10 · livrando, como uffi esd.gio temporario no movimento em dire

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10 B~LL GreeVL & Ch,r~s B~gum ( Estao as escolas lidando com estudantes que sao fundamen- talmente diferentes dos/as de epocas anteriores? Uma questao subordinada e: tern as escolas e as autoridades educacionais desenvolvido currfculos baseados em pressupostos essencial- mente inadequados e mesmo obsoJetos sobre a natureza dos/as estudantes? T ern havido, nos ultimos anos, no campo da polftica educacio- nal, urn interesse crescente pdo problema das taxas de reten- \=3.0escolar, com referencia espedfica a fase pos-ccmpulsoria da escolariza\=ao. 1 Esse interesse combina-se com urn forte senti men- to de urgencia para produzir urn crescente panico moral em torno da questao da "juventude" - ou talvez, mais precisameni:e, do "problema da juventude". Isso ocorre no contexto de uma expan- sao extraordinaria na importancia, alcance e densidade da assim chamada cultura da midia e dos correspondentes debates e con- troversias, centrados no suposto declfnio da vida contemporanea. Neste~l1~<li()L{:KploL<1I!!0s a te?~<::_es~a eJ:!1~nd.o uma nova gerac::a~,__~_o_!!1c_~_!1!a_ C:2.!l~jt.!1iS~0----!"~(FcaJl11~Ete diferente. Alem dlsso, propomos, de fOlmaalgo provocativa,--quese- pense essa questao em term os analogos aos da ficc::aocientifica, como uma especic de fantasia especulativa - neste caso, mais especificamen- te, como uma fic<;:aoou fantasia educacional. A questao e: existem alienigenas em nossas salas de aula? Uma equipe de pesquisadores/as da Faculdade de Educa<;:ao cia Deakin University esta atualmente explorando, com financi::t- mento do Conselho de Pesquisa Australiano, a rela<;:ao entre a experiencia estudantil e a cultura da informa<;:ao, com referencia esp-edficaaescol~riza\:ao poscompuls6ria ef polftica de reten<;:ao escolar. A questao organizadora de nassa pesquisa e: Em suma, estamos preocupados com a emergencia do que estamos chamando de sujeito-estudante pos-moderno - isto e, com uma compreensao das popula<;:6es escolares contemporaneas que considere a juventude como urn sujeito exemplar do pos-mo- r dernismo. Em particular, estamos interessados em desenvolver uma melhor compreensao de urn fenomeno que e cada vez mais visivel nos debates atuais: a emerg~nci'L de __ UIl! JJQY_~tipo de estudante, com novas nec~_ss_id~ct~~~_!1gva~_c<lpacidades. ~ Ha uma evidente necessidade de se teorizar a juventude contemporanea como urn fenomeno de impressionant~_CQill£~- xidade e contradi<;:ao; de pens3-la, nos terrnos de Grossberi) (1988, p. 126), "como urn campo de praticas, expcriencias, identidades e discursos diversos e contraditorios". 0 ponto im- portante a registrar aqui e a convergencia dos discursos contem- poraneos sobre a juventude, sobre a cultura da midia e sabre 0 pos-modernismo. A presente configura<;:ao social, que pode ser caracterizada como uma "paisagem da informa<;:ao" (Wark, 1983), precis a ser entendida como uma condi<;:ao cultural esped- fica. Essa condi~ao foi descrita por urn analista como "urn con- texto afetivo particular, 0 qual exerce urn papd determinante na forma como a juventude e construida e vivida". Trata-se, err: suma, da pos-modernidade. Entretanto, como argumenta Grossberg, "este contexte nao e suficiente para compreender 0 comportame,lto da juventude. Se a juventude vive na pos-moder- _. nidade, tambem vive em muitos outros lugares e contextos" e, portanto, "nossa interpreta<;:ao do comportamento da juventude .L::-~~ deve reconhecer as contradi<;:6es geradas a partir dessa real com- plexidade historica" (Grossberg, 1988, p. 124). Embora reconhe- ~amos esse ultimo ponto, nossa aten<;:aoaqui esta focalizada mais especificamente no processo de escolariza<;:ao, na cultura popular e no pos-modernismo. Como Grossberg e outros/as autores/as pertencentes a tradi- Na Australia, contexto ao qual se referem os autores, a fase compulsoria de escolariza<;ao vai ate a 10' serie, que assinala 0 final do estagio inicial da escolariza<;ao de nivel secundario (6' a lOa serie). A fase superior do ensino secundario inclui as 11 a e 12' series, sendo essa, pois, a fase pos-compulsoria de escolariza<;ao a que se referem os autores (N. do T.).

