a sombra no palácio da morte

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  • 7/30/2019 A sombra no palcio da morte

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    A Sombra no Palcio da Morte ( The Slithering Shadow )por Robert E. Howard

    Publicada originalmente em 1933. Traduo de Fernando Neeser de Arago([email protected])

    O deserto reluzia sob as ondas de calor. Conan, o cimrio, olhou a seu redor e contemplou oenorme ermo; logo, passou involuntariamente o dorso da mo por seus lbios escurecidos.Estava de p sobre a areia, como uma esttua de bronze, aparentemente imune ao solabrasador, embora s vestisse uma tanga de seda, presa por um largo cinturo com fivelade ouro, do qual pendiam um sabre e uma adaga de lmina larga. Em seus msculos e

    pernas havia marcas de ferimentos mal-cicatrizados.A seus ps descansava uma garota abraada a seus joelhos, sobre os quais apoiava suacabeleira loira. Sua pele branca contrastava com as pernas bronzeadas de Conan. A jovemvestia uma tnica de seda, decotada e sem mangas, e usava um cinturo que dava aindamais relevo a seu corpo formoso.

    Conan mexeu a cabea, piscando. O forte brilho do sol quase o cegava. Apanhou umpequeno cantil de seu cinto e o agitou para confirmar se ainda restava gua.

    A garota se mexeu, inquieta, e disse, em tom de mgoa:

    - Oh, Conan, morreremos aqui! Tenho muita sede!

    O cimrio grunhiu algo ininteligvel, olhando a seu redor, com atitude lgubre. Adiantou amandbula, e seus olhos azuis arderam com um brilho selvagem sob a rebelde cabeleiranegra, como se o deserto fosse um inimigo palpvel.

    Logo inclinou-se e aproximou o cantil dos lbios da jovem.

    - Beba gua at que eu lhe diga, Natala. ordenou.

    A garota bebeu em grandes goles, mas Conan no a conteve. S quando o cantil ficou vazio,ela se deu conta de que Conan lhe havia permitido beber a pouca gua que restava.Lgrimas chegaram aos seus olhos.

    - Oh, Conan! exclamou, retorcendo as mos Por qu me deixou beber toda a gua? Eu

    no sabia... e agora no resta nada pra voc!

    - Cala a boca! ordenou o cimrio No desperdice suas foras chorando. Ergueu-se earremessou o cantil para longe.

    - Por qu fez isso? perguntou a garota.

    Conan no respondeu. Permaneceu imvel, com os dedos crispados sobre a empunhadurado sabre. No olhava a jovem. Seus olhos ferozes pareciam perfurar a misteriosa bruma decor prpura, que se via distncia.

    Dotado de um selvagem amor vida e do instinto de conservao dos brbaros, Conan daCimria sabia, no entanto, que naquele momento havia chegado ao fim de seu caminho.

    Ainda no havia alcanado o limite de sua resistncia, mas tinha conscincia de que outrodia naquele deserto interminvel, sob aquele sol terrvel, acabaria com ele.

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    Quanto garota, j havia sofrido bastante. Seria muito melhor um rpido golpe de sabre doque a tremenda agonia que lhe esperava. Por enquanto, a sede da jovem estava saciada.Seria falsa compaixo deix-la sofrer, at que o delrio e a morte lhe proporcionassem odesejado alvio. Lentamente desembainhou o sabre.

    De repente se deteve, e todos os msculos de seu corpo puseram-se em tenso.

    distncia, ao sul, algo resplandecia entre as terrveis ondas de calor.A princpio, pensou que se tratasse de uma miragem, que zombava dele naquele malditodeserto. Fazendo sombra sobre os olhos com uma das mos, distinguiu torres e minaretesrodeados por muralhas brancas. Natala havia deixado de chorar. Ps-se de joelhos comdificuldade, e logo seguiu o olhar do cimrio.

    - uma cidade, Conan? murmurou, assustada demais para ter esperanas Ou s umamiragem?

    O brbaro permaneceu em silncio durante uns segundos. Logo, fechou e abriu os olhosvrias vezes.

    Depois, olhou em outra direo e voltou seus olhos para a cidade.

    Esta continuava no mesmo lugar.

    - S o diabo sabe. disse, com um grunhido Bom, de qualquer maneira, vale a penatestar.

    Embainhou a espada. Se inclinou e levantou Natala nos braos, como se fosse uma criana.A garota recusou debilmente.

    - No desperdice suas foras dessa maneira, Conan. disse Eu posso caminhar.

    - O terreno muito mais rochoso aqui. explicou o cimrio Suas sandlias logo seromperiam. Alm do mais, se temos de chegar cidade, devemos faz-lo rapidamente.

    Assim, consigo caminhar mais depressa.

    A possibilidade de continuar vivendo havia injetado novas foras nos membros de ao docimrio. Comeou a caminhar sobre a abrasadora areia, como se acabasse de comear ajornada. Conan, brbaro entre os brbaros, tinha uma resistncia fsica a toda prova, que lhepermitia sobreviver em condies que acabariam com qualquer homem civilizado.

    Ele e a jovem eram os nicos sobreviventes do exrcito do prncipe Almuric, aquela hordaque, seguindo o derrotado prncipe de Koth, varria as terras de Shem como uma terrveltormenta de areia e inundava de sangue as fronteiras da Stygia. Os stgios o seguiam deperto, e ao atravessar o reino negro de Kush, encontrou-se com o caminho bloqueado. Suanica alternativa era entrar no perigoso deserto. Conan se dirigiu ento para o sul, at que,de repente, topou com o deserto. Os corpos de seus homens mercenrios, proscritos e

    todo tipo de delinqentes jaziam destroados ao longo das terras altas de Koth, at asdunas do deserto.

    Depois daquele massacre final, quando os stgios e os kushitas atacaram os homensencurralados que ainda estavam de p, Conan conseguiu fugir com a garota, montado numcamelo. O nico caminho possvel era o deserto do sul. E assim haviam penetrado naquelaimensa e abrasadora desolao.

    A jovem era uma brituniana que Conan havia encontrado no mercado de escravos de umaarrasada cidade shemita, da qual se apropriou. No havia dvida de que sua nova situaoera melhor que a de qualquer mulher de um harm shemita e, conseqentemente, aceitou-a,agradecida. Depois, compartilhou as aventuras das hordas de Almuric.

    Avanaram durante dias pelo deserto, perseguidos pelos cavaleiros stgios. Logo, ao cessara perseguio, Conan e a garota no se atreveram a recuar. Continuaram avanando ebuscando gua, at que o camelo morreu. Depois seguiram a p. Nos ltimos dias, seus

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    sofrimentos haviam sido atrozes. Conan protegeu Natala de tudo o que pde. A vida dura doacampamento havia desenvolvido na jovem uma fora superior de uma mulher comum.Mas mesmo assim, a garota no estava muito longe do esgotamento total.

    O sol golpeava com fora a cabea de Conan. Sentia ameaas de cansao e nuseas, masapertou os dentes e continuou caminhando. Estava convencido de que a cidade era uma

    realidade, e no uma iluso. No entanto, no tinha a menor idia do que encontrariam ali. Oshabitantes podiam mostrar-se hostis. Pelo menos, ali havia possibilidade de luta, e isso eratudo o que Conan podia pedir.

    O sol estava a ponto de esconder-se, quando chegaram diante da enorme porta e sesentiram protegidos sua sombra. Conan deixou Natala de p sobre a areia e relaxou osmsculos de seus doloridos braos. Por cima deles, viam torres de uns dez metros de altura,construdas com um material delicado e esverdeado, quase como cristal. Conan olhou osparapeitos, temendo o pior, mas no viu ningum. Gritou e bateu com impacincia porta,com o cabo da espada, mas s lhe responderam uns ecos zombeteiros. Natala aproximou-se mais de Conan, atemorizada pelo silncio. A porta se abriu sozinha e o cimrio recuou,desembainhando a espada. Natala abafou um grito.

    - Oh, Conan, veja!

    No interior, prximo porta, havia um corpo humano estendido no cho. Conan o observoufixamente e logo olhou em todas as direes. Ento, viu uma grande extenso de terreno,semelhante a um ptio, rodeada pelas arcadas das casas, que estavam construdas com omesmo material esverdeado das muralhas. Estes edifcios eram altos e impressionantes, eestavam coroados por brilhantes cpulas e minaretes. Ali no havia sinais de vida. No centrodo ptio havia um poo. Sua presena estimulou Conan, que tinha a boca pregada devido fina poeira do deserto. Pegou Natala pelo pulso e fechou a porta.

    - Est morto? perguntou Natala, apontando o homem que se encontrava estendido junto porta. O corpo do indivduo era grande e forte, de pele amarelada e olhos ligeiramenterasgados. Diferia do tipo hiboriano. Usava sandlias com correias amarradas s panturrilhase vestia uma tnica de seda vermelha. De seu cinto pendia uma espada com uma bainha de

    tecido bordado a ouro. Conan o tocou e percebeu que estava frio. O corpo no apresentavao menor sinal de vida.

    - No tem um s ferimento. resmungou o cimrio Mas est to morto quanto Almuric,atravessado por quarenta flechas stgias. Em nome de Crom! Vamos ao poo. Se houvergua nele, beberemos, com ou sem mortos.

    No poo havia gua, mas no podiam beber. O nvel da gua estava a uns quinze metros deprofundidade, e no tinham como tir-la. Conan rosnou uma maldio ao ver o lquido queestava fora de seu alcance, e comeou a buscar algum meio de obt-lo. Ento, ouviu o gritode Natala e virou-se.

