a gentileza do amor

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A Gentileza do Amor Título original: The kindness of love Extraído de: Christian Love, or the Influence of Religion upon Temper Por John Angell James (1785-1859) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Dez/2016

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A Gentileza

do Amor

Título original: The kindness of love

Extraído de: Christian Love, or the Influence of Religion upon Temper

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Dez/2016

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J27

James, John Angell – 1785 -1859

A gentileza do amor / John Angell James. Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2016. 22p.; 14,8 x 21cm Título original: The kindness of love

1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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Em sua autobiografia, Spurgeon escreveu:

"Em uma primeira parte de meu ministério,

enquanto era apenas um menino, fui tomado

por um intenso desejo de ouvir o Sr. John

Angell James, e, apesar de minhas finanças

serem um pouco escassas, realizei uma

peregrinação a Birmingham apenas com esse

objetivo em vista. Eu o ouvi proferir uma

palestra à noite, em sua grande sacristia, sobre

aquele precioso texto, "Estais perfeitos nEle." O

aroma daquele sermão muito doce permanece

comigo até hoje, e nunca vou ler a passagem

sem associar com ela os enunciados tranquilos

e sinceros daquele eminente homem de Deus ."

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Há uma prova decisiva e uma

demonstração marcante da excelência

da religião cristã, no fato de exibir não

somente as excelências mais elevadas e

mais rígidas do caráter humano, como

também não somente prepara seu

possuidor para ser um patriota no grande

teatro de seu país, seja numa

demonstração heroica de martírio a

Deus, aos anjos e aos homens, como

também sendo um amigo simpatizante

nos círculos sociais e domésticos.

O amor pode expandir sua benevolência

às reivindicações de toda a família

humana, ou concentrar suas emoções,

por um tempo, em um objeto individual

de piedade ou afeto.

"O amor é gentil." Gentileza significa uma

disposição para agradar; uma

preocupação manifestada por nossa

conduta para promover o conforto de

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nossa raça. A piedade se compadece de

suas tristezas; a misericórdia alivia suas

necessidades e atenua suas aflições, mas

a gentileza é uma atenção geral ao seu

conforto. É assim descrita e distinguida

por um célebre escritor sobre sinônimos

ingleses - "Os termos afetuosos e

afeiçoados caracterizam sentimentos."

Gentil, é um termo aplicado a ações

externas, bem como a sentimentos

internos; a disposição é carinhosa ou

afetiva; o comportamento é gentil.

Uma pessoa afetuosa é aquela que tem o

objeto de sua consideração fortemente

em sua mente, que participa de seus

prazeres, suas dores, e se agrada da sua

companhia.

Uma pessoa gentil é aquela que expressa

um terno sentimento, ou faz qualquer

serviço de maneira agradável. Os

parentes deveriam ser afetuosos

mutuamente; deveríamos ser gentis com

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todos os que precisam de nossa gentileza.

Logo, ela parece ser um comportamento

afetuoso, e isto é o que o apóstolo quer

dizer quando nos adverte a "ser

gentilmente afeiçoados uns aos outros".

Vamos ver o HOMEM GENTIL em

contraste com alguns outros caracteres.

Um homem gentil é o oposto da pessoa

rígida, severa e crítica, que não terá

consideração com as fraquezas ou

inexperiência dos outros, mas que os

julgará, repreenderá e falará

severamente de todos os que não

chegam ao seu padrão. A gentileza, pelo

contrário, faz todas as concessões

razoáveis; enquadra as melhores

desculpas que pode, de acordo com a

verdade e a santidade, fala do ofensor de

uma forma de mitigada, e tem para com

ele uma forma de compaixão - não

publica, nem exagerando suas falhas - e

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procura descobrir algumas qualidades

redentoras para compensar suas falhas.

Um homem gentil é o oposto de um

orgulhoso e arrogante. Este último está

sempre procurando uma oportunidade

para mostrar sua superioridade, e fazer

você sentir sua inferioridade; e não

importa o quanto seus sentimentos

sejam prejudicados por esta exibição

ofensiva. A gentileza, se consciente,

como às vezes deve ser, de sua

superioridade, toma cuidado para que

aqueles que estão abaixo dela não sintam

um sentimento doloroso de sua

inferioridade. Sem sacrificar sua

dignidade, ela oculta tanto quanto

possível a sua preeminência, ou a usa

com grande afabilidade de modo que não

se torne desagradável.

