4º e 5º anos - coletivo leitor

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Ler para produzir uma crônica Sequência didática Eixo: Escrever em torno do literário literatura 4º E 5º ANOS

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Ler para produzir uma crônica

SequênciadidáticaEixo: Escrever em torno do literário

literatura

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Ler para produzir uma crônica Eixo: Escrever em torno do literário4º e 5º anos

Apresentação das obras

Teimas e birrasFanny AbramovichIlustração: Mariana MassaraniEditora ScipioneNúmero de páginas: 56

Lita detesta rotina. Lucas é valentão e disciplinado. Teca só pensa em moda. Rúdi é bagunçado, mas também inteligen-te e não gosta de decorebas. Esses quatro alunos não se imaginam dividindo experiências, até que dona Neusa lhes propõe redações bastante inusitadas...

Vida da genteFernando BonassiIlustração: Chico MarinhoEditora FormatoNúmero de páginas: 36

Seleção de crônicas publicadas no suplemento “Folhinha de S.Paulo”, esta obra parte do princípio de que aprender a ler o mundo criticamente é necessário não só aos adultos, mas também às crianças. É um direito delas discutir a realidade, participando e vivenciando a cidadania.

Se os livros são comoas pessoas, chatas,legais, sem graça ouespeciais, VViiddaa ddaa ggeenntteeé aquele livro que vira oamigo que sempre sequer por perto. A voz quenos faz pensar, que nosfala de sonhos, de proble-mas, de políticos, daescola, dos pais, das tri-bos urbanas ou da matamesmo.

Usando a mais poderosa de todas as armas:as palavras, Fernando Bonassi, através de seunarrador menino, fala de tudo e mais um pouco,com uma sinceridade estonteante, sem limites.“Quem sabe um dia seremos tão evoluídosquanto os índios?”, ele propõe, ou ainda, “ascoisas existiam antes dos nomes que a gentedeu para elas, certo? E as palavras vieram paraajudar a gente a se entender, não é?”

Filosofia, sociologia, literatura,ecologia, ciência, enfim, “tudoque é assunto na VViiddaa ddaa ggeennttee”,fazem dessas breves crônicascheias de humor, carinho eatenção, textos especialmenteescritos para os adultos dentrodas crianças e para as criançasdentro dos adultos.

Heloisa Prieto

6ªedição

Capa-Vida de gente-PNBE_Capa Aluno-Vida da gente-Mercado 26/07/10 17:42 Page 1

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Ler para produzir uma crônica

IntroduçãoO processo de aprendizagem da leitura e o

da escrita, embora muitos acreditem que sejam discrepantes, se complementam; há uma inter-face entre o ato de ler e escrever. Dessa forma, a escrita pode contribuir para a formação do leitor, e a leitura pode contribuir para a formação de um escritor, mas como isso acontece? O aluno, ao ter de escrever uma crônica, por exemplo, precisará ler várias delas para compreender como se dá sua organização discursiva, quais são suas caracterís-ticas, como são escritas, quais temáticas são re-correntes. Essa análise aprofundada do texto, ao longo do processo de leitura, corrobora um apro-fundamento da capacidade de ler e compreender e, consequentemente, para o processo de escrita.

Por isso, esta sequência pretende reforçar a relação de interdependência existente entre o processo de apropriação da leitura e o processo de apropriação da escrita, propondo o estudo de duas obras. Teimas e birras, como leitura com-partilhada, incluindo momentos de apreciação da história e de análise da forma como a autora escreve, utiliza a linguagem e os efeitos produ-zidos para corroborar a produção posterior. Vida da gente, como leitura autônoma, aproximará os estudantes do gênero crônica, além de permitir avanços individuais no processo de leitura.

Em todo processo de produção textual é necessário definir o contexto de produção para conferir sentido à proposta. Fora da escola es-crevemos seguindo propósitos e ajustamos a produção de acordo com eles. Dentro da escola precisa ocorrer o mesmo: as práticas sociais de

leitura e escrita devem orientar as produções es-critas na sala de aula.

Por contexto de produção entendemos que o aluno, ao produzir um texto, precise conside-rar um motivo ou propósito para escrever, ter um interlocutor, considerar o gênero para organizar o texto, o portador e o lugar de circulação para adequação da linguagem e das características usuais dos suportes. Todas as decisões indispen-sáveis à boa qualidade do texto dependem des-ses aspectos e é o que permite formar um escri-tor proficiente (BRÄKLING E GARCIA, 2011).

