A aparição aconteceu num sábado, dia 19 de setembro de 1846, último dia dos Quatro Tempos de setembro, naquele ano, véspera da festa de Nossa Senhora das Sete Dores, na hora das primeiras vésperas, isto é, no momento em que a

Igreja, em seu ofício, cantava o hino Stabat Mater, caracterizado por um sentimento cristão profundamente pungente e doloroso!

Aprouve à Virgem Santíssima aparecer naquele momento em que o clamor dolente, a lembrar o sofrimento da Mãe Santíssima, junto ao Filho, na

Cruz, se espalhava pela Igreja e esta milagrosa ocorrência tocou fortemente os corações e os espíritos.

Naquela privilegiada hora da história do mundo, quando a Rainha do Céu fez com que La Salette ouvisse o doloroso Magnificat de suas proféticas

lamentações, 80.000 agonizantes e 80.000 recém-nascidos, nos vagidos de cada dia, devem ter sentido em suas almas algo como o estremecimento

divino sentido por João Batista, no seio de sua mãe.

Alguns foram levados ao pé do trono de seu juiz, diante do irresistível fluxo das lágrimas de sua Advogada; outros iniciaram a peregrinação terrestre,

no movimento do refluxo das mesmas ondas salutares que devem ter derrubado as muralhas da cidade do orgulho.

Um dia iremos conhecer quantas almas desesperadas foram salvas naquela ocasião, quantas vocações sobrenaturais foram determinadas naquele dia e

de quantas catástrofes latentes e inevitáveis o imenso ingrato povo desta Rainha em lágrimas, descida do Paraíso, viu-se, repentinamente, liberado.

Na aparição ocorrida no dia 19 de setembro de 1846, a Virgem Santíssima chorava e, foi devido ao sofrimento e às lágrimas da Mãe de Deus, que acompanhavam a advertência, e a previsão que fazia sobre as grandes

provações que assolariam o mundo, nos tempos atuais, que tantos fiéis consideram o acontecimento de La Salette, com especial e fervoroso

respeito, encontrando, nesta lição de penitência, reiterada em Lourdes e em Fátima, a fonte de conversão interior e de vida espiritual, para eles

valiosa de forma especial, entre todas as outras.

Certos espíritos superficiais ficaram chocados pelas terríveis ameaças contidas na preleção de Nossa Senhora de La Salette. "Não podemos

acreditar em um Deus tão cruel" - ouvi dizer.

Deus só é cruel na medida em que os homens, fechando seus corações à Graça, o impedem de ser bom. "Eu não posso mais deter o braço de meu

Filho" - diz Maria. A primeira recusa vem de nós mesmos. A mão de Deus que nos atinge é misericordiosa, plena de dons, preparados para nós, desde

sempre, mas nós os reprimimos, por conta da nossa indiferença, constrangendo-os a se fecharem sobre si.

Deus não deseja nos punir de forma positiva; basta que Ele se afaste de nós, para que, abandonados ao peso do pecado, fatalmente, nos volvamos ao

fundo do abismo. O espetáculo do mundo moderno, cujo orgulho tem afastado Deus, testemunha esta verdade com feroz evidência.

A mensagem da Virgem poderia ser resumida nestas simples palavras: "Se vocês não buscarem o Céu, perderão a Terra."   

Maria, nossa Mãe amantíssima, mostrou, em La Salette, sua grande tristeza diante do mal moral que assola e destrói a humanidade. Através de suas

lágrimas, ela nos ajuda a melhor entender e sentir a dolorosa gravidade do pecado, a acuidade da rejeição de Deus, mas, igualmente, a fidelidade

apaixonante que seu Filho tem e mantém por nós, seus filhos, Ele, que é o Redentor, cujo amor é ferido pelo esquecimento e pela rejeição.

A Mensagem de La Salette foi confiada a dois jovens pastores (Maximino Mélanie) num tempo de grandes sofrimentos de povos, afetados pela fome, sendo alvo de grandes injustiças. Mais ainda, a indiferença ou a hostilidade,

em relação à Mensagem Evangélica, aumentam.

Nossa Senhora, deixando-se contemplar, traz em si a Imagem do Filho Crucificado, e mostra que, associada à Obra da Salvação, Ela compartilha as dificuldades de seus filhos e sofre por vê-los afastarem-se da Igreja de Cristo

ao ponto de esquecer ou rejeitar a Presença de Deus em suas vidas, rejeitando, igualmente, a Santidade do Seu Nome.

A expansão do acontecimento de La Salette atesta que a Mensagem de Maria não está completamente intrínseca no sofrimento expresso por suas lágrimas; a Virgem chama à recuperação: Ela convida à penitência, à

perseverança na oração e, particularmente, à fidelidade à prática dominical;

Ela pede que sua Mensagem "passe a todo o seu povo" pelo testemunho de duas crianças. E, de fato, sua voz far-se-á rapidamente ouvir. Os peregrinos

virão; muito se falará sobre o assunto, e muitas almas serão tocadas.

Maria apareceu envolta em uma luz que evoca o esplendor da humanidade, transfigurada pela Ressurreição de Cristo: La Salette é a Mensagem da

esperança, porque nossa esperança se apoia na intercessão d`Aquela que é a Mãe dos homens. As rupturas não são irremediáveis. A noite do pecado cede perante a luz da Misericórdia Divina. O sofrimento humano assumido

pode contribuir para a purificação e a salvação.

Para quem caminha humildemente nas vias do Senhor, o braço do Filho de Maria não pesa para condenar; Ele tomará a mão que se estende, para fazer com que entrem, na vida nova, os pecadores

reconciliados pela Graça da Cruz.   

19/09/2009