    Nesse momento, o homem que aparentemente estava morto lanou-se sobre ele. Seus

    olhos brilhavam com pura vida e sua espada curta cintilava na mo. Conan proferiu outramaldio, mas no perdeu tempo fazendo conjecturas. Enfrentou o perigoso atacante comum formidvel golpe de seu sabre, que atravessou-lhe a carne e os ossos. O corpocambaleou e depois caiu pesadamente ao cho.

    Conan o examinou, murmurando pra si. Logo disse:

    - Este indivduo no est mais morto agora do que h alguns minutos. Em que casa deloucos a gente se meteu?

    Natala, que havia tapado os olhos com as mos, mas que olhava por entre os dedos,exclamou:

    - Oh, Conan! O povo desta cidade no ir nos matar por isso?- Bom. grunhiu Conan Este indivduo teria nos matado, se eu no lhe arrancasse a

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    cabea.

    O cimrio olhou para as arcadas que abriam suas bocas escuras, das verdes muralhas quehaviam sobre eles. No viu nenhum movimento, nem ouviu o menor rudo.

    - No creio que algum nos tenha visto. murmurou Esconderei isto...

    Levantou o cadver pelo cinturo com uma das mos; com a outra, pegou a cabea peloscabelos e levou ambas as partes do corpo at o poo.

    - J que no podemos beber desta gua... resmungou vingativamente o cimrio Nodeixarei que mais ningum desfrute dela. Maldito poo!

    Levantou o corpo at a beirada e o deixou cair dentro do poo, atirando a cabea emseguida. Do fundo, chegou o rudo do cadver ao cair na gua.

    - Tem sangue nas pedras. sussurrou Natala.

    - E haver mais, a menos que encontre logo gua. respondeu o cimrio, cuja pacinciaestava chegando ao limite.

    A garota quase havia se esquecido da sede e da fome, devido ao medo, mas Conan no.

    - Entraremos por uma dessas portas. disse Certamente, encontraremos algum.

    - Oh, Conan! exclamou a jovem, comprimindo-se fortemente contra ele Tenho medo!Esta uma cidade de fantasmas e de mortos! Voltemos ao deserto! Ser melhor morrer ldo que passar por todos estes horrores!

    - Iremos ao deserto quando nos expulsarem daqui. respondeu o cimrio com um grunhidoEm algum lugar desta cidade existe gua, e vou achar nem que tenha de matar todos os

    homens que morem nela.

    - Mas... e se ressuscitarem?

    - Ento voltarei a mat-los at que no ressuscitem mais!

    Olhou ao seu redor e acrescentou subitamente:

    - Vamos! Aquela porta ali to adequada quanto qualquer outra. Venha atrs de mim, masno corra, a menos que eu lhe diga.

    A jovem assentiu com a cabea, e o seguiu to de perto que tropeou nos calcanhares dobrbaro, o qual ficou furioso. Acabava de cair o crepsculo, que encheu a cidade denumerosas sombras de cor prpura. Atravessaram a soleira da porta e se encontraram numaampla moradia, cujas paredes estavam cobertas de tapetes bordados com estranhos

    desenhos. O cho, as paredes e o teto baixo eram feitos com pedra de cor verde brilhante eos muros estavam decorados com frisos dourados. O cho estava coberto de almofadas develudo e seda. Havia vrias portas que levavam a outras moradias. Conan e a garotapassaram por outras habitaes, quase iguais primeira. No viram ningum, mas o cimriogrunhiu, desconfiando de algo.

    - Algum esteve aqui h muito pouco tempo. Este div ainda est morno pelo contato com ocorpo humano. Essa almofada de seda tem marcas de quadris e h um leve perfume no ar.

    A atmosfera do lugar era fantstica e estranha..., parecia irreal. Entrar naquele palciosilencioso era como afundar num sono causado pelo pio. Conan e a jovem evitaram algunssales sem iluminao. Outros estavam iluminados por uma luz tnue que parecia procederdas jias incrustadas nas paredes, as quais formavam estranhos desenhos. De repente,

    quando entravam numa daquelas habitaes, Natala soltou um grito e agarrou seucompanheiro pelo brao. Conan praguejou em voz alta e deu meia-volta, procurando uminimigo. Espantou-se em no ver ningum ali.

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    - O que est acontecendo? Se voltar a me agarrar assim pelo brao, te arranco a pele. Porqu gritou?

    - Veja isso.

    Conan grunhiu. Sobre uma mesa de bano polido, havia uns recipientes dourados que,aparentemente, continham comida e bebida. A moradia estava deserta.

    - Bom, seja quem for que ia usufruir tudo isto, j pode procurar outro lugar para desfrutar anoite.

    - Podemos comer isso, Conan? arriscou a jovem nervosamente Algum poderia chegare...

    Lir an mannanam mac lir! rugiu Conan, pegando a jovem pela nuca e obrigando-a a sentar-se numa cadeira dourada, situada numa extremidade da mesa Estamos mortos de fome eousa fazer objees! Coma!

    O cimrio se sentou ao outro extremo e pegou uma jarra de jade verde, a qual esvaziou deum gole. Continha um lquido semelhante ao vinho, de sabor estranho, porm agradvel,desconhecido para ele, embora para sua garganta ressecada fosse como nctar. Uma vezsaciada sua sede, atacou com prazer a comida que tinha adiante. O sabor desta tambm lheera estranho. Havia frutas exticas e carnes desconhecidas. Os pratos eram de um feitiodelicioso, e as facas e garfos eram de ouro. Conan ignorou os talheres, comeu com as mose destrinchou a carne com os dentes. Os modos do cimrio eram bastante rudes. Suacivilizada companheira comia com mais elegncia, mas com o mesmo prazer. Conanimaginou que a comida pudesse estar envenenada, mas essa idia no diminuiu seu apetite.Preferia morrer envenenado a perecer de fome.

    Uma vez satisfeito o seu apetite, Conan se jogou pra trs em sua cadeira, soltando umprofundo suspiro de alvio. A julgar por aquela comida recente, era bvio que havia sereshumanos na silenciosa cidade, e talvez um inimigo escondido em cada esquina.

    Mas Conan no sentia o menor temor diante de tal idia, j que tinha uma enorme confianaem sua habilidade para lutar. Comeou a sentir-se sonolento e pensou em comear adescansar um pouco sobre um div.

    Natala j no tinha fome nem sede, mas no sentia vontade de dormir. Seus olhosmaravilhosos miravam timidamente em direo s portas, fronteiras do desconhecido. Osilncio e o mistrio do estranho lugar incomodavam-na. A moradia parecia maior e a mesa,muito mais longa que a princpio, e teve a sensao de que estava demasiadamente longede seu protetor. Levantou-se rapidamente, se aproximou dele e sentou-se em seus joelhos.Logo voltou a olhar inquietamente para as portas arcadas. Algumas delas estavamiluminadas e outras no, mas seus olhos se fixaram mais intensamente nas que estavam sescuras.

    - J comemos, bebemos e descansamos. disse a garota Vamos embora daqui, Conan.Tenho a sensao de que isto o inferno.

    - Bem, mas at agora ningum nos fez mal. respondeu o cimrio.

    Naquele exato momento, um ranger sinistro fez com que dessem meia volta. Afastou ajovem de seus joelhos e se ps em p, com a rapidez de uma pantera, desembainhando osabre e olhando para a porta, de onde partira o rudo. Este no se repetiu. Conan avanousigilosamente, e Natala o seguiu, atemorizada. Sabia que o cimrio farejava o perigo. Com acabea afundada entre os ombros gigantescos, Conan caminhou agachado, como um tigre espreita. No fazia mais rudo que um felino avanando para sua presa.

    Se deteve na soleira da porta. Natala ia atrs dele, olhando pra todas as direes. Ahabitao no estava iluminada, mas a escurido no era absoluta, devido luz que havias suas costas, e que inclusive iluminava, ainda que timidamente, uma outra moradia. E

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    nesta habitao havia um homem estendido sobre um estrado. A luz tnue lhes permitiu verque se tratava de um indivduo muito parecido ao que tinham visto na porta exterior, com adiferena que suas roupas eram mais luxuosas e estavam adornadas com jias quebrilhavam com um estranho fulgor. Estaria morto ou simplesmente dormindo? Mais uma vez,ouviu-se o mesmo rudo sinistro de antes, como se uma mo tivesse empurrado algumacortina. Conan recuou e passou um brao por cima dos ombros de Natala. Logo tapou-lhe a

    boca com a mo, a tempo de impedir que a jovem soltasse um grito.De onde estavam, no viam o estrado, mas puderam perceber uma estranha sombra,projetada sobre a parede que havia atrs. Logo viram outra sombra destacada contra aparede. O cabelo de Conan se arrepiou. Aquela sombra fantstica era absolutamentedisforme. No lembrava de ter visto jamais semelhante reflexo de nenhum homem ouanimal. Estava consumido pela curiosidade e, no entanto, o instinto lhe fez permanecerimvel. Ouviu o rpido ofego de Natala, que fitava a cena com os olhos arregalados.Nenhum outro som interrompia o tenso silncio. A enorme sombra cobriu a que projetava oestrado sobre a parede. Por um instante, quase toda a parede desapareceu na escurido.Logo, a sombra foi desaparecendo lentamente e, mais uma vez, o estrado se projetounitidamente contra o painel. Mas o homem adormecido j no estava ali.