Espera-se, portanto, que por meio desta se-quência os alunos:

— produzam descrições de certas cenas decorrente das leituras do livro Teimas e birras e crônicas que se baseiem na te-mática do livro.

Além desse objetivo, esperamos que os alu-nos possam desenvolver alguns comportamen-tos leitores e escritores, como:

— Participar das conversas em torno do lido expressando uma posição estética e pes-soal, analítica e eferente;

— Dar sua opinião sobre a história e escutar a opinião dos colegas;

— Construir critérios de validação com-partilhadas, trocando saberes com os outros para ampliar a possibilidade de compreensão;

— Planejar, textualizar, revisar e editar consi-derando o contexto de produção.

BNCCA proposta desta sequência contempla algumas habilidades apresentadas pela Base Nacional Co-mum Curricular (BNCC), como:

(EF15LP15) Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento, valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patri-mônio artístico da humanidade.

(EF15LP16) Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor e, mais tarde, de maneira autônoma, textos narrativos de maior porte como contos (populares, de fadas, acumulativos, de assombração etc.) e crônicas.

(EF35LP03) Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global.

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Ler para produzir uma crônica

(EF35LP04) Inferir informações implícitas nos textos lidos.

(EF35LP05) Inferir o sentido de palavras ou expressões desconhecidas em textos, com base no contexto da frase ou do texto.

(EF35LP01) Ler e compreender, silenciosamente e, em seguida, em voz alta, com autonomia e flu-ência, textos curtos com nível de textualidade adequado.

(EF35LP08) Utilizar, ao produzir um texto, recursos de referenciação (por substituição lexical ou por pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos), vocabulário apropriado ao gênero, recursos de coesão pronominal (pronomes anafóricos) e articuladores de relações de sentido (tempo, causa, oposição, conclusão, comparação), com nível suficiente de informatividade.

(EF35LP09) Organizar o texto em unidades de sentido, dividindo-o em parágrafos segundo as normas gráficas e de acordo com as características do gênero textual.

(EF15LP05) Planejar, com a ajuda do professor, o texto que será produzido, considerando a situ-ação comunicativa, os interlocutores (quem escreve/para quem escreve); a finalidade ou o pro-pósito (escrever para quê); a circulação (onde o texto vai circular); o suporte (qual é o portador do texto); a linguagem, organização e forma do texto e seu tema, pesquisando em meios impressos ou digitais, sempre que for preciso, informações necessárias à produção do texto, organizando em tópicos os dados e as fontes pesquisadas.

(EF15LP07) Editar a versão final do texto, em colaboração com os colegas e com a ajuda do profes-sor, ilustrando, quando for o caso, em suporte adequado, manual ou digital.

Encaminhamento da leitura

1- Apresentação das obras e dos autores e de-finição do contexto de produção

> Organização do espaço: Na biblioteca ou sala de leitura, em um espaço em que os alunos fiquem à vontade, em roda.

> Duração: Entre 30 e 40 minutos.

> Materiais: Livros Teimas e birras e Vida da gente; jornais, revistas e livros que apre-sentam crônicas; computador e projetor.

Esta aula tem como objetivo apresentar a proposta de leitura e de escrita aos alunos bem como envolvê-los com as situações didáticas. Para isso, organize um espaço aconchegante em que os alunos se sintam à vontade para comen-tar e expressar suas ideias.

Apresente inicialmente Teimas e birras, de Fanny Abravomich, e Vida da gente, de Fernando Bonassi. Explore as capas, compare-as, pergunte se os títulos podem estabelecer alguma relação entre si e qual deles sentiram mais vontade de conhecer. Explore os motivos pelos quais fizeram a escolha, pois os argumentos utilizados podem

revelar critérios interessantes. Em seguida, leia a quarta capa e novamente questione se esco-lheriam o mesmo livro ou se trocariam. Diante da resposta, peça que explicitem os porquês, a fim de que desenvolvam uma argumentação para indicar suas preferências.

Apresente autores e ilustradores; no final de cada livro há informações sobre a vida e a obra deles. Questione se já conhecem algum autor mencionado e, em caso afirmativo, procure rela-cionar com as obras a serem lidas.

