevolo se natildeo fosse pelo fato de que um inconfundiacutevel impulso alegoacuterico tenha comeccedilado a reafirmar-se em vaacuterios aspectos da cultura

contemporacircnea no revival de Benjamin por exemplo ou no The Anxiety of Inpuence de Harold Bloom A alegoria eacute tambeacutem expressa no revivalismo histoacuterico que hoje caracteriza a praacutetica arquitetural e a posiccedilatildeo revisionista de

grande parte do discurso histoacuterico da arte recente Por exemplo T J Clark ao tratar a pintura da metade do seacuteculo 19 como alegoria

poliacutetica No que segue quero focalizar essa

reemergecircncia atraveacutes do seu impacto tanto na praacutetica quanto na criacutetica das artes visuais Haacute como sempre importantes precedentes a serem contabilizados Duchamp identifiCOU tanto o estado instantacircneo do Resto quanto a exposiccedilatildeo extra-raacutepida [extra rapid exposure] ou seja os aspectos fotograacuteflcos3 do Grande Vidro como aparecircncia alegoacuterica Allegory eacute tambeacutem o tiacutetulo de uma das mais ambiciosas combine paintings de Robert Rauschenberg da deacutecada de 1950 Uma consideraccedilatildeo sobre tais trabalhos deve ser adiada contudo pois sua importacircncia soacute se toma aparente depois que a supressatildeo da alegoria pela teoria moderna foi completamente reconhecida

Para identificar a alegoria em suas manifestaccedilotildees contemporacircneas precisamos primeiramente ter uma ideacuteia geral do que ela eacute de fato ou

melhor o que ela representa pois a alegoria eacute tanto urna atitude quanto urna teacutecnica urna percepccedilatildeo quanto um procedimento Permitimo-nos dizer por ora que a alegoria

ocorre sempre que um texto eacute dublado por

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outro o Velho Testamento por exemplo tomashyse alegoacuterico quando eacute lido como uma

prefiguraccedilatildeo do Novo Essa descriccedilatildeo provisoacuteria - que natildeo eacute uma definiccedilatildeo - vale tanto para a origem da alegoria nos comentaacuterios e exegeses quanto para sua permanente afinidade com eles

como Northrop Frye indica o trabalho alegoacuterico tende a prescrever a direccedilatildeo de seu proacuteprio comentaacuterio Eacuteesse aspecto metatextual que eacute invocado sempre que a alegoria eacute atacada como

interpretaccedilatildeo simplesmente anexada post facto a um trabalho um ornamento retoacuterico ou noreio

Ainda como argumenta Frye a alegoria genuiacutena eacute um elemento estrutural na literatura ela tem que estar laacute e natildeo pode ser anexada

pela interpretaccedilatildeo criacutetica isolada 4 Na estrutura alegoacuterica portanto um texto eacute lido atraveacutes de

outro embora fragmentaacuteria intermitente ou caoacutetica possa ser sua relaccedilatildeo o paradigma para

o trabalho alegoacuterico eacute entatildeo o palimpsesto (Eacute daqui que uma leitura da alegoria em Borges deve ser iniciada com Pierre Menard autor de Quixote ou muitas das Crocircnicas de Bustos Domecq onde o texto eacute positivado por seu

proacuteprio comentaacuterio)

Concebida dessa maneira a alegoria torna-se o

modelo de todo comentaacuterio de toda criacutetica na medida em que estatildeo envolvidos em reescrever

um texto primaacuterio em termos de sua significaccedilatildeo figurai Estou interessado entretanto no que ocorre quando essa relaccedilatildeo acontece no interior dos trabalhos de arte quando ela descreve sua estrutura O imaginaacuterio alegoacuterico eacute um

imaginaacuterio apropriado o alegorista natildeo inventa imagens mas as confisca Ele reivindica o

significado culturalmente coloca-a como sua inteacuterprete E em suas matildeos a imagem toma-se uma outra coisa (ollos = outro + ogoreuei =

dizer) Ela natildeo restaura um significado original que possa ter sidQ perdido ou obscurecido a alegoria natildeo eacute hermenecircutica Mais do que isso ela anexa outro significado agrave imagem Ao anexar no entanto faz somente uma recolocaccedilatildeo o

significado alegoacuterico suplanta seu antecedente ele eacute um suplemento Eacute por isso que a alegoria eacute condenada mas eacute tambeacutem a fonte de sua significaccedilatildeo teoacute rica

A primeira ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea pode agora ser feita com a apropriaccedilatildeo de imagens que ocorre nos

trabalhos de Troy Brauntuch Sherrie Levine Robert Longo - artistas que geram imagens por meio da reproduccedilatildeo de outras imagens A imagem apropriada pode ser um ftlm stil uma fotografia um desenho eacute com frequumlecircncia ela proacutepria uma reproduccedilatildeo Contudo as manipulaccedilotildees agraves quais esses artistas submetem tais imagens trabalham para esvaziaacute-Ias de sua ressonacircncia seu significado sua reivindicaccedilatildeo autoritaacuteria para significar Atraveacutes das ampliaccedilotildees de Brauntuch por exemplo os desenhos de Hitler ou aqueles das viacutetimas dos campos de concentraccedilatildeo exibidos sem legendas tomam-se resolutamente opacos

Toda operaccedilatildeo pela qual Brauntuch submete essas fotografias representa a duraccedilatildeo de um olhar fascinado e perplexo cujo desejo eacute que elas revelem seus segredos mas o resultado eacute apenas fazer as fotografias o mais semelhante agrave pintura para fixar para sempre em um objeto elegante nossa distacircncia da histoacuteria que produziu essas imagens Aquela distacircncia eacute tudo o que essas fotografias significam 5

o olhar de Brauntuch eacute entatildeo aquele olhar f melancoacutelico que Benjamin identificou com o j

temperamento alegoacuterico

Se o objeto toma-se alegoacuterico sob o olhar do melancolia se a melancolia causa o ffuir da vida para fora dela e permanece aleacutem da morte mos etemamente segura entatildeo ela estoacute exposta ao alegorista estoacute incondicionalmente em seu poder O que significa dizer que ela eacute agora completamente incapaz de emanar qualquer sentido ou significado de si proacutepria o significado que elo tiver o adquire do alegorista Ele o coloco dentro dela e permanece aleacutem dela - natildeo em um sentido psicoloacutegico mas ontoloacutegico 6

As imagens de Brauntuch simultaneamente proferem e deferem uma promessa de sentido elas tanto solicitam quanto frustram nosso desejO de que a imagem seja diretamente transparente agrave sua significaccedilatildeo Como resultado elas aparecem estranhamente incompletas shyfragmentos ou runas que devem ser decifrados

A alegoria eacute consistentemente atraiacuteda ao fragmentaacuterio ao imperfeito ao incompleto shy

uma afinidade que encontra sua mais compreensiacutevel expressatildeo na ruiacutena que Benjamin identificou como o emblema alegoacuterico por excelecircncia Aqui os trabalhos do homem satildeo reabsorvidos na paisagem as ruiacutenas portanto permanecem para a histoacuteria como um processo irreversiacutevel de dissoluccedilatildeo e decadecircncia um progressivo distanciamento da origem

Na alegoria o observador eacute confrontado com a facies hippocratica da histoacuteria como uma paisagem primordial petrificada Tudo sobre a histoacuteria que desde o iniacutecio tem sido inoportuno pesaroso fracassado eacute expresso na face ou melhor em uma cabeccedila da morte E embora a tal coisa falte toda liberdade de expressatildeo simboacutelica toda proporccedilatildeo claacutessica toda humanidade essa eacute contudo a forma na qual a submissatildeo do homem agrave natureza eacute mais oacutebvia e significativamente amplia natildeo apenas a questatildeo enigmaacutetica da natureza da existecircncia humana como tal mas tambeacutem a historicidade biograacutefica do indiviacuteduo Este eacute o coraccedilatildeo do modo alegoacuterico de ver 7

Com o culto alegoacuterico da ruiacutena uma segunda ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea emerge no site-speciftcity [especificidade do lugar] o trabalho parece ter submergido fisicamente em seu ambiente ser encaixado no lugar onde noacutes o encontramos O trabalho de site-speciftc [lugar especiacutefico] frequumlentemente aspira a uma monumentalidade preacute-histoacuterica Stonehenge e as linhas de Nazsca satildeo tidas como protoacutetipos Seu conteuacutedo eacute frequumlentemente miacutetico como aquele do Spiral jetty cuja forma eacute derivada de um mito local sobre um redemoinho no fundo do Great Salt Lake por essa via Smithson exempliflca a tendecircncia a envolver-se em uma leitura do site [lugar] em termos natildeo apenas de suas especificidades topograacuteficas mas tambeacutem de suas ressonacircncias psicoloacutegicas Trabalho e site assim permanecem em uma relaccedilatildeo dialeacutetica (Quando o trabalho de site-speciftc eacute concebido em termos de recuperaccedilatildeo da terra Uand reciamation] e instalado em uma mina ou pedreira abandonada entatildeo seu motivo defensivamente recuperativo toma-se autoshyevidente)

TEMAacuteTICAmiddot CRA I G OWE NS 115

ae R E V 1ST A D D P R o G R A M A D E P OacuteS - G R A D U A ccedil A o E M A R TE S V I SU A I S E B A bull U F R J 2 o o 4

Os trabalhos de site-specific satildeo transitoacuterios instalados em locaccedilotildees particulares com duraccedilatildeo limitada sua transitoriedade provendo a medida de sua circunstacircncia Aleacutem disso raramente satildeo desfeitos mas simplesmente abandonados agrave natureza Smithson reconhece consistentemente como parte de seus trabalhos as forccedilas que os erodem e ao final os reivindicam agrave natureza Nisso o trabalho de site-specific torna-se um emblema de transitoriedade a efemeridade de todo fenocircmeno ele eacute o memento mor do seacuteculo 20 Devido agrave sua transitoriedade mais ainda o trabalho eacute frequumlentemente preservado apenas em fotografias Esse fato eacute crucial pois ele sugere o potencial alegoacuterico da fotografia Uma apreciaccedilatildeo da transitoriedade das coisas e a concernecircncia para resgataacute-Ias da eternidade eacute um dos mais fortes impulsos da alegoria8 E da fotografia poderiacutearnos acrescentar Como uma arte alegoacuterica entatildeo a fotografia poderia representar nosso desejo de fixar o transitoacuterio o efecircmero em uma imagem estaacutevel e estabilizante Nas fotografias de Atget e Walker Evans na medida em que elas

autoconscienternente preservam aquilo que ameaccedila desaparecer esse desejo torna-se o temo da imagem Se suas fotografias satildeo alegoacutericas contudo eacute porque o que elas oferecem eacute apenas um fragmento e consequumlentemente afirma sua proacutepria arbitrariedade e contingecircncia9

Deveriacuteamos portanto estar preparados tambeacutem para encontrar um motivo alegoacuterico na fotomontagem pois ela eacute a praacutetica comum da alegoria para empilhar fragmentos incessantemente sem qualquer ideacuteia estrita de um objetivo 10 Esse meacutetodo de construccedilatildeo levou Angus Fletcher a comparar a estrutura alegoacuterica agrave neurose obsessiva I I e a obsessatildeo dos trabalhos de Sol LeWrtt digamos ou Hanne Darboven sugere que eles podem tambeacutem inserir-se no compasso do alegoacuterico Aqui encontramos ainda uma terceira ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea nas estrateacutegias de acumulaccedilatildeo o trabalho parataacutedico pela simples colocaccedilatildeo de uma coisa depois da outra - Lever de Carl Andre ou Primory Accumulotion de Trisha Brown Um paradigma para o trabalho alegoacuterico eacute a progressatildeo matemaacutetica

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r~----------------------------________________________________________~

Um matemaacutetico ao ver os nuacutemeros I 3 6

I I 20 teria como reconhecer que o significado dessa progressatildeo pode ser redistribuiacutedo na linguagem algeacutebrica da foacutermula X mais 2 elevado a x com certas restriccedilotildees sobre X O que poderia ser uma sequumlecircncia ao acaso para uma pessoa inexperiente aparece ao matemaacutetico como uma sequumlecircncia cheia de signiffcado Observe que a progressatildeo pode ir ao inffnito Isso equivale agrave situaccedilatildeo de quase todas as alegorias Elas natildeo tecircm nenhum limite orgacircnico inerente de magnitude Muitas satildeo inacabadas como O Castelo e O Processo de Kafka12

A alegoria ela proacutepria diz respeito entatildeo agrave projeccedilatildeo - tanto espacial quanto temporal ou ambas - da estrutura como sequumlecircncia o

resultado todavia natildeo eacute dinacircmico mas estaacutetico

ritualiacutestico repetitivo Ela eacute entatildeo o epiacutetome da

contranarrativa pois prende a narrativa no lugar

substituindo um princiacutepio de disjunccedilatildeo

sintagmaacutetica por uma combinaccedilatildeo diegeacutetica

Desse modo a alegoria supra-induz uma leitura

vertical ou paradigmaacutetica de correspondecircncias

sobre uma cadeia de eventos horizontal ou

sintagmaacutetica O trabalho de Andre Brown

LeNrtt Darboven e outros envolvido como

estaacute com a exteriorizaccedilatildeo do procedimento

loacutegico sua projeccedilatildeo como uma experiecircncia espaccedilo-temporal tambeacutem solicita tratamento

em termos de alegoria

Essa projeccedilatildeo da estrutura como sequumlecircncia

lembra o fato de que na retoacuterica a alegoria eacute

tradicionalmente definida como uma simples metaacutefora introduzida em seacuteries contiacutenuas Se

essa definiccedilatildeo eacute recolocada em termos

estruturalistas entatildeo a alegoria eacute reve lada como

a projeccedilatildeo do eixo metafoacuterico da linguagem sobre sua dimensatildeo metoniacutemica Roman

Jakobson definiu essa projeccedilatildeo da metaacutefora sobre a metoniacutemia como a funccedilatildeo poeacutetica e

associou a metaacutefora agrave poesia e ao romantismo e a metoniacutemia agrave prosa e ao realismo A alegoria

contudo implica tonto a metaacutefora quanto a

metoniacutemia por conseguinte ela tende a afetar

e subentender todas essas categorizaccedilotildees

estiliacutesticas sendo igualmente possiacutevel no verso e

na prosa e completamente capaz de

transformar o mais objetivo naturalismo no mais

subjetivo expressionismo ou o mais

determinado realismo num barroco ornamental

exageradamente surrealista 3 Esse ruidoso

descuido pelas categorias esteacuteticas natildeo eacute em

parte alguma mais aparente do que na

reciprocidade que a alegoria propotildee entre o

visual e o verbal palavras satildeo frequumlentemente

tratadas como fenocircmeno puramente visual

enquanto as imagens visuais satildeo oferecidas

como texto a ser decifrado Foi esse aspecto da

alegoria que Schopenhauer criticou quando escreveu

Se o desejo pela fama estaacute enraizado ffrme e permanentemente na mente do homem e se ele agora permanece diante do Gecircnio da

Fama [de Annibale Caracci] corri suas coroas de louro entatildeo toda sua mente estaacute excitada e seus poderes satildeo chamados agrave atividade Mas a mesma coisa poderia tambeacutem

acontecer se ele visse repentinamente a palavra fama em letras grandes e caras na parede 14

