a cidade e ro rio 20

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    Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    A CIDADE E O RIO NA AMAZNIA: O RIO NEGRO E SUARELAO COM A CIDADE DE MANAUS/AM.

    Luiza Anglica Oliveira GUGLIELMINI1

    Jos Aldemir de OLIVEIRA2

    MANAUS E O RIO NEGRO

    Pensar o rio e a cidade na Amaznia e especificamente a cidade de Manaus e a

    beira do Rio Negro, do Tarum at o Porto de Manaus, pressupe a compreenso da cidade

    e do urbano. A gegrafa Ana Fani Alessandri Carlos, em sua obra A (re) produo do

    espao urbano (1994), j apontava que pensar o urbano significa pensar tambm a

    dimenso do humano. Importa aqui analisar o urbano considerando-o como condio geral

    do processo de reproduo do capital, pois com isso o espao urbano passa a se reproduzir

    como capital fixo, e seu processo de produo funda-se nas relaes de trabalho entre os

    homens e a natureza, enquanto uma relao que deve ser entendida em suas diversas

    faces, econmica, poltica, social, ideolgica, jurdica, cultural e filosfica. justamente na

    dimenso jurdica, que ocorre o processo de apropriao se sobrepor com seu valor de

    troca ao valor de uso e toda a dimenso simblica do lugar se perder para a propriedade

    privada, consolidando-se primeiramente na apropriao da ao real que guia a direo do

    processo produtivo e se difunde em todas as instncias sociais, e depois, na apropriao do

    produto criado pelo capital. O que delinear os contornos e determinar as necessidades de

    produo e em conseqncia da sociedade, a forma como se dar a apropriao, e que

    em geral, ocorre com lutas e conflitos.

    Entretanto, se o espao vem a ser condio, tanto da reproduo do capital quanto

    da vida humana, ele tambm produto, sendo assim, a materializao do trabalho humano.

    A sociedade, ao produzir suas condies de vida, partindo das relaes capital-trabalho, vai

    reproduzindo o espao geogrfico e com ele, uma forma de viver, pensar, sentir, e nessa

    rede de interaes, a sociedade se torna criadora de si e de seu espao (Carlos, 1994, p.

    33).

    A anlise tem como corte espacial a beira-rio em seu contato com a cidade na rea

    compreendida entre o Porto flutuante central da cidade, o Roadway, at a foz do rio Tarum

    1Gegrafa formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Especialista em Turismo eGesto Territorial pela UFAM e Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Cincias do Ambiente eSustentabilidade na Amaznia da CCA/UFAM e-mail: [email protected] em Geografia Urbana pela Universidade de So Paulo USP; Professor Titular doDepartamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas e Lder do Grupo de Estudos ePesquisas das Cidades da Amaznia Brasileira GEPCAB - Orientador da Pesquisa e-mail:

    [email protected]

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    que abrange a parte da zona sul seguindo para o oeste da cidade, visando demonstrar o

    modo como se d reproduo do espao urbano atual, retrocedendo at o ano de 1967,

    quando da criao da Zona Franca de Manaus (ZFM), e, eventualmente recorrendo

    historicidade dos bairros que compem o contato da beira-rio, pois conforme Oliveira (2002,

    p.36), a histria no pode ser neutra, isenta de valores, de opes tico-polticas. Explicitar

    isto faz parte do exerccio da cidadania, cultural, poltica e social.

    Da que surge o interesse em compreender, a natureza espacial do urbano,

    entendendo o que caracteriza a sociedade na atualidade, quais as dificuldades, dvidas e

    anseios de realizao, que os habitantes da cidade enfrentam em seu cotidiano, pois como

    sustenta Ana Fani Alessandri Carlos o habitar antes de tudo uma prtica, e no apenas

    um ato isolado que pode ser localizvel em uma carta.

    Ao se discutir a natureza do espao geogrfico, questiona-se antes de tudo, o papeldo homem em relao aos fenmenos geogrficos, pois o homem, alm de parte integrante

    da realidade tambm seu produtor. Logo, importa considerar o ponto inicial desse

    processo, que a necessidade de reproduo da vida e conseqentemente, da espcie

    humana, com isso, o espao produzido se torna uma reproduo do homem, o que no leva

    a refletir sobre o processo de produo social, o tipo de trabalho realizado, o seu

    desenvolvimento, e a forma como certos produtos so produzidos. O que vem a tona,

    pensar de que modo se do as relaes sociais de produo numa sociedade capitalista e

    como essas relaes tm rebatimento na produo do espao, no caso especfico o espaourbano da cidade de Manaus e de modo pontual a beira-rio da rea anteriormente citada.

    Logo, a pesquisa busca entender esse processo em suas contradies, em seu

    dinamismo, pois nele, o capital surge como uma relao social que se fundamenta nas lutas

    e contradies. E assim, se busca redimensionar o lugar da natureza e da sociedade na

    anlise ambiental, procurando inserir o homem no mais como elemento da paisagem, mas

    como produtor de sua existncia, enquanto ser histrico e social, que possui com a

    natureza, uma relao dialtica, que tem na essncia, a perspectiva de que o trabalho

    enquanto ato essencialmente humano d contedo vida e cria a idia de liberdade, no

    produzindo apenas produtos, mercadorias, mas tambm a si mesmo, ao trabalhador, as

    relaes sociais, o mundo, fundamentando-se na relao capital-trabalho, ocultando uma

    relao de dominao. E assim as necessidades individuais passam a ser determinadas a

    partir das necessidades do capital, pois para o capital, o homem s existe enquanto fora de

    trabalho uma mera mercadoria e a sua subsistncia importam enquanto possibilidade de

    reproduo do capital (Carlos, 1994, p. 38).

    Entende-se que a natureza na cidade est articulada s dimenses das relaes de

    produo e como tal os impactos ambientais no podem ser analisados isoladamente, mas

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    como conseqncias de uma ao, qual seja, do processo de produo. Com isso,

    percebemos que a cidade o concreto, aquilo em que se pode estabelecer os limites, o

    espacial, o objeto definido, o particular, o fixo, o especfico. E o urbano, a difuso dos

    valores, atitudes, o abstrato, os comportamentos, os estilos, a moda, o cotidiano enfim, o

    modo de ser que caracteriza a sociedade que o vivencia, a contemporaneidade. No caso da

    pesquisa ora proposta procurar-se- verificar isso na sociedade contempornea da

    Amaznia, em particular na cidade de Manaus.