Comente que Teimas e birras é uma his-tória em capítulos, de uma turma de alunos de 5º ano; já Vida da gente é composto de várias crônicas que foram publicadas no suplemento infantil “Folhinha“. Pergunte se alguém conhe-ce esse portador, “Folhinha“, explore na internet para conhecerem. Diga que o primeiro livro será lido de maneira compartilhada, a maioria dos capítulos em sala de aula, e que o segundo será por meio da leitura autônoma. Leia para eles a crônica “Ir à escola vai ficar mais divertido” e converse sobre o conteúdo da história. Ele pode

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provocar certo estranhamento pelo fato de os computadores estarem hoje inseridos na maio-ria da vida das pessoas, inclusive na escola. Com a perspectiva de hoje é possível questionar a afirmação do título, se os computadores torna-ram as aulas mais divertidas ou se isso era um jeito de lidar com uma novidade. Nesse ponto, é imprescindível falar da data de publicação da crônica, de 1997, o que justifica a forma de tratar o conteúdo, e sua relação com os dias atuais é inevitável. Mais de 20 anos depois muitas esco-las continuam sem computadores e/ou acesso à internet, além de ser contestável o fato de as aulas se tornarem mais divertidas.

Outra crônica para ler e discutir com base na chave de leitura selecionada anteriormente é “Lua, Colônia 243, apto 12, 23/02/2066”. Pergunte aos alunos se o título chama atenção. Instigue--os a observar dados de um endereço e de uma data. Peça que comparem com o ano vigente e com a data de publicação, 1997. incentivá-los a antecipar quais serão os acontecimentos da nar-rativa pode ser uma forma bacana de mergulhar na história. No final da leitura, proponha uma reflexão a respeito da temática: há uma crítica explícita quanto à forma como os seres huma-nos usaram os recursos naturais do planeta Ter-ra. Problematize essa crítica relacionando com o modo de vida do personagem. Essa discussão é uma maneira de se aproximar das características do gênero crônica, mas não é necessário siste-matizar nem explicitar essas relações agora por-que discutiremos ao longo da sequência.

Depois, mostre alguns jornais ou revistas impressos e livros do acervo da escola que con-tenham crônicas para conhecerem os possíveis portadores desses textos. Comente que eles te-rão de escrever uma no final da sequência para compartilhar com alguém. Definam coletivamen-te para quem será escrito e onde circulará o tex-to produzido. Essas definições são fundamentais porque conferem sentido para as situações de produção escrita, uma vez que a linguagem e as escolhas lexicais, o público-alvo, o recorte temá-tico, são definidores na maneira como planeja-mos e produzimos os textos.

Combine com os alunos a leitura do livro Vida da gente, que será feita autonomamente até uma data marcada. Durante a leitura, peça que observem:

> qual é a temática das crônicas;

> como o cronista aborda cada temática;

> se, quanto ao uso da linguagem escrita, chama atenção o uso de algumas palavras.

Na aula 6 haverá discussão e retomada des-sa leitura em pequenos grupos.

2- Leitura dos três primeiros capítulos do livro Teimas e birras

> Organização do espaço: Na sala de aula, de modo que os alunos consigam formar uma roda e ficarem confortáveis.

> Duração: Entre 40 e 50 minutos.

> Material: Livro Teimas e birras.

Retome a apresentação do livro Teimas e birras com uma breve discussão explorando o que foi mais significativo da conversa da aula anterior. Uma opção é ler o sumário e apreciar algumas ilustrações do livro. Combine que lerá em voz alta os três primeiros capítulos e fará al-gumas paradas para conversarem a respeito.

Inicie a leitura e peça aos alunos que acom-panhem com seus livros; não divida a leitura com eles: o propósito é que ouçam a sua voz ao mes-mo tempo em que acompanham o texto. Esse já é um exercício desafiador não só por acom-panhar, mas também por compreender o texto, uma vez que ele apresenta uma forma de orga-nizar o discurso diferente daquela como falamos no dia a dia. Acompanhar pode contribuir para uma melhor compreensão do texto lido.

É necessária uma preparação prévia para ler bem esse texto em voz alta porque o ritmo, a pausa e a acentuação, aspectos da expressão oral, colaboram fundamentalmente para a com-preensão leitora dos alunos. Como o texto apre-senta frases curtas, algumas palavras inventadas, uma linguagem literária rebuscada, é imprescin-dível um planejamento prévio dessa leitura.

Estude também algumas paradas estra-tégicas para discutir as ideias dos personagens e suas características, o enredo e a linguagem. Sinta o grupo, ouça os comentários espontâne-os que surgem ao longo da leitura e prepare-se para eles.

