1958 (bra). bernardes. pescadores da ponta do caju (rj)

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REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA SUMÁRIO DO NÚMERO DE ABRIL-JUNHO DE 1958 ARTIGOS Estudos Geomorfológicos no Nordeste Brasileiro, WILLY CZAJKA (de Gêittingem) Pescadores da Ponta do Caju - Aspectos da Contribuição de Portuguêses e Espanhóis para o Desenvolvimento da Pesca na Guanabara, LYSIA MARIA CAVALCANTI BERNARDES Sepetiba - Contribuição ao Estudo dos Níveis de Erosão do Brasil, CELESTE RODRIGUES MAIO VULTOS DA GEOGRAFIA DO BRASIL Pedro Álvares Cabral, VIRGÍLIO CORRÊA FILHO COMENTÁRIOS Observações Gerais Acêrca da Morfologia dos Solos da Zona da Mata, THIAGO FERREIRA DA CUNHA Algumas Noções Sôbre Geografia Política, J CEZAR DE MAGALHÃES NOTICIÁRIO 22. 0 ANIVERSÁRIO DO IBGE - Discurso Pronunciado pelo Enge- nheiro Flávio Vieira, em nome do CNG, na Sessão Comemorativa 135 181 203 221 225 230 do 22. 0 Aniversário do IBGE . . 239 ESTUDOS GEOGRÁFICOS SôBRE O DISTRITO FEDERAL 241 Pág 1 - Abril-Junho de 1958 1 - 26 674

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  • REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA SUMRIO DO NMERO DE ABRIL-JUNHO DE 1958

    ARTIGOS

    Estudos Geomorfolgicos no Nordeste Brasileiro,

    WILLY CZAJKA (de Gittingem)

    Pescadores da Ponta do Caju - Aspectos da Contribuio de Portuguses e Espanhis para o Desenvolvimento da Pesca na Guanabara,

    LYSIA MARIA CAVALCANTI BERNARDES

    Sepetiba - Contribuio ao Estudo dos Nveis de Eroso do Brasil,

    CELESTE RODRIGUES MAIO

    VULTOS DA GEOGRAFIA DO BRASIL

    Pedro lvares Cabral, VIRGLIO CORRA FILHO

    COMENTRIOS

    Observaes Gerais Acrca da Morfologia dos Solos da Zona da Mata,

    THIAGO FERREIRA DA CUNHA

    Algumas Noes Sbre Geografia Poltica,

    J CEZAR DE MAGALHES

    NOTICIRIO

    22.0 ANIVERSRIO DO IBGE - Discurso Pronunciado pelo Enge-nheiro Flvio Vieira, em nome do CNG, na Sesso Comemorativa

    135

    181

    203

    221

    225

    230

    do 22.0 Aniversrio do IBGE . . 239

    ESTUDOS GEOGRFICOS SBRE O DISTRITO FEDERAL 241

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  • REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA

    Ano XX I ABRIL- JUNHO DE 1958 N.0 2

    ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO

    WILLI CZAJKA (de Gottingen)

    ste relatrio preliminar baseia-se numa viagem de estudos pro-movida pela "Deutsche Forschungsgemeinschaft", Bad Godesberg, Bonn (Alemanha), que o autor empreendeu nos meses de agsto a outubro do ano de 1954 e para cuja execuo foi favorecido com recomendaes do Conselho Nacional de Geografia, do Rio de Janeiro. Deseja o autor, expressar a sua gratido pelos conselhos tcnicos que, antes de iniciar

    ' a viagem, recebeu do professor HILGARD O'REILLY STERNBERG, catedrtico de Geografia do Brasil na Universidade do Brasil, pela amistosa troca de idias com o chefe da Seco Nordeste, do Conselho Nacional de Geo-grafia, professor LINDALVo BEzERRA Dos SANTos e outros membros dessa instituio, pela valiosa assistncia dos professres da Universidade Es-tadual de Pernambuco, GILBERTO OsRIO DE ANDRADE e MRIO LA-CERDA DE MELO, e, finalmente, pelas gentilezas dos senhores gegrafos do Nordeste, quando de sua estada no Recife, e de muitas persona-lidades dos meios religiosos, culturais e administrativos. O autor agra-dece ainda muitssimo ao professor FRANcrs RuELLAN, do Rio de Janeiro, que lhe proporcionou a possibilidade de participar, durante alguns dias, das excurses realizadas por ordem da secretaria da Edu-cao de Pernambuco com estudantes de Geografia da Universidade daquele estado. Deseja tambm patentear o seu agradecimento Com-panhia Hidreltrica do So Francisco pela hospitalidade que recebeu em Paulo Afonso.

    A viagem abrangeu o estado de Pernambuco, as cercanias das cachoeiras do So Francisco em Paulo Afonso (norte da Bahia), e os estados da Paraba, Rio Grande do Norte, Cear e Alagoas. A princpio foi o Recife o ponto de partida das diversas excurses; mais tarde, porm, foi o centro de operaes transferido sucessivamente para Cam-pina Grande, Moor, Fortaleza, Quixad, Crato e Patos. Foram, ento, visitados os planaltos de Garanhuns e Arcoverde, as serras Teixeira, Santana, Martins, Maranguape, Baturit, Araripe, trechos dos vales do baixo So Francisco, do Munda, Paraba, Piranhas e Jaguaribe, o territrio das minas de Picu e as regies de Exu, Serra Talhada,

    * Traduzido do alemo por JUDITH REICHELT.

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    Monteiro e Borborema Tambm foi percorrido o litoral entre Natal e Macei.

    As pesquisas geomorfolgicas no Nordeste brasileiro foram pre-cedidas de estudos idnticos em outras regies ridas da Amrica do Sul, a saber, nos Andes, no nordeste da Argentina e na Patagnia Alis, foi possvel dedicar mais tempo a essas regies. Fz-se, pois, um estudo comparativo da riqueza morfolgica de diversas regies ridas,

    'semi-ridas e submidas Todo o programa de explorao, por conse-guinte, foi elaborado sob pontos de vista climato-geomorfolgico. Tra-tava-se, em primeiro lugar, de estudar os processos de eroso Mereceu especial intersse o modo pelo qual se processa a desnudao e as formas de detalhe resultantes e, naturalmente, deviam tambm ser obtidos aspectos gerais da morfologia da crosta terrestre, pois o desenvolvi-mento da eroso no depende to somente do clima mas, tambm, dos processos tectnicos que sempre influram no relvo. stes processos, porm, eram diferentes nas trs regies sul-americanas mencionadas Para o Nordeste brasileiro a relao entre tectnica e eroso de m-ximo intersse, e por isto que especialmente essas relaes so estu-dadas neste rela tcio

    Examinando na Europa ocidental e central a morfologia da crosta terrestre, notou-se que esta, sob a ao do atual clima mido e tem-perado, est sendo paulatinamente destruda, no continuando mais a formao de nveis de desnudao. Tambm o pleistoceno no de-senvolveu a peneplanizao das montanhas. Segundo a opinio do-minante, as reas de desnudao da Europa Central surgiram com o clima quente do tercirio.

    As desnudaes dos blocos falhados da Europa Central, que ainda so identificveis, tm assim carter de formaes fsseis A fim de se ter uma idia perfeita dos processos de desnudao, preciso visitar regies cujo clima seja idntico ao que dominava na Europa Central na era terciria. Sob ste ponto de vista, a visita ao escudo tropical do Nordeste brasilei'to pareceu-me promissor. Tal iniciativa dependia da possibilidade de se obter uma idia geral da orografia atual. Natu-ralmente, ainda estamos muito longe de poder esboar um quadro geral geomorfolgico do Nordeste brasileiro, pois para isto so necessrios mais mapas topogrficos em escalas pequenas Tambm seriam ne-cessrias pesquisas geolgicas detalhadas para se chegar a um resul-tado mais exato Conseqentemente, neste relatrio s se poderia co-gitar de avanar um pouco mais, em prosseguimento aos valiosos tra balhos preliminares j realizados pelas instituies brasileiras Ten-tar-se- conseguir uma noo geral a fim de propor problemas neste sentido que deve ser encarado ste trabalho preliminar.

    O ESTADO ATUAL DAS PESQUISAS

    O Nordeste brasileiro ser considerado neste relatrio como uma grande unidade geomorfolgica. A oeste a escarpa da serra Grande se-

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  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO 13?

    para a antiga depresso e regio de sedimentao do Piau e Maranho da regio de eroso e de blocos falhados que, com o cabo de So Roque, avana para o oceano Atlntico e se estende do Cear at Alagoas. Os limites meridionais do conjunto geomorfolgico do Nordeste so menos distintos. Como delimitao poder-se- designar o baixo So Francisco, que em seu curso segue aqui a direo de NW para ESE A regio refe-rida talvez corresponda "regio nordeste do Planalto Atlntico" pro-posta por A. AzEVEDO na sua classificao das unidades regionais do relvo (1). Em si, essas duas alas da depresso de ambos os lados do baixo So Francisco formam um conjunto, de acrdo com exposio de R. OsRIO DE FREITAs(2). Por outro lado, uma srie de morros tabulares a noroeste de Paulo Afonso, atravessando o So Francisco vai encontrar a margem setentrional do vale de sedimentos do norte da Bahia. Obser-vamos, pois, a mudana de direo na difuso dos sedimentos. O res-tante dos morros tabulares referidos estende-se mais ou menos de NE a SW, mas o eixo do vale de sedimentos do norte da Bahia orienta-se de NNW para SSE. Portanto, ambos divergem da direo seguida pelo baixo So Francisco Isto indica que a depresso inferior do So Fran-cisco, que hoje aparece como tal no conjunto do relvo, no constitui uma rea de depresso muito acentuada e certamente s era conside-rada um campo de depresso tectnica num sentido relativo.

    Com relao aos fatos geolgicos, em muitos casos especiais, po-de-se sempre recorrer obra de J. C. BRANNER (3) que registra tdas as investigaes feitas isoladamente Ser, entretanto, muito proveitoso consultar a crtica das observaes publicada por H. GERTH ( 4). Tambm F. MACHATSCHEK expe os prob~emas com muita coerncia(5). No nossa tarefa citar as ltimas e meritrias descries gerais da geologia bra-sileira; referir-nos-emas apenas a alguns dos mais recentes trabalhos isolados. A exposio da geomorfologia do Nordeste, contida no tratado de Geografia do continente, de P. DENIS (6), constituiu, quando de sua publicao, uma obra de mestre em vista do volume dos fatos apre-sentados e da exposio dos problemas. Entrementes, porm, os conhe-cimentos topogrficos foram muito melhorados com a publicao, pelo Conselho Nacional de Geografia, das sries de mapas 1 250 000 e ... 1:500 000, de modo que pelo estudo dstes tambm possvel conseguir melhor vista geral do conjunto. Uma zona estreita do litoral foi exten-sivamente levantada pelo Instituto Geogrfico Militar A srie de ma-pas da faixa oriental da costa, nas escalas 1:25 000 e 1:50 000, pode servir especialmente para fins geomorfolgicos, pois a regio foi re-presentada em isoipsas Excelentes possibilidades para estudos locais proporcionam ainda 4 grandes flhas de 1:25 000, das cercanias de Campina Grande (Paraba).