    O interesse pela pesquisa se deu a partir da busca em compreender a dinmica

    urbana de Manaus, e, em especial, da apropriao e uso do solo da beira-rio, em sua

    poro continental, uma vez que a rea se inclui entre os Bens Imveis da Unio (ver o

    Decreto-Lei 9.760 de setembro de 1946 em seus artigos 1 e 2 alnea a). Portanto, a rea

    no vocabulrio jurdico, sendo um terreno de marinha trata-se de um Bem Pblico (conforme

    inciso I do art. 99 da Lei 10. 406 de janeiro de 2002 que institui o Novo Cdigo Civil).O Porto

    de Manaus uma parte importante dessa rea, pois em seu entorno esto sendo

    executados projetos de revitalizao por parte da Prefeitura Municipal e do Governo do

    Estado. O Porto privatizado faz com que as grandes indstrias busquem cada vez mais a

    beira-rio, intensificando a especulao imobiliria com a presso para a construo de

    portos particulares, e essa nova forma de apropriao diverge do porto das famlias

    ribeirinhas, que tem o rio enquanto o espao do uso como resistncia e o lugar do

    imaginrio e do simblico.

    Mas a valorizao da beira rio pode ser vista como oportunidade para abrir novas

    possibilidades para o aproveitamento do rio, buscando t-lo como um diferencial a mais

    contribuindo para a melhor vivncia do homem urbano, pois a cidade de Manaus com

    exceo das primeiras igrejas aqui construdas, se encontra de costas para o rio, perdendo

    o que de melhor poderia oferecer, isto porque o significado maior de vida que possui a gua,

    a sua simples viso, ainda que inconsciente. A gua nos remete a lembrana do tero

    materno, o que nos acalma, inspira, aconchega e alegra (Swyngedouw, 2001, p. 97-99), por

    isso mesmo poderia ser desfrutada como um dos melhores agentes no combate ao stress

    urbano,procurando obter por meio do uso (apropriao) do solo sua melhor utilizao, o que

    automaticamente contribuiria com o modo de viver urbano, exatamente no momento em que

    se busca a melhoria da qualidade de vida principalmente nas grandes cidades, contexto no

    qual a cidade de Manaus se inclui, por possuir 1.405.835 habitantes (IBGE/Censo, 2000).

    Um estudo sobre sua beira-rio relevante, pois requer o levantamento do uso e

    como vem ocorrendo o seu planejamento ambiental para que este se adapte s

    necessidades urbanas, e faa valer o direito cidade de Lefebvre (2001, p.103-104). Ento,inicialmente se parte da reflexo terica que busca redefinir as formas, funes, e as

    estruturas da cidade (econmicas, polticas, culturais etc.) bem como as necessidades

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    sociais inerentes sociedade urbana, que at ento vem sendo marcada pelo consumo,

    compreendendo que seria a satisfao das necessidades socialmente elaboradas, indo de

    encontro s necessidades urbanas especficas, que seriam o desejo incessante por lugares

    qualificados, de simultaneidade, de encontros, onde o valor de uso no fosse tomado pelo

    valor de troca, comrcio ou lucro, e que houvesse a garantia da permanncia de tempos de

    encontros. Neste sentido, o projeto se prope a contribuir para produzir conhecimento sobre

    uma rea pouco estudada da cidade de Manaus especialmente tendo em conta o momento

    em que considerveis mudanas esto ocorrendo na beira-rio da cidade.

    Os problemas urbanos possuem uma natureza interdisciplinar, o que significa que

    para o analista eles oferecem as maiores dificuldades, o que implica em saber compreender

    o urbano, que na verdade vai se refletir em saber tratar a fuso de ensinamentos derivados

    de muitas disciplinas, da o foco de anlise permitir compreender os processos sociais,

    econmicos e ambientais que perfazem a localizao, o arranjo espacial e at a evoluo

    urbana dos grandes centros.

    A cidade de Manaus j aparece na viso dos primeiros viajantes como lugar

    contraditrio. A comear da vinda de Louis e Elizabeth Agassiz, que estiveram na cidade em

    sua Viagem pelo Brasil em 1865-1866. Manaus, relatada por eles, no passava de um

    aglomerado de casas, com boa parte delas em runas juntamente com edifcios pblicos que

    mais pareciam castelos oscilantes decorados. Apontavam como a localizao geogrfica

    seu maior triunfo, estando na confluncia dos rios Negro-Solimes/Amazonas, diziam elesquela poca, insignificante hoje, Manaus se tornar, sem dvida, um grande centro de

    comrcio e navegao (p.127). Sem dvida, Manaus torna-se uma cidade especial devido

    seus contornos serem banhados pelo rio Negro, pois da gua como j sabemos ser um

    recurso natural de valorizao do territrio no caso apontado por Agassiz a importncia

    estava na posio estratgica da cidade como base para a penetrao para o interior da

    Amaznia.

    Desde a poca da extrao da borracha, Manaus sempre teve uma relao muito

    mais forte com o exterior do que com o centro-sul do pas. Com a criao da Zona Franca

    um grande fluxo de mercadorias transformando-a num dos principais plos fabricantes de

    produtos do pas, tornou-a um entreposto comercial da regio norte, o que fez com que

    atualmente se tornasse a metrpole do norte. Apesar disso e por isso os rios continuam

    sendo fator importante para o desenvolvimento da circulao e do comrcio de mercadorias

    extradas, produzidas e consumidas tanto local como regionalmente. Resulta disso a

    ocupao da beira-rio com extensa rea descontnua de porto com o principal privatizado e

    outros 57 portos identificados pela Receita Federal (Jornal A Crtica, 09/05/2003), que apartir da identificao so obrigados a requerer habilitao para fins de embarque e

    desembarque de mercadorias.

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    Entretanto, a forma como se deu ocupao da beira-rio de Manaus ao longo de

    sua expanso urbana, fez desaparecer em alguns casos, a sua paisagem original

    transformando-a em fundo de quintal para alguns que definiram a sua forma e o seu uso

    em funo de suas necessidades e de seus interesses especficos, e essa apropriao

    acabou gerando um certo distanciamento entre a cidade e o rio.

    Por ser dinmico, exatamente por ser histrico, os usos do solo, ao longo do

    processo de reproduo urbana vai se redefinindo, transformando com isso, no s a

    fisionomia das cidades, bem como o cotidiano das pessoas, redefinindo tambm o conceito

    de modo de vida. Logo, a gesto do uso do solo da beira-rio de Manaus, quer seja pelo

    Estado, quer seja pelos demais agentes produtores do espao urbano, sempre esteve

    vinculada a fins econmicos e particulares; segregando e privando a populao manauense

    de suas razes ribeirinhas e de sua produo scio-cultural em um espao de grande valor

    simblico, e esta uma caracterstica marcante do processo do desenvolvimento urbano em

    nossa cidade, interligada a idia de modernidade que em si mesma, socialmente

    excludente, instituindo formas diversas de segregao e concentrando espacialmente e

    cada vez mais, os privilgios via estilos de vida.

