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    Teatro I - Volume 6

    Raymundo Magalhes Jnior

    ( biblioteca educao cultura RJ - 1980)

    ORIGEM DO TEATRO ..............................................................................................................3A tragdia clssica ...................................................................................................................5A comdia clssica ..................................................................................................................6

    A COMDIA ROMANA ............................................................................................................7A TRAGDIA ROMANA ..........................................................................................................8

    O TEATRO NA IDADE MDIA ...............................................................................................9TEATRO NO RENASCIMENTO ............................................................................................10

    O primado da comdia ..........................................................................................................16NASCIMENTO DO TEATRO PORTUGUS .........................................................................18O TEATRO INGLS DA RESTAURAO ............................................................................19O TEATRO NA FRANA AT A REVOLUO...................................................................20O TEATRO ALEMO DO SCULO XVIII ...........................................................................21O TEATRO ROMNTICO NA FRANA. ..............................................................................22O TEATRO ESCANDINAVO..................................................................................................23O TEATRO RUSSO ..................................................................................................................24COMPANHIAS ITINERANTES ..............................................................................................25O TEATRO DO ABSURDO .....................................................................................................26TEATRO NORTE-AMERICANO ............................................................................................27O TEATRO NO BRASIL ..........................................................................................................27

    O teatro no Brasil Colonial ...................................................................................................27O Teatro depois da Chegada de D. Joo ...............................................................................29O Teatro no Primeiro Reinado ..............................................................................................31

    A INFLUNCIA DE JOO CAETANO ..................................................................................32Autores Brasileiros ................................................................................................................33

    Novos Autores Nacionais ...................................................................................................... 35Macedo e Alencar ..................................................................................................................35

    Outros Autores do Mesmo Perodo .......................................................................................37Autores No Representados ..................................................................................................38A pera Nacional ..................................................................................................................38A Influncia de Furtado Coelho ............................................................................................40O Teatro de Revistas .............................................................................................................42O Teatro de Comdia no Princpio do Sculo .......................................................................44A Companhia de Leopoldo Fres ..........................................................................................44Procpio e os Autores de Seu Tempo ....................................................................................46Companhia Jaime Costa ........................................................................................................47O Teatro-Escola, de Renato Viana .......................................................................................48Companhia Dulcina-Odilon .................................................................................................49

    O Teatro de Opereta ..............................................................................................................50Pascoal Carlos Magno e o Teatro do Estudante ....................................................................50Escolas de Teatro ...................................................................................................................51

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    Teatro Experimental do Negro ..............................................................................................52Atrizes Cmicas ....................................................................................................................52Teatro Infantil ........................................................................................................................53Os Amadores de Pernambuco ...............................................................................................54

    Os Comediantes ....................................................................................................................54Companhias de Curta Durao .............................................................................................55Companhia Eva Todor ...........................................................................................................56Teatro Brasileiro de Comdia ................................................................................................56Companhia Cacilda Becker ...................................................................................................57Companhia Tnia-Celi-Autran ..............................................................................................57Teatro de Bolso .....................................................................................................................58Autores de Monodramas .......................................................................................................59Companhia Srgio Cardoso-Ndia Lcia ...............................................................................60Companhia Maria Delia Costa ..............................................................................................60Companhia Nacional de Comdia .........................................................................................61

    Companhia Fernanda Montenegro-Fernando Torres ............................................................62GLOSSRIO ............................................................................................................................63BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................65

    ORIGEM DO TEATRO

    A palavra teatro e significa um general de arte e tambm uma casa, ou

    edifcio, em que so representados vrios tipos de espetculos. Ela provm da

    forma gregas theatron, derivada do verbo ver" (theaomil) e do substantivo vista"

    (thea), no sentido de panorama. Do grego, passou para o latim com a forma de

    theatrum que, atravs do latim, para outras e lnguas, inclusive a nossa. Mas o teatro

    no uma inveno grega, espalhada pelo resto do mundo. uma manifestaoartstica presente na cultura de muitos povos que se desenvolveu a

    espontaneamente em diferentes latitudes, ainda que, na maioria dos casos, por

    imitao. Antes mesmo do florescimento do teatro grego da Antiguidade, a

    civilizao egpcia tinha nas representaes dramticas uma das expresses de sua

    cultura. Essas representaes tiveram origem religiosa, sendo destinadas a exaltar

    as principais divindades da mitologia egpcia, principalmente o Osres e sis. Trs mil

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    e duzentos anos antes de Cristo j existiam tais representaes teatrais. E foi do

    Egito que elas passaram para a Grcia, onde o teatro e teve um florescimento

    admirvel, graas genialidade dos dramaturgos gregos. Para o mundo ocidental, a

    Grcia considerada o bero do teatro, ainda que a precedncia seja do Egito.

    Mas no continente asitico o teatro tambm existia, com outras

    caractersticas, que ainda hoje o singularizam. Na China, por exemplo, o teatro foi

    estabelecido durante a dinastia Hsia, que se prolongou o do ano 2205 ao ano 1766

    antes da era crist. Portanto, o teatro chins o segundo, cronologicamente, antes

    mesmo do teatro grego. Como no Egito, surgem tambm com caractersticas rituais.

    Mas, alm das celebraes de carter religioso, passaram tambm a ser evocados

    os xitos militares e outros acontecimentos. O assim, as profisses e danas foram

    cedendo lugar forma dramtica. A ndia comeou a desenvolver seu teatro cinco

    sculos antes da era crist, depois do aparecimento de seus poemas picos

    Mahabharata e Ramayana, que so as grandes fontes de inspirao e dos primeiros

    dramaturgos indianos. Pases to distantes como a Coria e Japo, mesmo sem

    contato com o mundo ocidental, desenvolveram a seu modo formas prprias de

    teatro - a Coria ainda antes da era crist e o Japo durante a idade mdia (o

    primeiro dramaturgo japons, o sacerdote Kwanamy Kiyotsugu, viveu entre os anos

    de 1333 e 1384 da era crist).

    O TEATRO GREGO

    No mundo ocidental, a influncia do teatro grego foi a avassaladora e se

    prolonga at os nossos dias, atravs da sobrevivncia de muitas de suas criaes,

    trgicas ou cmicas. O florescimento do teatro grego recebeu grande impulso

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    quando um autor e ator chamado Thespis comeou a percorrer as cidades com um

    carro que fazia as vezes de um palco, ao redor do qual os espectadores se reuniam.

    Thespis rompeu com a tradio das reclamaes em coro, apresentando-se em

    papis destacados, como protagonista, isto , como principal (proto) ator (agonista).

    Para animar o teatro, com cursos de tragdia foram institudos pelo ditador

    Pisstrato, general vitorioso que se apoderou do governo de Atenas, em Thesps foi o

    vencedor do primeiro desses concursos, no ano 534 antes de Cristo, mas nem a

    tragdia vencedora, nem outras que ele escreveu, chegaram at ns. O carro de

    Thespis no tardou a ser substitudo por teatros construdos ao ar livre, com

    capacidade para centenas de pessoas, acomodadas em assentos dispostos em

    semicrculos que iam se elevando a medida que se distanciavam da plataforma, ou

    palco, onde os atores declamavam. As colinas de alguns desses teatros testemunho,

    nos nossos dias, o interesse do mundo antigo pelas representaes teatrais, a

    principal forma de diverso popular ento existente.

    A tragdia clssica

    As caractersticas da tragdia eram a linguagem elevada, a luta dos seres

    humanos contra a fatalidade, ou destinos adversos, a abertura de e a nobreza dos

    sentimentos, o estoicismo em face da morte, do luto, do sacrifcio de vidas. A

    finalidade da tragdia era emocionar, comover, provocar a lgrimas, fazer com que o

    espectador se identificasse com heris, ou protagonista, e com a causa por ele

    sustentada, que enobrecendo-se ou purificando-se. O mais antigo dos autores

    trgicos gregos cujas obras chegaram para ns squilo, que viveu entre os anos

    525 e 456 antes da nossa era. Por vrias vezes ele concorreu aos concursos de

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    tragdias e Atenas, mas s veio obter o primeiro prmio no ano 467 antes de Cristo,

    com Sete contra Tebas. Depois, conquistou o por mais doze vezes. Das 70 a 90

    peas que escreveu, apenas essa e poucas outras foram preservadas. Entre elas As

    suplicantes, Os persas, a trilogia da Orestade (contendo Agamenon, Cforas e

    Eumnides) de Prometeu acorrentado.

    Contemporneo de squilo e 28 anos mais novo do que este, Sfocles foi

    outro competidor assduo dos concursos de tragdias, em que tem um foi nada

    menos de dezoito vezes, sendo em vrias outras ocasies o detentor do segundo

    lugar. De suas numerosas peas chegaram at ns Antgona, dipo, Electra, As

    mulheres de Trquinis etc. Eurpedes, contemporneo de Sfocles, nascido no ano

    480 antes de Cristo, completa a grande trindade da tragdia grega. De suas oitenta

    e tantas obras, sobreviveram entre outras as tragdias Andrmaca, cuba, As

    Troianas, Media, Ifgnia, em Turida, e Hiplito. Foi um verdadeiro reformador da

    tragdia, tornando coro independente da ao, comentando-a, mas no participando

    dela. Era mais pattico e mais preocupado com a anlise psicolgica dos

    personagens, razo pela qual mais moderno e est mais perto da nossa

    sensibilidade do que squilo e Sfocles.

    A comdia clssica

    J existiu algumas peas de carter satrico, de autores trgicos, quando

    surgiu na Grcia e o poeta cmico Aristfanes, considerado o pai da comdia

    clssica. Enquanto a tragdia exaltava as virtudes e os sentimentos nobres, a

    comdia satirizar dos excessos, a dissipao, a falsidade, o embuste, os

    sentimentos mesquinhos. E, sendo o avesso da tragdia, no pretendia comover,

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    mas fazer rir. No foi outra coisa que Aristfanes pretendeu e conseguiu com As

    Vespas, As Rs , As Nuvens , As Mulheres no Parlamento, Lisstrata de outras de

    suas obras. Escrevendo com grande liberdade e fantasia, sua atividade de

    comedigrafo foi importantssima, contribuindo notavelmente para a popularizao

    do teatro e elevando os gregos a identificar seus prprios defeitos e a rir deles.

    Aristfanes viveu, ao que se presume, entre os anos 400 e 380 antes da nossa era.

    Seu sucessor imediato foi Menandro, que se presume ter vivido entre os anos 342 e

    291 antes de Cristo, mas nenhuma de suas obras sobreviveu na forma original. Dele

    existem apenas as adaptaes latinas de algumas de suas comdias pelos autores

    romanos Plauto e Terncio. Nada sobreviveu de outros autores de comdias que o

    sucederam, como Filmon, Dfilas e Posdipo .

