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A LINGUAGEM DO JORNAL IMPRESSO E A CULTURA DO LEITOR

Tássia Búrigo e Silva1

RESUMO

Este artigo aborda a linguagem utilizada no jornal impresso diário. A intenção é confrontar o texto jornalístico praticado nesse veículo de comunicação em detrimento da cultura do leitor, instigando uma reestruturação na forma de noticiar, com maior criatividade na elaboração das frases, mantendo uma das premissas do Jornalismo: clareza de informação.

Palavras-Chave: Linguagem, Jornal Impresso, Leitor, Criatividade.

INTRODUÇÃO

A linguagem dos conteúdos jornalísticos tal qual é verificada no jornal de

papel reflete, de fato, o público leitor da notícia impressa? Tal linguagem contribui

para a ampliação da cultura de quem lê jornal? Para elucidar o tema acerca do

formato das informações utilizado nesse meio de comunicação, foi realizada

pesquisa quanti-qualitativa junto aos leitores não-assinantes de jornal no município

de Tubarão e a profissionais atuantes nos jornais impressos diários da mesma

cidade. Verificou-se que os cidadãos que compram jornal diariamente têm idade

entre 23 e 65 anos. Sessenta por cento deles já completaram o segundo grau; 30%

(trinta por cento) possuem o terceiro grau completo e apenas 10% (dez por cento)

têm somente o primeiro grau. Os números dão suporte para, no mínimo, uma

releitura do que está sendo produzido na mídia escrita, num contexto de ênfase à

criatividade e de chamamento do cidadão para o meio de comunicação que não

quer se perder no tempo – o jornal impresso.

1 Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, pela Universidade do Sul de Santa

Catarina – UNISUL; cursando Especialização em Cibermídia na Unisul e Mestrado em Educação na Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

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O LUGAR COMUM DA NOTÍCIA

Para o editor-chefe do jornal Notisul de Tubarão, Cristiano Carrador, não

há dúvidas: o jornal é feito para os assinantes e, sobretudo, para cidadãos bastante

escolarizados. “O objetivo do nosso jornal e, posso afirmar que também o intuito da

imprensa do Brasil, é direcionar o modo de produção dos informativos para essas

pessoas instruídas e qualificadas”.

Perfil dos leitores de Tubarão:

O Instituto de Pesquisas IPSOS (2003) assinala que, quanto maior a

alfabetização, maior o interesse por jornais: “44% de quem não estudou mais que o

1o grau lêem jornal, índice que sobe para 60% entre os que cursam o segundo grau,

chega a 83% entre os universitários e atinge 90% dos que concluíram pós-

graduação”, conforme o gráfico:

60%30%

10%

Segundo grau completo

Terceiro grau completo

Primeiro grau

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Fonte: Instituto de Pesquisa Ipsos (2003).

O poder de manejo com mais pormenores e extensão que o jornal

imprime tangencia a defesa da reestruturação na forma de comunicar – estimulando-

se a elaboração das frases sem pecar pela falta de clareza de informação,

contemplando todos os públicos. Erbolato (1991) assinala que o jornal impresso veio

contribuir com a sociedade à medida que pode fornecer educação, cultura e

informação durante anos, pela permanência e sobrevivência das páginas impressas

no veículo, ao que acrescenta Blikstein (2001, p. 56): “é bom lembrar que não é todo

veículo que serve para qualquer mensagem, e vice-versa: nem toda mensagem

serve para qualquer veículo”. O autor complementa, ressaltando que o texto de um

livro não passará intacto para a televisão ou o cinema, mas deverá ser transformado

num roteiro típico desses veículos.

O lugar comum da linguagem empregada nos impressos transcende um

retardo iminente à leitura e uma perene limitação ao aprendizado linguístico e

cultural das pessoas com menor escolaridade. Se em Tubarão o público dos jornais

são predominantemente não-assinantes com alto grau de escolaridade e assinantes,

em âmbito nacional vocifera uma estrutura semelhante: estudo realizado pelo

Instituto de Pesquisa IPSOS (2003) aponta que 14% (quatorze por cento) dos

leitores brasileiros de jornal são da classe DE; 34% (trinta e quatro por cento)

pertencem à C e 52% (cinquenta e dois por cento) são integrantes da classe AB. Ao

que se faz oportuno lembrar de um dos principais deveres do Jornalismo: educar –

60%

83%

44%

90%

0%

20%

40%

60%

80%

100% Segundo grau

incompleto

Terceiro grau

incompleto

Primeiro grau

completo

Pós-

graduação

completa

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estendendo-se oportunidades à população com baixo grau de escolaridade,

atentando para a premissa de se fazer compreender.