    Um histrico gorjeio surgiu da garganta de Natala. Conan sacudiu-a energicamente. Noentanto, o cimrio sentiu que o sangue lhe gelava nas veias. No temia os inimigoshumanos, nem tinha medo de nada que pudesse entender, por mais espantoso que fosse.Mas aquilo ultrapassava todos os limites.

    Entretanto, a curiosidade logo prevaleceu sobre sua preocupao, e voltou a entrar nahabitao iluminada, disposto a qualquer coisa. Olhou em direo outra moradia e viu queestava vazia. O estrado estava no mesmo lugar, mas ali no havia nenhum ser humano. Suma gota de sangue, que parecia uma gema intensamente vermelha, sobre o cobertor deseda. Natala a viu e soltou um grito. Desta vez, Conan no a recriminou. O cimrio sentiu amo gelada de horror. Sobre aquele estrado, h alguns momentos, havia um homem.Algum entrara na habitao e o levara.

    Conan no entendia o que estava acontecendo, mas uma aura de horror sobrenatural

    pairava sobre aquelas moradias mal-iluminadas.

    Estava disposto a ir embora. Tomou Natala pela mo e deu meia-volta. De repente hesitou.De algum lugar das habitaes que haviam atravessado, chegou um rudo de passos. Um phumano, descalo ou com um leve calado, havia produzido aquele som, e Conan, com acautela de um lobo, recuou rapidamente pra um lado. Achou que poderia voltar facilmente aoptio exterior e, inclusive, evitar a moradia da qual partira aquele estranho som.

    Todavia, mal haviam cruzado a primeira habitao, quando de repente lhes chamou aateno um tapete de seda. Diante de um quarto, cuja entrada estava coberta por umacortina, havia um homem de p, olhando-os fixamente.

    Era exatamente igual aos outros que tinha visto antes. Era alto e corpulento, vestia roupas

    de cor azul e usava um cinto adornado com pedras preciosas. Em seus olhos de mbar nose refletia nem surpresa nem hostilidade. Tratava-se simplesmente do olhar onrico de umcomedor de ltus. Tampouco desembainhou a espada que pendia-lhe do cinto. Depois deum momento de tenso, falou com tom sonhador, distante, numa lngua que Conan noentendia.

    Conan disse algo em Stgio, e o desconhecido lhe respondeu na mesma lngua.

    - Quem ?

    - Sou Conan da Cimria. respondeu o brbaro Esta Natala, da Britnia. Que cidade esta?

    O homem no respondeu. Seu olhar sensual e sonhador se fixou em Natala, e disse:- Esta a viso mais estranha que jamais tive! Oh, garota de cabelos dourados! De que terra

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    de sonhos voc vem? De Andana, Tothra ou Koth?

    - Que loucura esta? perguntou Conan.

    O desconhecido no lhe prestou a menor ateno.

    - Tenho sonhado com as belezas mais extraordinrias... murmurou Com formosasmulheres de cabelos negros como a noite e olhos cheios de mistrio. Mas sua pele brancacomo o leite e seus olhos, claros como a aurora. Tens o frescor e a doura do mel! Venha aomeu div, garota dos sonhos.

    O homem avanou em direo jovem, com a mo estendida, mas Conan afastou-a comuma fora que teria fraturado o brao de qualquer um. O desconhecido recuou, com os olhosentreabertos, friccionando a mo dolorida.

    - Que rebelio de fantasmas esta? murmurou Brbaro, ordeno-lhe que se v...!Desaparea! Suma! Vai-te daqui!

    - Te farei sumir a cabea! exclamou Conan, furioso, empunhando seu sabre So estasas boas-vindas que d aos forasteiros? Por Crom! Encharcarei de sangue todos estestapetes!

    As fantasias desapareceram dos olhos do desconhecido, dando lugar a um olhar deassombro.

    - Thog! exclamou em voz alta Voc real! De onde vem? Quem voc? O que faz emXuthal?

    - Viemos do deserto. respondeu Conan com um grunhido Entramos na cidade aoentardecer, mortos de fome. Encontramos uma mesa servida para algum e comemos. Notenho dinheiro para pagar a comida. Em meu pas, no negam alimentos a um homemfaminto, mas vocs, civilizados, sempre desejam cobrar tudo, se voc for como todos os queconheci at agora. No fizemos mal a ningum, e j amos embora daqui. Por Crom! No me

    agrada nada este lugar, onde os mortos ressuscitam e os adormecidos desaparecem nassombras!

    O homem sobressaltou-se diante das ltimas palavras de Conan, e seu rosto amareladoficou lvido.

    - O que disse? Sombras?

    - Bem. respondeu cuidadosamente o cimrio Sombras... ou o que quer que seja isso queleva um homem adormecido, de seu estrado, e s deixa em seu lugar uma gota de sangue.

    - Voc o viu?

    O homem tremia como uma folha. O tom de sua voz ficou mais agudo. Ento, Conan disse:

    - No vi mais do que um homem adormecido sobre um estrado, e depois uma sombra que olevou misteriosamente.

    O efeito destas ltimas palavras foi aterrorizante. O homem virou-se com uma gritariaespantosa e saiu correndo da habitao. Conan olhou-o surpreso, com a testa franzida. A

    jovem agarrou-se, trmula, a seu brao. No viam o homem que fugia, mas continuavamouvindo seus terrveis gritos distncia, cujo eco repetiam as demais moradias. De repenteouviu-se um grito mais forte que os demais, e a seguir reinou o silncio.

    - Por Crom! exclamou o cimrio, enxugando o suor que pingava-lhe da testa com uma moligeiramente trmula Esta uma cidade de loucos! Vamos embora daqui, antes que nos

    encontremos com outro demente!- um pesadelo! gemeu Natala Estamos mortos e condenados! Morremos no deserto e

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    estamos no inferno. Somos espritos sem corpo... Oh!

    A jovem queixou-se da forte palmada que Conan acabava de dar-lhe.

    - Voc no nenhum esprito, se grita desse jeito. disse, sorrindo, o cimrio, quefreqentemente dava mostras de humor nos momentos mais inoportunos. Logo acrescentou:

    - Estamos vivos, embora no por muito tempo, se continuarmos nesta casa de loucos.Vamos!

    Atravessaram uma habitao e se deteram. Algo ou algum se aproximava. Voltaram-separa a soleira de onde vinham os rudos, espera do desconhecido. Ento, apareceu umafigura na porta. Conan praguejou entre dentes, enquanto seu fino olfato percebia o mesmoperfume que havia farejado antes. Natala abriu a boca, assombrada.

    Ali estava uma mulher que olhava-os, surpresa. Era alta, esbelta, tinha o corpo de umadeusa e vestia uma tnica bordada com pedras preciosas. Uma cascata de cabelos negroscomo a noite fazia destacar a brancura de seu corpo ebrneo. Os olhos escuros, de longosclios, tinham um extraordinrio mistrio sensual. Conan conteve a respirao diante de talbeleza, e Natala mirou-a com os olhos arregalados. O cimrio jamais tinha visto uma mulhercomo aquela. Seus traos eram stgios, mas sua pele no. Seus braos e pernas pareciamde alabastro.

    Mas quando falou, com tom profundo, rico e musical, o fez em Stgio:

    - Quem voc? O que faz em Xuthal? Quem esta jovem?

    - E voc, quem ? perguntou por sua vez Conan, o qual no gostava que lhe fizessemperguntas.

    - Sou Thalis, a stgia. ela respondeu Deve estar louco para se atrever a vir aqui.

    - Creio que estou. disse o cimrio com um grunhido Por Crom, se eu tivesse juzo,

    estaria longe, porque aqui esto todos loucos! Viemos do deserto, famintos e sedentos, enos encontramos com um homem morto, que logo tentou me apunhalar pelas costas.Entramos num palcio rico e luxuoso, aparentemente desabitado. Encontramos uma mesabem servida, mas sem comensais. Depois vimos uma sombra que devorou um homemadormecido...

    Conan notou que o rosto da mulher mudava de cor ao ouvir suas ltimas palavras. Logoacrescentou:

    - E ento...?

    - Ento, o qu? perguntou a mulher, dominando-se perfeitamente.

    - Eu esperava que sasse correndo e berrando como uma selvagem. Foi o que fez o homemao qual falei da sombra.

    A mulher encolheu os ombros.

    - Ento, esses foram os gritos que escutei. Cada homem tem seu destino marcado e intilgritar feito um rato. Quando Thog me desejar, vir buscar-me.

    - Quem Thog? perguntou Conan, com desconfiana. A mulher o olhou, examinando-o decima a baixo de tal maneira que fez Natala corar.

    - Sente-se nesse div e eu lhe direi. Mas primeiro diga-me seus nomes.

    - Eu sou Conan, o cimrio, e esta Natala, da Britnia. Somos refugiados de um exrcitoderrotado nas fronteiras de Kush. E no desejo me sentar de costas para as sombras.

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    A mulher sentou no div com uma risada musical, e estendeu-se delicadamente com umabandono felino.

    - Fique calmo. murmurou Se Thog lhe quiser, te levar consigo, esteja onde estiver. Ohomem que mencionou, o que saiu correndo e gritando... No o ouviu soltar uma terrvelgritaria e logo calar de repente? Em seu frenesi, deve ter encontrado sua prpria morte, uma

    morte da qual desejava fugir. Nenhum homem pode escapar a seu destino.Conan grunhiu e sentou na borda do div, com o sabre cruzado sobre os joelhos e olhando aseu redor com desconfiana. Natala sentou-se a seu lado e se encolheu em seus braos.Olhava aquela estranha mulher com receio e ressentimento. Se sentia pequena einsignificante diante daquela extraordinria beleza. No se equivocou, ao avaliar os olharesvidos que os enormes olhos negros dela lanavam ao gigantesco cimrio.