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10B~LLGreeVL & Ch,r~s B~gum

( Estao as escolas lidando com estudantes que sao fundamen-talmente diferentes dos/as de epocas anteriores? Uma questaosubordinada e: tern as escolas e as autoridades educacionaisdesenvolvido currfculos baseados em pressupostos essencial-mente inadequados e mesmo obsoJetos sobre a naturezados/as estudantes?

Tern havido, nos ultimos anos, no campo da polftica educacio-nal, urn interesse crescente pdo problema das taxas de reten-

\=3.0escolar, com referencia espedfica a fase pos-ccmpulsoria daescolariza\=ao.1 Esse interesse combina-se com urn forte senti men-to de urgencia para produzir urn crescente panico moral em tornoda questao da "juventude" - ou talvez, mais precisameni:e, do"problema da juventude". Isso ocorre no contexto de uma expan-sao extraordinaria na importancia, alcance e densidade da assimchamada cultura da midia e dos correspondentes debates e con-troversias, centrados no suposto declfnio da vida contemporanea.

Neste~l1~<li()L{:KploL<1I!!0sa te?~<::_es~a eJ:!1~nd.o uma novagerac::a~,__~_o_!!1c_~_!1!a_C:2.!l~jt.!1iS~0----!"~(FcaJl11~Etediferente. Alemdlsso, propomos, de fOlmaalgo provocativa,--quese- pense essaquestao em term os analogos aos da ficc::aocientifica, como umaespecic de fantasia especulativa - neste caso, mais especificamen-te, como uma fic<;:aoou fantasia educacional. A questao e: existemalienigenas em nossas salas de aula?

Uma equipe de pesquisadores/as da Faculdade de Educa<;:aocia Deakin University esta atualmente explorando, com financi::t-mento do Conselho de Pesquisa Australiano, a rela<;:ao entre aexperiencia estudantil e a cultura da informa<;:ao, com referenciaesp-edficaaescol~riza\:ao poscompuls6ria efpolftica de reten<;:aoescolar. A questao organizadora de nassa pesquisa e:

Em suma, estamos preocupados com a emergencia do queestamos chamando de sujeito-estudante pos-moderno - isto e,com uma compreensao das popula<;:6es escolares contemporaneasque considere a juventude como urn sujeito exemplar do pos-mo- r

dernismo. Em particular, estamos interessados em desenvolveruma melhor compreensao de urn fenomeno que e cada vez maisvisivel nos debates atuais: a emerg~nci'L de __UIl! JJQY_~tipo deestudante, com novas nec~_ss_id~ct~~~_!1gva~_c<lpacidades. ~

Ha uma evidente necessidade de se teorizar a juventudecontemporanea como urn fenomeno de impressionant~_CQill£~-xidade e contradi<;:ao; de pens3-la, nos terrnos de Grossberi)(1988, p. 126), "como urn campo de praticas, expcriencias,identidades e discursos diversos e contraditorios". 0 ponto im-portante a registrar aqui e a convergencia dos discursos contem-poraneos sobre a juventude, sobre a cultura da midia e sabre 0pos-modernismo. A presente configura<;:ao social, que pode sercaracterizada como uma "paisagem da informa<;:ao" (Wark,1983), precis a ser entendida como uma condi<;:ao cultural esped-fica. Essa condi~ao foi descrita por urn analista como "urn con-texto afetivo particular, 0 qual exerce urn papd determinante naforma como a juventude e construida e vivida". Trata-se, err:suma, da pos-modernidade. Entretanto, como argumentaGrossberg, "este contexte nao e suficiente para compreender 0comportame,lto da juventude. Se a juventude vive na pos-moder- _.nidade, tambem vive em muitos outros lugares e contextos" e,portanto, "nossa interpreta<;:ao do comportamento da juventude .L::-~~

deve reconhecer as contradi<;:6es geradas a partir dessa real com-plexidade historica" (Grossberg, 1988, p. 124). Embora reconhe-~amos esse ultimo ponto, nossa aten<;:aoaqui esta focalizada maisespecificamente no processo de escolariza<;:ao, na cultura populare no pos-modernismo.

