a linguagem visual da informação: uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

60
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO ASSESSORIA E MULTIMÉDIA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO A linguagem visual da informação Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia Orientadora UP: Cristina Ferreira Orientador da entidade acolhedora: Pedro Leal

Upload: filipa-rodrigues

Post on 12-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

"Este trabalho propõe uma análise extensiva sobre o papel preponderante da estética em elementos infográficos. Tendo em consideração que a infografia é, cada vez mais, encarada como uma narrativa independente, a sua estética torna-se num elemento comunicacional por excelência, permitindo ao indivíduo uma visualização simplificada do alargado número de dados que constroem a realidade. Para além da sua componente informativa, a actual infografia pretende ser uma forma de arte, ao utilizar todas as ferramentas disponíveis, desde a cor à tipografia, para auxiliar o ser humano da descodificação da sobrecarga de informação que o rodeia."

TRANSCRIPT

Page 1: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO ASSESSORIA E MULTIMÉDIA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

A linguagem visual da informação

Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

 

 

Orientadora UP: Cristina Ferreira

Orientador da entidade acolhedora: Pedro Leal

Page 2: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

If you look after truth and goodness,

beauty looks after herself

Eric Gill

Page 3: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

i

Agradecimentos

À Professora Cristina Ferreira, pela dedicação, compreensão e atenção com que me orientou ao longo deste estágio curricular. Por toda a paciência, sábios conselhos e pelo tempo que generosamente dispensou para me ajudar neste trabalho.

Ao Pedro Leal e Professor Bruno Giesteira pela oportunidade

À Aline Flor por toda a ajuda e companheirismo.

À Lorenzza Fernandes por me fazer acreditar e pela palavra amiga.

À Rita Moreira pela dedicação, amizade e ajuda em momentos difíceis.

À Rita Cameselle pela amizade incondicional.

Ao Pedro Rios pela companhia e boa disposição.

Ao José Pedro Pinto, à Letícia Amorim, à Fátima Rebelo, ao Sérgio Costa, ao André Rodrigues e ao Henrique Cunha por me fazerem sentir parte da Renascença.

À Joana Costa por olhar por mim.

À Carolina Duarte pelos momentos de partilha.

Ao Sílvio Vieira pela sinceridade e incomparável sentido de humor.

Ao Raul Paula Santos pela preocupação e apoio absoluto.

Ao Hugo Monteiro pela simpatia e imensa ajuda.

À Maria João Cunha por confiar e acreditar no meu trabalho e por todas as oportunidades que me concedeu. Pela palavra amiga e coragem que me transmitiu.

E ao Pedro Candeias que, com uma paciência infindável, me orientou, ajudou e aconselhou ao longo destes três meses. Pela partilha de conhecimento e

Page 4: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

ii

frontalidade que me ajudou a crescer a nível académico e pessoal.

Por último, um sentido agradecimento

comum a todos estes profissionais da Rádio

Renascença que me deram o privilégio de

trabalhar a seu lado e partilharam os bons

momentos que sempre irei recordar.

Page 5: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

iii

Índice

1. Introdução ..........................................................................................................................1

1.1 Caracterização da Entidade Acolhedora ..................................................3

1.2 Razões que fundamentam a escolha da RR..............................................5

1.3 Objectivos do relatório e a sua correlação com o estágio curricular........6

2. Contextualização do Tema.................................................................................................8

3. Metodologia .....................................................................................................................11

4. Objectivos ........................................................................................................................12

5. Os primórdios filosóficos da Estética ..............................................................................13

6. Tendências infográficas – a crescente preeminência da estética no mundo gráfico........17

7. O uso da estética na Infografia ........................................................................................26

7.1 Exploração de Elementos e Recursos na Estética ................................. 29

7.1.1 Psicodinâmica das cores ................................................................. 31

7.1.2 Tipografia ....................................................................................... 33

7.1.3 Ícones.............................................................................................. 35

7.1.4 Imagem........................................................................................... 37

7.2 Harmonia estética vs Poluição informativa........................................... 39

8. Visualização e percepção de conteúdos informativos .....................................................44

8.1 Gestalt ................................................................................................... 45

9. Conclusão ........................................................................................................................47

10. Bibliografia ....................................................................................................................49

Page 6: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

iv

Índice de Ilustrações

Ilustração 1- New York Times, “President Obama’s Proposed 2011 Federal Budget” ... 20

Ilustração 2- Sukhoy (2008) - Infográfico produzido para Revista Época.................... 21

Ilustração 3 - Dataviz criado por David McCandless – “Information is Beautiful”........ 23

Ilustração 4 - Representação do Diagrama de Venn por David McCandless ................ 24

Ilustração 5 - Mapa do Metro de Londres criado por Harry Beck.............................. 26

Ilustração 6- Estudo de Embriões, por Leonardo DaVinci ....................................... 26

Ilustração 7- Infografia sobre a Beatificação de João Paulo II, no âmbito das celebrações

ocorridas em Maio, para o Página1 (Rádio Renascença) ...........................................................32

Ilustração 8– Infografia sobre a raça de gatos Manx II, no âmbito das corridas

automobilísticas da Ilha de Manx, para o Página1 (Rádio Renascença) ....................................... 34

Ilustração 9 – Infografia dinâmica realizada no âmbito das legislativas 2011............... 36

Ilustração 10– Estudos para a realização de uma infografia sobre o primeiro veículo

automobilístico a vencer o Circuito da Boavista, para o Página1 (Rádio Renascença) .................... 38

Ilustração 11- Infografia sobre os diversos percursos de Fórmula 1, realizada de acordo com

o modelo pré-estabelecido pela RR...................................................................................... 41

Ilustração 12 – Infografia sobre a Maratona de Londres, feita a partir dos mesmos

pressupostos do modelo da infografia de Fórmula 1, de modo a criar uma coerência estética entre ambas.

.................................................................................................................................... 42

Page 7: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

v

Resumo

Este trabalho propõe uma análise extensiva sobre o

papel preponderante da estética em elementos

infográficos. Tendo em consideração que a infografia é,

cada vez mais, encarada como uma narrativa

independente, a sua estética torna-se num elemento

comunicacional por excelência, permitindo ao indivíduo

uma visualização simplificada do alargado número de

dados que constroem a realidade.

Para além da sua componente informativa, a actual

infografia pretende ser uma forma de arte, ao utilizar todas

as ferramentas disponíveis, desde a cor à tipografia, para

auxiliar o ser humano da descodificação da sobrecarga de

informação que o rodeia.

Palavras-chave: design, estética, comunicação,

infografia

Page 8: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

vi

Abstract

This paper is an extensive analysis about the

preponderant role of esthetics within the infographics.

Bearing in mind that infography is growingly seen as an

independent story, its esthetic becomes a communicational

element by excellence, allowing the individual to view an

extended number of reality building data in a simple way.

Further than its informative component, the actual

infographic intends to be an art form, by using all of its

available tools, from color to typography, to help the human

being decode de overflow of information that surrounds

him.

Keywords: Design, Esthetic, Communication, Infographic

Page 9: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

1

1. Introdução

O constante processo de convergência digital preconizado pelos diversos

órgãos de comunicação social é um dos principais propulsores da revolução do ramo

da multimédia. A sociedade contemporânea está a presenciar uma das evoluções mais

significativas do ramo comunicacional que irá, eventualmente, alterar o conceito de

jornalismo, per si, no futuro.

“Do advento do computador pessoal às modernas redes sociais baseadas em

esquemas multi-mediados de relacionamentos percebe-se, claramente, a evolução

exponencial de dispositivos capazes de promover novas e abrangentes formas de

sociabilidade.”1

Com o constante incremento de novas tecnologias e perante a insistente

necessidade de inovação, a vertente de multimédia vê a necessidade de prorrogar e

manter-se a par desta afluência ao meio cibernauta. É mediante estas necessidades que

o profissional de multimédia tem como demanda estar preparado para os demais

obstáculos formais e estruturais que compõem a área.

A tendência no mercado de trabalho perante as habilitações de alguém de

multimédia são bem claras, no que diz respeito à capacidade de adoptar uma postura

‘multitasker’ perante os diversos projectos que almeja concretizar – cf. com

“Profissionais capazes e habilitados em fazer várias coisas, unir várias mídias em um

único meio”.2

A preponderância do profissional de multimédia faz-se sentir através da

crescente produção de conteúdos dinâmicos, por parte dos órgãos de comunicação

social portugueses, que promovem a interacção com os utilizadores, bem como uma

relação de proximidade com os mesmos.

1 Curso de Produção Multimídia Retirado de

http://www.cursodeproducaomultimidia.com.br/ Consultado em 30-06-2011

2 Brenol, Marilise (2011 Maio) Retirado de http://www.ijui.com/noticias/educacao/20893-palestra-destaca-a-importancia-de-profissionais-multimidia-no-mercado Consultado em 30-06-2011

Page 10: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

2

A necessidade de aprimorar a informação visual exige profissionais

proactivos, empreendedores e diligentes que consigam cumprir os objectivos da

empresa, bem como contribuir para o seu desenvolvimento nesta vertente. Por entre

linhas gráficas díspares e conteúdos online de contornos diferenciados, cada órgão de

comunicação social tenta deixar a sua marca nesta convergência, ao ambicionar

produtos multimédia inovadores, que cativem os seus utilizadores.

Determinada a alcançar sempre mais e melhor no mundo da multimédia, a

Rádio Renascença viu o seu trabalho e esforço reconhecido, com a atribuição do

prémio de Excelência em Ciberjornalismo, pelo Observatório de Ciberjornalismo, em

2010.

Para Pedro Rios, jornalista colaborador da Rádio Renascença e um dos

fundadores do Porto24, “Uma mudança de paradigma não se faz sem profissionais

devidamente habilitados, com formação multimédia. A capacidade de produzir vídeo,

infográficos e páginas ricas em multimédia e interactividade é, cada vez mais, uma

exigência para uma marca como a Renascença - e tal não se faz sem profissionais

treinados”.

Instigando a permanente quebra de barreiras entre o homem e a tecnologia, o

jornalista afirma que “ (...) uma rádio já não pode ser apenas uma rádio (...) ” e que a

adaptação ao mundo cibernauta, bem como às suas dissemelhantes exigências, é

encarado como um dos principais objectivos da emissora católica – cf. com “Uma

rádio já não pode ser apenas uma rádio. Uma rádio como a Renascença é cada vez

mais uma marca presente no seu meio de origem (a rádio), mas também noutras

plataformas, com destaque para a Internet.”

Já Pedro Candeias, experiente profissional na área de multimédia e

colaborador da Rádio Renascença, afirma que uma das principais competências

intrínsecas a quem quer desempenhar funções nesta vertente é “Simplificar a

apresentação de informação, especialmente quando esta é vasta e complexa”.