    - Que lugar este e quem so estas pessoas?

    - Esta cidade chama-se Xuthal. muito antiga. Foi construda num osis que os fundadoresde Xuthal encontraram em seu constante vagar por estas terras. Chegaram do leste h tantotempo, que nem mesmo seus descendentes lembram quando foi.

    - Certamente no haver muitos. Estes palcios parecem vazios.

    - No. H muito mais gente do que supe. A cidade , na verdade, um enorme palcio.Todos os edifcios esto dentro de uma muralha e se comunicam uns com os outros. Vocpoderia caminhar atravs destas habitaes, durante horas, sem ver ningum. Mas hmomentos nos quais pode encontrar centenas de pessoas.

    - Como se explica isto? inquiriu Conan.

    - Esta gente dorme durante a maior parte do tempo. O sono , para eles, to importante eto real quanto sua vida de viglia. Ouviu falar alguma vez do ltus negro? Cresce em algunslugares da cidade. Eles o tm cultivado durante anos e conseguiram que seu suco, ao invsde causar a morte, proporcionasse sonhos agradveis e fantsticos. O povo passa a maior

    parte do tempo sonhando. Suas vidas so vagas, imprevisveis e carecem de objetivo.Sonham, acordam, bebem, amam, comem e voltam a sonhar. Raramente terminam o quecomeam, porque imediatamente voltam a submergir no sono do ltus negro. A comida queencontrou... certamente era de algum homem que a preparou quando estava acordado,porque tinha fome. Logo esqueceu-a e voltou a dormir.

    - Onde conseguem sua comida? perguntou Conan No vi campos nem vinhedos fora dacidade. Por acaso h hortos e estbulos dentro destes muros?

    A mulher negou com um movimento da cabea.

    - Fabricam seus prprios alimentos com matrias primas. Quando no esto drogados, sotodos grandes cientistas. Seus antepassados foram verdadeiros gnios e, embora a raa

    tenha cado escrava de suas prprias paixes, ainda prevalecem alguns de seusextraordinrios conhecimentos. Ainda no se perguntou como conseguem estas luzes? Poisso jias fundidas com radio. Esfrega-se o polegar para faz-las brilhar e volta-se a esfregar,em sentido contrrio, para apag-las. Este s um exemplo de sua sabedoria. No entanto,esqueceram muitas coisas. Tm muito pouco interesse em permanecerem acordados.

    - Ento o homem que estava na porta...

    - Com certeza, dormia profundamente. Os sonhadores do ltus esto como mortos. Carecemde todo movimento. impossvel detectar neles o menor sinal de vida. O esprito abandonouo corpo e vaga com plena satisfao por outros mundos exticos. O homem da entrada eraum bom exemplo da irresponsabilidade desta gente. Estava de guarda na porta, j que ocostume exige a presena de uma sentinela, ainda mais que nunca tenha vindo nenhum

    inimigo, do deserto. Em outros lugares da cidade, encontrar outros guardies dormindo toprofundamente quanto o que viu na entrada.

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    Conan guardou silncio por um momento. Logo perguntou:

    - Onde esto todos agora?

    - Espalhados por diversos lugares da cidade. Estendidos em divs, sobre camas, em alcovascom almofadas, sobre estrados cobertos de peles, mas todos eles esto submersos no sono

    profundo do ltus negro.Conan sentiu um arrepio. Naquele momento, lembrou algo mais.

    - E aquela coisa... aquela sombra que atravessou as moradias e levou o homem do estrado?

    Um ligeiro tremor agitou os membros graciosos da mulher, antes dela responder:

    - Trata-se de Thog, o Ancio, o deus de Xuthal, que vive na cpula subterrnea do centro dacidade. Sempre viveu em Xuthal. Ningum sabe se chegou com os antigos fundadores, ouse j estava aqui quando a cidade foi construda. Mas o povo de Xuthal o adora. Quasesempre dorme sob a cidade, mas, s vezes, espaadamente, sente fome, e ento vagapelos corredores secretos e pelas habitaes mal-iluminadas, buscando uma presa.Portanto, ningum est seguro.

    Natala gemeu de horror e envolveu o pescoo de Conan com os braos, como se tentasseimpedir que a separassem de seu protetor.

    - Por Crom! exclamou o cimrio, assombrado Quer dizer que toda esta gente dormetranqila, apesar da ameaa que constitui esse demnio?

    - S em algumas ocasies ele sente fome. respondeu a mulher. Um deus deve recebersacrifcios. Na Stygia, quando eu era menina, o povo vivia sob a sombra de um sacerdote.Ningum sabia quando seria arrastado para o altar. Ento, que diferena h entre ser vtimados deuses por intermdio de um sacerdote, ou que o prprio deus venha em busca de suapresa?

    - Em meu povo no existe esse costume... disse Conan e tampouco no de Natala. Oshiborianos no sacrificam seres humanos a seu deus Mitra e, quanto a meu povo, por Crom,gostaria de ver um sacerdote arrastando um cimrio ao altar. Se derramaria muito sangue,mas no de acordo com os desejos do sacerdote.

    - Voc um brbaro. disse Thalis, rindo Thog muito velho e muito terrvel.

    - Estes indivduos devem ser tontos ou heris... murmurou Conan para se lanarem asonhar seus sonhos imbecis, sabendo que podem despertar no ventre desse deus.

    A mulher voltou a rir.

    - No conhecem outra coisa. Desde h muitas geraes, Thog tem se alimentado deles.

    Esta uma das razes pelas quais seu nmero reduziu-se, de vrios milhares a umaspoucas centenas. Se extinguiro dentro de umas poucas geraes, e Thog ter que sair pelomundo, em busca de novas presas, ou regressar s trevas das quais veio h sculos.

    Sabem que esto condenados... acrescentou mas seu fatalismo lhes impede de oporresistncia ou fugir. Nem uma s pessoa desta gerao saiu destas muralhas. H um osis aum dia de marcha at o sul... Eu o vi nos antigos mapas que seus antepassadosdesenharam sobre pergaminhos..., mas desde h trs geraes, nenhum homem de Xuthalo visitou, nem tampouco se esforaram em explorar os campos frteis, que mostram osmapas, a outro dia de caminho desde o osis. Trata-se de uma raa em vias de extino,submersa em sonhos provocados pelo ltus, enquanto suas horas de viglia so estimuladaspelo vinho dourado que cura ferimentos, prolonga a existncia e d fora aos libertinos.

    No entanto... prosseguiu todos eles procuram se agarrar vida e temem ao deus queadoram. Se agora mesmo estivessem acordados e soubessem que Thog anda por aqui,sairiam correndo desesperados .

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    - Oh, Conan! exclamou Natala Vamos sair logo daqui!

    - Tudo a seu tempo, garota. murmurou Conan, fincando os olhos nas pernas esbeltas damulher E o que faz uma stgia aqui?

    - Vim quando era muito jovem. respondeu Thalis calmamente, enquanto se estendia sobreo div de veludo e cruzava as mos sobre a nuca Sou filha de um rei, e no uma mulhercomum, como pde notar pela cor de minha pele, que to branca quanto a dessa jovemque est com voc. Fui raptada por um prncipe rebelde, que foi at o sul com um exrcitode arqueiros, para conquistar novas terras. Ele e seus guerreiros pereceram no deserto,mas, antes de morrer, um deles me colocou sobre um camelo e caminhou a meu lado atno poder mais, e caiu morto. O animal vagou de um lado a outro e finalmente perdi aconscincia, devido sede e fome, at que despertei, algum tempo depois, nesta cidade.Me disseram... acrescentou a jovem que haviam me visto ao amanhecer, das muralhas,sem sentidos, prxima ao camelo morto. Me ajudaram a recuperar as foras com o vinhodourado. S o fato de tratar-se de uma mulher os estimulou a aventurarem-se to longe dasmuralhas. Claro que se interessavam pelas mulheres, especialmente os homens. J que euno sabia falar seu idioma, aprenderam o meu. Tm uma enorme capacidade intelectual, eentenderam minha lngua muito antes que eu a deles. Mas se sentiam muito mais atradospor mim do que por meu idioma. Tenho sido e sou a nica coisa pela qual alguns desteshomens esquecem seus sonhos de ltus por algum espao de tempo.

    A mulher ps-se a rir, fixando seu olhar provocante em Conan.

    - Naturalmente, as demais mulheres tm cimes de mim. continuou dizendo, comtranqilidade A seu modo e com sua pele amarelada, so bastante atraentes, mas tosonhadoras e inseguras quanto os homens, e a estes eu agrado no por minha beleza, maspor minha realidade. Eu no sou um sonho! Embora algumas vezes, eu tenha estado sob oefeito do ltus, sou uma mulher normal, com emoes e desejos terrenos.

    Creio que seja melhor que corte o pescoo desta jovem com sua espada, antes que oshomens de Xuthal acordem e raptem-na. Do contrrio, a faro passar por coisas com as

    quais jamais sonhou. uma garota fraca demais para suportar tudo o que tenho agentado.Sou filha de Lxur e, antes de completar quinze anos, me conduziram aos templos deDerketo, a deusa escura, para ser iniciada nos mistrios. E no que meus primeiros anosaqui tenham sido isentos de novos prazeres! Os homens e as mulheres de Xuthal possuem,nesse terreno, conhecimentos que as sacerdotisas de Derketo ignoram. S vivem para seusprazeres sensuais. Sonhando ou despertos, suas vidas esto cheias de xtases exticos,muito superiores aos do resto dos homens .