Como Grossberg e outros/as autores/as pertencentes a tradi-

Na Australia, contexto ao qual se referem os autores, a fase compulsoria deescolariza<;ao vai ate a 10' serie, que assinala 0 final do estagio inicial daescolariza<;ao de nivel secundario (6' a lOa serie). A fase superior do ensinosecundario inclui as 11a e 12' series, sendo essa, pois, a fase pos-compulsoria deescolariza<;ao a que se referem os autores (N. do T.).

<;ao dos estudos culturais tern argumentado (p. ex., McRobbie,1986; Roman & Christian-Smith com Ellsworth, 1988), a cons-tru<;ao social e discursiva da juventude envolve urn complexo defor<;as que inc1ui a experiencia da escolariza<;ao, mas que, deforma alguma, esta limitada a ela. Entre essas for<;as e fatores estaoos meios de comunica<;ao de massa, 0 rock e a cultura da droga,assim como varias outras forma<;6es subculturais. Ate 0 momento,entretanto, educadores/as, professores/as, pesquisadores/as e ela-boradores/as de polfticas nao tern considerado essas perspectivase quest6es como sendo dignas de aten<;ao.

Por exemplo, entre a imensa quantidade de discursos e deba-tes produzidos por pesquisadores/as educacionais oficiais, ha umapesquisa recentemente publicada, patrocinada pelo Departamen-to de Emprego, Educa<;ao e Treinamento, intitulada Senior stu-dents now: The challenges of retention (Batten, Withers, Thomas,& McCurry, 1991). Apesar de sua utilidade e interesse. esseestuuo nos impressiona especialmeme pelos limires do tipo deimagina~ao investigativa educacional af demonstrada. Sentimosque e cad:} vez mais necessario pensarmos de uma olltra forma,que e cada vez mais necessario pensarmos de forma diferente -isto e, achamos que e preciso reimaginaressa questao, escrevendofic<;6es educacionais muito mais interessantes e desafiadoras doque as que urn relat6rio como esse tern a oferecer.

Ef!1_nosso est~dQ, ~.x~1l!!Il_aIllo~u:::_~stLL(l~!lrc-s ujeito p6s-mo-derno no ~o!li~xt(?~ais~ll1jJlodo curriculo secqnd.illio sURerior,levan do em conta 0 cenario educacional e cultural. mais amploextstente1ora~do-s-istema_. formal de escoladza~ao.· E~~a·latia econsistente co~-o~~~~~te argumento que assinala a existencia deurn importante deslocamento - da escola para a mfdia eletr6nicade massa como 0 "contexto socializador crftico". Essa perspectiv:1ve a mfdia, pois, como centralmente implicada_n:11r~.sodu<;aode identidades e formas culturais estudantis (Hinkson, 1~?11.

Alem disso, argumentos em b.vor da necessidade de se anali-sar pedagogias exteriores ao processo de escolariza<;ao (p. ex.,Giroux, 1992; Schubert, 1986) e de uma desvincula<;20 entrecurriculo e escolariza<;ao sublinham a importancia de pesquisasque estejam orientadas por perspectivas te6ricas mais amplas. 0valor de investigaC;6es desse tipo fica refor<;ado quando se levam

em conta as limita<;6es de grande parte da pesquisa educacionaltradicional, sobretudo se considerarmos que essas pesquisas ternurn evidente interesse na manuten<;ao das formas educacionaistradicionais e, por isso, compreensivelmente, tendem a submetermudan<;as radicais do tipo das que sac abordadas aqui a urnprocesso de normaliza<;ao (no sentido de Foucault).