Solucionar os demais desafios inerente à profissão e a constante aprendizagem

de novos conhecimentos é um os principais objectivos dos produtores de multimédia

que, como afirma Pedro Candeias, “ (...) são os pilares da inovação na apresentação

Page 11: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

3

da informação sendo igualmente os motores da adopção de novas técnicas e processos

de recolha tratamento de dados”.

É com a súmula de todas estas premissas, em consonância com uma grande

força de vontade, que o profissional de multimédia consegue singrar na sua área e que

empresas como a Rádio Renascença alcançam o reconhecimento e o insigne trabalho

na área de Multimédia.

1.1 Caracterização da Entidade Acolhedora

A Rádio Renascença, composta por uma sociedade de quotas entre o

patriarcado de Lisboa e a Conferencia Episcopal Portuguesa, nasce a 5 de Junho de

1936, com um emissor instalado na Charneca, em Lisboa. No ano seguinte, após

inúmeras experiências, as emissões da RR começam a ser diárias.

“Ocupada durante a Revolução de 25 de Abril de 1974 e destruídos à bomba

os seus emissores de Lisboa, a estação foi restituída à igreja em 28 de Dezembro de

1975 (...) ”3. Este período foi determinante para a evolução e crescimento da emissora

portuguesa, com o investimento em novas instalações, aquisição de novos

equipamentos e contratação de profissionais e colaboradores.

As décadas de 80 e 90 foram decisivas para a RR que rapidamente alcançou a

liderança absoluta de audiências radiofónicas com a Programação 24 horas no activo.

Com a crescente popularidade e preponderância da Internet como meio

comunicacional por excelência, a Rádio Renascença prontamente inicia a exploração

desta nova plataforma, com a aposta em novos projectos. É então instaurada a

transmissão diária e em directo dos três canais radiofónicos principais do Grupo

Renascença4.

3 Fonte: Anuário Ecclesia Retirado de http://www.ecclesia.pt/anuario/ Consultado em 29-

06-2011

4 A consulta pode ser feita pelos seguintes endereços - Rádio Renascença: www.rr.sapo.pt; RFM: www.rfm.sapo.pt e MEGAFM: www.megahits.sapo.pt

Page 12: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

4

Em 2007 é lançada a secção de vídeo em multimédia que numa primeira fase

produzia apenas os programas de antena para formato audiovisual, mas evoluiu

posteriormente com a produção própria de reportagens e com a edição de conteúdos

provenientes de outras fontes, com o intuito de manter um “fluxo noticioso

abundante”.

Nesse mesmo ano é feita uma nova aposta: é criado o Página1, jornal diário,

que rapidamente adquire o estatuto de inovação por ser o primeiro veículo noticioso

em formato PDF nos órgãos de comunicação social portugueses.

Com o lançamento repartido em duas edições diárias, o Página 1 apresentava

um layout simples, sem uma mancha gráfica devidamente estruturada. Era editado

diariamente por Raul Paula Santos e Pedro Caeiro e contava com as colaborações dos

restantes membros da RR.

Contudo, em Maio de 2008, a estrutura do Página1 sofre algumas alterações e

passa a uma edição diária agregadora de todo o conteúdo noticioso desse dia, a ser

lançado entre as 16h e as 17h.

Mantendo Raul Paula Santos como editor, o Página1 conta ainda com o

trabalho fixo de Hugo Monteiro (jornalista de rádio), Letícia Amorim (jornalista

multimédia) e com a colaboração de Pedro Rios (jornalista), além das demais

colaborações dos restantes membros da RR.

A corroborar o trabalho da equipa do Página1, está um layout mais moderno e

apelativo que contribui para a contínua adesão a este ‘serviço’ gratuito, que já conta

com mais de 7 mil leitores.

Em 2009, a nova aposta a rádio católica portuguesa superou todas as

expectativas: o lançamento do novo site da Rádio Renascença alcança, em pouco mais

de dois anos, 1.6 milhões de visitas, tornando-se a rádio com maior número de

utilizadores ao suporte digital.

Com a atribuição do prémio de Excelência em Ciberjornalismo, pelo

Observatório de Ciberjornalismo (em 2010), a Rádio Renascença viu, uma vez mais,

o retorno positivo das apostas feitas na inovação e no futuro.

Page 13: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

5

No discurso de agradecimento, Pedro Leal, Director Adjunto de Informação,

reitera que “a aposta no online é uma prioridade”, não demonstrando qualquer receio

em usufruir desta plataforma de comunicação gratuita para atingir sempre, à imagem

do trabalho preconizado pela própria rádio, um trabalho exímio de referência.

1.2 Razões que fundamentam a escolha da RR

A escolha da entidade acolhedora para realizar o estágio curricular, não recaiu

primeiramente sobre a Rádio Renascença.

Com interesse em dar continuidade e desenvoltura à aprendizagem de

conhecimentos adquiridos na Universidade Federal do Rio de Janeiro5, no âmbito da

disciplina de Efeito Especiais em Vídeo, a opção inicial visava ‘ingressar’ na empresa

OSTV6, para cumprir as metas por mim impostas.

Dado que um mês após do início do estágio, não tinha iniciado qualquer tipo

de projecto gráfico relacionado com After Effects ou Motion Graphics, foi-me

concedida a oportunidade de escolher, novamente, outra entidade acolhedora que

correspondesse as minhas expectativas.

O meu principal objectivo, enquanto estagiária, é tripartido em três aspectos

que considero fulcrais para a minha evolução académica, nomeadamente o

enriquecimento e aperfeiçoamento de conhecimentos previamente adquiridos; a

construção de um portfolio sólido e coeso; e a evolução na componente de multimédia

em que se concentravam as minhas dificuldades e lacunas: a infografia.

5 Período de Intercâmbio Universitário realizado no Rio de Janeiro, Brasil. A realização do

programa de mobilidade teve lugar ao longo do 1º semestre do 3º ano, referente ao curso de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

6 Canal Televisivo de OutSource Television - Projecto Vencedor das Industrias Criativas de Serralves

Page 14: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

6

Tendo em consideração estes objectivos pessoais, estágios realizados em anos

anteriores e o apoio/conselhos que me foram dados, optei por uma instituição que

correspondesse e superasse as minhas expectativas: a Rádio Renascença.

Com a redacção estabelecida em Gaia, realizei um período de três meses de

estágio, no seio jornalístico de uma empresa de insigne destaque no panorama

comunicacional português.

Além da experiência profissional, tive o privilégio de ser integrada num grupo

de profissionais incomparáveis que, acima de tudo, contribuíram para o meu

crescimento pessoal, graças ao ambiente de entreajuda, confiança e amizade

intrínsecos à redacção da Rádio Renascença, Porto.

1.3 Objectivos do relatório e a sua correlação

com o estágio curricular

Este projecto é o culminar de três meses de constante aprendizagem e activa

partilha de conhecimentos, que se traduzem em engrandecimento académico e

pessoal. Ao longo do desenvolvimento da estética, como principal temática deste

trabalho, pretendo deslindar algumas das diversas vertentes inerentes a este conceito,

tendo como ponto de partida os diferentes projectos desenvolvidos na Rádio

Renascença.

Para este efeito, pretendo abordar as diferentes correntes infográficas

preconizadas pelos teóricos deste conceito, onde a utilização da estética é

preponderante, a história que constrói este conceito e as suas diferentes aplicações.

No período de estágio curricular realizado na RR, tive oportunidade de

desenvolver projectos referentes a diferentes ramificações da Multimédia: edição de

som e imagem, infografias estáticas, infografias dinâmicas, trabalho fotográfico e

captação de imagem para produção de reportagens.

Os dois principais obstáculos com que me deparei no decorrer do estágio

foram a programação de infografias dinâmicas, na medida em que o Workshop de

Page 15: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

7

AS3, realizado antes do início dos estágios curriculares, não é aprofundado o

suficiente para uma preparação eficaz dos alunos de multimédia; e a organização e

gestão de informação na infográfica, bem como a questão estética e gráfica

adequada às diferentes temáticas. Tendo em conta estas duas lacunas, optei por

desenvolver a minha pesquisa tendo como cerne a Estética e demais vertentes do

conceito.

A elaboração desta pesquisa ajudou a uma melhor estruturação do meu

pensamento gráfico e aprimorou o meu sentido estético, através da leitura de artigos

relacionados com o tema e a persistente pesquisa de projectos infográficos de renome.

Page 16: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

8

2. Contextualização do Tema

A Era Contemporânea faz-se de uma vasta multiplicidade de elementos

informativos, que nos guiam no nosso quotidiano. É fundamentado nesta sinestesia

composta pelos mais variados elementos (ícones, sinais, cores, linhas, contrastes), que

obtemos a percepção da realidade e que a nossa vida psíquica e física é construída.

Se abordarmos a realidade em que estamos inseridos de forma mais detalhada

e metódica, percepcionamos que vivemos num mundo “sobrecarregado de informação

ou excesso de dados”.7 Dados maioritariamente fornecidos pelos meios de

comunicação social que, de forma progressiva, começam a apostar, cada vez mais, na

imagem como complemento textual indispensável, para uma melhor compreensão da

mensagem por parte do público-alvo.

Intrinsecamente associada ao jornalismo, a infografia contemporânea é um

importante elemento valorativo no mundo da comunicação. O jornalismo, que durante

séculos se construiu apenas com base no texto, começa a contribuir cada vez mais

para esta complementaridade, através da infografia e da sua estética, de modo a

aguçar inusitadamente a capacidade de selecção informativa dos seus leitores, bem

como a rápida apreensão dos próprios dados fornecidos pelos média.

Apesar da informação/comunicação ser um dos componentes fulcrais da

infografia, a estética tem um lugar privilegiado na sua construção e concepção, dado

que sem determinadas regras organizativas e elementos preponderantes que conduzem

a nossa interpretação, a infografia não iria resultar enquanto elemento simplificativo

da informação.

Contudo, apesar do peso preponderante da imagem numa ilustração

infográfica, a posição hierárquica da estética e do conteúdo informativo não é

consensual no mundo infografista, sendo atribuída mais relevância à estética por uns,

enquanto outros conferem mais verosimilhança ao conteúdo informativo,

distanciando, respectivamente, os restantes conceitos para segundo plano.

7 McCandlesse, David (2010 Julho) The beauty of data visualization: David McCandless

(Ficheiro de Vídeo) retirado de http://blog.ted.com/2010/08/23/the-beauty-of-data-visualization-david-mccandless-on-ted-com/ Consultado em 19-06-2011

Page 17: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

9

Alberto Cairo, prestigiado infografista espanhol, define a infografia como

“qualquer representação gráfica na qual elementos verbais e visuais são combinados

com o objectivo de contar uma história jornalística”8, tendo em conta que a sua

natureza tem que ser “múltipla e flexível”.