    - Malditos degenerados! exclamou Conan.

    - questo de opinies. respondeu Thalis, com ironia.

    - Bom... murmurou o cimrio Creio que estamos perdendo tempo. Vejo que este no

    um lugar adequado para simples mortais. Iremos embora, antes que seus degeneradosacordem ou Thog nos devore. Suspeito que o deserto seja um lugar muito mais acolhedor.

    Natala, cujo sangue fervia em suas veias diante das ltimas palavras de Thalis, assentiu comum movimento da cabea. Falava mal o Stgio, mas o entendia perfeitamente. Conan ficoude p e ajudou a jovem a fazer o mesmo.

    - Se nos mostrar o caminho mais curto para sair da cidade... disse Sairemos agoramesmo.

    No entanto, seus olhos no se afastaram dos esbeltos membros ebrneos da stgia.

    A mulher o percebeu e sorriu enigmaticamente, ao pr-se de p como uma gata preguiosa.

    - Siga-me. sussurrou, certa de que o olhar do gigantesco cimrio continuava fixo em seucorpo.

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    No tomou o caminho pelo qual haviam chegado, mas antes que Conan suspeitasse dealgo, a mulher se deteve numa ampla moradia, em cujo centro havia uma pequena fonte,sobre um cho de marfim.

    - No quer lavar seu rosto, menina? perguntou a Natala Est cheio de poeira, assim

    como seus cabelos.Natala corou de dio e ressentimento diante da malcia das palavras da stgia, mas mesmoassim aceitou a sugesto, se perguntando se o sol e a poeira do deserto haviam maltratadosua pele, da qual todas as mulheres de sua raa cuidavam em especial. Se ajoelhou junto fonte, jogou pra trs seus cabelos, abaixou a tnica at a cintura e comeou a lavar, noapenas o rosto, mas tambm seus braos e ombros brancos.

    - Por Crom! exclamou Conan As mulheres param pra pensar em sua beleza, mesmo queo prprio diabo esteja pisando em seus calcanhares. Se apresse, garota! Estar cheia de poutra vez, antes que a gente saia da cidade. Thalis, eu lhe agradeceria muito se nosoferecesse um pouco de comida e bebida.

    Como resposta, Thalis apertou-se contra seu corpo e passou seu brao branco pelosombros bronzeados. Conan notou imediatamente o perfume dos cabelos da mulher.

    - Por qu partir para o deserto? disse Thalis, em voz baixa Fique aqui! Lhe ensinareicomo se vive em Xuthal. Lhe protegerei. Lhe amarei! s um homem de verdade. Estou fartadesses idiotas que sonham e acordam, e logo voltam a dormir outra vez. Desejo a paixolimpa e forte de um homem da terra. O fogo de seus olhos me faz bater forte o corao e ocontato de seu brao de ferro me enlouquece. Fique aqui! Te farei rei de Xuthal! Lheensinarei todos os antigos mistrios e os mais exticos caminhos do prazer. Eu...

    A mulher lhe havia envolvido o pescoo com ambos os braos e colocado-se na ponta dosps, para apertar seu corpo vibrante contra o de Conan. Ao olhar por cima do ombro damulher, o cimrio viu Natala e notou que a garota, ao jogar para trs os cabelos molhados,parou para olh-lo, e abriu a boca e olhos num gesto de profundo assombro. Conan

    murmurou algo ininteligvel e se desfez de Thalis, afastando-a com a mo. A jovem olhou agarota brituniana e sorriu enigmaticamente, enquanto parecia estar assentindo de maneiramisteriosa com um movimento de sua esplndida cabea.

    Natala se ergueu e ajustou a tnica. Seus olhos brilhavam de indignao e em seu rostorefletia-se uma expresso de dor. Conan praguejou entre dentes. No era mais mongamoque qualquer aventureiro, mas nele havia uma decncia inata que compunha a melhorproteo para Natala.

    Thalis no insistiu mais. Sinalizou-lhes com a mo para que seguissem-na, logo se virou eatravessou a moradia. Deteve-se perto da parede coberta de tapetes. Enquanto a olhava,Conan perguntou-se se no estaria ouvindo os sons produzidos pelo monstro que passeavafurtivamente pelo palcio. O cimrio sentiu um calafrio diante dessa possibilidade.

    - O que est escutando? quis saber Conan.

    - Estou olhando aquela porta. respondeu Thalis, apontando com a mo para o outro lado.

    Conan deu meia-volta com a espada na mo, mas no viu nada. Imediatamente, ouviu umrudo s suas costas e girou sobre seus calcanhares. Thalis e Natala haviam desaparecido.Neste exato momento, o tapete caa de novo sobre a parede, como se algum tivesselevantado-o um segundo antes. Enquanto o cimrio examinava a parede, assombrado, dooutro lado do muro ouviu-se o grito abafado da garota brituniana.

    Quando Conan se voltou para olhar pra porta que Thalis apontava, Natala encontrava-seexatamente atrs dele e ao lado da stgia. No exato momento em que o cimrio deu-lhes as

    costas, Thalis cobriu, com uma mo, a boca de Natala, com a rapidez de uma pantera,abafando o grito da garota. Simultaneamente, o outro brao da stgia circundou a estreitacintura da jovem e empurrou-a contra a parede, que cedeu quando um ombro de Thalis

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    pressionou a mesma. Uma parte do muro girou para dentro, e Thalis escapou com aprisioneira atravs de uma abertura do tapete, no momento em que Conan se voltava.

    Ao fechar-se a porta secreta, reinou a mais absoluta escurido. Thalis deteve-se por um

    momento, para tatear um painel e passar uma tranca, e quando afastou a mo da boca deNatala, a brituniana comeou a gritar com todas suas foras. A gargalhada de Thalis foicomo mel envenenado na escurido.

    - Grite o quanto quiser, pequena estpida. A nica coisa que vai conseguir encurtar suavida.

    Natala guardou silncio. Todo seu corpo tremia.

    - Por qu fez isto? perguntou O que pretende?

    - Percorreremos uma curta distncia atravs deste corredor e deixarei-lhe ali, para algumque vir lhe buscar cedo ou tarde.

    - Oohhh! soluou Natala, aterrorizada Por qu quer me fazer mal? Eu no lhe fiz nada!

    - Desejo o seu guerreiro. E voc se interpe em meu caminho. Ele me deseja; eu o li emseus olhos. Se no fosse por voc, ele teria aceitado ficar e ser meu rei. Quando vocdesaparecer, ele me seguir.

    - Ele lhe cortar o pescoo. assegurou Natala com convico, j que conhecia Conanmelhor do que Thalis.

    - Veremos. acrescentou a stgia, com a confiana que lhe proporcionava seu poder sobreos homens De qualquer maneira, voc nunca saber se ele est me cortando o pescooou me beijando, porque ser a esposa do habitante das trevas. Venha!

    Natala, aterrorizada, lutou como uma selvagem, mas de nada lhe adiantou. Com uma foraque ela jamais imaginara numa mulher, Thalis carregou-a pelo escuro corredor como se elafosse uma menina. Natala no voltou a gritar, porque lembrava das sinistras palavras dastgia. Os nicos sons que se ouviam eram seu desesperado ofego e a suave risada lascivade Thalis. Ento, a mo da brituniana agarrou algo na escurido... Era o cabo de uma adagaque destacava-se do cinturo de Thalis, cheio de pedras preciosas incrustadas. Nataladesembainhou a arma e atacou cegamente, com todas as foras de que era capaz naquelesmomentos.

    Da garganta de Thalis surgiu um grito de dor e fria. Recuou alguns passos e Natala selibertou de seus braos, caindo sobre o liso cho de pedra. Ficou de p, correu at a paredemais prxima e ficou ali, tremendo. No via Thalis, mas a ouvia.

    Evidentemente, a stgia no estava morta. Praguejava sem parar, e sua fria era to terrvelque Natala sentiu que o sangue gelava-lhe nas veias.

    - Onde est, pequeno diabo? perguntou Thalis, ofegando Deixe eu pr minhas mos emvoc de novo e lhe...

    A brituniana estremeceu de pavor, diante da descrio do mal que sua rival pensava emfazer-lhe. A linguagem da stgia envergonharia o cidado mais vulgar da Aquilnia.

    Natala ouviu que a stgia andava tateando na escurido e, a seguir, acendeu uma luz.Evidentemente, o medo que Thalis poderia sentir naquele escuro corredor, permaneciaafogado pela clera. A luz vinha de uma das gemas com rdio que adornavam os muros deXuthal. Thalis havia friccionado uma delas e, nesse momento, a stgia estava iluminada por

    seu resplendor avermelhado, diferente da luz que as demais tinham. Apertava um lado coma mo e o sangue escorria entre seus dedos. Mas, apesar disso, no parecia debilitada. Eraevidente que no estava gravemente ferida. Seus olhos relampejavam furiosamente. A

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    pouca valentia que restava em Natala desapareceu, quando viu a stgia de p sob aqueleestranho brilho, com seu belo rosto deformado por um dio verdadeiramente infernal. Thalisavanou com passo de pantera, sacudindo com impacincia o sangue de seus dedos. Natalaviu que no havia ferido gravemente sua rival. A lmina de ao havia escorregado pelocinturo com jias de Thalis, e, portanto, arranhou superficialmente sua pele, o suficientepara aumentar ainda mais a clera da stgia.