Podemos abordar essa questao atraves dos conhecidos con-ceitos de "acomoda<;ao" e "assimila<;ao". As diferen~as radicaisque estamos assinalando aqui, com respeito a novas form:1s desubjetividade e identidade estudantil, nao estarao sendo simples-mente incorporadas e acomodadas a norma (no sentido de Fou-cault) dos modos convencionais de pesquisa? Nesta ultima decadado seculo XX, podemos nos limitar a acomodar e a assimilar adiferen~a e os desafios que nos confrontam em tantas frentes, ~simplesmente trazendo-os para dentro dos quadros de referencianormativos atualmente existentes? E essa uma resposta adequada,nao apenas para as desafios que atualmente enfrentamos emnossas salas de aula, mas tambem para os desafios globais eecossistemicos? Como argumenta Ellsworth (19901), num contex-to ligeiramente diferente, e cad a v~ni~lis-c-fua<n/ aceitar a ideiade_:'giferen<;~ na_Q~§simit~_da". Con~~qiientemente, a~gumenta-mos que e importante interagir ativamente com os novos insightse imagens proporcionados pdo pos-modernismo cultural e pelanova ciencia. Como tern sido assinalado par varios/as analistas (p.ex., Best, 1991; Haraway, 1991; Hayles, 1990; Csicsery-RonayJr., 1991, p. 61), parece haver uma convergencia geral e extrema-mente produtiva entre a teoria social e a fic<;ao cientffica. Senti-mo-nos, assim, justificados em explorar 0 conceito de "curriculocyborg", baseando-nos, particularmente, em trabalhos receutes deHayles, Haraway e Virilio, entre outros.

Existem alienfgenas em nossas salas de aula? Colocar essa questaoimplica tambem perguntar imediatamente: qual e 0 ponto de vista-literal e teoricamente - em rela<;ao ao qual se esta falando de ,"alienfgenas"? Po is os/as estudantes podem ver os/as educado- *res/as como alienfgenas, mas esses/as ultimos/as podem perfeita-mente, da mesma forma, ver os/as estudantes como sendo os/as

"alienigenas" em questao aqui: a nova "estirpe de demonios", outalvez, simplesmente, "eles"; isto e, esses "outros" que entram emnossas salas de aula e seminarios e nos miram a nos, seus Outros;esses outros que deliberadamente se fazem a si mesmos "outros" ,ao mesmo tempo que nos fazemos deles os nossos "outros"(embora eles 0 fa<;:amde forma diferente - e isso e importante).

Os/as educadores/as e tambem os administradores/as nao sacos unicos a ver com alguma preocupa<;:ao 0 aparecimento em cenadaquilo que chamamos aqui de alienigenas. Os pais e as maestambem tern expressado esse tipo de preocupa<;:ao, assim como 0tern feito, de forma mais geral, a esfera publica convencional (aopiniao publica). Tern havido, r~centemente, na Australia e emoutros paises, uma onda crescente de panico moral, cujo foco e 0

suposto desvio da juventude contemporanea - nao apenas suadiversidade OUsua diferen<;:a mas, mais radicalmente, sua alteri-dade, e a amea<,;aque isso apresenta para o/a observador/a, parao olhar do ego, pard 0 olhar do sujeito, para 0 eu. Esse desvio eoficialmente reprcsentado e construido n~o como a mudan<;:a quetao claramente parece ser, mas como uma questao de deficienciade incompletude e de inadequa~ao. 0 tom e fortemente apoca~liptico e a mudan<;:a e concebida como patologia. A juventude era,antes, vista como algo do qual, ao final, a pessoa acabava selivrando, como Uffi esd.gio temporario no movimento em dire<;:aoa normalidade, a ser superado na totalidade, na completude dafase adulta. Essa passagem ordeira tornou-se agora carregada deuma incerteza arbitraria. Cada vez mais alienados/a, no sentidoclassico, as/as jovens sac tambem cada vez mais alienigenas, cadavez mais vistos como diferentemente motivados/as, desenhados/ase construidos/as. E, dessa forma, se p6e a horrivel e insistentepossibilidade: eles/as nao estao apenas nos visitando, indo embo-ra, em seguida. Eles/as estao aqui para ficar e estao assumindo 0comando.