    O cotidiano enquanto possibilidade de sua constante superao sob o discurso de

    um uso em comum faz com que o desenvolvimento urbano v se atrelando cada vez mais

    idia de modernidade e os seus tempos rpidos, fluidos e repetidos, bastante presente no

    planejamento urbano convencional, em que a cidade preparada para a circulao damercadoria em detrimento do bem-estar das pessoas. E o processo de ocupao e de

    apropriao da beira-rio de Manaus que deveria pelo princpio do Direito obedecer ao fato

    de ser uma rea pblica, acabou se tornando uma rea que historicamente passou a ter

    uma ocupao desordenada o que implicou na ausncia de controle do uso da terra

    urbana, de forma que possibilitasse uma apropriao mais democrtica, implicando na

    divergncia entre a cidade legal, que estruturada a partir do ordenamento jurdico e a

    cidade real, que a possvel, que se constri no cotidiano, tendo a contribuio do Poder

    Pblico atravs de sua omisso, sendo transferido s instncias municipais, a gestodesses espaos, implicando na ausncia do controle do uso do solo deixando-as sem a

    possibilidade de vir a ser uma apropriao mais democrtica, racional e ambientalmente

    sustentvel, que tornasse possvel a justia ambiental, que tanto nos fala Brbara Deutsch

    Lynch, em seu artigo publicado no livroA durao das cidades(2001, p. 57-82).

    Ento temos que a cidade de Manaus possui desde sempre uma estreita relao

    com o rio, dimenso essa traduzida pelo simblico, ldico, o lugar do imaginrio e por isso

    mesmo coletivo. Quando a produo desse espao urbano se baseia somente no mercadoe seu valor de troca, ou seja, aquilo que pode ser vendido e comprado, ocorre

    simultaneamente um desprezo ao rio enquanto dimenso do lugar, destruindo a

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    possibilidade da construo de uma cidade caracteristicamente local, transformando a beira-

    rio em simulacro, e devido a isso a beira passa a ser renomeada de orla fluvial.

    Essa prtica de gesto atual que vem ocorrendo em Manaus, na qual a apropriao

    e o uso coletivo da beira-rio passa a ser denominada de orla e apropriada para a construo

    de condomnios e hotis de luxos, transforma-se uma rea apreciada e com grande apelopaisagstico sendo considerada de intensa especulao imobiliria.

    Com isso, percebe-se que para haver a compreenso da paisagem urbana em

    estudo, se faz necessrio apreender a totalidade em suas determinaes especficas, que

    so produzidas como j referido, por meio das relaes sociais que permeiam tanto as

    coisas, o dom da natureza quanto os objetos, resultado do trabalho humano (Santos, 1997,

    p.52) bem como as suas formas, que nos do as representaes do cotidiano conforme

    apontado por Ana Fani Alessandri Carlos.

    Com base nessas preocupaes se faz necessrio buscar reflexes acerca da

    histria dessa ocupao e mesmo das caractersticas paisagsticas de Manaus, alm de

    produzir elementos que possam somar para uma anlise do uso do solo e das perspectivas

    de gesto dessa frao do espao urbano, com nfase s instituies que atuam nesse

    espao e os atores que o ocupam. Isto porque a rea de estudo concebida por usos

    diferenciados e procuramos aqui compreend-la, de forma que seus agentes sociais,

    intensos modificadores do tecido urbano possam ser vistos por meio das reaes coletivas,

    em meio aos conflitos gerados na tentativa do mercado de utilizar toda a beira-rio investindo

    em infra-estrutura com a participao governamental, tentando desta forma homogeneizar o

    espao atravs da mdia cunhando-a de orla fluvial eivada de novas dimenses e

    significados.

    Isto analisado por Campos Filho (1992, p.61) como sendo os padres urbansticos

    segundo o consumo elitista, pois lado a lado a especulao imobiliria da terra urbana,

    temos o modelo de desenvolvimento capitalista que exacerba junto especulao

    imobiliria tanto rural como urbana esse consumismo que pressiona o cidado atravs dosmeios de comunicao a consumir seus produtos, ainda que estejam acima de seu poder

    aquisitivo. O que deve ser medido levando-se em conta as necessidades das famlias de

    baixa renda em distribuir seus ganhos entre seus bens, incluindo os essenciais vida, como

    a alimentao. Mas podemos buscar a compreenso disso por meio das anlises das

    polticas pblicas urbanas, que conseguem ainda que de forma desordenada estabelecer as

    condies de produo e reproduo da cidade, para atender aos interesses de uma

    minoria hegemnica (Oliveira, 2003, p.134).

    Finalmente cabe uma discusso sobre o modo diferenciado de ocupao do espao

    na rea da pesquisa. Para tanto se recorre ao conceito de segregao. Segundo Villaa

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    (2001, p. 142), a segregao o modo pelo qual, distintos segmentos de classes sociais

    tendem a se concentrar cada vez mais diferentes regies gerais ou conjuntos de bairros da

    metrpole. Entretanto, ao concentrar-se no espao urbano, uma classe no impedir a

    presena nem o crescimento de outras classes nem o crescimento delas no mesmo espao,

    muito embora em nenhuma regio geral das metrpoles brasileiras exista a presena

    exclusiva das camadas de mais alta renda, o oposto ocorre em grandes regies urbanas,

    isto , a presena exclusiva de camadas de baixa renda.

    Ao analisar os tipos de segregao urbana Lojkine apud Villaa (2001, p.147)

    distingue trs tipos: 1) uma oposio entre o centro, onde o preo do solo mais alto, e a

    periferia; 2) uma separao crescente entre as zonas e moradias reservadas s camadas

    sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia popular; 3) um esfacelamento generalizado

    das funes urbanas disseminadas em zonas geograficamente distintas e cada vez mais

    especializadas: comercial, residencial, industrial,etc. Porm os trs tipos de segregao no

    so excludentes.

    Castells (2000, p.250) entende que segregao urbana

    a tendncia organizao do espao em zonas de forte homogeneidade

    social interna e com intensa disparidade social entre elas, explicando que

    so tendncias medida que se impem na lgica de reproduo quando

    as prticas, que so socialmente determinadas no se opuserem, ou seja,

    de um lado as determinaes econmicas, poltica e ideolgica iro

    interagir e compor o espao residencial, ao passo que haver tambm um

    reforo a segregao, um transbordamento de seus limites que tendero a

    modificar os fatores de ocupao do solo, segundo a articulao das lutas

    de classes no local das residncias, seja atravs da utilizao simblica de

    uma zona urbana ou pelo reforo de grupo da comunidade pelas fronteiras

    ecolgicas.

    Ao discorrer sobre as formas de segregao residencial ONeill apud Trindade Jr.(1997, p.15) relata que elas podem ser uma auto-segregao ou uma segregao imposta.