A gentileza se opõe à frieza e ao egoísmo

da disposição. Há pessoas que, embora

não sejam cruéis, nem prejudiciais, nem

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realmente de coração duro, mas são tão

frias, distantes, e tão repulsivas que não

podem ser abordadas nem movidas. Elas

olham para as situações à sua volta, com

olhar fixo e frio, pois não têm interesse

nas preocupações do mundo. Mas, a

gentileza é a expressão visível de um

sentimento e um coração

misericordioso; é a exteriorização de

uma mente terna e suscetível, que se

identifica com toda humanidade; é todo

ouvidos para ouvir, todo coração para

sentir, todo olho para examinar e chorar,

todas as mãos e todos os pés para aliviar,

recepciona o sofredor com palavras

amáveis, e não o envia vazio.

A gentileza se opõe a uma liberalidade vã e ostensiva. "Quando você dá um presente a alguém em necessidade, não faz alarde sobre isso como os hipócritas fazem- tocando trombetas nas sinagogas e ruas para chamar a atenção dos seus atos de caridade! “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante

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de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mateus 6: 2-4).

Alguns serão caridosos se tiverem

espectadores de suas boas obras, que irão

proclamar sua caridade. Eles estragarão a

ação pelo seu modo de realizá-la, pois da

maneira mais indelicada farão com que o

objeto de sua recompensa sinta um

doloroso senso de obrigação; eles

indicarão a quantidade exata, quase em

valor monetário, dos favores que eles

têm conferido, e depois de ir embora, dão

tal publicidade às suas ações, que o

beneficiário está quase certo de ouvir em

toda parte o que foi feito por ele.

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A gentileza, por outro lado, oculta tanto

quanto possível, a quem está realmente

conferindo um favor, fazendo tudo para

que desça levemente sobre o espírito do

destinatário; e se as circunstâncias

permitissem, de bom grado estenderia a

oferta por detrás de um véu que esconde

o doador, bem como faz tudo para

impedir que o sentimento de obrigação

seja doloroso ou opressivo.

A gentileza se opõe à benevolência da

parcialidade, ao preconceito e ao

capricho. Não há poucos que são

pródigos em seu afetos com as pessoas de

sua própria família e amigos, ou para

aqueles que são seus favoritos em certas

ocasiões. Mas, para qualquer pessoa fora

do seu círculo de familiares e seus

amigos seletos, eles não têm qualquer

afeto em relação a eles. Seus sentimentos

benevolentes são puramente sectários

ou absolutamente caprichosos. Mas, a

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verdadeira gentileza é uma fonte perene

e clara, que surge de um coração repleto

de filantropia universal, mantendo-se no

caminho desimpedido por preconceitos

ou parcialidades, e distribuindo seus

benefícios para todos os que se

encontrarem em seu curso.

Tendo assim contrastado a gentileza com

algumas características que a ela se

opõem, consideremos agora a maneira

pela qual ela age.

A gentileza se expressa em PALAVRAS

que são calculadas para agradar. E não

apenas nossas palavras, mas os tons de

nossa voz são indicativos de nossos

pensamentos e sentimentos; é

importante para nós ter cuidado quanto

ao que dizemos e como dizemos. Metade

das brigas que perturbam a paz da

sociedade nascem de palavras

indelicadas. Deveríamos evitar a todo

custo usar um modo de falar amargo,

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mórbido e repreensivo, e adotar um

estilo calmo, conciliatório e afetivo. Um

tom grosseiro é expressado para ferir ou

ofender, mas o amor que carrega a lei da

gentileza em seus lábios,

consequentemente o evitará.