    So de grande significao para a delimitao geomorfolgica oci-dental do Nordeste, os trabalhos sbre geologia de W. KEGEL(7). O degrau da escarpa da serra Ibiapaba, a saber, a serra Grande, forma cuesta do devonano. Entretanto, na encosta ngreme, em alguns lugares, tam-bm aparece o cristalino que, alis, forma apenas a regio fronteira

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    e o embasamento do devoniano. O degrau da escarpa no alto formado de modo irregular, E:: em alguns pontos desaparece totalmente, como, por exemplo, em Jaics Ao sul dessa localidade desvia-se o limite do devoniano de N/S para NE/SW, tornando-se novamente visvel no re-lvo. Afluentes do Parnaba que nascem a leste da bacia daquele rio, tais como o rio Poti, cortam o degrau em direo ao oeste Nesse ponto o relvo menos acentuado. As nascentes dsses rios achavam-se ou-trora em nvel mais elevado do que o atual. Isto indica que a velha camada de sedimentos paleozicos estendia-se mais para leste e os considerveis sedimentos devonianos existentes naquele local vm com-provar ainda mais ste fato. A formao inicial dessas camadas um conglomerado bsico de origem fluvial. O encadeamento do relvo do cristalino jacente, com diferenas de altitudes de 300 metros, levou KEGEL a concluir que a eroso que se havia processado no escudo bra-sileiro no era devida ao marinha. De acrdo com o mapa 1:500 000, acha-se situada ao sul da serra Grande (norte de Cratus) uma quan-tidade maior de morros isolados, os quais no se sabe ainda se so autnticos morros testemunhos. A mesma questo surge com relao s serras ao noroeste de Sobral. Esto situadas a 40/50 quilmetros, do degrau da serra de Ibiapaba e encimam-nas superfcies extensas e planas. KEGEL verificou que tda a bacia do Parnaba sofreu uma cur-vatura, cujos eixos vo de WSW para ENE. ste fato merece meno porque no Nordeste brasileiro vizinho se formam, na direo, zonas de levantamento e de vales que podem ser consideradas zonas de ar-queamento. Ignora-se igualmente se na regio de cuesta que se dirige para leste ao longo da fronteira do devoniano, alm dos processos usuais de eroso verificados em cuestas no cooperou tambm, originriamente, a tec~nica de falha. Esta questo de muito intersse, porque no Nor-deste brasileiro existe uma srie de alinhamentos que apresentam a mesma direo. Pode-se, pois, dizer que as condies geolgicas e do relvo no rebrdo ocidental do Nordeste tambm explicam a morfog-nese dste.

    Citando P. DENIS, R. OSRIO DE FREITAS em seu amplo estudo do escudo brasileiro e respectivos peneplanos, distinguiu no Nordeste um nvel inferior A (200/300 metros) e um nvel superior B (700/1 000 metros) (9). ste ltimo compreende partes do embasamento cristalino bem como mesas sedimentares. O nvel inferior A considerado post--cretcio no que concerne a desnudao, devendo seu retalhamento coincidir com um terceiro ciclo de eroso. FREITAS relaciona a ste n-vel A a declarao de P. JAMES de que no Cear se deu um dos poucos casos de um peneplain which is still essentially in place se estender para a costa (10). Como se v, isto representa uma restrio importante interpretao de que todo o Nordeste deve ser considerado um pe-neplano in situ. Com relao a DENIS, L BEZERRA DOS SANTOS tambm adota ste parecer restrito (11). Teremos ainda de nos ocupar desta questo.

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  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO 139

    A pesquisa da cronologia dos processos de eroso dificultada, no Nordeste, pelo fato de que s raramente podem ser estudadas as ca-madas que foram formadas correlativamente s eroses ocorridas. Igualmente incerta a datao dos mais antigos sedimentos. Os restos dstes, que ainda existem em forma de mesas e de serras tabulares, foram primeiramente classificados entre os perodos permiano e cre-tcico. Finalmente prevaleceu a opinio de que so depsitos cretcicos. Os depsitos tercirios e quaternrios foram reconhecidos nas proxi-midades da costa. Recentemente O. BARBOSA, baseado num estudo iso-lado, levantou a questo sbre se a existncia de sedimentos no interior no provinha da era Rhat-Lias (12).

    Foi dado andamento favorvel ao exame isolado geomorfolgico regional. A. J. PnTo DoMINGUES exibiu para a flha Paulo Afonso 1:250 000 um mapa que registra vrios nveis de desnudao(13). Estas experincias foram utilizadas num exame mais minucioso que ultra-passou o setor da flha (14). DoMrNGUES interessou-se tambm pelas pe-quenas formas da decomposio por ao meteorolgica que surgem no cristalino. A monografia geogrfica regional sbre a serra Negra (Per-nambuco), publicada por G. OsRIO DE ANDRADE, disserta sbre um pe-queno morro tabular que pertence ao grupo de camadas sedimentares da superfcie situadas ao nordeste das cachoeiras do So Fran-cisco (16).

    J em 1902 F. KATZER teve a ateno despertada pelos inselberge (17). Descreveu le os morros isolados campaniformes, situados no embasa-mento rochoso das grandes superfcies de eroso setentrionais do in-terior do Cear Caracterizam-se como verdadeiros inselberge, que so considerados problema climato-geomorfolgico, especialmente porque nos seus arredores o embasamento rochoso nunca recoberto de uma grande camada de detritos provenientes da decomposio por ao me-teorolgica(18). F. W. FnEISE v nos inselberge das regies scas do Brasil formas resultantes da destruio de morros que outrora surgiram no clima mido tropical como "pes-de-acar" (19). Como S. PASSARGE, que foi o primeiro a formular o problema dsses morros, deu formao e conservao dos inselberge particular importncia, deve-se tomar co-nhecimento da opinio de FREISE, mesmo considerando as suas hip- . teses muito avanadas. Depois que os inselberge e, conseqentemente, os processos caractersticos da desnudao dos climas semi-ridos do Nordeste, tornaram-se conhecidos, foram les includos na definio uni-versal dsse problema apresentada por N. KREBS (20). Recentemente tambm Azrz NAZIB AB'SABER interessou-se pelas questes morfolgicas do Nordeste e fz excelentes comentrios sbre fotografias regionais que apresentam interessantes aspectos do planalto de Borborema (21).

    OS PROBLEMAS GEOMORFOLGICOS DO NORDESTE Embora o Nordeste, sob o ponto de vista geolgico, se apresente

    como uma unidade, isto , como a parte setentrional do escudo brasi-leiro, no se pode, entretanto, esperar que a sua disposio morfolgica

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  • 140 REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA

    atual e a formao gradual da sua superfcie possam ser explicadas por alguns resultados comuns a tda a regio, pois esta polirnorfa Nem se pode dizer que a existncia de escassos restos de mesas sedi-mentares simplificam as pesquisas justamente a disperso dessas mesas sedimentares que suscita questes especficas. Alm disso, os arqueamentos extensos esto em estreita relao com o problema da tectnica regional de falha. A situao atual dos mapas geolgicos ainda no permite esclarecer a contento a influncia que, nas suas modificaes regionais, a composio petrogrfica das formaes cris-talinas exerce sbre eroso e desnudao. Mesmo a difuso da intrusiva ainda no foi to bem compreendida de modo a que a formao da estrutura cristalina pudesse ser avaliada comparativamente pela for-mao de certos acidentes, corno, por exemplo, os inselberge. Depende, porm, de tal comparao entre diversas regies parciais a obteno de resultados satisfatrios. Tambm o mapa geolgico mais recente (22), na composio do qual G. W STOSE pde utilizar trabalhos de AvELINO INCIO DE OLIVEIRA, distingue apenas um precambriano inferior e um superior, entendendo-se por ste ltimo o grau mais baixo de metamor-fose de xistos cristalinos. Todavia, sses xistos mais friveis na sua di-fuso hoje conhecida j parecem indicar algo sbre o desenvolvimento de velhas estruturas, o qual poderia ter experimentado uma certa re-novao na constituio de formaes jovens. Nos trechos central e me-ridional do Nordeste o "precambriano superior" orienta-se de W para E e no trecho noroeste, observam-se cristas de quartzito que se estendem para NNE Mas isto so apenas pontos de refern~ia para a comparao das estruturas mais velhas com os alinhamentos dentro da orografia mais recente. Enquanto P. DENIS ainda acreditava poder explicar a difuso dos "granitos", no novo mapa geolgico mencionado no se fz referncia a sse fato. Numa tal situao conveniente considerar o que os estudos gecmorfolgicos podem conseguir e que, com a quanti-dade de problemas apresentados, ainda ser necessrio restringi-los para que no se faam muitas conjecturas onde j existem hipteses bem fundamentadas.

    1. Classificao das regies, segundo a terminologia clssica -Com base num conhecimento suficiente da orografia e hidrografia do Nordeste, poder-se-iam utilizar os trmos geomorfolgicos em uso, a fim de classificar as formas existentes e fazer assim uma exposio ex-plicativa com o prop3to de indicar, em largos traos, a sua origem Dste modo seria possvel, por exemplo, falar sbre o peneplano ou tam-bm sbre diversos nveis de eroso. A disposio de reas de desnuda-o em patamares, sua separao por grandes diferenas de altitudes em reas reduzidas e o grau da dissecao poderiam ser discutidos, bem como os maiores ou menores morros e serras tabulares Mas acima disto est, por exemplo, a pergunta, difcil de ser respondida, se as reas de desnudao que recobrem o cristalino tambm so encontradas nas sries de morros tabulares em altitudes idnticas Igualmente di-

    Pg 3 - Ablil-Junho de 1958

  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO

    NORDESTE BRASILEIRO ESBO GEOMORFOLGICO

    r:.-~)' O mais a/lo n/vel L L Plana/lo Supert"or da Borborema

    Plana/lo ln(enOr da Botborema Regia-o deP/cu/ferosdo ~celerada) Escalonamenfo d1Ssecado ~asuperft/e deapla/namen/o(zond dollfordl onen!a/)

    \ \

    Superh/e crJ~!a/lna da plafcforma coste1ra set~tr/ond!

    5uperhe de eroscio ;n!rdmon!ana

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    Pg. 9 - Abril-Junho de 1958

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    Superf/e de aplarnamenlo no vale do So Francrscu c afluentes

    Chapadas

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    Km

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    fcil explicar conclusivamente se nos rebordos dos morros tabulares existem falhas e se estas so apenas cuestas formadas pela eroso, quer as mesas sedimentares sejam inclinadas, quer sejam mais ou menos horizontais. As falhas em geral s podem ser determinadas com preciso quando tiverem atingido sedimentos ou ento camadas petrogrficas suficientemente diferenciadas. Nas formaes cristalinas a sua desco-berta muitas vzes s possvel depois de muita pesquisa, mesmo ha-vendo esclarecimentos suficientes a respeito. Todavia, todos os pontos de vista contidos nos trmos geomorfolgicos gerais devero ser en-carados

    2 A relao gentica das regies. -Se, com fundamento em um exame das formas existentes, a diviso regional foi definida com mais preciso, pergunta-se qual a posio gentica das diversas regies no quadro geral do desenvolvimento das formas no Nordeste e qual a re-lao entre uma e outra quanto sua evoluo A meta ainda distinta chegar-se aos poucos a ste conhecimento. Mesmo nas regies geomor-folgicas bem exploradas da Europa Ocidental e Central, com hesi-tao que se relacionam gentica e cronologicamente as superfcies de desnudao separadas umas das outras. Em parte faltam as ligaes entre camadas correlatas que se depositaram nos nveis mais profundos durante a desnudao, em parte a epeirognese provocou concavidades e convexidades de dimenses to diversas que as altitudes, de nveis se-parados entre si, no podem servir de critrio para eventuais associaes cronolgicas No se trata de considerar o levantamento de nveis e a sua dissecao como uma simples sucesso de fatos, mas deve-se ter em mente que a fragmentao j comea com a elevao. No Nordeste acontece ainda que os grandes territrios erodidos ao longo dos rios no s avanam para o interior tanto na largura quanto no comprimento, mas continuam ainda hoje a sofrer o processo de desnudao Os pro-cessos de aplainamento ainda se acham em ao Por outro lado, h antigos nveis de aplainamento que j esto dissecados e, portanto, no mais sujeitos eroso, constituindo hoje formas de destruio que se foram adaptando, lenta e verticalmente para baixo, a um nvel mais profundo Alm disto, evientemente, existem nveis de desnudao de altitude mdia, nos quais, como parcialmente em nveis inferiores do embasamento cristalino, ainda continua o processo de desnudao. Tudo isto dever ser tomado em considerao ao proceder-se a um confronto das plancies. No Nordeste francamente favorvel o fato de que a disposio das superfcies de aplainamento segundo a sua extenso, as transforma parcialmente em "horizontes de referncia" e passam a servir de ponto de referncia ao invs da estratificao.