    No primeiro caso, so os grupos sociais dominantes que em razo do poder aquisitivo,

    reservam os melhores espaos para si, de forma que satisfaam seus interesses. Logo,

    medida que a classe dominante ou fraes dela vo controlando o mercado imobilirio

    atravs da incorporao imobiliria e da construo, vai definindo de forma seletiva, a

    localizao de mais grupos e classes sociais, e o que vem ocorrendo com a praia da

    Ponta Negra, o espao que est sendo produzido pela elite com o auxlio do Estado e do

    capital imobilirio de alto status.

    A segunda forma de segregao, a imposta, a que vai arrumando as reas

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    residenciais dos grupos sociais de baixa renda, uma vez que essas pessoas tm pouca ou

    nenhuma opo de como e onde morar, restando assim, aceitar os espaos que lhes so

    reservados, o caso dos residentes da Vila Marinho, uma ocupao desordenada que tende

    a desaparecer pela presso das empresas de navegao para construo de portos,

    Compensa e Santo Agostinho, pois conforme Trindade Jr. (1997, p.15), so os grupos

    sociais de baixa renda, que ocupam os terrenos desfavorveis, seja por sua topografia

    (reas alagadas, encostas ngremes, etc.) seja por sua localizao (periferias distantes do

    centro sem amenidades naturais ou socialmente produzidas.

    Vale ressaltar, que essas amenidades nas periferias so fatores essenciais para as

    classes de alto poder aquisitivo. Ento essa segregao vai reorganizando e redefinindo os

    subespaos da cidade, o que vai refletir em mudanas de formas e de contedos scio-

    espaciais, o que significa dizer que a segregao vai sendo alterada pelas mudanas

    sociais, sendo uma de suas conseqncias (Trindade Jr. 1997, p.17).

    Todavia Villaa (2001, p.147-148) em sua anlise, conclui que no h dois tipos de

    segregao, e sim uma s, pois se trata de um processo dialtico, no qual a segregao de

    uns provoca, ao mesmo tempo e pelo mesmo processo, a segregao de outros, seguindo

    ento a mesma dialtica do escravo e do senhor. Isto porque para este autor, se existe a

    luta de classes na segregao h tambm a evidncia dos vitoriosos e derrotados, ento ele

    evoca duas elucidaes a respeito, primeiro: essa segregao resulta de uma luta ou

    disputa por localizaes (segregao tnica ou por nacionalidades), pois a segregao sed entre grupos sociais ou entre classes, e a dimenso de luta ir aparecer quando se

    introduzir a segregao por classe. A segunda questo faz referncia ao porqu da luta, e

    nesse sentido, o referido autor dir que Manuel Castells em sua obra A questo urbana

    avana um pouco ao sustentar que se procura ao lutar, alm de uma posio social, uma

    conveniente implantao espacial dentro da cidade, explicando ainda que toda a

    problemtica social ir ter sua origem no binmio natureza e cultura, por meio do processo

    dialtico, no qual o homem enquanto sociedade se transforma e simultaneamente modifica

    seu meio ambiente fsico na sua luta constante pela vida e pela apropriao diferenciada doproduto de seu trabalho.

    Todavia, Villaa (2001, p.327) destaca que essa

    segregao espacial pela burguesia um trao comum e presente em

    todas as metrpoles, e que se trata de um aspecto excepcionalmente

    importante para compreender suas estruturas espaciais, pois este um

    processo que est longe de ser uma particularidade das dcadas recentes

    e de uma eventual atuao do capital imobilirio ou das leis de zoneamento

    contemporneo, uma vez que h mais de um sculo se constitui no Brasil.

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    Do ponto de vista da organizao do espao interno da cidade, os bairros que so

    banhados pelo rio e que formam o contato na rea em estudo compem Zona Oeste e Sul

    da cidade de Manaus e foram classificados pelo antigo Instituto Municipal de Planejamento

    Urbano e Informtica (IMPLAN) da Prefeitura Municipal de Manaus (PMM) no ano de 1996.

    rea em estudo

    AS REPRESENTAES SOCIAIS DO RIO NO IMAGINRIO DA POPULAO: O USO

    DE LEFEBVRE

    Conforme Cassirer (1994: 47-48) cada organismo vivo, desde o mais simples at o

    mais complexo, tem sua adaptao e ajuste ao seu ambiente por meio de sua estrutura

    anatmica que traz um sistema receptor, o qual a espcie recebe os estmulos externos eum sistema efeituador pelo qual reage a eles, desempenhando funes de ajustes, para que

    o organismo sobreviva ainda que tenha por algum motivo de retornar ao equilbrio, e isso

    ocorre de forma que a ligao seja intrnseca, funcionando em uma mesma cadeia. Porm,

    este crculo funcional quando aplicado espcie humana, no que possua excees s

    regras biolgicas que regem a vida dos outros seres, mas ter um sistema que se juntar

    aos outros dois, fazendo com que o mundo humano seja quantitativamente maior bem como

    passe tambm por uma mudana qualitativa, pois o homem utiliza tambm como mtodo de

    adaptao aos ambientes, o que inerente seu enquanto caracterstica entre as espcies, o

    seu sistema simblico.

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    esse sistema que vai transformando a vida humana, pois o homem ao ser

    comparado com os outros animais, o nico que vive em uma realidade mais ampla, bem

    como em uma outra dimenso desta realidade, devido diferena existente entre as

    reaes orgnicas e a seu poder de respostas aos acontecimentos que vo perpassar toda

    a gama de smbolos que eventualmente possua, para que possa estar apto a encontrar a

    sua prpria realizao, que vai para alm da realidade fsica, unindo e tecendo cada vez

    mais a rede simblica de sua existncia, que termina por fortalecer seus avanos. Para

    Cassirer (1994: 49) atravs de uma conversa constante consigo, o homem adentra cada vez

    mais no mundo paralelo ao real, envolvendo-se nas formas lingsticas, imagens artsticas,

    smbolos mticos e at nos ritos religiosos, para interpretar o meio artificial, fruto de sua

    prpria criao e produo, que aqui buscamos interpretar na produo da cidade.

    Para Lefebvre (1994:4), a cidade se constitui em uma obra, no sentido de ser

    produto da ao do homem, ento o obra aqui mesmo comparado ao sentido das artes, do

    ldico, de criao, e isso vai de encontro a cidade transformada agora em mercadoria, pelo

    dinheiro, pelas trocas, pela produo. No podemos negar que a cidade se faz sentir nesses

    dois valores, tanto o uso quanto a troca, mas como ela realizada por pessoas, o seu

    principal uso, deveria ser o sentido da Festa, que vem apenas no sentido de dar prazer, sem

    estar necessariamente ligada a troca.