Ha uma cena memoravel no E.T. de Spielberg, em si mesmouma fantasia filmica sobre infancia e alienigenas, na qual 0 outroponto de vista, 0 ponto de vista do outro e expressivamente, ,representado. E a cena na aula de Ciencias, na qual vemos 0

professor - aqui simbolizando os adultos em geral- movimen-t,ando-se pela sala e dando instru<;:6es sobre a li<;:aoa ser aprendida.E uma li<;:aode Biologia, e a atividade em questao e a dissec<;:ao

de sapos, que sac vistos ja pres os em garrafas de vidro, aguardandosua sorte - uma questao de vida e morte, literalmente, de cienciae natureza. A cena desenvolve-se por si mesma, reunindo, deforma belissima, a mutua identifica<;:ao entre a crian<;:ae 0 alieni-gena, entre a (des)humanidade e 0 significante transcendental eambivalente do extra-terrestre. E inteiramente pertinente paranossas preocupa<;;6es aqui, observar, em primeiro lugar, que setrata de uma narrativa de fic<;;ao cientifica, de uma fantasiatecno-cultural e, em segundo lugar, que 0 professor e visto dacintura para baixo, sendo descrito, assim, de forma bastanteeficaz, como urn ser distante e abstraido, desconhecido e des co-nhedvel, ao menos, para nos, os/as espectadores/as, embora anarrativa funcione para sugerir que as crian<;:asa£ descritas - outalvez mais particular e apropriadamente, 0 garcto que e 0principal personagem humano no filme, como uma cspecie deQualquer-Crian<;:a - estao posicionadas e dispostas de formasimilar. Quem s;io os a~i~jg~t:taS na sab de aula?_Sao.-os/asestudantes ou as/as proTessoresias? ~a() serao Q~ <:lqldltQhci~formageral,<iuedeverao ser vist~ca(G. ~ez mais, como alienigenas,vistas a p~~-ti~40_.Qll.t[QI~40.JH~bd{ie,j986)? Te1!c!(L~In vistaque ser~_:l juventude que herdaraaterra,que e ela que ja habitao futuro, em__m!!itmLS.~!1tigQS,J1~0 d dev.eriamos contemplar apossibilidadede que somos nos os/as que estamos sendo, assim,cada vez mais~--trailsformados/as em "outros/as", com nossospoderes sedesvanecendo, no IIlomenta mesmo em que os exer-cemos, cada vez mais estra.ng~i~os/as em nQssas proprias salas deaula e na cultura p6s-It!Qq~rna, d~fQrma.mais geral?

..,-----~E essa especie de ansiedade quase inconcebivel que anima e

dirige boa parte do debate contemporaneo sobre a interface entrea cultura juvenil e as novas tecllologias do texto, da imagem e dosom. 0 espectro do pos-modernismo assombra os lugares anteri-ormente sagrados pel os quais nossa propria gera<;:ao uma vez semovimentou com grande confian<;;a, como 0 tinha feito a gera<;:aoantes de nos. Agora, as funda<;:6es tremem, para dizer 0 minimo- na verdade, elas ja sac poucas e tendem a diminuir, ou assime 0 que parece. Vivemos com essa grande incerteza, assim comonossos/as filhos/as - uma observa<;:ao familiar, quase banal, muitorepetida ern publico e em foruns profissionais. Mas 0 ponto quedeve ser enfatizado aqui e que eles/as vivem essa incerteza de

forma diferente, sempre envolvidos/as ja, como estao, neste "jogo" "" d fu ,,2nervoso , no Jogo 0 turo.

