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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 632 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo A revitalização da Rua Riachuelo: per- sonagens e história Pág. 4 e 5 Especial Perfil Campanha Doe Calor espera beneficiar mais de 70 mil famílias Kauana Bechtloff O mundo da contação de histórias en- canta crianças e adultos de várias gera- ções Pág. 4 e 5 Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011 A Campanha Doe Calor, par- ceria da Prefeitura de Curiti- ba com a FAS e o IPCC, está promovendo a arrecadação de agasalhos em mais 800 postos de distribuição autori- zados pela Prefeitura. A expectativa é que o progra- me beneficie mais de 70 mil famílias e 800 institutos so- ciais. Pág. 3 Coluna Calouros têm diversas dificul- dades para se ambientar no curso superior Pág. 7 Hipsters, uma tribo urbana e um modo de vida O CONUNE e a im- portância da mobili- zação estudantil Pág. 6 Vida Universitária Giulia Lacerda

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Jornal-laboratório diário do curso de jornalismo da Universidade Positivo

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011

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lona.up.com.br

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 632Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

A revitalização da Rua Riachuelo: per-sonagens e história

Pág. 4 e 5

Especial

Perfi l

Campanha Doe Calor espera beneficiar mais de 70 mil famílias

Kauana Bechtloff

O mundo da contação de histórias en-canta crianças e adultos de várias gera-ções

Pág. 4 e 5

Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Campanha Doe Calor, par-ceria da Prefeitura de Curiti-ba com a FAS e o IPCC, está promovendo a arrecadação de agasalhos em mais 800 postos de distribuição autori-zados pela Prefeitura.A expectativa é que o progra-me benefi cie mais de 70 mil famílias e 800 institutos so-ciais.

Pág. 3

Coluna

Calouros têm diversas difi cul-dades para se ambientar no curso superior

Pág. 7

Hipsters, uma tribo urbana e um modo de vida

O CONUNE e a im-portância da mobili-zação estudantilPág. 6

Vida Universitária

Giulia Lacerda

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011 2

Expediente

Editorial

Reitor José Pio Martins

Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto

Pró-Reitora de Graduação Marcia Sebastiani

Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Bruno Fernandes

Coordenação dos Cursos de Comunicação SocialAndré Tezza Consentino

Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira

Professores-orientadores Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima

Editores-chefes Daniel Zanella, Laura Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universi-dade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -

Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30

Fone: (41) 3317-3044.

Opinião

É hora de metalinguagem, sim!

Willian BressanEm tempos como de hoje em

que a televisão brasileira perde cada vez mais telespectadores, e os programas jornalísticos são as maiores vítimas dessa queda de audiência, me soa como um retrocesso a crítica da colega Giulia Lacerda publicada neste jornal no dia 18/05/2011 com relação ao quadro “Medida Cer-ta” do “Fantástico” da TV Globo.

O primeiro ponto a ser des-tacado é que o “Fantástico” não é um telejornal. Desde a sua concepção em 1973, na época em que Boni ainda era o vice-presidente de operações da TV Globo, e que Manoel Carlos (hoje autor de novelas) era o diretor geral do programa, o “Fantástico” surgiu como a primeira revista eletrônica. E, como tal, reúne entretenimento e jornalismo num só programa.

O segundo é que o “Medida Certa”, desde o início do proje-to e muito antes da escolha de Zeca e Renata, se propunha a acompanhar a rotina de duas pessoas acima do peso em bus-ca de reprogramar o corpo em 90 dias e da “medida certa”. A escolha dos dois apresentadores foi por acaso, mas extremamen-te acertada. Hoje, o quadro é o de maior sucesso do “Fantásti-co”, responsável pelos maiores picos de audiência, e já se co-gita uma segunda temporada.

O terceiro é que se fosse feito um quadro em que “informar como melhorar a saúde e o esti-lo de vida usando os apresenta-dores em um papel secundário” resultaria em uma atração cha-ta, sem atrativos. Eu mesmo não assistiria. O diferencial é justa-mente esse: Zeca e Renata são duas pessoas carismáticas, que

despertam o interesse do públi-co. Mais do que isso, incentiva-ram vários brasileiros a deixar a preguiça de lado e a entrar em uma dieta, praticar exercícios físicos, e a melhorar a saúde. Com esse resultado, pode-se dizer que o quadro atingiu dois objetivos: entreter e praticar a função social do jornalismo.

Hoje não basta apresentar as notícias ao telespectador. É necessário torná-las atrativas e apresentá-las em doses homeo-páticas. O “Medida Certa” faz isso. Levando em consideração os resultados obtidos até ago-ra, considero o quadro como um sucesso e um exemplo a ser seguido para a proposta de um novo jornalismo, mais di-nâmico, próximo do telespecta-dor, e por que não? Utilizando cada vez mais a metalinguagem que a televisão proporciona.

Os empecilhos para a PL 122

A PL 122, projeto de lei que garante aos homossexuais o reconhecimento legal de suas relações afetivas e criminali-za a discriminação aos gays, gerou comentários em vários segmentos da sociedade. Os principais oponentes da PL 122 são o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e as igrejas.

Bolsonaro, além do pre-conceito contra gays, também já declarou estar “se lixando” para a violência contra a mu-lher, para os indígenas, para os negros e até para o apresenta-dor global Luciano Huck (rea-lizador de projetos destinados à população carente).

