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A VELHICE COMO FASE DO DESENVOLVIMENTO HUMANO VILMA MARIA BARRETO PAIVA· RESUMO A autora apresenta sumariamente um levantamento da situação do estudo sobre a Velhice, caracterizan- do-a como mais uma fase do desenvolvimento huma- no. Em seguida apresenta as diferentes definições de Velhice, procurando caracterizá-Ia como produto de um processo evolutivo e involutivo ao mesmo tempo. ABSTRACT The author is presenting a brief statistics on previous works about old age showing it as one more phasis on the scale of human development, and introducing different definitions of 'old age' as being the consequence of an evolutive and invo- lutive process simultaneously. O processo de envelhecimento humano é o período do Ciclo Vital que só recentemente (mais ou menos há 5 décadas) mereceu estudos sistemáticos. As primeiras investigações re- lacionavam-se basicamente às modificações fisiológicas e perdas de sistemas vitais do organismo, que ocorriam à me- dida em que o indivíduo envelhecia e atingia os anos da Senes- cência. Datam do início dos anos 20 as primeiras pesquisas e observações sobre Psicologia do envelhecimento humano. Stanley Hall em 1922 fez uma investigação pioneira publi- cando o livro Senescence: the Hal/ of Life, após ter se dedicado • Professora Assistente do Departamento de Psicologia da UFC. Rev. de Psicologia, Fortaleza, 4 (1): jan.jjun., 1986 15

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A VELHICE COMO FASE DODESENVOLVIMENTO HUMANO

VILMA MARIA BARRETO PAIVA·

RESUMO

A autora apresenta sumariamente um levantamentoda situação do estudo sobre a Velhice, caracterizan-do-a como mais uma fase do desenvolvimento huma-no. Em seguida apresenta as diferentes definiçõesde Velhice, procurando caracterizá-Ia como produtode um processo evolutivo e involutivo ao mesmotempo.

ABSTRACT

The author is presenting a brief statistics onprevious works about old age showing it as onemore phasis on the scale of human development,and introducing different definitions of 'old age'as being the consequence of an evolutive and invo-lutive process simultaneously.

O processo de envelhecimento humano é o período doCiclo Vital que só recentemente (mais ou menos há 5 décadas)mereceu estudos sistemáticos. As primeiras investigações re-lacionavam-se basicamente às modificações fisiológicas eperdas de sistemas vitais do organismo, que ocorriam à me-dida em que o indivíduo envelhecia e atingia os anos da Senes-cência. Datam do início dos anos 20 as primeiras pesquisas eobservações sobre Psicologia do envelhecimento humano.

Stanley Hall em 1922 fez uma investigação pioneira publi-cando o livro Senescence: the Hal/ of Life, após ter se dedicado

• Professora Assistente do Departamento de Psicologia da UFC.

Rev. de Psicologia, Fortaleza, 4 (1): jan.jjun., 1986 15

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à infância e à adolescência (cf. Munn, 1965; Havighurst, 1973 inBaltes & Schaie, 1973).

C?s.~no.sda Velhice sempre foram associados a limitaçõese, deflclênclas. Talvez por isso sejam encarados como um pe-ríodo extraordinário da vida, aparecendo muitas vezes comoobjeto da Psicologia do Excepcional, e não do desenvolvimentohU';l~no natu~al. Por exemplo, Telford e Sawrey (1976) dedicamo ultimo capitulo do seu livro - O Indivíduo Excepcional _aos anos da Velhice,' após terem descrito détalhadamente ascaracterísticas dos deficientes visuais e auditivos, dos retar-dados mentais, dos superdotados, enfim, daqueles que fogemde u~a suposta nor~a .estabelecida para o comportamento. AVelhice, nesse caso, e vista como um período atípico, deficitárioe pouco produtivo do ponto de vista comportamental.