Com isso em mente, podemos retornar a nossa hipotese (ouprovoca<;:ao, se quiserem) original: que urn novo tipo de subjeti-vidade humana esta se formando; que, a partir do nexo entre acultura juvenil e 0 complexo crescentemente global da midia, estaemergindo uma forma<;:ao de identidade inteiramente nova. Des-crevemos esse fenomeno, por enquanto, e com toda a duvidadevida, utilizando 0 termo "subjetividade pos-moderna", compre-endendo por isso uma efetiva<;:ao particular da identidade sociale da agencia social, corporificadas em novas formas de ser etornar-se humano. A relevancia dessa linha de o.rgumenta<;:ao paraa escola!"iza<;:aoe parel os estudos de mfdia e 6bvia. ~nt~~ de maisnada, parece evidente (llJJ~~ta~~Q.g~<:ol1g[u_fd~L1.!almente, umanova-!:~t~~~Q_~eil~r~a escQJ~Ii:!:ilc;~O~LLITJ.idia.Mas existe umajust{licativa ainda ~;I;;-6hvia para reavaliar, urgentemente, essasinstitui<;:oes, suas praticas e as correspondentf:s interrela<;oes entreelas. E que naa se trata apenas da_cr~sc~I1t~p~I1etE?S~o d_amfdiano processo de e~~Q.ra.I.Iz.~-~o~inastamhem,d.elormamais. geral,cia~illip-ort~riC1a-da })1fgia ...~._d;L£\Jln!E?:q<.l_igf()rm<:lc;~2-12araaescolarizac;ao e para. form as cambiantes de curricllio e.c!~alfabe-tismo,· com-todosos 'probi~rrias e po~;ibilidad~s daf decorrentes.Unia questao relicionada, emboi"a ainda pouco clara e com preen-dida, e a de umimportarlte deslocarnento da escola para a mfdiacomo 0 "aparelho ideologico de estado" dominante (no sentidoalthusseriano). Na assim chamada virada pos-moderna (Hinkson,1991), 0 curriculo tende a se desvincular da escola, 0 que impoeuma reconceptualiza<;:ao tanto do curriculo quanta da escola, umareconceptualizac;ao que seja feita de acordo com as condic;oesmodernas e para as condic,:oes pos-modernas.

Tradicionalmente, a escolariza<;:ao tern £ancionado nao ape-nas como 0 local do processo de "socializa<;:ao/subjetiva<;:ao"(Donald, 1985), mas tambem como seu mecanismo central. Comotal, de uma forma ou de outra, 0 processo de escolariza<;:ao ternestado envolvido no. (re)forma<;:ao compulsoria de massa dos/asjovens desde a fase pre-escolar de suas vidas ate a fase pos-escolar,

2 Expressoes extraidas de uma can(,:aodo grupo australiano de rock, Hunters andCollectors, escrita por Mark Seymour.

isto e, ate a sua entrada na for<;:ae no mercado de trabalho. Deforma crescente e importante, entretanto, tern se desenvolvido,alem disso, uma fase intermediaria e urn espac;o de transic;aoconcebidos de forma urn tanto diferente, cuja ambivalencia ternse tornado cada vez mais marcada, a medida que os temposmudam e 0 nexo tradicional entre 0 emprego e a economiatorna-se cada vez mais .problematico. Este espac;o tornou-se co-nhecido, de forma algo curiosa e certamente bastante ironica,como" escolarizas;:ao pos-compulsoria".

Nosso trabalho atual focaliza especifican1ente, embora naoexclusivamente, essa fase da escolarizac;ao, investigando as vidasde jovens de 16/1 ranos a medida que entram e saem do. escala.De partl:UiTarrere~~ncia para nosso estudo e 0 papd do. culturada mfdia nos mundos vitais desses/as jovens e a relac;ao entre essacultura e sua escolarizac;ao. Nao obstante a natureza contestada econtrovertida do termo, estamos tentando cornpreender 0 feno-me no e as quest6es politico-.::urriculares que ele gera, utilizandoo pos-modernismo como referencia. Entre tudo que pode, foi esed dito sobre essa questao e, nao obstante sentenc;as intelectuaisvanguardistas tal como a implfcita no titulo de urn ensaio recente,"0 que era 0 pos-modernismo?" (Frow, 1991), a descri<;:ao queHayles (1990) faz daquilo que ela chama de "pos-modernismoculrural" e particularmente relevante para nossos propositos nesteensaio. Ela tlz uma conex3.o entre desenvolvimentos contempo-raneos na ciencia, de urn lado, e no. teoria cultural, de outro,ligando assim "pos-modernismo(s) e desnaturalizac;ao da expe-riencia". Ela define 0 pos-modernismo cultural como a "compre-ensao de que aqueles elementos que sempre foram pensados comosendo os componentes invariantes essenciais da experiencia hu-mana nao sac fatos naturais da vida, mas consrruc;oes sociais"(Hayles, 1990, p. 265) - em suma, nao "natureza", absolutamen-te, mas sempre ja "cultura". Sua descri<;:aoimplica, alem disso, queos fenomenos relacionados ao pos-modernismo nao devem sercompreendidos nos termos binanos da distin~ao entre natureza ecultura e sim como novas fmmas de vida - fundadas na efetiva-c;:aoda tecnologia como segunda natureza e como organizada,irredutivelmente, peIo principio da representac;:ao. Ela faz umaimportante distinc;ao, imediatamente pertinente para nossa tarefaneste ensaio, entre aqueles/as que teorizam e analisam 0 pos-mo-