O deputado defendeu abertamente a não aprovação da PL 122, criticou a inicia-tiva do MEC de distribuir o chamado”kit-gay” - que tem por meta combater a homo-

fobia - e ainda distribuiu cerca de 50 mil cartilhas “anti-gay” em escolas e nas ruas do Rio de Janeiro, cartilhas essas que pro-testam contra os direitos dos homossexuais.

A senadora do PSOL Mari-nor Brito declarou que Jair Bol-sonaro deve ser punido pela ati-tude preconceituosa. Bolsonaro acrescentou uma comparação infeliz: relacionou o homosse-xualismo à pedofilia. “Próximo passo vai ser a adoção de crian-ças (por casais homossexuais) e a legalização da pedofilia”. Em seguida afirmou que os gays não têm nada a oferecer pra sociedade, e está “se lixando” para a Frente Parlamentar de Combate à Homofobia. Para se defender, Bolsonaro diz ser vítima de preconceito por ser heterossexual.

Mais do que homofóbico, o deputado é totalmente anti-direitos humanos, defendendo

a ditadura militar e a tortura política. Sobre tortura e dita-dura militar, o deputado co-lou na porta de seu escritório um cartaz para as famílias dos desaparecidos da dita-dura militar: “Quem procura osso é cachorro”.

Bolsonaro, saindo do En-contro de Anistiados, disse: “Nós não devíamos só tor-turar, devíamos torturar e matar”. O deputado afirma ainda sentir saudades da di-tadura, “que foi um tempo glorioso para o Brasil, e que sente falta do respeito da fa-mília, da segurança e da or-dem pública”.

Respeito, deputado? Res-peito é não agredir, não dis-criminar, não insultar.

Respeito é aceitar as esco-lhas das pessoas e não recri-miná-las por isso.

Ter respeito, hoje, é ser anti-Bolsonaro.

Débora Mariotto

_______________________________________________________________________

Em recente visita a Bue-nos Aires, os estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Positivo puderam conferir mais de perto a envergadura da comunicação no país e en-tender um pouco mais a complexidade de um terri-tório merso em ideologias e ativo nas questões informa-tivas (e sociais).

Dentre os temas discu-tidos, naturalmente, esteve a questão do diploma para jornalistas. A legislação da profissão de Jornalismo na Argentina é semelhante as leis em vigor no Brasil: não há necessidade de di-plomação para trabalhar na área. Qualquer pessoa com conhecimento técnico sobre determinado assun-to pode ser contratada sem discriminação e é consi-derada efetivamente um jornalista. Detalhe: nunca houve exigência de diplo-ma de jornalista no país, ao contrário do Brasil.

Sabemos, de acordo com os embates rotineiros que estamos acostumados a ou-vir, que a questão da diplo-mação é polêmica e envolta

de extremidades.Apesar da não-exigência

de diplomas, especialistas em comunicação, como Washington Uranga, pro-fessor da Universidade de Buenos Aires, e Ariel Palacios, jornalista argen-tino, mestrado pelo jornal El País, da Espanha, são unânimes ao alegar que o mercado argentino natural-mente selecionou profissio-nais advindos das universi-dades por questão simples de maior capacitação e am-plitude de conhecimentos técnicos, sem a necessidade de algum protecionismo de mercado.

A visita que os estu-dantes fizeram ao Clarín - maior exemplo de conver-gência midiática na Amé-rica Latina - demonstra a importãncia do curso de Jornalismo em uma rea-lidade que cada vez mais exige profissionais capazes de exercer múltiplas fun-ções.

É um motivo um bom tanto convincente para acreditar na boa formação que uma uni-versidade pode proporcionar.

Uma boa leitura a todos.

VIDA UNIVERSITÁRIA

Campanha Doe Calor beneficiará mais de 280 mil pessoas

Flávia Jabur

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011 3

Campanha Doe Calor beneficiará mais de 280 mil pessoas

A Prefeitura de Curitiba, em parceria com a FAS e o IPCC, arrecará agasalhos até 30 de agosto

Paulo Zottino

O inverno chegou, e com ele a Campanha do Agasalho Doe Calor 2011, promovida pela Prefeitura de Curitiba em parceria com a Fun-dação de Ação Social (FAS) e o Instituto Pró Cidadania de Curitiba (IPCC). A campanha é a principal ferramenta de arrecadação de agasa-lhos da cidade e uma das

mais importantes do es-tado. A arrecadação ini-ciou no último dia 10 e deve seguir até o dia 30 de agosto, com grandes expectativas.

A campanha foi inau-gurada pelo prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, e pela presidente da FAS, Marry Ducci, na Regio-nal do Bairro Novo. Na ocasião, cada família presente recebeu dois cobertores de tamanho casal. Também foram beneficiadas 25 institui-ções sociais que atuam

na região. Elas recebe-ram mais de 6.600 peças de roupa e calçados para repassar às famílias ne-cessitadas. Durante os meses de junho e julho, estão previstos mais de 50 eventos para o repasse das doações arrecadas.

Para este ano, a esti-mativa é que mais de 280 mil pessoas sejam bene-ficiadas, sendo 70 mil fa-mílias e 800 instituições sociais. Mais de 800 pon-tos de arrecadação estão autorizados a participar da campanha.