. Durante muitos anos, a Psicologia do Desenvolvimentohum.ano ?edicou g!ande parte dos seus estudos ao período ln-fa~tll e _a ado~esce~cia. Muitos teóricos, principalmente os deo.r~en~aça.o Ps~canall.t'ca, ~i~ham 'Convicção de que as expe-nencias In!antls seriam báslcas para os anos seguintes, e quea personalidade do indivíduo já estaria definida até os anos daadole~~ência. Daí em diante, haveria um grande período deestabilidade em termos pslcolóqlcos, só ocorrendo novamentegran~es transformações por volta da quinta ou sexta décadade vld? G~adualmente, esta concepção foi sendo mudada eforam incluídos os anos da vida adulta e Velhice como estágiosdo desenvolvimento humano.

N.eugarten (19~9) é de opinião que o estudo da personali-dade Isolada da criança tem pouca capacidade preditiva parase compr~ender o .comportamento adulto, pois, segundo ela,neste penodo. da vida a personalidade não é estática. Estãoocorren?~ multas mudanças evolutivas influenciadas por even-tos socla.lso' alguns acidentais e outros sob o controle de nor-mas ~oc.lals, as quais estabelecem certas condições para aocorrencra de comportamentos de acordo com a idade. Comoexer:'pl,? podemos citar as condições de trabalho, a escolha da~roflssao, casamento, viuvez e vida familiar, saída dos filhosae casa ~ outr?s. Esses eventos influenciam as mudançasdesenvolvimentals que ocorrem nos anos da Vida adulta e daVelhice.

De acordo. com Meio (1981), o estudo do DesenvolvimentoHumano de.vena ~er analisado através de uma perspectiva der:urso de vida ate a morte, não necessitando tal estudo estarligado a. nenh~ma teoria específica. Porém, deveria. ser vistocomo orientação baseada em dados bio-sociais observáveis.

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Baltes e Goulet (1970), definiram Desenvolvimento Hu-mano com base na descrição de Havighurst: "A Psicologia doDesenvolvimento Humano na dimensão da vida está preocu-pada com a descrição e a explicação das mudanças ontogené-ticas (relacionadas com a idade), desde o nascimento até a'morte" (p. 04, in Baltes e Schaie, 1973). Segundo essa pro-posição, o estudo do Desenvolvimento Humano deveria entãoenvolver todo o Ciclo Vital, incluindo o período da vida adulta eos anos da Velhice, esta última designada por Havighurst (1953apud Meio, 1981) de Maturidade Posterior. Este autor definedesenvolvimento em termos de atividade contínua que se pro-cessa ao longo da vida, durante a qual são desenvolvidas tare-fas relevantes para a pessoa e a Sociedade, estando elas rela-cionadas entre si e sujeitas à influência de muitas variáveis.

Ampliando essa idéia, Riegel (1976) propõe o estudo dodesenvolvimento humano não como o estudo do indivíduo iso-lado mas como uma interação dialética entre o indivíduo e ogrupo social. Com isso ele quer dizer que o desenvolvimentoocorre à medida em que vão se estabelecendo as relações en-tre pais e filhos, irmãos e irmãs, como também entre parentes,amigos e vizinhos, chefes e empregados, e todos os outrosmeios de interações dialógicas, onde ocorre uma influênciacontínua e recíproca. Através dessa idéia, Riegel reforça anoção de continuidade do desenvolvimento, desprezando asteorias que dividem o desenvolvimento humano em estágios oufases pré-determinados internamente, intercalados por perío-dos de desequilíbrios.

Portanto, o desenvolvimento humano deve ser visto comoum processo contínuo, em que ocorrem modificações durantetoda a existência do indivíduo, do nascimento à morte.

o AUMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA

Alguns fatores sociais contribuíram para que os últimosanos de vida começassem a merecer maior atenção acadêmica.A população considerada idosa tem aumentado grandementenos últimos anos, principalmente nos países desenvolvidos.Nestes, a população idosa variava entre 5% e 8% no início doséculo, tendo saltado para mais ou menos 10% e 11% na últi-ma década. No Brasil, segundo dados do IBGE,* a populaçãoidosa 'situa-se por volta de 6%, tendo esse número crescido

* SUDENE - Indicadores Sociais do Nordeste - Recife, 1983:

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consideravelmente nos últimos anos. perfazendo um total de7 milhões de pessoas com mais de 60 anos. idade esta consi-derada pela O. M. S. como início da Velhice.