Um discurso ríspido, petulante,

repreensivo, é no mais alto grau

repulsivo e dissonante na comunhão da

sociedade. É verdade que podemos não

ter a música do som em nosso discurso,

mas é nossa própria culpa se não temos a

música do amor. Não precisamos usar,

lisonja aduladora, elogio vazio e sem

sentido, mas podemos ser corteses e

afetuosos, bem como devemos "deixar

que o nosso discurso seja temperado com

sal, para que possa ministrar graça aos

ouvintes". Cada palavra e cada

modulação da voz que é susceptível de

ofender devem ser cuidadosamente

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evitados, e o será pela gentileza que se

estende também a AÇÕES.

A gentileza está interessada em não

ofender por qualquer coisa que faça; é

delicadamente suave em referência aos

sentimentos de seu objeto, e não esmaga

desnecessariamente a asa de um inseto,

e muito menos inflige uma ferida em

uma mente racional. Há pessoas que

num espírito de independência egoísta,

não se importam com quem lhes agrada

ou lhes ofenda, mas o amor está tão

ansioso por não ofender, quanto é

solícito em relação à sua própria

gratificação.

O conforto do seu próximo lhe é tão caro

quanto o seu próprio. Calcula, delibera,

pesa a tendência das ações, e quando por

motivo de imprudência, e

involuntariamente ocasionar aflição a

outros, se apressará por todos os meios

praticáveis para curar a ferida.

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A gentileza não só se abstém da ofensa

real, mas é ativa na concessão de

benefícios - procura uma oportunidade

para agradar - está sempre pronta para

pagar sua assistência quando solicitada -

e não fica satisfeita a menos que possa

fazer algo para aumentar o grau geral de

conforto. A gentileza se acomoda aos

hábitos, parcialidades ou preconceitos

dos homens. A gentileza adapta-se nas

coisas indiferentes e legalistas, aos seus

modos de agir, e não se opõe aos seus

desejos, quando tal resistência lhes

causaria angústia.

Um comportamento rígido e

inconciliável, que não consulta nada

além de seus próprios desejos, e não

sacrifica o menor pontinho de seus

próprios hábitos para dar prazer, não tem

uma partícula de beneficência sobre ele.

Tal indivíduo é como uma pessoa na

multidão, que vai andar com os braços

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estendidos, ou com armas provocativas

na mão.

A gentileza se estende naturalmente às

pequenas coisas, bem como às grandes. A

felicidade ou a miséria da vida não

consistem tanto no "transporte da

alegria", nem na "angústia da aflição",

como nos sentimentos de inferioridade,

que embora menos violentos, são mais

frequentes do que essas fortes emoções.

Portanto está em nosso poder tornar os

outros, miseráveis na vida; talvez não por

atos de crueldade ou injustiça que não

ousamos ou não podemos cometer, mas

por entregar-nos a disposições

desordenadas para com eles, por vexá-los

com atos de maldade que não explodirão

nossa reputação, nem colocarão em

perigo nossa propriedade, liberdade, ou

vida.

E também está em nosso poder fazê-los

felizes, não tanto pelos serviços de

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caráter material, quanto pelos ofícios

inferiores de pequenas benevolências. A

reciprocidade diária e quase horária de

pequenos atos de boa ou má vontade, que

temos a oportunidade de realizar é uma

ótima maneira de fazer o bem ou o mal ao

nosso próximo.

Há aqueles que nas maiores expressões

da misericórdia cristã, são realmente

humanos, cuja benevolência, ao mesmo

tempo não aprendeu a inclinar-se para

pequenas coisas. Eles são compassivos,

mas não têm gentileza; eles aliviariam

um mendigo faminto, mas não se

colocariam em um grau tão baixo, para se

acomodarem em assuntos triviais em

relação a um vizinho próximo.

A gentileza é universal em seus objetos.

Conhecemos indivíduos que nunca

poderiam fazer o suficiente para alguns

objetos de sua consideração, mas eles

não são de modo algum pessoas de

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gentileza difusiva. E talvez, se

examinarmos, veremos que sua

benevolência tem uma grande mistura

de egoísmo, pois ela é exercida apenas

para aqueles de quem esperam um

retorno amplo. É a gentileza da troca; não

do amor. É tanto o que eles dão para o

próprio interesse, como aquilo que é

dado aos necessitados. Eles tiveram, ou

esperam ter retorno por tudo o que

fazem. Mas o amor é universal em seu

aspecto; está sempre pronto para fazer

um ofício gentil para qualquer pessoa

que solicite ou precise de sua assistência.