É na notória convergência entre o textual e o visual que se faz notar a

preponderância da estética infográfica, encontrando apoio nas suas componentes

visuais para concretizar o seu principal objectivo: informar.

David McCandless, criador do website “Information is Beautiful” é um

incansável utilizador da estética na construção visual da infografia. Esta máxima

criada não só por designers, mas também por jornalistas, ajuda-nos a filtrar o que é

realmente importante na grande poluição de dados/informação em que vivemos. De

um modo futurista, McCandless desconstrói a realidade que o rodeia, através do seu

processo criativo (apostando na cor, contrastes e formas), produzindo infografias

extremamente completas a nível temático e informativo, que estimulam os nossos

sentidos no processo da sua interpretação.

Remetendo para a definição da própria palavra, “estética é a ciência que trata

do belo em geral e do sentimento que ela desperta em nós; retrata a beleza de algo”9, é

uma palavra intrínseca ao design e essencial à filosofia. Todavia, na infografia, a

estética supera-se a si própria e ultrapassa o inerente significado.

A estética vai além do sentido lato da própria palavra, comportando em si uma

forte conotação e associação à área da filosofia, no que diz respeito à análise e

entendimento do que é belo. É considerado um conceito inerente ao pensamento

humano, da perspectiva filosófica é tripartido entre a verdade, o bem e o belo.

Para além da sua proximidade com a máxima de beleza, a estética tem em si

uma capacidade organizacional e ‘sinestésica’ que atribui ao elemento infográfico um

8 Teixeira, Tattiana (2007 Maio) “A presença da infografia no jornalismo brasileiro –

proposta de tipologia e classificação como género jornalístico a partir de um caso de estudo” Consultado em 20-06-2011

9 Cecilio, Evane (2011 Abril) “A infografia no jornalismo impresso: além da simples contemplação, um novo modo de se fazer jornalismo” Consultado em 22-06-2011

Page 18: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

10

papel fulcral na comunicação. É a principal ponte de convergência entre a informação

verbal e visual que cria uma narrativa própria e independente, ‘alimentando’ uma

relação de simbiose entre a informação e o design.

Page 19: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

11

3. Metodologia

O presente trabalho baseou-se na experiência profissional adquirida durante o

estágio na Rádio Renascença, o qual foi uma porta para a fomentação de opiniões no

âmbito da estética das infografias. Com o contacto mais concreto com infografias e o

seu funcionamento, foi possível o desenvolvimento de opiniões críticas, bem como de

ilações obre a temática abordada.

A partir da consulta bibliográfica e revisão da literatura, nomeadamente

artigos académicos, foi ainda realizado um estudo aprofundado sobre o tema; estudo

esse essencial para a fundamentação das ideias e conclusões que foram sendo

apresentadas ao longo do trabalho.

Page 20: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

12

4. Objectivos

O principal objectivo desta pesquisa é apurar a importância que a estética pode

ter num elemento infográfico. É essencial a análise das opiniões discordantes,

relativamente à posição hierárquica da estética e da componente informativa numa

construção infográfica, de modo retirar algumas conclusões incisivas de qual o

melhor método de trabalho a adoptar.

Compreender de que modo é que a vertente filosófica do conceito de estética

tem parte activa na criação e execução da infografia, enquanto expressão artística, é

um dos tópicos relevantes a ser esclarecido ao longo deste projecto.

Percepcionar até que ponto a estética se torna decisiva na construção de uma

infografia, é um dos principais objectivos aqui propostos, de modo a compreender a

ténue relação de simbiose estabelecida entre estética e a informação.

Page 21: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

13

5. Os primórdios filosóficos da Estética

Com o passar dos séculos, a concepção de estética criou uma envoltura numa

multiplicidade de conceitos divergentes, que dificultam o apuramento do cerne da

própria palavra. Esta mesma ‘indefinição’ pode levar a incongruências na aplicação

deste termo, daí ser necessário remeter para as origens da própria palavra para

desmistificar determinados pareceres.

Uma das suas raízes milenares mais tratadas é a inerência filosófica que lhe

está adjacente, tema tratado desde os tempos da Antiga Grécia, por Aristóteles. Com a

criação da primeira obra que trata a ‘arte’, o filósofo baseia a sua linha de pensamento

artístico na máxima “a arte imita a natureza”, que posteriormente se tornou no

paradigma do pensamento estético ocidental.

No âmbito filosófico, a “estética é o pensamento (…) que estuda a arte do

belo”10, remetendo para a apreensão do mundo sensível que o rodeia, bem como para

“a intuição de beleza”. Apesar da permanente mescla associativa entre estética e

história da arte, ambos os conceitos criaram entre si, uma relação antagónica, na

medida em que a primeira “busca a condição possibilidade de toda a manifestação

artística” e a segunda “descreve as diversas manifestações artísticas, tanto nos seus

elementos gerais como nos específicos”11.

‘Introduzida’ pelo filósofo alemão, Alexander Gottlieb Baumgarten, no século

XVIII, a Estética enquanto disciplina da filosofia adquire o estatuto de “ciência do

belo e da arte” relacionada com o conhecimento sensorial, “contrastando como o

conhecimento cognitivo, que implica a prévia aprendizagem de determinado tema”12.

Todavia, só com Kant é que o conceito é consolidada no âmbito filosófico, alcançado

uma ampla difusão e contribuindo para investigações mais complexas do

10 Sobrealgo.com.br – ‘Sociofilosofia’ Retirado de

http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/estetica.html Consultado em 16-06-2011

11 Sobrealgo.com.br – ‘Sociofilosofia’ Retirado de http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/estetica.html Consultado em 18-06-2011

12 Psicologia do Desenvolvimento – ‘Ciência vs Senso-comum’ Retirado de http://psicofadeup.blogspot.com/2011/05/ciencia-vs-senso-comum.html Consultado em 18-06-2011

Page 22: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

14

conhecimento sensorial, habitualmente referido como senso-comum. O filósofo

fundamenta as suas conclusões com a própria aproximação da palavra ‘estética’ da

sua raiz grega, ‘Aithesis’, cujo significado é sensação (Associação idêntica à de

Baumgarten).

Para a filosofia kantiana, os juízos estéticos baseiam-se na beleza livre que

reside na atitude desinteressada do indivíduo, que por si só está sujeito a qualquer

experiência. O contacto com o que nos rodeia, bem como o uso da visão, são os

principais instigadores da experiência do belo e do verdadeiro contacto com a estética

enquanto elemento integrante do nosso pensamento.

A atmosfera afectiva que envolve o ser humano é um factor determinante da

sua percepção. A captação cognitiva dos objectos ocorre através dos cinco sentidos,

sendo ‘a visão’ o mais preponderante, no caso da estética. A atribuição de valor

estético provém da mescla entre visualização e manifestação de sentimentos,

ocorridos aquando da contemplação de determinada forma, a que atribuímos um

‘valor afectivo’ elevando-a “ (…) do plano da utilidade para o plano da contemplação

estética”13.

A contrastar com as teorias de Kant, encontramos também Hegel que defende

a superioridade do ‘belo artístico’ sobre o ‘belo natural’. De acordo com a sua

perspectiva filosófica, no que diz respeito à estética, Hegel ‘restringe’ a amplitude

deste conceito, alegando que este apenas deve explorar questões do ‘belo artístico’,

relegando para segundo plano as apreensões sensitivas a que o indivíduo está exposto

diariamente (‘belo natural’). Para o filósofo, apenas quando o ser humano está perante

algum elemento classificado como ‘arte’, é que pode tirar as suas percepções estéticas

e ‘classificar’ se o que contempla é bonito ou feio.

Visto isto, estamos perante a subordinação das operações racionais e morais à

experiência estética, tendo em consideração que damos destaque ao carácter intuitivo

com o meio em que o indivíduo está inserido.

13 A experiência estética Retirado de http://pt.shvoong.com/humanities/479657-

experi%C3%AAnciaest%C3%A9tica/#ixzz1PvBkAdwV Consultado em 18-06-2011

Page 23: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

15

John Hospers, filósofo americano, contraria as teorias dos seus ‘antepassados’

ao afirmar que o pensamento estético fundamenta-se na unidade, tendo em conta a sua

conotação e significado. O escritor parte deste conceito para o alcance mais eficaz de

uma experiência estética bem-sucedida, através da contemplação e percepção do

objecto como algo uno. “A unidade é o oposto do caos, da confusão, da desarmonia:

quando um objecto está unificado, podemos dizer que tem consistência e não

apresenta nada supérfluo”14.

Na perspectiva empírica, a estética é conotada como algo percepcionado pelo

indivíduo que desperta em si uma panóplia de sensações que podem oscilar entre o

deleite e a repudia visual. “É importante ressaltar que o julgamento estético não tem

base nos desejos de quem observa, e muito menos na sua fisiologia (…)”15 a

experiência estética está sim, vinculada aos sentidos, ao ‘sensorialmente agradável’.

Como súmula de todos estes pareces, apesar de alguns serem contraditórios, é

pertinente destacar que a estética é um elemento que varia de indivíduo para

indivíduo, de acordo com os seus gostos e vivências. É um conceito versátil de

carácter metamórfico que evolui em cada sociedade de acordo com as tendências.

Para cada ser humano, enquanto indivíduo único e singular, o belo é traduzido

em algo autêntico, intrinsecamente relacionado com uma multiplicidades de

significados, que fazem despoletar determinadas sensações, que culminam com o

processo de experiência estética.

O que é esteticamente agradável nos dias que correm, certamente não terá a

mesma visibilidade ou impacto daqui a 10 anos. Apesar da constante mutação de

tendências e costumes, o durame da palavra permanece intacto, na medida em que a

estética terá sempre implícito o belo, através da nossa experiência extra-sensorial.

Actualmente já não são ininterruptos os padrões ou percepções estéticas

14 Hospers, John (2006 Novembro) “Historia y Fundamentos” Cap. 1 Consultado em 20-06-

2011

15 Rodrigues, Adriana Alves (2007 Setembro) “Visualização de dados na construção infográfica: abordagem sobre um objecto em mutação” Consultado em 28-07-2011

Page 24: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

16

enfatizados pela sociedade. Cada ‘objecto’, artístico ou não, estabelece o seu próprio

tipo de beleza, de acordo com a visualização e experiências estéticas de cada um.

Page 25: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

17

6. Tendências infográficas – a crescente

preeminência da estética no mundo gráfico

A infografia como elemento comunicacional de diversos meios de informação,

não encontra quaisquer padrões formais que a classifiquem ou determinem a sua

definição. “La infografia es una ‘herramienta de simplificación’, sino de análisis.

