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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA PEPITA DE SOUZA AFIUNE A REPRESENTAÇÃO DOS MAIAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO Anápolis – Go 2007

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS

GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA

PEPITA DE SOUZA AFIUNE

A REPRESENTAÇÃO DOS MAIAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Anápolis – Go

2007

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PEPITA DE SOUZA AFIUNE

A REPRESENTAÇÃO DOS MAIAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Estadual de Goiás como requisito parcial

para obtenção de título de Licenciatura em História.

Orientador: Dr. Eliézer Cardoso de Oliveira.

Anápolis – Go

2007

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FOLHA DE APROVAÇÃO

PEPITA DE SOUZA AFIUNE

A REPRESENTAÇÃO DOS MAIAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Estadual de Goiás como requisito parcial

para obtenção de título de Licenciatura em História.

Orientador: Dr. Eliézer Cardoso de Oliveira.

Aprovado em _____ de _______________ de ____________.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Ms. Ligia Maria de Carvalho (Universidade Estadual de Goiás)

___________________________________________________________________

Dr. Eliézer Cardoso de Oliveira (Universidade Estadual de Goiás)

Anápolis – Go

2007

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AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos, primeiramente ao meu professor e

orientador Eliézer, pela sua dedicação, disposição, apoio e

auxílio em fornecimento de materiais e a todo o processo

de orientação. Agradecimentos também à professora Lígia

pelo carinho, incentivo e apoio, nas horas mais difíceis,

com palavras de conforto e otimismo, além do auxílio

com diversos materiais. Sem vocês esse trabalho não seria

possível! Meus eternos agradecimentos.

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RESUMO

A História Cultural abrange o campo das representações e do imaginário, cujas teorias nos

serviram de base para a análise de produções cinematográficas. Dois filmes representam duas

visões diferenciadas, referentes aos maias no que tange ao imaginário da sociedade que

produziu tal representação. O filme Apocalypto produzido em 2006 marca a manifestação de

um imaginário herdado da colonização da América, o qual trata os maias como “hereges”,

“selvagens” e “bárbaros”, constituindo um povo inculto, atrasado ou incivilizado. Por outro

lado, o documentário Eram os Deuses Astronautas produzido em 1976, marca a difusão de

teorias da Ufologia que por sua vez, trata os maias como povos misteriosos e muito avançados

pelos seus feitos que ainda são inexplicáveis para a ciência. Trata-se de duas visões, que

surgiram através de um mesmo objeto. Nos cabe discutir como essas representações surgiram

e permanecem na atualidade.

Palavras-chave: Imaginário, representações, maias, cinema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................07

CAPÍTULO I – ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA......... .........................11

1.1. História Cultural ..................................................................................................11

1.1.1. A Teoria das Representações Sociais...........................................................12

1.1.2. A História do Imaginário.............................................................................17

1.2. Análise de Filmes Históricos................................................................................19

CAPÍTULO II – OS MAIAS NO FILME “APOCALYPTO”...........................................21

2.1. Os Maias Representados pelos Europeus..............................................................21

2.2. A Representação dos Maias em Apocalypto .........................................................23

2.2.1. Crítica Externa do Filme .............................................................................24

2.2.2. Crítica Interna do Filme...............................................................................26

CAPÍTULO III – OS MAIAS EM “ ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS”..................33

3.1. A Dificuldade do Documentário...........................................................................33

3.2. Contexto Histórico do Documentário Eram os Deuses Astronautas .....................34

3.3. Análise Interna do Documentário.........................................................................36

3.4. Ufologia, Misticismo e as Profecias Maias...........................................................41

3.5. A Desconfiança na Ciência e as Representações Místicas sobre os Maias............43

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................48

ANEXO I – IMAGENS DE APOCALYPTO ....................................................................54

Figura 1 – Chegada dos europeus................................................................................54

Figura 2 – Cartaz do Filme..........................................................................................54

Figura 3 - Cena de um lintel em Yaxchilán data em 726 a.C. Mostrando as vestimentas

de um guerreiro maia...........................................................................................................54

Figura 4 – Guerreiro maia ...........................................................................................54

Figura 5 – Escravos pintados de azul...........................................................................55

Figura 6 – Escravos sendo levados atados ...................................................................55

Figura 7 - Pai de Garra de Jaguar sendo morto na frente do filho ..............................55

Figura 8 – Jogo de sacrifício .......................................................................................55

Figura 9 – Cabeças em estacas....................................................................................56

Figura 10 – Cadáveres.................................................................................................56

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Figura 11 – Fruto em decomposição ...........................................................................56

Figura 12 - Crianças brigando por pedaço de carne .....................................................56

Figura 13 – Paralítico roubando ..................................................................................57

Figura 14 - Cidadão maia com péssimos hábitos alimentares ......................................57

Figura 15 - Cidadão maia idoso, doente vivendo em precárias condições....................57

Figura 16 – Pessoa com deformações físicas...............................................................57

ANEXO II – IMAGENS DE ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS ..............................58

Figura 17 – Representação da Bíblia, momento no qual Ezequiel teria visto um trem de

pouso de uma nave ..............................................................................................................58

Figura 18 – Representação da Bíblia, momento no qual Moisés recebeu instruções de

Deus ....................................................................................................................................58

Figura 19 – Representação da Arca da aliança ............................................................58

Figura 20 – Pintura da Bíblia representando o anjo da promessa e ao lado uma nave..58

Figura 21 – Pintura da Bíblia representando a crucificação de Cristo..........................59

Figura 22 – Esculturas Astecas....................................................................................59

Figura 23 – Observatório astronômico maia, de acordo Däniken.................................59

Figura 24 – Observatório astronômico norte-americano ..............................................59

Figura 25 – Inscrições em templos maias representando o deus Kukulcán .................60

Figura 26 – Imagem retirada de inscrições na cidade de Tuluna, representando um deus

maia.....................................................................................................................................60

Figura 27 – Descendentes maias na cidade de Mérida.................................................60

Figuras 28 e 29 – Inscrição em Palenque e a imagem de um astronauta ......................60

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INTRODUÇÃO

“O mundo acabará em 2012”. Esta é uma profecia originária da cultura maia e

tem sido hoje bastante discutida pela proximidade do ano de 2012 e pelas transformações que

vêm ocorrendo no decorrer dos anos. Dezembro de 2012 marca o fim de um ciclo de tempo

definido pelo calendário Maia. Para alguns, é o prenúncio de catástrofes naturais, uma

revolução no planeta Terra ou um início de uma nova era, muitos também o identificam com

o mito cristão do Juízo Final.

Estas profecias maias estão escritas em livros sagrados, como o chamado Chilam

Balam, escrito por volta do séc. XV. Podemos perceber nos seus relatos um fatalismo, no qual

o destino do homem caminha para a destruição, por meio de catástrofes e mortes. Essa

imagem mística e mistérios excita a representação contemporânea sobre os maias. Não

somente os maias, mas também os vários povos antigos da mesoamérica, com suas pirâmides,

estelas, códices e escritos surpreendem e excitam os seus pesquisadores. Muitos

questionamentos relacionados às suas práticas religiosas, ao ruir de suas cidades, à construção

das pirâmides e a seus conhecimentos, fazem com que muitos hoje procurem possíveis

respostas no maravilhoso.

Assim apresenta-se o nosso objeto de pesquisa - as representações - que sob

vários aspectos aparecem atualmente relacionadas aos maias. A primeira a ser discutida,

impregnada de uma visão eurocêntrica, apresenta os maias como um povo bárbaro pelas suas

práticas religiosas e culturais. Essa temática é constantemente abordada por vários autores,

dentre os quais, podemos citar Medel - um sacerdote espanhol.

Ao relatar sobre os povos da região do México, Medel afirmava:

Os índios das ilhas adoravam o demônio, e estavam muito sujeitos a ele pelas grandes ameaças que lhes fazia e por suas horrendas aparições [...] Em todo o México e em todas aquelas províncias próximas aconteciam os sacrifícios, não só de ouro e prata e dos frutos que colhiam e bens que possuíam, mas também de homens vivos que matavam em grande número, e geralmente, com sangue que os homens tiravam de seus próprios membros. (MEDEL, p. 204, 2007)

Esse tipo de abordagem sobre os maias está presente nos dias atuais de forma

implícita em filmes, como por exemplo o filme Apocalypto (2006), cujo tema é a história de

um indígena capturado pelos maias e sua fuga para escapar do sacrifício humano.

De acordo Langer (2007) houve mudanças na historiografia no que tange ao

pacifismo da sociedade maia. Como anteriormente era visto como um povo pacífico, após

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novas descobertas, verifica-se que havia conflitos entre as cidades e a conseqüente

escravização e implantação de sacrifícios humanos. A partir daí, mudaram-se os olhares sobre

os maias que agora são vistos pelos acadêmicos como povos dominadores e rudes.

A outra imagem que abordaremos está presente num documentário de caráter

ufológico. Os maias são apresentados como um povo originado por seres extraterrestres e que

posteriormente foram levados pelos mesmos para outros planetas. Estas teorias são clássicas

na Ufologia e foram bastante difundidas no livro Eram os Deuses Astronautas (1968), no qual

o autor Eric Von Däniken afirma que os extraterrestres eram as próprias divindades, o que

explica o título do livro. Essa visão concebe os maias como povos “muito avançados” para

sua época, pelos seus conhecimentos astronômicos, matemáticos e arquitetônicos. E ao

mesmo tempo, os anula por deixar implícito que os maias por si só não poderiam possuir tais

conhecimentos, e que os receberam de culturas supostamente mais avançadas.

No período em que o livro foi lançado - um ano antes do homem ir à Lua -

Däniken vendeu milhares de exemplares e tornou-se famoso com suas teorias. Ainda hoje,

suas idéias são temas de discussões, tanto religiosas ou acadêmicas.

Portanto, "deuses astronautas" ou "hereges canibais" são duas representações

extremas sobre os maias que pretendemos analisar.

Utilizaremos os filmes Eram os Deuses Astronautas (1972) - documentário feito a

partir do livro - e Apocalypto (2006). Essas duas produções cinematográficas são bem

representativas das diferentes imagens que os maias suscitam no Ocidente.

Como o cinema constitui a nossa principal fonte de pesquisa, é necessário todo

um cuidado metodológico e teórico para explorar satisfatoriamente essa fonte que foi apenas

recentemente admitida na pesquisa histórica.

A nossa meta, portanto, é analisar como os maias são representados em filmes e

documentários, como se dá o processo de representação de sua cultura, inserida num universo

de mistério, misticismo, fatalismo, sofisticação e barbárie. Baseamo-nos em teóricos que

defendem a utilização do filme como documento. Marc Ferro, teórico pioneiro da análise das

relações cinema-história, trabalha com a leitura histórica do filme, levando em conta o

período no qual o filme foi produzido bem como as influências externas que pode ter sofrido.

Vemos, nos últimos anos, uma grande difusão das produções cinematográficas de

filmes históricos. Daí a importância para nós, historiadores e professores, de pesquisar e

discutir e essa temática, assunto não muito abordado pelos historiadores brasileiros.

Realizaremos análises críticas dos conteúdos que estão sendo difundidos por essas

produções imagéticas. Isso impulsionará discussões e reflexões sobre como o historiador pode

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usar o filme como um documento, o que esperamos contribuir o para uma melhor

compreensão da relação cinema-história.

Em relação aos estudos da América Pré-Colombiana, encontramos atualmente

vários artigos ou produções historiográficas baseadas em pesquisas arqueológicas,

documentais e orais. Documentos como o Popol Vul, ou Chilam Balam (livros sagrados dos

maias) e pesquisas arqueológicas como a análise de estelas, artefatos e códices, serão

utilizados como complementares aos filmes.

Muitas das produções historiográficas sobre os maias são provenientes do México,

da Europa e do Brasil, dentre as quais podemos citar Stuart (2004), que em seu artigo La

ideologia del sacrificio entre los Mayas analisa, através dos códices e estelas, a lógica dos

sacrifícios humanos e a importância do sangue como oferenda aos deuses.

Los estudios más recientes sobre la cultura maya del Clásico han abierto nuevas perspectivas a las interpretaciones sobre el significado y los motivos del ritual del sacrificio humano. [...] El sacrificio humano fue parte importante de los rituales y la ideología mayas. El ejemplo más frecuente en el arte y las inscripciones de esa cultura es el sacrificio ritual por decapitación, descrito como acto de “creación”. El sacrificio de prisioneros recreaba el complejo de mitos que permitía el establecimiento de un orden cósmico [...] (STUART, 2004, p. 1)

Portanto, o que pretendemos contribuir para o quadro de estudos dos povos pré-

colombianos, trazendo a análise de um tipo de fonte ainda pouco explorada – os filmes – que

praticamente não encontramos em trabalhos relacionados aos maias. Pretendemos aqui,

confrontar a imagem dos maias divulgada no cinema com a historiografia citada.

Ressaltamos que o nosso objetivo principal não é descobrir a "verdade" sobre os maias, e sim

discutir como foram criadas múltiplas imagens sobre este povo.

Trataremos de fazer um trabalho de História Cultural, enfatizando as

representações que circulam sobre um mesmo objeto - os maias.

Através da História Cultural, trabalharemos com a teoria das Representações

Sociais, visto que a imagem expressa no filme constitui uma representação. Assim, podemos

afirmar que a representação é fruto de uma interação ou comunicação entre quem está

reproduzindo tal representação e o público que está recebendo a imagem. Dentre os principais

teóricos que estudaram as representações sociais, podemos citar Moscovici (2003), que afirma

que elas são formas de criação coletiva, implicadas sob as condições da vida social. As

representações são o que hoje nós podemos ver em nosso mundo cotidiano e na mídia.