    Ocorrem processos duplos que acarretam perodos nas cidades, que so apontados

    por Lefebvre (1994:9) como a industrializao/urbanizao; crescimento/desenvolvimento;produo econmica/vida social, eles sempre apareceram como unidades, mas so por

    princpio conflitantes, o que gera na cidade esses dois valores que so no dia a dia postos

    em prtica por seus cidados sem que se apercebam, e quase sempre o uso vai

    sucumbindo a troca, em favor do consumo, deixa-se de lado as prticas cotidianas.

    As estruturas nas quais toda realidade est contida o espao e o tempo, para que

    se encontre o tipo de percepo espacial que tem o homem, se faz necessrio descobrir o

    fundamento que o espao e o tempo no mundo humano possui, e para isso primeiramente

    bom que se tenha uma anlise das formas da culturahumana. Percebe-se que haver tipos

    diferenciados de experincia espao-temporal, e que nem todas esto no mesmo nvel.

    Algumas estaro em um nvel inferior, a camada mais baixa descrita como espaoe tempo

    orgnicos, ocorre uma constante adaptao dos organismos que vivem em um certo

    ambiente para sua prpria sobrevivncia. E aqueles que esto prximos aos animais

    superiores, os quais possuem o espao perceptual que no um simples domnio dos

    sentidos, tem a natureza complexa, por conter diferentes tipos de experincia dos sentidos -

    ptica, tctil, acstica e cinestsica cooperando-se entre si para a construo desse espaoda percepo, que criar as condies para o espao simblico, com os smbolos de

    relaes puramente abstratas(Cassirer, 1994: 73-76).

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    Mas a crescente onda ps-moderna termina por colocar a todos sob o impulso

    constante do capital, fazendo-nos substituir valores que so imbudos de sentimentos, de

    significados, pela efemeridade, pela busca constante do novo que o urbano pouco a pouco

    nos impe. Por isso Lefebvre (1994:11) nos indica que aos poucos, os antigos gneros de

    vida vo sendo substitudos, terminando por cair no folclore, o que Carlos (2001:278) vai

    chamar de nova ordem que se impe na metrpole, ou seja, temos a ordem distante,

    produto do mercado, da chamada globalizao, falseia a realidade impondo valores

    arraigados da troca, interferindo na ordem prxima, que so as relaes entre as pessoas e

    grupos.

    O estudo busca focalizar esse duplo valor uso/troca, tentando repensar a forma na

    qual nossos costumes so dilacerados por essa ordem distante que vai homogeneizandoos

    espaos, fazendo com que os objetos e at os bens da natureza passem a ser explorados

    pela troca, perdendo o sentido da coletividade, do plano do vivido, e que termina por

    imprimir no espao suas caractersticas inquietantes, levando mesmo o indivduo a perder

    sua identidade, ao estranhamentona metrpole, uma vez que esta j no mais produto da

    histria humana, e sim dos desejos transitrios impostos pela contemporaneidade. Perde-se

    os lugares de criao, dos encontros, da diverso, da Festa, no sentido que isso tambm vai

    entrar para o mundo da produo, tudo na cidade vai ter o seu tempo, seu lugar, e a vida

    parece ser programada a cada minuto, sem contar que so significaes que comeam a

    constituir em troca monetria, uma vez os shoppings passam a ser o smbolo maior dessa

    efemeridade, dessa programada vida urbana, uma bolhana qual a alegria e a diverso

    esto garantidas, caso se tenha como pagar por elas.

    Essa contradio uso/troca vai marcar profundamente a vida urbana, mudando as

    relaes dos indivduos, fazendo com que os modos de apropriao da propriedade privada

    do solo, seja orientado por usos diferentes, definindo inclusive os espaos pblicos.

    A apropriao do espao para a vida, vai se transformando em funo das

    estratgias do poder e do capital no espao, modificando a vida na

    metrpole, aparecendo sob a imposio de um novo modo de apropriao

    do espao, bem como novos modos de agir, sentir e perceber (Carlos,

    2001: 217).

    Temos na cidade o tecido urbano, formado por uma malha desigual, que o suporte

    no qual se desenvolve a vida urbana, indicada por Lefebvre (1994: 10-11) como um modo

    de viver muito intenso e degradado, nesse modo de viver temos os objetos materiais e os

    valores que vo compor os lazeres do urbano, dentre outros, os costumes, que terminam

    em alguns casos por constiturem em ilhotas do rural no urbano, ou seja, modos de vida

    diferenciados, que por suas caractersticas mais parecem uma ruralidade pura dentro da

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    cidade, o que ocorre, no caso das palafitas que encontramos na rea de estudo,

    independente de estarem numa grande cidade, elas fazem parte de um modo de vida do

    homem do interior, que na regio chamado de ribeirinho, e nesse sentido, se torna esse

    morador se torna um ribeirinho urbano.

    ANLISE DOS DADOS PARCIAIS

    Em geral as residncias a beira rio, no que concerne s moradias da Vila Marinho

    (Compensa e Santo Agostinho) e So Raimundo, so casas tipo palafitas, que em geral tem

    o rio enquanto quintal, ou seja, a cozinha est voltada para o rio, a sala em geral se voc

    pedir licena e entrar, vai estar muito bem arrumada, limpa, com os utenslios que j indica

    uma certa modernidade, no entanto, essas relaes vo ser muito marcadas pela relao

    que essas pessoas ainda tem com o rio, uma vez, que a maior parte do tempo

    principalmente das mulheres so com os afazeres domsticos, elas iro ao mesmo tempoem que trabalham contemplar o rio, o que vem a ser uma caracterstica tipicamente regional,

    quando se anda pelos beirades isso que se observa ao longo dos rios, as casas tem os

    seus chamados girau, ou seja, a pia da cozinha, de frente para o rio, sendo este tambm o

    lugar para onde vo os visitantes que chegam casa.

    Importante observar que quando o rio est cheio a paisagem muda por completo, e

    as relaes que envolvem os moradores possivelmente tambm, no So Raimundo, o barco

    pode passar prximo das casas, nesse sentido podemos pensar que as mulheres ou quem

    toma os afazeres domsticos, sejam at tomados como guardis do rio, pois so essas

    pessoas que enxergam primeiro quem se aproxima, so elas que acenam com adeus, so

    elas que possivelmente reconhecem os barcos que fazem rota pelo local, sabem dos

    horrios etc., possuem laos de pertencimento, que fazem parte da prpria histria da

    cidade, uma vez que o bairro de So Raimundo um dos mais antigos da cidade. Nesse

    sentido, esses laos de sentimentos, de afetividade que transformam esse cantinho da

    cidade em resistncia ao externo, resistem ao estranhamento que vai se impondo nas

    metrpoles.