Tanto quanto isso pode lembrar os conceitos

linguumliacutesticos dos artistas conceituais Robert Barry e Lawrence Weiner cujo trabalho eacute de fato

concebido como letras grandes e claras na

parede o que de fato revela eacute a natureza

essencialmente pictogramaacutetica do trabalho alegoacuterico Na alegoria a imagem eacute um

hieroacuteglifo uma alegoria eacute um reacutebus - texto

composto de imagens concretas 15 Assim

poderiacuteamos tambeacutem procurar a alegoria nos

trabalhos contemporacircneos que seguem

deliberadamente um modelo discursivo o

Rebus de Rauschenberg ou a seacuterie de Twombly

a partir do poeta alegoacuterico Spencer

Essa confusatildeo do verbal e do vi sual eacute apenas um

aspecto da deses perada confusatildeo de todos os

meios esteacuteticos e categorias estiliacutesticas da

alegoria (desesperada isto eacute de acordo com

qualquer parcelamento do campo esteacutetico sobre

bases essencialistas) O trabalho alegoacuterico eacute

sinteacutetico ele atravessa os limites esteacuteticos Essa

confusatildeo de gecircnero antecipada por Duchamp

reaparece hOJe na hibridizaccedilatildeo em trabalhos ecleacuteticos que ostensivamente combinam de

antematildeo meios distintos da arte

TEMAacuteTICAmiddot CRAIG OW EN $ 117

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS-GRADUACcedilAO EM ARTES VISUAIS EBA bull UFRJ 2004

Apropriaccedilatildeo site specificity impermanecircncia acumulaccedilatildeo discursividade hibridizaccedilatildeo - essas diversas estrateacutegias caracterizam grande parte da arte do presente e a distinguem de seus predecessores modernistas Eles tambeacutem

formam um todo quando vistos em relaccedilatildeo agrave alegoria sugerindo que a arte poacutes-modernista pode ser identificada de fato como um simples e coerente impulso e que a criacutetica permaneceraacute incapaz de Justificar esse impulso na medida em que continua a pensar a alegoria como erro esteacutetico Estamos portanto obrigados a

retornar agraves nossas questotildees iniciais Quando foi a alegoria inicialmente proscrita e por que razotildees

A supressatildeo criacutetica da alegoria eacute um legado da teoria da arte romacircntica que foi herdada sem criacutetica pelo modernismo As alegorias do seacuteculo

20 - as de Kafka por exemplo ou as de Borges - satildeo raramente chamadas de alegorias mas paraacutebolas ou faacutebulas pela metade do seacuteculo 19 contudo Poe - que natildeo era imune agrave alegoria shyacusou Hawthorne de alegorizaccedilatildeo de

acrescentar finais morais a contos que de outra maneira seriam inocentes A histoacuteria da pintura

modernista comeccedilou com Manet e natildeo Courbet que persistia em pintar alegorias reais Mesmo os maiores defensores

contemporacircneos de Courbet (Proudhon e Champfleury) estavam perplexos diante de sua tendecircncia alegoacuterica ou se eacute realista ou alegorista insistiam eles significando que ou se era modernista ou historicista

Nas artes visuais foi em grande parte a associaccedilatildeo da alegoria com a pintura histoacuterica que preparou seu fim A partir da Revoluccedilatildeo foi solicitado em prol do historicismo que se produzisse imagem sobre imagem do presente em termos do passado claacutessico Essa relaccedilatildeo foi expressa natildeo apenas superfcialmente nos detalhes do costume e da fisionomia mas tambeacutem estruturalmente por meio de uma

radical condensaccedilatildeo da narrativa em um uacutenico e emblemaacutetico instante - de modo significativo

Barthes chama a isso um hieroacuteglifo l6 - no qual o passado presente e futuro isto eacute a

significaccedilatildeo histoacuterica da accedilatildeo representada deveria ser lida Essa eacute claro a doutrina do instante fecundo que dominou a praacutetica artiacutestica durante a primeira metade do seacuteculo 19

I 118

Associaccedilotildees sintagmaacuteticas ou narrativas foram condensadas de modo a compelir a uma leitura

vertical de correspondecircncias (alegoacutericas) Eventos foram portanto retirados de um continuum em consequumlecircncia a histoacuteria poderia ser recuperada somente pelo que Benjamin chamou de um pulo do tigre no passado

Assim para Robespierre a Roma Antiga foi um passado carregado com o tempo do presente com o qual irrompeu do continuurn da histoacuteria A Revoluccedilatildeo Francesa viu-se a si proacutepria como Roma reencarnada Invocou a Roma Antiga como a moda evoca os costumes do passado A moda tem um faro para o atual natildeo importa onde ele se mova na trama esquecida ela eacute um pulo do tigre no passado 17

Embora para Baudelaire essa interpenetraccedilatildeo alegoacuterica da Modernidade e da Antiguumlidade claacutessica possuiacutesse um significado teoacuterico nada despreziacutevel a atitude da vanguarda que emergiu na metade do seacuteculo em uma atmosfera cheia

de historicismo foi sucintamente expressa por

Proudhon ao escrever sobre Leonidas at

Thermopyle de David

Poderiamos dizer natildeo eacute nem Leocircnidas e nem os espartanos nem os gregos e persas o que se poderia ver nessa grande composiccedilatildeo porque eacute o entusiasmo de 1892 que o pintor teve em vista e a Repuacuteblica Francesa salva da Coalizatildeo Mas por que essa alegoria Por que precisa passar pelas Termoacutepilas e voltar 23 seacuteculos para alcanccedilar o coraccedilatildeo dos franceses Natildeo tivemos nossos heroacuteis nem nossas proacuteprias vitoacuterias 18

Entatildeo na eacutepoca em que Courbet tentou resgatar a alegoria para a modernidade a linha que as separava tinha sido claramente traccedilada e

a alegoria concebida como antiteacutetica ao credo modernista I faut ecirctre de son temps foi condenada Junto com a pintura histoacuterica a uma existecircncia marginal puramente histoacuterica

Baudelaire no entanto a quem essa frase foi mais de perto associada Jamais condenou a alegoria em seu primeiro trabalho publicado o

Salotildeo de 1845 ele a defendia contra os profissionais da imprensa Como algueacutem

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

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TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 2: Ae11 Craig Owens

ae R E v 1ST A o o P R o G R A M A o E POacute S - G R A o U A ccedil Aacute o E M A R T E S V I SUA I S E 6 A bull U F R J 2 o o 4

alegoacuterica poderia ter permanecido excluiacutedo Uma convicccedilatildeo a respeito da distacircncia do

passado e o desejo de redimi-Io ao presente satildeo seus dois impulsos fundamentais Eles contribuem tanto para o papel que a alegoria tem na investigaccedilatildeo psicanaliacutetica quanto para seu significado em Walter Benjamin o uacutenico criacutetico

do seacuteculo 20 a tratar do tema sem preconceito

filosoficamente 2 Eles ainda falham em explicar

por que o potencial esteacutetico da alegoria parecia ter-se exaurido haacute algum tempo nem satildeo capazes de localizar a brecha na qual a proacutepria alegoria retrocedeu nas profundezas da histoacuteria

Investigar as origens da atitude modema sobre a alegoria tambeacutem poderia parecer estuacutepido e friacutevolo se natildeo fosse pelo fato de que um inconfundiacutevel impulso alegoacuterico tenha comeccedilado a reafirmar-se em vaacuterios aspectos da cultura

contemporacircnea no revival de Benjamin por exemplo ou no The Anxiety of Inpuence de Harold Bloom A alegoria eacute tambeacutem expressa no revivalismo histoacuterico que hoje caracteriza a praacutetica arquitetural e a posiccedilatildeo revisionista de

grande parte do discurso histoacuterico da arte recente Por exemplo T J Clark ao tratar a pintura da metade do seacuteculo 19 como alegoria

poliacutetica No que segue quero focalizar essa

reemergecircncia atraveacutes do seu impacto tanto na praacutetica quanto na criacutetica das artes visuais Haacute como sempre importantes precedentes a serem contabilizados Duchamp identifiCOU tanto o estado instantacircneo do Resto quanto a exposiccedilatildeo extra-raacutepida [extra rapid exposure] ou seja os aspectos fotograacuteflcos3 do Grande Vidro como aparecircncia alegoacuterica Allegory eacute tambeacutem o tiacutetulo de uma das mais ambiciosas combine paintings de Robert Rauschenberg da deacutecada de 1950 Uma consideraccedilatildeo sobre tais trabalhos deve ser adiada contudo pois sua importacircncia soacute se toma aparente depois que a supressatildeo da alegoria pela teoria moderna foi completamente reconhecida

Para identificar a alegoria em suas manifestaccedilotildees contemporacircneas precisamos primeiramente ter uma ideacuteia geral do que ela eacute de fato ou

melhor o que ela representa pois a alegoria eacute tanto urna atitude quanto urna teacutecnica urna percepccedilatildeo quanto um procedimento Permitimo-nos dizer por ora que a alegoria

ocorre sempre que um texto eacute dublado por

114

outro o Velho Testamento por exemplo tomashyse alegoacuterico quando eacute lido como uma

prefiguraccedilatildeo do Novo Essa descriccedilatildeo provisoacuteria - que natildeo eacute uma definiccedilatildeo - vale tanto para a origem da alegoria nos comentaacuterios e exegeses quanto para sua permanente afinidade com eles

como Northrop Frye indica o trabalho alegoacuterico tende a prescrever a direccedilatildeo de seu proacuteprio comentaacuterio Eacuteesse aspecto metatextual que eacute invocado sempre que a alegoria eacute atacada como

interpretaccedilatildeo simplesmente anexada post facto a um trabalho um ornamento retoacuterico ou noreio

Ainda como argumenta Frye a alegoria genuiacutena eacute um elemento estrutural na literatura ela tem que estar laacute e natildeo pode ser anexada

pela interpretaccedilatildeo criacutetica isolada 4 Na estrutura alegoacuterica portanto um texto eacute lido atraveacutes de

outro embora fragmentaacuteria intermitente ou caoacutetica possa ser sua relaccedilatildeo o paradigma para

o trabalho alegoacuterico eacute entatildeo o palimpsesto (Eacute daqui que uma leitura da alegoria em Borges deve ser iniciada com Pierre Menard autor de Quixote ou muitas das Crocircnicas de Bustos Domecq onde o texto eacute positivado por seu

proacuteprio comentaacuterio)

Concebida dessa maneira a alegoria torna-se o

modelo de todo comentaacuterio de toda criacutetica na medida em que estatildeo envolvidos em reescrever

um texto primaacuterio em termos de sua significaccedilatildeo figurai Estou interessado entretanto no que ocorre quando essa relaccedilatildeo acontece no interior dos trabalhos de arte quando ela descreve sua estrutura O imaginaacuterio alegoacuterico eacute um

imaginaacuterio apropriado o alegorista natildeo inventa imagens mas as confisca Ele reivindica o

significado culturalmente coloca-a como sua inteacuterprete E em suas matildeos a imagem toma-se uma outra coisa (ollos = outro + ogoreuei =

dizer) Ela natildeo restaura um significado original que possa ter sidQ perdido ou obscurecido a alegoria natildeo eacute hermenecircutica Mais do que isso ela anexa outro significado agrave imagem Ao anexar no entanto faz somente uma recolocaccedilatildeo o

significado alegoacuterico suplanta seu antecedente ele eacute um suplemento Eacute por isso que a alegoria eacute condenada mas eacute tambeacutem a fonte de sua significaccedilatildeo teoacute rica

A primeira ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea pode agora ser feita com a apropriaccedilatildeo de imagens que ocorre nos

trabalhos de Troy Brauntuch Sherrie Levine Robert Longo - artistas que geram imagens por meio da reproduccedilatildeo de outras imagens A imagem apropriada pode ser um ftlm stil uma fotografia um desenho eacute com frequumlecircncia ela proacutepria uma reproduccedilatildeo Contudo as manipulaccedilotildees agraves quais esses artistas submetem tais imagens trabalham para esvaziaacute-Ias de sua ressonacircncia seu significado sua reivindicaccedilatildeo autoritaacuteria para significar Atraveacutes das ampliaccedilotildees de Brauntuch por exemplo os desenhos de Hitler ou aqueles das viacutetimas dos campos de concentraccedilatildeo exibidos sem legendas tomam-se resolutamente opacos

Toda operaccedilatildeo pela qual Brauntuch submete essas fotografias representa a duraccedilatildeo de um olhar fascinado e perplexo cujo desejo eacute que elas revelem seus segredos mas o resultado eacute apenas fazer as fotografias o mais semelhante agrave pintura para fixar para sempre em um objeto elegante nossa distacircncia da histoacuteria que produziu essas imagens Aquela distacircncia eacute tudo o que essas fotografias significam 5

o olhar de Brauntuch eacute entatildeo aquele olhar f melancoacutelico que Benjamin identificou com o j

temperamento alegoacuterico

Se o objeto toma-se alegoacuterico sob o olhar do melancolia se a melancolia causa o ffuir da vida para fora dela e permanece aleacutem da morte mos etemamente segura entatildeo ela estoacute exposta ao alegorista estoacute incondicionalmente em seu poder O que significa dizer que ela eacute agora completamente incapaz de emanar qualquer sentido ou significado de si proacutepria o significado que elo tiver o adquire do alegorista Ele o coloco dentro dela e permanece aleacutem dela - natildeo em um sentido psicoloacutegico mas ontoloacutegico 6

As imagens de Brauntuch simultaneamente proferem e deferem uma promessa de sentido elas tanto solicitam quanto frustram nosso desejO de que a imagem seja diretamente transparente agrave sua significaccedilatildeo Como resultado elas aparecem estranhamente incompletas shyfragmentos ou runas que devem ser decifrados

A alegoria eacute consistentemente atraiacuteda ao fragmentaacuterio ao imperfeito ao incompleto shy

uma afinidade que encontra sua mais compreensiacutevel expressatildeo na ruiacutena que Benjamin identificou como o emblema alegoacuterico por excelecircncia Aqui os trabalhos do homem satildeo reabsorvidos na paisagem as ruiacutenas portanto permanecem para a histoacuteria como um processo irreversiacutevel de dissoluccedilatildeo e decadecircncia um progressivo distanciamento da origem

Na alegoria o observador eacute confrontado com a facies hippocratica da histoacuteria como uma paisagem primordial petrificada Tudo sobre a histoacuteria que desde o iniacutecio tem sido inoportuno pesaroso fracassado eacute expresso na face ou melhor em uma cabeccedila da morte E embora a tal coisa falte toda liberdade de expressatildeo simboacutelica toda proporccedilatildeo claacutessica toda humanidade essa eacute contudo a forma na qual a submissatildeo do homem agrave natureza eacute mais oacutebvia e significativamente amplia natildeo apenas a questatildeo enigmaacutetica da natureza da existecircncia humana como tal mas tambeacutem a historicidade biograacutefica do indiviacuteduo Este eacute o coraccedilatildeo do modo alegoacuterico de ver 7

Com o culto alegoacuterico da ruiacutena uma segunda ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea emerge no site-speciftcity [especificidade do lugar] o trabalho parece ter submergido fisicamente em seu ambiente ser encaixado no lugar onde noacutes o encontramos O trabalho de site-speciftc [lugar especiacutefico] frequumlentemente aspira a uma monumentalidade preacute-histoacuterica Stonehenge e as linhas de Nazsca satildeo tidas como protoacutetipos Seu conteuacutedo eacute frequumlentemente miacutetico como aquele do Spiral jetty cuja forma eacute derivada de um mito local sobre um redemoinho no fundo do Great Salt Lake por essa via Smithson exempliflca a tendecircncia a envolver-se em uma leitura do site [lugar] em termos natildeo apenas de suas especificidades topograacuteficas mas tambeacutem de suas ressonacircncias psicoloacutegicas Trabalho e site assim permanecem em uma relaccedilatildeo dialeacutetica (Quando o trabalho de site-speciftc eacute concebido em termos de recuperaccedilatildeo da terra Uand reciamation] e instalado em uma mina ou pedreira abandonada entatildeo seu motivo defensivamente recuperativo toma-se autoshyevidente)