No ano passado, a Campanha Doe Calor be-neficiou mais de 270 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social e 740 instituições de ca-

Mais de 800 postos de distribuição estão credenciados pela Prefeitura para receberem as doações

ridade. Sérgio Zacarias, assessor de Comunicação do IPCC e responsável pela logística da campa-nha, disse que a divul-gação está sendo funda-mental na arrecadação de agasalhos. “Estamos divulgando tudo em jor-nais, revistas, rádios. Contamos com o auxílio de cada um nesse pro-jeto”, comenta. No ano passado foram entregues mais de 100 mil coberto-res para famílias caren-tes.

Segundo Geysa Padi-lha, da comunicação da Fundação de Ação Social, a população pode par-ticipar doando roupas, cobertores, edredons e calçados em bom estado.

São mais de 800 parceiros da FAS na campanha Doe Calor. A doação pode ser feita em órgãos na pre-feitura ou em locais de comércio cadastrados, como supermercados e farmácias. Mais informa-ções sobre os locais de entrega de doações po-dem ser encontrados no site da prefeitura (www.curitiba.pr.gov.br) ou pelo telefone 156.

Hoje, a Campanha Doe calor promoverá o 4° evento de lançamento na Vila das Torres, as 14h 30, na Igreja Assembleia de Deus, na Rua Guabi-rotuba, 481. O evento é aberto ao público. Mais informações no endereço doecalor.com.br

Pamela Castilho

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011 4 4

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Ser-viços e Turismo (CNC), o porcentual de famílias endividadas aumen-tou de 62,6% em abril, para 64,2% em maio. O porcentual de famílias com contas ou dívidas atrasadas também aumentou em um mês, indo de 23,4% a 24,4%.

Foi levantado que 8,6% das famílias não terão condições de pagar suas contas ou dívidas. Além disso, 17,5% das famílias se consi-deram muito endividadas. Diferente de um mês atrás, quando o porcentual era de 15,7% e de maio de 2010, quando era 13,7%.

Famílias Endividadas Sem condições de pagar

ESPECIAL

Um encanto de contoGiulia Lacerda

Nossa vida é feita de his-tórias: do lugar onde vivemos, da

nossa família, das nossas des-cobertas. Histórias que nos contaram, que lemos nos li-vros, que nós contamos. His-tórias que nos fazem lembrar ou querer esquecer. Muitas delas são reais, outras são modificadas pelas diferen-tes interpretações de quem as conta e tantas outras fru-to da imaginação de quem as inventa. Nem sempre elas começam com “era uma vez” e os finais não são necessaria-mente “felizes para sempre”, mas são tão românticas, emo-cionantes, cheias de suspense quanto os contos de fada.

O contador de histórias leva ao ouvinte a sensação de como é bom ouvir, viver e

contar todas elas. Tarefa nem sempre fácil, exige preparação, mas muito gratificante. “O be-nefício direto para o contador é o de ser socialmente participa-tivo e agente de transformação do público”, avalia o coorde-nador do Núcleo de Relações Instituicionais da ong Casa do Contador de Histórias, Jan Schoenfelder.

Areni Pierin não é perso-nagem das histórias, mas faz interpretações a respeito do encanto que elas produzem naqueles que as escutam. A psicóloga acredita que está tudo ligado aos sentimentos e sentidos que cada um adquire ainda quando está sendo ge-rado. “Por isto que as vezes, diante de uma música ou uma história contada, sentimos algo que não temos palavras para explicar. São lembranças de sensações que ficaram em nos-so inconsciente e que vem à tona depois de algum estímulo externo”, comenta.

Quem conta histórias parece concordar com a opinião da psicóloga, pois garante que é preciso primeiro se sensibili-zar para conseguir passar sen-timento a quem ouve. “É pre-ciso contar por um movimento que vem de dentro. Aquela coisa de sentir um prazer, uma alegria, de partilhar e de ter uma história boa e contar pra alguém”, acredita Rosân-gela Rauen, contadora profis-sional da Fundação Cultural de Curitiba. Cléo Busatto, em seu livro Contar e Encantar, incentiva o contador a acredi-tar na história, porque, para ela, somente assim o público também acreditará.

Iniciativas

A ong Casa do Contador de Histórias faz parceria com di-versas instituições, todas sem fins lucrativos, que recebem um grupo de contadores toda semana ou a cada quinze dias.

O público atendido é frágil: está em hospi-tais, asilos ou em abri-gos buscando proteção social. Para cada tipo de público, um tipo de história diferente. Jan Schoenfelder exempli-fica: “Histórias de enco-rajamento e esperança para pessoas em trata-mento de saúde, contos de fada clássicos para adolescentes presas re-cuperarem a auto-esti-ma e voltarem a sonhar, e assim por diante”.

Para ouvir histórias não exis-te idade e a ong prova isso. O coordenador considera o pú-blico adulto muitas vezes até mais atento que o infantil. “Os adultos adoram. Participam, agradecem, ficam com os olhi-nhos vidrados durante a con-tação”.

Os resultados do trabalho são percebidos ainda quando a história está sendo narrada. As pessoas mudam, come-çam relutantes, passam a se identificar com as tramas dos personagens e terminam com olhos molhados. As rodas de contação da Casa do Conta-dor de Histórias modificam semblantes tensos e tristes em esperançosos e sonhadores. “A transformação é visível”, alegra-se Jan.