Sua linguagem é: "Ai, todo aquele que

tem sede, venha às águas". Tem um olhar,

palavra, e ato gentis para todos. Nem

negaram o auxílio de seus esforços aos

seus inimigos.

Tal é o espírito generoso da religião

cristã, como se depreende das passagens

citadas em um capítulo precedente a I

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Coríntios 13. Tal é a refinada moralidade

sublime do Novo Testamento.

Sim, estes são os princípios sobre os

quais a gentileza age, pois estende sua

beneficência ao homem que a tratou com

ridicularização e desprezo, com

crueldade, insulto e opressão. Este é o

seu dever e a sua inclinação.

Em imitação do Salvador moribundo, que

deu sua última oração aos assassinos, diz

"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o

que fazem!"

Conhecemos muitos que suportarão

qualquer dificuldade, farão qualquer

esforço, suportarão qualquer sacrifício

pela sua família e amigos, para os quais

nunca poderão fazer o suficiente; mas

para os seus inimigos, eles são

indelicados, implacáveis e ressentidos.

Eles nunca podem perdoar o homem que

os feriu, porque não têm gentileza, mas o

manterão em desprezo, aversão e

negligência. Mas, o cristianismo exige

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uma virtude mais elevada e mais altruísta

do que isso, pois nos ordena sermos

gentis com os nossos inimigos.

Que pessoa fascinante é o homem de

distinta gentileza! Ele é revestido de uma

beleza indescritível; ele pode não ter a

glória com que o patriota, o herói, ou o

mártir é consagrado, mas é adornado em

um grau elevado com as belezas da

santidade. Ele carrega consigo a

majestade da gentileza, se não o domínio

da grandeza. A luz de seu semblante é o

sol quente, sob o qual o entristecido e

aflito espanta sua escuridão, ao se banhar

sob os raios de luz deste sol.

Suas palavras gentis são como melodia

suave para afugentar os maus

pensamentos do seio da melancolia, e

silenciar com paz os reflexos

perturbados da mente destemperada. Ao

percorrer sua carreira distribuindo as

expressões graciosas e eficientes de seus

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cumprimentos, abençoando aqueles que

estavam prontos para perecer, e motivou

as notas tristes do coração da viúva, que

eles transformaram em alegria.

Quando ele entra inesperadamente na

companhia de seus amigos, cada rosto

aparece como um deleite, e parece que

uma pessoa benéfica havia vindo entre

eles para abençoá-los; assim, quando ele

olha ao redor do círculo com o sorriso de

gentileza que tem encontrado um lugar

permanente em sua fronte, ele apresenta

a mais brilhante semelhança que pode

ser encontrada em nosso mundo egoísta,

da entrada do Salvador entre seus

discípulos, quando disse: “Que a paz

esteja com vocês!" E soprou sobre eles o

Espírito Santo.

Embora ele não busque nem deseje algo

em troca de seus muitos atos de

benevolência, seu espírito gentil recebe

de volta, em plena maré, as correntes de

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consolação que haviam diminuído de seu

próprio coração para preencher os

canais vazios da felicidade do próximo.

Quem pode ser indelicado com aquele

que é gentil com todos? Qual coração é

tão duro, que mente é tão cruel, que

espírito é tão diabólico para ferir a quem

nunca aparece entre sua raça, senão

como um anjo ministrante? Há um

encanto em suas lágrimas para derreter

com simpatia a alma teimosa da

crueldade em si mesma, que não tem

uma lágrima para ninguém mais. Não há

menos encanto em seus sorrisos, para

relaxar e suavizar os traços duros da

inveja, como para refletir por um

momento o sol de sua alegria.

Enquanto ele vive, cada homem é seu

admirador, e quando ele morre, cada

homem é seu pranteador. Enquanto ele

está na terra, seu nome tem um lar em

cada coração; e quando se foi, ele tem um

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monumento em cada memória. Esta é a

descrição de seu caráter, o registro de

seu louvor - o amor é gentil!