    Ainda que estejam dentro das relaes com a ordem distante, vivem arraigados de

    subjetividade, de simbologias prprias da regio, do sentido do pensar coletivo, do vigiar, do

    estar e se fazer presente, pois uma vez que um estranho entre no lugar, e ande por meio

    das casas, imediatamente o que v primeiro d um sinal para os outros e de alguma forma,

    voc se v vigiado por olhos que vm nas janelas para olhar voc no rosto e cumprimentar

    ou ainda que ficam na espreita, desconfiando de sua presena, invisveis, tal qual o

    panptico, e ainda que esteja de passagem, voc no fica por muito tempo caso no se

    identifique e percorra o lugar com algum que pertena a ele.

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    Os modos de vida so diferentes, por serem permeados de simplicidade. Na seca do

    rio, as relaes interpessoais que ocorrem no lugar so ainda mais intensas, uma vez que

    uma grande faixa de praia aparece, comeam os preparativos para o campeonato de futebol

    envolvendo os moradores do lugar, aparece tambm o churrasco coletivo, a Festa, o estar

    junto, o trabalho no dia a dia que feito de forma a otimizar o local, o capinar do barranco,

    a limpeza da praia, enfim, ainda se v nesses lugares, o sentido do uso atribudo por

    Lefebvre (1994), que diferentemente de Marx (1998), que o institui enquanto a outra metade

    de uma mercadoria, de um bem, que vem enquanto utilidade.

    Cassirer (1994: 96-97) ao interpretar Kant quando este relata sobre o entendimento

    discursivo necessitar das imagens e dos conceitos para a distino daquilo que vem a ser

    realidade e possibilidade, nos diz que o intelecto humano antes de necessitar de imagens,

    necessita de smbolos, pois no que concerne ao conhecimento humano por sua prpria

    natureza um conhecimento simblico, tendo que se fazer a distino entre aquilo que real

    e o que ideal, pois um smbolo no tem existncia real mas possui um sentido nela.

    O uso de Lefebvre (1994) tem uma conotao mais subjetiva, e pode no estar

    associado troca, ao mercado, a dinheiro.

    O SIMULACRO CHAMADO ORLA FLUVIAL : O RIO COMO MERCADORIA

    Ainda Lefebvre (1994: 12-15) nos indica que o ncleo urbano pode ter um papel

    duplo de ser o lugar do consumo, mas tambm ser o consumo do lugar, ou seja, aqueleslugares que vo entrar de forma mais completa na troca e no valor de troca, ainda que

    continue a de certa forma a ser valor de uso por conta de espaos que so oferecidos para

    atividades especficas. Isso vai tornando o valor de troca fortalecido, por conta at de alguns

    agentes que formam o espao urbano.

    O prprio Estado ao assumir uma estratgia de planejamento que auxilia na

    fragmentao ainda maior da cidade, tornando os espaos funcionais, orientados por uma

    estratgia de classe, vai fazer emergir as diferenas de forma muito mais aguada, e isso

    aprofundado pelos agentes fundirios e pelos imobilirios que passam a usufruir cada vez

    mais de estratgias de marketing que tornam o espao vendvel, e que busque o lucro

    mximo nas negociaes, nem que para isso tenha que excluir o restante da populao,

    suprimindo a cada dia os espaos pblicos.

    Na rea em questo temos a foz do rio Tarum, que em seu contato, abriga uma

    construo abandonada de um prdio que recebeu incentivos da Superintendncia de

    Desenvolvimento da Amaznia (SUDAM) para ser construdo. O Maksound Plaza Manaus,

    segundo a placa que consta na entrada, pertence a Manaus Hotis de Turismo S.A. , uma

    tentativa de preparar a cidade para o turismo, fez com que fosse injetado dinheiro pblico

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    nesta construo, que est a pelo menos 10 anos paralisada, uma vez que na placa consta

    o nmero do processo 3483 que datado d ano de 1994. O que de fato ocorre a omisso

    por parte do Poder Pblico em verificar os reais motivos do no andamento da obra, e

    principalmente em tomar uma atitude quanto aos responsveis, uma vez que os

    investimentos foram feitos sem que os benefcios tenham sido realizados.

    Apontamos que o local permanentemente isolado por terra no permite a entrada. E

    a sua viso por gua, nos faz pensar o quanto foi e ainda desperdiado em investimentos

    e em faixa de praia que se tem no local quando o rio baixa suas guas.

    Ainda que de fundo tenhamos uma discusso concernente ao hotel cinco estrelas

    que est localizado na vizinhana e que na verdade detm o monoplio da rea, este novo

    hotel representaria uma verdadeira concorrncia em busca de clientela, o que talvez possa

    ser o real motivo para esta obra se encontrar paralisada e ao que parece sem perspectivasde andamento.

    Com isso, perde o Estado, perde a populao, e ganha as iniciativas privadas, que

    por meio do mercado vai fazendo os arranjos espaciais em seu favorecimento.

    A cada dia no mundo contemporneo, a cidade impulsionada por este pseudo-

    desenvolvimento, que a fragmenta ainda mais, e que a desumaniza, refletindo nas formas

    da cidade, um visual que acarreta uma estetizao do poder, no qual o desenho

    arquitetnico revela-se um instrumento poderoso, no qual todos os espaos na cidade voser minuciosamente calculados, tornando-se um espetculo, passando a sensao de

    transitoriedade e superficialidade.

    A impresso que se tem em algumas reas na cidade, tudo muito bem calculado

    para causar a sensao de que ali se tem a diferena, espaos qualificados que assumem o

    rosto dos que podem pagar por ele, e que perpassa a dimenso do vivido, uma vez que at

    os espaos pblicos passam a serem subordinados ao controle da iniciativa privada. Um de

    espao que a princpio deveria ser pblico a prpria faixa de praia da Ponta Negra.

    Atravs de seu redesenho e reprogramao de eventos culturais, um pouco do que

    se v na Praia da Ponta Negra, um lugar que a princpio nasceu para ser o lazer gratuito da

    populao de Manaus, paulatinamente vem sendo transformado e modificado, inclusive a

    programao de eventos, para garantir a paz aos moradores dos edifcios.

    Isso vem ocasionando inclusive uma guerra social na rea, uma vez que a praia da

    Ponta Negra, antes um lugar inspito e sombrio, apesar de lugar do lazer por vocao, teve

    de passar por um processo que foi chamado de humanizao que traria atravs do entoplano, um pouco mais de opo populao da cidade por volta da dcada de 80. Com

    isso, houve o planejamento do Complexo Turstico da Praia da Ponta Negra, que buscava

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    atravs de seus contornos, adequar a beira-rio para que as pessoas pudessem alm do

    banho de rio, ter o lazer atravs de jogos que serviria a campeonatos de futebol e voleibol, e

    ser tambm o lugar para cultuar boas formas atravs dos aparelhos e do prprio calado

    projetado.

    Ento ficamos assim, havia o banho de rio, que at hoje faz parte da vida de muitosque l vo, nos fins de semana. Antes de continuarmos, abriremos um parnteses para o

    que vem a ser o banho para a populao local.