    - Me d essa adaga, estpida! resmungou, avanando em direo jovem assustada.

    Natala sabia que era preciso lutar enquanto pudesse faz-lo, mas se sentia absolutamenteincapaz de reunir as foras e a coragem necessrias. Sua falta de esprito combativo, aescurido, a violncia e o horror de sua aventura haviam deixado-a indefesa fsica ementalmente. Thalis arrancou a adaga de suas mos e arremessou-a para um lado com umgesto depreciativo.

    - Pequena vadia! murmurou entre dentes, esbofeteando furiosamente a jovem Antes dearrastar-lhe pelo corredor para atirar-lhe goela de Thog, lhe farei sangrar um pouco!Ousaste me ferir! Pagar caro por sua audcia!

    Thalis agarrou a jovem pelos cabelos e arrastou-a atravs do corredor, at a beirada docrculo de luz. Na parede, havia um grosso anel de metal situado altura da cabea. Dele,pendia uma grossa corda de seda. Como num pesadelo, Natala sentiu que lhe arrancavam atnica e, um segundo depois, Thalis atava seus pulsos ao anel da parede, do qual ficoupendurada, completamente nua. Seus ps apenas tocavam o cho. Natala virou a cabea eviu que Thalis retirava da parede um chicote com jias no cabo. Estava formado por setegrossas cordas de seda, redondas e muito mais duras que o couro.

    Thalis lanou um grito de vingana, enquanto levantava o brao, e Natala soltou um alaridoquando o chicote golpeou seus quadris. A jovem retorceu-se desesperadamente, com aimpresso de que, em poucos segundos, seu corpo ia ficar completamente despedaado.Cada chicotada arrancava gritos de angstia de seus lbios.

    Quando Natala girou sua cabea para suplicar a Thalis que se apiedasse dela, algo

    congelou seus gritos na garganta. A dor deu lugar a um tremendo horror que refletiu-se emseus belos olhos.

    Surpreendida pela expresso de seu rosto, Thalis deteve sua mo levantada e deu meia-volta com a agilidade de um felino. Tarde demais! Um grito terrvel surgiu de seus lbios,quando cambaleou para trs, levantando os braos. Natala a viu durante um segundo; erauma silhueta branca, presa do pnico, destacada contra uma enorme massa negra quelanava-se contra ela. Logo a figura branca deixou de tocar o cho com os ps, a sombrarecuou com ela, e Natala ficou sozinha no crculo de tnue luz, meio desmaiada de horror.Das sombras negras, chegaram at ela uns sons incompreensveis que gelaram-lhe osangue. Ouviu a voz de Thalis suplicando desesperadamente, mas ningum respondeu. Nose ouvia outro som alm da voz aterrorizada da stgia, que de repente explodiu em gritariasde dor, e depois em gargalhadas histricas misturadas com soluos. Depois de alguns

    segundos, Natala ouviu um ofego convulsivo. Logo, cessaram os rudos e reinou um terrvelsilncio no corredor secreto.

    Natala sentiu nuseas, devido ao horror, e fez um esforo para voltar a olhar para o local poronde havia desaparecido a sombra negra de Thalis. No viu nada, mas teve a sensao deum perigo latente, de uma ameaa que no acabava de compreender. Lutou contra a histeriaque comeava a se apoderar dela. A dor de seus pulsos feridos e de seu corpo ficourelegada diante da proximidade da ameaa, que no s punha em perigo seu corpo, mastambm sua alma.

    Aguou a vista para ver alm do crculo de luz, com todos os nervos tensos por medo do quepudesse acontecer. Abafou um grito. A escurido estava tomando forma. Algo enorme eavultado surgia do negro vazio. Viu uma cabea disforme e gigantesca que entrava no

    crculo luminoso. Ao menos era o que isso pareceu a Natala, embora no fosse a cabea deum ser normal. Viu um enorme rosto, semelhante ao de um sapo, cujos traos eram toimprecisos quanto os de um espectro visto num pesadelo. Viu umas grandes luzes que

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    poderiam ser uns olhos que piscavam e olhavam-na, e ento a jovem tremeu diante daluxria csmica que refletia-se neles. No conseguia ver o corpo da criatura. Sua silhuetaparecia alterar-se e esfumaar-se sutilmente, cada vez que o olhava. No entanto, asubstncia da qual era feito parecia ser bastante slida. No havia nada de nebuloso nemfantasmagrico nele.

    Quando chegou mais perto dela, Natala no pde ver se arrastava-se, caminhava ouflutuava no ar. Sua maneira de locomover-se era incompreensvel para ela. E, quando saiucompletamente das sombras, Natala ainda no estava totalmente certa do qu se tratava. Aluz da pedra no o iluminava como poderia t-lo feito com uma criatura normal, pois por maisimpossvel que parecesse, aquele ser era imune luz. Seus traos continuavam sendoescuros e indefinidos, apesar de ter parado to perto dela, que ela quase poderia toc-lo. So enorme rosto de sapo parecia ter certa claridade. O restante era um borro, uma sombranegra qual a luz normal no iluminaria nem dissiparia.

    Natala pensou que havia enlouquecido, pois no podia dizer se aquela coisa olhava-a decima ou de baixo. Era incapaz de distinguir se o repugnante rosto contemplava-a dassombras que haviam a seus ps, ou a observava de uma enorme altura. Mas se sua visohavia convencido-a de que, fossem quais fossem suas caractersticas, era feito desubstncia slida, seu tato confirmou esse fato. Um membro, que parecia um escurotentculo, deslizou ao redor de seu corpo e Natala gritou quando sentiu esse contato em suacarne nua. No era frio nem quente, nem spero nem liso. Jamais uma coisa semelhantehavia tocado-a. E, naquele instante, soube que, fosse qual fosse a forma de vida que aquilorepresentava, no se tratava de um animal.

    Comeou a gritar sem controle, enquanto o monstro lanava-se sobre ela, como se quisessearranc-la brutalmente de suas ataduras. E ento algo soou sobre suas cabeas, e umaforma humana cruzou o ar, caindo sobre o cho de pedra.

    Quando Conan deu meia-volta, percebeu que o tapete voltava ao seu lugar e ouviu oabafado grito de Natala. Ento lanou-se contra a parede, rugindo como um leo. Ao recuar,

    devido ao poderoso impacto, o qual teria fraturado os ossos de um homem normal, arrancouo tapete, deixando mostra o que parecia ser uma parede lisa. Dominado por uma friaterrvel, levantou o pesado sabre para golpear o mrmore, mas ento outro rudo f-lo girarsobre seus calcanhares.

    Diante dele, havia um grupo de indivduos amarelados, com tnicas azuis e espadas curtasna mo. Ao voltar-se, os homens lanaram-se sobre ele, proferindo gritos hostis.Enlouquecido pelo desaparecimento da garota, o brbaro contra-atacou.

    Ao saltar para a frente, sentiu uma terrvel sede de sangue, e ento o primeiro atacante, cujaespada saltou pelos ares ao se chocar com seu sabre, caiu pesadamente ao cho. Conandeteve um brao que descia sobre ele, e a mo que segurava a outra espada voou longe,espirrando sangue. Mas o cimrio no se detinha, nem vacilava. Com outro movimento de

    pantera acuada, evitou o ataque de dois homens, e a espada de um deles, ao errar o alvo,afundou no peito de outro.

    Das outras gargantas, surgiu um brado de surpresa, e ento Conan se permitiu soltar umagargalhada ao derrubar outro dos homens de Xuthal, que rolou pelo cho com as entranhasde fora.

    Os guerreiros de Xuthal uivavam como lobos enlouquecidos. Pouco habituados luta, eramridiculamente lentos e desajeitados em comparao ao brbaro, cujos movimentos eram deuma rapidez s possvel para algum perfeitamente treinado para a batalha. Os homenstropeavam entre si e atacavam rpido demais ou com lentido excessiva, e dessa forma osgolpes se perdiam no ar.

    No entanto, e apesar de seus evidentes defeitos, os homens de Xuthal no careciam devalentia. O cercavam gritando e atacando, e surgiam mais e mais indivduos das portasvizinhas, despertados pelo clamor da batalha.

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    Conan, sangrando por um ferimento que tinha na fronte, esvaziou o espao por um momentocom um giro mortal do sabre, e logo deu uma rpida olhada ao seu redor, buscando umasada. Nesse momento, viu que o tapete que havia numa das paredes tinha sido empurrado,e deixava mostra uma escada estreita. Nesta ltima encontrava-se um homemluxuosamente ornamentado, piscando preguiosamente, como se acabasse de despertar. A

    viso e a ao de Conan foram simultneas.Saltou como um tigre por cima do crculo fechado de espadas, sem que o tocassem, e logocorreu para a escada com os demais homens atrs dele. Trs deles defrontaram-se com elenos primeiros degraus de mrmore, e Conan atacou-os com a fria de um leo. Houve ummomento em que as lminas relampejaram como raios numa tempestade de vero.

    Logo, o grupo se desfez e Conan subiu a toda velocidade pela escada. Os demais homensperseguiram-no, saltando por cima de trs corpos que se retorciam no cho.

    Quando Conan subia pela escada de mrmore, o homem que se encontrava na partesuperior desta parecia despertar completamente de seu estupor e desembainhou umaespada, que resplandeceu com um brilho frio sob a luz de rdio. Estendeu a lmina parabaixo, mas Conan evitou-a rapidamente, e a ponta roou-lhe as costas. O cimrio ergueu-seimediatamente e golpeou com seu sabre para cima, como um aougueiro, ao mesmo tempoem que se apoiava com toda a poderosa fora de seus ombros.