A Fundação Cultural de Curitiba também tem um projeto de contação de histó-ria sendo desenvolvido nas Casas da Leitura. A iniciativa é gratuita e atende o público infantil com maior frequência do que outros. Cada espaço tem uma cota de três a quatro contações a cumprir por mês. Se todas cumprirem seus nú-meros, são mais de 40 oportu-nidades para crianças, adoles-centes e adultos ouvirem boas histórias durante o mês. A gerente das Casas da Leitura, Patrícia Wohlke, vê no proje-

“Se hoje crianças ainda adoram escutar muitas vezes as mesmas es-

tórias ou fábulas, penso que aí tem um fenômeno

importante, uma infor-mação mais do que vali-

osa, e que é um acon-tecimento muito maior que um simples hábito

Cassiana Castro, psicóloga

Voluntários da Casa do Contador de Histórias em apresentação no Teatro Regina Vogue.

Foto: Arquivo Pessoal

to uma característica especial: a formação de leitores de li-teratura. “Todas as histórias contadas estão disponíveis em livros, que podem ser empres-tados nos espaços”, esclarece.

Mesmo sendo um público diferente do atendido pela Casa do Contador de Histó-rias, quem assiste as conta-ções oferecidas nas Casas da Leitura apresenta igualmente mudanças de comportamento. A criançada chega agitada e quer mais falar - sobre si mes-mos ou uns com os outros - do que ouvir.

-Meu nome é Julia.-O meu é Felipe.

E assim continuaram até que uma voz adulta interrompeu. A voz era feminina, sensível, em baixo tom e por pouco não se misturou as das crianças. Quem se apresentou era Dona Baratinha. Chamou a atenção logo pelo nome. Rapidamente as vozes foram silenciadas e os pequenos corpos, que antes sentavam no chão em postura de índio, se inclinaram para frente.

Como se tentassem ficar mais próximos da história, os ouvintes começaram a desen-rolar as pernas e se apoiarem nos joelhos. Enquanto isso, Dona

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011

Segundo a pesquisa, o aumento do porcentual das famílias endividadas teve destaque em famílias com ganhos maiores do que dez salários mínimos, indo de 52,9% para 57,7%, de abril para maio; assim como também houve aumento de famílias com contas ou dívidas atrasadas para menor e maior faixa de renda: 25,2% a 26,1% e 13,3% a 14,4%, respectivamente.

Os maiores endividadosQuando questionadas sobre os fatores que levam às dívidas, 71% famílias apon-ta o cartão de crédito como o principal. Logo depois vêm os carnês, com 20,7%, e o crédito pessoal, com 12,4%. Também foi notado um aumento nas porcenta-gens anuais. A parcela mais ou menos endividada passou de 21,3% a 22,7%; enquanto a pouco endividada, de 23,7% a 23,9%.

Fatores

5Baratinha seguia procurando um namorado. Um dos preten-dentes era Seu Ratão, que não causou boa impressão na plateia.

-Ui! - enojou-se um pequenino lá no fundão.

Perto do fim do conto, os olhi-nhos estavam arregalados e as mãozinhas mexendo ansiosas em cima dos joelhos. O final não foi dos mais felizes, mas se Dona Baratinha estivesse mesmo ali sairia no mínimo lisonjeada. Uma pergunta foi feita para en-cerrar a história e a resposta veio rápida e decidida:

-Eu quero namorar a Dona Ba-ratinha.

E todo mundo riu.

A arte de ouvir

Se uma árvore cai no meio de

Rosângela. Junção de dois no-mes: Rosa e Ângela. O segundo contém em si só o significado do nome todo: mensageira. Depois que descobriu isso nunca mais ela quis trocar seu nome por Susan, nem por nenhum outro. “Minha mãe, sem querer, me deu o nome certo. Sou mensageira de histó-rias”. Rosângela Rauen é o nome dela. Conta histórias profissio-nalmente e também por prazer. Não usa fantasias e nem precisa de maquiagem, pois a segurança com que as palavras saem de sua boca a faz parecer testemunha ocular do que conta. Isso basta para manter atentos olhos e ou-vidos dos seus espectadores, an-siosos para o desenrolar dos fatos a cada pausa na musicalidade de sua voz. Mesmo quando não está contando histórias, o simples ato de falar de Rosângela soa como uma narrativa. Uma narrativa com direito a trilha sonora. Tal-vez por isso goste tanto de incluir músicas durante as histórias con-tadas.

Só que nem sempre foi assim. No início a hoje contadora ape-nas ouvia, curiosa, as histórias que narrava sua mãe.

-Minha mãe me deu com o leite dela as histórias.

Entre elas, a que mais marcou a mensageira ainda menina foi “O isqueiro mágico”. E era essa a história que mais tinha vonta-de de contar quando se percebeu trabalhando profissionalmente na área. Lembrava-se vagamen-

te dos três cachorros de olhos grandes, mas o enredo já não lhe vinha mais a mente. A melhor e única fonte de busca seria sua mãe, mas estava tão velhinha que não sabia mais contar e nem dizer de onde tinha tirado.

- E um dia a história me encon-trou.

Quando disse isso, os olhos de Rosângela brilharam, os cantos da boca se curvaram e em silên-cio parou por um curto instante. Pude enxergar naquele momento sua mente viajar longe, buscando reviver a cena. Depois disso, uma explosão de voz:

- Isso eu acho o máximo! Eu queria tanto essa história.