    A COMDIA ROMANA

    Com o apogeu de Roma, os romanos voltados para a cultura ateniense,

    admirada a tal ponto que o estudo do idioma grego que se tornou generalizado entre

    suas classes superiores, os espetculos teatrais passaram a rivalizar com as lutas

    entre gladiadores. O teatro romano era, de incio, uma simples imitao do teatro

    grego. Dois notveis imitadores das comdias gregas foram Tito Maccio Plauto e

    Terncio Pblio Afro, mais conhecidos como Plauto e Terncio. No se sabe ao certo

    quando nem onde nasceu Plauto, mas apenas que ele teve origem humilde e viveu

    no segundo sculo antes de Cristo. Autor de uma centena de comdias, delas s a

    quinta parte chegou at ns. Entre elas esto Amphitruo ( Anfitrio), Miles Gloriosus

    ( O soldado fanfarro), Menaechmi (Os ssias) , Pseudolus (O trapaceiro),

    Mostellaria (Os espritos) etc. Uma dessas, Menaechmi, que iria ser imitada por

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    Shakespeare em A comdia dos erros. E outra, Amphitruo, viria a ser imitada por

    Molire em Anfitrio. Quanto a Terncio, era um jovem cartagins que foi

    escravizado e levado para Roma, onde passou a servir como criado do poeta

    Lucano, que o fez instruir e o libertou, dando-lhe o seu prenome, Terncio. O ex-

    escravo escreveu numerosas comdias, entre as quais Andria , O eunuco , Os e

    irmos, O punidor de si mesmo, Formione e A sogra. Algumas vezes, valeu-se das

    mesmas fontes gregas a que Plauto recorrera, mas dando a essas fontes um

    tratamento diverso, com fortes contribuies pessoais. Mas teria deixado se no

    houvesse morrido com apenas 34 anos, no naufrgio de um navio, a caminho da

    Grcia, no ano 159 antes de Cristo.

    A TRAGDIA ROMANA

    A tragdia no despertou em Roma o mesmo interesse que as comdias. Seu

    principal cultor na Antiguidade romana foi Lucio Aneu Sneca, filsofo que serviu de

    preceptor ao futuro imperador Nero. Nascido no ano 4 ou 5 antes de Cristo, Sneca

    escreveu uma srie de tragdias, mais destinadas a serem lidas do que a serem

    representadas, em geral imitando os grandes autores gregos. Entre outras Hrcules

    furioso, As fencias, Media, Fedra, Hiplito, dipo, Agamenon, umas imitadas de

    squilo, outras de Eurpedes. Mas no foi simples imitao a tragdia de sua prpria

    vida, primeiro desterrado na Crsega pelo imperador Cludio como amante adltero

    de sua sobrinha Jlia Livilla, e aos 70 anos condenado morte, como conspirador,

    pelo ex-pupilo Nero, tendo abertos s vezes para expirar junto a esposa. Suas

    tragdias viriam a ter considerada influncia no teatro europeu, depois de traduzidas

    pelos humanistas do renascimento.

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    O TEATRO NA IDADE MDIA

    Depois do advento do cristianismo, o teatro sofreu acentuado declnio de,

    durante a idade mdia a, foi vivamente combatido pela igreja catlica, que no via

    com bons olhos a concorrncia que os espetculos, jogos e diverses de toda

    espcie faziam as festividades religiosas. As atrizes passaram a ser equipadas as

    prostitutas. Contudo, no sculo 6 da nossa era, o imperador Justiniano I seapaixonou por uma atriz, Teodora, admirada em Constantinopla por sua grande

    beleza, com ela se casando. Esse soberano do imprio romano do oriente decretou

    que os membros do patriciado, isto , da nobreza, poderiam se casar com atrizes,

    desde que estas renunciasse sua profisso. Mas, sob presso, acabou por

    decretar o fechamento dos teatros de Constantinopla. Os conclios da igreja catlica,

    muito antes disso, como acontecerem Cartago e em Arras, este no ano de 452, j

    haviam decretado que"histries ( comediantes) no poderiam receber a sagrada

    comunho, enquanto permanecessem ligados a tal profisso". Outro conclio, em

    691, a ameaou suspender as ordens do sacerdotes que comparecessem

    representaes teatrais e tornou os leigos passveis de excomunho. O imperador

    Carlos Magno, do imprio romano do ocidente, que reinou do ano 800 ao ano de

    814, abaixou um decreto proibindo os atores de se apresentarem no palco em

    quaisquer vestes sacerdotais, sob pena de castigo moral o banimento.

    Com o abastardamento do teatro e as perseguies cada vez maiores a

    profisso teatral, os espetculos foram reduzidos a simples proezas de

    saltimbancos, malabaristas, cantores ambulantes, pantomimas e palhaadas, em

    feiras e circos, para o gozo da populaa. Mas a reao comeou a se processar, aos

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    poucos, e a prpria igreja catlica, pondo de parte seus preconceitos, acabaria por

    utilizar o teatro como meio de fazer proselitismo e de se comunicar com o povo.

    Cenas bblicas, transformadas em pequenas peas teatrais, chamadas mistrios,

    passaram a se representadas em arenas, ou mesmo no adro das igrejas, sendo que

    os atores eram algumas vezes recrutados entre padres, monges e irmos leigos.

    Alguma dessas pestes se chamava O jogo de so Nicolau( escrita no sculo 13 por

    Jean Bodel, poeta francs, autor de canes de gestas) e O milagre de So Tefilo

    ( escrita pelo trovador francs Rutebeuf), ao passo que outras eram annimas, como

    Os milagres da nossa senhora, A ressurreio de Lzaro, A na atividade de nosso

    senhor, A matana dos inocentes, O mistrio dos reis magos, O mistrio do ato dos

    apstolos etc. Remanescentes desse antigo teatro religioso so ainda em nossos

    dias as representaes ao ar livre do drama da paixo de Cristo em Oberamergau,

    na Baviera, um dos estados da repblica federal da Alemanha, em Nova Jerusalm,

    no estado de Pernambuco, no Brasil, assim como a famosssima Cantata dos

    pastores, que os napolitanos em cena um todos os anos na Itlia.

    TEATRO NO RENASCIMENTO

    Quando a idade mdia chegou fim, a situao do teatro j era bem melhor e

    ia comear uma fase ainda mais propcia com o renascimento, como chamada

    poca que se seguiu as grandes navegaes, aos descobrimentos de novas terras,

    a inveno da imprensa e divulgao das grandes obras da Antiguidade, traduzidas

    para os idiomas europeus. As universidades, que eram poucas na idade mdia, se

    multiplicaram. Houve um florescimento extraordinrio da arquitetura, da pintura, da

    escultura e tambm do teatro. Na Alemanha um simples sapateiro, chamado Hans

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    Sachs, tomado de paixo pelo teatro, e escreveu numerosas tragdias, dramas,

    comdias e alegorias, ora explorando temas gregos, como o de Clitenestra, ora

    temas bblicos. Na Itlia, o poeta Lodovico Ariosto e escreveu comdias encenadas

    na corte de Ferrara e o florentino Noccol Machiavelli compor uma das obras-primas

    do teatro renascentista italiano, A mandrgora (La Mandragola), ainda hoje

    representada e h pouco convertida em filme. No sculo 16, chegou ao apogeu, na

    Itlia, a Comedia dell'Arte, a assim chamada porque, nela, o talento e a capacidade

    de improvisao dos artistas sobrepujavam o texto literrio. A Commedia dell'Arte

    tinha personagens fixos, tais como Arlequim, Scaramuccia, Brighela, Pantalone etc.,

    os quais desenvolviam sua representao em de acordo com as caractersticas de

    tais tipos. Os autores escreviam apenas um breve resumo da intriga, fixando a linha

    geral das situaes, o acontecimentos, que deixavam o dilogo inteiramente por

    conta dos intrpretes. Alm disso hbeis improvisadores, os artistas da Commedia

    dell'Arte eram tambm grandes mmicos, transmitindo a comicidade tanto por suas

    palavras, como por gestos e atitudes. Graas a isso, a Commedia dell'Arte

    conseguiu fazer sucesso, por longo tempo, na Frana, influenciando bastante o

    teatro francs. Ao mesmo tempo que surgiam atores de talento e melhorava a

    qualidade das representaes, realadas por cenrios pintados, um grande arquiteto

    italiano Andrea Paldio, iniciava a construo do primeiro teatro coberto, onde erapossvel representar com qualquer tempo, mesmo com chuva ou quedas de neve,

    para um pblico de 3000 pessoas. Foi este o teatro Olmpico, de Vicenza,

    completada por seu discpulo Vincenzo Scamozzi em 1588 - oito anos aps sua

    morte - e at hoje preservados como um verdadeiro monumento histrico.

    Quando a Itlia j tinha seu primeiro teatro coberto, verdadeiro primor de

    arquitetura, apresentando no palco, em perspectivas, as ruas de uma cidade, como

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    cenrio fixo, em outros pases as representaes continuavam ser feitas ao ar livre.

    Na Espanha, por exemplo, eram realizadas em ptios de estalagens, estbulos e

    currais a abandonados. Era o que fazia a primeira companhia profissional

    espanhola, organizada pelo autor, ator e empresrio Lope de Rueda, que viveu entre

    1510 e 1565. Os primeiros teatros de Madrid tiveram nomes como Corral de la

    Pacheca e Corral de la Cruz, por terem sido estabelecidos em velhos currais. O

    primeiro teatro coberto de Madrid foi o Corral de la Pacheca, onde se estabeleceu

    uma companhia italiana que, no querendo perder dinheiro na estao chuvosa,

    construiu um teto sobre o palco e parte da platia. Em 1582, ou Corral de la

    Pacheca foi reconstrudo, como um autntico edifcio, trocando ento o nome, no

    para teatro, mas para Corral del Prncipe . O Corral de la Cruz, construdo em 1579

    como teatro aberto, mas com algumas novidades, como a colocao de camarotes e

    de uma seo s para mulheres, procuro o adaptar-se ao novo estilo. Depois de

    Lope de Rueda, surgem na Espanha outras figuras importantes da dramaturgia, a

    comear por Juan de la Cueva, que viveu entre 1550 e 1610 e foi autor de

    numerosas peas, uma das quais era ainda muito representada no sculo passado,

    Os sete infantes de Lara. Outro ator da mesma poca foi Miguel de Cervantes, ator

    do drama Cativeiro em Argel, sobre suas prprias aventuras como prisioneiro dos

    argelinos, e a tragdia O cerco de Numncia, alm de numerosos entremeses, opeas curtas. Mas a forma do romancista do dom Quixote de la mancha obscureceu

    quase inteiramente sua atividade teatral.

    A chamada " idade de ouro" do teatro espanhol e comea verdadeiramente

    com Lope Flix de Vega Crpio, ou simplesmente Lope de Vega, que escreveu

    centenas de peas, algumas das quais permanecem vivas interessantes, ainda hoje,

    como Fuente Ovejuna que El Perro del Hortelano. Na sua febre de produo, ele se

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    valia de toda espcie escrito alheios, uns tirados da bblia, outros da mitologia, na

    histria, das crnicas, baladas, lendas, vidas de santos etc. Entre seus

    continuadores est Guilln de Castro, nascido em 1569, sete anos depois de Lope

    de Vega, mas desaparecido quatro anos antes desse, num ano de 1631. Guilln de

    Castro lembrado principalmente pelas peas que escreveu o sobre Rodrigo Dis

    de Bivar, mais conhecido como "El Cid", uma delas intitulada Las Mocedades del

    Cid. foi o autor tambm de O conde de Alarcos e fez uma dramatizao do dom

    Quixote. Juan Ruiz Alarcn y Mendoza, conhecido apenas como Alarcn, nascido no

    Mxico em 1580, mas criada educado na Espanha, escreveu cerca de 20 comdias,

    entre as quais A verdade suspeitas (La Verdad Sospechosa), que seria depois

    imitada na Frana e na Itlia. Tirso de Molina ps em cena a figura de D. Juan em El

    Burlador de Sevilla (burlador tem o sentido de enganador, ou sedutor). Outro

    espanhol, Luis Vlez de Guevara, dramticos ou a tragdia de Ins de Castro, sob o

    ttulo de Reinar depois de morrer.