Intentar ir siempre más álla de la noticia”16.

Pela sua ‘inter-’ e multidisciplinaridade, os elementos infográficos encontram

no conceito híbrido o fundamento da sua criação, tendo em conta a pluralidade de

características ou divisões que podem ser atribuídas.

Todavia, diversos modelos de classificação foram criados por teóricos que

procuram a definição corpórea deste meio comunicacional. A pluralidade destes

modelos remete para a criação de elementos infográficos dinâmicos, cuja estrutura é

bastante diferenciada da infografia estática.

Para uma compreensão mais estruturada, é importante fazer uma breve revisão

de alguns dos modelos de classificação de infografias mais recorrentes. Este é um dos

caminhos mais adequados para fomentar um melhor entendimento da aplicação da

estética nas diferentes áreas da infografia, atribuindo especial enfoque ao modelo

veiculado por Alberto Cairo e às teorias sintetizadoras e futuristas de David

McCandless.

De acordo com o estudo elaborado por Beatriz Ribas, realizado em 2004,

Nichari e Rajamanickam (2003), criaram um modelo de comunicação, “ (…) útil para

a composição de narrativas diferenciadas, tendo em mente o público para o qual são

16 Cairo, Alberto (2011) “Blog El Pais” Retirado de

http://visualizacaodainformacao.wordpress.com/2011/03/14-del-periodismo-alberto-cairo/ Consultado em 28-06-2011

Page 26: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

18

estruturadas (...) ”17, baseado na intenção comunicativa de elementos infográficos

com o principal objectivo de garantir a sua eficiência na representação de múltiplos e

distintos temas.

Esta mesma classificação não atribui especial enfoque à matéria jornalística;

contribui sim para a reflexão ponderada do tratamento visual do conteúdo

informativo.

Infografia Narrativa é uma das nomenclaturas pertencentes a este modelo e

visa o destaque à narração de um facto/acontecimento, possibilitando o envolvimento

do indivíduo no tema tratado. Esta classificação exprime o ponto de vista da temática

tratada e pode incluir tanto histórias pessoais, como estudos de caso.

Já com uma perspectiva diferenciada do primeiro modelo, a Infografia

Instrutiva tem um carácter mais incisivo relativamente à questão que representa. Dá

enfoque ao pormenor, indicando todas as etapas do seu conteúdo informativo.

Com um cunho que revela maior proximidade com a Infografia Narrativa, a

Infografia Exploratória compele o indivíduo à desmistificação do tema tratado, com

o intuito de traduzir da forma mais correcta e verosímil o seu sentido.

Por último, no modelo de classificação infográfico, Nichari e Rajamanickam

(2003) incluíram ainda a Infografia Simulatória que induz o indivíduo a reviver

determinado acontecimento/situação, como se o tivesse presenciado na realidade.

Em todas estas classificações infográficas é necessário o uso diversificado de

elementos estéticos para melhor veicular a informação pretendida. Sem a devida

utilização destes recursos, uma das principais questões da infografia não se cumpre:

despoletar o inusitado deleite estético.

17 Ribas, Beatriz (2004) “Infografia Multimídia: um modelo narrativo para o webjornalismo”

Consultado em 28-06-2011

Page 27: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

19

Encadeado no pensamento deste modelo classificatório, Beatriz Ribas (2004)

sugere uma classificação com diferentes níveis hierárquicos, assentes nos seguintes

conceitos base: Tipos, Estado e Categorias.

No que diz respeito aos tipos existentes, Ribas inicia a sua classificação com o

tipo Autónomo (a infografia cria a sua narrativa independente, dispensando qualquer

tipo de elemento textual para ser corroborado. Neste parâmetro, o texto é

complemento da infografia, criando “ (...) uma unidade informativa independente (...)

”18); e termina com o tipo Complementar, que é referente tanto à componente textual

como à componente infográfica per si. Referente ao conceito de Estado, encontramos

a Actualidade (elemento infográfico desenvolvido no momento) e a Memória (que

considera a “lógica estruturante do ciberespaço”19, nomeadamente a sua vasta

capacidade de armazenamento de dados). Por último, Sequencial, Relacional e

Espacial, são os elementos constituintes de Categorias, que determinam a linha

narrativa do elemento infográfico.

Para além dos arquétipos veiculados por teóricos acima supracitados, é

importante referir, de forma sucinta, a classificação infográfica difundida por Valero

Sancho (1999), que acrescenta mais um item classificatório ao modelo preconizado

por Nichari e Rajamanickam (2003), consiste no infográfico Interactivo que

mediante o seu grau de interacção, estabelece o princípio de “tele-acção”. Através

deste novo conceito, o grau de envolvência é ampliado pelo potencial do elemento

infográfico e, consequentemente, o indivíduo sente-se parte activa do projecto.

Já Tattiana Teixeira propõe um modelo infográfico que difere da maioria pela

divisão deliberada: Infografia Enciclopédia e Infografia Específica. A primeira

classificação tem por defeito o tratamento de temáticas especificam, maioritariamente

18 Rodrigues, Adriana Alves (2007 Setembro) “Visualização de dados na construção

infográfica: abordagem sobre um objecto em mutação” Consultado em 27-06-2011

19 Ribas, Beatriz (2004) “Infografia Multimídia: um modelo narrativo para o webjornalismo” Consultado em 28-06-2011

Page 28: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

20

ligadas às áreas científicas. Já a infografia Específica dá especial atenção ao

tratamento de hardnews jornalísticas, a eventos isolados e concisos.

Além dos últimos modelos referidos, é importante referir a distinção feita por

Alberto Cairo, entre os modelos conceptuais da infografia que estão em ‘vigor’

actualmente.

Para o infografista é evidente a existência de uma ‘antonímia’ na

concomitância entre duas percepções infográficas, que se distanciam, em

determinadas situações, embora se complementem em raras prerrogativas, sendo elas

a Infografia Estetizante e a Infografia Analítica.

Nas competências atribuídas à Infografia Estetizante (Ilustração 1), está o

destaque da componente visual em relação ao valor analítico. Contudo, este último

nunca é descurado por parte do infografista – cf. com “La infografia es una forma de

Ilustração 1- New York Times, “President Obama’s Proposed 2011 Federal Budget”

Page 29: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

21

diseño gráfico o arte visual destinada a hacer las páginas más atractivas y la

información más simples para los lectores.”20 .

Este é o modelo predominante da actualidade, professado por diversos órgãos

de comunicação social de referência, como o New York Times. De acordo com os

teóricos, a utilização de uma estética mais gráfica e icónica, auxilia o processo de

memorização e compreensão de grandes quantidades de informação.

Caso os gráficos apresentem uma complexidade exacerbada, no que diz

respeito à veiculação de informativa, a aplicação da estética como elemento

substancial exige uma atenção redobrada, para o elemento infográfico não ser

associado a ‘poluição visual’.

A adopção da Infografia Estetizante como modelo de trabalho, valoriza o

aspecto da imagem e a da composição, tendo em conta que esta é a base de todo o

projecto.

20 Cairo, Alberto (2011) “Blog El Pais” Retirado de

http://visualizacaodainformacao.wordpress.com/2011/03/14/como-los-origenes-de-la-visualizacion-nos-ayudan-a-entender-el-futuro-del-periodismo-alberto-cairo/ Consultado em 28-06-2011

Ilustração 2 -Sukhoy (2008): Infográfico produzido para Revista Época

Page 30: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

22

Concebida de forma divergente da Infografia Estetizante, a Infografia

Analítica (Ilustração 2) dá prioridade à exactidão de dados e ao seu conteúdo

informativo, potencializando a apreensão do mesmo – cf. com “La infografia es la

rama del preriodismo que, usando las herramientas del diseño, la cartografia, la

representación estadística y la diagramática, facilita la comprensión y le análises de

informaciones.” 21

A escolha deste modelo como base de um projecto infográfico implica a

valorização do conteúdo informativo, relegando para segundo plano a componente

estética, com o intuito de aglomerar leituras interpretativas extensivas por parte do

indivíduo.

As infografias orientadas por este ‘estilo classificativo’, têm um notório cunho

científico, que procura a exactidão e verosimilhança das informações, atribuindo

visibilidade a um conjunto de dados de complexa apreensão.

Na Infografia Analítica são reveladas evidências e pormenores informativos

da temática abordada, que não têm tanto enfoque na sintetização e simplificação de

dados na Infografia Estetizante.

Relativamente à opinião de Alberto Cairo, a actualidade infográfica está a

passar um período de transição estética e organizacional, corroborada pela adopção de

novos estilos infográficos mais estilizados, no que diz respeito ao seu grafismo, e

mais complexos em relação ao conteúdo informativo.

21 Cairo, Alberto (2011) “Blog El Pais” Retirado de

http://visualizacaodainformacao.wordpress.com/2011/03/14/como-los-origenes-de-la-visualizacion-nos-ayudan-a-entender-el-futuro-del-periodismo-alberto-cairo/ Consultado em 28-06-2011

Page 31: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

23

Dissidente dos restantes modelos infográficos, David McCandless é o

principal precursor de uma inovadora tendência infográfica que encontra os seus

fundamentos na completa estilização e simplificação de dados: o Dataviz. (Ilustração

3).

Este modelo inovador, auxilia na visualização de dados, que

consequentemente se transformam em padrões de interpretação gráfica e

comunicacional. Para McCandless “A informação nunca pode depender do design”22,

tendo em conta que o comprometimento da mesma, iria por em causa a clara

interpretação da mensagem.

Apesar do design estético ser um dos elementos decisivos do Dataviz, o

conteúdo informativo tem igual hegemonia, caso contrário a finalidade comunicativa

fica comprometida – cf. com “ (...) a criação visual só pode aparecer quando a

pesquisa já está feita. O caminho é de baixo para cima.”23.

22 McCandless, David (2010) “Information is Beautiful”, HarperCollins Publishers

Consultado em 27-06-2011

23 McCandlesse, David (2010 Julho) The beauty of data visualization: David McCandless (Ficheiro de Vídeo) Retirado de http://blog.ted.com/2010/08/23/the-beauty-of-data-visualization-david-mccandless-on-ted-com/ Consultado em 18-06-2011

Ilustração 3 -Dataviz criado por David McCandless – “Information is Beautiful”

Page 32: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

24

O Dataviz tem como objectivo final “ (...) retirar o véu de algumas conexões

que estavam encobertas pelo excesso de informação que por vezes não conseguimos

interpretar.”24

A corroborar este paradigma inovador, existe uma representação do diagrama

de Venn (Ilustração 4), criada por McCacndless. Este diagrama fomenta a intersecção

de quatro elementos, que objectivamente enaltecem o aspecto visual de um elemento

infográfico.