Outra teoria complementar à teoria das Representações Sociais é a História do

Imaginário. Dubois (1995) analisa a construção das imagens, cujo processo é marcado por um

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sujeito que se projeta ao representar tal objeto, assim, o mesmo perde a sua original forma

absorvendo características do sujeito.

Baseando-nos nessas teorias, inicialmente temos uma hipótese explicativa inicial

para o surgimento da representação dos maias como “bárbaros canibais”, que seria difundida

pela Igreja Católica, que por sua vez, no período da conquista da América, depara com

milhares desses povos vivendo um estilo de vida exótico e com práticas religiosas que, aos

seus olhos, eram totalmente absurdas e assustadoras. Por ser uma religião politeísta, por

praticar rituais de sacrifícios humanos, aos olhos do europeu representava o bárbaro, oposto

ao seu conceito de “civilização”.

Podemos citar a Inquisição que, na Idade Média e Moderna, perseguiu e matou a

todos os considerados hereges. Após a conquista da América, impuseram também aos povos

ameríndios o seu poder. Como eles praticavam ações consideradas opostas ao que pregava a

doutrina católica, também deveriam ser condenados, pois estavam praticando atos

demoníacos. Assim, vemos ainda hoje, no século XXI partículas dessa visão cristã que ainda

influenciam na reconstrução do passado desses povos, vistos como sanguinários e rudes.

A segunda imagem consiste numa visão ufológica ou esotérica que de um lado

coloca os deuses maias como seres que teriam vindo de outros planetas, e por outro, relaciona

a sua religião ao misticismo. Como exemplo disso, podemos citar o calendário maia, as suas

profecias, as pirâmides e seus mitos de criação, que hoje são utilizados por esotéricos e

religiosos como um referencial de suas crenças.

A nossa hipótese inicial é que muitos hoje tentam preencher essas lacunas ou

desvendar esses mistérios, lançando-se a esse tipo de explicações, como por exemplo, a de

que a origem extraterrestre dos maias explicaria a construção das pirâmides, suas formas e

dimensões. A questão da decadência dos reinos maias é também explicada por essa teoria, que

afirma que eles teriam sido levados ou “abduzidos” para outros planetas pelos seres

extraterrestres, assim, desapareceram do planeta misteriosamente sem deixar qualquer rastro.

São essas e outras teorias que tentam explicar determinados mistérios que hoje não foram

ainda esclarecidas pelos pesquisadores da área.

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CAPÍTULO I

ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

1.1. História Cultural

Percebe-se há algum tempo, o aparecimento de uma nova corrente, que trata de

culturas, porém, vários historiadores referiam-se à mesma de maneira diferente. Os primeiros

estudos sobre cultura começaram a ser realizados no século XVIII. De acordo Honor, esses

iniciais estudos compartilhavam a idéia de que “o historiador pinta o retrato de uma época”.

(Honor, 2005, p. 02). No entanto, apenas no final da década de 1980, surge a “nova história

cultural”, trazendo uma abordagem que enfatiza o imaginário e as representações.

De acordo Barros (2005) entende-se por cultura, qualquer produção realizada pelos

seres humanos em relação uns com os outros, ou seja, a linguagem, o modo de vida, as

tradições, etc. Não é apenas um artista ou um intelectual que produz cultura, e sim, qualquer

indivíduo, com suas práticas habituais realizadas no decorrer de sua vida. Desse modo, nesta

vertente são analisados, não somente os mecanismos de produção de cultura, mas também os

mecanismos de recepção, que também são uma forma de produção, constituindo, juntos, um

processo de comunicação, vital para a compreensão do processo de representações.

Podemos atribuir à cultura um conjunto de significados construídos pelo homem

para explicar o mundo, como uma interpretação da realidade. De acordo Pesavento “a

presença da história cultural assinala, pois, uma reinvenção do passado, que se constrói na

nossa contemporaneidade [...]”. (PESAVENTO, 2003, p. 30)

Dentre os principais teóricos dessa linha, podemos citar Darton (1986), que em sua

obra O Grande Massacre dos Gatos, trata, dentre outras coisas, de um massacre de gatos

realizado por operários do século XVIII, que utilizavam um idioma cultural comum, não

compreendido pelos patrões, inseridos em um universo cultural diferente. Pode haver várias

interpretações do massacre dos gatos: uma brincadeira carnavalesca, um protesto pelas más

condições de trabalho, um charivari contra os patrões, etc. Darton não procurou analisar a

"verdade" sobre o massacre dos gatos, mas sim demonstrar as diferentes representações dos

gatos na cultura popular francesa no período do Iluminismo.

Desse modo, podemos dizer que a utilização do conceito de "representação" é

central na história cultural. Os homens passaram a compreender a sua história e sua própria

realidade através das representações construídas sobre o mundo na tentativa de explicá-lo.

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Representar é presentificar o ausente, é reapresentar algo real. “Envolve processos

de percepção, identificação, reconhecimento, classificação, legitimação e exclusão”.

(PESAVENTO, 2003, p. 40). Na verdade, o conceito de "representação" utilizado na análise

social surgiu na sociologia e foi apropriado pelos historiadores culturais. Devido à

importância central que este conceito terá neste trabalho, faremos uma discussão

sistematizada sobre a sua origem e sobre suas principais características.

1.1.1. A Teoria das Representações Sociais

A Teoria das Representações sociais trabalha com o pensamento social em sua

dinâmica e em sua diversidade. Ela afirma que existem formas de conhecer e de se comunicar,

que podem ser guiadas por objetivos diferentes. É objeto de muitos debates e discussões, que

ganharam impulso a partir dos anos 60 e 70. Foi com Moscovici, que iniciou o processo de

compreensão do fenômeno das representações sociais, como uma forma de conhecimento.

A origem sociológica do conceito de representação foi destacada por Pesavento:

“Categoria central da História Cultural, a Representação foi, a rigor, incorporada pelos

historiadores a partir das formulações de Marcel Mauss e Émile Durkheim, no início do séc,

XX”. (Id-ibidem, p. 39)

De acordo Oliveira, Moscovici na verdade ampliou a teoria das representações

coletivas de Durkheim, afirmando que a mesma não levava em conta as sociedades modernas

mais complexas, com sua grande flexibilidade.

As representações coletivas teriam uma existência concreta, que se manifestaria não apenas no comportamento dos indivíduos e na internalização de valores coletivos, mas também na estrutura jurídica e organizacional, nos mecanismos de controle social, nas formas de classificação. A representação coletiva limitaria as tensões entre o indivíduo e a sociedade [...] (OLIVEIRA, 2006, p.6)

De acordo Moscovici (2003), as representações sociais são formas de criação

coletiva, implicadas sob as condições da vida social. Representa o que hoje nós podemos ver

em nosso mundo cotidiano e na mídia, por exemplo, no cinema, onde os filmes estão

permeados de representações coletivas.

Podemos aliar esse conceito de representação de Moscovici ao conceito

apresentado por Grize:

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A representação social era uma forma de conhecimento bem particular, não redutível a um conhecimento científico degradado ou falso. Extrai seus conteúdos de vários campos, funciona por tradução, articulação, empréstimo, semelhança, produz um verossímil para convencer; é paradoxalmente conhecimento/ desconhecimento em relação recíproca com a prática. (GRIZE, 2001, p. 131)

Moscovici discorre sobre o processo de familiarização, que seria o processo de

trazer algo não-familiar a ocupar um lugar no nosso mundo, tornando-se familiar.

As representações que nós fabricamos [...] são sempre o resultado de um esforço constante de tornar comum e real algo que é incomum (não-familiar). [...] E através delas nós superamos o problema e o integramos em nosso mundo mental e físico, que é, com isso, enriquecido e transformado. (MOSCOVICI, 2003, p. 58)

Outra característica importante do conceito de representação é a sua relação com o

simbólico. Sobre isso, destaca Pesavento (2003):

As representações são também portadoras do simbólico, ou seja, dizem mais do que aquilo que mostram ou enunciam, carregam sentidos ocultos que, construídos social e historicamente, se internalizam no inconsciente coletivo e apresentam como naturais. (PESAVENTO, 2003, p. 41)

As Representações Sociais preocupam-se com as leituras que os indivíduos fazem

do mundo em que vivem. Cada pessoa interpreta o mundo de acordo com seus referenciais e

ao comunicar-se com outra pessoa, transmitirá essa sua interpretação de mundo particular.

Esse processo estará, portanto, marcado pela relação entre pensamento individual

e contexto social. “Por isso, pode-se falar de classificação simbólica, que significa traduzir as

coisas em palavras, em símbolos convencionais e comunicáveis”. (SEMIN, 2001, p. 213)

O que Semin quer dizer, é que essa classificação simbólica é a forma pela qual a

cultura e a visão de mundo do indivíduo vai modular a transmissão de determinada

representação. Ele exemplifica, citando o caso de uma pessoa “A” que nasceu no dia 25 de

outubro. Seu caráter poderá ser determinado previamente por outra pessoa “B” que possui

uma crença nos signos do zodíaco, como uma pessoa sob o signo de escorpião.

Tudo o que sabe-se sobre o signo de escorpião será atribuído às ações da pessoa

“A” que passará por sua vez a ser interpretada, pois suas atitudes, serão enquadradas dentro

do perfil de um típico escorpiano.

Assim, a pessoa “B” tentará descrever ou interpretar a pessoa “A”, de acordo seu

prévio conhecimento sobre o signo de escorpião. Portanto, a pessoa “B” construirá uma

representação da imagem da pessoa “A”.

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As representações sociais são consideradas como o produto da interação e

comunicação entre quem produz a representação e o receptor. Moscovici afirma:

Através da comunicação, as pessoas e os grupos concedem uma realidade física a idéias e imagens, a sistemas de classificação e fornecimento de nomes. [...] Toda realidade é a realidade de alguém, ou é uma realidade para algo, mesmo que seja a de laboratórios onde nós fazemos nossos experimentos. (MOSCOVICI, 2003, p. 90)

Portanto, deve ser levado em conta o processo de elaboração e o processo de

assimilação ou compreensão por parte dos receptores.

O processo de elaboração pode ser caracterizado como Moscovici o faz, dizendo

que “uma pessoa ou um grupo procura criar imagens, construir sentenças que irão tanto

revelar, como ocultar sua ou suas intenções, sendo essas imagens e sentenças distorções

subjetivas de uma realidade objetiva”. (Id-ibidem, p.54)

Ou seja, em tudo o que é produzido, nós procuramos encontrar as intenções que

podem estar por trás dessas produções ou os objetivos de determinada representação. Já o

processo de assimilação da representação é realizado pelo receptor da imagem, que por sua

vez assimilará tal representação de mundo, a partir de sua própria cultura e realidade vivida.

As representações são tentativas de “copiar” ou “substituir” determinados objetos.

Portanto, o receptor analisará essa representação a partir do que ele conhece - usando

elementos familiares.

Quando contemplamos esses indivíduos e objetos, nossa predisposição genética herdada, as imagens e hábitos que nós já aprendemos, as suas recordações que nós preservamos e nossas categorias culturais, tudo isso se junta para fazê-la tais como as vemos. (Id-ibidem, p. 33)

De acordo Sperber, a representação possui quatro termos, a representação, o

receptor, o produtor da representação e o conteúdo da representação. Esses quatro termos

estruturam o processo de representação, e devem, portanto, ser analisados: “As representações

tendem a ser transformadas, mais do que reproduzidas exatamente, cada vez que são

transmitidas”. (SPERBER, 2001, p. 101)

Jodelet (2001) afirma que a representação social deve ser analisada levando em

conta os elementos afetivos, mentais e sociais, a presença da linguagem e da comunicação, as

relações sociais e a realidade material e social e sobre a qual elas vão intervir.

A representação social segue as necessidades, os interesses e os desejos do grupo.

Assim, quando percebemos uma grande distância entre o objeto e sua representação, estamos

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diante da marca cultural impressa no processo dessa construção. O que pode aparecer como

uma distorção, modificando o sentido do objeto para adaptá-lo aos desejos e necessidades de

quem o representa.

De modo geral, podemos dizer que os principais analistas da teoria da

representação social afirmam que toda representação se origina de um sujeito (individual ou

coletivo) em relação a um objeto. Jodelet sintetiza dizendo que toda representação é

representação de alguém e de alguma coisa. Toda representação se refere a um objeto, ou a

um fato. O sujeito que a formula está inserido em condições específicas de seu espaço e

tempo. Jodelet então propõe três ordens de fatores em relação ao processo de produção das

representações: “A cultura, tomada no sentido amplo e no mais restrito, a comunicação e

linguagem (intragrupo, entre grupos e de massas), e a inserção socioeconômica, institucional,

educacional e ideológica”. (JODELET apud ARRUDA, 2002, p.152)

Não podemos também deixar de lembrar que as representações sociais são

prescritivas, ou seja, elas são impostas a nós através de uma combinação de estruturas que

existem mesmo antes de nós existirmos. Moscovici afirma que:

É, pois, fácil ver por que a representação que temos de algo não está diretamente relacionada à nossa maneira de pensar e, contrariamente, por que nossa maneira de pensar e o que pensamos depende de tais representações, isto é, no fato de que nós temos, ou não temos, da representação. Eu quero dizer que elas são impostas sobre nós, transmitidas e são o produto de uma seqüência completa de elaborações e mudanças que ocorrem no decurso do tempo e são o resultado de sucessivas gerações. Todos os sistemas [...] implicam um elo de prévios sistemas e imagens [...] que, invariavelmente, reflete um conhecimento anterior. (MOSCOVICI, 2003, p. 37)

Portanto, as representações, uma vez criadas, vão adquirir vida própria e irão dar

oportunidade ao nascimento de novas representações. Os receptores jamais serão passivos e,

ao mesmo tempo, poderão ser influenciados pelos autores, que por sua vez, poderão fornecer

apenas um “alimento” para o pensamento.