    3. Estudo dos processos de eroso -No caso de serem muito com-plexos os trabalhos para a pesquisa das relaes interregionais, so de grande importncia as observaes levadas a efeito em pequenas reas. Ao invs das experincias cronolgicas e de classificao, ocorre uma

    Pg 10 - Ablll-Junho de 1958

  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO 143

    observao funcional dos verdadeiros acontecimentos que ainda se de-senrolam em desnudao e eroso. Como a concepo de "desnudao" e "eroso" diferente nas diversas escolas geomorfolgicas, para a com-preenso dste trabalho fica determinado o seguinte: por "desnudao" entende-se aqui a destruio das superfcies; por conseguinte, ela pre-cedida da decomposio por ao meteorolgica das rochas prximas superfcie. Estuda-se como o material resultante dessa decomposio se movimenta sbre a superfcie. Fala-se, ento, no caso de regies pe-riodicamente scas, de carreamento, se bem que tambm ste processo se possa diferenciar em seu curso. Por "eroso" entende-se, em primeiro lugar, o escoamento dos detritos em linhas fluviais, o qual por sua vez pode tornar mais profundos os leitos dos rios. Existindo grandes siste-mas orogrficos - que o caso no Nordeste brasileiro - os detritos que provocam a desnudao da superfcie movimentam-se em direo aos leitos dos rios, donde continuam a ser transportados aceleradamente no curso da eroso. O transporte tambm se faz em pequenas escava-es, quer sejam gargantas, quer sejam sulcos das encostas. Esta parte das pesquisas geomorfolgicas, bem como o que diz respeito desnu-dao e eroso, consiste, pois, no estudo intensivo dos pequenos aci-dentes e formaes, que no seu conjunto criam as grandes formas. S dste modo possvel chegar mais perto da soluo dos problemas no que se refere gnese das formas, problemas stes apontados sob os itens 1 e 2.

    4. Influncia do clima.- Mesmo stes estudos pormenorizados en-contram certas dificuldades, pois pressupem a necessidade de mapas topogrficos em grande escala. H, porm, ainda outras circunstncias a considerar. A decomposio por ao meteorolgica e a eroso esto condicionadas a certos fatres climticos. Em geral so conhecidas as relaes fundamentais: a mudana das estaes sca e mida cria uma alternncia repetida de decomposio por ao meteorolgica e transpor-te dos detritos. Em compensao, no Nordeste, no h os efeitos das gea-das. Mas a escassez de nuvens no perodo das scas ocasiona uma in-fluncia mais ativa do sol sbre a decomposio das rochas. Entretanto, as condies climticas gerais dos processos geomorfolgicos ora des-critos no so idnticas para tda a regio. No se trata aqui apenas da transio da costa oriental mida no inverno para o interior pe-riodicamente muito sco do Nordeste. Nas regies scas alternncia dos processos de decomposio por ao meteorolgica e de eroso ainda mais acentuada pelas irregularidades peridicas do clima.

    No momento, entretanto, o que se tem em mente a divergncia do clima no interior do Nordeste. As regies mais scas formam uma zona curva - a curva est aberta para NW - que partindo do Rio Grande do Norte, especialmente do trecho de Moor e Macau, atravs de Currais Novos, Cabaceiras (Paraba) e Sertnia (Pernambuco), atin-ge a depresso do So Francisco com Cabrob e Juzeiro. Em frente a esta zona curva ainda se estende a SE, entre Po de Acar (Alagoas) Pg 11 - Abril-Junho de 1958

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    e Caruaru (Pernambuco), uma cadeia de pequenas ilhas ridas. Uma regio mais mida e alta separa essas ilhas ridas da extensa zona sca central Tambm para NW estende-se diante desta zona uma regio maior, extremamente sca, que vai at a parte oriental do estado do Cear e comea ao norte, mais ou menos na regio de Cratus. Tambm neste caso uma srie de planaltos mais midos separa a zona rida central da regio sca acima indicada sses planaltos comeam na rea de Fortaleza, seguem em direo ao sul e unem-se serra do Araripe junto ao Crato. Sem sses planaltos, poder-se-ia supor que todo o in-trior entre Macau e Juzeiro, bem como entre Cratus e Po de Acar, seria uma nica regio rida com apenas alguns perodos de chuvas As causas m2teorolgicas dsses perodos, bem como das temidas es-tiagens, no so focalizadas neste trabalho. Em compensao, a subdi-viso climtica da regio, sucintamente descrita, desperta intersse ela um fenmeno da diviso tridimensional da regio e est em re-lao com a orografia. Por isto, tambm durante a estao da sca propriamente dita, freqentemente aparece, principalmente no C2ar, um nevoeiro tnue pela manh, que conserva a umidade das encostas de morro mais elevadas. Nestes casos h nos planaltos regies perma-nentemente midas, ao passo que ao p dos morros domina a sca ste fenmeno tambm ocorre no interior, por ex, na serra da Baixa Verde, em Triunfo (Pernambuco) As encostas nestes casos apresen-tam muitas vzes um barro vermelho e pode acontecer que pela manh escorram gua em conseqncia da umidade A zona rida estando dste modo climticamente dividida desde que existam elevaes, a decompo-sio por ao meteorolgica e a eroso tambm devem passar-se di-versamente, de acrdo com o grau de umidade e de sca nas diferentes regies e altitudes, e contanto que dependam de condies climticas Alm disso, as condies das sries de colinas durante a estao chuvosa podem ser tais que as zonas vizinhas ao p dos morros ficam mais mi-das, como acontece ao norte da serra do Araripe A comparabilidade dos fenmenos geomorfolgicos do NE, tais como a decomposio por ao meteorolgica, a eroso, e as camadas correlatas e formas de de-talhe resultantes, fica um tanto restrita, pela subdiviso climtica, para a obteno de conhecimentos gerais Segue-se disto que preciso contar com certa variabilidade nas diferentes regies. Conseqentemente, em virtude dessas causas climticas s resta fazer o estudo geomorfo-lgico a comear da base, isto , partindo das observaes das regies

    5 A questo da mudana de clima - O fato de que se deve con-tar com mudanas de clima no passado, constitui mais uma complica-o. Considerando a reao sbre os trpicos das pocas frias e inter-glaciais pleistocnicas nas latitudes temperadas, deve-se perguntar, por exemplo, se a terra vermelha disseminada no interior em forma de ilhas, unicamente o resultado da maior umidade regional no presente, ou se essas ilhas so resduos de uma camada de terra vermelha muito extensa que j foi erodida em certos trechos. Com a queda eusttica

    Pg 12 - Ablil-Junho de 1958

  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO 145

    do nvel do mar durante as pocas frias do pleistoceno, o litoral avanou considervelmente em direo ao oceano. Levanta-se, assim, a questo de saber se em virtude dste fato a zona sca do interior se alargou mais pa-ra leste. Os recifes da costa oriental no so formados apenas de corais, mas tambm de depsitos calcrios da era quaternria, havendo, por-tanto, a possibilidade de aparecerem crostas calcrias, formao tpica dos climas secos, desde que o terreno seja de natureza calcria. Seria necessrio verificar exatamente se isto no proveniente de uma ex-panso da zona sca durante o pleistoceno na atual regio litornea oriental Se, porm, o clima atual pudesse ter prevalecido durante de-terminados perodos do pleistoceno, no seria ento admissvel a influ-ncia contnua de fatres climticos invariveis. Apenas podemos ano-tar isto no momento, mas a circunstncia ventilada deve ser tomada em considerao para no se chegar a concluses errneas no estudo dos processos de eroso, pois, sob a ao de mudanas de clima, os aci-dentes do solo e as formas de detalhe podem ser recentes ou fsseis

    A DIVISO OROGRFICA E HIDROGRFICA DA REGIO A ao do clima sbre a decomposio por ao meteorolgica e

    eroso principalmente estudada nas formas de detalhes. Do mesmo modo tudo se realiza nas formas maiores que, afinal, derivam em pri-meiro lugar de uma transformao tectnica do relvo. A epeirognese e a movimentao de blocos criam as diversidades de relvo no qual se processam a decomposio por ao meteorolgica e eroso j durante os movimentos em direo vertical. O resultado terico seria a remoo total das novas diferenas de altitude e, por conseguinte, a criao de um peneplano mais ou menos regular, que, no nosso caso, est situado altura do nvel do mar, mas vai pouco a pouco, subindo da costa para o interior do pas At que ponto ste o caso no nordeste do escudo brasileiro ainda deve ser estudado. Isto resulta de uma simples reflexo 1. - O montante da eroso em direo vertical no conhecido nas regies centrais do Nordeste, nem do post-mesozico, pois os remanes centes das camadas sedimentares so muito pouco extensos para que se possam tirar concluses, no obstante a idade dessas camadas e, portanto, a eventualidade de serem da mesma idade, ainda no ter sido estabelecida 2 - O montante do levantamento durante a era terci-ria em sua diferenciao regional tambm no foi ainda estabelecido. Encontramo-nos, pois, comparativamente, na situao de querermos calcular duas incgnitas com o auxlio de apenas uma equao mate-mtica. De acrdo com essa teoria, o relvo atual corresponderia equao apresentada em primeiro lugar, na qual se oferecem duas gran-dezas incgnitas Seria naturalmente possvel considerar tericamente para os sedimentos mesozicos um nico peneplano como rea de de-psitos e, portanto, como fase final do desenvolvimento. Ter-se-ia, pois, uma rea de referncia "zero" que foi de fato aplicada na geomorfologia antiga. Mas para evitar que um dogma terico tenha influncia sbre os resultados finais, deve-se perguntar quais as circunstncias pr e

    Pg 13 - Abril-Junho de 1958

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    contra uma tal considerao. Para ste fim o melhor ser comear com o estudo das atuais condies orogrficas e hidrogrficas.