dernismo - aqueles que escrevem e pesquisam sobre ele - e"aqueles que 0 vivem" (Hayles, 1990, p. 281). Significativamentea dicot?mia que ela aponta e uma dicotomia geracional. Depoi~de anahsar a forma como se tern escrito sobre 0 pos-modernismoe quem tern escrito sobre ele, ela diz:

A, questao ~ muito diferente para aqueles/as que vivem 0

~os-.~odermsmo. Para eles/as, a desnaturaliza~ao do temposlgm~lca q~e ~les nao tern qualquer historia. Viver 0 pos-mo-d~rmsmo ~ Viver da forma como se diz que as/as esquizofre-mcos/as VlVem, num mundo de momentos presentes edesconectados, momentos que se chocam mas que nuncaforma.~ u~a prog~essao continua (e muito menos logica). AsexpenenClas antenores das pessoas mais vel has agem comoancoras que as impedem de entrar plenamente na correntepos-modema, uma corrente constitufda de contextos agrerra-dos e de tempos descontfnuos. Os jovens, carentes des~asancoras e in:ersos na TV, estao numa melhor posi~ao parasaber, a partIr da experiencia direta, 0 que significa nao ternen?um sentido de historia, 0 que significa viver num mundode slmulacros ever a forma humana como provisoria. Pode-sea~g~n:entar ~ue as pes~oa~ que, neste pais, mais sabem 0 queslgmf1ca senttr (0 que e diferenre de conceber ou analisar) 0

pos-modemismo, tem, todas, menos de 16 anos (p. 282).

Existe muita coisa a ser decifrada nessa passagem, muito mais do~ue 0 espa~o 0 permite. Assim, retirada do contexto, seria f,kilI?terpretar erradamente alguns dos pontos que ela levanta, con-sld~rando-os como extremistas ou como demasiadamente gene-r~hzadore~. Por. exe.mplo, a afirma~ao de que "aqueles/as queVivem 0 pos-mOdermsmo ... nao tern qualquer historia" - e alemd~sso, "nenhum sentido de historia" - precisa ser compree'ndidanao apen~s ~m sua rela<;:ao intertextual com a descri~ao, agoraquase canomca, do pos-nlOdemismo, do capitalismo de consumoe da es~uizofrenia como a condi~ao mesma da subjetividade e datextualidade pos-modema Uameson [1984]), mas tambem emrela~ao a descri~ao que Hayles faz do que ela chama de "desna-tur~li~a<;:ao do contexto" (Hayles, 1990, p. 269). Esse processoes~a vmcula~o aos novos desenvolvimentos tecnologicos e cultu-ralS, e espeClalmente a televisao, a computa~ao e ao video, como

(re)organizadores da a~ao e do significado humanos. Precisamostambem levar em conta, como observa Grossberg (1988, p. 125),que "se a juventude vive napos-modemidade, ela tambem viveem muitos outros lugares e contextos" - um dos quais e consti-tufdo, naturalmente, pelos espa<;:osregulados e pelas temporali-dades distintivamente texturadas e constritas da escolariza~aomodema ou modemista.

Entretanto, 0 que devemos enfatizar aqui e sua afirma<;:aoconclusiva, de que aquelas pessoas que "mais sabem 0 que significasentir (0 que e diferente de coneeber ou analisar) 0 pos-modemis-mo tem, todas, menos de 16 anos". Nosso proprio trabalho tomaessa distins;ao como um indicador aproximado de uma importanteruptura geracional e cultural. Essa ruptura e descrita por Datar(1984, p. 362) como um "fator importante de transform:ls;ao navida social contemporanea: a tensao entre a wltura juvenil global(especialmente do Terceiro Mundo) do futuro versus as culturascrescentcmente gerontocraticas do Ocidente". Ele vincula essaruptura a emergencia, entre outras coisas, de "um novo mundo,completamente diferente, constituido pelas culturas do robo, doscyborgs, das quimeras, dos extra-terrestres... e do pos-homosapiens" (Datar, 1984, p. 363). Embora sua analise acrescenteuma nova dimensao ao argumento (a dimensao de uma polfticapos-colonialista), um fato continua sendo central: a juventudecomo 0 sujeito par excellence do pos-modemismo, especialmenteem sua inflexao tecno-cultural.