A ausência de algum destes elementos (“integrity” + “interestingness” +

“function” + “form”) ocorre em peças inacabadas ou graficamente disfuncionais. Esta

linha de pensamento, criada por David McCandless, atribui máximo relevo ao aspecto

visual de uma infografia, considerando-o o coração de um projecto de sucesso.

24 McCandless, David (2010) “Information is Beautiful”, HarperCollins Publishers

Consultado em 29-06-2011

Ilustração 4 -Representação do Diagrama de Venn por

David McCandless

Page 33: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

25

“A medida que aumenta el conocimiento humano y las traducciones se

multiplican, se vuelve más y más deseable abreviar y facilitar los modos de transmitir

información de una persona a otra y de un indivíduo a varios” 25

Cada vez mais é lícito o destaque à componente estética na concepção de uma

infografia. As vicissitudes do mundo infográfico acompanham a evolução das

sociedades e o pensamento progressivamente objectivo no descortino excessivo de

dados – cf. com “Vivimos un tiempo de transición para la infografia periodística, el

uso de diagramas con fines informativos. La irrupción de Internet y de nuevas

herramientas y técnicas ha desencadenado una etapa llena de incertidumbres tanto en

el mundo profesional como en el académico.” 26

Objectividade é uma das palavras dominantes nos correntes ‘modelos’ de

construção infográfica – cf. “Information is Beautiful” de David McCandless -, que

assiste a organização informativa.

É importante reter no pensamento infografista que “La infografia es una

‘herramienta de simplificación’, sino de análisis (...) ”, sendo importante “ (...)

intentar ir siempre más alla de la noticia.” 27

25 Cairo, Alberto (2011) “El Arte Funcional – infografia y vizualización de información”,

Alamut Consultado em 29-06-2001

26 Cairo, Alberto (2011) “Blog El Pais” Retirado de http://visualizacaodainformacao.wordpress.com/2011/03/14/como-los-origenes-de-la-visualizacion-nos-ayudan-a-entender-el-futuro-del-periodismo-alberto-cairo/ Consultado em 28-06-2011

27 Cairo, Alberto (2011) “El Arte Funcional – infografia y vizualización de información”, Alamut Consultado em 29-06-2001

Page 34: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

26

7. O uso da estética na Infografia

Infografia, acrónimo derivado da palavra anglo-saxónica ‘infographics’, é

traduzida e fundamentada através da expressão ‘informação gráfica’, que sintetiza

toda a sua complexidade. Apesar do seu significado contemporâneo, a infografia

como tradução e simplificação de um grande número de informações remonta a 6200

a. C., altura em que o ser humano começou a registar determinadas representações

informativas que o auxiliavam na interpretação tanto de dados como de situações.

Partindo destes primeiros passos, que vão de Leonardo DaVinci (Ilustração 6)

a Harry Beck (Ilustração 5), a infografia foi evoluindo por entre mapas e diagramas

geométricos, até impor o seu carácter informativo no mundo jornalístico.

No final dos anos 80, início dos anos 90, a infografia como veículo

comunicacional, alcança o sucesso no mundo do jornalismo como suporte visual que

complementava a notícia, simbolizando uma corroboração do texto e não como

narrativa independente, como é evidente na actualidade.

Ilustração 6 - Mapa do Metro de Londres criado por Harry Beck

Ilustração 5 -Estudo de Embriões, por

Leonardo DaVinci

Page 35: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

27

Ao longo dos anos 90, a infografia inovou pela vertente dinâmica, que

começou a ser explorada através do programa ‘Flash’, da Adobe. Este “ aplicativo

tornou-se um ícone de uma nova estética, constituindo-se numa forma mais

cinematográfica que tipográfica, além de apresentar uma mistura pictórica de

imagens” (Lupton, 2006:132)28 .

Tendo os anos 90 como ponto de partida, começamos a assistir a uma

simbiose de linguagens graças à internet, na medida em que este é um dos principais

meios difusores da infografia, bem como um dos principais responsáveis pela

recorrente criação de novas tendências infográficas.

Actualmente, a infografia “é a área onde mais se detecta a evolução rumos a

novas formas (...) ”29 (Salaverría, 2007:3) de comunicação, bem como da sua

visualização. Apesar de ser encarada como um ‘elemento secundário’ aquando da

criação da infografia, a estética encontra hoje um lugar de excelência na concepção

infográfica.

É com a transversalidade entre a sintetização e a visualização de informação,

que a infografia cumpre o seu principal objectivo, utilizando a estética como principal

via captadora do interesse e atenção do indivíduo.

O uso da visualização como filtro informativo é um dos elementos mais

importantes na construção de uma infografia coesa e incisiva.

David McCandless afirma que “este é o caminho mais indicado para que

possamos ver padrões e conexões que interessam” de maneira a, posteriormente,

projectar essa informação atribuindo-lhe um significado ou distribuí-la de forma a

28 Rodrigues, Adriana Alves (2007 Setembro) “Visualização de dados na construção

infográfica: abordagem sobre um objecto em mutação” Consultado em 28-07-2011

29 Teixeira, Tattiana (2007 Maio) “A presença da infografia no jornalismo brasileiro – proposta de tipologia e classificação como género jornalístico a partir de um caso de estudo” Consultado em 20-06-2011

Page 36: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

28

“contar-nos uma história ou a permitir-nos focar somente a informação que realmente

importa”30.

Ao atribuirmos padrões informativos a determinado tema, estamos

desmembrar e simplificar a sua complexidade, incidindo em formas, cores, contrastes,

elementos tipográficos. É através deste processo que a mensagem implícita de uma

infografia chega rapidamente ao indivíduo, facilitando o processo de descodificação e

interpretação. A estética é intrínseca ao conceito de beleza, independentemente da sua

multiplicidade de vertentes e associações.

A simbiose criada pelo nicho infográfico, entre a estética e a comunicação,

pode tornar-se bastante ambígua em determinadas situações. A ‘questão’ adjacente à

construção de uma infografia coloca em causa a importância destes dois elementos,

bem como o seu carácter indispensável nesta ‘arte’ em constante evolução.

Para além do seu cunho informativo, a infografia tem como objectivo ser algo

esteticamente agradável ao ‘olho humano’. Algo sedutor que atraia o seu ‘espectador’

e conduza a uma ‘exploração’ que vá além do simples olhar.

Uma infografia rica a nível informativo, todavia pobre a nível estético,

dificilmente capta a atenção do ser humano, uma vez que o olhar deste é aliciado

pelas mais diversas componentes gráficas como a cor, a tipografia, imagem, contraste

(como referido na introdução).

Apesar de o típico Infografista que, como profissão começa a ser uma

raridade, o objectivo da criação de uma infografia mantém-se igualmente para os seus

sucessores/substitutos, (quer designers, quer programadores): a incessante procura de

“um design que enfatize a capacidade das coisas em proporcionar experiências” com

um valor intrínseco, “ (...) um design que cultive a sua própria identidade (...)”31 e que

concilie o tanto o carácter estético, como comunicacional da infografia.

30 McCandlesse, David (2010 Julho) The beauty of data visualization: David McCandless

(Ficheiro de Vídeo) Retirado de http://blog.ted.com/2010/08/23/the-beauty-of-data-visualization-david-mccandless-on-ted-com/ Consultado em 18-06-2011

31 Cecilio, Evane (2011 Abril) “A infografia no jornalismo impresso: além da simples contemplação, um novo modo de se fazer jornalismo” Consultado em 22-06-2011

Page 37: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

29

7.1 Exploração de Elementos e Recursos na

Estética

É errada a ideia pré-concebida de que a aplicação da estética num

elemento infográfico pressupõe colorir ou ilustrar o ‘espaço’ a ser editado. Toda a

forma, linha ou contorno tem em si implícito o conceito de estética – cf. com

“Demasiada ilustración: poca reflexión sobre como usar la simbiosis entre dibujos y

textos para explicar mejore las historias”32.

Partindo desta conjectura, a ‘simbiose’ destes mesmos elementos pode ou não

ser bem concretizada, no que diz respeito à visualização da estética por excelência.

Por ‘defeito’, os elementos estéticos usados em qualquer composição artística

têm de ser dotados da capacidade de passar as mensagens subliminares adjacentes à

obra. No caso da infografia, estes mesmos elementos são importantes ‘veículos

condutores’ da compreensão e interpretação do tema tratado, por parte de quem a

visualiza.

Critérios visuais como o agrupamento de informação (que se reflecte no

estabelecimento de relações visuais entre informações), a adequação de elementos

visuais ou hierarquização de informação são auxiliados por elementos estéticos que

simplificam o processo de leitura da infografia.

Para o designer Paul Rand, existe uma evidente relação de proximidade entre a

informação e o design, no que diz respeito à aplicação da estética – “without

aesthetics you cannot find truth – to do things with quality. I think is in a big sense

what aesthetics means”33.

Um projecto estético bem-sucedido utiliza uma panóplia de ícones e

representações que simbolizam e corroboram o valor da informação que se pretende

32 Cairo, Alberto (2008) “Infografia 2.0: visualización interactiva de información en prensa”

Consultado em 29-06-2011

33 Rand, Paul Retirado de http://nextandmore.com/no-truth-without-aesthetics-paul-rand/ Consultado em 21-06-2011

Page 38: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

30

veicular. No caso da infografia, a aparência é uma questão fulcral para que esta

resulte, nunca descorando o seu conteúdo informativo.

O funcionamento de todas as partes de um elemento infográfico em uníssono é

essencial para simplificar a sua complexidade. “As partes de determinado elemento

infográfico devem relacionar-se internamente para alcançar a unidade e não o caos

(...) ”34 informativo.

Quando existe o recurso a elementos estéticos e imagéticos, seguindo

determinados critérios, estes podem produzir um efeito de magnetismo que suscita o

interesse de que a visualiza.

Embora exista uma clara dissonância de opiniões no que respeita a linguagem

da estética, ou elementos estéticos per si é visível a conformidade entre determinados

elementos comuns, que estão peculiarmente pautados com conceito e aplicação da

estética – cf. com “The vocabulary of a language of art, or of aesthetics: orders,

variety, contrasts, symmetry, tension, balance, scale, texture space, shape, light, shade

and color”35. São estes os elementos primordiais indispensáveis à execução de algo

que provoque deleite estético ao indivíduo. Contrariamente ao encanto que estes

recursos podem despertar, o seu uso excessivo pode produzir um sentimento de

saturação e desinteresse, efeito dissemelhante ao pretendido aquando da criação do

elemento infográfico.