TEMAacuteTICAmiddot CRA I G OWE NS 115

ae R E V 1ST A D D P R o G R A M A D E P OacuteS - G R A D U A ccedil A o E M A R TE S V I SU A I S E B A bull U F R J 2 o o 4

Os trabalhos de site-specific satildeo transitoacuterios instalados em locaccedilotildees particulares com duraccedilatildeo limitada sua transitoriedade provendo a medida de sua circunstacircncia Aleacutem disso raramente satildeo desfeitos mas simplesmente abandonados agrave natureza Smithson reconhece consistentemente como parte de seus trabalhos as forccedilas que os erodem e ao final os reivindicam agrave natureza Nisso o trabalho de site-specific torna-se um emblema de transitoriedade a efemeridade de todo fenocircmeno ele eacute o memento mor do seacuteculo 20 Devido agrave sua transitoriedade mais ainda o trabalho eacute frequumlentemente preservado apenas em fotografias Esse fato eacute crucial pois ele sugere o potencial alegoacuterico da fotografia Uma apreciaccedilatildeo da transitoriedade das coisas e a concernecircncia para resgataacute-Ias da eternidade eacute um dos mais fortes impulsos da alegoria8 E da fotografia poderiacutearnos acrescentar Como uma arte alegoacuterica entatildeo a fotografia poderia representar nosso desejo de fixar o transitoacuterio o efecircmero em uma imagem estaacutevel e estabilizante Nas fotografias de Atget e Walker Evans na medida em que elas

autoconscienternente preservam aquilo que ameaccedila desaparecer esse desejo torna-se o temo da imagem Se suas fotografias satildeo alegoacutericas contudo eacute porque o que elas oferecem eacute apenas um fragmento e consequumlentemente afirma sua proacutepria arbitrariedade e contingecircncia9

Deveriacuteamos portanto estar preparados tambeacutem para encontrar um motivo alegoacuterico na fotomontagem pois ela eacute a praacutetica comum da alegoria para empilhar fragmentos incessantemente sem qualquer ideacuteia estrita de um objetivo 10 Esse meacutetodo de construccedilatildeo levou Angus Fletcher a comparar a estrutura alegoacuterica agrave neurose obsessiva I I e a obsessatildeo dos trabalhos de Sol LeWrtt digamos ou Hanne Darboven sugere que eles podem tambeacutem inserir-se no compasso do alegoacuterico Aqui encontramos ainda uma terceira ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea nas estrateacutegias de acumulaccedilatildeo o trabalho parataacutedico pela simples colocaccedilatildeo de uma coisa depois da outra - Lever de Carl Andre ou Primory Accumulotion de Trisha Brown Um paradigma para o trabalho alegoacuterico eacute a progressatildeo matemaacutetica

116

r~----------------------------________________________________________~

Um matemaacutetico ao ver os nuacutemeros I 3 6

I I 20 teria como reconhecer que o significado dessa progressatildeo pode ser redistribuiacutedo na linguagem algeacutebrica da foacutermula X mais 2 elevado a x com certas restriccedilotildees sobre X O que poderia ser uma sequumlecircncia ao acaso para uma pessoa inexperiente aparece ao matemaacutetico como uma sequumlecircncia cheia de signiffcado Observe que a progressatildeo pode ir ao inffnito Isso equivale agrave situaccedilatildeo de quase todas as alegorias Elas natildeo tecircm nenhum limite orgacircnico inerente de magnitude Muitas satildeo inacabadas como O Castelo e O Processo de Kafka12

A alegoria ela proacutepria diz respeito entatildeo agrave projeccedilatildeo - tanto espacial quanto temporal ou ambas - da estrutura como sequumlecircncia o

resultado todavia natildeo eacute dinacircmico mas estaacutetico

ritualiacutestico repetitivo Ela eacute entatildeo o epiacutetome da

contranarrativa pois prende a narrativa no lugar

substituindo um princiacutepio de disjunccedilatildeo

sintagmaacutetica por uma combinaccedilatildeo diegeacutetica

Desse modo a alegoria supra-induz uma leitura

vertical ou paradigmaacutetica de correspondecircncias

sobre uma cadeia de eventos horizontal ou

sintagmaacutetica O trabalho de Andre Brown

LeNrtt Darboven e outros envolvido como

estaacute com a exteriorizaccedilatildeo do procedimento

loacutegico sua projeccedilatildeo como uma experiecircncia espaccedilo-temporal tambeacutem solicita tratamento

em termos de alegoria

Essa projeccedilatildeo da estrutura como sequumlecircncia

lembra o fato de que na retoacuterica a alegoria eacute

tradicionalmente definida como uma simples metaacutefora introduzida em seacuteries contiacutenuas Se

essa definiccedilatildeo eacute recolocada em termos

estruturalistas entatildeo a alegoria eacute reve lada como

a projeccedilatildeo do eixo metafoacuterico da linguagem sobre sua dimensatildeo metoniacutemica Roman

Jakobson definiu essa projeccedilatildeo da metaacutefora sobre a metoniacutemia como a funccedilatildeo poeacutetica e

associou a metaacutefora agrave poesia e ao romantismo e a metoniacutemia agrave prosa e ao realismo A alegoria

contudo implica tonto a metaacutefora quanto a

metoniacutemia por conseguinte ela tende a afetar

e subentender todas essas categorizaccedilotildees

estiliacutesticas sendo igualmente possiacutevel no verso e

na prosa e completamente capaz de

transformar o mais objetivo naturalismo no mais

subjetivo expressionismo ou o mais

determinado realismo num barroco ornamental

exageradamente surrealista 3 Esse ruidoso

descuido pelas categorias esteacuteticas natildeo eacute em

parte alguma mais aparente do que na

reciprocidade que a alegoria propotildee entre o

visual e o verbal palavras satildeo frequumlentemente

tratadas como fenocircmeno puramente visual

enquanto as imagens visuais satildeo oferecidas

como texto a ser decifrado Foi esse aspecto da

alegoria que Schopenhauer criticou quando escreveu

Se o desejo pela fama estaacute enraizado ffrme e permanentemente na mente do homem e se ele agora permanece diante do Gecircnio da

Fama [de Annibale Caracci] corri suas coroas de louro entatildeo toda sua mente estaacute excitada e seus poderes satildeo chamados agrave atividade Mas a mesma coisa poderia tambeacutem

acontecer se ele visse repentinamente a palavra fama em letras grandes e caras na parede 14

Tanto quanto isso pode lembrar os conceitos

linguumliacutesticos dos artistas conceituais Robert Barry e Lawrence Weiner cujo trabalho eacute de fato

concebido como letras grandes e claras na

parede o que de fato revela eacute a natureza

essencialmente pictogramaacutetica do trabalho alegoacuterico Na alegoria a imagem eacute um

hieroacuteglifo uma alegoria eacute um reacutebus - texto

composto de imagens concretas 15 Assim

poderiacuteamos tambeacutem procurar a alegoria nos

trabalhos contemporacircneos que seguem

deliberadamente um modelo discursivo o

Rebus de Rauschenberg ou a seacuterie de Twombly

a partir do poeta alegoacuterico Spencer

Essa confusatildeo do verbal e do vi sual eacute apenas um

aspecto da deses perada confusatildeo de todos os

meios esteacuteticos e categorias estiliacutesticas da

alegoria (desesperada isto eacute de acordo com

qualquer parcelamento do campo esteacutetico sobre

bases essencialistas) O trabalho alegoacuterico eacute

sinteacutetico ele atravessa os limites esteacuteticos Essa

confusatildeo de gecircnero antecipada por Duchamp

reaparece hOJe na hibridizaccedilatildeo em trabalhos ecleacuteticos que ostensivamente combinam de

antematildeo meios distintos da arte

TEMAacuteTICAmiddot CRAIG OW EN $ 117

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS-GRADUACcedilAO EM ARTES VISUAIS EBA bull UFRJ 2004

Apropriaccedilatildeo site specificity impermanecircncia acumulaccedilatildeo discursividade hibridizaccedilatildeo - essas diversas estrateacutegias caracterizam grande parte da arte do presente e a distinguem de seus predecessores modernistas Eles tambeacutem

formam um todo quando vistos em relaccedilatildeo agrave alegoria sugerindo que a arte poacutes-modernista pode ser identificada de fato como um simples e coerente impulso e que a criacutetica permaneceraacute incapaz de Justificar esse impulso na medida em que continua a pensar a alegoria como erro esteacutetico Estamos portanto obrigados a

retornar agraves nossas questotildees iniciais Quando foi a alegoria inicialmente proscrita e por que razotildees

A supressatildeo criacutetica da alegoria eacute um legado da teoria da arte romacircntica que foi herdada sem criacutetica pelo modernismo As alegorias do seacuteculo

20 - as de Kafka por exemplo ou as de Borges - satildeo raramente chamadas de alegorias mas paraacutebolas ou faacutebulas pela metade do seacuteculo 19 contudo Poe - que natildeo era imune agrave alegoria shyacusou Hawthorne de alegorizaccedilatildeo de

acrescentar finais morais a contos que de outra maneira seriam inocentes A histoacuteria da pintura

modernista comeccedilou com Manet e natildeo Courbet que persistia em pintar alegorias reais Mesmo os maiores defensores

contemporacircneos de Courbet (Proudhon e Champfleury) estavam perplexos diante de sua tendecircncia alegoacuterica ou se eacute realista ou alegorista insistiam eles significando que ou se era modernista ou historicista

Nas artes visuais foi em grande parte a associaccedilatildeo da alegoria com a pintura histoacuterica que preparou seu fim A partir da Revoluccedilatildeo foi solicitado em prol do historicismo que se produzisse imagem sobre imagem do presente em termos do passado claacutessico Essa relaccedilatildeo foi expressa natildeo apenas superfcialmente nos detalhes do costume e da fisionomia mas tambeacutem estruturalmente por meio de uma

radical condensaccedilatildeo da narrativa em um uacutenico e emblemaacutetico instante - de modo significativo

Barthes chama a isso um hieroacuteglifo l6 - no qual o passado presente e futuro isto eacute a

significaccedilatildeo histoacuterica da accedilatildeo representada deveria ser lida Essa eacute claro a doutrina do instante fecundo que dominou a praacutetica artiacutestica durante a primeira metade do seacuteculo 19

I 118

Associaccedilotildees sintagmaacuteticas ou narrativas foram condensadas de modo a compelir a uma leitura

vertical de correspondecircncias (alegoacutericas) Eventos foram portanto retirados de um continuum em consequumlecircncia a histoacuteria poderia ser recuperada somente pelo que Benjamin chamou de um pulo do tigre no passado

Assim para Robespierre a Roma Antiga foi um passado carregado com o tempo do presente com o qual irrompeu do continuurn da histoacuteria A Revoluccedilatildeo Francesa viu-se a si proacutepria como Roma reencarnada Invocou a Roma Antiga como a moda evoca os costumes do passado A moda tem um faro para o atual natildeo importa onde ele se mova na trama esquecida ela eacute um pulo do tigre no passado 17

Embora para Baudelaire essa interpenetraccedilatildeo alegoacuterica da Modernidade e da Antiguumlidade claacutessica possuiacutesse um significado teoacuterico nada despreziacutevel a atitude da vanguarda que emergiu na metade do seacuteculo em uma atmosfera cheia

de historicismo foi sucintamente expressa por

Proudhon ao escrever sobre Leonidas at

Thermopyle de David

Poderiamos dizer natildeo eacute nem Leocircnidas e nem os espartanos nem os gregos e persas o que se poderia ver nessa grande composiccedilatildeo porque eacute o entusiasmo de 1892 que o pintor teve em vista e a Repuacuteblica Francesa salva da Coalizatildeo Mas por que essa alegoria Por que precisa passar pelas Termoacutepilas e voltar 23 seacuteculos para alcanccedilar o coraccedilatildeo dos franceses Natildeo tivemos nossos heroacuteis nem nossas proacuteprias vitoacuterias 18

Entatildeo na eacutepoca em que Courbet tentou resgatar a alegoria para a modernidade a linha que as separava tinha sido claramente traccedilada e

a alegoria concebida como antiteacutetica ao credo modernista I faut ecirctre de son temps foi condenada Junto com a pintura histoacuterica a uma existecircncia marginal puramente histoacuterica

Baudelaire no entanto a quem essa frase foi mais de perto associada Jamais condenou a alegoria em seu primeiro trabalho publicado o

Salotildeo de 1845 ele a defendia contra os profissionais da imprensa Como algueacutem

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

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Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

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IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 3: Ae11 Craig Owens

trabalhos de Troy Brauntuch Sherrie Levine Robert Longo - artistas que geram imagens por meio da reproduccedilatildeo de outras imagens A imagem apropriada pode ser um ftlm stil uma fotografia um desenho eacute com frequumlecircncia ela proacutepria uma reproduccedilatildeo Contudo as manipulaccedilotildees agraves quais esses artistas submetem tais imagens trabalham para esvaziaacute-Ias de sua ressonacircncia seu significado sua reivindicaccedilatildeo autoritaacuteria para significar Atraveacutes das ampliaccedilotildees de Brauntuch por exemplo os desenhos de Hitler ou aqueles das viacutetimas dos campos de concentraccedilatildeo exibidos sem legendas tomam-se resolutamente opacos

Toda operaccedilatildeo pela qual Brauntuch submete essas fotografias representa a duraccedilatildeo de um olhar fascinado e perplexo cujo desejo eacute que elas revelem seus segredos mas o resultado eacute apenas fazer as fotografias o mais semelhante agrave pintura para fixar para sempre em um objeto elegante nossa distacircncia da histoacuteria que produziu essas imagens Aquela distacircncia eacute tudo o que essas fotografias significam 5

o olhar de Brauntuch eacute entatildeo aquele olhar f melancoacutelico que Benjamin identificou com o j

temperamento alegoacuterico

Se o objeto toma-se alegoacuterico sob o olhar do melancolia se a melancolia causa o ffuir da vida para fora dela e permanece aleacutem da morte mos etemamente segura entatildeo ela estoacute exposta ao alegorista estoacute incondicionalmente em seu poder O que significa dizer que ela eacute agora completamente incapaz de emanar qualquer sentido ou significado de si proacutepria o significado que elo tiver o adquire do alegorista Ele o coloco dentro dela e permanece aleacutem dela - natildeo em um sentido psicoloacutegico mas ontoloacutegico 6

As imagens de Brauntuch simultaneamente proferem e deferem uma promessa de sentido elas tanto solicitam quanto frustram nosso desejO de que a imagem seja diretamente transparente agrave sua significaccedilatildeo Como resultado elas aparecem estranhamente incompletas shyfragmentos ou runas que devem ser decifrados

A alegoria eacute consistentemente atraiacuteda ao fragmentaacuterio ao imperfeito ao incompleto shy

uma afinidade que encontra sua mais compreensiacutevel expressatildeo na ruiacutena que Benjamin identificou como o emblema alegoacuterico por excelecircncia Aqui os trabalhos do homem satildeo reabsorvidos na paisagem as ruiacutenas portanto permanecem para a histoacuteria como um processo irreversiacutevel de dissoluccedilatildeo e decadecircncia um progressivo distanciamento da origem

Na alegoria o observador eacute confrontado com a facies hippocratica da histoacuteria como uma paisagem primordial petrificada Tudo sobre a histoacuteria que desde o iniacutecio tem sido inoportuno pesaroso fracassado eacute expresso na face ou melhor em uma cabeccedila da morte E embora a tal coisa falte toda liberdade de expressatildeo simboacutelica toda proporccedilatildeo claacutessica toda humanidade essa eacute contudo a forma na qual a submissatildeo do homem agrave natureza eacute mais oacutebvia e significativamente amplia natildeo apenas a questatildeo enigmaacutetica da natureza da existecircncia humana como tal mas tambeacutem a historicidade biograacutefica do indiviacuteduo Este eacute o coraccedilatildeo do modo alegoacuterico de ver 7