    Os teatros, na Inglaterra, continuavam a ser abertos, representando os atores

    numa plataforma e ficando pblico de p, perto desta, ou no fundo, sentado em trs

    galerias dispostas em semicrculo. Ainda assim, foi extraordinrio o florescimento

    desse teatro, sob o reinado da rainha Elizabeth I. Prevalecia, naquele pas, o mais

    arraigado preconceito contra a profisso teatral, s a exercida por homens. Ospapis femininos eram representados por rapazes, que se vestiam com mulheres,

    imitando a voz que fosse ademanes destas. Os autores e eram considerados vadios

    e vagabundos. E, para no serem incomodados pela polcia, tinham de obter a

    proteo de altas personalidades da nobreza britnica, que os empregavam como

    seus criados e, por isso, fora do palco, vestiam a libr da criadagem desses nobres.

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    Os autores desse perodo ficaram conhecidos como os " dramaturgos

    elizabetanos". Dentre eles, o mais notvel foi William Shakespeare, nascido em

    Stratford, em que 1564 e desaparecido em 1616. Deixou ele que cerca de 35 peas

    - dramas histricos, tragdias e comdias - ainda hoje representados com sucesso

    pelos mais famosos artistas, tanto na Inglaterra como no resto do mundo.

    Do mesmo modo que o espanhol Lope de Vega, Shakespeare se valeu de

    diversas fontes - crnicas histricas, biografias escritas por Plutarco, contos e

    novelas de autores italianos, bem como o peas escritas por seus antecessores.

    Assim, comoveu o mundo com a histria dos amores trgicos de Romeu e Julieta,

    de Otelo e Desdmona, com as tragdias do rei Lear, de Hamlet e de Macbeth, do

    mesmo modo que fez rir com as alegres peripcias das Alegres comadres de

    Windsor, com os quiproqus de A noite de reis, com as hilariantes incidentes de A

    megera domada e vrias outras comdias. Fez ressurgir do passado as figuras de

    Jlio Csar e de Coriolano e, em fundindo extraordinrio vigor dramtico aos

    estudos biogrficos de Plutarco. E apresentou um do mgico, cheios de poesia de

    fantasia, em A tempestade.

    Entre seus contemporneos, um dos que mais se distriburam foi Ben

    Johnson, o autor de Volpone, admirvel comdia ainda representada com sucesso e

    convertida em filme. Muitos outros autores importantes surgiram, mas o teatro inglsno tardou a sofrer a um grande golpe com a guerra civil que colocou no poder

    Oliver Cromwell. Os puritanos, que viam o teatro com maus olhos, conseguiram

    fechados por uma lei do parlamento em 1642, permanecendo os artistas teatrais

    privados de exercer a sua profisso por nada menos de dezoito anos!

    Bem diversa era a situao do teatro na Frana onde passou a ser a diverso

    preferida da corte e da alta aristocracia. Os reis e prncipes protegiam autores e

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    artistas. Isso propiciou aparecimento de grandes figuras, que deram o oitavo impulso

    dramaturgia e a arte teatral francesa. O cardeal Armand Jean Du Plessis, duque

    de Richelieu, que governou a Frana como principal ministro de Lus XIII, o jovem rei

    por ele completamente dominado, era um entusiasta das letras e do teatro. Em

    1636, resolveu ele comissionar cinco jovens autores franceses, a fim de que, bem

    remunerados, ocupassem o seu tempo em que escrever peas teatrais para corte. A

    essa altura, um deles, Pierre Corneille, tinha 30 anos de idade e j era autor de

    algumas comdias, entre as quais A iluso cmica, que de uma tragdia, Media,

    baseada na de Eurpides. Corneille durou pouco tempo em tal funo, por ser fora

    demais independente e por alterar ou recusar os assuntos que eram sugeridos. Seu

    maior sucesso, logo depois de A iluso cmica, foi a pea O Cid, imitada em alguns

    trechos e, noutros, literalmente traduzido do original espanhol de Guilln de Castro.

    Mesmo depois de rompido o seu contrato, esse drama foi representado, por duas

    vezes, no teatro particular do Duque de Richelieu. Outro grande sucesso de

    Corneille foi o de Le Menteur (O mentiroso), em que se valeu da trama de outra pea

    espanhola, A verdade suspeita (La verdad sospechosa), de Alarcn. Corneille

    escreveu tambm tragdias como Cina , A morte de Pompeu, uma nova verso de

    dipo etc. tudo isso lhe valeu se eleito para a academia francesa. Mas depois entrou

    em declnio, escrevendo peas que no obtiveram o favor pblico, como tila eAgesilau. Algumas foram representadas no castelo do marqus de Sourdac, no

    Marais, e outros no do hotel de Bouegogne.

    O outro grande dramaturgo da poca, Jean Racine, nasceu em 1639, quando

    Corneille contava 33 anos. Amigo de La Fontaine e de Boileau, poetas que ainda

    no haviam alcanado a fama, conquistou tambm estima de Molire, ator e autor

    de comdias, que em 1658 se fixara Palais-Royal, tempo Paris, com sua companhia,

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    sob a proteo da corte de Luis XIV. O talentoso Jean Racine, aos 25 anos, vi esse

    representada, no Palais-Royal, pela companhia de Molire, a sua primeira pea, A

    Tebida, ou Os irmos inimigos. J a segunda pea, Andrmaca, era assim

    reconhecido como um grande dramaturgo e tambm, como um ingrato, pelo menos

    por Molire, pois romper com este e se fora para o hotel de Bourgogne, para l

    levando a melhor atriz do Palais-Royal, Mlle, Du Parc, de quem se tornar amante.

    Mais, ainda: quando Molire comeou a ensaiar a pea de Corneille, Tito e Berenice,

    Racine resolveu escrever a pea Berenice, sobre o mesmo assunto ( os amores de

    imperador romano com a filha de Salom e sobrinha de Herodes), levada a cena

    uma semana depois daquela. A rivalidade entre Racine e Corneille animou bastante

    o teatro francs da poca. Outras tragdias de Racine, Britannicus, ainda hoje

    representada, teria exercido forte influncia sobre Lus XIV, atravs da severa crtica

    s veleidades artsticas de Nero, um dos personagens da pea. Depois disso, o rei

    deixou de se apresentar nos bailes e outros divertimentos da corte, em que tinha o

    capricho de se exibir. Voltado para o mundo antigo, a assim escreveu peas como

    Alexandre, Esther, Mitrdades, Fedra, Ifignia em ulida etc. E s uma vez escreveu

    uma comdia, sob tipos franceses contemporneos, Les Plaideurs (Os litigantes),

    tambm em versos, como seus dramas e comdias.

    O primado da comdia

    Jean-Baptiste Pequelin, nascido em 1622, filho de um estofador e tapeceiro,

    de desviou-se das atividades paternas para adotar a profisso de comediantes que

    se tornou famoso em todo mundo como Molire, nome da pequena cidade em que

    representou pela primeira vez em que escolheu como pseudnimo. Cmico, por

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    excelncia, a falta de repertrio adequadas o talento o levou a refundir e a compor

    peas divertidas e movimentadas. Escrevendo ora em versos, como Corneille e

    Racine, ora em prosa, legou ao teatro francs verdadeiras obras-primas, com todo

    uma galeria de tipos admiravelmente desenhados, tais como Tartufo ,Harpago ,

    Alceste etc. Protegido pelo irmo do rei, comeou por se apresentar no teatro Petit-

    Bourbon, no Louvre, e depois no Palais- Royal, em dias alternados, pois a tambm

    eram dados espetculos da commdia dell'Arte, cuja companhia era liderado por

    Tibrio Fiorelli, um famoso Scaramouche, o Scaramuccia. Em Paris, a primeira de

    suas peas, que Molire ousou representar, foi a farsa Le Docteur Amoureux (O

    mdico apaixonado), que obteve imediato sucesso. Depois do fracasso de uma

    tragdias de Corneille, intitulada Nicomedes, Molire apresentou, no mesmo

    programa, duas outras peas suas, L'tourdi, ou Les Contretemps (O estouvado, ou

    Os contratempos) Le Dpit Amoureux (O despeito amoroso). Tentou a tragdia,

    com um pea de assunto espanhol, dom Garca de Navarra, mas fracassou, porque

    o seu domnio era o da comdia e da farsa. Em 1664, escreveu para uma festa em

    Versailles Le Mariage Forc (O casamento forado), em que o prprio rei, Louis 14,

    tomou parte, no papel de um cigano ( isso aconteceu de 5 anos antes da encenao

    e de Britannicus, de Racine). Entre as peas mais famosas de Molire esto O

    misantropo, O avarento, As preciosas ridculas, O burgus gentil-homem, Tartufo,Escola de mulheres, Escola de maridos, O doente imaginrio e Les Femmes

    Savantes ( conhecida na traduo portuguesa como as sabichonas). Molire morreu

    a 17 de fevereiro de 1673, aos 51 anos de idade, ao fim de uma representao de O

    doente imaginrio. Sua influncia se estendeu a todo o mundo ocidental, onde o seu

    teatro continua a ser at hoje representada. Molire abre o caminho a popularizao

    do teatro, com suas comdias e farsas, de esfuziante comicidade.

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    Contemporneo de Molire, mas com mais longa vida ( nasceu em 1600 e

    morreu em 1681 ), o espanhol Pedro Caldern de La Barca foi o grande continuador

    de Lope de Vega. Como este, teve uma vida aventurosa e terminou seus dias como

    padre catlico. Mas, antes disso, foi dramaturgo da corte de Felipe IV, de quem

    recebeu um ttulo de fidalgo, com direito a tratamento de dom Pedro. Escreveu uma

    centena de comdias longas e algumas centenas de peas curtas, de cunho

    religioso, chamadas autos sacramentales. Entre suas obras mais famosas esto O

    Grande teatro do mundo, A ceia de Baltazar, O alcaide Zalamea, A vida um sonho,

    O mgico prodigioso e O mdico de sua honra.

    NASCIMENTO DO TEATRO PORTUGUSMe

    O desenvolvimento do teatro em Portugal foi mais lento do que na Espanha.