Para além da utilização dos mais variados elementos constituintes da estética,

é necessário ter em conta determinadas condicionantes para se alcançar a harmonia

entre estética e conteúdo informático. Elementos como usabilidade, ergonomia,

semiótica dos elementos formais da composição, a semiótica visual dos diversos

recursos estéticos e psicodinâmica das cores são factores partilhados tanto pela

34 Hospers, John (2006 Novembro) “Historia y Fundamentos” Cap. 1 Consultado em 20-06-

2011

35 Rand, Paul Retirado de http://nextandmore.com/no-truth-without-aesthetics-paul-rand/ Consultado em 21-06-2011

Page 39: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

31

estética, como pelo conteúdo informativo que visam o alcance da experiência

sensorial positiva por parte do indivíduo.

Os quatro elementos intrinsecamente associados a uma composição

infográfica são a cor, a tipografia, ícone e imagem.

7.1.1 Psicodinâmica das cores

A associação imediata da cor está directamente relacionada com a

psicodinâmica das cores, que contribui para a estrutura psíquica do ser humano. Esta

associação consiste na capacidade de interacção directa com o estado de espírito do

indivíduo que se encontra permanentemente activa, receptiva e susceptível ao

despertar de sentimentos e emoções.

“Belo é o que deriva de uma necessidade psíquica interior. [...] A cor é a tecla.

O olho é o martelo. A alma é um piano com muitas cordas. O artista é a mão que, com

esta ou aquela tecla, faz vibrar a alma”36.

O conceito sui generis de cor, encontra em si algo de instintivamente

relacionado com o inconsciente humano. Deste modo, uma correcta usabilidade deste

elemento pode impelir o indivíduo ao deleite estético, bem como à rápida apreensão

da mensagem.

36 Citação retirada de Cecilio, Evane (2011 Abril) “A infografia no jornalismo impresso:

além da simples contemplação, um novo modo de se fazer jornalismo” Consultado em 22-06-2011

Page 40: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

32

“O que os olhos fazem é alimentar o cérebro com informação codificada (...),

quando olhamos para alguma coisa, o padrão de actividade neural representa o

objecto (...). Não está envolvida qualquer imagem interna”37

Tal como podemos notar na Ilustração 7, o uso de cores adaptou-se à temática

tratada, de modo a criar um processo associativo mais rápido e eficaz. Com tons

sóbrios e discretos, a infografia com o tema “Beatificação de João Paulo II” é

retratada de forma concisa e directa.

De acordo com os significados empíricos atribuídos às várias tonalidades de

dourado, conjugadas num simples gradiente, esta cor pode induzir o indivíduo a uma

sensação de equilíbrio e harmonia.

Além das possíveis emoções suscitadas, o dourado tem uma conotação

implícita associada aos conceitos de sabedoria, poder e conhecimento, que conduzem

o indivíduo a uma rápida associação à Igreja Católica. Apesar do notório excesso

informativo, este factor pode ser suavizado pela psicodinâmica da cor, ao captar a

atenção e, possivelmente, suscitar o interesse para o seu conteúdo comunicacional.

37Modesto Farina, Clotilde Perez, Dorinho Bastos (2006) “Psicodinâmica das cores em

Comunicação” Edgard Blucher Consultado em 28-06-2011.

Ilustração 7 -Infografia sobre a Beatificação de João Paulo II, no âmbito das celebrações ocorridas em Maio, para o Página1 (Rádio

Renascença)

Page 41: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

33

Mais do que um recurso, a cor e todos os seus constituintes são um dos cernes

da estética infográfica. No que diz respeito ao auxílio na transmissão de mensagens

subliminares, bem como no alcance do arrebate estético, a cor é um recurso

imperativo a ser utilizado, tanto pela sua abrangente significância, como pela sua

capacidade psíquica e emocional.

7.1.2 Tipografia

No que diz respeito à tipografia, no âmbito da estética, a escolha da mesma

pode ser um processo mais complexo e moroso do que aparenta. Este recurso estético

determina, de certo modo, a sintonia estabelecida entre mensagem e receptor, assim

como a sua eficaz percepção.

“Cabe ao designer escolher os componentes ideais de um layout (...) ”38, daí a

escolha da tipografia ser um elemento preponderante para uma boa concretização

estética.

A nível conceptual, a escolha tipográfica a ser utilizada tem de ter em

consideração os seguintes aspectos: “relação com o projecto; relação com imagens

utilizadas; relação com outras fontes utilizadas no mesmo projecto.”39 A tipografia é

também conotada como um importante elemento na hierarquização de elementos

informativos numa infografia. O texto/conteúdo escrito de um elemento infográfico

precisa de ser acessível e inteligível para o indivíduo, de maneira a este apreender,

sem esforço redobrado, a função e preponderância de cada título, subtítulo, legenda

ou corpo de texto.

38 Ana Paula Santos e Susana Funk (2003) “A importância da tipografia na história e na

comunicação”, Univali Consultado em 27-06-2011

39 Farias, Priscila L. (2006) “Tipografia digital: O impacto das novas tecnologias”, Rio de Janeiro Consultado em 28-06-2011

Page 42: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

34

Como podemos percepcionar na Ilustração 8, a escolha tipográfica vai ao

encontro da peculiaridade do tema tratado: a raça de gatos Manx, oriunda da Ilha de

Man. Este tipo de letra ‘mais flexível’ e diferente, pode suscitar o interesse do

indivíduo, para uma visualização aprofundada e mais atenta da infografia. Dada a

opção do tipo de letra, a hierarquia atribui-se aos diferentes tamanhos estabelecidos

entre títulos e subtítulos.

Para retratar a informação mais concisa e concentrada, é notória a opção de

um tipo de letra mais estilizado, que indique a verosimilhança e precisão das

informações tratadas e crie o equilíbrio entre a estética e a informação a veicular.

“A tipografia é o ofício que dá forma visível e durável – e portanto existência

independente – à linguagem humana”40.

40Bringhurst, Robert (2005) “Elementos do estilo tipográfico versão 3.0” Consultado em

29-06-2011

Ilustração 8– Infografia sobre a raça de gatos Manx II, no âmbito das

corridas automobilísticas da Ilha de Manx, para o Página1 (Rádio

Renascença)

Page 43: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

35

7.1.3 Ícones

De acordo com o seu contexto e localização, os ícones podem representar um

grande desafio à veiculação de conteúdo informativo. Caso a sua aplicação seja a

mais correcta, presenciamos uma simplificação de imagem que facilita a apreensão da

mensagem que pretendemos passar – “As contextually-located objects, icons

exemplify big challenges of comunication and interpretation when using codified

visual languages to convery meaning.”41.

Através da visualização de determinado objecto, o cérebro capta a sua imagem

e inicia o processo de memorização e armazenamento icónico. O uso de ícones tanto

no âmbito estético, como no âmbito informativo, pode representar uma ‘mais-valia’,

tendo em consideração que estes são armazenados na memória a longo prazo (o que

permite uma associação e reconhecimento mais rápido a nível de forma e

significância).

41Gajendar, Uday (2003 Outubro) “Learning to love the Pixel: Exploring the craft of Icon

Design” www.boxesandarrows.com Consultado em 27-06-2011

Page 44: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

36

O apelo estético que um ícone pode representar numa composição infográfica

pode ser incomensurável nos dias que correm. O valor do ícone pode representar uma

grande carga informativa, traduzida apenas pela sua própria forma, cor e contorno. O

devido uso deste recurso estético contribui em muito para a pulcritude de uma

infografia, bem como para o sucesso na captação da mensagem.

Tal como está representado na Ilustração 9, podemos percepcionar a

associação icónica presente tanto no gráfico percentual referente a cada partido, como

na representação do hemiciclo, o uso de formas como representação icónica da

mensagem que veiculada. Numa conciliação entre cor e ícones, o indivíduo pode

rapidamente depreender o conteúdo deste elemento infográfico. Esta interpretação

icónica implica uma leitura crítica por parte de quem a visualiza, como tentativa de

exploração dos valores sociais que lhe estão incutidos, bem como do processo de

identificação e descodificação dos dados apresentados.

Intrinsecamente relacionada com a imagem, a iconografia (derivada do grego

eikon (que significa ‘graphia’), é uma forma de linguagem que agrega imagens na

representação de determinada temática. Em suma, este aparente ‘acessório’ estético é

Ilustração 9 – Infografia dinâmica realizada no âmbito das legislativas 2011

Page 45: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

37

um importante recurso na expressão da identidade pessoal de um elemento

infográfico.

7.1.4 Imagem

A sociedade contemporânea encontra a sua base visual numa vasta cultura

imagética criada desde os primórdios do ser humano. A imagem, como elemento da

estética por excelência, foi sempre um componente ‘desencadeador’ de um grande

fascínio artístico, que auxilia, também, a estruturação e descodificação de mensagens

quotidianas que por vezes assolam o indivíduo – “A imagem sempre foi fonte de

fascínio.”42.

Visto isto, é claramente necessário o cultivo de grupos de imagens,

directamente relacionado com os factores socioculturais do homem (agregadas à

memória a longo prazo), que assistem a rápida interpretação das vastas redes de

mensagens adjacentes à sociedade contemporânea.

Os ‘bancos’ de formas/imagens são, do ponto de vista semiótico, pontes de

ligação entre culturas intercontinentais. Quando uma informação é lida ou uma

infografia é visualizada, os padrões culturais intrínsecos ao indivíduo estão adjacentes

a esse processo, o que se traduz na interpretação de cada leitor e nas relações de

semelhança criadas nessa leitura.

A imagem vai além da organização racional atribuída pelo ser humano,

conferindo uma consonância estética à infografia que induz à sua rápida apreensão.

42Huyghe, René (2009) “O Poder da Imagem” Edições 70, Lisboa Consultado em 26-06-

2011

Page 46: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

38

Com uma breve análise da Ilustração 10, podemos presenciar estudos

realizados para uma concepção infográfica. Através das imagens utilizadas

depreendemos rapidamente a temática deste elemento, que dá enfoque à componente

mecânica que constitui os diferentes modelos automobilísticos. Embora a imagem

seja um retrato da realidade, obtido através de esquissos do objecto tratado, induzimos

de forma clara a mensagem subjacente veiculada. Com o auxílio da cor, forma,

contraste e outros elementos estéticos, a imagem adquire um carácter identificativo do

objecto em questão, e que torna a assimilação e desmistificação da sua complexidade

bastante mais simples.