    1. O nvel mais elevado. - Os limites dos estados do Nordeste fo-ram traados essencialmente segundo o princpio dos divisores de gua. Pela observao do seu curso pode-se, pois, ter uma idia da orografia. O relvo muito varivel na sua direo e disposio estampa-se nesses limites que se movimentam em linha sinuosa. Note-se o estreitamento do estado da Paraba na altura de Patos, onde os limites do Rio Grande do Norte e Pernambuco ficam relativamente muito prximos. Especial intersse merece o trecho a oeste dos limites do norte de Pernambuco, onde se enfileiram os mais altos nveis do Nordeste, mais ou menos na direo W /E. O trecho a oeste da srte de morros tabulares de Araripe alcana 1 020 metros. At ao sudeste de Crato a serra limtrofe desceu de um ponto culminante at 915 metros. Continuando o seu curso, torna a alcanar 1 060 metros em Triunfo A serra ento inflete-se para NE e eleva-se a 1 090 metros no Pico de Jabre a sudoeste de Teixeira. preciso ressaltar que no somente a rea da Chapada do Araripe no deve ser considerada como uma superfcie de desnudao, pois, j os acidentes estruturais da formao, isto , os sedimentos muito rasos, tornam compreensvel que ela seja encimada por uma plancie quase horizontal, como tambm a serra da Baixa Verde apresenta extensas plancies, num nvel entre 900 e 1 000 metros. Como nvel mais elevado consideramos aqui somente aquela parte da cordilheira formada de rochas cristalinas (cf. esquema cartogrfico). Um outro nvel muito elevado que corresponde ao que acaba de ser descrito, acha-se separado dste, visto como a serra de Teixeira, com a qual termina a leste o nvel mais elevado, s continuada em nveis mais baixos, a saber, de um lado, no divisor de guas dirigido para o norte entre o rio Paraba e o sistema do rio Piranhas, de outro lado, na direo ENE no planalto superior de Borborema.

    A segunda parte do nvel superior comea na rea de Arcoverde (Pernambuco). Dste local, a zona do desfiladeiro ainda sobe em di-reo a Pesqueira, dominada por um cume de 1100 metros, donde o nvel elevado segue em direo SE e termina no planalto de Garanhuns numa altitude de mais ou menos 900 metros (fig 1). Alis, a ligao entre Arcoverde e Garanhuns j foi algum tanto desfeita dos dois lados por eroso regressiva. As correntes fluviais da bacia do Ipanema descem para o So Francisco; o rio Una e seus afluentes desguam a leste. Dste modo, no lugar do planalto ergue-se, mais ou menos no centro, entre Arcoverde e Garanhuns, uma srie de morros divisores d'gua que vo de NNE para SSW.

    Quanto ao nvel mais elevado, ste se divide em duas seces, uma ocidental e uma oriental, e, apesar das interrups observadas em v-

    Pg 14 - Abril-Junho de 1958

  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO 147

    rios pontos, os trechos de Arcoverde e Garanhuns pertencem parte oriental. A parte ocidental compreende, portanto, a serra de Teixeira e a oriental a serra de Arcoverde.

    Flg 1 - Trecho do nvel mais elevado em Garanhuns (Pernambuco), com 900 metros Os vales estenaem-se em vastas depresses at o planalto

    2. O declive para a depresso do baixo So Francisco. - Os mais altos nveis estendem-se da serra de Araripe at Garanhuns, se bem que interrompidos em alguns pontos. Ao sul, a uma distncia de mais ou menos 130 quilmetros, encontra-se a depresso do baixo So Fran-cisco J frisamos acima que o extenso vale dste rio s considerado uma verdadeira depresso num sentido relativo. Observando-se mais de perto a srie de elevaes que aparece entre a serra de Araripe e o planalto de Garanhuns, e que igualmente segue o curso do rio, ve-rifica-se que ela toma direes muito diferentes. Aparentemente, portanto, a mesma direo seguida pelo vale e elevaes que o acom-panham ao norte, constitui um efeito secundrio e, por conseguinte, recente dentro da atual conformao do relvo. Entretanto, sempre subsiste uma espcie de declive desde as elevaes at o baixo So Francisco.

    Da foz at o cotovlo fluvial de Cabrob, a depresso do So Fran-cisco pode ser encontrada at 310 metros (nvel do rio). Esta depresso constitui uma rea de rochas cristalinas, em que as mesmas se apre-sentam freqentemente a descoberto. DoMINGUES mostrou como esta depresso acompanha o curso do rio em degraus claramente reconhe-cveis. Aqui e ali erguem-se inselberge como testemunhos de nveis des-locados para trs ou para baixo (fig. 3). Da seco oriental do nvel Pg 15 - Abril-Junho de 1958

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    mais elevado acima descrito, segue o declive localmente diverso J a soleira do So Francisco em Paulo Afonso indica que a depresso atravessada por linhas tectnicas O ca'fon a jusante das quedas mos-tra que a soleira principal foi deslocada para trs em linha reta, no mnimo 50 quilmetros, desde que ali tiveram incio processos de le-vantamento transversais depresso 12 quilmetros a montante das quedas, o vale do rio segue entre os remanescentes de duas sries de morros tabulares que se elevam at 600 metros. A escavao resultante da fra erosiva do rio neste local de 400 metros no mnimo Pequenas sries de morros tabulares mais ou menos isolados juntam-se em direo ao norte, anexando-se assim zona de levantamento do mais alto nvel, na rea de Arcoverde A altitude das sries de morros tabulares, porm, no alcana o nvel mais elevado A oeste e noroeste desta srie de morros tabulares situa-se um grande nmero de serras isoladas, ao p das quais se estendem plancies mais ou menos vastas Uma plancie maior que margeia o rio Paje de ambos os lados, segue do rio So Francisco para o norte, atravessando Floresta at a serra Talhada Assim foi alcanado o sop da srie de elevaes onde fica a parte oci-dental do mais alto nvel Uma diferena de altitudes muito pronun-ciada do relvo separa o mais alto nivel, das plancies ao p da serra Talhada Das reas m1:1is baixas da extensa plancie que margeia o

    Fig. ?. - Va,te 11e/lw e disse0odo elo 7io Ipoj1wa ( 800 m) na sana ele clesfilaclci10s cni:l c ;l1 co l'e,cJP c Pesquei? a r Pen1a1nlJucn1 No lthno plano unza cacleia elos nveis mais elevados, di?eo

    ENE, 1 000 metros Fot Czajka 9 626

    Pg 16 - Abiil-Junho de 1958

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    rio Paje saem ramificaes laterais, as quais atravessam os diversos morros situados na regio fronteira ao mais alto nvel.

    Ao p da serra Talhada no terminam as plancies, a saber, os largos fundos de vale. Com o rio Paje elas se voltam para ENE, para dentro da ponta de terra de Pernambuco, com a qual ste estado penetra no territrio da Paraba. Uma plancie extensa bifurca-se ento em direo a Custdia e aproxima-se do divisor de guas, em Sertnia. Na verdade, entre Floresta e o divisor de guas, na Paraba, elevam-se pequenas serras acima do embasamento rochoso da plancie. digno de nota porm como a se ampliou, para os lados, um antigo fundo de vale formando uma rde de plancies intramon-tanas, ou, ento, sob a influncia de tectnica de falha, sbre uma rea outrora mais ou menos contnua formou-se um relvo uniforme Pro-vvelmente, sses dois fatos contriburam para a formao dsses aglo-merados de serras e plancies. Deve-se notar que em Sertnia as pla-ncies no so dominadas de modo marcante por elevaes como na serra Talhada. A passagem atravs da serra divisora de guas em di-reo a Monteiro, e, por conseguinte, at o planalto de Cariri, a partir de Paraba, efetua-se aos poucos por subidas e descidas Os morros li-mtrofes na verdade ainda alcanam altitudes de mais de 700 metros, mas em confronto com as elevaes que os cercam parecem insignifi-cantes. A sua altitude mdia de 150 metros no mximo. Encontramo--nos na zona que separa as seces ocidental e oriental do nvel mais elevado acima descrito. Tomando-se em considerao que as plancies de Cariri- onde se desenvolve o rio Paraba- se estendem para alm da referida serra limtrofe, torna-se ento provvel que esta zona de separao dos dois nveis mais altos pertena a uma extensa e estreita faixa de terra, onde a intensidade de levantamento era inferior das reas de ambos os seus lados. Esta faixa se estenderia mais menos de Campina Grande at a rea da serra Talhada e Floresta, alcanando assim a depresso do mdio So Francisco. A existncia de vales atra-vessando as serras que se elevam sbre as plancies entre Sertnia e Floresta, leva suposio de que a rde de rios se desenvolveu do nvel dos cumes das serras atuais para baixo: houve uma eroso conside-rvel em direo ao So Francisco, alargando-se ento a rde de vales em amplas plancies. A grande zona de depresso entre Cariri e o mdio So Francisco no tem relao com o nvel das atuais plancies do Paje, mas com um nvel mais elevado e fechado que s mais tarde se transformou em serras isoladas e vales extensos. O rio Paje que se estende muito para ENE, indica o sentido da depresso. Para alm do divisor de guas, no Paraba, portanto em Cariri, as plancies ainda formam uma rea indivisa. S em ambos os lados do rio Paraba so reconhecveis, no mnimo, dois velhos fundos de vale que se dispem um acima do outro como terraos de eroso. Os rios Paje e Paraba ficariam, pois, na mesma rea de depresso. No h aqui absoluta-mente a inteno de afirmar, com base nas circunstncias acima, que o curso do So Francisco no incio da era terciria, a partir do seu

    Pg 17 - Abril-Junho de 1958 2- 26674

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    cotovlo em Cabrob, tenha seguido para o Paraba atravs da zona de depresses do Paje A fim de demonstrar ste fato, seriam neces-srias outras caractersticas O cotovlo incomum do So Francisco, porm, indica um desvio que deve ser observado em relao com mo-vimentos tectnicos.

    Voltemos descrio do declive do mais alto nvel para o So Fran-cisco. Foram mencionadas trs diferentes formas de declives as pla-ncies de ambos os lados do rio Paje, entre a serra Talhada e Floresta. que passam diretamente, se bem que em degraus, para a depresso do So Francisco, a oeste daquelas plancies a zona das serras isoladas circundadas de plancies menores, e a sudoeste dessa zona, a regio das sries de morros tabulares que se apiam na zona de levantamento de Arcoverde e ainda continuam para alm do So Francisco. O modo pelo qual o nvel de Garanhuns desce at o baixo So Francisco no pde ser observado na prpria regio. O mapa mostra, por meio de uma srie de rios de planalto de curso normal, ter havido um forte desdo-bramento por vales em direo base de eroso representada pelo So Francisco.

    Flg 3 - S1Lperfcie de desn1Ldao no Riacho da Gamboa a s1Ldeste de Pa1Llo Afonso (depresso do So Francisco) Kr cha ruim f J'me com sinais de eroso e decomposio por ao meteoro-

    lgica no primeiro plano, "inselberge" no ltimo plano Fot Czajka 9 529

    3. A.s plancies intramontanas nas zonas dos 1ios Jaguaribe e Piranhas. - Enquanto na parte meridional do Nordeste predominam, na orografia e hidrografia atuais, as direes N/E, relativamente WSW IENE, na parte setentrional prevalece principalmente a direo NNE. Isto tambm acontece nas duas principais artrias de desagua-

    Pg 18 - Abl!l-Junho de 1958

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    menta, o Jaguaribe e o Piranhas. A foz do Piranhas est afastada 250 quilmetros, em linha reta, do divisor de guas oriental, isto , do mais alto nvel, e a do Jaguaribe 380 quilmetros. Dste modo pene-tram profundamente no interior da regio Assim, a zona culminante do arqueamento, representada pelo mais alto nvel aqui descrito, apa-rece como o principal divisor de guas. Os cursos dsses dois rios unem--se num trecho inferior, onde atravessam a larga plataforma seten-trional da costa, e num trecho ainda mais longo e intramontano Per-correndo-se a regio, naturalmente a posio intramontana do curso mdio e, em parte, nem mesmo a do curso superior, destaca-se nitida-mente desde o incio, pois os rios so margeados por amplas plancies desde a platafcrms. da costa, e atrs do rebrdo montanhoso do norte as plancies alargam-se muito para os lados.