O primeiro capítulo descreve o despertar de muitos personagens, já vai mostrando como eles são, o que costumam fazer. Para essa parte é interessante notar como um simples acordar de manhã pode ser pensado e escrito com tanta be-leza. Retome um trecho para análise e apreciação:

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Lita ouviu e se espreguiçou molemente. Devagarou, esticou o bem bom. Bocejou alargado, boca aberta, dentes prontos para engolir o mundo. Conferiu as horas, embirrou, agarrou o travesseiro e tentou encompridar seu sonho ouriçante. (p. 6)

Pergunte aos alunos:

> Como é acordar assim como a persona-gem?

> A narradora utiliza a expressão “sonho ouriçante”. Como vocês imaginam que seja isso?

> Repararam no uso da palavra “devago-rou”? Ela existe? Vem de qual palavra? Que sentidos provoca?

Escute o que os alunos pensam sobre essa forma da autora de escrever. Algumas palavras são inventadas, mas derivam de outras conhe-cidas, como “devagorou”, que vem de “devagar“, uma palavra comum e de fácil compreensão.

Faça isso também com outros trechos esco-lhidos pelos alunos e dê continuidade à leitura, pedindo que fiquem atentos a essas expressões. Ao terminar a leitura dos capítulos vocês podem voltar a essa discussão, deixando que os alu-nos destaquem palavras e expressões que mais chamaram atenção. Ajude-os a notar que esses capítulos contaram ao leitor os momentos de despertar e se preparar para ir à escola. Abra um espaço para comentários e impressões pessoais, peça que digam o que mais chamou atenção de-les. Talvez a descrição pormenorizada das ações seja um destaque. Peça que selecionem trechos para compartilhar entre todos, assim como fize-mos no primeiro capítulo.

Dê atenção especial para o uso de determi-nadas palavras presentes na página 9 – “guarda-napou”, “intervalou”, “denteou" – e faça uma dis-cussão sobre os efeitos que produzem em cada trecho. A autora utiliza um fenômeno linguístico chamado neologismo, em que a partir de algu-mas palavras inventa outras. Vale destacar que a intenção aqui não é fazer um estudo sobre esse recurso, e sim compreendê-lo no sentido de seu uso no texto.

Combine que a leitura do quarto e do quin-to capítulo será feita em casa para discussão na próxima aula.

3- Leitura pelo professor do livro Teimas e birras

> Organização do espaço: Em um lugar calmo da escola para que os alunos con-sigam trabalhar coletivamente, em uma roda, e em pequenos grupos.

> Duração: Entre 40 e 50 minutos.

> Material: Livro Teimas e birras.

Inicie a aula retomando a leitura feita em casa. Divida os alunos em pequenos grupos e entre eles a discussão de um capítulo. Peça que primeiro comentem as impressões pessoais so-bre os acontecimentos e em seguida, que obser-vem com mais detalhes um trecho da história, analisando a forma como a narradora descreve algumas cenas:

Desabalada. Empurra empurras, ponta-pés e cotoveladas maneiras, cantadas, go-zações. Tudo fantasmal, anônimo. Ouvir e levar um tranco, sem noção de quem foi o falante ou empurrante... O bedel ata-cou como autoridade de plantão. Usou o apito como corneteiro do exército. Or-denando claramente. Nenhum segundo mais pra fazer hora nenhuma. Fim do agito barulhento. Perfilada rápida. Série por série. (p. 14)

Pra quebrar a sapiência, vários boas - -vidas desfiando abobrinhas sobre qual-quer pergunta. Cascata de desculpas es-farrapadas. Rouquidão, piora da saúde da avó velhíssima, ataque de asma do irmãozinho bebê, voo aterrorizante de vespas selvagens, incêndio pavoroso na rua, barulheira enlouquecida do forró da esquina. (p. 18)

Pergunte aos alunos:

> O que é possível saber sobre o que acon-tece nesses momentos da história?

> Vocês consideram comum essa forma como a narradora descreve?

> Há outros trechos da história que mos-tram essa forma de escrever da autora?

Abra um espaço para os grupos compartilha-rem as discussões e aprofunde a análise feita para pensarem os efeitos que produzem esses trechos e que recursos a autora utiliza. É possível notar que as frases são curtas, há uma forte presença de substantivos e adjetivos e poucos verbos em

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Ler para produzir uma crônica

> Organização do espaço: na sala de aula.

> Duração: entre 40 e 50 minutos.

> Material: livro Teimas e birras.