O crescente aumento do número de idosos pode ser ex-plicado pelo crescente avanço científico e tecnológico. princi-palmente na área das ciências biológicas. permitindo um maiorcontrole de doenças tanto através de meios preventivos comotambém de melhores instrumentos de tratamento e cura. Istocontribuiu para diminuir o índice de mortalidade nessa faixaetária e. concomitantemente. aumentou a expectativa de vida.Em conseqüência. fez crescer o contingente de pessoas queultrapassam a idade madura e chegam à Velhice sãs e compotencial de vida de ainda vários anos.

A melhoria do nível de vida nas sociedades modernasbem como a auto mação na execução de várias tarefas retarda-ram o desgaste físico. que antigamente ocorria mais cedo navida dos indivíduos. A possibilidade de generalização de novosmétodos de higiene foi também outra contribuição da tecno-loqia para a diminuição da mortalidade e aumento do númerode anos vividos na terceira idade.

No Brasil. o aumento do número de idosos varia com 3classe social. estando diretamente ligado às condições sócio--econômicas da população. Pode assim enquadrar-se tanto en-tre os países modernos. que oferecem condições que propor-cionam uma expectativa de vida longa a uma parcela dos cida-dãos. como entre os países mais pobres e atrasados. em queuma larga faixa da população não tem acesso ao conjunto derecursos decorrentes da modernização científica e tecnológica.Têm por isso expectativa de vida bem rebaixada.

Segundo dados do IBGE: a estimativa média de vida dapopulação brasileira ainda não chegou à sexta década. paraos homens e. mais particularmente no Nordeste. chega a ser decerca de 53 anos de vida. idade esta que nos países com maiordesenvolvimento social corresponde à faixa da meia-idade.

Diante disso. uma conclusão pode ser tirada: os brasilei-ros estão começando agora atingir um nível de vida correspon-dente aos anos da Velhice e. no Nordeste em média. os brasi-leiros morrem antes de atingir tal período etário. Isto leva ase acreditar que a Velhice ainda é desconhecida para os brasi-leiros no seu aspecto psicossocial. Talvez por isso haja umacarência de estudos acadêmicos que expliquem e compreen-dam o comportamento do idoso bem como existem ainda uma

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infinidade de estereótipos em relação às pessoas q~e enve-lhecem. Por exemplo: toda pessoa idosa esquece ou nao apren-de fatos novos, ouve mal. constitui-se um estír;'ulo .sexual aver-sivo, não tem capacidade para o trabalho ou e multo lenta.

NrVEIS DE ENVELHECIMENTO

Pode-se dizer que o envelhecimento humano ?corre emtrês níveis diferentes: biológico. psicológico e soclal... .

O envelhecimento biológico envolve mudanças flslolóql-cas, anatômicas, bioquímicas e hormonai~, acompanhadas degradual declínio das capacidades do organismo.

O envelhecimento psicológico é traduzido pelos co:nporta~mentos (abertos e encobertos) das pessoas em. relaçao. a. SIpróprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude e limita-ções das capacidades em geral. Esses ?omporta'21entos trazemcomo conseqüência a ocorrência de madaotações. r~adaPta-cões e reaiustamentos dos repertórios comportamentals, faceàs exigências da vida. ,.'

O envelhecimento social esta relacionado as normas oueventos sociais que controlam, por um critério de idade. odesempenho de determinadas atividades ou tarefas do grupoetário, e que dão sentido à vida de cada um. Como exemplo.podemos citar: o casamento é um e~e!,~o que .ocorre qeral-mente nos anos da juventude ou no rrncro ,da vida adulta '. Onascimento de filhos é mais comum no período entre dezoitoe trinta anos. A aposentadoria ocorre compulsoriamente aos.setenta anos. ou com 30 ou 35 anos de trabalho comprovad~.Essas normas ou eventos sociais contribuem para o esta~elecl.mento de muitos preconceitos. Assim por exemplo. citandoNeugarten e Datan (1974). para reforçar este po~t?. a apos~n-tadoria está supostamente relacionada como o iructo da Vidaincapacitante e desintegradora. ou seja, a, \(elhi~e. .