Com o culto alegoacuterico da ruiacutena uma segunda ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea emerge no site-speciftcity [especificidade do lugar] o trabalho parece ter submergido fisicamente em seu ambiente ser encaixado no lugar onde noacutes o encontramos O trabalho de site-speciftc [lugar especiacutefico] frequumlentemente aspira a uma monumentalidade preacute-histoacuterica Stonehenge e as linhas de Nazsca satildeo tidas como protoacutetipos Seu conteuacutedo eacute frequumlentemente miacutetico como aquele do Spiral jetty cuja forma eacute derivada de um mito local sobre um redemoinho no fundo do Great Salt Lake por essa via Smithson exempliflca a tendecircncia a envolver-se em uma leitura do site [lugar] em termos natildeo apenas de suas especificidades topograacuteficas mas tambeacutem de suas ressonacircncias psicoloacutegicas Trabalho e site assim permanecem em uma relaccedilatildeo dialeacutetica (Quando o trabalho de site-speciftc eacute concebido em termos de recuperaccedilatildeo da terra Uand reciamation] e instalado em uma mina ou pedreira abandonada entatildeo seu motivo defensivamente recuperativo toma-se autoshyevidente)

TEMAacuteTICAmiddot CRA I G OWE NS 115

ae R E V 1ST A D D P R o G R A M A D E P OacuteS - G R A D U A ccedil A o E M A R TE S V I SU A I S E B A bull U F R J 2 o o 4

Os trabalhos de site-specific satildeo transitoacuterios instalados em locaccedilotildees particulares com duraccedilatildeo limitada sua transitoriedade provendo a medida de sua circunstacircncia Aleacutem disso raramente satildeo desfeitos mas simplesmente abandonados agrave natureza Smithson reconhece consistentemente como parte de seus trabalhos as forccedilas que os erodem e ao final os reivindicam agrave natureza Nisso o trabalho de site-specific torna-se um emblema de transitoriedade a efemeridade de todo fenocircmeno ele eacute o memento mor do seacuteculo 20 Devido agrave sua transitoriedade mais ainda o trabalho eacute frequumlentemente preservado apenas em fotografias Esse fato eacute crucial pois ele sugere o potencial alegoacuterico da fotografia Uma apreciaccedilatildeo da transitoriedade das coisas e a concernecircncia para resgataacute-Ias da eternidade eacute um dos mais fortes impulsos da alegoria8 E da fotografia poderiacutearnos acrescentar Como uma arte alegoacuterica entatildeo a fotografia poderia representar nosso desejo de fixar o transitoacuterio o efecircmero em uma imagem estaacutevel e estabilizante Nas fotografias de Atget e Walker Evans na medida em que elas

autoconscienternente preservam aquilo que ameaccedila desaparecer esse desejo torna-se o temo da imagem Se suas fotografias satildeo alegoacutericas contudo eacute porque o que elas oferecem eacute apenas um fragmento e consequumlentemente afirma sua proacutepria arbitrariedade e contingecircncia9

Deveriacuteamos portanto estar preparados tambeacutem para encontrar um motivo alegoacuterico na fotomontagem pois ela eacute a praacutetica comum da alegoria para empilhar fragmentos incessantemente sem qualquer ideacuteia estrita de um objetivo 10 Esse meacutetodo de construccedilatildeo levou Angus Fletcher a comparar a estrutura alegoacuterica agrave neurose obsessiva I I e a obsessatildeo dos trabalhos de Sol LeWrtt digamos ou Hanne Darboven sugere que eles podem tambeacutem inserir-se no compasso do alegoacuterico Aqui encontramos ainda uma terceira ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea nas estrateacutegias de acumulaccedilatildeo o trabalho parataacutedico pela simples colocaccedilatildeo de uma coisa depois da outra - Lever de Carl Andre ou Primory Accumulotion de Trisha Brown Um paradigma para o trabalho alegoacuterico eacute a progressatildeo matemaacutetica

116

r~----------------------------________________________________________~

Um matemaacutetico ao ver os nuacutemeros I 3 6

I I 20 teria como reconhecer que o significado dessa progressatildeo pode ser redistribuiacutedo na linguagem algeacutebrica da foacutermula X mais 2 elevado a x com certas restriccedilotildees sobre X O que poderia ser uma sequumlecircncia ao acaso para uma pessoa inexperiente aparece ao matemaacutetico como uma sequumlecircncia cheia de signiffcado Observe que a progressatildeo pode ir ao inffnito Isso equivale agrave situaccedilatildeo de quase todas as alegorias Elas natildeo tecircm nenhum limite orgacircnico inerente de magnitude Muitas satildeo inacabadas como O Castelo e O Processo de Kafka12

A alegoria ela proacutepria diz respeito entatildeo agrave projeccedilatildeo - tanto espacial quanto temporal ou ambas - da estrutura como sequumlecircncia o

resultado todavia natildeo eacute dinacircmico mas estaacutetico

ritualiacutestico repetitivo Ela eacute entatildeo o epiacutetome da

contranarrativa pois prende a narrativa no lugar

substituindo um princiacutepio de disjunccedilatildeo

sintagmaacutetica por uma combinaccedilatildeo diegeacutetica

Desse modo a alegoria supra-induz uma leitura

vertical ou paradigmaacutetica de correspondecircncias

sobre uma cadeia de eventos horizontal ou

sintagmaacutetica O trabalho de Andre Brown

LeNrtt Darboven e outros envolvido como

estaacute com a exteriorizaccedilatildeo do procedimento

loacutegico sua projeccedilatildeo como uma experiecircncia espaccedilo-temporal tambeacutem solicita tratamento

em termos de alegoria

Essa projeccedilatildeo da estrutura como sequumlecircncia

lembra o fato de que na retoacuterica a alegoria eacute

tradicionalmente definida como uma simples metaacutefora introduzida em seacuteries contiacutenuas Se

essa definiccedilatildeo eacute recolocada em termos

estruturalistas entatildeo a alegoria eacute reve lada como

a projeccedilatildeo do eixo metafoacuterico da linguagem sobre sua dimensatildeo metoniacutemica Roman

Jakobson definiu essa projeccedilatildeo da metaacutefora sobre a metoniacutemia como a funccedilatildeo poeacutetica e

associou a metaacutefora agrave poesia e ao romantismo e a metoniacutemia agrave prosa e ao realismo A alegoria

contudo implica tonto a metaacutefora quanto a

metoniacutemia por conseguinte ela tende a afetar

e subentender todas essas categorizaccedilotildees

estiliacutesticas sendo igualmente possiacutevel no verso e

na prosa e completamente capaz de

transformar o mais objetivo naturalismo no mais

subjetivo expressionismo ou o mais

determinado realismo num barroco ornamental

exageradamente surrealista 3 Esse ruidoso

descuido pelas categorias esteacuteticas natildeo eacute em

parte alguma mais aparente do que na

reciprocidade que a alegoria propotildee entre o

visual e o verbal palavras satildeo frequumlentemente

tratadas como fenocircmeno puramente visual

enquanto as imagens visuais satildeo oferecidas

como texto a ser decifrado Foi esse aspecto da

alegoria que Schopenhauer criticou quando escreveu

Se o desejo pela fama estaacute enraizado ffrme e permanentemente na mente do homem e se ele agora permanece diante do Gecircnio da

Fama [de Annibale Caracci] corri suas coroas de louro entatildeo toda sua mente estaacute excitada e seus poderes satildeo chamados agrave atividade Mas a mesma coisa poderia tambeacutem

acontecer se ele visse repentinamente a palavra fama em letras grandes e caras na parede 14

Tanto quanto isso pode lembrar os conceitos

linguumliacutesticos dos artistas conceituais Robert Barry e Lawrence Weiner cujo trabalho eacute de fato

concebido como letras grandes e claras na

parede o que de fato revela eacute a natureza

essencialmente pictogramaacutetica do trabalho alegoacuterico Na alegoria a imagem eacute um

hieroacuteglifo uma alegoria eacute um reacutebus - texto

composto de imagens concretas 15 Assim

poderiacuteamos tambeacutem procurar a alegoria nos

trabalhos contemporacircneos que seguem

deliberadamente um modelo discursivo o

Rebus de Rauschenberg ou a seacuterie de Twombly

a partir do poeta alegoacuterico Spencer

Essa confusatildeo do verbal e do vi sual eacute apenas um

aspecto da deses perada confusatildeo de todos os

meios esteacuteticos e categorias estiliacutesticas da

alegoria (desesperada isto eacute de acordo com

qualquer parcelamento do campo esteacutetico sobre

bases essencialistas) O trabalho alegoacuterico eacute

sinteacutetico ele atravessa os limites esteacuteticos Essa

confusatildeo de gecircnero antecipada por Duchamp

reaparece hOJe na hibridizaccedilatildeo em trabalhos ecleacuteticos que ostensivamente combinam de

antematildeo meios distintos da arte

TEMAacuteTICAmiddot CRAIG OW EN $ 117

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS-GRADUACcedilAO EM ARTES VISUAIS EBA bull UFRJ 2004

Apropriaccedilatildeo site specificity impermanecircncia acumulaccedilatildeo discursividade hibridizaccedilatildeo - essas diversas estrateacutegias caracterizam grande parte da arte do presente e a distinguem de seus predecessores modernistas Eles tambeacutem

formam um todo quando vistos em relaccedilatildeo agrave alegoria sugerindo que a arte poacutes-modernista pode ser identificada de fato como um simples e coerente impulso e que a criacutetica permaneceraacute incapaz de Justificar esse impulso na medida em que continua a pensar a alegoria como erro esteacutetico Estamos portanto obrigados a

retornar agraves nossas questotildees iniciais Quando foi a alegoria inicialmente proscrita e por que razotildees

A supressatildeo criacutetica da alegoria eacute um legado da teoria da arte romacircntica que foi herdada sem criacutetica pelo modernismo As alegorias do seacuteculo

20 - as de Kafka por exemplo ou as de Borges - satildeo raramente chamadas de alegorias mas paraacutebolas ou faacutebulas pela metade do seacuteculo 19 contudo Poe - que natildeo era imune agrave alegoria shyacusou Hawthorne de alegorizaccedilatildeo de

acrescentar finais morais a contos que de outra maneira seriam inocentes A histoacuteria da pintura

modernista comeccedilou com Manet e natildeo Courbet que persistia em pintar alegorias reais Mesmo os maiores defensores

contemporacircneos de Courbet (Proudhon e Champfleury) estavam perplexos diante de sua tendecircncia alegoacuterica ou se eacute realista ou alegorista insistiam eles significando que ou se era modernista ou historicista

Nas artes visuais foi em grande parte a associaccedilatildeo da alegoria com a pintura histoacuterica que preparou seu fim A partir da Revoluccedilatildeo foi solicitado em prol do historicismo que se produzisse imagem sobre imagem do presente em termos do passado claacutessico Essa relaccedilatildeo foi expressa natildeo apenas superfcialmente nos detalhes do costume e da fisionomia mas tambeacutem estruturalmente por meio de uma

radical condensaccedilatildeo da narrativa em um uacutenico e emblemaacutetico instante - de modo significativo

Barthes chama a isso um hieroacuteglifo l6 - no qual o passado presente e futuro isto eacute a

significaccedilatildeo histoacuterica da accedilatildeo representada deveria ser lida Essa eacute claro a doutrina do instante fecundo que dominou a praacutetica artiacutestica durante a primeira metade do seacuteculo 19

I 118

Associaccedilotildees sintagmaacuteticas ou narrativas foram condensadas de modo a compelir a uma leitura

vertical de correspondecircncias (alegoacutericas) Eventos foram portanto retirados de um continuum em consequumlecircncia a histoacuteria poderia ser recuperada somente pelo que Benjamin chamou de um pulo do tigre no passado

Assim para Robespierre a Roma Antiga foi um passado carregado com o tempo do presente com o qual irrompeu do continuurn da histoacuteria A Revoluccedilatildeo Francesa viu-se a si proacutepria como Roma reencarnada Invocou a Roma Antiga como a moda evoca os costumes do passado A moda tem um faro para o atual natildeo importa onde ele se mova na trama esquecida ela eacute um pulo do tigre no passado 17

Embora para Baudelaire essa interpenetraccedilatildeo alegoacuterica da Modernidade e da Antiguumlidade claacutessica possuiacutesse um significado teoacuterico nada despreziacutevel a atitude da vanguarda que emergiu na metade do seacuteculo em uma atmosfera cheia

de historicismo foi sucintamente expressa por

Proudhon ao escrever sobre Leonidas at

Thermopyle de David

Poderiamos dizer natildeo eacute nem Leocircnidas e nem os espartanos nem os gregos e persas o que se poderia ver nessa grande composiccedilatildeo porque eacute o entusiasmo de 1892 que o pintor teve em vista e a Repuacuteblica Francesa salva da Coalizatildeo Mas por que essa alegoria Por que precisa passar pelas Termoacutepilas e voltar 23 seacuteculos para alcanccedilar o coraccedilatildeo dos franceses Natildeo tivemos nossos heroacuteis nem nossas proacuteprias vitoacuterias 18

Entatildeo na eacutepoca em que Courbet tentou resgatar a alegoria para a modernidade a linha que as separava tinha sido claramente traccedilada e

a alegoria concebida como antiteacutetica ao credo modernista I faut ecirctre de son temps foi condenada Junto com a pintura histoacuterica a uma existecircncia marginal puramente histoacuterica

Baudelaire no entanto a quem essa frase foi mais de perto associada Jamais condenou a alegoria em seu primeiro trabalho publicado o

Salotildeo de 1845 ele a defendia contra os profissionais da imprensa Como algueacutem

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

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interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

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escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

aiagraveeo 2lJ X 56 8Ild two a la t ted a1des 36 X 56 -- there are eight ali sla ta cod 91ght 8 11 openiIlfS Site - selection wae

ouumlaeacirc on Chri t ophe r J Schubertn s ~ Ge ologY 2 ~ Qt anti 5nv1rone -- See Trip C ~ Page 232 nThe Ridges On

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Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

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IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 4: Ae11 Craig Owens

ae R E V 1ST A D D P R o G R A M A D E P OacuteS - G R A D U A ccedil A o E M A R TE S V I SU A I S E B A bull U F R J 2 o o 4

Os trabalhos de site-specific satildeo transitoacuterios instalados em locaccedilotildees particulares com duraccedilatildeo limitada sua transitoriedade provendo a medida de sua circunstacircncia Aleacutem disso raramente satildeo desfeitos mas simplesmente abandonados agrave natureza Smithson reconhece consistentemente como parte de seus trabalhos as forccedilas que os erodem e ao final os reivindicam agrave natureza Nisso o trabalho de site-specific torna-se um emblema de transitoriedade a efemeridade de todo fenocircmeno ele eacute o memento mor do seacuteculo 20 Devido agrave sua transitoriedade mais ainda o trabalho eacute frequumlentemente preservado apenas em fotografias Esse fato eacute crucial pois ele sugere o potencial alegoacuterico da fotografia Uma apreciaccedilatildeo da transitoriedade das coisas e a concernecircncia para resgataacute-Ias da eternidade eacute um dos mais fortes impulsos da alegoria8 E da fotografia poderiacutearnos acrescentar Como uma arte alegoacuterica entatildeo a fotografia poderia representar nosso desejo de fixar o transitoacuterio o efecircmero em uma imagem estaacutevel e estabilizante Nas fotografias de Atget e Walker Evans na medida em que elas

autoconscienternente preservam aquilo que ameaccedila desaparecer esse desejo torna-se o temo da imagem Se suas fotografias satildeo alegoacutericas contudo eacute porque o que elas oferecem eacute apenas um fragmento e consequumlentemente afirma sua proacutepria arbitrariedade e contingecircncia9