De acordo Moscovici (2003) os processos de representações são induzidos por

conjuntos de motivações que virão, não do sujeito, mas de seu ambiente, de sua realidade, de

suas condições, enfim, de fatores externos ligados à realidade do mesmo. A representação

mostra-se como algo re-feito, recém-construído, pois a única realidade existente foi o fato do

passado e que hoje nós o tentamos reproduzir, mas não podemos evitar distorções na

construção dessa representação

[Ezi1][Ezi2]No cinema podemos analisar esse processo, no qual há uma interação ou

comunicação entre os produtores do filme histórico e o público. Por parte dos produtores há

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uma influência ideológica e cultural, em que os mesmos poderão influenciar na mentalidade

social e, ao mesmo tempo, o público, que, ao receber essa influência ideológica, poderá

também olhar para o filme sob a sua ótica. Pois a sua cultura e os aspectos da sua realidade

certamente influenciarão na sua maneira de interpretar o filme.

Jodelet afirma que há uma defasagem entre a representação e o objeto

representado, em termos de distorção, a suplementação e a subtração do objeto.

Distorção: todos os atributos do objeto estão presentes na representação, porém acentuados ou atenuados de acordo as conveniências do grupo [...] Suplementação: consiste em conferir atributos e conotações que não lhe são próprias ao objeto representado, resultando num acréscimo de significações [...] Subtração: Subtração de atributos do objeto. (JODELET Apud OLIVEIRA, 2006, p. 7)

A distorção do objeto é presenciada no filme Apocalypto (2006) no tocante ao

sacrifício humano - que sofre uma acentuação do elemento “selvagem” em detrimento do

“religioso”. Isso também pode ser considerado uma suplementação, uma vez que acrescenta

certas características, não próprias ao objeto representado.

A suplementação está presente também no documentário Eram os Deuses

Astronautas (1972), apesar de trazer consigo uma tentativa de ser - como todos os

documentários – verdadeiro, argumenta que os maias vieram ao mundo através de

colonizações realizadas por seres de outros planetas, tentando difundir uma ideologia

ufológica. Constitui portanto, uma representação dos maias como povos dotados de

conhecimentos arquitetônicos e astronômicos herdados de culturas supostamente mais

avançadas, vindas de outros planetas.

Há nesse caso também uma distorção, ao acentuar os conhecimentos dos maias

sobre a astronomia, a matemática, etc, para justificar implicitamente a hipótese de que seria

impossível para um povo “primitivo” possuir conhecimentos de tal proeza, os quais, portanto,

teriam sido herdados de outras civilizações mais avançadas. Nesse documentário também há a

acentuação de certas estelas (inscrições ou esculturas em pedra) construídas pelos maias, uma

delas, por exemplo, que se assemelha a uma ilustração de um homem em uma máquina

voadora, o que é utilizada para corroborar sua teoria ufológica.

Cabe a nós, portanto, discutir o porquê dessas distorções e encará-las como uma

conseqüência de elementos presentes na sociedade e realidade da produção do filme, além de

mostrar a origem histórica dessas duas representações básicas presentes em cada um desses

filmes: “selvageria” e “deuses astronautas”.

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1.1.2. História do Imaginário

Atualmente, encontramos no Brasil vários estudos relacionados ao imaginário.

Podemos citar, como exemplo, uma monografia de Lindoso (2000) que aborda o imaginário

estereotipado existente sobre o nordeste, principalmente em relação à seca, à cultura popular e

o estilo de vida dos nordestinos.

Langer (2005), em seu artigo Civilizações Perdidas no Continente Negro: O

Imaginário Arqueológico sobre a África, analisa o imaginário construído a partir da

arqueologia, sobre as civilizações perdidas no continente africano. Enfoca a questão do

imaginário europeu sobre as descobertas arqueológicas de grandiosos monumentos, o que

contribuiu para reforçar uma visão colonizadora.

Langer utiliza uma citação de White, que nos chamou muito a atenção, pois seu

objeto de discussão assemelha-me muito ao enfoque de nossa pesquisa: “Poucas coisas são

tão estimulantes à imaginação como a descoberta dos remanescentes de uma cidade

desaparecida ou de uma civilização perdida” (WHITE apud LANGER, 1959). Ou seja, a

descoberta de civilizações antigas originárias de continentes recém-descobertos pelos

europeus estimula a imaginação. Essas civilizações surpreendem por possuírem uma

atmosfera de mistérios instigantes, excitando nossa curiosidade. O imaginário mostra-se

assim, imprescindível para a análise das representações desses povos.

O imaginário é um dos conceitos centrais para a História Cultural. Através da

imaginação, construímos em nosso pensamento imagens de tudo o que vimos ou

presenciamos. Essas imagens não são passivas, pois representam uma interação entre a nossa

forma de pensar e ver o mundo e a realidade exterior.

As imagens constituem uma representação do real, podendo conseqüentemente

transformá-lo ou deformá-lo. “Imagens, sejam gráficas ou pictóricas, são reapresentações do

mundo elaboradas para serem vistas”. (PESAVENTO, 2003, p. 85)

A imagem não é exatamente o reflexo da realidade, mas sim apenas uma

representação e interpretação de algo real, que fora por nós concebido e agora figura-se em

forma de uma nova imagem construída, na tentativa de reconstruir dada realidade. A imagem

torna-se assim passiva de alterações, transformações, pois, ao construirmos essas imagens,

deixamos nossas características particulares influenciá-las. “O imaginário faz parte da

representação como tradução mental de uma realidade exterior percebida [...]”

(LAPLANTINE & TRINDADE, 1997, p. 8). Ou seja, o imaginário reconstrói, traduz

mentalmente a realidade, constituindo uma ponte entre o sujeito e o objeto.

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Dubois caracteriza o imaginário como “o resultado visível de uma energia psíquica

formalizada individual e coletivamente”. (DUBOIS, 1995, p. 21). O imaginário não pode ser

separado da noção de “imagem”, pois a imagem refletida não é a do sujeito que a está

produzindo, e sim, é a imagem do sujeito que se projeta narcisivamente.

Dubois estuda a manifestação do imaginário nas produções científicas ou nas

tentativas de apreender e representar um objeto, analisando o seu discurso, suas técnicas e

seus recursos. “Essas obras são além de tudo trabalhadas do seu interior e permitem ouvir em

surdina uma ‘segunda voz’ além da que discorre e é reconhecida como tal”. (Id-ibidem, p.13)

O desejo de representar determinado objeto se choca com o desejo de divulgar

suas próprias idéias. Assim, o receptor da representação poderá enxergar, não só a sua própria

imagem, como também a imagem do sujeito que a produziu.

Quando representamos, estamos nos referindo a símbolos e não à própria realidade

em si. São as nossas imagens e representações mentais que nos fazem enxergar nos maias

apenas o sacrifício humano, a religião politeísta, a construção de pirâmides, conhecimentos

astronômicos, etc. Assim, constroem-se os estereótipos. Os símbolos evocam também

diversas visões e entendimentos, não apenas de quem os cria, como também de quem os está

observando. Um mesmo símbolo pode representar significações diferentes para cada um que o

observa, mas todos estarão amparados por uma realidade comum representada.

Podemos aliar assim, o “imaginário” às “representações”, visto que a noção de

representação é bastante ampla, englobando todas as formas de abstração, de pensar e de agir,

elementos associados ao imaginário.

De acordo Barros, o imaginário é um campo mais específico e trabalha com as

imagens mentais, visuais e verbais, fazendo parte na construção das representações. As

imagens são criadas para representar algo ou determinada realidade. Assim, o imaginário e as

representações são “dois campos que se invadem reciprocamente”. (BARROS, 2004, p. 92).

Podemos, portanto, considerar o imaginário como um enfoque dado dentro do campo das

representações sociais.

1.2. Análise de Filmes Históricos

A partir da década de 70 o filme começou a ser visto como um possível

documento, esse movimento veio a partir do desenvolvimento da Escola dos Annales,

resultando na chamada “História Nova”. Marc Ferro é o pioneiro dos teóricos da relação

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cinema-história. Ele trabalha com a leitura histórica do filme, levando em conta o período no

qual o filme foi produzido. De acordo Ferro (1976)

[...] empreender a análise de filmes [...] É necessário aplicar esses métodos a cada substância do filme, (imagens, imagens sonoras, imagens não sonorizadas), às relações entre os componentes dessas substâncias; analisar o filme principalmente a narrativa, o cenário, o texto, as relações do filme com o que não é o filme; o autor, a produção, o público, a crítica, o regime. Pode-se assim esperar compreender não somente a obra como também a realidade que representa. (FERRO, p.203, 1976)

O filme é um documento histórico, sendo o testemunho da sociedade que o

produziu. De acordo Nova:

Qualquer reflexão sobre a relação cinema-história toma como verdadeira a premissa de que todo filme é um documento, desde que corresponde a um vestígio de um acontecimento que teve existência no passado, seja ele imediato ou remoto. [...] O filme, seja qual for, desde então, passou a ser encarado enquanto testemunho da sociedade que o produziu, como um reflexo – não direto e mecânico – das ideologias, dos costumes e das mentalidades coletivas. (NOVA, 1998, p. 01)

O filme se torna o testemunho do presente, ou seja, sua produção será

influenciada por elementos atuantes na época em que foi produzido.

A sociedade e a realidade da época vão exercer um papel significativo no

processo de produção do filme. Além disso, também exercerão influência a vida, a cultura e

os recursos materiais disponíveis dos produtores do filme, bem como o público-alvo, a

censura, e muitos outros aspectos exteriores.

Há uma comunicação entre quem cria o filme e quem o assiste. O filme

Apocalypto (2006) é um exemplo que analisaremos mais a fundo no decorrer deste trabalho,

pois o mesmo está recheado de representações dos "maias", que evocam a “barbárie”, sendo

que esta visão preconceituosa pode estar relacionada a vários elementos presentes na vida do

diretor e na sociedade em que o filme foi produzido e também numa uma tradição histórica

que remonta à chegada dos europeus à América.

De acordo Nova (1998) a sociedade exerce decisiva influência sobre os filmes,

mas ao mesmo tempo, ocorre também uma reciprocidade. O cinema por sua vez exerce

influência na sociedade, então é preciso que se tenha consciência dessa relação dialética entre

cinema e público.

Enfim, para que o filme possa ser utilizado produtivamente, como fonte histórica,

devemos de acordo Langer (2004) fazer uma análise que englobaria cinco etapas: a primeira

seria Definição do objeto e tema de pesquisa, momento em que se deve realizar leituras sobre

o conteúdo histórico tratado pelo filme. A segunda etapa refere-se à Seleção do filme,

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momento no qual será feita a seleção do (s) filme (s) a ser analisado (s), bem como o seu valor

comercial, verificando se o(s) mesmo(s) possui(em) um valor comercial. A terceira etapa

consiste na Crítica Externa, que será o momento de realizar a análise do cartaz, levantamento

da biografia do diretor, comparação da película com as demais produções dirigidas pelo

mesmo diretor. A quarta etapa consiste na Crítica Interna, momento em que se realizará a

análise propriamente dita, levando em conta os detalhes da produção: os diálogos, o figurino,

os conteúdos explícitos e implícitos, cenário, análise das conexões entre o filme e a sociedade

do período no qual foi produzido, modelos de heróis (característica muito comum nos filmes

holywoodianos), público-alvo, receptividade do público geral, críticas recebidas, estereótipos

e conteúdo inconsciente que pode estar presente. A quinta e última etapa consiste na ponte em

que deve ser feita a análise do filme com a realidade da sociedade na qual foi produzido.

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CAPÍTULO II

OS MAIAS NO FILME “ APOCALYPTO”

2.1. Os Maias Representados pelos Europeus

Com o advento do cristianismo e sua conseqüente difusão na Europa, estabeleceu-

se uma nova ordem regida pela igreja católica, que se tornou a mais poderosa instituição

européia. Durante o final da Idade Média, a Igreja manteve seu domínio religioso, político,

cultural e ideológico consolidado pelas práticas inquisitoriais contra as heresias, que seriam

toda forma de expressão pagã ou qualquer manifestação ameaçadora da ordem católica.

Nesse contexto, na Espanha, “Guerras santas” travadas contra os “infiéis”

começaram a ser realizadas pelos seguidores de Deus. Inicialmente a guerra contra os mouros

significava a expansão do cristianismo e a derrota dos infiéis, a superioridade do sangue

espanhol em relação ao muçulmano e aos demais povos do mundo.

Para Ferreira (1992) com o advento da expansão marítima européia e a

conseqüente conquista da América, por volta do século XV, uma nova “guerra santa” começa

a ser travada contra os “infiéis” – os ameríndios. Anteriormente o infiel era o seguidor de

Maomé, agora, os americanos e seus altares pagãos. A violência era coerente a uma cultura

conquistadora, legitimada pela junção de um ideal religioso de cruzada com um ideal

econômico, o que legitimou a figura do colonizador e desbravador de novas terras.