Para Marcos de Castro (1998, p. 29), “a educação já não é boa – e a

imprensa ajuda a deseducar, dando sua larga e generosíssima contribuição”. O

modo como são redigidos os textos jornalísticos faz ressaltar a necessidade da

maior atenção à produção da transmissão da mensagem impressa. Castro e

Galeano (2002) salientam que a educação dos homens, quer estejam nas escolas

até os 13 ou até os 17 anos, não termina quando eles deixam as aulas: prossegue

na adolescência e na idade adulta pela leitura, principalmente pela leitura de jornais

e revistas.

A literatura, com seu campo fértil de criatividade e de articulação do

conhecimento, constitui um canal de empréstimo de termos e ideias, para

incremento da linguagem do jornal impresso, denotando valorização dos diários e

possibilidade de maior dimensão vocabular ao leitor. Para Castro e Galeano (2002,

p.72), “a literatura é a chave de acesso ao enriquecimento da linguagem, à

compreensão de mundos diversos e ao emaranhado de idéias e histórias”. Os

autores defendem que é da proximidade de cada um com as palavras que vem a

sensibilidade necessária para comunicar aos outros o que for, “(...) seja o mundo

inscrito nos livros, seja o mundo não-escrito dos acontecimentos”. Castro (1998)

também ressalta que a imprensa no Brasil gosta de deseducar e de confundir.

Ainda, o leitor está mais atento à forma como se noticia do que se

imagina. Setenta e cinco por cento dos leitores não-assinantes de Tubarão

informaram que avaliam a forma como são redigidos os textos da imprensa, contra

25% (vinte e cinco por cento) que não avaliam. Setenta por cento dos que avaliam

julgam ser acessível a linguagem utilizada pelo jornal impresso; 30% (trinta por

cento) deles acreditam que a linguagem usada é simples; 95% (noventa e cinco por

cento) pensam ser médio o nível da linguagem utilizada nos jornais diários e 5%

(cinco por cento) acreditam ser baixo.

Esse fácil acesso à linguagem da notícia escrita apontado pelos leitores

não-assinantes de jornal de Tubarão revela o quão pode ser propício esse novo

entendimento de produzir na imprensa. Tem-se privilegiado a linguagem

demasiadamente simples que não estimula nem incita a aprendizagem. O objetivo

das pessoas na comunicação, conforme Kenneth (1991), é tornar-se agentes

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influentes, é influenciar os outros, o ambiente físico e a si próprio; tornar-se agente

determinante tendo opção no andamento das coisas. O autor prossegue,

defendendo que o objetivo básico dos meios de comunicação é “(...) reduzir a

probabilidade de que a humanidade seja simplesmente um alvo de forças externas,

e aumentar a probabilidade de que o homem exerça força sobre ele mesmo”.

Sentença que vai ao encontro do que propunha Aristóteles (1989), que definiu a

retórica (comunicação) como sendo a procura de todos os meios disponíveis de

persuasão. Nesse tocante, cada mídia parece mesmo tentar atrair seus públicos,

tentando garantir a assiduidade de cada telespectador, ouvinte, e, no caso do jornal

impresso, o leitor. Cabe definir como tornar mais atrativo seus produtos de

comunicação.

O extraordinário progresso experimentado pelas técnicas de comunicação de 1970 para cá representa para a humanidade uma conquista e um desafio. Conquista, na medida em que propicia possibilidades de difusão de conhecimentos e de informações numa escala antes inimaginável. Desafio, na medida em que o avanço tecnológico impõe uma séria revisão e reestruturação dos pressupostos teóricos de tudo que se entende por comunicação. (CHAPARRO, 1994, p. 5).

Para se considerar plenamente cidadão, o homem contemporâneo

precisa dispor de fontes informativas que lhe permitam conhecer o que se passa e,

em seguida, formar juízos sobre os acontecimentos (BENEYTO apud ERBOLATO,

1991).

O jornal impresso tal qual é apresentado vem sendo, desde muito, um

mero replicador de informação, tendo em vista o lugar vantajoso que o rádio, a

televisão e a web tomaram dele, no que tange o imediatismo particular a estes três.