    ... o banho uma inveno tipicamente manauense, para se refrescar do

    calor tropical e do sol equatorial, todos os habitantes da cidade do rio

    Negro, dos mais ricos aos mais pobres so adeptos Correa (1969: 89).

    Logo, em relao aos lazeres oferecidos, alm do banho de rio, a populao poderia

    contar com as quadras de jogos, bares, equipamentos para ginstica, uma ciclovia, e os

    shows oferecidos no anfiteatro. Observa-se que valor de uso estava sempre sobreposto

    nessas relaes, apesar dos pontos de insero da troca (empresrios e camels).

    Primeiramente temos de nos reportar torre construda pelo hotel cinco estrelas a

    que me referi anteriormente. Em 2002, quando se iniciou a obra foi embargada pelo

    Ministrio Pblico, mas no demorou muito para se consolidar.

    Importante perceber o quanto da faixa de praia que foi retirada do restante da populao,

    que ainda freqenta a praia nos finais de semana, e mais tem este como sua ltima opo

    de lazer pblico, ao banho de rio to costumeiro na regio.

    O hotel retirou a praia e falseou o banho de rio, se percebe a piscina construda a

    beira rio, que tem o intuito de permitir quem esteja nela a sensao de estar no rio, ainda

    que no seja. Observa-se que na cheia, as guas do rio Negro ficam margeando a

    construo da piscina, causando a impresso a quem est dentro, de estar tomando o

    banho de rio, mas o mais intrigante, pensar o motivo pelo qual isso foi pensado. Ora, como

    bom empreendedor, a rede de hotel sabe que essas guas esto com alto teor de poluio

    orgnica, ainda que no tenha sido feito o estudo da gua, j que esse no seria o intuito

    desse estudo, imaginamos que no tenha maiores tratamentos na gua servida tanto do

    hotel quanto dos prdios que se instalaram na rea. A gua servida do hotel vai diretamente

    para a beira rio, o que influenciou definitivamente a construo da piscina, que tem por fim

    nico, o falseamento do banho de rio, claro para quem pode pagar por esse

    estranhamento, que vai modificando o significado, o simblico que tem o rio no imaginrio

    das pessoas da regio, uma vez que o desenrolar da vida ribeirinha est intrinsecamente

    ligada s guas.

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    E no vem a ser somente isso, Lefebvre (1994) nos remete ao direito cidade,

    direito de usufruto integral de todas as possibilidades que ela possa oferecer. Uma vez

    instalado no lugar, provocou a privatizao desta parte da praia, o que nos remete ao

    Direito, de pensar essas reas enquanto terrenos de Marinha, que nos fora a buscar

    explicaes para esse tornar particular, o que era antes de domnio pblico, ou que por

    princpio deveria ser.

    Como podemos observar que os que podem usufruem o rio enquanto beleza cnica

    ainda que dele no faa outro uso a no ser o de contemplao, at o banho de rio de

    alguma forma uma virtualidade, e os de classe inferior, que at conhecem o fato da gua ter

    um ndice alto de poluio orgnica, ainda assim, ficam sem alternativas, tendo que se

    banharem nestas mesmas guas.

    Outro fator que em linhas gerais podemos perceber atravs da observao dos quefreqentam, que no passado, a praia da Ponta Negra, que a populao ia com todos os

    apetrechos necessrios para passar o dia, era o lugar dos piqueniques, uma vez que havia

    mesas de madeiras na dcada de 1980, as pessoas levavam a prpria comida enrolada nos

    panos de prato e isso foi observado levando-se uma conversa informal com algum que

    disse no ter mais coragem de trazer por pura vergonha de mostrar aos outros e ser

    interpretado como algum que no tem dinheiro para comprar comida no lugar.

    Ora isso explicado pelas relaes de troca que esto no lugar, no vou me ater muito

    nesta discusso, mas bom lembrar que com o Complexo Turstico que se voltou para

    torn-la mais humana, vrios bares se instalaram na rea e at o espao de praia meio

    que vendido.

    Foi observado que os guardas-sol agora pertence ao proprietrio do

    estabelecimento, e para usufruir deles, a pessoas tem que pagar, ou consumir produtos do

    bar. Essas relaes que vo reinventando o lugar que vai sucumbindo cada vez mais a

    troca, esquecendo que seu motivo maior para existir poderia ser o uso, enquanto obra do

    vivido, em defesa de valores coletivos, e nesse sentido que o conflito passa a estarpresente no cotidiano.

    Finalmente ainda analisando a praia da Ponta Negra chegamos ao que a iniciativa

    imobiliria vem ocasionando, a verticalizao quase total da rea. Lefebvre (1999: 45-46) se

    reporta ao fenmeno da verticalizao como o alhures, ou seja, o lugar da ausncia-

    presena, o que est em toda parte e em parte alguma, um espao paradoxal, onde o

    paradoxo converte-se no avesso do cotidiano.

    J em dezembro de 2000, lia-se no jornal dirio, o anncio que trazia o rio Negro

    enquanto arma de seduo para os negcios na Ponta Negra, uma vez que j despontava o

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    aumento inevitvel de prdios na rea. O lugar ento estava sendo rotulado de Barra

    Amazonense, sendo este um dos slogans utilizado pela especulao imobiliria.

    Um dos lugares mais bonitos de Manaus, da onde a viso do pr do sol inigualvel,

    tambm o lugar onde impera a segregao social, que termina por se fazer presente

    tambm nas Festas programadas pelo Poder Pblico. Uma vez instalados, os moradoresdos prdios que pagaram caro para estarem no local, que pagaram inclusive pela viso que

    a natureza pode proporcionar, passam a interferir nas relaes das pessoas que frequentam

    o lugar, e com isso, j no se tem mais os shows no Anfiteatro, perde-se tambm o

    espetculo vendido em um dos bares, que agora teve que voltar suas caixas de som para o

    rio, para no importunar os vizinhos, e a populao que ao passar podia parar para ver as

    danas tpicas que eram oferecidas aos espectadores do bar e aos que passavam inclusive

    de carro pela rua. Agora o espetculo est limitado aos que estiverem no bar, pois se voltou

    para trs e no possvel mais para quem passa o simples olhar curioso.

    nisso que tambm podemos ver brotar as diferenas que nascem da cidade legal

    que vem a ser estruturada a partir de um ordenamento jurdico e aquela que a populao vai

    realizando no cotidiano, e que o Poder Pblico termina por contribuir para aumentar essas

    diferenas quando se omite, Com isso a ocupao da beira rio vai favorecendo o uma

    minoria, aprofundando ainda mais as diferenas sociais, sem que isso implique um controle

    do uso da terra urbana, de forma que a apropriao feita tenha um cunho mais democrtico.

    Como isso mais fcil de ser identificado e visualizado no plano local, ou seja, na esferamunicipal.