Deveriacuteamos portanto estar preparados tambeacutem para encontrar um motivo alegoacuterico na fotomontagem pois ela eacute a praacutetica comum da alegoria para empilhar fragmentos incessantemente sem qualquer ideacuteia estrita de um objetivo 10 Esse meacutetodo de construccedilatildeo levou Angus Fletcher a comparar a estrutura alegoacuterica agrave neurose obsessiva I I e a obsessatildeo dos trabalhos de Sol LeWrtt digamos ou Hanne Darboven sugere que eles podem tambeacutem inserir-se no compasso do alegoacuterico Aqui encontramos ainda uma terceira ligaccedilatildeo entre a alegoria e a arte contemporacircnea nas estrateacutegias de acumulaccedilatildeo o trabalho parataacutedico pela simples colocaccedilatildeo de uma coisa depois da outra - Lever de Carl Andre ou Primory Accumulotion de Trisha Brown Um paradigma para o trabalho alegoacuterico eacute a progressatildeo matemaacutetica

116

r~----------------------------________________________________________~

Um matemaacutetico ao ver os nuacutemeros I 3 6

I I 20 teria como reconhecer que o significado dessa progressatildeo pode ser redistribuiacutedo na linguagem algeacutebrica da foacutermula X mais 2 elevado a x com certas restriccedilotildees sobre X O que poderia ser uma sequumlecircncia ao acaso para uma pessoa inexperiente aparece ao matemaacutetico como uma sequumlecircncia cheia de signiffcado Observe que a progressatildeo pode ir ao inffnito Isso equivale agrave situaccedilatildeo de quase todas as alegorias Elas natildeo tecircm nenhum limite orgacircnico inerente de magnitude Muitas satildeo inacabadas como O Castelo e O Processo de Kafka12

A alegoria ela proacutepria diz respeito entatildeo agrave projeccedilatildeo - tanto espacial quanto temporal ou ambas - da estrutura como sequumlecircncia o

resultado todavia natildeo eacute dinacircmico mas estaacutetico

ritualiacutestico repetitivo Ela eacute entatildeo o epiacutetome da

contranarrativa pois prende a narrativa no lugar

substituindo um princiacutepio de disjunccedilatildeo

sintagmaacutetica por uma combinaccedilatildeo diegeacutetica

Desse modo a alegoria supra-induz uma leitura

vertical ou paradigmaacutetica de correspondecircncias

sobre uma cadeia de eventos horizontal ou

sintagmaacutetica O trabalho de Andre Brown

LeNrtt Darboven e outros envolvido como

estaacute com a exteriorizaccedilatildeo do procedimento

loacutegico sua projeccedilatildeo como uma experiecircncia espaccedilo-temporal tambeacutem solicita tratamento

em termos de alegoria

Essa projeccedilatildeo da estrutura como sequumlecircncia

lembra o fato de que na retoacuterica a alegoria eacute

tradicionalmente definida como uma simples metaacutefora introduzida em seacuteries contiacutenuas Se

essa definiccedilatildeo eacute recolocada em termos

estruturalistas entatildeo a alegoria eacute reve lada como

a projeccedilatildeo do eixo metafoacuterico da linguagem sobre sua dimensatildeo metoniacutemica Roman

Jakobson definiu essa projeccedilatildeo da metaacutefora sobre a metoniacutemia como a funccedilatildeo poeacutetica e

associou a metaacutefora agrave poesia e ao romantismo e a metoniacutemia agrave prosa e ao realismo A alegoria

contudo implica tonto a metaacutefora quanto a

metoniacutemia por conseguinte ela tende a afetar

e subentender todas essas categorizaccedilotildees

estiliacutesticas sendo igualmente possiacutevel no verso e

na prosa e completamente capaz de

transformar o mais objetivo naturalismo no mais

subjetivo expressionismo ou o mais

determinado realismo num barroco ornamental

exageradamente surrealista 3 Esse ruidoso

descuido pelas categorias esteacuteticas natildeo eacute em

parte alguma mais aparente do que na

reciprocidade que a alegoria propotildee entre o

visual e o verbal palavras satildeo frequumlentemente

tratadas como fenocircmeno puramente visual

enquanto as imagens visuais satildeo oferecidas

como texto a ser decifrado Foi esse aspecto da

alegoria que Schopenhauer criticou quando escreveu

Se o desejo pela fama estaacute enraizado ffrme e permanentemente na mente do homem e se ele agora permanece diante do Gecircnio da

Fama [de Annibale Caracci] corri suas coroas de louro entatildeo toda sua mente estaacute excitada e seus poderes satildeo chamados agrave atividade Mas a mesma coisa poderia tambeacutem

acontecer se ele visse repentinamente a palavra fama em letras grandes e caras na parede 14

Tanto quanto isso pode lembrar os conceitos

linguumliacutesticos dos artistas conceituais Robert Barry e Lawrence Weiner cujo trabalho eacute de fato

concebido como letras grandes e claras na

parede o que de fato revela eacute a natureza

essencialmente pictogramaacutetica do trabalho alegoacuterico Na alegoria a imagem eacute um

hieroacuteglifo uma alegoria eacute um reacutebus - texto

composto de imagens concretas 15 Assim

poderiacuteamos tambeacutem procurar a alegoria nos

trabalhos contemporacircneos que seguem

deliberadamente um modelo discursivo o

Rebus de Rauschenberg ou a seacuterie de Twombly

a partir do poeta alegoacuterico Spencer

Essa confusatildeo do verbal e do vi sual eacute apenas um

aspecto da deses perada confusatildeo de todos os

meios esteacuteticos e categorias estiliacutesticas da

alegoria (desesperada isto eacute de acordo com

qualquer parcelamento do campo esteacutetico sobre

bases essencialistas) O trabalho alegoacuterico eacute

sinteacutetico ele atravessa os limites esteacuteticos Essa

confusatildeo de gecircnero antecipada por Duchamp

reaparece hOJe na hibridizaccedilatildeo em trabalhos ecleacuteticos que ostensivamente combinam de

antematildeo meios distintos da arte

TEMAacuteTICAmiddot CRAIG OW EN $ 117

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS-GRADUACcedilAO EM ARTES VISUAIS EBA bull UFRJ 2004

Apropriaccedilatildeo site specificity impermanecircncia acumulaccedilatildeo discursividade hibridizaccedilatildeo - essas diversas estrateacutegias caracterizam grande parte da arte do presente e a distinguem de seus predecessores modernistas Eles tambeacutem

formam um todo quando vistos em relaccedilatildeo agrave alegoria sugerindo que a arte poacutes-modernista pode ser identificada de fato como um simples e coerente impulso e que a criacutetica permaneceraacute incapaz de Justificar esse impulso na medida em que continua a pensar a alegoria como erro esteacutetico Estamos portanto obrigados a

retornar agraves nossas questotildees iniciais Quando foi a alegoria inicialmente proscrita e por que razotildees

A supressatildeo criacutetica da alegoria eacute um legado da teoria da arte romacircntica que foi herdada sem criacutetica pelo modernismo As alegorias do seacuteculo

20 - as de Kafka por exemplo ou as de Borges - satildeo raramente chamadas de alegorias mas paraacutebolas ou faacutebulas pela metade do seacuteculo 19 contudo Poe - que natildeo era imune agrave alegoria shyacusou Hawthorne de alegorizaccedilatildeo de

acrescentar finais morais a contos que de outra maneira seriam inocentes A histoacuteria da pintura

modernista comeccedilou com Manet e natildeo Courbet que persistia em pintar alegorias reais Mesmo os maiores defensores

contemporacircneos de Courbet (Proudhon e Champfleury) estavam perplexos diante de sua tendecircncia alegoacuterica ou se eacute realista ou alegorista insistiam eles significando que ou se era modernista ou historicista

Nas artes visuais foi em grande parte a associaccedilatildeo da alegoria com a pintura histoacuterica que preparou seu fim A partir da Revoluccedilatildeo foi solicitado em prol do historicismo que se produzisse imagem sobre imagem do presente em termos do passado claacutessico Essa relaccedilatildeo foi expressa natildeo apenas superfcialmente nos detalhes do costume e da fisionomia mas tambeacutem estruturalmente por meio de uma

radical condensaccedilatildeo da narrativa em um uacutenico e emblemaacutetico instante - de modo significativo

Barthes chama a isso um hieroacuteglifo l6 - no qual o passado presente e futuro isto eacute a

significaccedilatildeo histoacuterica da accedilatildeo representada deveria ser lida Essa eacute claro a doutrina do instante fecundo que dominou a praacutetica artiacutestica durante a primeira metade do seacuteculo 19

I 118

Associaccedilotildees sintagmaacuteticas ou narrativas foram condensadas de modo a compelir a uma leitura

vertical de correspondecircncias (alegoacutericas) Eventos foram portanto retirados de um continuum em consequumlecircncia a histoacuteria poderia ser recuperada somente pelo que Benjamin chamou de um pulo do tigre no passado

Assim para Robespierre a Roma Antiga foi um passado carregado com o tempo do presente com o qual irrompeu do continuurn da histoacuteria A Revoluccedilatildeo Francesa viu-se a si proacutepria como Roma reencarnada Invocou a Roma Antiga como a moda evoca os costumes do passado A moda tem um faro para o atual natildeo importa onde ele se mova na trama esquecida ela eacute um pulo do tigre no passado 17

Embora para Baudelaire essa interpenetraccedilatildeo alegoacuterica da Modernidade e da Antiguumlidade claacutessica possuiacutesse um significado teoacuterico nada despreziacutevel a atitude da vanguarda que emergiu na metade do seacuteculo em uma atmosfera cheia

de historicismo foi sucintamente expressa por

Proudhon ao escrever sobre Leonidas at

Thermopyle de David

Poderiamos dizer natildeo eacute nem Leocircnidas e nem os espartanos nem os gregos e persas o que se poderia ver nessa grande composiccedilatildeo porque eacute o entusiasmo de 1892 que o pintor teve em vista e a Repuacuteblica Francesa salva da Coalizatildeo Mas por que essa alegoria Por que precisa passar pelas Termoacutepilas e voltar 23 seacuteculos para alcanccedilar o coraccedilatildeo dos franceses Natildeo tivemos nossos heroacuteis nem nossas proacuteprias vitoacuterias 18

Entatildeo na eacutepoca em que Courbet tentou resgatar a alegoria para a modernidade a linha que as separava tinha sido claramente traccedilada e

a alegoria concebida como antiteacutetica ao credo modernista I faut ecirctre de son temps foi condenada Junto com a pintura histoacuterica a uma existecircncia marginal puramente histoacuterica

Baudelaire no entanto a quem essa frase foi mais de perto associada Jamais condenou a alegoria em seu primeiro trabalho publicado o

Salotildeo de 1845 ele a defendia contra os profissionais da imprensa Como algueacutem

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

aiagraveeo 2lJ X 56 8Ild two a la t ted a1des 36 X 56 -- there are eight ali sla ta cod 91ght 8 11 openiIlfS Site - selection wae

ouumlaeacirc on Chri t ophe r J Schubertn s ~ Ge ologY 2 ~ Qt anti 5nv1rone -- See Trip C ~ Page 232 nThe Ridges On

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Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

a~a loat i te eys tem The clifis on the ma) are clear cut contour l1nes t nt t el l us noth1ng about t Le dirt between tbe Iocks The amusement plrr rests on a roc( Etratu knorr as

IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 5: Ae11 Craig Owens

Um matemaacutetico ao ver os nuacutemeros I 3 6

I I 20 teria como reconhecer que o significado dessa progressatildeo pode ser redistribuiacutedo na linguagem algeacutebrica da foacutermula X mais 2 elevado a x com certas restriccedilotildees sobre X O que poderia ser uma sequumlecircncia ao acaso para uma pessoa inexperiente aparece ao matemaacutetico como uma sequumlecircncia cheia de signiffcado Observe que a progressatildeo pode ir ao inffnito Isso equivale agrave situaccedilatildeo de quase todas as alegorias Elas natildeo tecircm nenhum limite orgacircnico inerente de magnitude Muitas satildeo inacabadas como O Castelo e O Processo de Kafka12

A alegoria ela proacutepria diz respeito entatildeo agrave projeccedilatildeo - tanto espacial quanto temporal ou ambas - da estrutura como sequumlecircncia o

resultado todavia natildeo eacute dinacircmico mas estaacutetico

ritualiacutestico repetitivo Ela eacute entatildeo o epiacutetome da

contranarrativa pois prende a narrativa no lugar

substituindo um princiacutepio de disjunccedilatildeo

sintagmaacutetica por uma combinaccedilatildeo diegeacutetica

Desse modo a alegoria supra-induz uma leitura

vertical ou paradigmaacutetica de correspondecircncias

sobre uma cadeia de eventos horizontal ou

sintagmaacutetica O trabalho de Andre Brown

LeNrtt Darboven e outros envolvido como

estaacute com a exteriorizaccedilatildeo do procedimento

loacutegico sua projeccedilatildeo como uma experiecircncia espaccedilo-temporal tambeacutem solicita tratamento

em termos de alegoria

Essa projeccedilatildeo da estrutura como sequumlecircncia

lembra o fato de que na retoacuterica a alegoria eacute

tradicionalmente definida como uma simples metaacutefora introduzida em seacuteries contiacutenuas Se

essa definiccedilatildeo eacute recolocada em termos

estruturalistas entatildeo a alegoria eacute reve lada como

a projeccedilatildeo do eixo metafoacuterico da linguagem sobre sua dimensatildeo metoniacutemica Roman

Jakobson definiu essa projeccedilatildeo da metaacutefora sobre a metoniacutemia como a funccedilatildeo poeacutetica e

associou a metaacutefora agrave poesia e ao romantismo e a metoniacutemia agrave prosa e ao realismo A alegoria

contudo implica tonto a metaacutefora quanto a

metoniacutemia por conseguinte ela tende a afetar

e subentender todas essas categorizaccedilotildees

estiliacutesticas sendo igualmente possiacutevel no verso e

na prosa e completamente capaz de

transformar o mais objetivo naturalismo no mais

subjetivo expressionismo ou o mais

determinado realismo num barroco ornamental

exageradamente surrealista 3 Esse ruidoso

descuido pelas categorias esteacuteticas natildeo eacute em

parte alguma mais aparente do que na

reciprocidade que a alegoria propotildee entre o

visual e o verbal palavras satildeo frequumlentemente

tratadas como fenocircmeno puramente visual

enquanto as imagens visuais satildeo oferecidas

como texto a ser decifrado Foi esse aspecto da

alegoria que Schopenhauer criticou quando escreveu

Se o desejo pela fama estaacute enraizado ffrme e permanentemente na mente do homem e se ele agora permanece diante do Gecircnio da

Fama [de Annibale Caracci] corri suas coroas de louro entatildeo toda sua mente estaacute excitada e seus poderes satildeo chamados agrave atividade Mas a mesma coisa poderia tambeacutem

acontecer se ele visse repentinamente a palavra fama em letras grandes e caras na parede 14