    O golpe foi to terrvel, que o ato de enfiar a arma at o cabo no ventre do inimigo nodeteve Conan. Esbarrou na parede oposta, enquanto o individuo da escada, com o corpoquase partido em dois, rolava pelos degraus abaixo, arrastando vrios homens consigo.

    Conan se apoiou, atordoado, contra a parede durante um momento, e os fitou. Logo,empunhando o sabre ensangentado, entrou numa habitao vazia. Atrs dele, a hordagritava com tanta fria e horror, que Conan imediatamente achou que tinha matado algumhomem importante, talvez o rei daquela fantstica cidade.

    Correu s cegas, sem direo. Tentava desesperadamente encontrar Natala, j que estava

    certo de que a garota precisava urgentemente de ajuda. Mas naquele momento, perseguidopelos guerreiros de Xuthal, a nica coisa que podia fazer era correr, confiando sorte apossibilidade de evit-los e de encontrar a jovem. Entre aquelas moradias mal-iluminadas,logo perdeu todo senso de orientao, e no chegou a ser estranho ele entrar numahabitao na qual, no mesmo instante, seus inimigos tambm entravam.

    Ao verem-no, gritaram vingativamente e lanaram-se contra ele. Conan soltou um grunhido edeu meia-volta para fugir na outra direo, pelo mesmo caminho que havia percorrido antes.Pelo menos, era isso o que ele pretendia. Mas quando entrou numa moradia ocupada, sedeu conta do seu equvoco. Todas as habitaes que havia atravessado depois de subir asescadas, estavam vazias. Naquela ltima, havia algum que, ao v-lo entrar, ps-se de p,gritando.

    Conan viu uma mulher de pele amarelada, coberta de jias, que o fitava com os olhosarregalados. A mulher estendeu a mo rapidamente e puxou uma grossa corda de seda quependia da parede. O cho cedeu sob os ps de Conan, e nem sequer seu formidvel instintopde livr-lo de cair na negra boca que se abriu sob ele.

    Conan caiu como um gato sobre seus ps e uma mo, e apoiou instintivamente a outra nocabo de seu sabre. Um grito familiar chegou at seus ouvidos, quando deu meia-volta comoum lince encurralado que mostra seus dentes numa atitude ameaadora. Conan, olhandopor baixo de sua longa cabeleira, viu o corpo branco de Natala, que se retorcia no meio doabrao lascivo de uma forma negra de pesadelo, que s podia ter nascido nas prpriasfossas do inferno.

    Em outras circunstncias, ver aquela monstruosidade teria gelado o sangue nas veias de

    Conan. Mas, ao ver sua amiga naquela situao dramtica, sentiu que a violncia o cegavae atacou o monstro. Este soltou a garota para cuidar de seu atacante. O enlouquecido sabrede Conan cortou o ar com a velocidade de um raio e atravessou o enorme vulto negro,

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    aquela massa estranhamente viscosa, para depois golpear o cho de pedra, do qualarrancou um mirade de fascas. Conan caiu de joelhos ao solo, pelo impacto do golpe. Nohavia encontrado a resistncia que esperava. Quando se ergueu, o monstro j estava sobreele.

    Erguia-se sobre sua cabea como uma nuvem negra e viscosa. Parecia flutuar a seu redor

    em fios quase lquidos, envolvendo-o e afogando-o. O sabre golpeou uma e outra vez, eConan sentiu o contato de um lquido espesso semelhante ao sangue. Mesmo assim, suafria no cessou.

    Conan no tinha certeza se estava enfrentando os braos do monstro, ou se estava enfiandoa arma em seu corpo. O gigantesco cimrio saiu expelido de um lado a outro pela violnciado combate, com a impresso de que no estava lutando com um s ser vivo, mas contraum exrcito. Aquela coisa mordia, arranhava, esmagava e golpeava, tudo ao mesmo tempo.Sentiu que uns dentes e umas unhas longas cravavam-se em sua carne. Parecia-lhe queuns tentculos, como cabos de ao, apertavam-lhe os membros e tronco e, o que era piorainda, que uma espcie de chicote, formado por escorpies, caa vez ou outra sobre seusombros e seu peito, arrancando-lhe a pele e enchendo suas veias com um veneno que eracomo fogo lquido.

    Em meio ao turbilho da batalha, os dois rolaram de um lado a outro do corredor, cada vezmais distante. O crebro de Conan nublou-se pelo tormento que estava recebendo, e suarespirao ficou difcil. De repente, por cima de sua cabea, viu um rosto semelhante ao deum sapo, iluminado por uma tnue luz, que parecia partir do mesmo. Lanando um grito queera na verdade uma maldio, Conan saltou e atacou com todas as suas foras. O sabreafundou, at o cabo, em algum lugar debaixo daquele rosto espantoso, talvez no pescoo, eimediatamente um tremor convulsivo agitou a massa negra que envolvia o cimrio. Com umestalo vulcnico de contraes e expanses, a coisa cambaleou, recuou e rolou comfantstica velocidade pelo corredor. Conan o perseguiu, sem deixar de atacar, invencvel,apertando-se contra o monstro, como um co-de-caa, sem soltar o punho do sabre, queno conseguia arrancar da massa viscosa.

    Naquele momento, a coisa brilhou com um resplendor fosforescente que cegou Conan, ao

    mesmo tempo em que sentia a enorme massa separar-se dele, deixando seu sabre livre. Aarma e a mo que a sustentava golpearam no vazio pela ltima vez. O corpo brilhante domonstro caiu como um meteoro e Conan, completamente aturdido, notou que se encontravana beirada de um poo, de abertura muito larga, com superfcie escorregadia. O cimrioficou apoiado sobre este durante um momento, observando como a coisa brilhantedesaparecia no fundo, at tocar uma superfcie resplandecente que, durante um segundo,pareceu ascender quase at a superfcie do prprio poo. Conan olhou pela ltima vez parao negro abismo, no qual reinava o mais absoluto silncio.

    Lutando em vo para livrar-se de suas amarras de seda, Natala tentou perfurar a escuridocom seus olhos, bem alm do crculo de luz que a rodeava. Sua lngua parecia estarpregada ao cu da boca. Viu que Conan desaparecia nas sombras, numa luta mortal com odemnio desconhecido, e os nicos sons que chegaram a seus ouvidos tinham sido os

    terrveis ofegos do brbaro, o impacto dos corpos que lutavam e os selvagens golpes, dadosna escurido. De repente, tudo parou; Natala balanava-se em suas amarras, quaseinconsciente.

    O rudo de uns passos tiraram-na de sua apatia, e ela viu Conan, que surgia da penumbra. Ajovem reconheceu sua prpria voz, num grito que se repetiu a cem ecos ao longo do tnel.Era difcil ver o castigo fsico que o cimrio havia recebido.

    - Oh, Conan! soluou a jovem O que aconteceu?

    O cimrio no tinha foras nem para falar, mas seus lbios feridos esboaram um levesorriso, ao aproximar-se da garota. Seu peito peludo, brilhante de suor e sangue, ofegavaintensamente. Levantou os braos com grande esforo e cortou as cordas que mantinham a

    jovem amarrada na parede. Logo, caiu de costas sobre esta, com as trmulas pernasseparadas, que j no o sustentavam por mais tempo. A jovem ergueu-se de onde haviacado e o abraou, soluando histericamente.

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    - Oh, Conan, voc est gravemente ferido! Oh! O que faremos?

    - No se pode lutar contra um demnio dos infernos e sair-se bem da luta. disse o cimrio,ofegando.

    - Aonde est? sussurrou Natala Voc o matou?- No sei. Caiu num poo. Estava feito em pedaos sanguinolentos, mas no possoassegurar que o ao o tenha matado.

    - Oh, suas costas!

    - Ele me deu uma infinidade de chicotadas com um de seus tentculos. disse Conan,praguejando entre dentes ao se mover Cortava como se fosse um arame e queimavacomo veneno. Mas o que mais me feriu foi a fora com que me esmagou. Era pior que umaserpente pton. Parece que tenho metade das tripas fora do lugar

    - O que faremos?

    Conan olhou para ela. O alapo do teto estava fechado. Nenhum rudo chegava at eles.

    - No podemos voltar pela porta secreta. murmurou o cimrio Aquela moradia est cheiade homens mortos, e certamente haver guerreiros vigiando ali. Devem ter acreditado quemeu destino estava selado quando ca por este alapo, pois do contrrio teriam me seguidoat aqui. Agora, pegue esta gema com rdio da parede... Quando vim para c, vi algumasarcadas que davam passagem a outros tneis. Entraremos pelo primeiro que virmos. Talvezconduza a alguma cavidade exterior ou ao ar livre. Temos que nos guiar ao acaso. Nopodemos apodrecer aqui dentro.

    Natala obedeceu e Conan, sustentando o pequeno ponto de luz na mo esquerda e o sabreensangentado na direita, comeou a caminhar pelo corredor. O fez lenta e rigidamente, jque a nica coisa que o mantinha de p era sua vitalidade animal. Em seus olhos injetados

    de sangue havia uma expresso vazia. Natala viu que o cimrio passava a lngua, de vez emquando, pelos lbios feridos. Sabia que seus sofrimentos eram terrveis. Mas Conan, com oestoicismo prprio dos brbaros, no proferiu uma s queixa.