Erbolato (1991, p. 26) manifesta-se de acordo, salientando que “o rádio e a televisão

roubaram dos jornais duas iniciativas que eles mantinham com orgulho e

praticamente as mataram no setor da notícia impressa: o furo (informe dado em

primeira mão) e a edição (sempre que algum fato sensacional a justificasse)”. Para o

autor, nenhuma oficina de composição e impressão, por mais moderna, pode

competir com a velocidade da palavra levada pelas ondas hertzianas e captadas no

mesmo instante da emissão, em qualquer receptor, ainda que minúsculo e com

funcionamento à base de pilhas.

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Não parece genuíno que o jornal de papel assuma a posição de

reproduzir o já produzido pelas outras mídias, remetendo as informações impressas

às margens da repetição, da continuidade e da retroatividade. Se a matéria não é

mais notícia, então, levar ao leitor meramente às respostas do lead jornalístico

parece manter-se alheio às necessidades de atualização e aprendizado do público

leitor. Do mesmo modo, o jornalista posiciona-se, assim, em lugar aquém do que lhe

é cabido enquanto editor de comunicação, haja vista a simplicidade do texto

jornalístico tal qual é verificado na imprensa.

Se a TV digital é realidade e o webjornalismo transborda em qualquer

objeto conectado à rede, a transposição da linguagem engessada dos impressos

para formatos que apenas saiam do trivial pode significar a satisfação das

necessidades do consumidor de notícias escritas que, inevitavelmente, está se

adequando às novas tecnologias (ou prepara-se por tal inspiração).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio de estudo quanti-qualitativo, verificou-se que o leitor de jornal no

Brasil, e, sobretudo, no município de Tubarão são adultos escolarizados. Se os

jornais diários têm como base a camada elitizada da população – assinantes e não-

assinantes, em maioria – (e tendem cada vez mais para isso), então se faz

necessário rever a linguagem adotada pelos veículos. A classe AB, que abrange

52% das vendas da imprensa do país, conforme supracitado, abre o jornal diário e

se depara com uma linguagem direcionada aos recém-alfabetizados. Da mesma

maneira, os leitores dos jornais diários de Tubarão são majoritariamente pessoas

letradas e encontram períodos que pecam por extrema simplicidade nas páginas do

informativo; tão repetidamente simples e objetivos de modo a pouco acrescentar à

construção lexical dos que têm domínio deficiente sobre a palavra impressa – não

teria exatamente o Jornalismo o dever de contribuir com o leitor nesse sentido?

Valer-se de inovações nos jornais impressos – noticiando de forma

criativa, elaborada, com sinônimos que fujam do lugar comum – parece pertinente

para aproximar o leitor de um periódico que mantenha o padrão intelectual dele, ou

eleve este padrão; jamais o subestime.

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Escrever de maneira clara e direta não deve significar encher de frases

pobres e desprovidas de conhecimento as páginas do jornal impresso; estimular a

elaboração na transmissão da mensagem é, comprovadamente, ter coerência na

relação entre a imprensa e a sociedade. Utilizar linguagem mais inteligente nos

jornais impressos é ir ao encontro da Comunicação Social e do respeito à gama

léxica da Língua Portuguesa.

REFERÊNCIAS

BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. 4. ed. São Paulo: Ática S.A., 1990. 445p.

BENETTE, Djalma Luiz. Em branco não sai: um Olhar Semiótico sobre o Jornal Impresso Diário. São Paulo: Códex, 2002. 128p.

BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita. 20 ed. São Paulo: 2001. 96p.

CASTRO, Gustavo de; GALEANO, Alex. Jornalismo e literatura. São Paulo: Escrituras Editora, 2002. 180p.

ERBOLATO, Mário. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, Captação e Edição no Jornal Diário. 5 ed. São Paulo: 1991.

KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo. 2. ed. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 2002. 415p.

LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996. 192p.

MENEZES, Fagundes de. Jornalismo e literatura. Rio de Janeiro: Razão Cultural, 1997. 70p.

NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2003. 174p.

ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. 87p.

SERVA, Leão. Jornalismo e desinformação. 2 ed. São Paulo: Editora Senac, 2001. 144p.

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SZNEJDER, Vitor. Jornalistas. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. 99p.