Quem apareceu, sem querer, com o livro contendo contos do Andersen, autor da obra tão pro-curada, foi Marilda. Ela traba-lhava na casa de Rosângela duas vezes na semana e conhecia bem a paixão da contadora por histó-rias. Um dia chegou com uma novidade: um livro que havia sido jogado fora por uma de suas “patroas”. Dentro dele havia, em meio a tantas outras, a história do isqueiro mágico. Hoje, Rosângela anima-se com a ideia de fascinar muitos, como antes ela se fascina-va ao ouvir sua mãe.

- Sou apaixonada pelo que faço. Conto com amor.

Percebi, afinal, que seu primei-ro nome também a identifica. Rosângela além de mensagei-ra, também encanta como uma Rosa.

Uma vida, muitas histórias

uma floresta e não há ninguém por perto para ouvir, ela faz ba-rulho?

Com a evolução tecnológi-ca muito se ganha e muito se perde. A sociedade tem acesso a uma gama cada vez maior e mais diversificada de tudo e qualquer coisa. Porém, com a correria do dia a dia, não dis-põe de tempo para apreender tudo isso. Psicóloga e amante de cultura, Cassiana Castro ob-serva uma perda da caracterís-tica contemplativa na relação dos indivíduos com as coisas. “O ouvido busca o volume e a quantidade, perde em qua-lidade, apuro, tons, semi-tons. O tempo da fala e da escrita se estreita e enriquece em signos que muitas vezes abre abismos

As histórias não existem se ninguém contá-las nem

escrevê-las, daí a importância dos livros no gosto e interes-se das pessoas por elas. Uma pesquisa feita entre os anos de 2007 e 2009 pela Fundação Getúlio Vargas revelou, curio-samente, que os paranaenses frequentam menos as Biblio-tecas Públicas Municipais por lazer do que a média nacional. Apenas 7% parecem enxergar essa atividade como prazerosa. No entanto, o terceiro assunto mais buscado nas bibliotecas analisadas é literatura.

Na tentativa de transformar essa percepção e ainda incen-tivar a escrita, a Fundação Cultural de Curitiba promove pelo quinto ano consecutivo

Oficinas de Análise e Criação Literária. São, ao todo, cinco oportunidades para os públi-cos adulto e infanto-juvenil de refletir sobre os processos criativos da produção literária. “O objetivo dessa iniciativa é a formação de novos escritores no cenário paranaense”, diz a secretária de Cursos e Oficinas da Coordenação de Literatura, Jussara Charello.

A procura pelos cursos foi grande e quem se inscreveu percebe neles a oportunidade de desenvolver suas habili-dades e, quem sabe, se tornar um grande escritor. “Eu quero aprender mais sobre literatu-ra e, principalmente, colocar o conhecimento em prática, es-crevendo”, afirma a estudante,

Suelen Lorianny.A esperança é de que, ao final

das oficinas, surjam nomes que farão parte do cenário parana-ense de literatura. Quem sabe?

Paraná nas entrelinhas

entre gerações pouco habitua-das a novas formas de comuni-cação”, discorre.

Mas, mesmo no mundo tec-nológico de hoje, é possível encontrar qualidade nas expe-riências do ver e ouvir. Para Cassiana, basta haver disposi-ção para viver esses eventos de maneira plena e rica. “Se hoje crianças ainda adoram escutar muitas vezes as mesmas estó-rias ou fábulas, penso que aí tem um fenômeno importante, uma informação mais do que valiosa, e que é um aconteci-mento muito maior que um simples hábito”.

Quem mantém olhos e ouvi-dos contemplativos,transforma atividades corriqueiras em ex-periências únicas.

Benefícios da contação de histórias para ouvintes e contadores

- Estimula a criatividade

- Melhora o desenvolvimento da linguagem

- Desenvolve a percepção de ritmo

- Incentiva a leitura

- Aumenta o vocabulário

- Enriquece o imaginário

- Desperta curiosidade

Era uma vez...

Oficinas literárias propóem uma nova percepção de literatura através da escrita

Foto: Giulia Lacerda

Foto: Giulia Lacerda

Depois da contação, Rosângela mostra os livros que originaram as histórias

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mais que roupas, um

jeito de serQuem quer movimento

estudantil,

faz!Eles não vestem o que você veste. Eles não escutam as mú-sicas que você escuta. Eles pre-ferem cenoura a McDonalds. Você sabe de quem eu estou falando? Se por algum momen-to passou pela sua cabeça o ter-mo Hipster, você acertou! Mas se ao ler isso aqui, você se per-guntou: - Hips... o quê? Bom, então esse grupo de pessoas tem desempenhado seu papel.

O termo Hipster surgiu na dé-cada de 40 como um gíria, mas só se tornou conhecido a partir dos anos 90 e 2000 para designar um grupo de jovens que estavam na última etapa da adolescência, moravam nos grandes centros ur-banos, que recusavam o comer-cial e o mainstream e que se inte-ressam pela cultura alternativa, tanto na moda, nas músicas e nos filmes independentes. Eles com-binam elementos da geração Bea-tnik, Punk, Hippie e até Grunge.

Por causa desse extremismo com relação a tudo, muitas vezes os Hipsters são considerados me-tidos e seletistas, mas o que deve ser considerado aqui é que o ter-mo envolve muito mais do que uma questão de estilo, envolve um modo de vida. Como dito an-teriormente, os Hipsters recusam o comercial, mas o que isso sig-nifica? Nesse aspecto, ter um co-nhecimento musical é essencial para essa tribo, pois tudo o que é popular, tudo o que a maioria da população escuta nas rádios está excluído do seu repertório. O underground alternativo sem-pre é a opção para eles (bandas de garagem, música indepen-dente, música experimental etc.).