    Mas tambm importante identificar que em conversa informal com uma moradora

    de um prdio, pude observar como uma queixa sua a de ter mudado para uma rea to

    distante da centralidade na sua opinio, buscando uma melhor qualidade de vida, de tempo

    inclusive para contemplao, mas tempo o que lhes falta, so pessoas assoberbadas pelo

    trabalho, vivem num ritmo to intenso que se no mudarem antes da localidade, talvez s

    venham a usufruir o local quando estiverem mais velhos sem tantos compromissos.

    Isto se explica pelo simples fato de terem pagado pela paisagem belssima do rio

    Negro, mas no poderem nem ao menos contemplar, ora, saem mais cedo, por estarem em

    uma zona mais distantes de seus trabalhos, por isso na maioria das vezes, saem ainda com

    o dia amanhecendo, e a pressa no lhes permite parar para ver a natureza em seu

    momento de transio noite/dia, como so pessoas de classe alta, e esto volta em

    reproduzir o que lhes garante o conforto de morar em um bairro nobre, so normalmente

    executivos, empresrios, enfim, podem ser classificados como donos dos meios de

    produo, passam muito tempo nas suas empresas, envoltos em trabalho, que no

    conseguem chegar a tempo de ver o que eles pagaram para ter, o mais belo pr do sol de

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    Manaus, na maioria das vezes anoitecem na rua, e nos finais de semana em geral no

    permanecem em suas casas.

    Ento o Negro vendido e comprado, mas quem faz a opo de morar no lugar em

    geral, e ainda que no seja regra, no consegue viver a intensidade do morar naquela

    localidade.

    Importante salientar que na praia ainda h uma escola de remo, que a principio

    para estimular o esporte no rio Negro, e que possivelmente freqentado pelos filhos dos

    moradores dos prdios, que podem comprar os equipamentos necessrios para inclusive

    praticar o esporte. nesse sentido que a elaborao deste corpo terico caminha, ao partir

    da observao do objeto de estudo, tentar a compreenso das relaes que vo se

    estruturando imbudas do esprito da concorrncia, da negao da coletividade, da Festa do

    povo.

    A Barra Amazonense nos remete a idia de simulacro, o prprio termo orla fluvial,

    j trs em seu bojo, significados que definitivamente desvirtua o termo regional beira-rio. A

    beira passa a ser o lugar dos pobres, das palafitas, da desordem imposta pela ocupao

    desordenada, e em geral esses lugares vo ser qualificados enquanto periferia. Mas orla

    fluvial significa dizer que estamos nos referindo a um espao planejado pelo Poder Pblico,

    na qual a ordem e a funcionalidade so palavras de ordem.

    Lefebvre (1994: 21-26) distingue trs perodos pelo qual passou e passa a sociedadeurbana, o primeiro foi o da indstria e do processo de industrializao, no qual o social

    negado ao econmico e industrial, o segundo o que faz a urbanizao se ampliar,

    generalizando o modo de vida da sociedade urbana, e por fim o terceiro que o que ela

    reinventa a prpria realidades urbanas, auxiliadas pelo urbanismo dos administradores do

    setor pblico, que termina por negociar inclusive o fator humano. Vem a ser o urbanismo

    dos promotores de venda que concebem o mercado, visam o lucro e a tudo programam,

    inclusive a cotidianeidade que gera satisfaes, uma espcie de ideologia de urbanismo que

    vai tornando-se valor de troca, que vai se inscrevendo inclusive no imaginrio das pessoastal qual um conto de fadas, a imagem vendida passa a idia de que ao adquirir o bem, voc

    ser to feliz quanto num comercial de tv, a ideologia de consumo passa a ditar regras para

    programar a vida humana. Nesse sentido, vai ocorrendo uma explorao que ele chama de

    apurada das pessoas, uma dominao que vai aos poucos se inserindo com o consumo

    programado e cibernetizado, e as pessoas que so produtores, consumidores de produtos

    passam tambm a consumir o espao.

    Ainda sob a tica Lefebvreana pode-se notar que o papel do Estado na sociedademoderna vai ser o de subordinar a si prprio e a seus elementos, inclusive a cidade a esse

    novo estilo, o urbano. Com isso a oposio entre o uso enquanto vida e a troca enquanto

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    Anais do X Encontro de Gegrafos da Amrica Latina 20 a 26 de maro de 2005 Universidade de So Paulo

    compra, venda e consumo dos espaos aumenta, o que nos remete a idia de pensar nos

    lugares cada vez mais parecidos, mais homogeneizados por fora de um planejamento que

    se impe sobre o que de melhor poderia haver no local, a especificidade, a essncia, a

    prpria identidade, tornando parecido, mas deixando rastros de que jamais ser o outro. O

    simulacro significa dizer que, ainda que tente ser uma Barra ou uma Miami, a Ponta Negra

    jamais ser, ainda que parea, e ainda perde a oportunidade de construir um espao que

    aproveite mais as relaes de uso entre as pessoas e os grupos no sentido de Lefebvre, e

    ainda a ddiva de estar diante de um rio majestoso, construindo suas bases numa

    simbologia tipicamente regional.

    A viso de longe da praia da Ponta Negra nos remete ao pensamento de uma ilha de

    prdios, e com eles as relaes que esto permeadas de valores que nos levam a pensar

    na interpretao sobre como est se dando este uso e sobre os usurios que o utilizam.

    A cidade vai sempre manter relaes com os elementos que a constituem, e que

    terminam por compor a sua prpria histria, se isso vir a mudar porque a sociedade que a

    habita mudou, mas essa transformao no so apenas os resultados passivos de uma

    globalizao social e suas possveis modificaes, pois a cidade vai depender tambm das

    relaes imediatas, que se passa diretamente entre as pessoas, e isto vem a ser a ordem

    prxima, ainda que as ordens distantes, compostas pelas instituies que regem a

    sociedade, o Estado e at a Igreja, imponha o seu cdigo jurdico formalizado ou no por

    uma cultura e por conjuntos significantes (Lefebvre, 1994:46).

    Tendo em vista os trabalhos de campo j terem sido realizados, a impresso que se

    tem, que no geral a populao tem o acesso limitado ao rio Negro, limitando-se Praia da

    Ponta Negra e ao Tarum. O acesso, alm das reas j citadas s possvel nas marinas

    existentes e no prprio Porto de So Raimundo, que serve de ligao com municpios

    localizados no Rio Solimes. Nas outras reas, o acesso restrito e em alguns casos

    proibido, por ser de uso restrito de hotis, portos privados, condomnios fechados, e a

    presena do prprio Estado, na figura dos poderes municipal, estadual e da rea militar

    existente em grande faixa da beira rio, dos estaleiros, das grandes empresas de navegao,

    situaes em que a anlise se encontra em andamento.

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