Para dar continuidade ao processo de leitu-ra, proponha que façam oralmente um exercício de descrever algo, uma situação, assim como faz Fanny, a autora do livro. Escolham algo que pareça simples, como organizar uma mesa para almoçar; preparar-se para dormir; despertar; fazer o per-curso da escola para casa; enfim, o que considera-rem interessante. Convide os alunos a brincarem com as palavras. Façam oralmente, explore mais de uma possibilidade, instigue os alunos a com-plementar a ideia do outro e a criar novas.

Em seguida, leia os capítulos sete e oito. Sin-ta as necessidades de seu grupo para parar e dis-cutir aspectos que chamam atenção e se prepare para fazer interrupções estratégicas. No final de cada capítulo pode ser uma opção.

O foco das discussões tem sido observar o emprego da linguagem literária. Para isso, conti-nue discutindo palavras inventadas e formas de expressão típicas da autora, como:

No pátio, devoração das acontecências pipocantes. (p. 26)

Pergunte aos alunos:

> O que seriam “acontecências pipocantes”?

Estimular a criatividade para levar à com-preensão e retomar o contexto da frase podem ajudar os alunos a avançar em sua competência leitora. Convide-os a inventar palavras baseadas em um contexto. Esse exercício confere maior consciência dos usos possíveis e imaginados do léxico.

Outras chaves de leitura podem estar rela-cionadas ao título do livro Teimas e birras.

Pergunte aos alunos:

> Que relação o título do livro estabelece com as ações dos personagens? Onde observamos teimosias e birras? Como elas são reveladas ao leitor?

No final da aula, divida os alunos em duplas para escreverem como Fanny. Antes da leitura vocês fizeram um exercício de pensar oralmente algumas possibilidades de descrever uma ação com os recursos linguísticos utilizados pela auto-ra. A proposta agora é que escrevam em duplas uma cena, algo relacionado com o cotidiano deles.

algumas descrições, como em: “Desabalada. Empurra empurras, pontapés e cotoveladas ma-neiras, cantadas, gozações. Tudo fantasmal, anô-nimo” (p. 14). Comentem a diferença de dizer, por exemplo: “Todos os alunos estavam no pátio, ha-via muito empurra-empurra, pontapés, algumas pessoas davam cotoveladas...”. O efeito que a lin-guagem cria é outro. O tumulto entre os alunos no pátio da escola é possível saber apenas pelos subs-tantivos e adjetivos, e isso agiliza o relato, marca as ações realizadas. Há também um toque de humor nas desculpas dos alunos por não saberem o con-teúdo na chamada oral, no quinto capítulo.

Depois de fazer essas discussões, leia o ca-pítulo “Quem é que vale mesmo?”. Na conversa apreciativa é possível retomar a forma como a autora escreve:

Dona Neusa encasquetou. Rumar a aula pra outra rota. Rápido. Pensou, pesou, escolheu. Anunciou. Fazer uma reda-ção. (p. 20)

Agora marcado por verbos, ações, cada um seguido de ponto-final. A professora precisava de agilidade para mudar a rota da aula, foi rápida em suas ações. Comparem como os diferentes recursos da língua são utilizados para agilizar e sintetizar as ações dos personagens.

Outros trechos marcam o estilo da autora na forma de contar essa história; estimule os alu-nos a buscarem em seus livros um trecho para compartilhar com os colegas que apresente es-sas características. No trecho abaixo, por exem-plo, novamente há um uso de substantivos para mencionar as ações realizadas.

Tumultuou. Cochichos, pedidos de re-petição, aumento de incertezas, dedos tamborilando nas carteiras, troca trocas, silêncio pasmado, papos atabalhoados. Confusão de ideias e escolhidos. Procura de cadernos, lápis, canetas Bic... (p. 20)

Durante a conversa é possível discutir sobre a questão do herói. Há muitos pontos de vista sobre essa temática proposta, inclusive, no tex-to. Identificar quem os personagens chamam de herói e o que os alunos pensam sobre isso pode ser uma forma de ampliarem a forma de pensar sobre essa questão.

4- Leitura do sétimo e do oitavo capítulo do li-vro Teimas e birras e espaço de criação com base em recursos utilizados pela autora

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Ler para produzir uma crônica

Organize as duplas e peça que, incialmente, de-finam juntas sobre o que vão descrever. Encami-nhe a situação como se fosse um jogo, de modo que os estudantes precisem contar para alguém, com detalhes, o que fazem. A escrita acontecerá na próxima aula.