Da música alternativa, os mais ouvidos são: The Animal Collective, Grizzly Bear, Belle &

Há duas semanas acon-teceu uma mobilização es-tudantil na Universidade Positivo. A eleição de chapa para delegados que irão re-presentar os estudantes da UP no Congresso Nacional da União Nacional dos Estu-dantes (CONUNE) em julho causou movimentação nos corredores de todos os blo-cos. Duas chapas estavam concorrendo: Transformar o sonho em realidade e Oxi-gênio. As duas com propos-tas válidas e interessantes.

Para a eleição ser vali-dade seria necessário um quórum de 500 votos e, com muita campanha, 541 estu-dantes assinalaram um qua-dradinho. Por ser um pro-cesso eleitoral proporcional, a chapa vencedora é com-posta por 4 delegados Oxigê-nio e 5 delegados Transfor-mar o sonho em realidade.

Esse foi um dia emocio-nante. Não, não porque a chapa na qual eu participa-va obteve mais votos, mas sim porque eu vi estudantes ali debatendo, conversando, questionando. Vi estudantes fora da sala de aula cumprin-do parte do seu papel de es-tudante. Talvez a empolga-ção não dure muito tempo, mas tenho certeza que um movimento aconteceu ali.

No meio de tanta gente alvoroçada e ansiosa para o final da votação, eu ouvi uma frase: “quero fazer mo-vimento estudantil aqui den-

Tribos Urbanas Movimento Estudantil

Camila Rehbein Suelen Lorianny

6

@camilarehbein

Cursa o 3º período da manhã e publica seus textos no endereço http://monapety.tumblr.com/

@sulorianny

Cursa o 5º período da noite e publica seus textos no endereço http://www.revolucaonopalco.wordpress.com

Sebastian, Jens Lekman, Neutral Milk Hotel, Klaxons, Cut Copy, Margot & The Nuclear So and Sos e ainda King Khan and The Shri-nes, mas se alguns deles já estão na lista dos mais ouvidos por aí, pode ter certeza que esta lista já está ve-lha e eles já partiram para outra.

Um fator que é de certa forma importante para eles é a forma de se vestir. As roupas identificam os Hispsters na medida em que elas são um protesto à sociedade. Como assim? É que as roupas são compradas sempre no menor pre-ço, ou seja, são adquiridas em bre-chós, lojas de segunda mão, evi-tando sempre as lojas populares. Sendo um pouco mais específica: as calças escolhidas sempre são as skinny fit; usam camisas pólo, de flanela xadrez, hoodies (casa-cos desportivos), cardigans, gor-ros, chapéus e uma infinidade de outros acessórios e composições.

Como se percebe, eles podem ser confundidos com os mais di-versos grupinhos que circulam pela cidade, mas não podemos nos enganar. Em alguns casos, o que deve ser reparado não é a roupa que ele está usando, mas ver se por detrás disso existe algo mais. No caso dos Hipstes é um modo de vida e não apenas um jeito de se vestir. A alimentação também conta muito, pois a inclinação deles é para o vegetarianismo (ovo-lacto ou vegan), contem-plando a agricultura biológica.

Então fica a dica: algumas vezes é muito fácil começar a se vestir de um jeito ou de outro, mas difícil mesmo é transformar esse seu estilo em um modo de vida. É bem aquela pergunta básica: até que ponto você está disposto a chegar para ser que você é?

tro, quero sacudir essa ga-lera”, na hora pensei “sabia que eu não estava sozinha!”

Acredito que muita coi-sa pode mudar. Sei que na Universidade Positi-vo existe bastante gente com potencial e vontade de se encontrar com a mu-dança. Participar de um movimento, ou melhor, se movimentar não quer dizer que a faculdade é ruim ou não gostamos de estar aqui, mas quer di-zer que pode melhorar. Não só aqui dentro, mas o nosso entorno também. Quer dizer que nós, estu-dantes, temos voz e que-remos ser ouvidos. Afinal, toda a estrutura só existe porque nós estamos aqui.

Para o CONUNE va-mos levar propostas que venham dos estudantes. Vamos mostrar nacional-mente que também temos nossas demandas e que elas precisam estar visí-veis à união nacional dos estudantes, pois, como já disse, a UNE também só existe porque nós esta-mos aqui. Se quisermos que algo mude, precisa-mos nos mexer para mu-dar. Quem quer fazer diferença não fica para-do. O CONUNE é uma oportunidade para agre-gar conhecimento sobre o movimento estudantil e conhecer muita gente. É só se inscrever e ir. Vamos?

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011 7

É notório que após a aprovação no vestibular, os alunos que entram na universidade passam por uma fase de grandes mu-danças em suas vidas. Al-gumas dessas trasnforma-ções estão relacionadas, principalmente, à recep-ção feita pelos veteranos, ao trote, à mudança de horários, à distância para chegar até faculdade e muitos outros fatores que acabam contribuindo ou até mesmo prejudicando a adaptação do estudante a realidade da universidade.

O receio a essa adapta-ção, muitas vezes, começa no terceiro ano do ensino médio, pois os alunos não sabem como será quando entrarem na universidade. Muitos reagem de forma tranquila, acreditam que irão se adaptar de forma fácil, mas outros têm medo de como pode ser, devido à separação dos amigos do ensino médio, ao novo am-biente onde irão estudar, ao trote, e até mesmo por acharem que vai ser difí-cil fazer novas amizades.