Tanto quanto isso pode lembrar os conceitos

linguumliacutesticos dos artistas conceituais Robert Barry e Lawrence Weiner cujo trabalho eacute de fato

concebido como letras grandes e claras na

parede o que de fato revela eacute a natureza

essencialmente pictogramaacutetica do trabalho alegoacuterico Na alegoria a imagem eacute um

hieroacuteglifo uma alegoria eacute um reacutebus - texto

composto de imagens concretas 15 Assim

poderiacuteamos tambeacutem procurar a alegoria nos

trabalhos contemporacircneos que seguem

deliberadamente um modelo discursivo o

Rebus de Rauschenberg ou a seacuterie de Twombly

a partir do poeta alegoacuterico Spencer

Essa confusatildeo do verbal e do vi sual eacute apenas um

aspecto da deses perada confusatildeo de todos os

meios esteacuteticos e categorias estiliacutesticas da

alegoria (desesperada isto eacute de acordo com

qualquer parcelamento do campo esteacutetico sobre

bases essencialistas) O trabalho alegoacuterico eacute

sinteacutetico ele atravessa os limites esteacuteticos Essa

confusatildeo de gecircnero antecipada por Duchamp

reaparece hOJe na hibridizaccedilatildeo em trabalhos ecleacuteticos que ostensivamente combinam de

antematildeo meios distintos da arte

TEMAacuteTICAmiddot CRAIG OW EN $ 117

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS-GRADUACcedilAO EM ARTES VISUAIS EBA bull UFRJ 2004

Apropriaccedilatildeo site specificity impermanecircncia acumulaccedilatildeo discursividade hibridizaccedilatildeo - essas diversas estrateacutegias caracterizam grande parte da arte do presente e a distinguem de seus predecessores modernistas Eles tambeacutem

formam um todo quando vistos em relaccedilatildeo agrave alegoria sugerindo que a arte poacutes-modernista pode ser identificada de fato como um simples e coerente impulso e que a criacutetica permaneceraacute incapaz de Justificar esse impulso na medida em que continua a pensar a alegoria como erro esteacutetico Estamos portanto obrigados a

retornar agraves nossas questotildees iniciais Quando foi a alegoria inicialmente proscrita e por que razotildees

A supressatildeo criacutetica da alegoria eacute um legado da teoria da arte romacircntica que foi herdada sem criacutetica pelo modernismo As alegorias do seacuteculo

20 - as de Kafka por exemplo ou as de Borges - satildeo raramente chamadas de alegorias mas paraacutebolas ou faacutebulas pela metade do seacuteculo 19 contudo Poe - que natildeo era imune agrave alegoria shyacusou Hawthorne de alegorizaccedilatildeo de

acrescentar finais morais a contos que de outra maneira seriam inocentes A histoacuteria da pintura

modernista comeccedilou com Manet e natildeo Courbet que persistia em pintar alegorias reais Mesmo os maiores defensores

contemporacircneos de Courbet (Proudhon e Champfleury) estavam perplexos diante de sua tendecircncia alegoacuterica ou se eacute realista ou alegorista insistiam eles significando que ou se era modernista ou historicista

Nas artes visuais foi em grande parte a associaccedilatildeo da alegoria com a pintura histoacuterica que preparou seu fim A partir da Revoluccedilatildeo foi solicitado em prol do historicismo que se produzisse imagem sobre imagem do presente em termos do passado claacutessico Essa relaccedilatildeo foi expressa natildeo apenas superfcialmente nos detalhes do costume e da fisionomia mas tambeacutem estruturalmente por meio de uma

radical condensaccedilatildeo da narrativa em um uacutenico e emblemaacutetico instante - de modo significativo

Barthes chama a isso um hieroacuteglifo l6 - no qual o passado presente e futuro isto eacute a

significaccedilatildeo histoacuterica da accedilatildeo representada deveria ser lida Essa eacute claro a doutrina do instante fecundo que dominou a praacutetica artiacutestica durante a primeira metade do seacuteculo 19

I 118

Associaccedilotildees sintagmaacuteticas ou narrativas foram condensadas de modo a compelir a uma leitura

vertical de correspondecircncias (alegoacutericas) Eventos foram portanto retirados de um continuum em consequumlecircncia a histoacuteria poderia ser recuperada somente pelo que Benjamin chamou de um pulo do tigre no passado

Assim para Robespierre a Roma Antiga foi um passado carregado com o tempo do presente com o qual irrompeu do continuurn da histoacuteria A Revoluccedilatildeo Francesa viu-se a si proacutepria como Roma reencarnada Invocou a Roma Antiga como a moda evoca os costumes do passado A moda tem um faro para o atual natildeo importa onde ele se mova na trama esquecida ela eacute um pulo do tigre no passado 17

Embora para Baudelaire essa interpenetraccedilatildeo alegoacuterica da Modernidade e da Antiguumlidade claacutessica possuiacutesse um significado teoacuterico nada despreziacutevel a atitude da vanguarda que emergiu na metade do seacuteculo em uma atmosfera cheia

de historicismo foi sucintamente expressa por

Proudhon ao escrever sobre Leonidas at

Thermopyle de David

Poderiamos dizer natildeo eacute nem Leocircnidas e nem os espartanos nem os gregos e persas o que se poderia ver nessa grande composiccedilatildeo porque eacute o entusiasmo de 1892 que o pintor teve em vista e a Repuacuteblica Francesa salva da Coalizatildeo Mas por que essa alegoria Por que precisa passar pelas Termoacutepilas e voltar 23 seacuteculos para alcanccedilar o coraccedilatildeo dos franceses Natildeo tivemos nossos heroacuteis nem nossas proacuteprias vitoacuterias 18

Entatildeo na eacutepoca em que Courbet tentou resgatar a alegoria para a modernidade a linha que as separava tinha sido claramente traccedilada e

a alegoria concebida como antiteacutetica ao credo modernista I faut ecirctre de son temps foi condenada Junto com a pintura histoacuterica a uma existecircncia marginal puramente histoacuterica

Baudelaire no entanto a quem essa frase foi mais de perto associada Jamais condenou a alegoria em seu primeiro trabalho publicado o

Salotildeo de 1845 ele a defendia contra os profissionais da imprensa Como algueacutem

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

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TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 6: Ae11 Craig Owens

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS-GRADUACcedilAO EM ARTES VISUAIS EBA bull UFRJ 2004

Apropriaccedilatildeo site specificity impermanecircncia acumulaccedilatildeo discursividade hibridizaccedilatildeo - essas diversas estrateacutegias caracterizam grande parte da arte do presente e a distinguem de seus predecessores modernistas Eles tambeacutem

formam um todo quando vistos em relaccedilatildeo agrave alegoria sugerindo que a arte poacutes-modernista pode ser identificada de fato como um simples e coerente impulso e que a criacutetica permaneceraacute incapaz de Justificar esse impulso na medida em que continua a pensar a alegoria como erro esteacutetico Estamos portanto obrigados a

retornar agraves nossas questotildees iniciais Quando foi a alegoria inicialmente proscrita e por que razotildees

A supressatildeo criacutetica da alegoria eacute um legado da teoria da arte romacircntica que foi herdada sem criacutetica pelo modernismo As alegorias do seacuteculo

20 - as de Kafka por exemplo ou as de Borges - satildeo raramente chamadas de alegorias mas paraacutebolas ou faacutebulas pela metade do seacuteculo 19 contudo Poe - que natildeo era imune agrave alegoria shyacusou Hawthorne de alegorizaccedilatildeo de

acrescentar finais morais a contos que de outra maneira seriam inocentes A histoacuteria da pintura

modernista comeccedilou com Manet e natildeo Courbet que persistia em pintar alegorias reais Mesmo os maiores defensores

contemporacircneos de Courbet (Proudhon e Champfleury) estavam perplexos diante de sua tendecircncia alegoacuterica ou se eacute realista ou alegorista insistiam eles significando que ou se era modernista ou historicista

Nas artes visuais foi em grande parte a associaccedilatildeo da alegoria com a pintura histoacuterica que preparou seu fim A partir da Revoluccedilatildeo foi solicitado em prol do historicismo que se produzisse imagem sobre imagem do presente em termos do passado claacutessico Essa relaccedilatildeo foi expressa natildeo apenas superfcialmente nos detalhes do costume e da fisionomia mas tambeacutem estruturalmente por meio de uma

radical condensaccedilatildeo da narrativa em um uacutenico e emblemaacutetico instante - de modo significativo

Barthes chama a isso um hieroacuteglifo l6 - no qual o passado presente e futuro isto eacute a

significaccedilatildeo histoacuterica da accedilatildeo representada deveria ser lida Essa eacute claro a doutrina do instante fecundo que dominou a praacutetica artiacutestica durante a primeira metade do seacuteculo 19

I 118

Associaccedilotildees sintagmaacuteticas ou narrativas foram condensadas de modo a compelir a uma leitura

vertical de correspondecircncias (alegoacutericas) Eventos foram portanto retirados de um continuum em consequumlecircncia a histoacuteria poderia ser recuperada somente pelo que Benjamin chamou de um pulo do tigre no passado

Assim para Robespierre a Roma Antiga foi um passado carregado com o tempo do presente com o qual irrompeu do continuurn da histoacuteria A Revoluccedilatildeo Francesa viu-se a si proacutepria como Roma reencarnada Invocou a Roma Antiga como a moda evoca os costumes do passado A moda tem um faro para o atual natildeo importa onde ele se mova na trama esquecida ela eacute um pulo do tigre no passado 17

Embora para Baudelaire essa interpenetraccedilatildeo alegoacuterica da Modernidade e da Antiguumlidade claacutessica possuiacutesse um significado teoacuterico nada despreziacutevel a atitude da vanguarda que emergiu na metade do seacuteculo em uma atmosfera cheia

de historicismo foi sucintamente expressa por

Proudhon ao escrever sobre Leonidas at

Thermopyle de David

Poderiamos dizer natildeo eacute nem Leocircnidas e nem os espartanos nem os gregos e persas o que se poderia ver nessa grande composiccedilatildeo porque eacute o entusiasmo de 1892 que o pintor teve em vista e a Repuacuteblica Francesa salva da Coalizatildeo Mas por que essa alegoria Por que precisa passar pelas Termoacutepilas e voltar 23 seacuteculos para alcanccedilar o coraccedilatildeo dos franceses Natildeo tivemos nossos heroacuteis nem nossas proacuteprias vitoacuterias 18

Entatildeo na eacutepoca em que Courbet tentou resgatar a alegoria para a modernidade a linha que as separava tinha sido claramente traccedilada e

a alegoria concebida como antiteacutetica ao credo modernista I faut ecirctre de son temps foi condenada Junto com a pintura histoacuterica a uma existecircncia marginal puramente histoacuterica

Baudelaire no entanto a quem essa frase foi mais de perto associada Jamais condenou a alegoria em seu primeiro trabalho publicado o

Salotildeo de 1845 ele a defendia contra os profissionais da imprensa Como algueacutem

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

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TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 7: Ae11 Craig Owens

poderia desejar fazecirc-los compreender que a alegoria eacute um dos mais nobres ramos da

arte 19 O endosso da alegoria pelo poeta eacute

apenas aparentemente paradoxal pois foi a relaccedilatildeo da Antiguumlidade com a Modemidade que promoveu a base para sua teoria da arte modema e a alegoria promoveu sua forma

Jules Lemaitre escrevendo em 1895 descreveu o especificamente baudelaireano como a constante combinaccedilatildeo de dois modos opostos de reaccedilatildeo um modo presente e um passado Claudel observou que o poeta combinou o

estilo de Racine com aquele do jornalista do

Segundo Impeacuteri020 Eacute-nos oferecido um vislumbre das bases teoacutericas desse amaacutelgama do presente e do passado no capiacutetulo De le heacuteroisme de la vie moderne do Salatildeo de 1846 e ainda em O pintor da vida moderna em que

a Modernidade eacute definida como o transitoacuterio o instantacircneo o contingente eacute urna parte da arte

a outra sendo o eterno o imutaacutevel 21 Se o

artista moderno foi exortado a concentrar-se sobre o efecircmero contudo foi porque ele era

efecircmero ou seja ele ameaccedilava desaparecer sem deixar rastro Baudelaire concebeu a arte moderna ao menos em parte como o resgate

da Modernidade para a eternidade

Em A Paris do Segundo Impeacuterio [em Charles Baudelaire um liacuterico no auge do capitalismo] Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de Baudelaire ligando-o ao monumental estudo de Maxime Ou Camp Paris ses organes ses fonctions et sa vie dans la seconde moitieacute du XIXe Siecirccle (significativamente Ou Camp eacute mais conhecido hoje por suas fotografias de ruiacutenas)

Subitamente ocorreu ao homem que viajou muito pelo Oriente que se familiarizou com os desertos cuja areia eacute a poeira da morte que esta cidade cuja agitaccedilatildeo o cercava tambeacutem teria que morrer algum dia do mesmo modo que muitas capitais morreram Ocorreu-lhe como extraordinariamente interessante uma acurada descriccedilatildeo de Atenas no tempo de Peacuterides Cartago no tempo de Barca Alexandria no tempo de Ptolomeu Roma no tempo de Cesar que poderia corresponder agrave nosso atualidade Num instonte de inspiraccedilatildeo do tipo que ocasionalmente nos traz um tema extraordinoacuterio ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que os historiadores da Antiguumlidade falharam ao escrever sobre suas cidades 22

Para Benjamin Baudelaire foi motivado por um

impulso idecircntico esclarecedor de sua atraccedilatildeo pelas gravuras alegoacutericas de Paris feitas por Charles Meyron que resgataram a face antiga da cidade sem abandonar nenhum

paralelepiacutepedo23 Nas vistas de Meyron o antigo e o moderno foram superpostos e do

desejo de preservar os traccedilos de alguma coisa que Jaacute morrera ou que estava para morrer emergiu a alegoria em uma ilustraccedilatildeo a Pont Neuf reformada por exemplo foi transformada

em um memento mori 24

O primeiro insight de Benjamin - O gecircnio de Baudelai re que esboccedilou sua nutriccedilatildeo da

melancolia era um gecircnio alegoacuterico25 shy

efetivamente situa um impulso alegoacuterico na origem do modernismo nas artes e assim sugere a possibilidade previamente excluiacuteda de urna leitura alternada dos trabalhos modernistas urna

leitura na qual sua dimensatildeo alegoacuterica poderia ser completamente entendida A manipulaccedilatildeo

de Manet das fontes histoacutericas por exemplo eacute inconcebiacutevel sem a alegoria natildeo foi um gesto supremamente alegoacuterico reproduzir em 1871 o Toureiro morto como um partidaacuterio da Comuna

[Communard] ferido ou transpor o pelotatildeo de fogo de A execuccedilatildeo de Maximiliano agraves barricadas

de Paris E natildeo eacute a colagem ou a manipulaccedilatildeo e a consequumlente transformaccedilatildeo de fragmentos altamente significativos tambeacutem exploraccedilatildeo da atomizaccedilatildeo o princiacutepio disjuntivo que repousa no coraccedilatildeo da alegom Esses exemplos sugerem que ao menos na praacutetica o modernismo e a alegoria notildeo satildeo antiteacuteticos pois eacute na teoria apenas que o impulso alegoacuterico tem sido reprimido Eacute agrave teoria entatildeo que precisamos voltar se quisermos apreender todas

as implicaccedilotildees de seu recente retorno

11

Logo no iniacutecio de As Origens da Obra de Arte Heidegger introduz dois termos que definem a moldura conceitual dentro da qual o trabalho

de arte eacute convencionalmente localizado pelo

pensamento esteacutetico

O trabalho de arte eacute com certeza uma coisa que eacute feita mas ele diz alguma outra coisa aleacutem da simples coisa que ele mesmo eacute alio agoreuei O trabalho toma paacuteblica alguma