Como tarefa para a próxima aula, peça que realizem a leitura do capítulo “Tirando a limpo”.

5- Leitura dos últimos capítulos do livro Tei-mas e birras e escrita de descrição

> Organização do espaço: Em um lugar calmo da escola para que os alunos con-sigam trabalhar coletivamente, em uma roda, e em duplas.

> Duração: entre 50 e 60 minutos.

> Material: livro Teimas e birras.

Retome o capítulo “Tirando a limpo” abrin-do um espaço para comentários voluntários a partir da leitura. O foco das discussões pode ser o mesmo que vem ocorrendo nas últimas aulas, mas dê chances para o novo aparecer. Pode ser interessante observar outras perspectivas de análise com base nos olhares dos alunos. Em se-guida, leia os dois últimos capítulos, parando no final de cada um ou quando algum aluno quiser fazer comentários.

Na conversa a respeito do livro, é interes-sante fazer perguntas que visem aprofundar a compreensão dos alunos – algumas delas já fei-tas anteriormente, e a intenção de repeti-las é justamente para olhar o todo do livro e trazer no-vas respostas, justificativas. Pergunte aos alunos:

> Como o título Teimas e birras está rela-cionado com o enredo da história? Onde aparecem?

> Quais são as principais características dos personagens? Como conseguiram saber isso?

> Vocês destacariam algum aspecto da forma como a autora empregou a lingua-gem para escrever a história?

> Vocês indicariam esse livro para alguém? Por quê?

Em seguida, organize as duplas, já agrupa-das na última aula, e peça que escrevam a des-crição do que haviam imaginado. Trata-se de um exercício interessante de escrever como a autora, com os recursos que ela emprega em seu texto.

A cena descrita pode ser qualquer uma, mas o foco de análise está na forma como os alunos usarão a linguagem escrita. Precisa ser muito de-talhado, uma ação rápida com vários substantivos ou verbos seguidos de ponto-final, novos usos de palavras conhecidas, entre outros. Não é necessá-rio escrever muito, um parágrafo é suficiente des-de que sejam garantidos tais recursos.

No final, selecione algumas duplas para com-partilhar a produção com os colegas, para eles apreciarem e darem dicas de melhorias no texto.

6- Discussão em grupos das crônicas lidas do livro Vida da gente

> Organização do espaço: Na biblioteca ou em um ambiente que tenha espaço para o trabalho em pequenos grupos e depois todos em roda.

> Duração: Aproximadamente 50 minutos.

> Material: Livro Vida da gente.

Foi combinado na primeira aula desta se-quência que a leitura de Vida da gente fosse fei-ta de forma autônoma. Temos como propósito discutir algumas das crônicas presentes no livro em pequenos grupos, divididas por temáticas. Nesses textos, há fortemente marcadas críticas sociais à ação humana quanto ao uso do meio ambiente, à forma como tratamos as pessoas, à política e à desigualdade social. Isso pode ser analisado e discutido entre todos.

Para começar, divida os alunos em trios ou quartetos e para cada um dê as crônicas que irão debater. Mais de um grupo pode ficar com o mesmo conjunto de crônicas.

Grupo AHaverá água quando a gente ficar velho?Quando chove é fogo, viu?Nem tudo que se joga fora é lixo

Grupo B Livro é que nem gentePor que a gente é um número?A D. Aracy tem de ser feliz

Grupo CQuem está pior merece o melhorUm jogo que é uma vergonhaSer índio é muito mais legal

Peça aos alunos que identifiquem os moti-vos pelos quais as crônicas estão agrupadas des-sa forma, perguntando-lhes:

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Ler para produzir uma crônica

> O que as crônicas do mesmo grupo têm em comum?

> Qual a opinião de vocês sobre a crítica feita? O que faz vocês pensarem assim?

Depois que os grupos compartilharem as respostas dadas e suas impressões a respeito dos textos lidos, peça que comparem as temá-ticas entre os grupos de crônicas pedindo que discutam a semelhança entre elas. Eles poderão observar que todas fazem uma crítica social a algo que acontece com as pessoas ou tratam de situações triviais, porém com um olhar aguçado, crítico, trazendo um novo ponto de vista. Siste-matize essas discussões registrando aspectos que considera mais significativos. Eles apoiarão a reflexão proposta na próxima aula sobre as ca-racterísticas do gênero.