Yucatán, território habitado pelos maias, foi conquistado por volta de 1517 por

Francisco Hernández de Córdoba. De acordo Guirao (1983) os maias reagiram ao ataque

espanhol e Córdoba fora ferido, ordenando a retirada. Posteriormente foram organizadas

novas expedições à região de Yucatán, lideradas por Grijalva e Hernán Cortez. Um sumo-

sacerdote sacrificou o capitão Valdívia e outros quatro espanhóis, arrancando-lhes o coração.

Depois, num ritual antropofágico, devoraram-nos. Os demais espanhóis tentaram escapar, um

foi ferido, outro foi comprado como escravo. Assim, vemos o espanto que os espanhóis

tiveram, ao se deparar com essa maneira de se sacrificar os inimigos, principalmente depois

de um nobre “participar” desse ritual.

Nessas primeiras expedições às regiões mesoamericanas, Bernal Diáz de Castillo,

escreveu a História verdadeira da conquista de Nova Espanha, na qual procurou relatar a

conquista, glorificando-a numa façanha épica. Assim escreveu uma obra que glorifica a

civilização diante da selvageria. Assim ele descreve:

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Nesse momento [...] a grande multidão de índios nos atacava furiosamente [...] Assim que vimos os cavaleiros, caímos sobre os índios com tanta energia que, atacando nós por um lado e os cavaleiros por outro, logo aqueles se puseram em debandada. Os índios acreditaram que o cavalo e o cavaleiro eram um só animal, pois nunca tinham visto cavalos até aquele momento. (História verdadeira da conquista de Nova Espanha In. GUIRAO, 1983, p. 106)

Outro conquistador, o bispo Diego de Landa, nomeado em 1553 bispo de Yucatán,

também demonstra, em sua obra, um grande preconceito em relação à religião dos maias,

tratando-a como demoníaca.. Escreveu a Relação das coisas de Yucatán relatando que:

Estas pessoas empregavam certos sinais ou certas regras com os quais inscreviam, em seus livros, a história antiga e suas doutrinas. [...] Encontramos grande número desses livros e como não continham senão superstições e mentiras diabólicas, os queimamos todos, apesar do grande desgosto e desespero dessas gentes. (Relação das coisas de Yucatán In. GUIRAO, 1983, p. 9)

López Medel foi outro escritor que se assemelha a Diego de Landa pela sua

maneira de relatar os indígenas. Observou atentamente o comportamento dos indígenas e dos

conquistadores, escreveu a obra Dos Três Elementos, por volta de 1570. Nessa obra, ele

propôs descrever o Novo Mundo, expressando uma visão evangelizadora, na qual os

espanhóis desempenham o papel de salvar as almas, pregando o evangelho. Ele difere de

Diego de Landa no sentido de se posicionar como um defensor dos índios, acreditando que

eles deveriam ser protegidos e evangelizados para se libertarem do demônio. Podemos

perceber isso em certos fragmentos de sua obra:

No México, Yucatán, Guatemala e em todas aquelas províncias próximas, a idolatria chegava a seu ponto máximo e o demônio se servia muito daquela gente. [...] essas idolatrias e falsas religiões, por esses horrendos e ferinos costumes, aquele perverso satã, antigo inimigo do homem, trazia e exercitava aquela miserável gente das Índias e nesse miserável estado os manteve por muitos séculos, até que a piedade de seu Criador fez o bem de lhes comunicar sua graça e Evangelho, com o qual tudo isso parou bastante, e pela bondade de Deus acabará completamente. Isso que referimos não é por ódio daquela pobre gente, a quem desejamos a benevolência de todos os homens do mundo, mas para que vejam a criatividade do demônio e para que entendamos a miséria e desventura na qual pode cair e chegar um miserável homem, afastado de Deus e carecendo dele. (MEDEL apud CHWAT, 2007, p.204; 218)

Houve algumas obras que denunciaram os maus tratos sofridos pelos indígenas,

como por exemplo, os relatos do Frei Bartolomeu de Las Casas, que abriu uma enorme

discussão sobre o bem-estar do índio, pregando urgentemente uma necessidade de repensar a

política colonizadora. De acordo Elliot (1998) foram propostas muitas práticas na tentativa de

suavizar as condições dos índios, mas, devido às dificuldades financeiras da Coroa, o lucro

falou mais alto do que o bem-estar indígena. Por outro lado, a defesa dos indígenas realizada

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intensivamente por Las Casas, o “célebre protetor dos índios” (MAHN-LOT, 1990, p. 119)

resultou na “Lenda Negra”: uma vez os pagãos convencidos da falsidade de seus ídolos,

destruiriam-nos com suas próprias mãos. Esse novo tipo de representação apresenta os

ameríndios como inocentes, ignorantes e que não deveriam ser tratados com violência e sim,

deveriam ser evangelizados pelos jesuítas e protegidos pela própria Coroa espanhola.

A exploração sofrida pelos indígenas e sua marginalização atravessou todo o

período colonial e pouco diminuiu com as independências da América Espanhola ocorridas no

século XIX. Com o rompimento dos laços coloniais, as elites fascinadas pelo padrão de vida

europeu, alimentaram uma personalidade racista já bastante difundida. Por não se submeterem

ao trabalho, os indígenas eram considerados “preguiçosos”, alheios à idéia de progresso,

muito em voga após a difusão das idéias iluministas. Após a Revolução Francesa, essas idéias

difundiram-se para a América, fazendo com que a vida européia fosse o padrão a ser seguido.

Os laços coloniais foram se extinguindo e a Igreja continuou viva. A imigração

européia passou a ser exaltada na América e restou à população indígena refugiar-se nas

selvas ou nas montanhas.

Por isso, Martins (1992) afirma que há uma “contínua conquista”, pois a conquista

ainda não terminou. Ele propõe um debate sobre as conseqüências da conquista, que teria nos

contaminado, tornando impossível a possibilidade de mudança.

O grau de continuidade na América Latina antes e depois da independência, nos

setores social, econômico e cultural é óbvio e esmagador. A evolução geral da sociedade

continuou seguindo as mesmas linhas de antes. Em geral, alguns governos recém-

independentes aboliram as distinções étnicas, mas isso não tornou todos os cidadãos “iguais”.

O pensamento cristão colonizador perdura até a contemporaneidade, estando presente em

filmes como Apocalypto.

2.2. A Representação dos Maias em Apocalypto

Apocalypto conta a história de Garra de Jaguar, um jovem (provavelmente um

maia)1 de uma pequena aldeia no México, por volta do século XVI. Sua aldeia é atacada por

um grupo de guerreiros maias que habitavam uma região próxima, matando e escravizando a

todos. Os sobreviventes do ataque são então levados até uma grande cidade, alguns para

1 Garra de Jaguar faz parte de uma aldeia maia, visto que o termo “maia” é utilizado para designar todos os povos que habitavam a região da Península de Yucatán e que falavam a mesma língua, de acordo Akkren (2005). Assim, ambos os povos caracterizados habitavam em lugares próximos e falavam a mesma língua.

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serem vendidos e outros para serem sacrificados aos deuses que castigavam o povo com

miséria, fome e catástrofes.

Os prisioneiros da aldeia chegam a uma grande cidade, conhecida apenas pelos

rumores de terra lendária de pedra, de onde saía sangue do chão. Quando os homens vêem

templos altos dos quais rolam as cabeças dos sacrificados, transparece o medo em seus olhos.

Garra de Jaguar consegue escapar dos sacrifícios, corre pela floresta fugindo dos seus

captores, numa alucinante seqüência de ação. No final do filme, o final feliz para o herói, bem

à moda hollywoodiana.

No momento final, os guerreiros se encontram na praia, se esquecendo até mesmo

de perseguir Garra de Jaguar ao avistarem as caravelas dos europeus. Enquanto isso, Garra

de Jaguar resgata sua família, buscando uma nova vida noutro lugar. Já os seus perseguidores

ficam na praia, pasmos, sem entender o que era aquilo que se aproximava. Do modo em que

foi construída a cena, aquele momento representaria a chegada da “civilização” que viria

“salvar” aqueles povos ignorantes. A imagem, inclusive, mostra numa das caravelas um padre

portando uma cruz, demonstrando um cristianismo expansionista. (Ver Figura 1 em Anexo I)

2.2.1. Crítica Externa

Conforme, a recomendação de Langer (2004), na crítica externa de um filme, é

importante destacar o cartaz de divulgação e a biografia do diretor.

O cartaz do filme é obscuro. O céu escurece-se pelo eclipse do sol. No filme o

eclipse aparece no momento em que estão se realizando os sacrifícios humanos, o que

significaria assim, um sinal dos deuses. O Popol Vul, livro sagrado dos maias relata a

aventura dos heróis-deuses que subiram ao céu e se converteram no sol e na lua. De acordo

Thompson (1991) Xbalanqué (que significa o deus “jaguar”, ou o “sol jaguar”) configura o

deus sol, uma figura masculina e marido de Hunahpú, deusa lua, por sua vez uma figura

feminina. Após o eclipse que ocorreu exatamente no momento do ritual de sacrifício, o

sacerdote que realizava o ritual interrompeu o ato, dizendo que o deus já teria se saciado e que

não precisaria mais de sacrifícios naquele momento. De acordo Gendrop (1998) os destinos

dos homens eram controlados pelos deuses e seus conhecimentos astrológicos e astronômicos

eram utilizados para orientar as atividades e para pressagiar os desejos dos deuses. Ou seja,

eles utilizavam seus conhecimentos astronômicos acreditando prever certos “sinais” divinos.

No momento em que ocorre o eclipse, os ameríndios se assustaram, como se não o

conhecessem ou não esperassem que o fenômeno ocorreria naquele momento. Inclusive o

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sacerdote diz a eles para que não se assustassem e não se preocupassem, pois aquilo seria um

bom sinal de Kukulkán. A surpresa dos indígenas com o eclipse é um anacronismo, uma vez

que o conhecimento astronômico dos maias era bem desenvolvido, principalmente na

previsão dos eclipses.

Além disso, na imagem expressa no cartaz do filme, um guerreiro maia aparece à

frente de outros. Com a cabeça baixa, como se estivesse cansado ou derrotado, carrega um

punhal em suas mãos. É a personagem derrotada por Garra de Jaguar, o que, em termos

cinematográficos, configuraria a vitória do “herói” sobre o “bandido”. Mas essa “derrota”

pode ser interpretada também como uma alegoria da derrota dos maias pelos europeus. (Ver

Figura 2 em Anexo I)

O nome do filme é uma expressão em latim que significa “um novo começo” -

Apocalypto. A chegada dos europeus seria um novo começo ou um fim? O nome do filme,

desse modo, pode justificar a idéia de glorificar a colonização.

A frase “ninguém pode fugir de seu destino”, na parte inferior do cartaz, corrobora

a idéia da predestinação da conquista européia. O destino maia estaria traçado, fato inclusive

que aparece no filme, quando uma garota profetiza: “Cuidado com a escuridão do dia.

Cuidado com o homem que traz a onça... porque ele o levará ao seu fim”. O fato foi ignorado

pela maioria dos guerreiros, que não deram atenção à menina. E de fato, a profecia se cumpre.

Era o destino dos maias serem conquistados, talvez como castigo a seus pecados, já que eram

malvados, indolentes e que destruíram outras aldeias vizinhas, capturando e matando a todos.

Mel Gibson, diretor de Apocalypto, produziu também o filme A Paixão de Cristo

em 2004, no qual discorreu sobre as últimas doze horas da vida de Jesus Cristo. O filme gerou

enorme polêmica: seus críticos acusaram-no de anti-semita, por culpar exclusivamente os

judeus pela morte de Jesus, gerando, inclusive, a oposição de grande parte da comunidade

judaica norte-americana.

Acreditamos que esse caráter anti-semita, que Gibson imprime em A Paixão de Cristo,

também está implícito em Apocalypto. A cidade maia pode muito nos lembrar um campo de

concentração nazista, estereótipo que reforçaria a impressão de maldade dos maias, “tão

perversos” quanto os nazistas.

Além disso, quando um sacerdote maia, com mãos encharcadas de sangue após

retirar corações dos sacrificados, dirige-se à multidão histérica aos berros: "Nós somos o povo

escolhido!", não poderia ser uma alusão irônica ao povo judeu? À falta de provas concretas do

caráter anti-semita do filme, é certo que Gibson já demonstrou comportamentos anti-semitas.

Segundo uma reportagem, quando ele foi flagrado, ao dirigir embriagado por um policial

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judeu, no momento em que era retirado do carro, Gibson gritou "malditos judeus" e "os

judeus são responsáveis por todas as guerras do mundo". Posteriormente, arrependido, Mel

Gibson foi à TV americana para desculpar-se das declarações anti-semitas 2.

Assim, lembramo-nos da teoria de Moscovici que afirma que uma pessoa, ao

construir imagens, repassa idéias que revelarão suas intenções. Isto acarreta uma distorção,

modificando o sentido do objeto representado, adaptando-o aos valores de quem o produziu.

Isso explica as possíveis influências anti-semitas presentes no filme.

Encontramos também uma explicitação das imagens violentas. Há um prazer

mórbido da câmera pelo detalhe sórdido. Em A Paixão de Cristo, percebe-se isso nos

momentos da crucificação de Jesus e em Apocalypto presenciamos nas cenas da captura dos

cativos e nos sacrifícios humanos. A violência, a dor, a morte, se concentram na imagem.

Em uma entrevista, Mel Gibson afirmou o que pensa sobre a sociedade maia: “A

civilização maia era uma sociedade muito sofisticada que ao mesmo tempo, era bastante

selvagem". (GLOBO NOTÍCIAS, 2007)

Gibson também afirmou ter-se inspirado no livro do franciscano espanhol Diego

de Landa, Relación de las cosas de Yucatán, (anteriormente citada no presente trabalho ao

referirmos às representações criadas no período da conquista da América), o que legitimaria o

caráter conquistador e preconceituoso em relação aos indígenas. Dessa forma, presenciamos

no século XXI a persistência de representações criadas no século XVI, pois Gibson recorre à

mesma obra para construir a trama de seu filme e a repassa assim à sociedade.