    As primeiras peas a representadas foram de cunho religioso, como os mistrios ou

    atos sacramentais. O primeiro autor portugus a contestar nomeada foi Gil Vicente,

    ator, em senador e autor de cerca de 50 altos - moralidade, comdias e farsas. Entre

    as suas obras mais famosas, esto O auto de Mofina Mendes ( 1534 ), O juiz da

    beira ( 1525 ), Farsa de Ins Pereira ( 1523 ). Os autos, a princpio religiosos, que se

    tornaram crescentemente profanas, que o um de seus cultores foi o grande poeta

    pico Luiz de Cames, autor do Auto dos anfitries, do Alto de El Rei Seleuco e

    ainda de uma comdia romanesca, Filodemo. Outros seguidores do caminho aberto

    por Gil Vicente foram o poeta Francisco S de Miranda, autor das comdias Os

    estrangeiros e Os Vilhalpandos, Antnio Ferreira, autor de uma tragdia sobre Ins

    de Castro e das comdias Bristo e O cioso, isto , O ciumento, que Jorge Ferreira de

    Vasconcelos, autor de Eufrosina, Ilisipo e Aulegrafia, e Simo Machado, autor de O

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    cerco de Diu e A pastora Alfeia. Como ensina Luiz Francisco Rabelo, em sua histria

    do teatro portugus, sobreveio, em seguida, um perodo tormentoso para cena lusa,

    principalmente durante a dominao espanhola, quando se tornou maior a influncia

    do santo ofcio. S depois da restaurao do trono portugus veio a surgir um autor

    teatral digno de apreo, na pessoa de dom Francisco Manuel de Melo, autor da farsa

    O fidalgo aprendiz, com fortes influncias de Gil Vicente e com pontos de contato

    com O burgus fidalgo, de Molire, que foi representada alguns anos depois da obra

    portuguesa.

    O TEATRO INGLS DA RESTAURAO

    Depois do desaparecimento de um William Shakespeare e de seus mulos,

    Ben Johnson, Philip Massinger, de John Ford, Thomas Kid de Christopher Marlowe,

    e do perodo sombrio das ditaduras de Oliver Cromwell e de seu filho Richard,

    destitudo em 1659, comeou no teatro ingls um perodo conhecido como o da"

    restaurao", pois na verdade que se tratava da restaurao da beleza britnica, sob

    rei Charles II, da dinastia Stuart. Houve ento uma liberao to grande nessa

    ocasio que os papis femininos deixaram de ser feitos por homens, em travesti,

    passando a ser desempenhados por mulheres, algumas das quais ficaram famosas

    e tm seus nomes incorporados a histria do teatro ingls como Nell Gwynn, que se

    tornou favorita do rei, Mrs. Barry, Mrs. Bracegirdle e Mrs. Mountfort. Elas abriram o

    caminho para as glrias futuras de Sara Siddons, mais conhecida como Mrs.

    Siddons, que seria a primeira grande atriz trgica inglesa, notabilizando-se

    sobretudo pelo papel de Prcia, em O mercador de Veneza, de Shakespeare. O

    teatro ingls da" restaurao" caracterizou-se pela alegria, destacando-se entre os

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    autores dessa poca William Wycherly e outros, cujos comdias ainda so

    representadas. Mas surgiram tambm autores de dramas e tragdias, como o John

    Dryden, Thomas Shadwell, Thomas Otway e outros.

    O TEATRO NA FRANA AT A REVOLUO.

    Depois do desaparecimento de Molire, Corneille e Racine, o teatro francs

    passou, por longo tempo, a viver das glrias desses trs grandes autores, sem queaparecessem outras figuras com o talento criador necessrio, no para ultrapass-

    los, mas ao menos para igual-los. Para dar continuidade ao teatro francs foi criado

    uma companhia permanente, com nome de Comdie- Franaise, em 1680,11 anos

    aps a morte de Molire, mas ainda em vida de Corneille e Racine. Mas foi escassa

    a produo de autores com Jean de La Chapelle, Antoine de la Fosse, Prosper

    Jolyot de Crbillon, Florent Charton Dancourt e Alain-Ren Le Sage, que se

    notabilizaria mais como romancista. S dois autores, Charles Rivire Dufresny e

    Jean Franois Regnard, deram mais substancial contribuio Comdie- Franaise.

    Mas, durante o sculo XVIII, o teatro francs se animou e, com as peas de Voltaire,

    pseudnimo de Franois Marie Arouet, cuja primeira tragdia, dipo foi representada

    em 1718, quando o autor ainda tinha apenas 24 anos. Escreveu ele ainda as

    tragdias Brutus, Zara, Maom, Merope Semiramis e, ainda, algumas comdias,

    entre as quais Nanine. Outros surgiram, depois, destacando-se entre eles Pierre

    Charlet de Chablain de Marivaux, cujas comdias, leves e espirituosas, foram

    escritas para serem representadas pelos comediantes italianos, mas eventualmente

    foram encenadas tambm pela Comdie-Franaise. Duas delas se tornaram

    famosas: A dupla inconstncia e O jogo do amor e do azar. Mas a grande figura do

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    teatro francs, na ltima metade do sculo 18, foi, sem dvida, Pierre-Augustin

    Caron de Beaumarchais, cuja primeira pea, Eugnie, foi representada em 1767.

    Estava ele ainda sob forte influncia de Denis Diderot, que publicar suas peas O

    pai de famlia e O filho natural, mesmo sem terem sido representadas, o que s

    aconteceria dois anos depois, a primeira pea de Beaumarchais, como a segunda,

    Os dois amigos, teve moderado sucesso. Mas a seguinte, O barbeiro de Sevilha,

    obteve tal xito que o autor resolveu continu-la, com o ttulo de Um dia de louco,

    logo suplantado pelo de O casamento de Figaro. O que o realou a repercusso

    dessas peas, representadas respectivamente em 1775 e 1784, foi a crtica aos

    privilgios da aristocracia, quase s vsperas da revoluo francesa, que explodiu

    em 1793 e levou o rei Louis XVI a guilhotina.

    O TEATRO ALEMO DO SCULO XVIII

    O sculo XVIII constituiu um perodo de desenvolvimento para o teatro

    alemo. A primeira figura representativa foi Gotthold Ephraim Lessing, autor de

    algumas farsas que tiveram grande repercusso: A Senhorita Sara Sampson,

    representada em 1755, quando o autor tinha 26 anos, Minna Von Barnhelm,

    representada em 1767, Emlia Galotti, representada em 1772, e Nathan, o sbio, em

    1.779,2 anos antes da morte do autor. Outros autores surgiram no sculo XVIII. Os

    mais importantes dentre eles foram Johann Wolfgang Goethe de Friedrich Schiller,

    precursores do romantismo. Goethe e escreveu, entre outras peas, Goetz von

    Berlichingen ( em 1773 ), Ifignia em Turida ( em 1787 ), Edmont ( em 1789 ),

    Torquato Tasso (em 1790) e, finalmente, a pea que deu maior fama - Fausto,

    retomando magistralmente o tema j utilizado, em 1861, pelo ingls Christopher

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    Marlowe, em The Tragedy of Dr. Faustus Schiller, que era a de seis anos mais novo

    que Goethe que, escreveu Os salteadores (1781) don Carlos (1787), Intriga e amor

    (1784), A conjurao do Fieschi em Gnova (cuja representao foi proibida) ,

    Wallenstein (trilogia dramtica sobre a guerra dos trinta anos, terminada em 1799),

    Mara Stuart (1800) ,A donzela de Orleans (em 1802) , A noiva de Messina (1803) e

    Guilherme Tell (em 1804). Seriam transformadas em peras obras de Goethe

    (Fausto, com o mesmo ttulo, pelo compositor francs Charles Franois Gounod, e

    com o ttulo de Mefistfeles, pelo compositor italiano Arrigo Boito) e de Schiller

    (Guilherme Tell, por Gioacchino Rossini, Maria Stuart, por Gaetano Donizetti, Intriga

    e amor, por Giuseppe Verdi, com o ttulo mudado para Luisa Miller, don Carlos,

    tambm por Verdi, e a Donzela de Orles, Tchaikovsky). Esses dois grandes

    talentos, Goethe e Schiller, renovar a teatro alemo e abriram caminho a

    dramaturgos como Friedrich Hebbel , modernamente, a Gerhart Hauptmann (O

    laureado em 1912 com o prmio Nobel) e, finalmente, a Bertholt Brecht.

    O TEATRO ROMNTICO NA FRANA.

    O teatro romntico teve, na Frana, o seu apogeu. O ano de 1830

    considerado o de seu incio, com a representao, em Paris, do drama Hernani, de

    Victor Hugo. Representao to tumultuada que ficou sendo conhecido como" a

    batalha de Hernani". Victor Hugo foi o primeiro grande autor de dramas romnticos e

    na primeira metade do sculo 19. O entre suas obras teatrais esto ainda Maruon

    Delorme, proibido pela censura, Ruy Bls (em 1838), Lucrcia Borgia (em 1833),

    Maria Tudor ( em 1833 ), ngelo, tirano de Pdua ( muito representada no Brasil -

    1835 ) , Os Burgraves ( um fracasso - 1843 ) ele, finalmente, Le Roi s'amuse,

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    proibida aps a primeira representao, mas convertida em pera por Giuseppe

    Verdi, em 1851, com o ttulo de Rigoletto. E igualmente foram transformados em

    pera Lucrcia Borgia, por Gaetano Donizetti, e Hernani, tambm por Verdi. Outras

    figuras destacadas do teatro romntico formam os dois Alexandre Dumas, pai e filho,

    este com a famosa dama das camlias, convertida por Verdi, com o ttulo de La

    traviata, Alfred de Musset, Theodoro de Banville e outros. Surgiram depois autores

    cmicos importantes, como Eugene Scribe de Eugne Labiche, o famoso autor de O

    chapu de palha da Itlia, A viagem do sr Perrichon e dezenas de outras peas,

    curtas e longas, sempre revividas com sucesso. Labiche encontraria bons

    continuadores em Georges Courteline e Georges Feydeau, igualmente engraados

    e prolficos.

    O TEATRO ESCANDINAVO.

    Quando e onde menos se esperava - a Noruega, na segunda metade do

    sculo passado - surgiu uma fora renovadora do moderno teatro, na pessoa de

    Henrik Johan Ibsen, cuja primeira pea, a tragdia histrica Catilina, escrita em

    1850, era ainda uma simples promessa, como vrias outras obras de seu

    aprendizado como dramaturgo. Mas graas a isso o conseguiu emprego de

    subgerente do teatro de Cristinia em uma penso do governo, que lhe permitiu

    viajar pela Europa e conhecer os teatros de outros pases. Suas primeiras peas

    foram todas escritas inverso, inclusive Peer Gynt, a primeira de real sucesso. Foi j

    em prosa que escreveu A liga da juventude, uma stira contra a desonestidade e a

    insinceridade. Logo depois, no mesmo ano - o de 1869 - em acenava uma de suas

    obras-primas, O imperador e Galileu. de 1875 a 1877, e escreveu Os pilares da

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    sociedade, o estudo da vida pblica baseada mentira. Em seguida, Casa de boneca,

    em que o criticavam oposio mesquinha reservados mulheres nas l sociedade

    conjugal e, depois, Os espectros, Um inimigo do povo, O pato selvagem, A dama do

    mar, Hedda Gabler , Rosmerholm ,Solness, O construtor , Johan Gabriel Borkman ,

    Quando despertamos dentre os mortos e outras. A influncia de Ibsen, com seu

    teatro de idias e de crtica ao sistema social que, em influenciou profundamente

    sua poca, e o dramaturgo de linho e inglesa George Bernard Shaw foi um de seus

    mais importantes seguidores. O outro produto das influncias ibsenianas foi o sueco

    August Strindberg, autor de O pais, Srta. Julia, Camaradas, H crimes e crimes, a

    Dana da morte, A sonata fantstica e outras, alm de duas dezenas de dramas

    histricos. Como Ibsen, Strindberg e exerceu tambm forte influncia sobre o teatro

    europeu de seu tempo.