    As plancies intramontanas esto separadas do terrao da costa por uma cadeia de elevaes, que se orientam mais ou menos de oeste para leste Os rios, na sua travessia, cortam a srie de serras perifricas setentrionais em biocos isolados. A este a moldura setentrional de ser-ras comea com a de Santana, que uma srie de morros tabulares Do outro lado do vale do Piranhas encontram-se a serra Joo do Vale, a regio montanhosa de Patu, considervelmente recortada em vales, e a srie de morros tabulares de Martins. Entre a regio montanhosa de Patu e a serra de Martins a plancie da costa s toma muito im-perfeitamente o curso para o sul. Entre a serra de Martins e as encostas setentrionais da serra do Camar emerge o rio Apodi em direo costa. ste rio que corre para o mar entre o Piranhas e o Jaguaribe, anexou a si, intramontanamente, apenas uma regio desnudada de extenso limitada, mas repete-se aqui, em Pau dos Ferros, em ponto pequeno, o fenmeno das plancies e regies desnudadas intramontanas alargadas em bacia, fenmeno ste que aparece em grandes propores na zona dos sistemas fluviais mdios do Piranhas e, em parte, tambm do Jaguaribe. Seguindo por entre as serras do Amar e Baturit, o vale do Jaguaribe alcana a plataforma da costa. Nesse vale tem-se a im-presso de que o rebrdo setentrional das serras fronteiro ao litoral formado em tda a sua extenso por uma srie de depsitos. A serra de Martins, por exemplo, eleva-se abruptamente na superfcie rochosa ao p das serras da regio circundante.

    No interior, as regies fluviais do Piranhas e Jaguaribe so limi-tadas lateralmente por um grupo de serras que se unem em direo N /S. Assim, do rebrdo setentrional partem serras divisoras de guas para o sul, at as elevaes sbre as quais assenta o nvel mais elevado A serra de Santana assim ligada de Teixeira por uma cadeia de serras esparsas que constituem um divisor de guas entre o Paraba e o sistema Piranhas A leste daquele divisor de guas ficam as pla-ncies de Cariri, que se estendem at Campina Grande; a oeste encon-tra-se a grande plancie intramontana de Patos e Caic, onde se levan-tam alguns inselberge e sries de inselberge. Nessa rea os afluentes do Piranhas espraiam-se para E e W, formando uma espcie de bacil:l

    Pg 19 - Abrll-Junho de 1958

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    cuja extenso de W e E de mais de 200 quilmetros e que com as suas plancies fica abaixo de 300 metros, ao passo que ao seu redor se elevam serras que freqentemente apresentam nveis planos de 800, 900 e mes-mo 1 000 metros (fig. 9). Ainda intramontanamente, o Piranhas, vol-tado para a costa, transpe o isoipso de 100 metros. As grandes plancies rochosas inclinam-se, pois, para o mar e apresentam um terraceamento pouco visvel. A julgar pela altitude, so continuaes da plataforma da costa que sobe para o interior, mas depois se une s plancies ro-chosas centrais e baixas de Jardim do Serid, Patos, Pombal e Antenor Navarro por meio dos vales do Piranhas, de quase 10 quilmetros de largura. As serras que emolduram o divisor de guas oriental possuem wind gaps e cristas distintas, de modo que possvel concluir ter exis-tido uma antiga rde hidrogrfica antes da elevao do referido di-visor de guas. Para alm dste ficam atualmente as plancies de Cariri de 2-300 metros m2.is elevadas que as plancies centrais do sistema Piranhas.

    Flg 4 - Decomposio por ao meteorolgica do gtanito por hidratao e reduo a cascalho sob a ao do sol e do lquen Eroso por estoliao e eroso direta T1 echo da rocha ruinitorme

    no rio da Gamboa; ct fig 3 Fot Czajka 9 524

    O divisor de guas entre o Piranhas e o Jaguaribe formado pelas serras que se juntam do Camar ao sul, a saber, as serras do Padre, So Gonalo e Arar. Com esta ltima a cadeia se une extremidade oeste da chapada do Aral'ipe. Nessa cadeia passa o limite entre Cear de um lado e Rio Grande do Norte e Paraba do outro. So essas serras tambm freqentemente encimadas por remanescentes de superfcies planas a uma altitude de 600-800 metros. Enquanto o Piranhas segue

    Pg 20 - Abril-Junho de 1958

  • ESTUDOS GEOMORFOLGICOS NO NORDESTE BRASILEIRO 153

    por entre serras de E para W, o Jaguaribe alarga o seu leito para oeste. Ao S as suas plancies alcanam o ngulo situado entre as serras de Araripe e Arar. A SW atrai para a sua esfera plancies situadas em frente ao terrao devoniano da serra Grande. Ao norte, porm, ste degrau cortado em direo a W pelo rio Poti que vem da rea de Cratus. A regio fronteira serra Grande tambm escoa em parte para o rio Paraba. A regio montanhosa fronteira a Cratus fechada por um nmero maior de serras do lado da regio do Jaguaribe mdio, serras essas que formam uma grande curva aberta para E. Esta curva apia-se ao norte na serra de Baturit, onde comea com a serra do Machado, seguindo atravs da serra das Matas e muitas outras em direo ao sul at a serra de So Domingos. No alto dessas elevaes h peneplanos extensos, como o da serra de Baturit a quase 700 metros e os das serras do Machado e Matas a 500 metros Na rea formada pela curva aberta para oeste das serras referidas, encontram--se duas reas baixas de eroso, ligadas ao sistema Jaguaribe. A rea do norte drenada pelo rio Quixeramobim e a do sul pelo rio Mombaa. Ambas no tm a mesma extenso das plancies intramontanas situa-das no sistema Piranhas central. As duas zonas ocidentais de afluentes do Jaguaribe so separadas pelas serras de Santa Rita, de 600 metros, a qual encimada por uma extensa superfcie plana.

    4. Pene plano litorneo setentrional. - (Leste do Cear e Rio Grande do Norte). A costa setentrional do Nordeste situada a leste do meridiano de Fortaleza, estreita-se, de W para E, de 220 quilmetros para 80 quilmetros. Seus limites ao sul constituem as serras perif-ricas setentrionais. A W comea a plataforma da costa ao p das serras Maranguape, Baturit e Estvo. A tambm entra um rio indepen-dente na zona costeira, antes de desaguar no Jaguaribe. A noroeste mais uma srie de cursos fluviais independentes, seguindo o declive, corre diretamente para o oceano. Assim, o relvo da costa ocidental organiza-se em um sistema de divisores intermdios de vales. O emba-samento constitudo de rochas cristalinas. Ao longo das reas fluviais encontram-se depsitos desagregados, ao passo que nos divisores in-termdios de vales freqentemente erguem-se pequenas elevaes e rochas desnudadas. Como conseqncia do levantamento tectnico da serra Baturit, que tem as caractersticas de um horst, a plataforma da costa foi novamente desdobrada em vales em direo a NE e, final-mente, ficaram visveis divisores rochosos intermdios de vales, entre os quais se acumularam depsitos desagregados.

    No curso inferior do Jaguaribe desaparece o cristalino da super-fcie e mergulha para E. Em seu lugar aparece a grande mesa calcria de origem cretcea, que com as suas reas uniformes se eleva, para o interior do continente, a um pouco mais de 200 metros. Mais adiante, na regio fronteira s serras de Martins e Santana, a mesa calcria entra em cunha para o sul, de modo que sempre fica uma larga faixa de cristalino formando a zona da base do morro propriamente dita.

    Pg 21 - Abril-Junho de 1958

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    possvel que a camada sedimentar da serra de Santana seja constituda de sedimentos da mesma idade que os da mesa calcria na zona cos-teira Isto seria uma indicao geolgica da tectnica de falha que levantou as serras perifricas setentrionais fronteiras plataforma do litoral. A mesa calcria baixa cortada pelos rios em vrias seces. O trecho mais ocidental o mais extenso. a chapada do Apodi entre Jaguaribe e o rio Apodi. A oeste de Au um penhasco de arenito cal-crio indica que a abraso martima tambm colaborou no afundamen-to da mesa da costa Como em muitos trechos da mesa calcria no existam linhas fluviais, vem-se a verdadeiras superfcies planas Nesses trechos vrias circunstncias concorrem para a formao de plancies e sua conservao, a saber, a posio quase vertical das ca-madas, o fato de os largos divisores intermdios de vales no serem cor-tados na parte central em conseqncia da permeabilidade das rochas, e, possivelmente, tambm o efeito da abraso martima. No se tratar aqui da disposio da linha costeira prpriamente dita com as suas aluvies.

    Flg. 5 - Area de desnudao ao sul de Paulo Afonso Vale que ainda pertence ao nivel e no pode ser conside1ado como um 1etalhamento dste O 1ebrdo rochoso do vale a forma

    emb1ion1ia de 11ma 1ocha 1Uini!o11ne Linear Fot Czajka 9 707

    5 A zona litotnea ocidental tem aspecto essenCialmente dife-rente do da plataforma costeira do norte A linha da costa, prpria-mente dita, apresenta cabos rochosos alternados com desaguadouros deslocados para o N, alm de zonas de ressaca e mangues Para o in-terior do continente encaixam-se esturios, e material quaternrio e tercirio recobre superfcies de abraso a pequena altitude. Logo aps, porm, emerge a oeste o cristalino recoberto de uma imensa camada

    Pg 22 - Abtil-Junho de 195a

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    de terra vermelha proveniente de decomposio por ao meteorol-gica, que s nas regies mais a leste tomou o carter de sedimento em conseqncia das deposies circundantes. Dali em diante a regio se eleva, em degraus, para o interior. A oeste de Recife so trs os degraus, mais ou menos a 130 e 260 metros, e em seguida a 400-500 metros. Todos sses degraus so muito recortados. Dos nveis que poderiam ser re-constitudos, s existem restos A formao em degraus mais para o sul tambm se evidencia pela existncia de muitas quedas nos rios que descem do planalto de Garanhuns. No percurso do rio Munda at quase Macei (Alagoas) encontram-se muitos penhascos.

    A leste de Pernambuco a elevao menos pronunciada, pois ali a regio, como j foi descrito, s culmina no desfiladeiro entre Pl's-queira e Arcoverde, isto , bem para o interior do continente. Nesta~: regies mais elevadas do interior de Pernambuco nascem alguns rios (Una, Ipojuca, Capibaribe). Ao passo que nas proximidades do litoral o relvo se dispe em nveis escalonados e recortados, o terceiro terrao referido e, talvez, plancies mais amplas seguem vale acima como se fssem velhos fundos de vale recortados At onde alcana a vista sses velhos fundos de vale constitUEm predcminantemente terraos rocho-sos Deve-se, porm, continuar a pesquisar no sentido de verificar se h remanescentes de camadas de detritos na superfcie dsses terrenos O alto Ipojuca precipita-se do mais elevado e antigo fundo de vale, acima de Pesqueira, numa ntida soleira que tem o aspecto de uma cachoeira dessecada, e alcana a atual linha do vale de Pesqueira O fundo de vale elevado tem a 800 metros de altitude. Alis, em sua descida, parece o vale ter sido previamente assinalado como fossa fa-lhada que continuaria quase at Gravat A j nos encontramos na regio do fundo de vale de 450 metros que at Caruaru se eleva a 550 metros. ste fundo de vale e o acima mencionado no tm ligao direta entre si, mas esto superpostos Ao norte dste vale extenso, at as serras nos limites com o estado da Paraba, a regio acha-se igualmente disposta em degraus e vales Isto prova que, como acontece com o vale do Ipojuca, os nveis baixos e retalhados da zona prxima costa so substitudos, mais para o interior, por nveis intermdios em forma de velhos fundos de vale. Alis, mais abaixo, tambm podem aparecer largos terraos fluviais, como o caso do vale de Goiana.