2.2.2. Crítica Interna

Inicialmente, podemos analisar as críticas recebidas pelo filme, uma delas afirma

que a civilização dos maias já não existia no período da conquista da América. Assim, o filme

teria caído num anacronismo, pois os europeus encontraram os astecas ao invés dos maias.

No entanto, isso é controverso na historiografia. Alguns autores afirmam que os

maias já haviam sido extintos e após a sua decadência, migraram de suas cidades e foram se

penetrando e se misturando aos astecas, povos com os quais os europeus tiveram seu primeiro

contato. Assim, os europeus não poderiam ter entrado em contato com os maias, apenas com

os astecas. Dentre esses autores, Gendrop (1998) afirma que no momento em que os

espanhóis entraram em contato com pertencentes ao ramo maia, já se fazia sete séculos da

2 Estas informações foram obtidas numa reportagem da Folha On Line, por Presse (2007), disponível em: <http://press.jrc.it/NewsExplorer/entities/pt/3311.html>. Acesso em: 24 jul. 2007.

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decadência do esplendor clássico maia, e as cidades já encontravam-se em ruínas, devoradas

pela floresta tropical. Nesse caso, de acordo essas teorias, o filme cometeu uma deturpação

historiográfica, pois deveria retratar os astecas e não os maias.

Há também teses que concordam com a decadência maia no período da conquista.

Para Guirao (1983) a maioria das cidades encontrava-se já abandonadas e perdidas na densa

selva, mas havia ainda resquícios dessa civilização como algumas cidades - Chichen-Itzá na

Península de Yucatán - que estavam passando por um processo de decadência, sendo

dominadas por outros povos, como os astecas. Dorado (2004) afirma que os maias perduraram

até a chegada dos invasores europeus no século XVI. No filme os maias estavam sofrendo

com uma grande seca causada pelo desmatamento em torno de suas cidades, trazendo com

isso fome e epidemias. Assim, Gibson estaria sendo fiel à historiografia, quando relata o

contato dos maias com os europeus.

Em relação ao figurino utilizado nas personagens, podemos fazer uma comparação

através da caracterização de Meggers (1979): os maias usavam altos penteados, com longas

penas de quetzal, vestes decoradas, sandálias com amarrações, colares, braceletes, pendentes e

adornos de orelha de jade. O filme também mostra-se fiel ao ilustrar os adornos utilizados.

(Ver Figuras 3 e 4 em Anexo I)

Percebemos também em seus corpos marcas feitas como incisões na pele, que

eram normalmente praticadas pelos mesmos como auto-flagelação - fato comprovado pela

historiografia e achados arqueológicos - já que o sacrifício era visto como algo sagrado.

Há cenas em que os cativos são pintados de azul antes de se realizar o sacrifício, o

que também é pertinente com a historiografia acadêmica. Pois de acordo Thompson (1991),

os cativos eram pintados com uma cor azul, a cor dos deuses da chuva, os Chaacs. Marca a

dependência dos maias em relação aos deuses para garantir-lhes o cultivo, por isso, a

preocupação em se agradar os deuses da chuva. (Ver Figura 5 em Anexo I)

Apesar de manter-se fiel à historiografia nesses aspectos, o filme traz uma

ideologia cristã por detrás de toda essa caracterização, fato que podemos comprovar através

da análise dos três tipos de representação esquematizado por Oliveira (2006): a distorção, a

suplementação e a subtração.

Em alguns momentos encontramos uma distorção do objeto, acentuando ou

atenuando certos elementos; em outros momentos, a suplementação que o permite conferir

certos atributos que não são próprios do objeto e a subtração que oculta certos elementos.

A escravidão é enfatizada no filme: os prisioneiros eram vendidos como escravos

ou levados para o sacrifício humano. Ao serem capturados, eram atados e colocados da

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seguinte forma: “grande número de escravos homens e mulheres, muitos dos quais estavam

atados pelo pescoço, com gargalheiras, a longos paus”. (CASTILLO apud MEGGERS, 1979,

p. 96) (Ver Figura 6 em Anexo I)

Esse caráter escravizador e guerreiro dos maias é exagerado. A índole guerreira

dos maias é distorcida, como sendo conseqüência de baixos valores humanos e morais. Os

guerreiros maias invadem a aldeia, cativam a todos, matam, violentam, num lugar onde

viviam famílias felizes, monogâmicas e com valores familiares muito parecidos com os

valores cristãos. Os cativos não compreendem a razão daqueles atos. Garra de Jaguar assiste

a seu pai sendo assassinado pelos guerreiros, num ato de extrema maldade. É mais uma das

cenas violentas, de sangue, que causa horror e choca a quem assiste. Um drama vivido pelo

principal personagem, como todo filme hollywoodiano, em que os “heróis” sempre sofrem

nas mãos dos “bandidos” e no final conseguem vencê-los. (Ver Figura 7 em Anexo I)

A questão da venda de escravos nos permitiu também perceber uma alusão, em

termos de estereótipo, ao Império Romano, expansionista e escravizador de outros povos.

Assim os maias são colocados no filme como expansionistas e escravizadores, já que a

maneira de se tratar os escravos, vendendo-os, muito se parece com os romanos. Lembrando

que no início do filme, o diretor coloca uma frase de um famoso historiador, Will Durant:

“Uma grande civilização não é conquistada até que ela tenha se destruído por dentro”.

No seu livro História das Civilizações Durant se refere ao Império Romano ao

fazer essa afirmativa. O Império Romano caiu devido às suas questões internas, pois uma

civilização só pode ser dominada se antes estiver se ruindo por dentro, por questões como

falta de administração, desunião, guerras internas, etc. Os problemas internos do Império

Romano foram as causas de sua decadência. Da mesma forma, ocorreu com o “Império Maia”

assim retratado no filme.

Essa referência aos romanos se dá não apenas nessa citação de Durant, na maneira

de se escravizar e no expansionismo bélico, mas também na utilização dos escravos como

“espetáculo de diversão”. Em certo momento do filme, os soldados maias levam os cativos

para um campo onde realizam um “jogo”, numa diversão, aniquilando os demais escravos que

não foram sacrificados. Eles ordenam que os prisioneiros corram nesse campo em direção ao

milharal, prometendo que estariam livres se o alcançassem. Mas na verdade, no momento em

que o escravo corria em direção ao milharal, os soldados maias lhe flechavam pelas costas,

disputando entre si quem conseguia acertar o maior número de escravos, como num jogo (Ver

Figura 8 em Anexo I). Esse momento do filme lembra muito os romanos ao se divertirem com

os espetáculos no Coliseu com as lutas entre gladiadores.

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Essa alusão aos romanos é uma forma de suplementação por meio de estereótipos.

Como não se tem um conhecimento pleno dos maias, é necessário suplementá-los com

estereótipos de outros povos.

Podemos encontrar, em certos momentos, conceitos estabelecidos pelo catolicismo

também, como, por exemplo, quando os cativos estão sendo levados à cidade maia, uma anciã

cativa faz orações à deusa Ix Chel (deusa da lua, considerada a “mãe protetora”). Essa oração

à deusa muito nos lembra as orações à Virgem Maria, santa que protege os fiéis católicos. De

acordo Thompson (1991) a deusa Ix Chel é associada à Virgem Maria pelos europeus, pois

possui muitas características em comum, como a idéia de “mãe virgem”.

A maneira como os maias lidavam com os corpos dos sacrificados passa uma

imagem extremamente bárbara. Decepavam as cabeças e, de fato, jogavam os corpos pelas

escadarias das pirâmides. As cabeças por sua vez eram colocadas em estacas, fato

comprovado por Thompson (1991). (Ver Figura 9 em Anexo I)

Stuart por sua vez, discorre sobre os corpos jogados pelas escadarias dos templos:

Los dos métodos de sacrificio más comunes entre los mayas fueron la decapitación y el despeñamiento de víctimas, atadas, por las escaleras de los templos. Esta última forma se menciona explícitamente en un diccionario colonial maya yucateco con el término cucul eb (literalmente: “rodar escaleras abajo”) [...] Esta práctica se puede ver en varias esculturas del periodo Clásico de Yaxchilán, donde los prisioneros asumen la forma de grandes pelotas ceremoniales, en un contexto en el que se recrea explícitamente la imaginería del juego ceremonial de pelota. (STUART, 2005, p.26)

Após esses atos, nas imagens do filme, os corpos jogados ficavam num amontoado

de cadáveres em apodrecimento, em uma região próxima à cidade, demonstrando uma

extrema falta de valores éticos e ambientais. De acordo a historiografia, os corpos na maioria

das vezes, eram entregues aos animais ou colocados dentro de cavernas. Nesse momento,

encontramos a representação por suplementação, que confere ao objeto características que não

lhe são próprias. É provável que seja uma adição de um estereótipo relacionado ao holocausto

nazista ao filme. (Ver Figura 10 em Anexo I)

Outra característica que remete a esse tipo de representação é o momento em que

os cativos são levados à cidade maia, as imagens trazem uma panorâmica da população de

uma maneira bem detalhista, mostrando péssimas condições de organização e de higiene.

Numa cena, vemos um fruto que estava no chão, decomposto e coberto por vermes, o que

choca o espectador e atribuir às cidades maias uma característica que não possuía. (Ver Figura

11 em Anexo I)

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Outras imagens enfatizadas foram momentos em que algumas crianças brigavam

por um pedaço de carne, um paralítico roubando uma fruta, um cidadão comendo um fruto,

demonstrando péssimas maneiras e falta de higiene. A função dessas cenas é mostrar a fome

vigente entre os maias no período em que chegaram os europeus, o que é pertinente com os

estudos acadêmicos, que aludem a secas que assolaram a região yucateca. Mas a briga por

carne, o roubo, e as péssimas maneiras de se alimentar também mostram uma cidade em total

desordem. (Ver Figuras 12, 13 e 14 em Anexo I).

O filme mostra também cenas de um idoso doente que se arrasta aos pés das

pessoas e de um homem com deformações físicas. Um dos guerreiros maias tenta fazer com

que o velho se afaste deles e diz: “Morra como um homem”. Isso mostra más condições na

periferia da cidade, o elitismo e um caráter de sociedade maquiavélica, preconceituosa e

excludente. É o que mostra as imagens em anexo, mais uma vez procurando passar a quem

assiste uma visão anômala da sociedade maia. (Ver Figuras 15 e 16 em Anexo I)

Encontramos a representação por subtração no que tange aos conhecimentos

astronômicos, matemáticos e a escrita maia. Não encontramos nenhuma referência a essas

habilidades no filme. Gibson esqueceu-se delas ou procurou omiti-las para tentar passar uma

imagem de selvageria total.

Tratando especificamente dos sacrifícios humanos, vimos que apenas os cativos de

guerra eram sacrificados involuntariamente. De acordo a historiografia, havia também casos

de voluntários - não escravos - que se entregavam aos sacrifícios, acreditando numa vida

eterna, numa recompensa posterior. De fato não presenciamos esses casos no filme, pois todos

os sacrificados foram levados contra a sua própria vontade, morrendo até mesmo sem

conhecer a razão daquilo.

O tempo levado para ilustrar o ritual de sacrifício humano não leva mais de sete

minutos, mas são momentos aterrorizantes a quem assiste. Num clima de expectativa, o receio

do que acontecerá com Garra de Jaguar é típico do suspense dos filmes de terror. O medo

impresso na feição de cada vítima, o povo que assiste ao espetáculo, gritando numa excitação

religiosa contribuem para gerar uma sensação de angústia nos espectadores.

A maior parte do filme explora os momentos em que os cativos são levados à

cidade e os sofrimentos a que são submetidos. Outra parte bem realçada é a fuga de Garra de

Jaguar, perseguido por vários guerreiros maias. O herói, nesse momento, passa por vários

obstáculos na selva ultrapassando todos e, no final, consegue escapar dos seus inimigos. Estas

cenas de perseguição intensa pelas selvas duram quarenta minutos, demonstrando uma

postura obsessiva por parte dos guerreiros maias que não descansavam enquanto não

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conseguiam encontrá-lo. Levar quarenta minutos numa perseguição enfatiza ainda mais a

maldade do guerreiro maia e justifica o filme ser falado em maia yucateco, já que não

necessita realmente de diálogos intensos para a sua compreensão. As cenas de ação são as

principais, sendo muito mais importantes para o entendimento do filme do que os diálogos.

Na questão que aborda a teoria de cinema, vimos que o filme é um documento de

sua realidade. Ele incorpora e difunde elementos presentes na sociedade que o produziu.

Podemos perceber isso na fala de Mel Gibson:

Nós descobrimos que aquilo que os arqueólogos e antropólogos acreditam é que os problemas desafiadores enfrentados pelos Maias são extraordinariamente semelhantes àqueles que são enfrentados por nossa própria civilização, especialmente no que diz respeito à degradação ambiental em grande escala, consumo excessivo e corrupção política. (GIBSON apud CATÃO, 2007)

Assim ele traça um paralelo entre a realidade de hoje e a realidade da época. Isso

mostra de que maneira o filme pode ser considerado como testemunho da sua própria época.