T EMAacute TIC A C R AIG O W EN S 119

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

aiagraveeo 2lJ X 56 8Ild two a la t ted a1des 36 X 56 -- there are eight ali sla ta cod 91ght 8 11 openiIlfS Site - selection wae

ouumlaeacirc on Chri t ophe r J Schubertn s ~ Ge ologY 2 ~ Qt anti 5nv1rone -- See Trip C ~ Page 232 nThe Ridges On

t he si t e are tmiddot e traces of en old t r olly system that connecmiddotteagrave

rulisade3 ua eruent Park with tho Edsewater-125th St bull FerryJ

Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

a~a loat i te eys tem The clifis on the ma) are clear cut contour l1nes t nt t el l us noth1ng about t Le dirt between tbe Iocks The amusement plrr rests on a roc( Etratu knorr as

IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 8: Ae11 Craig Owens

ae REV I S TA DO P ROGR AMA DE POacuteS middot GRA DU ACcedilAO EM A R TES V I SUA I S EBA bull U FRJ 2004

outra coisa aleacutem dele mesmo ele manifesta alguma outra coisa eacute uma alegoria No trabalho de arte alguma outra coisa eacute carregada junto com a coisa que eacute feita Carregar junto eacute em grego sumballein O trabalho eacute um smbolo 26

Imputando uma dimensatildeo alegoacuterica a todo trabalho de arte o filoacutesofo parece repetir o erro frequumlentemente lamentado pelos comentadores de generalizar o termo alegoria a tal ponto que ele se torna sem sentido Ainda nessa passagem Heidegger estaacute apenas recitando as litanias da esteacutetica filosoacutefica de modo a preparar sua dissoluccedilatildeo A questatildeo eacute irocircnica e poderia ser lembrado que a proacutepria ironia eacute frequumlentemente registrada como uma variante do alegoacuterico porque o fato de as palavras poderem ser usadas para sign ificar seus opostos eacute em si mesmo uma percepccedilatildeo fundamentalmente alegoacuterica

Alegoria e siacutembolo - como todos os pares de conceitos - estatildeo longe de ser imparcialmente confrontados Na esteacutetica moderna a alegoria eacute regularmente subordinada ao siacutembolo que representa a unidade supostamente indissoluacutevel da forma e substacircncia que caraderiza a obra de arte como pura presenccedila Embora essa definiccedilatildeo da obra de arte como tema manifesto seja sabemos tatildeo velha quanto a proacutepria esteacutetica foi revivida com um sentido de urgecircncia renovada pela teoria da arte romacircntica na qual promoveu a base para a condenaccedilatildeo filosoacutefica da alegoria De acordo com Coleridge O Simboacutelico natildeo pode talvez ser mais bem definido em uma comparaccedilatildeo que o distinga do Alegoacuterico na medida em que ele eacute sempre em si mesmo uma porte daquele do todo do qual ele eacute representativo 27

O siacutembolo eacute uma sineacutedoque uma parte representando o todo Essa definiccedilatildeo eacute possiacutevel contudo se e somente se a relaccedilatildeo do todo com suas partes for concebida de uma maneira particular Esta eacute a teoria da causalidade expressiva analisada por Althusser em Lire le Capital

[O conceito de expressatildeo de Leibniz] pressupotildee em princiacutepio que o todo em questatildeo seja reduzido a uma essecircncia

120

interior na qual os elementos do todo sejam entatildeo natildeo mais do que as formas de expressatildeo do fenocircmeno o princfpio da essecircncia interior estando presente em cada ponto no todo de tal modo que seja possvel a cada momento escrever a equaccedilatildeo adequada imediatamente tal e tal elemento = a essecircncia interior do todo [Grifos acrescentados] Aqui estava um modelo que tomou possiacutevel pensar a efetividade do todo em cada um de seus elementos mas se esta categoria - essecircncia interior fenocircmeno exterior - era para ser aplicada em todo lugar e em todo momento a cada surgimento do fenocircmeno na totalidade em questatildeo ela pressupunha que o todo tinha uma certa natureza precisamente a natureza de um todo esPiritual no qual cada elemento era expressivo da totalidade inteira como uma pars totalis28

A teoria de Coleridge eacute portanto expressiva do siacutembolo a apresentaccedilatildeo da uniatildeo da essecircncia interior e da expressatildeo exterior que satildeo de fato reve ladas como idecircnticas Pois essecircncia eacute apenas aquele elemento do todo que tem sido hipostasiado como sua essecircncia A teoria da expressatildeo assim procede em ciacuterculos embora designada a explicar a efetividade do todo em seus elementos constitutivos satildeo contudo aqueles mesmos elementos que reagem sobre o todo permitindo-nos conceber o uacuteltimo em termos de sua essecircncia Em Coleridge portanto o siacutembolo eacute precisamente aquela parte do todo agrave qual ele pode ser reduzido O siacutembolo natildeo representa a essecircncia ele eacute a essecircncia

Na base dessa identificaccedilatildeo o siacutembolo torna-se o verdadeiro emblema da intuiccedilatildeo artiacutestica Da maacutexima importacirc[lcia para nosso presente tema eacute esse ponto porque o uacuteltimO (a alegoria) natildeo pode ser outro a menos que expressado deliberadamente enquanto no primeiro (o siacutembolo) eacute muito possiacutevel que a verdade geral representada possa estar trabalhando inconscientemente na mente do escritor durante a construccedilatildeo do siacutembolo 29 O siacutembolo eacute entatildeo um signo motivado de fato ele representa a motivaccedilatildeo linguumliacutestica como tal Por essa razatildeo Saussure substituiu o termo signo por siacutembolo pois o uacuteltimo eacute Jamais completamente

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

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TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 9: Ae11 Craig Owens

arbitraacuterio ele natildeo eacute vazio pois haacute o rudimento de um viacutenculo natural entre o significante e o significado30 Se o siacutembolo eacute um signo motivado entatildeo a alegoria concebida como sua antiacutetese seraacute identificada como o domiacutenio do arbitraacuterio do convencional do imotivado

Essa associaccedilatildeo do siacutembolo com a intuiccedilatildeo esteacutetica bem como a da alegoria com a convenccedilatildeo foi herdada sem julgamento pela esteacutetica moderna assim registra Croce em Esteacutetico

Agora se o s(mbolo for concebido como inseparaacutevel da intuiccedilatildeo artiacutestica ele eacute um sinocircnimo para a proacutepria intuiccedilatildeo que tem sempre um caroacuteter ideal Natildeo hoacute um fUndo duplo para a arte mas apenas um na arte tudo eacute simboacutelico porque tudo eacute ideal Mas se o siacutembolo for concebido como no outro lado separaacutevel - se o s(mbolo puder estar em um lado e a coisa simbolizada no outro lado noacutes

recairemos no erro dos inteectualistas o assim-chamado s(mbolo eacute a exposiccedilatildeo de um conceito abstrato uma alegoria eacute ciecircncia ou arte imitando ciecircncia Mas certamente noacutes tambeacutem apenas nos aproximamos do alegoacuterico Algumas vezes ele eacute completamente inofensivo Considerando a Genusalemme liberata a alegoria foi imaginada mais tarde considerando o Adone de Marino o poeta do lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito para mostrar como a indulgecircncia imoderada termina em dor considerando uma estoacutetua de uma bela mulher o escultor pode acrescentar uma legenda para a estoacutetua dizendo que ela representa Clemecircncia ou Santidade Essa alegoria que eacute anexada a um trabalho terminado post festum natildeo muda o trabalho de arte O que eacute ela entiiacuteomiddotEla eacute uma expressatildeo extemamente anexada a outra expressatildeo31

T E MA T I CA C RA I G OW E NS 121

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

aiagraveeo 2lJ X 56 8Ild two a la t ted a1des 36 X 56 -- there are eight ali sla ta cod 91ght 8 11 openiIlfS Site - selection wae

ouumlaeacirc on Chri t ophe r J Schubertn s ~ Ge ologY 2 ~ Qt anti 5nv1rone -- See Trip C ~ Page 232 nThe Ridges On

t he si t e are tmiddot e traces of en old t r olly system that connecmiddotteagrave

rulisade3 ua eruent Park with tho Edsewater-125th St bull FerryJ

Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

a~a loat i te eys tem The clifis on the ma) are clear cut contour l1nes t nt t el l us noth1ng about t Le dirt between tbe Iocks The amusement plrr rests on a roc( Etratu knorr as

IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 10: Ae11 Craig Owens

ae R E V 1ST A D o P R o G R A M A DE POacuteS - G R A D U A ccedil Atilde o E M A R TE S V I SUA 1$ E B A bull U F R J bull 2 o o 4

Em nome da justiccedila entatildeo e de modo a preseNar o caraacuteter intuitivo de todo trabalho de arte incluindo o alegoacuterico a alegoria eacute

concebida como um suplemento uma expressatildeo extemamente acrescentada a outra expressatildeo Aqui reconhecemos a estrateacutegia permanente da teoria ocidental da arte que exclui do trabalho tudo aquilo que desafia sua

determinaccedilatildeo como a unidade da forma e do

conteuacutedo 32 Concebido como alguma coisa

anexada ou supra-anexada ao trabalho depois de feito a alegoria seraacute consequumlentemente

dele destacaacutevel Desse modo o modemismo

pode recuperar os trabalhos alegoacutericos para si

proacuteprio sob a condiccedilatildeo de que o que os faz alegoacutericos seja omitido ou ignorado O significado alegoacuterico aparece certamente como

suplementar podemos apreciar a Alegoria da Fortuna de Bellini por exemplo ou ler Pilgrims Progress como Coleridge recomendou sem olhar para sua significaccedilatildeo iconograacutefica

Rosemond Tuve descreve a experiecircncia do

espectador de um gecircnero de pintura (ou o autor havia pensado assim) que se transforma

em [uma] alegoria diante de seus olhos por

alguma coisa que ele conhece (usualmente

sobre a histoacuteria e por isso [reconhece] a mais

profunda significaccedilatildeo da imagem) 33 A alegoria eacute extravagante um dispecircndio de valor excedente ela estaacute sempre em excesso Croce consideravashya monstruosa precisamente porque ela

encerra dois conteuacutedos dentro de uma forma 34

Aleacutem disso o suplemento alegoacuterico natildeo eacute somente uma adiccedilatildeo mas tambeacutem uma recolocaccedilatildeo Ela toma o lugar de um significado anterior que eacute desse modo apagado ou obscurecido Porque a alegoria usurpa seu objeto ela comporta dentro de si mesma um

perigo a possibilidade de peNersatildeo que aquilo que eacute simplesmente acrescentado ao trabalho de arte seja confundido com sua essecircncia Por

isso a veemecircncia com a qual a esteacutetica moderna - a esteacutetica formalista em particular - opotildee-se ao suplemento alegoacuterico pois ele desafia a

seguranccedila das fundaccedilotildees sobre as quais a esteacutetica eacute erigida

Se a alegoria eacute identificada como um suplemento entatildeo ela estaacute tambeacutem alinhada com a escrita assim como a escrita eacute concebida

como suplementar ao discurso Eacute claro dentro da mesma tradiccedilatildeo fil osoacutefica que subordina a

122

escrita ao discurso que a alegoria estaacute subordinada ao siacutembolo Poderia ser demonstrado a partir de outra perspectiva que a supressatildeo da alegoria eacute idecircntica agrave supressatildeo da escrita Pois a alegoria visual ou verbal eacute essencialmente uma forma de escrita - essa eacute a

base do tratamento que Walter Benjamin lhe daacute

em A Origem do Drama Barroco Alematildeo Em

um soacute golpe a profunda visatildeo da alegoria transforma coisas e trabalhos em excitante texto 3S

A teoria da alegoria de Benjamin que procede

da percepccedilatildeo de que qualquer pessoa

qualquer objeto qualquer relaccedilatildeo pode significar

absolutamente qualquer outra coisa36 desafia

sumariamente Considerando portanto sua

centralidade neste ensaio algumas palavras a ela referentes procedem Na obra de Benjamin A Origem do Drama Barroco Alematildeo (escrito em

1924-25 e publicado em 1928) permanece como um trabalho seminal nele estatildeo reunidos

os temas que o iratildeo preocupar ao longo de sua carreira o progresso como o eterno retorno da cataacutestrofe o criticismo como inteNenccedilatildeo redentora do passado o valor teoacuterico do

concreto o disparate o descontiacutenuo seu

tratamento do fenocircmeno como texto a ser

decifrado Esse livro entatildeo lecirc como um prospecto toda a subsequumlente atividade criacutetica de Benjamin Como Anson Rabinbach obseNa

em sua introduccedilatildeo agrave recente ediccedilatildeo de New

German Critique devotada a Benjamin Seu

texto nos forccedila a pensar em correspondecircncias a proceder por meio de imagens alegoacutericas mais

do que por explanaccedilatildeo em prosa 37 O livro

sobre a trageacutedia barroca assim potildee em relevo a natureza essencialmente alegoacuterica de todo o trabalho de Benjamin - o projeto Paris Arcades

por exemplo em que a paisagem urbana deveria ser tratada como uma sedimentaccedilatildeo em

profundidade de camadas de significados que poderiam ser desenterradas gradualmente Para

Benjamin Interpretar eacute desenterrar algo

A Origem do Drama Barroco Alematildeo eacute um

tratado sobre o meacutetodo criacutetico investiga natildeo somente a origem da trageacutedia barroca mas tambeacutem a desaprovaccedilatildeo criacutetica a que ela tem

sido submetida Benjammiddotn examina em detalhe a

teoria romacircntica do siacutembolo expondo suas origens teoloacutegicas ele prepara sua atualizaccedilatildeo

p~--------------------------------------------------------------------------------------

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

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t he si t e are tmiddot e traces of en old t r olly system that connecmiddotteagrave

rulisade3 ua eruent Park with tho Edsewater-125th St bull FerryJ

Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

a~a loat i te eys tem The clifis on the ma) are clear cut contour l1nes t nt t el l us noth1ng about t Le dirt between tbe Iocks The amusement plrr rests on a roc( Etratu knorr as

IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 11: Ae11 Craig Owens

A unidade do objeto material e transcendental que constitui o paradoxo do sfmbolo teoloacutegico eacute distorcida em uma relaccedilatildeo entre aparecircncia e essecircncia Aintroduccedilatildeo dessa concepccedilatildeo distorcida do sfmbolo na esteacutetica foi uma extravagacircncia romacircntica e destrutiva que precedeu a desolaccedilatildeo da critica da arte modema Como um constructo simb6ico ele eacute supostamente fundido com o divino em um todo inquebrantaacutevel Aideacuteia de uma imanecircncia ilimitada do mundo moral no mundo da beleza eacute derivada da esteacutetica teosoacutefica dos romacircnticos Mas os fundamentos dessa ideacuteia foram lanccedilados muito tempo antes 38

Em sua afirmaccedilatildeo Benjamin estabelece o signo (graacutefico) que representa a distacircncia entre um objeto e seu significado a erosatildeo progressiva do significado a ausecircncia de transcendecircncia interior Por meio dessa manobra criacutetica ele eacute capaz de penetrar o veacuteu que obscureceu o empreendimento do barroco para apreciar completamente sua significaccedilatildeo teoacuterica Mas ela tambeacutem lhe permite liberar o texto de sua tradicional dependecircncia do discurso Na alegoria entatildeo a linguagem escrita e a falada confrontam-se em tensa polaridade A divisatildeo entre a linguagem escrita significante e a linguagem falada intoxicante abre uma clareira na massa soacutelida do significante verbal e forccedila o olhar agraves profundezas da linguagem39

Encontramos um eco dessa passagem no apelo de Robert Smithson tanto para uma praacutetica quanto para uma criacutetica alegoacuterica das artes visuais em seu texto t Sedimentation of Mind Earth Projects