Resumindo. o envelhecimento pslcolóqico e deter~lnado.por um lado. pelas mudanças concretas do envelhecimentobiológico e, por outro. pelas normas e .estereótipos_ soc!ai~ quecorrespondem no envelhecimento social. Estes tres mveis d~envelhecimento nem sempre coincidem quanto ao seu apareci-mento. Além disso, é enganoso pensar que o envelhecimentosó começa a partir da sexta década de vida como. at:ib~iu aO. M .S.; ele está se processando durante toda a exrstencra dapessoa. Por exemplo, enquanto um adolescente es~á amadu-recendo está ocorrendo paralelamente o envelhecimento decertos s'istemas do seu corpo, envelhecimento este que só irá

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parar com a morte. De acordo com Merval Rosa (1982), a quan-tidade de perdas biológicas é a mesma tanto para uma pessoade 35 anos como para uma pessoa de 70 anos. No entanto, po-de-se afirmar que as perdas da segunda são mais visíveis, tal-vez em razão de envolverem os sistemas vitais relacionadoscom a prática de atividades sociais e produtivas culturalmente.mais valorizadas.

Havighurst (1953, apud MeIo, 1981) dividiu o desenvolvi-mento adulto em três fases distintas. Para ele, cada um des-ses estágios é caracterizado por práticas de atividades espe-cíficas que modelam a vida psicossocial de cada pessoa e,provavelmente são responsáveis pela formação do autocon-ceito. A primeira delas é a fase adulta inicial que envolve operíodo dos 18 aos 30 ou 35 anos de idade. ~ caracterizada porprontidão especial para aprendizagens, grande dose de ego-centrismo e individualismo, um maior afastamento da religião,busca de responsabilidades, de novas tarefas de prestígio e deprazeres. ~ geralmente o período onde ocorre o casamento e I)

nascimento de filhos. A idade adulta média vai dos trinta ecinco aos sessenta anos de idade aproximadamente. ~ o períodode maior participação social e cívica. As mudanças biológicasdo envelhecimento começam a ser notadas no final desta fase.Neste período, a pessoa deve ter constituído família. tem umaprofissão definida e objetivos de desempenhá-Ia bem. ~ o pe-tíodo de realização profissional em que o status social podeser mais elevado. Na idade adulta final ou Velhice, ocorre odeclínio das capacidades físicas e mentais e o afastamento dotrabalho (aposentadoria). Há menor potencial para aprendiza-gem em função da perda da funcionalidade de certos sistemasvitais. ~ uma fase em que é comum as pessoas precisarem deinstrumentos para se comunicar com o ambiente, tais comolentes, bengalas, próteses e outros.

DIFERENÇA ENTRE SENESC~NCIA E SENILIDADE

Os anos de Velhice correspondem à fase derradeira dociclo vital. Enquanto alguns autores consideram-na mais umperíodo do desenvolvimento, (Baltes e Schaie, 1943, Bee, 1977,Meio, 1981 e Neugarten, 1969), outros vêem-na como um pro-cesso involutivo caracterizado por decadência e declínio bemcomo por eventos psicopatológicos (Cumming e Henry, 1961:Silveira e Bento, 1982). Há, também, alguns estudos realizados1i0S EEUU que procuram caracterizar a Velhice como os me-lhores anos, onde o indivíduo está livre das obrigações sociais

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e pode fazer todas aquelas coisas que sempre teve vontade,pois tem todo o tempo disponível (Bellak, 1975: Comf?rt:.1977).De acordo com Skinner e Vaughan (1983), estas ídélas deVelhice como período extremamente positivo não passam deum "consolo" em que os aspectos insatisfatórios desse pe-ríodo são negados.