7- Análise do portador e do gênero crônica

> Organização do espaço: Na biblioteca / sala de leitura ou em outro espaço no qual seja possível o trabalho em pequenos grupos.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: Livros Teimas e birras e Vida da gente; computador, projetor e crônicas publicadas em jornais, revistas ou livros.

Organize uma roda com portadores diver-sos que possuem crônicas. Separe jornais ou re-vistas impressos, livros que contenham crônicas de um mesmo autor, uma coletânea de autores diversos, selecione sites especializados que con-tenham os textos desse gênero, para discutir com os alunos os meios de circulação, as carac-terísticas dos portadores, as diferentes temáti-cas abordadas e características diversas, como a presença do humor, da crítica social, entre outros.

Uma análise de crônicas que compõem jor-nais permitirá perceber uma temática recorrente: a política. Algumas coletâneas trazem cronistas de renome agrupados por proximidade na temática ou na época de publicação. Os textos são curtos e estão relacionados, em sua maior parte, a cenas do cotidiano, a fatos que acontecem na cidade.

Retome a discussão da aula anterior sobre a crítica social embutida nos textos, as temáti-cas voltadas para o público infantil, as questões ambientais, de desigualdade social, destaque a forma como o autor cria um enredo para propor uma reflexão e usa a linguagem escrita, mui-tas vezes de forma informal. Com base nessa

reflexão, proponha a leitura do início de algumas crônicas do livro Vida da gente para verificarem como eles ocorrem. O desfecho também pode ser interessante analisar.

Deixe os alunos explorarem os materiais da roda e discuta esses aspectos com eles. Em segui-da, retome o registro feito anteriormente e acres-centem as informações que julgarem necessárias, incluindo o que é preciso existir em uma crônica, quais são as principais características do gênero e algumas dicas sobre a linguagem utilizada.

Garanta que os alunos percebam que:

> a crônica relata acontecimentos do co-tidiano, muitas vezes com base em um fato que aconteceu na cidade em um dia próximo à data de sua publicação;

> a temática é diversa, às vezes parte de uma situação banal mas com um toque de cria-tividade e um ponto de vista particular;

> o texto costuma trazer uma crítica que permite ao leitor olhar a temática aborda-da com base em outros pontos de vista;

> geralmente a linguagem é simples, muitas vezes coloquial, e há a presença de humor;

> os portadores são diversos, desde os meios impressos, como revistas, jornais e livros, até os digitais, como sites e blogs.

Anote em um cartaz na sala e peça aos alunos que registrem no caderno, reforçando que a lista poderá ser ampliada conforme avança o estudo.

8- Elaboração do planejamento da crônica

> Organização do espaço: na sala de aula ou de multimídias.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: Livros Teimas e birras e Vida da gente; computador, caso a produção seja feita em um processador de textos.

Refletir sobre as características das crônicas na aula anterior teve como propósito apoiar a produção de uma crônica que ocorrerá a partir desta aula. Para os alunos poderem produzir, será necessário elaborar um planejamento detalhado, considerando dois aspectos: o conteúdo temáti-co e a forma como ele será tratado no texto. Re-tomem o contexto de produção: o destinatário, o portador e o meio de circulação do texto, para que as decisões a serem tomadas sejam ajusta-das ao propósito da escrita.

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Ler para produzir uma crônica

Organize os alunos em duplas para inicia-rem a escrita do planejamento. Foi discutido com eles na última aula que as temáticas das crônicas, principalmente aquelas escritas para um público infantil, são focadas em situações banais, do dia a dia. A proposta é considerar a leitura do livro Teimas e birras e pedir que pensem em algo que viveram, seja uma experiência própria ou uma que presenciaram, que evidencie uma birra/tei-mosia ou se aproxime disso. Relembrem juntos birras e teimas dos personagens da obra lida, le-vantem coletivamente as várias possibilidades: uma criança pequena de 3 anos brigando com a outra por causa de um brinquedo; uma menina torcendo o nariz para outra por causa de uma fo-foca; um menino que não queria que outro cole-ga usasse o seu instrumento de música por pura teimosia; entre outros.

Depois, peça aos alunos que definam pri-meiro o conteúdo temático, orientando-os a res-ponder:

> Qual será a birra ou a teimosia?

> Quem serão os envolvidos?

> Qual será o ponto de vista adotado?

> Haverá uma crítica a respeito de algo? Se sim, como será?