    Para alm das serras das fronteiras da Paraba tambm existem, ao longo do vale do rio do mesmo nome, velhos terraos de eroso. O Paraba corre junto ao rebrdo do sul da rea rochosa do Cariri Em contraste com os rios de Pernambuco, que penetram profundamente no continente, na Paraba os nveis baixos e retalhados comeam s-mente no rebrdo do planalto de Borborema Tambm a se encontram degraus retalhados, porm, sses nveis baixos, s abrangem uma zona relativamente estrei,ta. eroso regressiva dos rios de planalto em geral no foi possvel destruir o rebrdo visvel do planalto que descai para este. Milis para o norte os nveis perifricos escalonados so substi-tudos por pequenas serras ou morros isolados fronteiros ao rebrdo

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    do planalto, principalmente nas regies scas do Rio Grande do Norte. Entretanto, degraus de nvel mais baixo introduZ/em-se na rea de Santa Cruz e, tornando a direo de Angicos, seguem at a zona norte ao p da serra de Santana.

    Fig 6 - Zona de desnudao superjicia~ muito movimentada ao su~ de Picu (Pawiba) Restos de mmros tabuta1es. O 1eb1do dstes 1ecua, as ptanicies ampLiam-se Em dep1esses wsas o material resultante da decomposio po1 ao meteorotgica twnsportado aos p1 incipais cursos

    d'.qua Fot Czajka 11 010

    Alm das diferenciaes acima referidas da zona litornea oriental entre Alagoas e Rio Grande do Norte, nota-se em geral o seguinte na srie de arqueamentos do interior do continente formam-se, na zona li-tornea oriental, nveis mais baixos, dispostos como degraus, de fora para dentro; sses nveis foram recortados pelos rios de planalto Ou-tros nveis que se introduzem entre os nveis mais baixos da zona da costa e os mais elevados do interior, penetram no continente, ora em forma de velhos e elevados fundos de vales retalhados, ora como pla-naltos. Aqules predominam em Pernambuco e stes na Paraba. L, o velho fundo de vale acima de Pesqueira eleva-se a 800 metros e aqui, o planalto a oeste de Campina Grande alcana 400-500 metros, e mais de 600 metros a noroeste. Como os elevados fundos de vale e as plancies dos planaltos relacionam-se cronologicamente, no pode ser pronta-mente decidido. Em todo caso, tanto os fundos de vales elevados quanto os planaltos devero, pela sua altitude, ser classificados como nveis intermdios que ocupam a rea entre os nveis mais elevados do in-terior e os degraus mais baixos da zona perifrica. A disposio cli-mtica atual especialmente apropriada para conservar a condio que prevalece na distribuio do desdobramento dos vales Os vales e

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    elevaes da parte oriental de Pernambuco, bem como a regio junto ao rebrdo do planalto da Paraba, pertencem a uma zona mais mida do que os planaltos no interior da Paraba. Nesta zona mais mida h hoje a tendncia para a formao de vales lineares, e no planalto extremamente rido, situado a oeste e noroeste de Campina Grande, a desnudao pode desenvolver-se de tal modo a ser possvel aos ex-tensos nveis conservar-se, embora sejam lentamente afundados na sua totalidade.

    6 O planalto da Borborema foi assim denominado evidentemente de acrdo com a localidade de Borborema que est situada em linha reta a quase 60 quilmetros a noroeste de Campina Grande. Essa loca-lidade encontra-se num vale de escarpa. Ao planalto acima da locali-dade sobrepe-se um nvel de 600 metros, sendo altitude tambm a de diversos planaltos situados na direo de Soledade. Ao Paraba, que fica ao sul, anexa-se um nvel de 400-500 metros, separado ste do seu nvel vizinho mais elevado e situado ao norte, por um degrau ora mais ntido, ora menos visvel Ao sul o trecho mais baixo do planalto limitado pela depresso do vale do Paraba sse trecho, freqente-mente denominado Cariri, estende-se a oeste at as serras que seguem da serra de Teixeira para a de Santana A SW o planalto encontra, na regio de Monteiro, as serras pouco elevadas das fronteiras do estado de Pernambuco. A leste todo o planalto termina no rebrdo da Borba-rema, podendo isso ser bem observado da estrada que o ladeia mais ou menos entre Guarabira e Pirpirituba (fig. 7). J foi explicado, no ca-

    Flg 7 - Rebrdo do planalto da Borborema ao norte de Guarabira (Paraba) As formas indicam um rebrdo cncavo Czajka 10 907

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    ptulo anterior, como os nveis mais baixos e terraceados, ou morros isolados, se dispem diante do planalto, e como ste foi desdobrado em vales em diversos trechos (fig 8) O planalto est, portanto, bem de-limitado no seu conjunto natural Aplicando-se normas geomorfol-giras, no ser recomendvel usar a denominao "Planalto de Bor-borema" fora da regio descrita.

    Fig, 8 - Boquei1o de vate no 1Cb1do da B01b01ema, na localidade de Bo1c01ema Na encosta despenham-se lJlocos Fot Czajka 10 915

    Isoladamente, o planalto tambm apresenta diferenciaes regio-nais J foi obse1 vado que o nvel de 600 metros, situado na regio norte de Borbonma, no est totalmente circunscrito e que ao sul do mesmo nvel se encontra um de 400-500 metros Essas duas superfcies de al-titudes diferentes so superfcies rochosas A formao cristalina aflora freqentemente e, alm disso, o planalto tambm muitas vzes re-coberto smente por uma camada pouco espssa de material desagre-gado Ocasionalmente erguem-se pequenas elevaes, que foram deno-minadas "serras" e que lembram fortalezas rochosas lineares So, porm, preponderantes as plancies sujeitas eroso esta que ainda hoje se processa. Os dois nveis podem ser relacionados genticamente de dois modos ou o nvel de 400-500 metros se formou exclusivamente s expensas do nvel de 600 metros, por meio de uma eroso que se processou em sentido lateral, ou ento o nvel mais baixo apenas um afundamento do nvel mais alto e nesse caso o rebrdo que os separa seria um dobramento Muitas circunstncias so a favor dessa ltima suposio O nvel de 400-500 metros atravessa o de 600 metros em di-reo NW, aproximando-se, assim, da rea de Picu

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    Da rea Picu-Cuit divergem linhas fluviais em trs direes, a saber, para W, N e E, muHo embora estejam geralmente scas A eroso nessa regio se efetua de modo tumultuoso (fig. 6) . Uma vegetao muito escassa recobre essas massas desagregadas derivadas de decom-posio por ao meteorolgica, sendo que a regio, quase totalmente circundada por uma rea mais elevada, extraordinriamente rida O carreamento se faz mais ativamente pela rde de rios que se anexou ao sistema Piranhas depois de atravessar Picu e Currais Novos. nessa rea portanto, que melhor se pode observar o resultado da eroso, onde, como testemunho desta, se erguem morros tabulares (fig. 6). Cuit est situada numa plancie de idntica estrutura e a rea de Picu ainda poder ser includa no planalto de Borborema, mas as plancies mais baixas e intramontanas situadas mais a oeste estendem-se da at Borborema. caracterstico o fato de o sistema do rio Piranhas funcio-nar nesse local como transportador de detritos. O carreamento em di-reo ao Paraba, evidentemente, se processa mais dEvagar.

    RELAES GENTICAS ENTRE AS REAS GEOMORFOLGICAS

    De acrdo com os conhecimE'ntos gerais dos continentes primitivos, stes esto sujeitos a uma lei fundamental tornam sempre a levantar--se e so sempre novamente destrudos. Isto observamos tambm no nor-deste do escudo brasileiro. Ainda se pode ver, hoje, que com a destruio colaboram a desnudao e a eroso. Relativamente ao carreamento, os resultados da observao so excelentes em virtude do clima quente e periodicamente sco sendo que pela disposio dos nveis fica-se conhe-cendo algo sbre o movimento de levantamento da superfcie. A des-crio no captulo anterior pde ser baseada nesses fatos, e por vzes j possvel formular queEtes de ordem gentica No que diz respeito ao resultado real e distribuio dos levantamentos, os nossos conhe-cimentos so apenas aproximados

    1. Os diferentes grupos de nveis. - Se se tentar agrupar as reas isoladas da regio acima descrita, pode-se comear pelos nveis de altitudes diferentes Podem sses ser classificados pela sua posio geogrfica, sua altitude e pelos processos de eroso que se realizam pre-sentemente, isto , se predomina a eroso superficial ou a eroso linear A eroso linear caracterstica, principalmente, para as regies ori-entais midas e prximas da costa e a eroso superficial, para as pla-ncies mais baixas da zona central, a plataforma setentrional e a de-presso do So Francisco. Alm disso, h ainda uma srie de nveis que se aproximam da superfcie horizontal e que se encaixam nos gran-des conjuntos regionais ora mencionados. Representam em parte o re-sultado de processo de desnudao mais antigos e em parte superpem--se aos morros tabulares. Sem entrar em maiores detalhes sbre a

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    construo geolgica e a idade das formaes, podem-se agrupar as plancies de acrdo com as suas altitudes, como segue:

    1) O mis alto nvel, 800-1 000 metros; 2) Os nveis intermdios de 500 (450) - 800 metros; 3) Os nveis baixos at 450 metros. stes se organizam em dois

    grupos:

    a) Os terraos perifricos de eroso na costa oriental, b) As plancies da zona litornea setentrional, que penetram

    extensivamente no interior, ao longo dos rios Piranhas e Jaguaribe, onde ocupam grandes reas.

    Os grandes intervalos das altitudes fornecidas para os diversos grupos de nvel no so necessrios unicamente com relao pesquisa, pelo contrrio, com as grandes distncias existentes conseguem tam-bm corresponder eventualmente aos valores de levantamentos diferen-tes para cada regio. No se deve esperar que nveis geneticamente da mesma idade, e separados por grandes distncias, tenham a mesma altitude O agrupamento ora previsto est em si positivamente funda-mentado, pois os terraos perifricos de eroso a leste, como formaes relativamente jovens, e tambm o nvel mais elevado, como remanes-cente evidente das mais antigas plancies, possuem caractersticos de-finidos que permitem chegar-se a uma concluso quanto sua idade relativa. Com exceo dos nveis intermdios, os grupos de nveis fo-ram registrados no esquema cartogrfico anexo(23). Os nveis interm-dios aparecem, portanto, preponderantemente como reas brancas, es-pecialmente a leste de Pernambuco Nem tdas as reas brancas, porm, representam verdadeiros nveis, mas em considerao aos presentes co-nhecimentos no foram registradas. Relativamente aos nveis interm-dios e ao seu registro no mapa, o planalto de Borborema constitui uma exceo.