Todos estes pressupostos são reunidos nos ‘bancos de imagens’,

anteriormente referidos, que estabelecem uma conexão associativa cultural entre

sociedades distintas. No fundo, “ (...) a imagem, mais do que as palavras, dirige-se às

massas: é fácil de apreender, de reproduzir e torna-se tema imediato de conversa”43 . 43Volkoff, Vladimir (2000) “Pequena história da desinformação: do cavalo de Tróia à

Internet” Lisboa Editor Consultado em 28-06-2011

Ilustração 10 – Estudos para a realização de uma infografia sobre o primeiro veículo automobilístico a vencer o Circuito da

Boavista, para o Página1 (Rádio Renascença)

Page 47: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

39

Na área do jornalismo e restantes órgãos de comunicação, a dosagem estética é

fundamental para o sucesso de uma infografia. As temáticas e naturezas de

determinado objecto ou assunto devem ser respeitadas, adequando o estilo estético

que mais se identifica com os mesmos.

A estética infográfica não se restringe apenas ao uso dos diversos elementos e

componentes que lhe são próprios, como escolhas tipográficas ou cromáticas. Através

sinopse de todos estes elementos compõe a linguagem da fórmula estética,

percepcionamos o principal objectivo tido pelos profissionais na área: suscitar deleite

estético e paralelamente estimular a apreensão da mensagem.

A transversalidade entre componentes teóricas e práticas, independentemente

de serem as mais recorrentes ou não, confere coesão e robustez à infografia tanto a

nível formal, como a nível de conteúdo.

É nestes ‘pequenos grandes recursos’ que a estética encontra o seu fundamento

e ‘usabilidade’. A aplicação eficaz dos mesmos é correlativo ao gosto e

condicionantes informativas do infografista. Partindo deste princípio, o ‘uso e abuso

da estética’ pode ser uma mais-valia no mundo infográfico, na desmistificação e

apuramento do verdadeiro conceito propulsor à experiência da forma mais pura de

beleza.

7.2 Harmonia estética vs Poluição informativa

Apesar de ser um elemento prioritário na construção de uma infografia, a

organização visual não pode, de modo algum, comprometer a finalidade informativa.

Caso isto se verifique, através de uma má conjugação de elementos ou de uma

excessiva poluição informativa, o principal objectivo do elemento infográfico nunca

será cumprido e a atenção do seu ‘espectador’ nunca será devidamente captada.

A linha que separa um bom elemento infográfico de um caso caótico de

excessiva informação é muito ténue. Ao consultar determinado artigo com uma

vertente mais visual do que textual, o indivíduo procura absorver a informação de

modo rápido, através das mais diversas soluções estéticas. A necessidade editorial de

Page 48: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

40

incluir excessivo conteúdo informativo num elemento infográfico, não se deve

sobrepor ao rigor e facilidade que veicula a componente estética da infografia.

De acordo com Suely Figueiredo, “uma das fonte geradores de problemas

como este é a pressão sobre o profissional para que pense” partindo do pressuposto “

(…) ‘como vou fazer para conjugar todas as informações no mesmo espaço’, quando

deveria fazê-lo sobre ‘como vou fazer para que este conteúdo informativo chegue

com facilidade e rigor ao leitor’ “44.

Se o infografista decide colocar um número excessivo de informações e

imagens num elemento infográfico, a transmissão da densidade informativa pode,

eventualmente, ser bem concretizada. Todavia, o profissional corre o risco de pôr em

causa o apelo visual que o seu trabalho deve ter implícito, tendo em conta que está a

exigir um grau excessivo de atenção por parte do leitor, para que este consiga

percepcionar a lógica organizacional da infografia. Caso o seu trabalho exija atenção

redobrada, o factor visual é automaticamente anulado, dada a complexidade de

apreensão da mensagem.

“Quando o número de elementos dispostos num infográfico ultrapassa” o

limite do razoável, “ (…) o leitor apresenta uma resistência em penetrar na sua

sintaxe”. Tendo em conta que o principal objectivo da estética na infografia é, para

além do factor ‘beleza’, não exigir o mesmo grau de atenção que um elemento textual

requer, ao poluir excessivamente o seu trabalho com conteúdo textual, o infografista

não é bem-sucedido na mensagem que pretende transmitir”45.

A atenção do ser humano procura incessantemente uma organização gráfica

harmoniosa e criteriosa em cada infografia, elementos fulcrais para tornar agradável a

sua visualização. O espaço a ser editado para a criação de um elemento infográfico

deve encontrar o equilíbrio entre os elementos estéticos, espaço em branco e conteúdo

44Figueiredo, Suely (2005 Novembro) “Comunicação Coordenada: Analisando Infográficos”

Retirado de http://sbpjor.kamotini.kinghost.net/sbpjor/admjor/arquivos/iiisbpjor2005_-_cc_-_tattiana_teixeira_-_suely_figueiredo.pdf Consultado em 21-06-2011

45Figueiredo, Suely (2005 Novembro) “Comunicação Coordenada: Analisando Infográficos” Retirado de http://sbpjor.kamotini.kinghost.net/sbpjor/admjor/arquivos/iiisbpjor2005_-_cc_-_tattiana_teixeira_-_suely_figueiredo.pdf Consultado em 23-06-2011

Page 49: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

41

informativo, de modo a ser bem-sucedido. Qualquer infografia que não respeite os

parâmetros acima referidos, perde toda a sua atractividade e possível vantagem

editorial, dado que a mensagem não foi veiculada com sucesso.

A poluição visual é um dos principais erros na estética infográfica que,

consequentemente, nos conduz a um erro da sua própria sintaxe. Todavia, existem

formas de contornar a organização complexa de determinadas infografias, através da

insistente reiteração das mesmas.

Tal como podemos observar na Ilustração 11, este é um exemplo de uma

infografia que, partindo da primeira impressão, ao visualizá-la nos traduz conceitos

como desorganização, pobreza estética e de difícil percepção. Apesar dos percursos

de Fórmula 1 serem familiares a muitos leitores do Página1, a estrutura estética das

infografias realizadas no âmbito do tema, não é, de todo, a mais apelativa. O uso de

cores escuras, o excesso de caixas informativas e o pouco paralelismo existente entra

as mesmas, fazem com a principal mensagem não seja imediatamente percepcionada

pelo seu ‘espectador’.

Ilustração 11 -Infografia sobre os diversos percursos de Fórmula 1, realizada de acordo com o modelo pré-estabelecido pela

RR

Page 50: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

42

Todavia, a publicação insistente e repetida deste modelo cria inusitadamente,

uma implícita educação do olhar do leitor. Este facto explica-se através da

necessidade de identificar a informação desejada. Visto isto, e a insistente publicação

deste modelo pré-definido, o leitor aprende a conviver com a poluição informativa e

pobreza estética da infografia, limitando-se a procurar o conteúdo que realmente é do

seu interesse, independentemente de não encontrar a harmonia e equilíbrio inerentes à

estética de uma infografia bem concretizada.

A contrastar com a Ilustração 11, percepciona-se no segundo exemplo

(Ilustração 12) que existe uma linha estética que relaciona as duas infografias,

nomeadamente no título, elementos tipográficos, etc. Estas semelhanças estéticas são

perceptíveis, dado que ambos os temas se enquadram na editoria de desporto, e foi

pedida uma coerência a nível de grafismo entre ambos os projectos.

Todavia, ao contrário do exemplo acima apresentado, a infografia da

Maratona de Londres apresenta um carácter esteticamente mais meticuloso e cuidado.

As tonalidades discretas a contrastar com o vermelho vivo do percurso, torna muito

mais perceptível a informação que pretende transmitir.

Apesar de este elemento infográfico estar perto da ténue linha que separa um

trabalho poluição informativa e da harmonia estética, o seu aspecto visual dá um tom

Ilustração 12 – Infografia sobre a Maratona de Londres, feita a partir dos mesmos pressupostos do modelo da infografia de

Fórmula 1, de modo a criar uma coerência estética entre ambas.

Page 51: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

43

sóbrio à infografia, sendo o seu conteúdo informativo mais facilmente percepcionado

pelo seu espectador.

A partir deste modelo, o indivíduo percepciona de forma mais rápida e

rigorosa o percurso da Maratona, bem como as restantes informações implícitas

(como estações de metro, estações rodoviárias e zonas abrangidas pelo percurso).

Page 52: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

44

8. Visualização e percepção de conteúdos

informativos

“Todos os sentidos da percepção humana têm um papel importante na área da

visualização e podem melhorar significativamente, tanto a qualidade como a

quantidade de informação que é apresentada através de mensagem (…) ”.46

O decurso evolutivo e gradual da visualização tem em si uma iminente

preocupação com a inclemência de dados informativos e, recentemente, á atribuição

de particular enfoque à componente estética que diariamente percepcionamos.

Esta abrangência do processo de visualização vê em si o envolvimento de

áreas bastante divergentes, nomeadamente a conciliação entre arte, design, ciência e

tecnologia. Com a somatória destes mesmos conceitos, a Visualização é enriquecida

pelos princípios adjacentes às áreas anteriormente mencionadas, com o desejo

implícito de despoletar a activação de todos os sentidos do ser humano.

“O que os olhos fazem é alimentar o cérebro com informação codificada (...)

quando olhamos para alguma coisa, o padrão de actividade neural representa o

objecto (...) ”47, sem estar envolvida qualquer tipo de imagem interna. A visão é o

cerne do processo de visualização, tendo em conta que é o único meio de

preconização deste processo.

A componente sensorial do ser humano é constantemente estimulada pelo

fluxo informativo frenético, intrínseco ao nosso quotidiano. O contínuo desencadear

de sensações provenientes desses mesmos estímulos a que o indivíduo está exposto, é

traduzido pelo processo de percepção e descodificação da panóplia de mensagens

adjacentes.

46Ware, Colin (2004) “Information Visualization: Perception for Design”. San Francisco:

Morgan Kaufmann Publisher Consultado em 30-06-2011

47Gregory, Richard L. (1966) “Eye and Brain” Cap.1 Consultado em 25-06-2011

Page 53: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

45

Além de estabelecer padrões informativos, o processo de visualização gera,

igualmente, associações espontânea que servem de base e complemento para uma

linha de pensamento estruturada e coesa.

8.1 Gestalt

É através do processo de visualização que o produtor de multimédia estrutura

o seu pensamento sintetizador e estético. Fundamentada na ideia de que ‘o todo é a

soma das partes’, surge no início do século XX, uma nova corrente teórica que

desmistifica o conceito de percepção.

Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka

(1886-1940), três teóricos alemães, iniciam por volta de 1912 estudos com base no

conceito de percepção. Esta corrente teórica, denominada Gestalt, enfatiza “o primado

da percepção estruturada e da experiência espontânea da expressão emocional”48

As leis que fundamentam esta corrente teoria (proximidade, similaridade,

conexão, continuidade, simetria, encerramento, tamanho relativo e figura e fundo)

rapidamente adquiriram o estatuto de princípios orientadores do design, que auxiliam

a construção e estruturação da informação visual.