    O TEATRO RUSSO

    o teatro russo era consagrado especialmente a pera e ao bal, sendo as

    obras dramticas geralmente importadas de outros pases da Europa. Eram raros os

    dramaturgos e comedigrafos russos. E um dos primeiros a conquistar sucesso, no

    sculo passado, foi Mikaail Yurevich Lermontov, com a notvel pea Mascarada,

    escrita em 1835, mas s representada em 1852 numa verso resumida e

    integralmente s em 1864. Na comdia, destacou-se Alexandre Sergeivich

    Griboyedov, com A Desvantagem de Ser Inteligente, em 1833, e outras obras. Mas a

    primeira grande fora do teatro russo foi Nikolai Vasileivich Gogol, autor da famosa

    comdia satrica O Inspetor Geral, que data de 1838. Mais tarde surgiu o prolfico

    dramaturgo Alexandre Nikolaevich Ostrovsky, autor de Isto um Assunto de Famlia;

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    Ns Mesmos o Resolveremos, e muitas outras peas. Depois, despontaram as duas

    maiores foras do teatro russo do fim do sculo passado e do incio deste: Anton

    Chekhov e Mximo Gorki (pseudnimo de Alexei Maximovich Pyeshkov), o primeiro

    com As Trs Irms, A Gaivota, a Chcara das Cerejeiras etc., e o segundo com O

    Filistino, Yegor Bulichev, Moeda Falsa e A Estalagem Noturna, que ficou conhecida

    no mundo ocidental como Bas-Fond. O famoso romancista Leo Tolstoi tambm

    cultivou o teatro, com o drama O Poder das Trevas e vrias peas histricas.

    COMPANHIAS ITINERANTES

    Foram os italianos que criaram as companhias que iam de um a outro pas,

    dando representaes. Era constante a ida de companhias italianas Frana, antes

    da revoluo francesa, e o grande comedigrafo Cario Goldoni era um pensionista

    do rei da Frana, quando sobreveio a queda da monarquia em 1793. No sculo

    passado, esses priplos foram alargados e, assim, o Brasil foi visitado, durante o

    reinado de D. Pedro II, por numerosas companhias estrangeiras, como as de

    Adelaide Ristori, Ernesto Rossi, Tommaso Salvini, e Eleonora Duse, ainda usando o

    nome de Duse-Cecchi, todas italianas, e as francesas de Sarah Bernhardt e de

    Bnoit Coquelin. A visita dessas companhias influiu no s no gosto do pblico,

    como na renovao do repertrio das nossas companhias teatrais. Depois de

    proclamada a Repblica no Brasil, Sarah Bernhardt nos visitou por mais duas vezes

    e Eleonora Duse por mais uma. Giovanni Emmanuel e Ermete Zacconi fizeram

    grande sucesso no Brasil. Luigi Pirandello trouxe ao Teatro Municipal uma

    companhia liderada por Marta Abba. E as companhias francesas se sucederam,

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    desde a de Rjane a , ao ser inaugurado o Teatro Municipal, de Madeleine

    Renaud-Jean Louis Barrault.

    Assim pudemos acompanhar de perto o movimento teatral europeu,

    principalmente o da Frana, vendo e aplaudindo no s Racine, Corneille, Molire,

    Hugo e Dumas Filho mas ainda peas de Victorien Sardou, Edmond Restand, Henry

    Bataille, Henry Bernstein, Jules Romains, Georges Feydeau, Paul Claudel, Jacques

    Deval, Jean Giraoudoux, Marcel Pagnol, Marcel Achard, Jean-Paul Sartre, Albert

    Camus e outros. Atravs de companhias italianas, conhecemos desde o teatro

    cmico de Goldoni ao teatro trgico de Vittorio Alfieri, das peas romnticas de Paulo

    de Giacontti s peas de Gabriel d'Annunzio, Giuseppe Giacosa, Dario Niccodemi

    at o teatro mais moderno, de autores como Pirandello, Sem Benelli e outros.

    Visitaram-nos tambm incontveis companhias de pera, de bale e de mmica,

    desfilando pelos nossos teatros celebridades como Enrico Caruso, Nijinski, Anna

    Pavlova, Isadora Duncan, Serge Lifar, Marceal Marceau e outros, reconhecidos

    como os maiores em suas especialidades.

    O TEATRO DO ABSURDO

    O "teatro de absurdo" comea em 1896, com a farsa de Alfred Jarry, Ubu Roi,

    que causa grande escndalo, tanto por seus despropsitos, como por sua linguagem

    e intenes satricas. E continuada por Guillaume Apollinaire (As Mamas de Tirsias)

    e pelos surrealistas, vem a ter seu florescimento, na Frana, especialmente com

    Eugne lonesco (nascido na Romnia, mas naturalizado francs), com obras como A

    Lio, A Cantora Careca, Os Rinocerontes e outras, que valeram sua eleio para

    membro da Academia Francesa. Outra grande expresso desse teatro o irlands

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    Samuel Beckett, outro expatriado, que igualmente vive em Paris e escreve

    principalmente em francs, autor de uma obra-prima, Esperando Godot, e do

    monodrama A ltima Gravao de Krapp.

    TEATRO NORTE-AMERICANO

    O teatro norte-americano era, a princpio, importado da Inglaterra e de outros

    pases da Europa. S neste sculo apareceu o seu primeiro grande dramaturgo,Eugene O'Neill, que deixou uma srie de obras-primas, como Anna Christie,

    Imperador Jones, Electra Enlutada, O Macaco Peludo, Desejo Sob os Olmos

    (representada no Brasil como Desejo), Alm do Horizonte e muitas outras peas,

    que lhe valeram o Prmio Nobel. Depois dele surgiram figuras como Thornton

    Wilder, Sidney Howard, Tenessee Williams e Arthur Miller. Sobretudo os dois ltimos

    conquistaram renome universal, tendo a maioria de suas peas representada no

    Brasil.

    O TEATRO NO BRASIL

    O teatro no Brasil Colonial

    As representaes teatrais no Brasil, durante o perodo colonial, a princpio

    foram raras e se limitavam encenao de peas vindas de fora. No existia, no

    pas, a profisso teatral. O que havia, principalmente, eram formas primitivas de

    teatro popular, como as folias de Reis, ou reisados, mais conhecidas como Bumba-

    Meu-Boi, e velhos autos portugueses, como a Chegana dos Mouros, A Nau

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    Catarineta e outros. O primeiro teatro surgido no Rio de Janeiro, quando o Brasil j

    era um Vice-Reino, foi a Casa da pera, onde eram representadas tradues das

    peas de Pietro Metastsio, ainda em vida do famoso autor italiano. O navegador

    francs Louis Antoine de Bougainville, no livro que escreveu sobre sua viagem ao

    redor do mundo, disse ter ido a convite do vice-rei, Conde da Cunha, a um

    espetculo nesse teatro, onde fora assistir "obras-primas de Metastsio,

    representadas por uma companhia de mulatos, e ouvir esses trechos divinos dos

    grandes mestres da Itlia, executados por uma orquestra ento dirigida por um

    padre corcunda em vestes eclesisticas". As peas de Metastsio eram, em geral,

    musicadas. E, nos entreatos, o Padre Ventura, que dirigia a Casa da pera, no

    hesitava em subir ao palco para tocar ao violo fados e lundus. A Casa da pera era

    situada em rua do centro da cidade. Depois do seu incndio, em 1769, quando era

    representada a pea Os Encantos de Medeia, de Antnio Jos da Silva, o Judeu,

    essa via pblica ficou conhecida como a Rua do Fogo e hoje tem o nome de Rua

    dos Andradas.

    Nova Casa da pera surgiu no Rio de Janeiro no Largo do Carmo, atual

    Praa 15 de Novembro, e foi solenemente inaugurada pelo Vice-Rei D. Lus de

    Almeida Portugal. Ficou conhecida como a pera Nova e, ainda, como "o teatrinho

    do Manuel Lus". Seu construtor, o portugus Manuel Lus Ferreira, era um protegidodaquele vice-rei. Entre os artistas que nele atuaram destacavam-se Joaquim da

    Lapa, Joaquina Maria da Conceio da Lapa, e o inteligente mulato Jos Incio da

    Costa, mais conhecido como Capacho, tambm poeta e repentista. A Nova pera

    apresentava peas de Metastsio, de Antnio Jos e, ainda, de Molire e Goldoni.

    Em outros pontos do Brasil colonial o teatro tambm se propagava, e em Vila Rica

    de Ouro Preto, capital de Minas Gerais, eram encenadas peas de Caldern de la

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    Barca e de Zorrilla. Tambm em Diamantina, Sabar e outros centros, enriquecidos

    com a minerao de diamantes e de ouro, apareceram teatros em que eram

    representadas comdias como Os Encantos de Medeia e Anfitrio, de Antnio Jos,

    e outras, de autores espanhis, ou franceses. So Paulo, que j tivera antes uma

    pequena sala de espetculos, passou a ter um verdadeiro teatro nos fins do sculo

    XVIII, quando governava a Capitania o Conde de Sarzedas (D. Bernardo Jos de

    Lorena). Como a do Rio de Janeiro, chamava-se Casa da pera e dispunha de

    platias e camarotes, podendo acomodar 350 pessoas, e, como nos antigos

    corrales da Espanha, na parte reservada aos homens no podiam sentar-se

    mulheres. Os camarotes no tinham mobilirio, sendo as cadeiras levadas, a cada

    espetculo, pelos escravos dos ricos entusiastas da arte teatral. Esse teatro ficou de

    p por muito tempo, s tendo sido demolido no ano de 1870. Tambm nos fins do

    sculo XVIII foi construdo em So Paulo um teatro, com o nome de Casa da

    Comdia, o mesmo acontecendo em outras reas do Brasil, como a Bahia,

    Pernambuco, Maranho, Par etc. A Bahia, alis, se antecipara s demais

    capitanias, pois desde 1760 tinha o seu Teatro da Praia, provido de 28 camarotes e

    com um palanque para a acomodao de mulheres.