No entanto, a literatura popular, os meios de comunicaçãosocial e os costumes culturais associam a Velhice comu_mentea um estado de decrepitude, desorientação e regressao. In-clusive. os dicionários de sinônimos da língua vernácula* tra-zem estas duas palavras - senescência e senilidade. - c?m?de mesmo significado, isto é. são sinônimos de Velhice, signi-ficando estado de decrepltude física e mental. Estes eventosrealmente ocorrem na Velhice mas não são estados seme-lhantes.

Nesse ponto, é preciso distinguir senescência de senili-dade. A senescência refere-se à Velhice propriamente dita.em que há um lento e gradual declínio físico e mental, no iníciobastante moderado. Rappaport (1972) considera a senescêncíacomo o envelhecimento natural. Os critérios para se definirsenescência podem envolver a chegada da aposentadoria e adecadência física (como se vê, são critérios sociais e ideoló-gicos baseados no afastamento de atividad~ produtiva). ,.

A senilidade, por outro lado. é caracterlzada pelo decllnlofísico mais acelerado e acompanhado de desorganização men-tal com alteração no funcionamento cognitivo e perda de me-mória. Rappaport (1972) a considera como uma desordem pato-lógica associada à Velhice. porém não significa a própria v=lhice. Portanto, a senilidade corresponde aos aspectos pSICO-patológicos da Velhice, que não obrigatoriamente se manifes-tam na última fase da vida. A desorganização mental atrlbuídaà sensilidade pode inclusive apresentar-se em pessoas maisjovens. Binet e Bourliére (1955) afirmam que senescência P.

senilidade não são sinônimos. O primeiro se aplica a um lentoprocesso de envelhecimento e o segundo a um estado subter-minal. patológico. .

A manifestação de senilidade vai depender de fatores bio-lógicos e/ou neurológicos, mas pode ser causada também porfatores psicológicos, tais como pouco interesse em se manterem atividade e pouco contato com o ambiente social. Pode sertambém em razão de uma posição diante da vida de isolamento

* BUENO. F. S. - Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro,FENAME, 1980.

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e inércia causada por baixa expectativa de vida nos anos daVelhice e sentimento de rejeição por parte do ambiente social,principalmente de parentes (Brink, 1973). .

De acordo com Pikunas (1979), a senilidade é mais fre-qüente quando causada por fatores psicológicos do que porfatores orgânicos. No entanto, ele não cita a fonte em que sebaseou para fazer tal afirmação. Mesmo assim. Guirland (1982).em seu contato médico com idosos nos EEUU, afirma que aincidência de demência senil em toda população de idosos érelativamente baixa (5% a 7%), incluindo-se a população lnstl-tucionalizada. Segundo ele, a maioria das pessoas idosas estáintelectualmente intacta até os oitenta anos de idade mais oumenos. Depois deste período é que o número de dementestorna-se substancial.

Apesar disso, existem publicações de natureza cien~ficaque caracterizam a Velhice como um. estado de rew~ssao edesorganização mental. Este estado fOI chamado de síndromenormal da velhice" (Silveira & Bento, 1982), semelhante aoprocesso psicológico apresentado pelos adolescent.es -. sín-drome normal da adolescência- descrito pelos pslcanallstas.Por conseguinte, tanto nas publicações populares quanto denatureza científica ainda há uma certa persistência em con-fundir senescência com senilidade. Talvez isso se dê porqueos estereótipos e crenças sociais sobre a·Velhice ainda substl-tuam o pouco conhecimento objetivo e real sobre os anos dasenescêncla. Isto pode acontecer também porque, parafrasean-do Guirland (1982), "lidar com idosos ainda é uma situaçãonova para nós" (p. 15). .

Pode-se concluir, então, que a Velhice pode ser caracteri-zada tanto por eventos positivos como por eventos negativosna continuidade do desenvolvimento humano. Isto vai dependerbasicamente das experiências do indivíduo em relação aoseventos internos e externos (ambientais, culturais e históricos),que exercem influência sobre ele (Riegel, 1976). Essas ~el~çõesdinâmicas e contínuas vão orientarr a percepçao e avaliação doindivíduo idoso sobre si mesmo, isto é, sobre seu autocon-celto,

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