    No momento seguinte, a tnue luz iluminou uma arcada negra, e Conan adentrou um novotnel. Natala estremeceu diante da idia do que podia esper-los ali, mas a luz ps emrelevo a presena de um tnel quase igual ao que haviam deixado.

    A jovem no tinha a menor idia do caminho que haviam percorrido, at chegar a uma portade pedra com tranca dourada.

    Duvidosa, olhou para Conan. O brbaro cambaleava e a luz, instvel em suas mos,produzia sombras fantsticas nas paredes e no cho.

    - Abra essa porta, garota. murmurou com voz cansada Os homens de Xuthal estaro nosesperando, e no vou decepcion-los. Por Crom, que esta cidade jamais viu um sacrifciocomo o que vero agora!

    Natala se deu conta de que o cimrio comeava a delirar. Do outro lado da porta, no seouvia nenhum rudo. A jovem pegou a gema de rdio das mos de Conan, correu a tranca eabriu a porta. Viu a parte posterior de um tapete e o afastou para olhar para o interior damoradia, prendendo a respirao. A habitao estava deserta e no centro se via uma fonte.

    A mo de Conan caiu pesadamente sobre um de seus ombros.

    - Afaste-se, garota. murmurou Agora vem a festa das espadas.

    - No h ningum aqui. Mas tem gua...

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    - Sim, eu ouo o rudo. respondeu o cimrio, umedecendo os ressecados lbios com alngua Beberemos antes de morrer.

    Parecia estar cego. Natala tomou-lhe a mo e o guiou com cuidado, caminhando nas pontasdos ps e esperando ver, a qualquer momento sob as arcadas, muitos homens de peleamarelada.

    - Beba enquanto eu vigio. disse Conan em voz baixa.

    - No, no estou com sede. Estenda-se junto fonte, para eu lavar suas feridas.

    - Onde esto as espadas de Xuthal?

    Conan passava constantemente o antebrao pelos olhos, como que tentando clarear a viso.

    - No ouo nada. Est tudo em silncio.

    Conan se ajoelhou junto fonte, afundou o rosto na extensa vasilha de cristal e bebeu comojamais havia feito em toda a sua vida. Quando levantou a cabea, seus olhos tinham umaexpresso mais normal. O cimrio estendeu-se no cho, como a jovem lhe havia sugerido,embora sem soltar o sabre que segurava na mo nem afastar seus olhos das arcadas.Natala lavou a pele dilacerada de Conan, e logo enfaixou-lhe os ferimentos mais profundos,aproveitando para isso uma cortina de seda.

    Ao terminar sua tarefa, Natala gelou de surpresa. Sob uns tapetes que cobriam parcialmentea entrada de uma alcova, acabava de ver uma mo de pele amarelada.

    Sem dizer nada a Conan, a jovem se levantou e cruzou calmamente a moradia, segurandocom fora a empunhadura da adaga do cimrio. O corao batia-lhe aceleradamente,quando afastou a cortina com enorme cuidado. Sobre o estrado dormia uma jovem nua depele amarelada, aparentemente morta. Junto sua mo, uma jarra de jade quase cheia deum estranho lquido do elixir descrito por Thalis, o qual proporcionava vigor e vitalidade degenerada Xuthal. Se inclinou sobre o corpo da jovem e apoderou-se da jarra, enquanto

    apoiava a ponta de sua adaga sobre o peito da garota. Mas esta no acordou.

    Natala vacilou. Achou que seria muito melhor matar aquela jovem e eliminar, assim, o perigode que despertasse e gritasse. Mas no se decidia em afundar o punhal do cimrio naquelepeito imvel.

    Por fim, fechou a cortina e voltou pra junto de Conan.

    Se inclinou sobre ele e apoiou a borda da jarra em seus lbios. O cimrio bebeu, a princpiomecanicamente, e depois com avidez. Diante do assombro de Natala, Conan sentou-se etomou-lhe a jarra das mos. Quando levantou o rosto, o cimrio tinha os olhos claros e umaexpresso normal. Grande parte do enorme cansao fsico havia desaparecido de seu rosto,sua voz era firme e j no delirava.

    - Por Crom! Onde conseguiu isto?

    A garota apontou com a mo e respondeu:

    - Naquela alcova, onde h uma jovem amarela dormindo.

    Mais uma vez, Conan bebeu o lquido dourado.

    - Por Crom! exclamou, exalando um profundo suspiro Sinto que, por minhas veias, correnova vida e uma fora semelhante ao fogo. Deve ser o elixir da vida!

    Ps-se de p e recolheu seu sabre do cho.

    - Ser melhor voltarmos ao corredor. sugeriu Natala, nervosamente Se ficarmos muitotempo aqui, nos descobriro. Podemos nos esconder ali, at que seus ferimentos se curem...

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    - Eu no! gritou o cimrio No somos ratos que se escondem no escuro. Agora mesmo,deixaremos esta cidade endemoninhada e no permitiremos que ningum nos detenha.

    - Mas seus ferimentos...! queixou-se a jovem.

    - No os sinto. Possa ser que este elixir tenha me proporcionado uma fora falsa, mas lhejuro que no sinto dor nem fraqueza.

    Com sbita determinao, Conan cruzou a moradia e se dirigiu a uma janela que a jovemno tinha visto. Natala olhou para fora por cima do ombro do cimrio. Uma brisa frescaagitou-lhe uns cachos que caam-lhe sobre a fronte. Mais acima, via-se o firmamento, queparecia de veludo negro semeado de estrelas. Sob eles, estendia-se o que parecia ser odeserto.

    - Thalis disse que a cidade era um enorme palcio. murmurou Conan Evidentemente,algumas das moradias esto construdas como torres nas muralhas. Esta uma delas. Oacaso nos guiou bem.

    - O que quer dizer? perguntou Natala, olhando apreensivamente por cima de seu ombro.

    - H uma jarra de cristal sobre essa mesa de marfim. Encha-a de gua e amarre uma tira deseda ao seu pescoo, para fazer uma ala, enquanto eu rasgo este outro tapete.

    A jovem obedeceu sem fazer nenhum comentrio e, quando terminou sua tarefa, viu queConan unia rapidamente longas tiras de seda para fazer uma corda grossa, da qual eleamarrou uma das pontas a um p da enorme mesa de marfim.

    - Provaremos de novo no deserto. disse Conan Thalis falou de um osis, que havia a umdia de marcha para o sul, e de pradarias verdes. Se chegarmos a esse osis, poderemosdescansar at que meus ferimentos se curem. Este vinho magia pura. H pouco, eu estavaquase morto, e agora estou preparado para qualquer coisa. Aqui resta seda suficiente paralhe fazer um vestido.

    Natala havia esquecido sua nudez. O fato em si no preocupava-a em absoluto, mas suapele delicada precisava de proteo contra o sol do deserto. Enquanto a jovem prendia umpedao de seda ao corpo, Conan deu meia-volta e, com um gesto desdenhoso, arrancou asfrgeis barras de ouro da janela. Conan envolveu a cintura de Natala com a ponta solta dagrossa corda e mandou que ela segurasse a mesma com ambas as mos. Ento, subiu-aat a janela e f-la descer os dez metros que separavam-nos do solo. Uma vez em terra,Natala libertou-se da corda, a qual Conan recolheu. Depois, pegou as jarras de gua e vinhopara envi-las jovem e desceu rapidamente.

    Quando o cimrio chegou a seu lado, Natala soltou um suspiro de alvio. Permaneceramimveis, ao p da grande muralha, durante uns instantes, com as estrelas plidas sobre suascabeas e o deserto nu diante deles. Natala ignorava os perigos que ainda lhe esperavam,

    mas estava contente em encontrar-se fora daquela cidade irreal e fantasmagrica.

    - Talvez encontrem a corda. grunhiu Conan, carregando as jarras sobre o ombro, queencolheu ligeiramente quando elas tocaram-lhe os ferimentos Podem at nos perseguir,mas a julgar pelo que Thalis disse, eu duvido. Por aqui, se vai at o sul. Portanto, em algumlugar nessa direo, est o osis. Vamos!

    Tomando a mo da jovem com uma cortesia pouco habitual a ele, Conan comeou acaminhar sobre a areia, ajustando seu passo ao ritmo curto e breve da garota. No voltou aolhar a silenciosa cidade, que permanecia s suas costas, sumida no sonho.

    - Conan... murmurou Natala, finalmente Quando voc voltou pelo corredor, depois delutar com o monstro... viu Thalis?

    Conan negou com a cabea e disse:

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    - O corredor estava muito escuro, mas tambm vazio.

    Natala estremeceu.

    - Ela me torturou..., mas lamento por ela.

    - Foi uma calorosa recepo a que nos deram nessa maldita cidade. rosnou Conan,recuperando seu bom-humor natural Bom, eles recordaro de nossa visita durante muitotempo. H sangue para limpar durante dias e, se seu deus no morreu, certamente estarmais ferido que eu. Depois de tudo, nos samos bem. Temos vinho e gua, e tambm boaspossibilidades de chegar a uma nao habitvel, embora eu parea ter passado pela pedrade um moinho e voc tambm...

    - Foi tudo culpa sua. interrompeu Natala Se voc no tivesse olhado tanto e com tantaadmirao para aquela stgia vadia...

    - Por Crom e todos os seus demnios! exclamou Conan Mesmo que os oceanosinundem a terra, as mulheres encontraro tempo para sentirem cimes. Por acaso, eu pediquela stgia que se apaixonasse por mim? E, por fim, ela era humana!