A partir do ano de 2006, período em que o filme foi produzido, percebemos catástrofes

naturais ocorrendo no planeta e a grande preocupação da sociedade quanto aos fenômenos que

até hoje não podem ser impedidos, como maremotos, furacões e tornados principalmente na

região dos Estados Unidos. Assim, vemos essa alusão que o diretor faz à nossa realidade

atual, que influenciou por sua vez a produção do filme.

Os descendentes de maias que mantêm viva parte de suas tradições acusaram o

diretor Mel Gibson de representá-los como selvagens. Encontramos isso em uma reportagem:

Ativistas do setor indígena da Guatemala dizem que o filme "Apocalypto" é racista. [...] líderes dizem que as cenas mostrando maias amedrontadores, com adornos de ossos, lanças, e sacrificando humanos promovem estereótipos em relação à sua cultura. [...] Mais da metade da população da Guatemala descende dos maias originais. Eles enfrentam discriminação freqüente e a maioria vive na pobreza, com pouco acesso a educação e a serviços sociais. (ROSENBERG, 2006)3

Essa reportagem comprova a tese de que atualmente os indígenas sofrem

preconceito, exclusão, discriminação e degradação social. São até hoje vistos como selvagens,

inclusive pelos governos latino-americanos.

O diretor, ao produzir esse filme, apesar de caracterizar com fidelidade histórica

certos elementos da cultura maia, projeta e repassa sua visão ao público. Estes por sua vez

possuem também seus preconceitos arraigados contra os indígenas. O público recebe essa

3 Reportagem encontrada no site uol por Rosenberg (2006), disponível em: <http://cinema.uol.com.br/ultnot/2006/12/07/ult26u22949.jhtm>. Acesso em: 26 jul. 2007.

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representação como um referencial de seus conhecimentos históricos, assim há um processo

de legitimação, através dessa comunicação que há atualmente entre o filme e a sociedade.

Esses filmes mostram o que o público quer ver, a violência, que causa ao mesmo

tempo horror, fascínio e chama a atenção no momento em que vemos a violência explícita em

nossa sociedade. Mostra a representação que é concebida após uma comunicação entre o

público que pede violência e o diretor que procura então colocá-la para que seu filme tenha

mais bilheteria. Para Jodelet (2001) os receptores jamais serão passivos e o autor da

representação (que nesse caso é o filme) pode agir no sentido de influência, dando elementos

à imaginação do público.

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CAPÍTULO III

OS MAIAS EM “ ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS”

3.1. A Dificuldade do Documentário

A obra “Eram os Deuses Astronautas”, por ser um documentário, necessita de

todo um cuidado metodológico particular quanto ao seu uso como documento histórico,

diferenciando-se dos filmes de ficção, no que tange ao uso como documento histórico.

De acordo Brasil (2007) muitas vezes o documentário é utilizado como uma

“prova da verdade”, por utilizar imagens reais do objeto e por seu caráter científico. No

entanto, perguntas e questionamentos aparecem quanto à veracidade do documentário. Mas de

acordo SALLES (2005) as respostas ainda são insatisfatórias. O que se sabe é que o

documentário é complexo, sendo resultado do senso comum, de uma crítica jornalística,

possuindo um processo de montagem, escolha de materiais, etc. “Documentário é a maneira

como o espectador vê o filme”. (SALLES, 2005, p. 60). Não apenas os métodos de criação e

filmagem do documentário são determinantes na análise de sua veracidade. A maneira como o

espectador olha para o filme também pode ser fundamental.

A realidade que aparece é construída pela autoria, que se manifesta tanto no

momento das filmagens, quanto posteriormente. O imaginário do espectador também

determina a sua maneira de conceber o documentário.

Então podemos dizer que o documentário é, por um lado, um registro de algo real

e, por outro lado, uma construção narrativa, pois o modo de narrar o fato e o seu discurso

representa um grande problema do documentário.

Do mesmo modo que os filmes de ficção utilizam câmera lenta, trilha sonora,

animações, também o documentário utiliza essas técnicas de edição de filmes, que não são

técnicas da ficção e sim, técnicas de cinema, utilizadas por todos os tipos de filmes.

O processo de manipular imagens contradiz, evidentemente, o pensamento ou a suposição de que tudo que se assiste em um filme documentário poder ser encarado como verdade. Por isso, a melhor definição de documentário deve ser estabelecida através dos seus elementos constitutivos, que são idênticos aos dos filmes de ficção que, não podendo proporcionar a reprodução da realidade, estabelecem, assim, a sua construção ou interpretação [...] documentário pode, perfeitamente, estar mais próximo do filme de ficção do que a suposta realidade que ele traduz. (BRASIL, In: O Olho da História. N. 1, 2007)

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A fórmula do documentário pode ser concebida como: “eu falo sobre ele para

nós”, ou seja, o documentarista fala sobre um objeto (no nosso caso analisado, o ameríndio)

para um público que na verdade se assemelha ao documentarista, que não são ameríndios.

Assim, os documentários são a maneira como os documentaristas falam sobre “os outros”.

Outra preocupação é a questão do tempo de filmagem. De acordo SALLES “A

pessoa filmada só terá os poucos momentos em que a câmera estiver ligada para dizer quem

é”. (SALLES, 2005, p. 68). O documentário não tem condições de mostrar toda a vivência da

pessoa, o que é compensado pelos cortes e pelas montagens das imagens. A montagem pode

favorecer a manipulação ou construção de uma “verdade” ou “inverdade”. O que houve ou o

que ela fez ou falou depois do corte da cena, apenas o diretor conhece; quem assiste ao filme

conhece apenas uma seleção de cenas e imagens que foram selecionadas.

Assim, Brasil (2007) aconselha ao historiador a utilizar a mesma metodologia de

análise do documento manuscrito, para que o documentário seja tratado igualmente como um

produto de sua realidade, constituindo uma representação da própria história.

3.2. Contexto Histórico do Documentário “Eram os Deuses Astronautas”

O documentário Eram os Deuses Astronautas (1972) foi baseado no livro do autor

Erich Von Däniken, sendo bem fiel quanto a sua adaptação ao cinema. O livro foi escrito em

meio ao frenesi da corrida espacial.

Na década de 1960, diante da viabilidade do homem ir à lua, a NASA, junto com o

Laboratório de Propulsão a Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia, enviou várias

sondas robôs, entre 1965 e 1968, à superfície lunar, mostrando detalhes nunca vistos antes,

que empolgaram a sociedade da época. Algumas mentes mais férteis perguntaram: como seria

a recepção dos habitantes da lua?

E quem mais explorou essas idéias foi a indústria cinematográfica de Hollywood –

que paradoxalmente alimentou o tema das viagens espaciais e estimulou a ida do homem ao

espaço – ao lançar, em 1978, o filme Capricorn One (Capricórnio Um), do diretor Peter

Hyams. Os efeitos visuais e os argumentos soaram convincentes para uma parcela do público.

Aproveitando-se desse período de intensa abertura da sociedade para temas ligados

ao espaço cósmico, o suíço Erich Von Däniken conseguiu vender milhares de exemplares do

seu livro, lançado em 1968, que imediatamente, em 1972, foi transformado em documentário.

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Suas teorias, defendidas neste e em outros livros, ainda são tema de discussão por muitos

pesquisadores e curiosos.

Assim, se focalizarmos as datas, vemos que o período para lançar o livro e seu

documentário era totalmente propício para Erich Von Däniken. Era um período de mudança

na mentalidade da sociedade mundial quanto à crença em transcender os limites entre os

planetas do universo.

Aliado a isso, a Ufologia crescia desde meados de 1947. O primeiro exemplo de

um ‘fenômeno’ de óvni registrado ocorreu em Washington. Desde que um homem de

negócios contou ter visto algo semelhante a um “pires” voando, centenas de milhares de

pessoas, em todo o mundo, anunciaram suas próprias visões de objetos voadores não-

identificados. De acordo Hobsbawm, os americanos começaram a ver esses estranhos objetos,

fato inspirado claramente pela ficção científica. O fenômeno tornou-se mundial.

Qualquer ceticismo em relação aos OVNIS era atribuído ao ciúme de cientistas de mentalidade tacanha, incapazes de explicar fenômenos alem de seus estreitos horizontes, talvez ate mesmo a uma conspiração dos que mantinham o homem comum em servidão intelectual para ocultar-lhe um saber superior. (HOBSBAWM, 1995, p. 512)

De acordo Vidal (1979), questionamentos surgiram: “Por que negar que os discos

voadores são aparelhos lançados por Marte, Saturno [...] ou por outros planetas de inteligência

superior? A vida não é privilégio da Terra”. (VIDAL, 1979, p. 19)

Ainda de acordo as afirmações de Vidal, os repórteres João Martins e Keffel, do

Jornal O Cruzeiro, surpreenderam o mundo com as fotografias de um disco voador que surgiu

misteriosamente no Brasil, nos céus da Barra da Tijuca. A curiosidade era geral. Até mesmo

em Goiás, em 1959, uma notícia estourou no jornal Diário da Manhã, de acordo Oliveira

2006). Diziam que discos voadores desceram em Ceres, e que alguns de seus tripulantes

foram detidos. Posteriormente, o fato fora esclarecido como boato pelas autoridades oficiais.4

Em seis anos a partir de 1947, saíam notícias de que foram vistos mais de 700

discos voadores em vários países como nos Estados Unidos, Bélgica, Novo México, Alabama,

Itália, Franca, etc.

Marte tornou-se uma preocupação fundamental dos cientistas. Acreditava-se que

havia vida neste planeta. O astrônomo Paul Becquerel, da Academia de Ciências de Paris,

dizia que a vida em Marte é bem semelhante à da Terra. Acreditavam alguns cientistas que

4 Citado por Oliveira (2006), referência: Diário da Manhã. In: O disco voador que causou nota oficial. Goiânia, 24 de outubro de 1983. AHEG.

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havia uma atmosfera em Marte e que seu clima era mais frio do que o da Terra. Essa visão da

atmosfera marciana foi compartilhada com o médium Francisco Xavier, que numa mensagem

mediúnica publicada no O Jornal do Rio de Janeiro em 1952, afirmou

Na atmosfera marciana experimentamos uma agradável sensação de leveza. Em Marte existem cidades fantásticas pela sua beleza inédita, cujos edifícios, de algum modo, me recordavam a Torre Eiffel [...] Máquinas possantes, como se fossem movidas por novos elementos do nosso hélio, balouçavam-se aos pés das nuvens, apresentando um vasto sentido de estabilidade e de harmonia entre as forcas aéreas [...] (O JORNAL apud VIDAL, 1979, p. 23)

Portanto, “Eram os deuses Astronautas” deve ser compreendido dentro do

contexto da sua época, na qual a conquista do espaço renovou a já antiga crença da existência

de vida em outros planetas.

3.3. Análise Interna do Documentário

No início do documentário, aparecem imagens de estrelas, mostrando a infinidade

do universo, momento em que aparece o primeiro questionamento: “Em quantas estrelas pode

existir vida?”. Há 50 milhões de estrelas na nossa galáxia, não seria apenas o planeta Terra

contemplado pela vida.

O documentário prossegue argumentando que, com as idas do homem ao espaço,

comprova-se ainda mais a possibilidade de recebermos visitas dos seres de outros planetas.

Há ainda a afirmação de que o homem pousaria futuramente em Marte e Vênus. Estas

hipóteses são reforçadas com entrevistas de alguns professores e cientistas. O documentário

prossegue mais longe ainda com o questionamento: “Como habitantes de outros planetas

receberiam nossos astronautas? Como deuses?”.

O autor mostra como povos primitivos reagem ao contato com a técnica moderna,

antes desconhecida. Cita um exemplo, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando

soldados norte-americanos instalaram bases nas ilhas dos mares do sul e as abandonaram no

final da guerra. Os nativos do local acreditaram que eram deuses que vieram do céu, deuses

das estrelas. Assim, surgiu uma nova religião, eles começaram a construir imagens de aviões e

reverenciá-las. Com base nisso, o autor procura provar sua hipótese de que várias religiões do

mundo surgiram a partir do contato com a tecnologia superior de outros planetas do cosmo.

Isso prova a teoria das representações sociais desenvolvida por Moscovici (2003), afirmando

que as representações implicam condições de vida social. Corroborando também a idéia de

que uma realidade representada é uma realidade de alguém ou para alguém. As imagens de

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Eram os Deuses Astronautas são imagens que carregam consigo elementos da realidade do

período no qual foi produzido, abarcando elementos do imaginário da sociedade e do diretor

que o produziu. Como no período essas idéias de possíveis contatos extraterrenos estavam em

voga, o documentário mostra uma realidade compatível com a sociedade da época. Teria,

portanto, uma maior aceitação do público e ao mesmo tempo, maior poder de persuasão.

Assim, o documentário mostra vários lugares, com suas várias religiões e seus

livros sagrados, nos quais há possíveis referências a visitas de deuses das estrelas. Em busca

de “provas”, mostra um livro sagrado dos tibetanos, que ainda não fora totalmente decifrado;

o Mahabarata, dos hindus; a Bíblia, dos hebreus; dentre outros, nos quais, segundo ele, pode-

se perceber a referência a seres extraterrenos.

A viagem vai até mesmo ao museu iraquiano, onde se encontram escritos de

Gilgamesh (um semideus), que supostamente fizera uma viagem espacial, pois escreveu na 7ª

tábua “Olhe para baixo, para a Terra, o que lhe parece? Olhe para o mar.. A Terra parecia um

mingau e o mar, parecia uma massa compacta”. Diz Däniken que essas foram as mesmas

palavras dos astronautas ao avistarem a Terra do espaço.

Há de acordo Däniken, passagens da Bíblia que representam contatos feitos pelos

personagens bíblicos com 'seres extraterrestres'. Podemos exemplificar em algumas falas de

Jesus: "Eu tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas vós não podeis suportar agora”.