    O Teatro depois da Chegada de D. Joo

    Quando se deu a invaso da pennsula ibrica, pelas foras francesas, em

    1807, embarcou para o Brasil a famlia real portuguesa, tendo frente o Prncipe

    Regente D. Joo, que assumira o governo em 1792, por ter a Rainha D. Maria I, sua

    me, enlouquecido. Aquele acontecimento teria grandes repercusses na vida

    poltica, social e cultural do Brasil. E o teatro no podia deixar de beneficiar-se da

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    presena, no Rio de Janeiro, da aristocracia lusa e da vinda de diplomatas

    estrangeiros, acreditados, junto ao governo portugus, instalado no Brasil por mais

    de um decnio. Manuel Lus tentou adaptar seu teatrinho de modo a que

    correspondesse s necessidades de uma corte, mas em vo, pois se tratava de uma

    sala modestssima, o que dizer pouco, pois um visitante estrangeiro, John

    Luccock, que esteve no Brasil de 1808 a 1818, a descreveu como "uma casa

    miservel, apertada e sombria". O antigo barbeiro Fernando Jos de Almeida,

    protegido do Marqus de Aguiar, penltimo vice-rei do Brasil, conseguiu o patrocnio

    do Prncipe Regente para a construo de uma ampla casa de espetculos, o Real

    Teatro de So Joo, num terreno entre o Rocio (hoje Praa Tiradentes) e a Igreja da

    Lampadosa. Esse teatro, depois da independncia do Brasil, passaria a ser o Teatro

    de So Pedro. Vrias vezes foi reconstrudo, passando finalmente a ter o nome de

    Teatro Joo Caetano, que at hoje conserva.

    O Real Teatro de So Joo foi solenemente inaugurado a 12 de outubro de

    1813, com a presena do Prncipe Regente e de sua esposa, D. Carlota Joaquina,

    constando do programa o drama lrico O Juramento dos Nunes, de inspirao

    mitolgica, com libreto do fidalgo luso Dom Casto Fausto da Cmara Coutinho e

    msica de Bernardo Jos de Sousa e Queiroz, e com a pea de grande aparato

    cnico de O Combate do Vimieiro. O nico jornal existente no Brasil na poca, aGazeta do Rio de Janeiro, disse que o teatro fora "traado com muito gosto e

    construdo com magnificncia", elogiando "o aparato de formosas decoraes" e a

    "pompa do cenrio e vesturio". O elenco de Fernandinho - todos davam ao ex-

    barbeiro, de reduzida estatura, esse diminutivo afetuoso - era constitudo geralmente

    de artistas portugueses, sobressaindo entre eles o cmico Vtor Porfrio de Borja,

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    cuja especialidade era fazer papis femininos, disfarando-se de mulher para

    escapar a situaes difceis.

    No Real Teatro de So Joo foram representadas tragdias, dramas,

    comdias, farsas e, ainda, as primeiras peras ouvidas no Rio de Janeiro. O

    Prncipe Regente, que assumiu a coroa de Portugal por morte de sua me, a 20 de

    maro de 1816, e foi aclamado rei como D. Joo VI, apreciava imensamente a

    msica e o canto lrico, tendo feito vir de Npoles vrios homens com voz de

    soprano, ou castrati (castrados), como eram chamados, entre eles Tomasini,

    Fasciotti e Bartolozzi, todos de entonao muito feminina e maviosa. Antes de voltar

    para a Europa, em abril de 1821, D. Joo VI ouviu no Real Teatro de So Joo

    vrias peras, entre as quais Semiramide, La Cenerantola, Aureliano in Palmira,

    Tancredo e Otelo, todas de Rossini, seu autor preferido. O Otelo de Rossini

    antecipou o de Verdi, mas acabou suplantado pelo deste, composto 61 anos mais

    tarde. Ouviu tambm La Vestale, de Gasparo Spontini, e Camila, de Ferdinando

    Paer, compositores hoje relegados ao esquecimento.

    O Teatro no Primeiro Reinado

    Como seu pai, D. Joo VI, D. Pedro I tambm era um entusiasta da msica. O

    primeiro imperador do Brasil, alm disso, compunha peas musicais, uma delas o

    Hino da Independncia, com letra de Evaristo da Veiga, e tocava alguns

    instrumentos, como o cravo, a guitarra e a rabeca (nome outrora dado ao violino). D.

    Pedro l era uma presena constante nos teatros do Rio de Janeiro. O Real Teatro de

    So Joo, com o nome mudado para Imperial Teatro de So Pedro, ou

    simplesmente Teatro So Pedro, foi entregue, pela primeira vez, a uma companhia

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    brasileira, constituda predominantemente por artistas nacionais. D. Pedro I procurou

    proteg-la, antes mesmo de ter sido proclamado imperador, como se v de um

    bilhete seu, ao Ministro Jos Bonifcio, no qual diz que Vtor Porfrio de Borja e

    Paulo Rousquelas, ambos portugueses, queriam pr "fora do teatro a companhia

    nacional". Aconselhava o ministro "a preferir a nacional" e acrescentava: "Isto

    preciso, porque estrangeiros no devem bigodear os nacionais." A interveno de D.

    Pedro se justificava, por ter sido o teatro incorporado ao patrimnio nacional, depois

    da falncia de Fernandinho. Contudo, continuou a prevalecer, nos teatros do Rio de

    Janeiro, forte preponderncia portuguesa. S ao fim do Primeiro Reinado, isto , a

    partir de 1831, (durante o perodo regncia), essa influncia seria atenuada, graas

    ao aparecimento do primeiro grande ator e empresrio brasileiro, Joo Caetano dos

    Santos.

    A INFLUNCIA DE JOO CAETANO

    Nascido em 1808 no Rio de Janeiro, Joo Caetano dos Santos ainda na

    adolescncia comeou a se dedicar ao teatro, como amador, e em 1827 era um dos

    intrpretes centrais da pea O Carpinteiro da Livnia. Em seguida, faria parte, no Rio

    de Janeiro, da companhia do Teatro Constitucional Fluminense. Unindo-se jovem

    atriz e bailarina Esteia Sezefreda, com quem teria quatro filhos, acabou por se

    desligar daquele teatro, por estar desgostoso com os papis que lhe davam, e

    fundou uma companhia prpria, que estreou em Niteri, a 2 de dezembro de 1883,

    com a pea O Prncipe Amante da Liberdade, ou a Independncia da Esccia. Tinha

    ento 26 anos incompletos, no cursara nenhuma escola de teatro ou declamao,

    mas era dotado de prodigiosa intuio e de um raro talento dramtico. Por isso

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    mesmo, enquanto viveu, liderou o teatro brasileiro, mantendo elencos

    predominantemente nacionais, mas sem deixar de acolher os grandes valores

    portugueses radicados no Brasil, como Ludovina Soares da Costa, Gertrudes

    Anglica da Cunha e Gabriela da Cunha De-Vecchy.

    Joo Caetano criou vrias obras de Shakespeare, sempre atravs das

    tradues e adaptaes francesas interpretadas em Paris pelo grande ator francs

    Talma, de quem ansiava por se tornar um sucessor. Entre outras, fez O Mouro de

    Veneza (Otelo), O Mercador de Veneza (Shylock), Hamlet e Macbeth. Encantou-se

    com o teatro romntico de Alexandre Dumas, de quem representou Don Juan de

    Marana, Kean, ou Gnio e Desordem, A Torre de Nesle, Catarina Howard, Antony,

    Ricardo d'Arlington e outras. Representou tambm peas portuguesas, como Frei

    Lus de Sousa e Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett; A Nova Castro, de Joo

    Batista Gomes Jnior; e O Cativo de Fez, de Antnio Joaquim da Silva Abranches,

    que teve entre seus espectadores o jovem Joaquim Maria Machado de Assis, ento

    crtico teatral de O Espelho. Outras de suas criaes marcantes foram A

    Gargalhada, de Jacques Arago, e Os Nossos ntimos, de Victorien Sardou. Mas foi

    no papel central da pea Oscar, o Filho de Ossian, do francs Antoine Vincent

    Arnault, que ele foi imortalizado

    pelo escultor Chaves Pinheiro, no monumento inaugurado em frente do TeatroJoo Caetano, a 3 de maio de 1891.

    Autores Brasileiros

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    Um dos mritos de Joo Caetano foi o de ter suscitado o interesse de

    escritores brasileiros pelas letras dramticas. Em 1837, ele representara peas de

    um francs que se radicara no Brasil e abrasileirara seus prenomes, passando a

    assinar-se Lus Antnio Burgain. Essas peas foram A ltima Assemblia dos

    Condes Livres e Glria e Infortnio, ou A Morte de Cames. Mas os primeiros

    autores teatrais nascidos no Brasil foram, no drama. Domingos Jos Gonalves de

    Magalhes (futuro Visconde de Araguaia), que escreveu especialmente para Joo

    Caetano Antnio Jos, ou O Poeta e a Inquisio, sobre Antnio Jos da Silva, o

    Judeu, e Lus Carlos Martins Pena que escreveu a comdia O Juiz de Paz da Roa.

    Ambas foram representadas em 1838, a ltima sete meses depois da primeira, e no

    mesmo teatro - o de Joo Caetano. Com uma diferena, entretanto - a de que em

    Antnio Jos, ou O Poeta e a Inquisio o grande ator foi o protagonista, e em O

    Juiz de Paz da Roa no fez papel algum, por lhe faltar talento cmico. Alm de

    fazer para Joo Caetano tradues de peas de Shakespeare atravs das

    adaptaes francesas, Gonalves de Magalhes escreveu uma nova obra

    dramtica, intitulada Olgiato, representada no ano seguinte, ao passo que Martins

    Pena continuou a escrever incessantemente, legando ao nosso teatro uma srie de

    comdias e farsas que ainda hoje podem ser representadas com sucesso. Entreoutras, O Novio, A Famlia a Festa na Roa, Judas em Sbado de Aleluia, Quem

    Casa Quer Casa, Os Cimes de um Pedestre, Os Dois ou o Ingls Maquinista ele.

    Tentou tambm o drama, mas sem o mesmo resultado, e das peas de tal gnero

    somente uma chegou cena, Vitiza, ou o Nero de Espanha, que no alcanou xito

    sequer aproximado do que obteve com as peas cmicas.

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    Novos Autores Nacionais

    O prprio Joo Caetano procurou suscitar o aparecimento de novos autores

    nacionais, convocando-os atravs da imprensa.

    Foi para corresponder a esse apelo que Antnio Gonalves Teixeira e Sousa

    escreveu a tragdia Cornlia e o drama O Cavaleiro Teutnico ou a Freira de

    Marienburgo. E que Joaquim Norberto de Souza e Silva escreveu o drama Amador

    Bueno, ou A Fidelidade Paulistana. Joo Caetano fez representar esse drama, em

    sua companhia, mas sem tomar parte na representao. O mesmo tema fora

    versado por Francisco Adolfo de Vernhagen, em Amador Bueno, que no chegou a

    ser apresentado.