Para os teóricos, a estrutura de um trabalho visual divide-se em duas

componentes distintas: a forma e o fundo. Enquanto o fundo é classificado como um

complemento da forma, devido ao seu carácter homogéneo e coeso, a forma é a

representação do conteúdo e da vertente estética da visualização. Apesar das múltiplas

divisões e classificações preconizadas pela teoria da Gestalt, os elementos são vistos

como um todo, e não como parte integrante de algo.

O ‘objecto’ visualizado pela sua unidade é a base consistente do conceito de

percepção. – cf. com “Espectadores espontaneamente experimentar estes efeitos, mas 48Gerald, C. (2007 Fevereiro) “Psychology of Aesthetics, Creativity and the Arts”, Vol 1(1)

Retirado de http://psycnet.apa.org/index.cfm?fa=buy.optionToBuy&id=2007-02738-006Consultado em 29-06-2011

Page 54: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

46

deve saber que estética "ver" o produto da mais ampla padrão global para recursos

individuais. “49

A concordar com John Hospers, a teoria da Gestalt é mais um dos factores

indispensáveis à construção de uma infografia, tendo sempre em mente a necessidade

de todos os seus elementos correlacionarem-se em uníssono.

“Beautiful Evidence is about how seeing turns into showing, how empirical

observations turn into explanations and evidence.”50

49 Jolbert, Marcos (2010 Abril) “Fundamentos da Gestalt” Retirado de

http://www.marcosjolbert.com/fundamentos-da-gestalt/ Consultado em 30-06-2011

50 Tufte, Edward (2006) “Beautiful Evidence”, Graphics Press LLC Consultado em 30-06-2007

Page 55: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

47

9. Conclusão

A estética é, sem dúvida, um elemento preponderante na realização de uma

infografia. Contudo, como afirma Alberto Cairo, “La forma depende de la Función”51

e não o contrário. É importante reter a ideia de que a estética está intrinsecamente

relacionada com o conteúdo informativo que pretende ser veiculado. Sem este

importante elemento, a estética na infografia deixa de fazer sentido, dado que é um

auxílio precioso na arte de informar.

O uso incoerente dos seus princípios e componentes podem deturpar a

verdadeira essência da estética como elemento propulsor da experiência do belo,

comprometendo a sua ‘razão de ser’. Ponderação e bom gosto são elementos

importantes na aplicação da estética como componente de especial enfoque na

infografia – cf. com na Infografia Estetizada, preconizada por Alberto Cairo.

Ao longo deste trabalho, percorri algumas das diferentes vertentes da estética,

bem como os múltiplos usos que lhe estão inerentes. Foram revistos os diferentes

impactos que a estética tem no ser humano e também o que esta contribui para a sua

componente sensorial.

Concluí, a partir deste estudo extensivo, que a estética é preponderante não só

para a criação de elementos infográficos ou outros tipos de arte. É sim, uma vertente

intrínseca à formação do ser humano. Algo inerente ao seu quotidiano que contribui

para a sua realização pessoal, assim como para o seu bem-estar.

O deleite estético só pode ser suscitado com o uso equilibrado e harmonioso

da panóplia de ferramentas da estética. É com este pensamento que os produtores de

multimédia produzem os mais diversos conteúdos infográficos, com o intuito de

encontrar o equilíbrio entre a dicotomia estética/informação.

Através do período de estágio que realizei na Rádio Renascença apercebi-me

que, mesmo os órgãos de comunicação social, cujo principal objectivo é informar, na

51 Cairo, Alberto (2011) “El Arte Funcional – infografia y vizualización de información”,

Alamut Consultado em 29-06-2001

Page 56: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

48

vertente Multimédia que integram em si, têm especial cuidado nos na organização e

estruturação dos conteúdos, principalmente a nível visual.

Por ir ao encontro do equilíbrio entre a sinestesia e anestesia que a estética

suscita, o produtor de multimédia adapta-se inusitadamente às evoluções e tendências

que evolvem de dia para dia, dada a sua efemeridade.

Foi através das dificuldades em estruturar um ‘pensamento infográfico’

adequado, no período de estágio na RR, que fui acurando o meu sentido estético e

organizacional, na incessante procura da conciliação entre os dois conceitos.

Apesar de ser inato a pessoas com uma sensibilidade artística apurada, aprendi

que com esforço e persistência a estética pode ser aprimorada. A visualidade de uma

infografia pode ser bastante explorada através da captação da própria visão, por meio

de elementos estéticos acertadamente utilizados.

Com o estágio da RR notei um claro crescimento profissional a nível

infográfico, tanto a nível estrutural como formal. Foi com os erros e falhas que

aperfeiçoei as minhas competências infográficas e que consegui sarar algumas das

minha maiores lacunas nesta vertente de multimédia.

Design is an activity that unites the elements of durability and usefulness and

intensifies the perception of beauty.

Mijksenaar, (1997)

Page 57: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

49

10. Bibliografia

1.Livros Consultados

Arnheim, Rudolf. (1988) “Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão

criadora” São Paulo, Brasil. Editora Bisordi Ltda.

Cairo, Alberto (2008) “Infografia 2.0: visualización interactiva de

información en prensa” , Alamut

Cairo, Alberto (2011) “El Arte Funcional – infografia y vizualización de

información”, Alamut

McCandless, David (2010) “Information is Beautiful”, HarperCollins

Publishers

Gregory, Richard L. (1966) “Eye and Brain” Cap.1

Hospers, John (2006 Novembro) “Historia y Fundamentos”, Cap. 1

Huyghe, René (2009) “O Poder da Imagem” Edições 70, Lisboa

Mijksenaar, Paul (1997) “Visual Function, An Introduction to Information

Design”Nova Iorque, EUA. Priceton Architectural Consultado em 1-07-2011

Munari, Bruno (2006) “Design e Comunicação Visual”Lisboa, Portugal.

Edições 70. 2006

Perez, Dorinho Bastos (2006) “Psicodinâmica das cores em Comunicação”

Volkoff, Vladimir (2000) “Pequena história da desinformação: do cavalo de

Tróia à Internet” Lisboa Editor

Ware, Colin (2004) “Information Visualization: Perception for Design”. San

Francisco: Morgan Kaufmann Publisher

Tufte, Edward (2006) “Beautiful Evidence”, Graphics Press LLC

Tufte, Edward (1983) “The Visual Display of Quantitative Information”

Cheshire, Connecticut. Graphic Press

Page 58: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

50

Tufte, Edward (1990) “Envisioning Information”Cheshire, Connecticut. Graphic

Press

2.Artigos Académicos Consultados

Ana Paula Santos e Susana Funk (2003) “A importância da tipografia na

história e na comunicação”, Univali

Bringhurst, Robert (2005) “Elementos do estilo tipográfico versão 3.0”

Cecilio, Evane (2011 Abril) “A infografia no jornalismo impresso: além da simples contemplação, um novo modo de se fazer jornalismo”

Gerald, C. (2007 Fevereiro) “Psychology of Aesthetics, Creativity”, and the

Arts, Vol 1(1) Retirado de

http://psycnet.apa.org/index.cfm?fa=buy.optionToBuy&id=2007-02738-006

Farias, Priscila L. (2006) “Tipografia digital: O impacto das novas

tecnologias”, Rio de Janeiro

Figueiredo, Suely (2005 Novembro) “Comunicação Coordenada: Analisando

Infográficos” Retirado de

http://sbpjor.kamotini.kinghost.net/sbpjor/admjor/arquivos/iiisbpjor2005_-_cc_-

_tattiana_teixeira_-_suely_figueiredo.pdf

Jolbert, Marcos (2010 Abril) “Fundamentos da Gestalt” Retirado de

http://www.marcosjolbert.com/fundamentos-da-gestalt/

Ribas, Beatriz (2004) “Infografia Multimídia: um modelo narrativo para o

webjornalismo”

Rodrigues, Adriana Alves (2007 Setembro) “Visualização de dados na construção infográfica: abordagem sobre um objecto em mutação”

Teixeira, Tattiana (2007 Maio) “A presença da infografia no jornalismo brasileiro – proposta de tipologia e classificação como género jornalístico a partir de um caso de estudo”

Page 59: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

51

3.Websites (Recurso a vídeo, áudio, definições, entrevistas)

Anuário Ecclesia Retirado de http://www.ecclesia.pt/anuario/Consultado em 30-06-2011

Sobrealgo.com.br – Sociofilosofia Retirado dehttp://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/estetica.htmlConsultado em 29-06-2011

A experiência estética Retirado dehttp://pt.shvoong.com/humanities/479657-

experi%C3%AAnciaest%C3%A9tica/#ixzz1PvBkAdwVConsultado a 18-06-2011

Brenol, Marilise (2011 Maio) Retirado de

http://www.ijui.com/noticias/educacao/20893-palestra-destaca-a-importancia-de-

profissionais-multimidia-no-mercadoConsultado em 30-06-2011

Cairo, Alberto (2011) “Blog El Pais” Retirado de http://visualizacaodainformacao.wordpress.com/2011/03/14/como-los-origenes-de-la-visualizacion-nos-ayudan-a-entender-el-futuro-del-periodismo-alberto-cairo/Consultado em 28-06-2011

Curso de Produção Multimídia Retirado de

http://www.cursodeproducaomultimidia.com.br/Consultado em 30-06-2011

Gerald, C. (2007 Fevereiro) “Psychology of Aesthetics, Creativity and the Arts”, Vol 1(1) Retirado de http://psycnet.apa.org/index.cfm?fa=buy.optionToBuy&id=2007-02738-

McCandlesse, David (2010 Julho) The beauty of data visualization: David

McCandless (Ficheiro de Vídeo) Retirado de http://blog.ted.com/2010/08/23/the-

beauty-of-data-visualization-david-mccandless-on-ted-com/Consultado em 19-06-

2011

Psicologia do Desenvolvimento – ‘Ciência vs Senso-comum’ Retirado

dehttp://psicofadeup.blogspot.com/2011/05/ciencia-vs-senso-comum.htmlConsultado

a 18-06-2011

Rand, Paul Retirado de http://nextandmore.com/no-truth-without-aesthetics-

paul-rand/Consultado a 21-06-2011

Page 60: A linguagem visual da informação: Uma reflexão sobre a dimensão estética na infografia

52

Sobrealgo.com.br – Sociofilosofia Retirado

dehttp://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/estetica.htmlConsultado a 18-06-2011

Gajendar ,Uday (2003 Outubro) “Learning to love the Pixel: Exploring the

craft of Icon Design”www.boxesandarrows.comConsultado em 27-06-2011