(João, 16-12). "Vós sois de cá debaixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou

deste mundo”. (João, 7-23). (A Bíblia Sagrada apud ELLAM, 2004, p. 43)

O exemplo mais utilizado pela ufologia encontra-se no Livro bíblico de Ezequiel.

O profeta foi detalhista no relato de sua visão, contando que viu “a glória de Deus”. Joseph F.

Blumrich, autor de Ezequiel viu uma nave extraterrestre e diretor da Seção de Projetos da

NASA, com base em estudos científicos, afirma que a nave avistada por Ezequiel era muito

superior a tudo quanto a tecnologia moderna não conseguia construir.

Eram seres visíveis, de figura humana, procedentes de um sistema de doze planetas tão afastado da Terra, que ninguém sabe onde se encontra. [...] eram capazes de viajar a velocidades gigantescas entre seu planeta de origem e a Terra, de voar ao redor de nosso planeta e de aterrisar em qualquer lugar. (BLUMRICH apud GUIRAO, 1983, p. 21)

No mesmo livro de Ezequiel, mostra o documentário imagens de artistas que

representaram a Bíblia. Uma dessas imagens mostra uma roda, dizendo que Ezequiel ouvira

um grande estrondo e que essas rodas parecem um trem de pouso de uma nave. (Ver Figura

17 em Anexo II).

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Outros exemplos na Bíblia não foram deixados de lado. Moisés recebeu a Tábua

dos 10 Mandamentos e instruções para construir a Arca da Aliança diretamente de Deus. (Ver

Figura 18 em Anexo II)

Aproximar-se dessa arca era perigo de vida, disse Deus a Moisés. Para carregar a

arca, era necessário utilizar roupas e sapatos especiais para efeito de isolamento. Acredita

Däniken que essa arca seria um condensador de centenas de volts, como um alto falante para

comunicação com Deus, ou seja, os seres extraterrenos. (Ver Figura 19 em Anexo II)

Alguns artistas pintaram a Bíblia representando o “Anjo da promessa”, Däniken

afirma que a imagem desse afresco fala por si mesma. (Ver Figura 20 em Anexo II)

Outros afrescos são ilustrados, como um da Iugoslávia que data do século XIV.

Quais explicações se têm para essas imagens? O que parecem aquilo? Naves Extraterrestres?

Estes são os seus questionamentos que na verdade, são afirmações implícitas. (Ver Figura 21

em Anexo II)

Finalmente, chegamos ao ponto principal, quando o autor, em sua viagem ao

mundo, chega ao México, “Lugar onde os deuses se sentiam em casa” – palavras de Däniken.

Inicialmente, mostra o Museu Nacional do México, contemplando o Calendário

Asteca, que pesa cerca de 24 toneladas e possui 3 metros e meio de raio. Ele afirma que esse

calendário era um grande exemplo do conhecimento astronômico e que ajudava a prever os

períodos de rotação e translação do planeta. Influência de sabedoria extraterrestre? Os astecas

por si só não poderiam desenvolver tais conhecimentos?

Em Teotihuacan, ainda no México, “a cidade dos deuses” é mais um ponto

geográfico enfocado no documentário. Ainda não se conhece a idade e os construtores da

grande pirâmide do sol, com 66 metros de altura, sendo mais um mistério das civilizações pré-

colombianas. Nesse momento, o autor cita Quetzalcoatl (deus asteca), do qual diziam que

“um ser veio das estrelas e ensinou os homens, voltou para sua estrela, mas prometeu voltar”.

Em Tula, cidade próxima, encontram-se esculturas astecas gigantes que parecem

utilizar-se de vestimentas e capacetes estranhos. Não se assemelham a astronautas? (Ver

Figura 22 em Anexo II)

Em Chichén Itzá (cidade antiga dos maias), sobrevoando a cidade, o

documentarista narra de forma bastante misteriosa construções que lembram observatórios

astronômicos. (Ver Figuras 23 e 24 em Anexo II). O interessante é que ele coloca a imagem

desse local comparando com um observatório astronômico da Califórnia, dizendo que há uma

grande semelhança entre ambos. Só alguém com uma imaginação bastante fértil poderia ver

semelhanças entre as construções de culturas e épocas tão diferentes. .

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A partir daí, encontramos em sua maioria, representação por distorção, assim

definida por Jodelet (2006). O diretor utiliza-se de certas características próprias do objeto,

distorcendo-as, muitas vezes atenuando, ou enfatizando determinados elementos.

Dentre várias inscrições em paredes desses templos, o autor enfoca uma imagem

da representação de um deus maia, que de acordo ele, estaria em comando de uma nave e com

antenas no seu capacete. (Ver Figura 25 em Anexo II)

Na cidade de Tuluna, há desenhos que, na concepção do documentário, mostram

seres que voavam nos céus. A imagem mostra um ser com mãos estendidas em forma

angelical, os pés calçados apoiados em plumagens. (Ver Figura 26 em Anexo II). Mais um

exemplo dos devaneios de Däniken.

Ele enfatiza muito os mistérios que permeiam os maias. Diz que “incontáveis são

os segredos dos maias”. O maior enigma de seu povo foi a sua partida em direção ao norte,

onde construíram novas cidades. Não há sinal de guerra, nem de problemas ambientais. Por

que a saída? Quem deu a ordem?

Muitos pesquisadores ainda discutem essa questão que realmente representa um

dos mistérios relacionados aos maias. Há várias teorias de que os maias estavam passando por

dificuldades, secas, catástrofes naturais, mas ainda não se descobriu o verdadeiro motivo,

permanecendo o mistério.

Na cidade de Mérida vivem atualmente descendentes dos maias. Diz o autor que

são o povo mais pacífico da América Latina. Seus rostos ainda lembram as esculturas dos

velhos maias. (Ver Figura 27 em Anexo II) Imagens como essa, colocadas pelo documentário,

mostram mulheres e crianças em comunidades maias, vivendo pacificamente, de forma a

manter viva a cultura deixada por seus antepassados. Aquela imagem dos antigos maias,

“guerreiros” ou “violentos”, não aparece, constituindo uma representação por subtração,

assim definida por Jodelet.

Chegando a cidade de Palenque, coloca o documentarista um momento de

suspense, como se fosse o principal momento do documentário. Anuncia que, pela primeira

vez, alguém conseguiu filmar a tumba de Palenque. Lugar de difícil acesso, onde eles

conseguem entrar e mostrar as imagens dessa tumba. Música de suspense, de fundo,

chamando realmente a atenção do espectador.

Ao contemplarem a laje de Palenque, acreditavam ver um piloto de uma nave

espacial. Coloca uma comparação entre a imagem dessa inscrição e uma imagem de um

astronauta, explicando as semelhanças entre si. (Ver figuras 28 e 29 em Anexo II)

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Ele diz que é sem dúvida a posição de um astronauta. Sua roupa lembra a de um

astronauta atual. Calça com cinto largo, um agasalho inteiriço, o banco forrado devido às altas

velocidades. Um homem diante dos controles. Representaria Kukulcán que veio das estrelas.

Mas obviamente, cada um vê naquela imagem o que lhe é conveniente. Esta figura

de acordo o conhecido arqueólogo David Adamson, em sua obra O Mundo Maia, ilustra:

O homem parece jovem e reclina-se suavemente [...] As mãos aparecem inertes e meio fechadas, e a cabeça cai para trás, sobre um dos braços que encerram o assento. Evoca a idéia de um feto [...] O trabalho de escultura representa o nascimento e o ciclo da vida, e que o homem nasce de uma semente que germina”. (ADAMSON apud GUIRAO, 1983, p. 29)

Baseando-se na teoria de Adamson podemos dizer que Däniken se equivocou ao

procurar “provar” sua teoria que na verdade, não passa de um “realismo maravilhoso”.

Representação por distorção encontramos também no momento em que retrata os

sacrifícios humanos entre os maias. O documentário mostra o deus Chac Mool, que exigia

sacrifícios humanos. Dá a entender que os maias só passaram a realizar sacrifícios pelo fato

de receberem as ordens desse “deus sanguinário”. O que não foi verdade, pois em nome de

Kukulcán eles também realizavam sacrifícios humanos. Então parece que nesse caso, o

sacrifício humano é atenuado, o que aparece são apenas as características que “defendem” os

maias como povos pacíficos.

Vários autores, dentro dessa perspectiva de Däniken, ajudam-nos a compreender

um pouco mais essas teorias ufológicas, como por exemplo Ellam (2004) que analisa o

conceito de “Deuses Astronautas” ou “Deuses Extraterrenos”. Diz Ellam que são chamados

de extraterrestres qualquer entidade ou indivíduo que não seja do planeta Terra. Assim, o

próprio conceito de Deus teria que ser extraterreno. Então de acordo sua visão, que

complementa a de Däniken, há uma ridicularizarão dos aspectos extraterrenos diante das

nossas “verdades” intelectuais pré-estabelecidas.

Para esses estudiosos, os nossos antepassados sabiam da existência desses

indivíduos extraterrenos, pois havia contatos entre si. Assim, esses seres que viviam fora da

Terra foram transformados em anjos e deuses pelos homens.

Eric Von Däniken questiona assim a própria capacidade intelectual e cultural dos

povos antepassados, dentre eles, os maias. Esses povos não poderiam ter desenvolvido sua

própria arte e tecnologia, só poderiam ter sido treinados por visitantes vindos do espaço, que

possuíam por sua vez uma cultura mais avançada.

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Isso anula a cultura maia que, por um lado, recebe ênfase em seus conhecimentos

astronômicos, matemáticos, arquitetônicos. Mas por outro lado, isso é minimizado, pois se

seus conhecimentos eram tão “avançados”, não originaram-se desses povos, por serem muito

“primitivos”, mas foram presentes de seres superiores do cosmo.

Os argumentos de Däniken são baseados em achados arqueológicos e documentos,

no entanto, ele faz uma interpretação não-convencional desses artefatos das culturas antigas.

Em Nazca, no Peru, ele interpreta os desenhos gigantescos de animais no deserto como sendo

um antigo local de pouso de naves alienígenas. Mas as linhas desses desenhos, por sua

estreiteza, seriam inúteis como pista de pouso para qualquer avião, mas isso é ignorado por

Von Däniken. Por causa dessas suposições vagas, a teoria de Von Däniken obviamente

recebeu muitas críticas e chegou a ser ridicularizada em alguns meios de comunicação. Além

disso, sabe-se que os povos pré-colombianos não eram selvagens ou desprovidos de

capacidades intelectuais, como deixa explícita a sua teoria de “difusão cultural alienígena”.

Däniken aproveitou-se da lacuna dos nossos conhecimentos sobre algumas

civilizações antigas, como as cabeças gigantes esculpidas na Ilha de Páscoa para fazer uma

explicação, no mínimo, controversa. Enquanto permanecerem esses “mistérios” sobre as

antigas civilizações, explicações de caráter místico ou maravilhoso permanecerão.

3.4. Ufologia, Misticismo e as Profecias Maias

A Ufologia possui duas vertentes, a Ufologia Científica e a Ufologia Mística ou

Espiritual. Esta segunda baseia-se na idéia de que tudo o que não pertence à Terra pode ser

chamado de extraterrestre. Assim, o misticismo desenvolve a espiritualidade humana,

buscando sabedoria e compreensão com os seres extraterrestres.

Para essa vertente, a importância dos maias está na suas profecias que,

supostamente, trazem a idéia de uma possível confraternização dos terráqueos com os outros

seres universais. Este fato ocorreria no ano de 2012, quando uma atmosfera apocalíptica ou

revolucionária traria mudanças radicais no nosso planeta. No entanto, para a humanidade

passar por estas transformações e entrar em contato com os seres extraterrenos, seria

necessário desenvolver uma consciência sobre a importância da preservação da natureza, o

abandono do egoísmo, da perversidade e dos preconceitos.

Existem sete profecias maias que estariam a ocorrer no período compreendido pelo

último katun (períodos de 20 anos, de acordo o Calendário Maia), ou seja, os últimos 20 anos

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anteriores ao ano de 2012. Lembrando que o ano de 2012 marca o fim de um ciclo de 5.125

anos, o início do Calendário Maia.

De acordo a tradução contemporânea dessas profecias, os fatos nela previstos

assemelham-se a fatos que estão ocorrendo no planeta nos últimos anos. Por isso as

preocupações esotéricas se concentraram na mitologia maia e a concebe como uma teoria

“correta” desenvolvida por pessoas na antiguidade que possuíam maiores conhecimentos e

contatos com o sobrenatural, valorizando-os decisivamente. De acordo Frank Junior (2007) as

profecias maias dizem que o último katun seria o período no qual o homem sofreria as

conseqüências de seus próprios atos, como a depredação da natureza, que por sua vez

começaria a trazer-lhe como resposta um aquecimento global e catástrofes naturais, bem

como a falta de recursos da natureza.

De forma geral, a última profecia aponta para a questão da conscientização

humana e seu conseqüente contato com os seres extraterrenos, objetivo maior das teorias

ufológicas. Isso claro, de acordo as traduções das profecias, portanto não sabemos se

realmente os maias acreditavam em seres de outros planetas. De acordo Lerrer (2007) os

maias acreditavam que Deus estava no centro da galáxia, chamado de Hunabku, que enviava

ordens aos planetas através de raios solares, o que mostra mais um “prato cheio” para os

ufólogos basearem seus argumentos. E isso explica o porquê dos maias serem tão visados

nessas teorias ufológicas, simplesmente porque seus mistérios estão passivos de varias

interpretações. Seus conhecimentos foram apropriados por estes pesquisadores como uma

base ou justificação de suas teorias.