Os nomes de minerais e os proacuteprios minerais natildeo se diferem porque no fundo tantD do material quanto do sinal impresso estaacute o comeccedilo de um nuacutemero abissal de fissuras Palavras e rochas contecircm uma linguagem que segue a sintaxe de fendas e rupturas Olhe para qualquer palavra por bastante tempo e vocecirc a veraacute abrir-se em uma seacuterie de falhas em um terreno de partfculas cada uma contendo seu proacuteprio vazio ( ) As Aventuras de Mhur Gordon Pym de Poe parece-me uma excelente crftica de arte e um protoacutetipo para investigaccedilotildees rigorosas de non-site

[natildeo-lugar] Suas descriccedilotildees de fendas e buracos parecem no limiar de propostas de earthwords [palavras de terra] As formas das brechas elas mesmas tomam-se rafzes verbais que esclarecem a diferenccedila entre a luz e a escuridatildeo 40

Smithson refere-se agraves fendas alfabeacuteticas descritas na conclusatildeo do romance de Poe em uma Nota acrescentada ao texto o novelista deslinda sua significaccedilatildeo alegoacuterica que fora de duacutevida tem escapado agrave atenccedilatildeo de Mr Poe41 Formaccedilotildees geoloacutegicas satildeo transformadas pelo comentaacuterio em um texto articulado Significativamente Poe natildeo daacute indicaccedilatildeo de como esses coacutedigos etiacuteopes araacutebicos e egiacutepcios originais satildeo pronunciados eles satildeo puramente fatos graacuteficos Foi aqui onde o texto de Poe votta atraacutes sobre si mesmo para prover seu proacuteprio comentaacuterio que Smithson vislumbrou sua proacutepria aventura E naquele ato de autoshyreconhecimento estaacute impliacutecito um desafio tanto para a arte quanto para a criacutetica um desafio que pode agora ser enfrentado adequadamente Mas isso eacute tema para outro ensaio

The flJlegoricallmpulse Toward a Theory of Postmodemism October primavera 1980 in Beyond Recognition Representation Power and Cuture Scott Bryson Barbara Kruger Lynne Tillman e Jane Weinstock (orgs) Berkeley Los Angeles Oxford University of California Press 1992

Cr-a lg Owens ( 1950- 990) lecionou Histoacuteria da Arte na Yale Barnard The Unive ty af Rochester e na University of Virginia Trabalhou como colaborador 1 diversas revistas ~ntre as quais a Oc tober e b editor da ArL in Amenco O livro Beyond RecognrLion RepresenlOlion PoNer and Culture (Berxeley Los Angeles Oxfcrd Unlversiry af Cali(ornia Press 1992) reunindo seus eSltnlos foi organizado postumamente por Scott Bryson Barbara ltruge Lynne Tillman e Jane WeinSlock amigos seus

Traduccedilatildeo Neusa Dagani

Revisatildeo teacutecnica Gtoacuteria Ferreira

TEM A T I C A bull C R A I G O W E N s 123

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

in Charles Boudelolre A Lyric PeeI in the ElO of Hlgh Caplttalism trad por Harlty Zohn Londres NLB 1973 100A observaccedilatildeo de Lemaiue aparece na p 94 do mesITO teX1O

I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

r----------------------------------~

umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

Tua above IOSD shaw8 teuro 31 te where ~ rooks (frolQ

the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

oollected The na) ia 1Ttll X 2 1f he d imens10ne of taacutee map are 18 t imes ( upprox ) s mal ler thaa tne width 26 and l ength 361 of tne~ TAe ~ ia 56 11 gh w1 t il 2 cloeed

aiagraveeo 2lJ X 56 8Ild two a la t ted a1des 36 X 56 -- there are eight ali sla ta cod 91ght 8 11 openiIlfS Site - selection wae

ouumlaeacirc on Chri t ophe r J Schubertn s ~ Ge ologY 2 ~ Qt anti 5nv1rone -- See Trip C ~ Page 232 nThe Ridges On

t he si t e are tmiddot e traces of en old t r olly system that connecmiddotteagrave

rulisade3 ua eruent Park with tho Edsewater-125th St bull FerryJ

Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

a~a loat i te eys tem The clifis on the ma) are clear cut contour l1nes t nt t el l us noth1ng about t Le dirt between tbe Iocks The amusement plrr rests on a roc( Etratu knorr as

IIthe c 1111ed-zone ll bull I ustGfld of put_tiug e wor k cf art 00 some

land some land i l3 Iut into the work of art Be -tween tue si te and t he Uoneite on6 Day lapae in to places cf l i ttle organizati on and no di rection

TEM AacuteT I CA C R A I G O W E N S 125

Page 12: Ae11 Craig Owens

ae REVISTA DO PROGRAMA DE POS middot GRADUACcedilAo

Notas

middotEste eacute o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos

alegoacutericos da arte contemporacircnea Depois de um

levantamento esquemaacutetico sobre o impacto da alegoria na

al1e recente procedo aos debates teoacutericos que ela levanta

Pretendo ampliar essas observaccedilotildees em um segundo ensaio

atraveacutes de leituras de trabalhos especiacuteficos nos quais um

impulso alegoacuterico pareccedila soberano(Observaccedilatildeo do autor)

Ver The Allegorical Impulse Toward a Theory of

Postmodernism Pal1 2 October n I veratildeo 1980 e

EaI1hwords October n 10 outono 1979 ambos in Beyond

Recogni(lon op ci( (N RT)

t Jorge Luis Borges From Allegones la Noveis in Olher Inqwswols Nova York Simon e Schuster 964 155- 156

2 Sobre alegoria e psicanaacutelise ver Joel Fineman The Structure of AllegoricaJ Desire Ocroter 12 primavera 1980 As observaccedilotildees de Benjamn sobre a alegoria pejem ser encontradas na conclusatildeo

do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama Irad logl por John Oborne Londres NLB 1977 Sobre Benjam in ver paacuteginas 84shy

as

3 Ver Rosahnd Krauss Notes on the Index Seven tles M in America

October 3 primavera 1977 68middot8 1

4 N orthrop Frye Anoiomy af Cntiosrl Nova York Atheneum 1969 54

s Douglas Cnmp Pla ures OcwbeJ 8 pn mavera 1979 85 itaacutelicos anexados

f Benjamin OflglO ofGerman TraglC Oramo 183-84

7 Idem ibidem 666

Idem ibidem 223

9 Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma realidade pura uma coi53 em SI mesma suas produccedilotildees semp~e afirmam SUJ proacutepria arbitrariedade e conlngecircncl(I Eo mundo que eles fotografam espeCialmente eacute um mundo jaacute conStruiacutedo sobre um significado que precede a fotografia um significado inscrito pelo trashybalho pelo uso como habitaccedilatildeo como anefato Suas rotografias satildeo signos represen1JJndo sIgnos unidade5 em cadeias Im~liacutecitas de significaccedilatildeo que vatildeo perTNnecer somente nos maiores sistemas de signifICaccedilatildeo s08al coacuted igos de casas ruas espaccedilos puacuteblicos ft Alan Trachtenberg Walker Evanss Message from the Interior A ReadlngOCieoer 11 inverno 1979 12 itaacutelicos anexados pelo autor

10 Benjamin Gflgin ofGerman Tragic Drama 178

1I Angus Fletcher AIegof The Theory ofo Symbohc Mede Ithaca Cornell Unlvecity Press 1964 279middot303

12 Idem Ibidem 174

13 FlnerT1an Structure of AJlegorical Desire opcit 5 1 ~sim eXistem alegorias que satildeo pnmariamente perpendiculares concernentes mais agrave estrutura do que agrave extensatildeo temporal Por outro lado existe aalegoria que eacute prlmaramente horizonta1 Finalmente daro existem alegorias que combinam ambos OS eixos em conjunto em proporccedilotildees relativamente iguais Qualquer que seja a orientaccedilatildeo prevalente de qualquer alegoria em panicular contudo - acima e abaiXO atraveacutes dos desvios da es trutura ou lateralmente desenvolvidas atraveacutes do tempo narrativo - ela seraacute bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede sugerir a autenticidade com que OS dois poacutelos coordenados se ajustam agrave estrutura plausivelrnltnte desdobrada no tempo e agrave narrat iva persuasivamente sustentando as distinccedilotildees e equivalecircncias de5critas pela estrutura (50)

14 Arthur Schopenbauer The Word as Will and Represenwtion I 50 opud Benjamin Origin o(German Trogic Drama 162

124

E M A RTE S VISUAIS EB A U F R J 2 00 4

15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforccedilos dos estudioSOs humanistas para decifrar hieroacuteglifos Em suas tentativas eles adotaram o mctdo do COI(JUS pseudomiddotepigraacutefico escrrto ao final do segundo ou posslvelrrenle no quarto seacuteculo DC o Hiercgrphica de Horapollon Seu terT1a consiste inteiramente nos assim chamados hieroacuteglifos simboacutelicos Ou enigmaacutetiCOS rr~eros

signos pictoriacircs is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao lado dos signos fC1eacuteticos comuns no contexto da instruccedilatildeo religiosa como o uacutehimo estaacutelo em uma ~Ioso(ia miacutestica da natureza Os obeliSCOS foram relacionados agraves memoacutenas dessa Interpretaccedilatildeo em mente e um equiacutevco entatildeo tornou~se a base da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressatildeo Em consequecircn6a os eruditos proederam a partir da exegese dos hieroacuteglifos egiacutepcios nos quais os dados h sloacutericos e culturaiS foram recoccados pelos lugares-comuns da fi losofia popular moral e miacutestica agrave propagaccedilJ0 desse novo tipO de esltnta Os IMos de Iconoagla que foram prodUZidos natildeo soacute desenvolveram as frases dessa escnta e traduzIram por completo as senlenccedilas palavra por palavra pe los signos pictonas especiais lTIas tambeacutem se apropnaram da forma do leacutexico Sob a lideranccedila do estudOso de arte AJmiddotbertus OS humanistas entatildeo correccedilaram a escrever com Imagens concretas (reacutebus) em vez de letras a palavra reacutebus asSim originada na base dos hieroacuteglifos enigrfaacutetlcos e medalhotildees colunas arcos ttfl1nfais e todos os objetos aniacutesl icos conce biacuteveis produzidos pela Renascenccedila foram envolvidos com tais enigmaacuteticos anlfiacuteoos Benjamin Origm of Germon TroglC Droma 1613- 169 (As (naccedilotildees de Benjamin foram retll-adas do monumental estudo de Karl Gichlow Dle Hlerogryphenkunde decircs Humanismus in der Allegorie der Renoissonce)

16 Roland Barthes ~D iderol Brech t Eisensteln tmage-lv1usic-Text trad ingl por Slepren Heath Nova York HiU e Wang 1977 73

17 Walter BenjarT1in ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory In

lIIuminotions trad ingl por Hany Zohn Nova York Schoken 1969 255

18 Apud George Boas Courbet and Hls Critics middot In Courbe t in PerspeC111e ed Petra ten-Doesschate Chu Englewood Cliffs N j Prentlce -Hall 1977 48

I) Charles Baudelaire ~Sa lor) of 1845 in Att In Pans 1845- 86 2 ed e trad Jonathan Mayne Nova York Phaidon 1965 14

2(1 Apud Walter Benjamin The Pans of the Second Empire In Baudelal re u

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I I Charles Baudelaire The Painter cf Modern Llfe in Selecred Wntings on Art 000 A ts trad P E Charven BaJtimore Penguin 1972 403

27 Paul Bourget Discours acadeacutemque du 13 juin 1895 SUCces c lon agrave Maxime Ou Camp In Lanthoogle de IAcadeacutemle rranccedila j~c Apud Benjamin Charles Boudelare op_ cir 86

2J Be njamin Charles Baudelaire op cit 137

I middot Benjamin cita a legenda na traduccedilaacuteo lecirc-se ~Aqui jaz a exata semelhanccedila da velha Pont Neur toda vedada como nova de acordo com UrT1a lei recente Oh doutos meacutedicos e haacutebe iS cirurgiotildees por que natildeo fazem COIlOSCO o que (oi (eto com esta ponte de pedra (Charles Bauooaire op cit 88)

lS Walter Benjamin Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury in Chorles Baudeolfe op Clt 170

26 Martin Heidegger The Origin cf lhe Work of M in fbeuy Language Thoughe trad Albert Hofstadter Nova York Harper e ROVl 1971 19middot20

17 Colendges MsceJaneous (riticism ed Thomas Middelton Raysor Cambridge Mass Harvard Universlty Press 1936 99

la Louis A1thusser e Etienne Balibar Reeding Capital tfad ingl Ben Brewster Londres NLB 1970 186middot 187

29 Cocridges MisceJaneous Criacuteticism op Clt 99 Essa passagem poderia ser comparada com a famosa condenaccedilatildeo da alegoria por Goelhe Faz uma grande diferenccedila se o poeta comeccedila com uma ideacuteia

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30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

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37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

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0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

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rulisade3 ua eruent Park with tho Edsewater-125th St bull FerryJ

Tne trc l 1y was a bo l iahed on August 5 1938 fhat Vias ouce a

atraight track has become H path af roc)cycruge -- the si te

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umversal e entatildeo olha para certos particulares ou vecirc o universal no particular O primeiro meacutetodo prOOU7 a alegoria onde o particular tem status meramente como uma instacircncia um exemplo do unlversal O uacuteltimo por contraste eacute O que revela a poesia em sua verdadeira natureza fala aleacutem de um particular sem renexatildeo sobre ou referindo-se a um universal independentemente mas apreendendo o particular em seu caraacuteter de existecircncia ele implicitamente aPiecnde o universoJun to com ee Citado por Philip VvheeWnght The Burning Fa untain Bloomington Indiana University Press 1968 54 rtaacutelicos anexados Isso relembra a perspect iva de Borges sobre a alegoria f alegoria eacute uma faacutebula sobre abstraccedilotildees como o romance eacute ullla faacutebula sobre indiviacuteduos As abstraccedilotildees estatildeo personificadas portanto em cada alegona haacute alguma coisa do romance Os indiviacuteduos propostos pelos romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ecirc a Razatildeo Dom Segundo Sombra eacute o Gauacutecho) um elemento alegoacuterico eacute Inerente aos romances (From AIegories lo Noveis 157)

30 Ferdinand de Saussure (curse in General Lingussucs trad Wade Baskin NOVatilde York McGrawmiddotHill 1966 68

31 Benedetto Cro(e Aesrheuc trad Douglas Ainslie Nova York Noooday 1966 34middot35

32 (550 eacute o que a excl usatildeo de Kant sancionou na (riuca do jurza da cor drapejamento enquadramento COl1tO ornamento rre lmiddotamente anexado ao trabalho de arte e natildeo partes intl-iacutensecas dele Ver jacques Demda The Parergon Ocwber 9 veurorao 1979 3-40 e

tambeacutem meu epiacutelogo ~Detachment (rom lhe parergonu 42-49

)] Rosemond TLNe Allegoricallmagety Princeton Pnnceton Unlversity Presgto 1966middot 26

J4 Cllado por Borges From Allegories to Noveis middot 155

35 BenJamn Ongm afGermon Tragrc Drama ap cit 176

lamp bid 175

37 Anson Rab lnbach Crftlque and COI11Ilentary Alchemy and Chemstry Ne-v1 Gemwn (ril CJue 17 primavera 1979 3

38 BenJamn Origin af German Tragic Drama op ciL 160

19bid 20 1

0 Robert Smithson A Sedimentario) of Mind Earth PrOjeCls in The Vwnsngi ofRobert Srnilhson ed N ancy Holt Nova York New York University Press 1979 87-88 Sobre a alegona de Smilhson ver ffilnha criacutel ica naOcwber 10 Outono 1979 12 1- 130

~I Edgar Allan Pce The Norrouve af Arlhur Gordon Pym Nova York Hdl e Wang 1960 197

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the Swedish vo rlt era me3Iling nt middotturs H) for t be il oosi te were

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