    Macedo e Alencar

    Com a morte de Martins Pena e o retraimento de Gonalves de Magalhes,

    absorvido primeiro pela poltica e, depois, pela diplomacia, a figura mais importante

    que vem ocupar o espao vago em nosso teatro Joaquim Manuel de Macedo, cuja

    popularidade comeara em 1844, com o romance A Moreninha, publicado quando o

    autor tinha 24 anos. Em 1849, ele escreve sua primeira pea, o drama O Cego,

    representado no Teatro de So Janurio. A esse drama, seguiram-se as peas

    cmicas O Fantasma Branco e O Primo da Califrnia, muito bem recebidas pelo

    pblico, ambas com partes cantadas, como era usual nas burletas. Por burletas

    (pequenas burlas) eram designadas as farsas, extravagantes, burlescas,

    caricaturais, entremeadas de canes, em geral saltitantes e brejeiras. Depois,

    Macedo escreveu os dramas Amor e Ptria e Lusbela; as comdias Luxo e Vaidade,

    O Novo Otelo, A Torre em Concurso, O Romance de uma Velha, Cincinato Quebra-

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    Loua, O Macaco da Vizinha e, ainda, as burletas Antonica da Silva e A Moreninha

    (por ele prprio adaptada cena de seu romance de estria). Outras de suas peas

    nunca chegaram cena: os dramas Vingana por Vingana e O Sacrifcio de Isaac,

    a comdia Uma Pupila Rica e a burleta Pai Cuco. Mdico, professor, poltico,

    romancista, cronista histrico e bigrafo, a atividade de Macedo no teatro foi

    intermitente, prolongando-se de 1849 a 1880, dois anos depois de sua morte. Oito

    anos depois de sua estria no teatro, surgia o primeiro e o mais importante de seus

    rivais, no gnero: Jos de Alencar. A carreira de Alencar no teatro comeou com uma

    comdia intitulada O Rio de Janeiro (Verso e Reverso), representada pela primeira

    vez a 28 de outubro de 1857, no Teatro Ginsio Dramtico. O autor, que pretendia

    fazer carreira na poltica do Imprio, apresentara esse trabalho sem sua assinatura,

    achando que no devia comprometer em aventuras literrias o seu nome ilustre (o

    pai era senador do Imprio e, por trs vezes, presidira a Provncia do Cear, alm

    de ter sido deputado s Cortes Portuguesas e Constituinte de 1823). Alencar era,

    na ocasio, o redator-gerente do jornal Dirio do Rio de Janeiro, onde, tambm

    anonimamente, publicara em folhetim o romance O Guarani. Mas o segredo no

    tardou a ser desvendado. Ainda no mesmo ano, Alencar escreveu e fez representar

    sua comdia de maior sucesso, O Demnio Familiar, e a pea O Crdito, que no

    teve sucesso e fora muito influenciada por uma das obras de Alexandre DumasFilho, La Question d'Argent. Escreveu ainda As Asas de Um Anjo, em que havia uma

    tentativa de incesto e causou certo escndalo, sendo temporariamente proibida, e

    sua continuao, A Expiao; o drama Me; a comdia O Que o Casamento?e,

    finalmente, o drama O Jesuta, este a pedido de Joo Caetano, que, no entanto, no

    ficou satisfeito e, por isso, se recusou a represent-lo. O Jesuta encerrou com uma

    nota melanclica a carreira do grande escritor no campo teatral. Guardado numa

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    gaveta, desde o ano de 1861, foi exumado quatorze anos mais tarde, para ser

    representado apenas trs vezes, para um pblico escasso e indiferente. Mas outra

    de suas obras, O Guarani, chegaria cena lrica com grande sucesso, ao ser

    adaptado e encenado no Scala de Milo, como pera, pelo grande compositor

    brasileiro Antnio Carlos Gomes.

    Outros Autores do Mesmo Perodo

    Na poca dominada por Macedo e Alencar, surgiram outros talentos

    dramticos, dignos de meno. Um deles foi o baiano Agrrio de Meneses, autor de

    vrios dramas, um dos quais Calabar, em versos, e que maior contribuio poderia

    ter dado ao nosso teatro se no houvesse morrido precocemente, em 1863, cinco

    meses antes de completar 30 anos. O mdico Pinheiro Guimares escreveu duas

    peas representadas com muito sucesso na dcada de 1860: Histria de Uma Moa

    Rica e Punio, alm de ter traduzido o drama de Schiller, A Donzela de Orles.

    Constantino do Amaral Tavares escreveu vrios dramas, entre os quais Um

    Casamento da poca e Gonzaga, alm de ter dramatizado as proezas do clebre

    bandido Lucas da Feira. Quintino Bocaiva, grande jornalista, na juventude se

    dedicou ao teatro, traduzindo peras (uma delas Os Diamantes da Coroa, de Auber)

    e escrevendo obras originais, entre essas Onflia, A Famlia e Os Mineiros da

    Desgraa. Sizenando Nabuco escreveu A Tnica de Nessus. Machado de Assis

    escreveu suas primeiras comdias, entre as quais Desencantos e O Caminho da

    Porta. E muitas outras.

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    Autores No Representados

    Entre os autores no representados, mas cuja obra foi publicada, alm de

    Francisco Adolfo de Vernhagen, j mencionado como autor de Amador Bueno, o

    poeta lvares de Azevedo deixou um drama, Macrio, e o poeta Gonalves Dias

    vrias peas, entre as quais Patkul, Beatriz, Cenci, Boabdil e Leonor de Mendona.

    Essas peas foram publicadas e uma delas, a ltima, mereceu cuidada encenao

    do Teatro Brasileiro de Comdia, em 1954, constituindo, para surpresa de muitos,

    um espetculo teatral de grande interesse dramtico.

    A pera Nacional

    Depois do casamento do jovem imperador Pedro II com a princesa napolitana

    Teresa Cristina, crescida numa corte onde o teatro lrico era cultivado com brilho, o

    Rio de Janeiro mais do que nunca passou a se entusiasmar pelas peras. Na

    primeira dcada do Segundo Reinado, chegaram a atuar simultaneamente no Rio de

    Janeiro duas companhias lricas, uma italiana, no Teatro So Pedro, e outra

    francesa, no Teatro de So Francisco, de construo mais recente. Era a poca em

    que Augusta Candiani rivalizava com Mme. Levasseur, Mme. Mge e outras

    celebridades da cena lrica. Tal efervescncia teve como conseqncia imediata a

    criao, no Rio de Janeiro, de um Conservatrio Nacional de Msica, dirigido por

    Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional brasileiro, e inaugurado a 13 de

    agosto de 1848, e a edificao do Teatro Lrico Provisrio. Um concurso convocou

    poetas brasileiros para que escrevessem libretos de peras. Pouca coisa resultou

    desses esforos. Mas o movimento se reanimou com a chegada, ao Brasil, de um

    fidalgo espanhol, D. Jos Zapata y Amat, compositor e professor de composio,

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    canto e piano. Criou ele uma entidade com o nome de pera Lrica Nacional. Vrios

    intelectuais brasileiros tiveram seus nomes ligados, ora traduzindo em portugus

    peras estrangeiras, ora preparando libretos para serem musicados no Brasil.

    Manuel Antnio de Almeida, o romancista das Memrias de um Sargento de Milcias,

    preparou o libreto de Os Dois Amores, inspirado num texto italiano de Francesco

    Maria Piave, o libretista favorito de Giuseppe Verdi, que por sua vez se inspirara no

    poema O Corsrio, do poeta ingls Byron. Quintino Bocaiva traduzira o libreto da

    pera O Trovador, de Verdi, de autoria do poeta italiano Salvatores Cammarano.

    Machado de Assis fizera o mesmo com As Bodas de Joaninha, de Lus Olona, e com

    Pipelet, libreto de Raffale Berizzone, com msica do maestro italiano Serafino

    Amedeo Ferrari. O mrito maior da pera Nacional foi o de ter revelado o talento do

    jovem compositor Antnio Carlos Gomes, com a pera A Noite no Castelo, com

    libreto de Antnio Jos Fernandes dos Reis, extrado do poema de igual ttulo do

    poeta luso Antnio Feliciano de Castilho, ento vivendo no Brasil. Tal foi o xito que

    Carlos Gomes, em seguida, comps nova pera, Joana de Flandres, com libreto de

    Salvador de Mendona e, graas a isso, obteve o patrocnio do imperador, que lhe

    concedeu a bolsa a fim de que fosse se aperfeioar na Itlia, onde permaneceu por

    mais de vinte anos. Na Itlia, alm de O Guarani, Carlos Gomes comporia Salvador

    Rosa, Fosca, Maria Tudor, Lo Schiavo (O Escravo) e Condor. Outros brasileiros quedeixaram peras: Henrique Alves de Mesquita, que comps O Vagabundo; Alberto

    Nepomuceno, Artemise e Abdul; Assis Republicano, O Bandeirante; Francisco

    Braga, Jupira; Heitor Villa-Lobos, Aglaia, Izhat, Zoe, Malazarte, A Menina das

    Nuvens, Yerma etc.; Assis Pacheco, Moema etc. Uma das mais recentes peras

    brasileiras foi O Sargento de Milcias, de Francisco Mignone, baseada no romance

    de Manuel Antnio de Almeida.

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    A Influncia de Furtado Coelho

    O espao que Joo Caetano deixou vago na cena brasileira foi ocupado, nos

    decnios de 1860 e 1870, pelo ator portugus Furtado Coelho, que desde 1858 se

    encontrava em nosso pas e que apresentou, em suas companhias, atrizes como

    Adelaide do Amaral, Eugenia Cmara (famosa por seus amores com o poeta Castro

    Alves), Ismnia dos Santos e, por fim, Lucinda Simes, com quem se casou. De

    todas, a nica brasileira com quem compartilhou suas glrias foi Ismnia dos

    Santos, que com ele aparecia no drama fantstico O Anjo da Meia-Noite, de

    Theodore Barrire e Lambert Thiboust, traduzido por Machado de Assis. Com ele e

    sua companhia, encontraram trabalho artistas que tinham iniciado suas carreiras ao

    lado de Joo Caetano, como Antnio Joaquim Areias, Francisco e Martinho Corra

    Vasques, e outros que surgiram depois da morte do grande ator trgico.

    Em 1861, o estudante de Direito Joaquim Jos de Frana Jnior, nascido no

    Rio de Janeiro em 1838, conseguia levar cena suas duas primeiras comdias,

    ambas sobre os costumes estudantis paulistanos: A Repblica Modelo (tomada a

    palavra repblica no sentido restrito de penso de estudantes) e Meia Hora de

    Cinismo (entendidas por cinismo as patuscadas, dos acadmicos de direito). A

    segunda fez tanto sucesso que, mais tarde, acabou por merecer a intercalao de

    um nmero musical, A Cano do Bomio, com letra de Castro Alves e msica do

    maestro Emlio do Lago. Depois, Frana Jnior escreveu uma srie de comdias de

    grande sucesso, ao mesmo tempo em que exercia funes pblicas e se impunha

    como folhetinista de jornais cariocas, entre os quais o Correio Mercantil e o antigo O

    Globo, dirigido por Quintino Bocaiva. Algumas dessas peas se perderam, ou so

    hoje muito raras, mas outras tm sobrevivido, sendo de quando em quando

    representadas. A terceira pea foi Tipos da Atualidade, em 1863. No ano seguinte,

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    ano em que ocorreu a famosa Questo Christie, que determinou o rompimento das

    relaes diplomticas entre o Brasil e a Inglaterra, escreveu a comdia Ingleses na

    Costa, levada cena em 1864. Seguiram-se O Defeito de Famlia, Direito por Linhas

    Tortas, Amor com Amor se Paga, O Tipo Brasileiro, A Lotao dos Bondes, Entrei

    para o Clube Jcome, Os Candidatos, Caiu o Ministrio!, Como se Fazia um

    Deputado, Maldita Parentela, O Beijo de Judas etc. Mas nenhuma de suas

    numerosas peas teve maior sucesso do que a comdia As Doutoras, na qual

    Frana Jnior satirizava as moas que, na dcada de 1880, comearam a ingressar

    nos cursos de medicina. A pea era reacionria, mas escrita com tanta graa que

    mesmo as mulheres empenhadas no progresso cultural e profissional feminino no

    podiam deixar de rir de suas cenas caricaturais. Frana Jnior pode ser considerado

    um autntico continuador de Martins Pena. E, do mesmo modo, Artur Azevedo pode

    ser considerado o continuador de ambos.