    2. A altitude das reas dos morros tabulares. - Deve-se agora averiguar qual a relao existente entre as chapadas e os nveis, pois, ora as suas plancies esto condicionadas, em primeiro lugar, depo-sio de rochas e resistncia do material, ora, baseando-se em conhe-cimentos gerais, s se pode contar com a conservao de camadas se-dimentares relativamente to pequenas em regies originriamente mais baixas do que as circundantes. Deve-se mesmo contar com o afun-damento das camadas sedimentares em zonas de falha. Enquanto as mesas sedimentares, que foram as primeiras a ser levantadas a alti-tudes maiores, estavam sujeitas eroso, as regies mais baixas eram conservadas. A serra de Araripe (880-1 000 metros) e, tambm, a de Santana (900 metros) tm a mesma altitude que o mais elevado nvel das formaes cristalinas. Mesmo que se admita uma difuso maior da camada sedimentar e se verifique ao mesmo tempo ser muito grande a resistncia da camada de sedimentos nas chapadas, pode contudo

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    ser provado que as duas mesas sedimentares, atualmente elevadas, de-viam ter estado abaixo do nvel daquelas regies que, em virtude do arqueamento do seu subsolo, j haviam sofrido eroso. Para se avaliar a segurana dessa concluso no importa muito que a idade da ca-mada sedimentar no seja definida com absoluta certeza para tdas as partes, pois, com o arqueamento em grande escala basta calcul-la, primeiramente, para o perodo postcretceo. Entretanto, importante que o estado de conservao das mesas sedimentares se apresente di-verso. Na serra de Martins s se encontram restos insignificantes de rochas calcrias, sendo que a camada slida que a recobre consti-tuda de material vermelho, muito resistente na base, cuja origem s poder ser esclarecida depois de um exame microscpico. O embasa-mento principal da serra de Martins formado pelo cristalino. Na serra de Araripe, sob uma camada igualmente slida e vermelha, en-contram-se areias friveis fluviais (com camadas entrecruzadas), de colorao rsea, das quais um horizonte- presumivelmente o superior - foi transformado em quartzito pela infiltrao de silcio. Smente debaixo do arenito frivel que se seguem as camadas calcrias que poderiam determinar o horizonte do lenol d'gua a existente e que na regio fronteira aparecem na superfcie. Alis, essas matrias cal-crias, em vista de sua natureza fssil, so consideradas deposies em gua salobra (enseada), o que d uma interessante idia paleogeogr-fica do mesozico.

    A extenso erosiva diversa, as diferenciaes planas do relvo du-rante a transgresso do mar cretceo e as diferenas mais consider-veis do relvo durante o perodo continental do tercirio que se seguiu, determinam tambm um grau de conservao muito diferente da ca-mada sedimentar j distribuda em restos isolados Dste modo ficam muito reduzidas as possibilidades de se empregarem as mesas sedimen-tares como critrio no que diz respeito intensidade de levantamento regional. As camadas que formam a superfcie das serras de Santana e Cuit na plataforma da costa, poderiam ser mais ou menos da mesma idade; Acham-se, porm, em nveis completamente diferentes, a saber a 100, 600 e 900 metros. Alm disso, tive a impresso de que na rea nordeste fronteira serra de Araripe (800 metros), em Milagres, (a menos de 500 metros), ainda existe arenito vermelho, ao passo que as serras mais para o nordeste j se compem de cristalino. Deve-se, pois, contar com o fato de que em ambos os casos a tectnica de falha concorreu para a disposio das altitudes dos sedimentos remanes-centes. Esta suposio justifica-se por ser em geral reduzida a po-tncia dos sedimentos remanescentes e, portanto, menor o perigo de sofismas baseados em horizontes cuja equivalncia transitria ainda no foi provada. A conservao dos restos de sedimentos nas regies vizinhas em diferentes altitudes, aps eroso e carreamento das camadas sedimentares que ainda ficaram, , provisoriamente, nos exem-plos citados, o nico critrio fraco que justifica admitir-se na fase inicial do levantamento tercirio a permanncia vertical das regies

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    onde ainda hoje existem mesas sedimentares, porquanto as chapadas elevadas com suas escarpas devem a forma atual, isto , as cuestas, existncia de camadas resistentes. Mas no foi uni:!amente a resistn-cia dessas camadas que ocasionou sua conserva_o local at o presente, pois somente aquelas pores das camadas situadas abaixo do nvel das zonas circundahtes no ficaram sujeitas imediata eroso total. Alou-as o levantamento retardado dentro da tectnica de falha, pos-sibilitando a formao de escarpas por nova eroso. Somente na srie dessas elevaes mais recentes que as serras de Araripe e Santana poderiam ter sido erguidas s altitudes dos mais altos nveis Talvez no seja to sem conseqncias o fato de tdas as mesas sedimentares remanescentes poderem ser estudadas dentro de uma linha que cir-cunde tda a zona central, portanto a regio do arqueamento principal, a qual tambm compreende os mais altos nveis atuais. A conservao das atuais mesas sedimentares poderia ter sido assim iniciada por terem estas contornado os flancos da regio referida na fase original do arqueamento central.

    3. Zcnas de levantamento e depresso - Pelo agrupamento e carter dos diversos nveis, bem como pela distribuio e disposio das mesas sedimentares mesoz'cas restantes, deduz-se a seguinte hiptese: ao norte do baixo So Francisco h dois eixos de arqueamento e uma zona de formao preferencial de falhas, que se orientam de WSW para ENE, propriamente de W para E, e se sucedem de S para N. Portanto, a participao da tectnica de falha toma vulto para o norte, mas tambm determina para o sul reas mais extensas, desde que alinha-mentos que se faam notar no relvo atual possam ser tomados como critrio.

    a) A zona de arqueamento de Arcoverde hoje representada pelo trecho ocidental do nvel mais elevado, indicando a expanso dsse nvel em direo a Garanhuns apenas, imperfeitamente, a direo NNE Tem-se, ao contrrio, pelo desenvolvimento na largura, a impresso de um arqueamento em forma de cpola. Talvez fsse recomendvel re-presentar essa rea de levantamento dividida em dois eixos, dos quais um passando sbre Arcoverde e o outro sbre Garanhuns. possvel que tenha havido distores em uma tal bifurcao e, na rea dessa bifurcao, teria surgido, ento, no curso do rio Ipojuca, a presumida fossa do centro de Pernambuco, a qual se estende at Gravat. Tam-bm o conjunto de nveis entre Garanhuns e Arcoverde foi destrudo por eroso regressiva, sendo possvel que esta, na sua disposio natu-ral, no tenha ficado completamente livre da influncia da tectnica

    No rebrdo oriental de tda a rea do arqueamento entalharam-se os terraos dos recentes nveis de desnudao perifricos e assinalaram, assim, os perodos do movimento de levantamento. A partir dste ponto e em direo ao interior, igualmente como conseqncia do movimento de levantamento em degraus, continuam os altos fundos de vale at a

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    zona de Pesqueira-Arcoverde. Os nveis mais baixos do rebrdo oriental foram recortados pelos rios de planalto, fato ste favorecido pelo clima mais mido dessa regio voltada para o Atlntico. No lado oposto, isto , no flanco da rea de levantamento do So Francisco, as mesas se-dimentares foram conservadas.

    O nvel mais elevado da regio de arqueamento pode ser conside-rado como um fragmento de um velho peneplano que, ao se iniciar o levantamento sob o terrao superior que forma a camada sedimentar, foi primeiramente exumado, mas em seguida sofreu mais um afunda-mento pela destruio do cristalino. Entre as mesas que ainda existem no flanco sudeste. da rea de arqueamento, ste mesmo processo ocorre ainda hoje, ccmo na serra de Tacaratu, porm, em menor escala. Do-MINGUES chamou a atEno para ste fato.

    FREITAS, se o entendi bem, considerou a culminao das zonas de levantamento atuais entre Arcoverde e Garanhuns como um indcio de que a direo do eixo de arqueamEnto de WNW para ESE, e eu consideraria o avano mais prenunciado dessa direo como uma fase posterior ao levantamento Se preferirmos admitir aqui, para a fase inicial do levantamento, um eixo WSW /ENE, fazemo-lo pelos seguintes princpios

    a) Os arqueamentos resultam da tectnica de falha. Os alinha-mentos muito pronunciados, que na nossa regio deixam supor a exis-tncia de perturbaes, tambm indicam a direo ENE.

    b) Os eixos mais antigos de levantamento tambm poderiam ter sido conservados nos alinhamentos das maiores elevaes. Indicam les igualmente a direo ENE para as zonas ocidental e oriental dos nveis mais elevados .

    c) A grande bacia entre Floresta e Campina Grande estende-se igualmente nesta direo.

    S mais tarde, quando se verificaram distores em tda a rea ex-terna do Nordeste junto ao Atlntico, com conseqente tectnica inten-siva de falha e depresso regressiva das grandes plancies intramonta-nas na regio do Piranhas, consolidou-se na zona interna, entre Arco-verde e Garanhuns, uma rea de elevao em sentido diferente, isto , de WNW para ESE. A depresso do baixo So Francisco reflete essa di-reo, j tendo sido ste fato mencionado no captulo sbre o declive para a depresso do baixo So Francisco Cem diferenciao correspon-dente de pocas, ambas as jnterpretaes deveriam ser compatveis Isto tambm est de acrdo com as opinies gerais sbre arqueamento: ora os levantamentos epeirognicos, nas suas fases posteriores, tor-nam-se cada vez mais visveis no relvo em virtude da tectnica de falha, ora h deslocamentos para outras reas da intensidade vertical, provvelmente resultantes de acidentes magmticos no subsolo dos con-tinentes. Mudanas regionais da intensidade de levantamento aponta-riam ento tais acidentes. No se admitindo sses deslocamentos re-gionais das tendncias de levantamento e afundamento, fica ento sem nenhuma explicao o reafundamento das plancies atualmente intra-

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    montanas, visto cqmo ao norte delas surgiram as serras perifricas. No se pode fazer perfeitamente uma idia de que as reas de eroso intra-montanas muito baixas sejam exclusivamente de origem jovem e ex-gena. Em considerao s relaes gerais, proponho como hiptese de trabalho aceitar-se como do mais velho tercirio, ao norte do baixg So Francisco, os enselamentos e vales que tomaram o rumo NNE.

    Na zona de arqueamento original e mais meridional dessa direo (eixo Arcoverde), naquela poca orientou-se para o norte a zona de vales j descrita. Comeou esta zona no mdio So Francisco, podendo, no seu curso, ser indicada pela posio das localidades de Floresta-Custdia-Monteiro, e terminou a E com o nvel Cariri a 400/500 me-tros de altitude. ste ltimo acompanhou no rebrdo sul o curso do rio Paraba, cujo leito naquele local hoje muito profundo. O nvel Cariri constitui o planalto meridional da Borborema, devendo ser con-siderado como um fragmento do velho peneplano que, entrementes, foi afundado por constantes eroses. O velho peneplano portanto, foi rebaixado pela eroso. Em compensao, na regio do rio Paje no existe mais nenhuma antiga superfcie de eroso fechada.

    b) A zona de arqueamento da Teixeira- A seguinte zona de ar-queamento indicada no seu curso pelo trecho ocidental do mais alto nvel das serras da Baixa Verde e Teixeira. Provvelmente, o nvel se-tentrional de 600 metros do planalto da Borborema a continuao dessas serras. Mas enquanto a zona de levantamento dsse segundo eixo pode ser assinalada no rebrdo sul da serra Talhada por uma falha, demarcando-se, assim, os seus limites com a zona deprimida das bacias, o nvel mais elevado e o mais baixo do planalto da Borborema s so separados por uma concavidade voltada para o sul Tambm o nvel de 600 metros do planalto da Borborema indica o velho peneplano do N ardeste. O trecho mais elevado bem como o mais baixo do planalto da Borborema no tm relao direta com superfcies de eroso origi-nriamente diferentes, mesmo que hoje estejam dispostos em dois degraus.