Por esse viés vemos uma supervalorização da cultura maia, que é concebida como

decisiva para todo o destino humano. Os maias são representados como povos dotados de

grandes conhecimentos e privilegiados por se comunicarem com os entes sobrenaturais,

extraterrenos. Não encontramos praticamente referências aos sacrifícios humanos, fato

bastante explorado em Apocalypto.

Essas profecias maias são muito discutidas em sites de esoterismo e ufologia. Um

bom exemplo dessa “supervalorização” é o site do Projeto-Vega UFO, um projeto de ufologia

no Brasil, desenvolvido pelo ufólogo Vicente Chagas. Para Chagas (2007) os maias são:

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Um povo capaz de profetizar tudo o que já esta comprovadamente acontecendo, há mais de 5000 anos atrás certamente possuía um nível de consciência, conhecimento e inteligência altamente evoluído, já que os nossos cientistas mais renomados agora que estão conseguindo ver questões sabidas há mais de 5.000 anos atrás. Um povo que amava a natureza, a lua, a água, e o nosso planeta não podiam ser considerados um povo pagão. Os maias foram uma civilização altamente intelectualizada que desapareceu séculos atrás, sem vestígios. Que milagre foi esse? Não sabemos! Mas, há pouco tempo foi descoberta sua biblioteca e nelas estavam as Profecias relatadas. Um povo singular. Um povo especial. Um povo que conhecia a Deus e sabia de sua criação [..] (CHAGAS In: Prometo-Vega UFO, 2007)5

Foi criado o chamado Calendário da Paz, que por sua vez não é um calendário

maia, mas baseia-se no mesmo. Fora desenvolvido por José Argüelles, doutor em História da

Arte pela Universidade de Chicago, que passou grande parte de sua vida decifrando os

códigos maias e a "Lei do Tempo". Ele afirma que há um grave erro no calendário gregoriano

usado no mundo ocidental, pois a Terra leva 13 luas de 28 dias cada para girar em torno do

sol e o calendário gregoriano concebe apenas 12 meses. Assim, ele acredita que essa

contagem errada do tempo leva a humanidade ao caos, à escassez, a guerras e à miséria, por

não considerar o vínculo do tempo com os ciclos naturais.

Com a finalidade de corrigir este erro, Argüelles desenvolveu o Plano de Paz que

tem por finalidade substituir o calendário gregoriano pelo calendário de 13 Luas de 28 dias.

Neste calendário, cada lua corresponde ao que chamamos de mês, o que resultaria em 13

meses e 364 dias.

3.5. A desconfiança na ciência e as representações místicas sobre os maias

A raridade de documentos históricos escritos e achados arqueológicos possibilita

explicações místicas, fascinando o imaginário da nossa sociedade pós-moderna, ávida por re-

encantar o mundo novamente. Todas essas diversas representações contemporâneas dos

maias, ora os anulando, ora os glorificando, possuem uma mesma origem. Essa origem

provém da dificuldade em que pesquisar os maias e o conseqüente minúsculo conhecimento

que temos sobre eles atualmente.

Sabemos que em 1562, Frei Diego de Landa queimou vários livros maias, nos

quais além da escrita hieroglífica, havia também ilustrações que explicavam a sua história.

Poucos são os códices que restaram, temos o Códice de Dresde, Tro-Cortesiano e Peresiano,

através dos quais sabemos apenas uma pequena parte sobre a rica cultura dos maias.

5 Site do Projeto-Veja UFO, por Chagas (2007), disponível em: <http://www.projetovega-ufo.com.br/narrativas/003profecias.htm>. Acesso em: 04 nov. 2007.

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A maior parte do que conhecemos sobre os maias é apenas a história contada pelos

conquistadores. Existem dois documentos os quais já foram citados anteriormente, mas que

estão passíveis de crítica pela possível distorção de suas informações no decorrer da história

nos processos de tradução e interpretação. São os livros de Chilam Balam e o Popol Vul, que

foram redigidos após o período da conquista, portanto, suas escritas que temos acesso hoje,

são apenas o que a Igreja Católica permitiu que conhecêssemos[Ezi3].

Não sabemos a quantidade de estelas que se perderam, ou foram destruídas. Nem

mesmo a datação de monumentos arqueológicos se sabe ao certo, pois não se tem consenso

sobre isso entre os arqueólogos.

Muitos especulam que, devido a semelhanças entre as pirâmides maias e egípcias,

esses povos tiveram contato entre si. Outro ponto controverso é a dificuldade dessas

construções, já que os maias não conheciam a roda, a metalurgia e a tração animal. E o que

seriam essas construções, observatórios astronômicos ou templos religiosos? São essas as

discussões referentes aos maias que em pleno século XXI excitam a imaginação de muitos.

Essas representações místicas e maravilhosas sobre os maias podem ser explicadas

pela desconfiança na ciência, fenômeno típico da segunda metade do século XX. Na ausência

da razão, prevalece o “maravilhoso” e as explicações metafísicas.

De acordo Hobsbawm (1995), o século XX foi marcado profundamente pelo

progresso nas ciências naturais. O número de cientistas cresceu impressionantemente após

1970. A ciência conquistou espaço nas ideologias do século XX e afrouxou o domínio

religioso, pois a própria religião tornou-se dependente da mesma. No entanto, toda essa

expansão foi acompanhada pela desconfiança e pelo medo em relação às ciências naturais, o

que mostrou um verdadeiro paradoxo que deve ser enfrentado pelo historiador.

O século XX não se sentia à vontade com esse progresso das ciências. O fato da

ciência de ponta ter-se tornado incompreensível para a maioria dos seres humanos, por não

conhecer suas conseqüências a longo e médio prazo e por interferir na ordem natural das

coisas, fez com que fosse considerada perigosa.

A comunidade científica, portadora desse conhecimento, começou a perder suas

certezas em seu campo. A mesma percebeu que a noção de conhecimento da realidade não

pressupunha mais a possibilidade de um conhecimento universal, mas sim que só se podem

conhecer parcelas da realidade. Desta forma, os cientistas perceberam que teriam que pôr

limites na ambição de uma interpretação objetiva dos fenômenos da natureza.

O papel dos cientistas, diante do conhecimento da natureza, passou a ser

questionado (e autoquestionado pelos próprios cientistas). O mundo e os fenômenos da

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natureza se apresentam caóticos e não determinados, por ser a própria realidade imprevisível e

indeterminada. Em decorrência, percebe-se que há uma participação ativa do observador no

seu “objeto” de estudo, fazendo com que os resultados estejam impregnados pela

subjetividade do próprio observador.

A ciência passou assim a receber rejeição em suas afirmações. A desconfiança se

uniu ao receio quanto a suas conseqüências, como por exemplo, o pesadelo da guerra nuclear

que surgiu após a Segunda Guerra Mundial.

A perda da crença iluminista da ciência construir um mundo melhor e revelar a

verdade sobre o mundo, típica da pós-modernidade, explica, em parte, o retorno ao

maravilhoso e ao misticismo na explicação do mundo. Isso justifica a criação de teorias

alternativas a dos especialistas científicos para explicar determinados fenômenos. Os maias,

devido à escassez de um conhecimento mais sólido, tornaram-se privilegiados nesse tipo de

abordagem, o que justifica a grande difusão de representações maravilhosas sobre eles.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Imagens no nosso mundo contemporâneo representam acontecimentos que, muitas

vezes, são distorcidos ou manipulados. Ao analisar as imagens dos maias em diversas

produções fílmicas, percebemos que as mesmas sofreram várias distorções múltiplas e até

mesmo paradoxais entre si.

Por um lado, encontramos um maia selvagem, que recebeu esse estereótipo através

de um longo processo histórico, remontado à colonização européia-católica. Por outro lado,

encontramos o maia como precursor de uma incrível cultura, mas que fora herdada de seres

supostamente mais “avançados”, o que remonta a um processo histórico mais contemporâneo.

Acreditamos que as duas imagens permanecem na contemporaneidade, através de

filmes e produções imagéticas em geral. Se auto-completam à medida que marginalizam os

maias, tanto, colocando-os como selvagens ou como incapazes. Mas são paradoxais à medida

que encontramos um maia com grande conhecimento e possuidor de incríveis projetos

arquitetônicos muito visados na atualidade, até mesmo como construtores de uma das sete

maravilhas mundiais. Mas uma atmosfera de mistério perpassa por todas essas imagens.

São imagens que estão presentes, são difundidas e aceitas pela sociedade atual.

Aceitas porque não se possui ainda um grande conhecimento sobre os mesmos, muito ainda

há que se descobrir. Enquanto as respostas não são esclarecidas, teorias como essas

permanecem e são aceitas pela sociedade, que por sua vez, possui também seu preconceito

arraigado advindo de uma dominação cristã.

A ciência não consegue os explicar, o cristianismo os condena, assim os maias são

colocados sob uma obscuridade que na verdade não possuem. O imaginário encontra um prato

cheio para divulgá-los à medida que fornece ao público espectador elementos que legitimam

essas imagens. Essas imagens dos maias assim são difundidas e legitimadas, pois a

representação possui o caráter decisivo de comunicação. O autor comunica-se com o público

nesse processo. Essas representações dizem menos sobre os maias do que sobre a sociedade

que as criaram.

Um público que vai ao cinema assistir Apocalypto vai com seus conceitos já pré-

estabelecidos, espera sangue, morte, porque filme para ser considerado “bom”, deve ter muita

ação, muitas cenas chocantes. O diretor sabe disso, e concentra uma dose reforçada de

violência, atribuindo características que os maias não possuíam na verdade.

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Já o caso de Eram os Deuses Astronautas, por ser um documentário, tem um

público especial. Um público que se submete a assistir um documentário de um ufólogo de

renome, também espera do documentário uma dose de mistério, de curiosidade, além do fato

de que, quem espera um documentário, espera uma produção que irá contribuir decisivamente

para seus conhecimentos, tomando como verdadeiro todo o seu conteúdo. Espera uma teoria

que irá corroborar com as suas crenças próprias. O diretor, por sua vez, com a sua incrível

capacidade de argumentação, mostrando “provas”, “documentos”, etc, coloca o documentário

sob um viés “verdadeiro”.

Tentamos mostrar para a sociedade como os meios de comunicação difundem

imagens distorcidas e que tudo deve ser posto sob crítica. Lembrando que essas imagens só

aparecerão por sua vez, se receberem legitimação de quem a vê. Ou seja, só há representação

se houver comunicação. É um processo dialético.

Nesse sentido a teoria das representações sociais e do imaginário foi de extrema

valia para nosso trabalho, uma vez que ambas nos possibilitaram analisar como o passado é

representado na atualidade e como o processo do imaginário influencia nesses processos de

elaboração das imagens.

Essas duas teorias são muito utilizadas na atualidade, pois nos permitem

compreender melhor como os meios de comunicação contribuem para construção social da

realidade. São extremamente importantes no nosso cotidiano, pois tudo o que vemos hoje são

representações, que por sua vez foram criadas e concebidas coletivamente. Reflete a nossa

maneira de conceber e interpretar a realidade, assim, nos auxilia no processo de compreensão

do mundo em que vivemos - objetivo de nós, historiadores.

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FILMES:

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2006. DVD (139 min): son., cor. Legendado. Gênero: Aventura.

ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS? Produção de Harald Reinl. Alemanha: Versátil,

1972. DVD (98 min): son., cor. Dublado. Gênero: Documentário.

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ANEXO I

IMAGENS DE APOCALYPTO

Fonte: Imagem retirada do Filme Apocalypto.

Figura 1 – Chegada dos europeus

Fonte: http://www.imdb.com/title/tt0472043/

Figura 2 – Cartaz do Filme

Fonte: Meggers (1979)

Figura 3 – Cena de um lintel em Yaxchilán data em 726 a.C. Mostrando as vestimentas

de um guerreiro maia

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 4 – Guerreiro maia

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Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto Figura 5 – Escravos pintados de azul

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 6 – Escravos sendo levados atados

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 7 – Pai de Garra de Jaguar sendo morto na frente do filho

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 8 – Jogo de sacrifício

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Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 9 – Cabeças em estacas

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 10 – Cadáveres

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto Figura 11 – Fruto em decomposição

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 12 – Crianças brigando por pedaço de carne

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Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 13 – Paralítico roubando

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 14 – Cidadão maia com péssimos hábitos alimentares

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 15 – Cidadão maia idoso, doente vivendo em precárias condições

Fonte: Imagem retirada do filme Apocalypto

Figura 16 – Pessoa com deformações físicas

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ANEXO II

IMAGENS DE ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 17 – Representação da Bíblia, momento no qual Ezequiel teria visto um trem de pouso de uma nave

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 18 – Representação da Bíblia, momento no qual Moisés recebeu instruções de Deus

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 19 – Representação da Arca da aliança

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 20 – Pintura da Bíblia representando o anjo da promessa e ao lado uma nave

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Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 21 – Pintura da Bíblia representando a crucificação de Cristo

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 22 – Esculturas Astecas

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 23 – Observatório astronômico maia, de acordo Däniken

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 24 – Observatório astronômico norte-americano

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Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 25 – Inscrições em templos maias representando o deus Kukulcán

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 26 – Imagem retirada de inscrições na cidade de Tuluna, representando um deus maia

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figura 27 – Descendentes maias na cidade de Mérida

Fonte: Imagem retirada do documentário Eram os Deuses Astronautas

Figuras 28 e 29 – Inscrição em Palenque e a imagem de um astronauta