    Nascido no Maranho em 1855, ainda adolescente Artur Azevedo escrevera e

    fizera representar, em So Lus, sua primeira comdia, Amor Por Anexins, escrita

    especialmente para duas meninas-prodgios que excursionavam pelas provncias do

    norte, Carolina e Jlia Riosa. Em agosto de 1873, com apenas 18 anos, embarcava

    ele para o Rio de Janeiro e passava a trabalhar no jornal A Reforma. O teatro logo o

    atraiu e, em 1875, escreveu a comdia Uma Vspera de Reis na Bahia, seguindoindicaes do ator cmico Xisto Bahia, que a estreou em So Salvador, nesse ano,

    mas s em 1881 veio a ser conhecida no Rio de Janeiro. Sua popularidade

    realmente comeou com uma pardia da opereta

    francesa, La Fille de Mme Angot, que transformou em A Filha de Maria Angu,

    levada a cena a 21 de maro de 1876. Parodiou tambm a pera cmica francesa

    La Petite Marie, em A Casadinha de Fresco, transferindo a ao para o Rio Grande

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    do Sul. Mas no lhe faltavam idias originais, como demonstrou nas comdias A

    Almanjarra, Casa de Grafes (em colaborao com o irmo, Aluzio Azevedo), O

    Orculo, O Retrato a leo, A Jia, O Dote (sobre uma idia colhida numa crnica de

    Jlia Lopes de Almeida), Vida e Morte, O Badejo, O Genro de Muitas Sogras (em

    colaborao com Moreira Sampaio). Escreveu tambm burletas como A Capital

    Federal, ainda hoje representada com sucesso, e como O Mambembe (em

    colaborao com Jos Pizza), com xito no menor. Alm disso, foi Artur Azevedo,

    com seu colaborador Moreira Sampaio, um dos criadores do teatro de revista no

    Brasil.

    O Teatro de Revistas

    Esse teatro nasceu na Frana e o nome de revue, ou revista, lhe foi dado,

    porque se destinava, ao fim de cada ano, a passar em revista os acontecimentos

    dominantes nesse perodo, comentando-os em dilogos satricos, em cenas

    cmicas, em canes ou em alegorias apoteticas. A primeira revista brasileira foi

    dada no Teatro Ginsio, a 15 de janeiro de 1859, com o ttulo de As Surpresas do Sr.

    Jos da Piedade. O autor do texto era Justiniano Figueiredo Novais, um carioca de

    30 anos de idade. O agrado foi medocre e, depois de um interregno de 16 anos, o

    gnero foi retomado pelo maranhense Joaquim Serra, que, a 1. de janeiro de 1875,

    apresentou no Teatro Vaudevillea Revista do Ano de 1874, montada pela Companhia

    Martins, e no dia 5 do mesmo ms a revista Rei Morto, Rei Posto, que mereceu uma

    crtica elogiosa de Machado de Assis. A primeira era em prosa e a segunda em

    verso. Machado terminou sua crtica dizendo: "Vejam os nossos leitores ambas as

    peas e tero mais uma ocasio de saudar o nome de J. Serra." Trs anos depois,

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    Artur Azevedo entrava no campo da revista, com O Rio de Janeiro em 1877, escrita

    com o portugus Lino de Assuno e musicada por Gomes Cardim. O xito foi

    medocre. S seis anos mais tarde, ao tomar novo colaborador, o espirituoso Moreira

    Sampaio, Artur Azevedo passou a dominar o teatro de revista. Os dois escreveram

    sucessivamente, a partir de 1884, O Mandarim, Cocota, O Bilontra (termo aplicado a

    um trapaceiro que vendia falsos ttulos de nobreza), Carioca, Mercrio e O Homem.

    Com esta, terminou a feliz associao dos dois humoristas. Artur escreveu, em

    colaborao com Aluzio Azevedo, as revistas Fritzmacke A Repblica e, sozinho, O

    Tribofe, O Major, O Jaguno e vrias outras. De uma das cenas de O Tribofe,

    habilmente desdobrada e enriquecida com outros incidentes e personagens, ele fez

    a burleta A Capital Federal.

    Moreira Sampaio, sozinho, escreveu revistas de sucesso, como Dona

    Sebastiana, A Inana e O Rio Nu. Outros cultores do gnero foram Valentim

    Magalhes e Filinto de Almeida, com A Mulher-Homem e Abolindenrepcotchindeng

    - que foi representada a 18 de janeiro de 1889 e que juntava numa s palavra

    "abolio, repblica (em que j se falava), indenizao (pretendida pelos ex-

    senhores de escravos), Cotegipe (cujo gabinete cara no ano anterior), os mandarins

    que vieram tratar da colocao de imigrantes chineses e a chegada do meteorlito

    de Bendeg ao Rio de Janeiro"; Oscar Pederneiras, com Z Caipora, O Boulevardda Imprensa e O Bendeg (em colaborao com Figueiredo Coimbra); Augusto

    Fbregas, com Cobras e Lagartos e H Alguma Diferena? (em colaborao com o

    ator Bernardo Lisboa); Vicente Reis, com Cresa e Aparea, O Abacaxi (com Moreira

    Sampaio), O Diabo a Quatro (com Demtrio de Tiledo), O Esfolado (com Raul

    Pederneiras); Raul Pederneiras com Berliques e Berloques, O Babaquara, O Rio

    Civiliza-se, A ltima do Dudu, O Morro da Graa etc. Joo do Rio, J. Brito, Cardoso

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    de Menezes, Carlos Bittencourt, Freire Jnior, Lus Iglsias, Marques Porto, Afonso

    de Carvalho, Joracy Camargo, Ari Pavo, Bastos Tigre, Geysa Boscoli, Jardel

    Jrcolis, Henrique Pongetti e outros tambm cultivaram a revista, no seu perodo de

    maior prestgio, a primeira metade deste sculo.

    O Teatro de Comdia no Princpio do Sculo

    Novos valores surgiram em nosso teatro, no princpio do sculo, quando Artur

    Azevedo ainda vivia. Um deles foi Henrique Coelho Neto, que deixou uma dezena

    de obras teatrais, entre as quais a de maior sucesso a comdia Quebranto, muito-

    representada por Leopoldo Fres e por Procpio Ferreira. Joo do Rio (Paulo

    Barreto) foi outro desses autores, com A Bela Madame Vargas, Eva, ltima Noite,

    Que Pena Ser S Ladro! etc. Raul Pederneiras, que era antes de tudo um

    caricaturista e um revistgrafo, tambm escreveu comdias, uma das quais O Ch

    de Sabugueiro. Mas maior revelao de autor popular do princpio do sculo foi,

    certamente, Gasto Tojeiro, que compunha comdias e farsas com a mesma

    espontaneidade e graa de Artur Azevedo...E, por isso mesmo, tornou-se um dos

    autores favoritos de Leopoldo Fres. Wave

    A Companhia de Leopoldo Fres

    Esse ator de comdia encheu com o seu nome o teatro brasileiro na segunda

    e terceira dcadas deste sculo. Formado em Direito, comeara a representar em

    grupos de amadores e, quando lhe acenavam com um posto diplomtico em

    Londres, preferiu dedicar-se ao teatro, em Portugal, onde se apaixonara por uma

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    atriz e cantora, Dolores Rentini. Sua carreira se iniciou no teatro de opereta e, em

    1908, retornou ao Brasil, integrando uma companhia portuguesa, de que ela era a

    estrela. Quando a companhia estava em Recife, em 1911, Dolores Rentini morreu de

    febre amarela e Leopoldo Fres encerrou suas atividades na opereta. Algum tempo

    depois, fundava uma companhia de comdia, cuja primeira figura feminina era a atriz

    Luclia Peres. Interessado plos autores brasileiros, Leopoldo Fres representou

    com sucesso peas de Cludio de Souza (Eu Arranjo Tudo!, Flores de Sombra); de

    Casto Tojeiro (O Simptico Jeremias, O Jovem Presentino, Os Sonhos do Teodoro,

    O Modesto Filomeno etc.); Roberto Gomes (Inocncia, adaptada do romance do

    Visconde de Taunay); Martins Fontes (Partida Para Citera), Heitor Modesto (O

    Bezerro de Ouro), Renato Viana (Luciano, o Encantador e Gigol), Paulo Gonalves

    (As Mulheres No Querem Almas), Antnio Carlos da Fonseca, (O Prncipe dos

    Gatunos), Lus Peixoto, Tobias Moscoso e Herbert de Mendonza (Esquecer, comdia

    escrita a seis mos, e premiada pela Academia Brasileira de Letras), Abadie Faria

    Rosa (A Filha da Dona da Penso, Nossa Terra e Longe dos Olhos), Viriato Corra

    (Sol do Serto), Veiga Miranda ( Prmio de Robustez), Antnio Guimares,

    portugus radicado no Brasil (Querida Vov e No Tempo Antigo), Armando Gonzaga

    (A Descoberta da Amrica e O Tio Salvador), Joracy Camargo (A Menina dos Olhos)

    e Paulo de Magalhes (Um Corao de Mulher). Alm desses e outros autores,Leopoldo Fres encenava peas de sua prpria autoria, como Mimosa e O Outro

    Amor, e revivia grandes sucessos do passado, como O Demnio Familiar, de Jos

    de Alencar; As Doutoras, de Frana Jnior; O Dote, de Artur Azevedo; e O Genro de

    Muitas Sogras, de Artur Azevedo e Moreira Sampaio etc. Alm de animar os nossos

    autores teatrais, Leopoldo Fres lanou tambm vrias atrizes que iriam ter grande

    destaque na cena brasileira, como Amlia Capitani, Slvia Bertini e, muito

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    especialmente, Dulcina de Morais e Iracema de Alencar (esta nascida Ida Krebs, no

    Rio Grande do Sul).

    Procpio e os Autores de Seu Tempo

    Quando Leopoldo Fres se achava em pleno fastgio, um jovem ator cmico

    se revelou com tal fora que, em pouco, estava frente de sua prpria companhia,

    convertendo-se num dos atores favoritos das platias brasileiras. Esse ator era

    Procpio Ferreira, que sobressara de maneira excepcional no papel de Z

    Fogueteiro, na burleta de costumes regionais A Juriti, de Viriato Corra, e logo

    depois se dedicara a comdia, ingressando na companhia do Teatro Trianon, dirigida

    por Oduvaldo Viana e Viriato Corra, em associao com o empresrio Niccolino

    Viggiani. Procpio Ferreira teve em Viriato Corra, Oduvaldo Viana, Casto Tojeiro,

    Armando Gonzaga, Paulo de Magalhes e Joracy Camargo os principais autores do

    primeiro decnio de sua carreira. De Viriato, representou, entre outras comdias,

    Zuzu, Bombonzinho, Sanso e O Pobre-Diabo. De Oduvaldo, Manhs de Sol, A

    Casa do Tio Pedro, O Vendedor de Iluses.