    O trecho ocidental do nvel mais elevado, que com o planalto su-perior da Borborema pertence ao mesmo eixo, tambm faz parte do antigo peneplano. Esta regio que, para a intensidade da destruio, se acha to distante das bases de eroso, possui hoje um mar de blocos de muitos quilmetros quadrados, situado na suave encosta sul da serra de Teixeira. Os blocos ficaram expostos em virtude do carreamento do material mais fino, admitindo-se que esta formao de blocos j preparada subterrneamente na fase de decomposio superficial da rocha por ao meteorolgica. Mais para o oeste, o planalto ao redor da chapada do Araripe foi provvelmente alargado por levantamento posterior. Se o trecho ocidental da chapada se eleva hoje a 1 000 metros, isto indica intensidade de eroso diminuda naquela zona que se acha afastada dos rios maiores Mesmo os trechos a leste da chapada apre-sentam uma camada de detritos muito espssa na cuesta, o que indica

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    que o material erodido que ficou depositado quando houve o recuo do bordo superior do degrau, s pde ser transportado de modo insuficiente por ocasio da reduo da camada de detritos.

    Ao segundo eixo de levantamento segue-se, para o norte, a grande baixada das plancies intramontanas do alto Piranhas. A sua rea ori-ental representada pelo tringulo entre as localidades Patos-Jardim de Piranhas-Jardim do Serid, e a ocidental fica entre Pombal e An-tenor Navarro Embora aqui tambm predominem plancies rochosas, h contudo um grande nmero de horsts. O relvo no ngulo entre a serra da Baixa Verde (curso E/W) e a serra Gon-;alo (curso N/S) tem carter especial. O rebrdo ao sul das plancies fronteiras serra de Teixeira formado por uma regio de cuestas, resultante de tect-nica de falha. Horsts menores na regio fronteira foram transformados em inselberge que se elevam abruptamente na plancie rochosa

    Para o oeste, isto , alm das serras limtrofes entre Paraba e Cear, h tambm reas intramontanas de aplainamento. Constituem um fenmeno paralelo na regio do Jaguaribe, porm, so muito me-nores. Tambm no pertencem aos vales de afundamento e conside-ramo-las como sendo vales alargados Esto situadas junto aos rios Qui-xeramobim e Cangati entre as serras de Baturit e Estvo

    Para o nordeste, a zona de depresso da principal superfcie de eroso intramontana continua diminuda na rea ao sul de Picu. A se conservaram mesas tabulares a uma altitude mediana. Nesta regio perifrica do planalto da Borborema os divisores de guas j se acham bastante trabalhados.

    c) A zona Martins-Santana, formada de horsts, a terceira das zonas de levantamento Seus horsts ainda apresentam em parte cama-das sedimentares. As linhas de falha iniciaram-se principalmente no lado norte do relvo, isto , na rea fronteira plataforma setentrional da costa, e os grandes sistemas fluviais que ligam as plancies intra-montanas com esta plataforma utilizam as largas passagens entre os horsts.

    Chama a ateno o fato de que no rebrdo montanhoso ao norte do Nordeste os alinhamentos E/W e N/S se alternam. Se observamos a seqncia dsses alinhamentos de E para W, vemos que linha E/W da zona Santana-Martins sucede a linha N/S das serras de Fortaleza (serra Maranguape e serra de Baturit). Seguem-se novamente as de-

    limitaes, em sentido E/W das regies de levantamento fronteiras zona costeira, a saber, entre Fortaleza e Sobral Finalmente, alm do rio Acara as serra~ avanam de novo para o norte. A repetio dessa disposio significa certamente uma regularidade da estrutura. Gom referncia ingresso da plataforma costeira, poder-se-iam mencionar duas baas: Acara e Jaguaribe. Ao contrrio do que acontece aqui, a linha costeira atual, no trecho das baas interiores, orienta-se em geral de NW para SE. No interior, porm, em todo o Nordeste, em direo ao ocidente, acentuam-se no relvo as linhas N/S Neste conjunto pode-se Pg 33 - Abril-Junho de 1958 3 - 26 674

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    ainda incluir o rebrdo da serra Grande Isto tudo porm, s definido pelos grandes alinhamentos: isoladamente, a direo das falhas locais muito mais complicada de se imaginar, mas a sua soma d origem finalmente, s grandes direes do relvo que aqui procuramos in-terpretar.

    4. Entrosamento com as estJ uturas meridionais - As regies de levantamento bem como os eixos de arqueamento que se orientam de E para W, relativamente de ENE para WSW, cruzam-se com as sries de serras cuja direo N/S ou NNE/SSW. Isto acontece nos seguintes lugares

    a) Na depresso oriental do planalto de Garanhuns, onde tam-bm a linha costeira de Alagoas at Pernambuco apresenta a mesma direo

    b) No rebrdo do planalto da Borborema. c) No divisor de guas entre o planalto da Borborema e a intra-

    montana da peneplancie de Patos d) Nas serras divisoras de guas entre os estados de Paraba e

    Cear. e) Nas serras a oeste de Jaguaribe, como cujos expoentes mais

    orientais podemos mencionar as de Baturit e Estvo. No possvel tratar neste trabalho das caractersticas individuais das serras entre o Jaguaribe e a serra Grande, pois no foram feitas observaes espec-ficas no local. A julgar pelo mapa, essas serras so na maioria dos casos encimadas por grandes superfcies planas As menores superfcies de eroso do vale do Jaguaribe que pEnetram para o oeste nas regies mon-tanhosas (nos rios de Cangaii, Quixeramob'm e Mombaa), s podem ser ampliaes laterais, mais 1ecentes das plancies junto ao Jaguaribe, que, em direo s serras, talvez se transformem.

    5 Possvel posio tectnica especial do planalto da Borborema. Dentro das reas delimitadas pelo cruzamento dos dois sistemas de

    alinhamentcs, o planalto da Borbmema parece ocupar uma posio es-pecial. Se no tomarmos em considerao a regio de transio do Picu, bastante estranho que ste planalto no apresente nenhum vestgio de camada sedimentar O planalto, ao contrrio, interrompe grandfmente a zona perifrica das restantes mesas sedimentares, se considerarmos a distncia entre os morros tabulares que de um lado se erguem a sudoeste de Arcoverde e do outro novamente em Cuit Isto tanto mais estranhvel porquanto o planalto da Borborema pertence aos nveis intermedirios de altitude mediana ( 400/600 metros). Ou no existiu aqui uma camada sedimentar importante, ou esta j foi destruda A camada sedimentar poderia ter sido retirada por eroso at deixar a descoberto o embasamento cristalino que, por sua vez, con-tinuou a ser decomposto em virtude da ao meteorolgica e da eroso. Isto teria exigido uma eroso bastante acelerada, ao que, porm, no corresponde a atual altitude abaixo do mais elevado nvel (a NW a

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    serra de Santana com 900 metros e a SW o nvel cristalino mais eleva-do com 1 000 metros e mais). Por outro lado, a parte inferior do pla-nalto termina num vale, conforme j foi explicado, que se estende entre as reas dos dois nveis mais elevados. Quer no tenha existido uma ca-mada sedimentar no planalto da Borborema, quer aquela j tenha sido removida sem deixar vestgios, sempre se chega concluso de que o planalto em sua posio original constitua primitivamente regio ele-vada do Nordeste (ainda cretcea ou terciria-remota), ou se tornou mais tarde, por outras circunstncias, uma regio de eroso ativa. No primeiro caso o planalto teria sido elevado prematuramente, perma-necenco, porm, depois num vale entre dois eixos ativos de levanta-mento. No segundo caso poder-se-ia imaginar uma forte eroso de na-turEza fluvial. Ainda no se pode decidir qual dsses casos seria tomado em considerao. Ambas as solues, porm, no excluem o fato de que o planalto, encravado entre regies mais ativas de levantamento, final-mente cessou o seu movimento para cima e se transformou, mais tarde, parc'almente, em uma zcna de vales. H, contudo, uma circunstncia que torna provvel a difuso geral das camadas mesozicas Na costa oriental existem cabos onde aprece uma quantidade de casos, hoje isolados, de formaes cretceas. A mais setentrional dessas formaes acha-se em Joo Pessoa. Conseqentemente, provvel ser o planalto da Borborema um peneplano exumado. A sua altitude, portanto, no poderia ser paleogrfica j na era cretcea, mas surgiu somente du-rante o tercirio. A desnudao dos sedimentos s poder ter ocorrido depois de um levantamento que deveria ser ento, do incio da era ter-ciria, sendo, porm, necessrio aguardar os resultados de ulteriores observaes para que se possa obter uma idia mais exata. Para con-firmar a posio especial do planalto da Borborema, s podemos asse-gurar, em concluso, que uma regio de desnudao originriamente unida se dividiu em dois planaltos, um superior e um inferior.

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    6. Pesquisas isoladas para esclarecer as relaes entre tectnica e processos de desnudao. - Esta sntese experimental sbre o desen-volvimento geral tectnico-geomorfolgico do Nordeste deixa muitas questes sem resposta. Pode-se, porm, dar primeiramente uma expo-sio resumida para fixar os pontos de partida das pesquisas regionais.

    1) Simultneamente com mapas de pequena escala devem ser determinadas as altitudes exatas e as extenses das plancies dos diver-sos nveis, e ento, se conveniente, sero elas organizadas em ordem cronolgica e de eroso.

    2) ste pro:;esso deve ser aplicado tanto em relao aos nveis jo-vens superpostos em forma de degraus (no obstante estarem recorta-dos) como s plancies extensas do interior.

    3) Dever-se-ia especialmente examinar se as grandes e extensas plancies, alm do declive que geralmente apresentam para a costa ou para um rio maior, se dispem, em intervalos maiores em degraus even-tual.mente pouco salientes.

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    4) A natureza dos remanescentes da camada sedimenta1 deve se1 determinada comparativamente, a fim de se conseguir mais pontos de referncia para o estabelecimento dos valores relativos de eroso e le-vantamento diferencial

    5) necessrio reconhecer a natureza dos processos recentes de eroso, assim como a eroso fluvial nas regies midas de leste e a desnudao da superfcie nas regies ridas do tnterior (figs. 3/6 e 9/1).

    6) A diferenciao clmtica deve ser estudada tanto quanto pos-svel desde eras remotas pela verificao de formaes fsseis, a reve-lao de outros indcios para a localzao das zonas clmticas durante as eras geolgicas e o estudo das camadas que foram formadas corre-lativamente aos processos de eroso. Deve-se, assim, estabelecer a era das formaes cretceas, a linha divisria climtica entre a formao de terra vermelha e a reduo de rochas a cascalho deve ser detetmi-nada para o presente e, se possvel, tambm para o passado

    7) Com o auxlio de camadas de detritos existentes em planos ele-vados, bem como de terraos formados por deposio, o sistema crono-lgico dos processos de eroso deve continuar a se firmar Derrames de quartzo em reas de desnudao no podem ser igualados a verrla-deiras camadas de detritos

    8) Os movimentos nas encostas devem ser estudados, quer sejam torrentes de material fino e umedecido, queda de blocos (fig 8), ou tambm o recuo dos rebordos dos degraus das chapadas (fig 6)

    9) No estudo da histria da rde fluvial, devem-se tomar em con-siderao os numerosos wind gapes e rupturas epigenticas. So to numerosos que foi adotada a denominao popular tpica de "boquei-ro". Provvelmente se apresentam em dois terraos, um mais elevado, se