Maria Fernanda Ro-mero, aluna do terceiro ano do ensino médio do Colégio Positivo, diz que está ansiosa para entrar na faculdade, mas que tem preocupação com o ambiente universitário. “Quero entrar logo, mas tenho medo de como será quando eu entrar, pois, além de ser um lugar to-talmente diferente, eu vou me separar de todas as minhas amigas, não co-nheço quase ninguém que vai estudar lá, só espero

que o trote seja tranqui-lo, ser bem recepcionada e me adaptar facilmente”.

O psicólogo acaba sen-do muito procurado nes-sa fase para que oriente e auxilie os alunos que têm dificuldade de adaptação ao novo ambiente. No final desse processo de orienta-ção, a maioria dos pacien-tes alegam que o acompa-nhamento do psicólogo ajudou muito e que agora conseguem ver que a uni-versidade é um lugar como os outros e que não é difícil se adaptar a essa mudança. Apesar disso, existem ca-sos de alunos que, mesmo com o acompanhamento psicológico, não conse-guem se adaptar e acabam trancando sua matricula.

A psicóloga e professora de psicologia Danusia Kon-fidera diz que atende mui-tas pessoas que estão pas-sando por esse processo de adaptação na faculdade. “A dificuldade desses alunos para se adaptarem é muito grande e nítida. Isso ocorre principalmente por ficarem longe dos amigos e terem dificuldade para fazer no-vas amizades. Na maioria dos casos, isso acontece quando a pessoa é tímida ou vem de outra cidade. O trote é outro fator que gera muita preocupação entre esses alunos, pois acham que vão ser obrigados a participar e que terão que fazer o que não querem”.

Fabiola Oliveira é um exemplo que aluna que não teve sucesso em sua adaptação na universi-dade. Ela nasceu em São Paulo e veio em 2010 para Curitiba, mas não con-seguiu se adaptar e por isso trancou a faculdade.

“O fato de eu não co-nhecer ninguém em Curiti-ba e estar longe das minhas

amigas foi um dos princi-pais fatores que me fizeram estranhar a universidade. Achei que ia ter facilida-de em fazer novos amigos, mas não foi isso que acon-teceu e, além disso, fui obri-gada a participar do trote sendo que eu não queria.”

Nem todos os alunos reagem de forma negativa a essa adaptação. Eduar-da Ceschin estudante do primeiro período de Gas-tronomia do Centro Tec-nológico da Universidade Positivo, diz que foi bem recepcionada pelos seus co-legas de sala e veteranos, que seu trote foi tranquilo e que, mesmo estando lon-ge das amigas, não foi difí-cil se adaptar. “Está sendo fácil me acostumar com a

faculdade mesmo estando longe das minhas amigas. Eu esperava que durante o trote os veteranos fizessem eu beber mas foi diferente não fui obrigada a nada.Eu gosto daqui , já fiz muitas amizades e fui muito bem recepcionada. A única coi-sa que atrapalha um pouco é a distância para chegar à faculdade, principalmen-te porque utilizo o ônibus como meio de transporte.’’

Em muitas universi-dades, os cursos fazem trotes solidários, e até mesmo fazem uma confra-ternização para alunos e veteranos do curso se co-nhecerem de uma maneira saudável e sem violência.

Os chamados de vetera-nos dizem que se adaptar à

VIDA UNIVERSITÁRIA

Calouros têm dificuldade de adaptação na universidade

Ingresso à vida acadêmica traz ao estudante uma série de preocupaçõesDiego Henrique da Silva

universidade é fácil e que a maioria das pessoas tem consciência e sabem que o trote não deve ser pra-ticado de forma violenta.

A aluna do tercei-ro período de jornalismo da Universidade Positivo Ana Flávia diz que é mui-to bom estudar em uma universidade, pois você conhece novas pessoas, e é um lugar totalmente di-ferente de colégio, e que mesmo que a distância da faculdade até sua casa seja grande , vale a pena.

A univers idade é uma nova etapa, um processo que demar-ca a passagem da fase adolescente para a fase adulta e o caminho para a vida prof iss ional .

Flávia Jabur

“O trote é uma das principais preocupações dos estudantes que entram na universidade”, alega a psicóloga Danusia Konfidera

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Curitiba, quinta-feira, 19 de maio de 2011

PERFIL 8

“... Nós pensamos sempre na rua. Desde os mais tenros anos ela re-sume para o homem todos os ideais, os mais confu-sos, os mais antagônicos, os mais estranhos, desde a noção de liberdade e de difamação — ideias gerais — até a aspiração de dinheiro, de alegria e de amor, ideias particu-lares. Instintivamente, quando a criança começa a engatinhar, só tem um desejo: ir para a rua!...”.(João do Rio - A Alma Encantadora das Ruas)

36 lojas de móveis, mais de 20 lojas de roupas e calçados, 10 restauran-tes, cinco salões de beleza, relojoarias, galerias, es-critórios, estacionamentos, hotéis, edifícios residen-ciais e até uma alfaiataria que funciona desde a déca-da de 1930. Essa é a Ria-chuelo, uma das ruas mais famosas de Curitiba, local-izada no coração da cidade.