Em seguida, a partir do conteúdo criado, peça que pensem juntos como será a ordem dos acontecimentos, o início e o desfecho. Trata-se de uma lista simples e breve que orientará a escrita da crônica. É importante frisar que esses planeja-mentos apoiarão a textualização na próxima aula, mas essa lista não implica em si o próprio texto.

Leia todos os planejamentos para observar se há consistência entre o conteúdo temático elaborado e a forma como pretendem abordá-lo no texto. Se observar falta de clareza, pontos que geraram dúvidas, retome com os alunos antes de pedir que produzam a crônica.

9- Produção, em duplas, de uma crônica

> Organização do espaço: na sala de aula ou de multimídias.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: Livros Teimas e birras e Vida da gente; computador, caso a produção seja feita em um processador de textos.

Com os planejamentos elaborados e revis-tos, chegou o momento da textualização, quan-

do os alunos irão colocar as ideias levantadas em linguagem escrita típica de crônicas. Para um bom funcionamento da dupla, defina uma fun-ção para cada aluno: um será o escriba e ficará responsável pela notação, ou seja, por escrever pensando em ortografia, pontuação, paragrafa-ção; e o outro será o ditante, responsável por di-tar o texto e transformar as ideias em linguagem escrita. Isso não significa que as funções sejam estanques: um pode contribuir com o outro pen-sando em ajudas mútuas.

A revisão do texto faz parte do saber escre-ver e das operações da produção textual. É preci-so participar de situações de revisão para apren-der como se faz. Nesse caso, depois de alguns dias, devolva a produção aos alunos para verifi-carem se algo precisa ser modificado.

Será necessário verificarem a adequação ao destinatário, ao emprego da linguagem, do re-corte temático de acordo com os propósitos da produção. Para isso, é interessante tomar distân-cia do texto por alguns dias para conseguir voltar a ele e conseguir realmente observar os pontos de atenção. Os encaminhamentos podem ser diversos. Considere retomadas ao que foi plane-jado, proponha um foco de revisão caso tenha um aspecto recorrente entre todas as duplas ou ainda faça propostas distintas a depender das necessidades específicas de cada uma.

A revisão é uma possibilidade de refletir sobre a linguagem e sobre os problemas que o texto apresenta. Trata-se de um momento privi-legiado de pensar sobre a língua. Não se espera que ao longo das revisões os alunos resolvam todos os problemas encontrados, mas que as questões referentes a coerência e aspectos dis-cursivos sejam resolvidas.

10- Edição do produto final e avaliação

> Organização do espaço: Na sala de aula ou em um espaço em que possam se di-vidir para editar o produto final.

> Duração: Aproximadamente 60 minutos.

> Materiais: Livros Teimas e birras e Vida da gente; materiais necessários para edição do produto final a depender das escolhas feitas.

Com as crônicas produzidas, revisadas e corrigidas, chegou a hora de pensar na edição. Uma nova retomada dos propósitos da produ-ção pode ser recuperada para decidirem como

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Ler para produzir uma crônica

farão a publicação dos textos. Considere que a participação ativa dos alunos em todo o proces-so de edição, desde a escolha do portador até algo mais específico sobre a diagramação. Uso de fontes e papéis pode ser alvo de reflexão en-tre todos.

Com as decisões tomadas sobre o produto final, divida as tarefas entre o grupo e peça que se organizem para cumpri-las.

Depois de terem publicado as crônicas para o destinatário escolhido, chegou o momento de refletir sobre todo o percurso trilhado e tomar consciência dos avanços na aprendizagem. Per-gunte aos alunos se:

> participaram efetivamente das rodas de conversa sobre as leituras, consideraram a opinião dos colegas, interagiram com ela;

> ao escrever uma crônica, aproximaram mais das características do gênero;

> aprenderam a planejar, produzir a crônica e revisar com base no contexto de pro-dução definido junto ao grupo.

Abra um espaço para uma conversa aberta, em que os alunos possam opinar sobre como se sentiram ao ler e produzir crônicas; sobre as pre-ferências leitoras; sobre aspectos que tenham chamado muito a atenção deles. No final, mostre quanto avançaram enquanto grupo, enquanto leitores e escritores.

Referências Bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Dispo-nível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2020.

BRAKLING, Kátia e GARCIA, Marisa. O ajuste do texto ao contexto de produção: um conteúdo esquecido? In Revista Educação – Especial Didá-tica. Editora Segmento: São Paulo, 2011. (p. 12-29)

COLOMER, Teresa. Andar entre livros, a leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007.