Todos os dias mil-hares de curitibanos pas-sam pelas cinco quadras localizadas entre a Rua XV de Novembro e a Pra-ça 19 de março, outros tantos sobrevivem delas por meio do comércio, da limpeza das calçadas, en-tregas de cartas etc. Essas pessoas têm uma relação especial com a rua, que para elas não se resume simplesmente a um con-junto de prédios e quadras, mas um lugar com vida e características próprias.

Até pouco tempo, a Riachuelo era um local bastante perigoso, ainda mais porque o consumo do crack tomava conta de uma das quadras, afastan-do os transeuntes, lojistas e aqueles que procuravam um apartamento no centro de Curitiba. No entanto,

depois das obras de revital-ização realizadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela P r e f e i -t u r a M u -n i c i p a l h o u v e m e l h o -rias nas c a l ç a -d a s , i l u m i -nação, policiamento, nas pinturas das fachadas entre outras coisas. “Desde a re-forma não tenho mais medo de passar por aqui, mesmo na esquina com a São Francisco”, conta a pedestre Gisele Gon-çalves, que caminhava tran-quilamente pelo trecho que já foi considerado um dois mais perigosos do centro da cidade.

TradiçãoO comprador que tiver

tempo e paciência pode pro-curar e encontrar as mobílias dos mais diversos materiais e preços na Rua Riachuelo. Há geladeiras, por exemplo, que saem por R$ 200. A lo-jista Adriane Medeiros, dona

de um comércio no ramo, comemora o reflexo das re-formas da rua em seu negócio enquanto dois carregadores

colocam sofás em c a m i n -hões de entrega. “ Q u e m e s t á atrás de m ó v e i s usados, já sabe

que deve vir aqui. Mesmo que existam lojas assim em bairros, a fama da rua no as-sunto atrai os clientes, que aumentaram depois da revi-talização, pois a Riachuelo ficou mais bonita e segura.”

A aposentada Edelmi-ra Bueno da Silva já sabe disso e visita algumas lojas em busca de um balcão. “A rua melhorou muito depois dessa iniciativa e aderên-cia dos lojistas, não que es-teja perfeito, mas melhorou.”A tradição da Riachuelo não se resume aos móveis, alguns estabelecimentos já fizeram fama e passam de geração para geração, adaptando-se às mudanças de público.

- Eu queria dar uma ol-hada nos coturnos – pede o jovem de cabelo comprido, vestido com uma camise-ta de uma banda de rock.

A alfaiataria do exército foi criada em 1932 e certa-mente não tinha adolescentes punks e roqueiros como pú-blico-alvo. Ao longo dos anos, no entanto, a clientela passou a ser bastante diversificada. O dono desse empreendimento é Osvaldo Matter Filho, que herdou a loja de seu pai, que por sua vez herdou do avô de Osvaldo. “Acompanhei a mudança dessa rua e conheço muita gente aqui, inclusive o pessoal chamava meu pai de dinossauro por causa do tempo que ele estava aqui”.

Assim como Osvaldo, o carteiro Roberto Mainardes, que já morou na rua, também fez muitos amigos na Ria-chuelo. “Conheço todo o pes-soal por aqui, por causa do meu trabalho e por já ter sido morador. Se surgisse a opor-tunidade de voltar para cá eu viria”, conta ele enquanto en-trega as cartas em vários esta-belecimentos e se demora em “um dedinho de prosa” com cada conhecido que encontra.

Ao prestar atenção, é pos-sível identificar nas es-quinas amigos conver-sando animadamente

- Árbitro ladrão aquele lá – exalta-se um senhor que leva um exemplar de jornal debaixo do braço. O grupo anda mais duas quadras e a conversa que era sobre futebol muda para política, e muda de novo para algum assunto do cotidiano.

Em outra esquina, no fim do dia, veem-se mora-dores que, antes de irem para casa, resolvem passar num bar em frente ao prédio, para tomar uma cerveja e descar-regar um pouco das tensões de um longo dia de trabalho.

A moradora Rouse Loyola de Lima, no entanto, destaca que nem tudo é posi-tivo quando o assunto é morar ali. “Não é como acontece nos bairros, por ser centro e pela vizinhança ser formada por um pessoal mais velho, é meio difícil começar am-izades, mas quem está se mu-dando agora é mais aberto e conversa mais. Mesmo assim, acho um lugar muito bom para se morar e só sairia da-qui por um motivo grande”.

A Riachuelo é umas das tantas ruas pelas quais pas-samos todos os dias e nem paramos para pensar sobre suas histórias e personagens. Por meio de depoimentos e observação de ações dessas pessoas que, com suas ativi-dades de rotina dão vida e personalidade à rua, é pos-sível entender o quão rica e cheia de casos é formada a história de Curitiba. Uma história que não deve ser es-quecida e nem se resumir a livros técnicos, afinal quem a faz é o cidadão comum, o cidadão que está na rua.

“... Balzac dizia que as ruas de Paris nos dão im-pressões humanas. São as-sim as ruas de todas as ci-dades, com vida e destinos iguais aos do homem...”.(João do Rio - A Alma Encantadora das Ruas)

A nova velha Riachuelo

Anna Luiza Garbelini

Uma rua com características próprias e as pessoas que enxergam nesse pedaço de chão mais do que asfaltoAilime Kamaia

A Riachuelo é umas das tantas ruas pelas quais pas-samos todos os dias e nem paramos para pensar sobre suas histórias e personagens.

Apesar de só ter cinco quadras, a Rua Riachuelo é uma das mais conecids de Curitiba.