Par8. Hayles 0 que caracteriza 0 pos-modemo e, acima dequalquer outra coisa, a no<;:aode desnaturaliza~ao e, especifica-mente, a desnaturaliza<;:ao da linguagem, do tempo, do contextoe, finalmente, do humano. Como escreve ela: "0 pos-modemoantecipa e implica 0 pas-humano". Alem disso, "embora essaquarta onda ainda nio tenha alcan<;:ado seu pico, esta, inegavel-~ente, crescendo em alcance e for<;:a" (Hayles, 1990, p. 266).Neste ponto, e preciso evocar a importancia e a relevancia dotrabalho de Haraway (1991). Em particular, e central aqui suaimagem, evocativa e deliberadamente ambivalente, do cyborg.Nos termos originais de Haraway (1991): "Um cyborg e urnorganismo cibemetico, um hfbrido de maquina e humano, umacriatura de realidade social e, ao mesp:1o tempo, de fic~ao" (p.149). "Assim, meu cyborg diz respeito a fronteiras transgredidas,

· a potentes fus6es e a perigosas possibilidades, que pessoas pro-gressistas podem explorar como parte de urn trabalho necessariopolitico" (p. 154). Para Hayles, 0 interessante e fascinante sobreo trabalho de Haraway e "sua visao do pos-moderno comopos-humano" (Hayles, 1990, p. 284). Ela tambem enfatiza comotais linhas de argumentat;,:ao e especulat;,:ao san profunda e funda-mentalmente perturbadoras, vinculando-as com os efeitos deses-tabilizadores associados com 0 pos-modernismo, a cultura juvenile, de forma mais geral, com as novas tecnologias, especialmentepara as gerat;,:6es estabelecidas (p. 282).

Registrando sua ambivalencia (Hayles, 1990, p. 285), umaambivalencia que nos proprios partilhamos, ela se pergunta sobreas conseqiiencias dessa desnaturalizat;,:ao do humano. Confronta-das com a prospecto dessas form as programadas de descorpori-ficat;,:ao tecnologica, somos obrigados 2. reavaliar nossasprioridades, nossos investimentos, nossos compromissos e nossosdesejos; a pensar muito cuidadosamente sobre os problemas e aspossibilidades desses processos. Educacionalmente, somos leva-dos a avaliar 0 nexo cada vez mais importante entre a cultura damidia e a escolarizat;,:ao pos-moderna, bem com os movimentosem diret;,:ao a informatizat;,:ao e a tecnologizat;,:ao do curriculo, taiscomo os que ja sao aparentes em nossas escolas e em nossa politicaeducacional atual. Como educadores/as, devemos avaliar aquilaqilc ja esta ocorrendo em nossas salas de aula, quando os/asalienigenas entram e tom am seus assentos, esperanJo (im)pacien-temente suas instrut;,:6es sobre como herdar a terra. 0 que descre-vemos como 0 "curriculo cyborg" nao e 0 produt0 de algumafantasia intelectualizada. Ao inves disso, argumentamos que ele jaesta conosco e esta nos refazendo, no momenta mesmo em quenos ensinamos e eles/as aprendem.

\, PANICO ESCOLAR E CUL TURA POPULAR:

CONECTANDO TECNOLOGIAS

especialmente nos an os 80 e inicio dos 90, sobre as formas deconstrut;,:ao da juventude e sobre a importancia da cultura ~opular.Nesses debates, a cultura da midia - talvez atelevlsao emparticular, ao menos ate a momenta - tern aparecido .de formacentral, ao ponto de ser 0 objeto par excellence do panICO m~ralpos-moderno. Esse debate, entretanto, so pode ser compreendldose levarmos em conta os nexos entre a juventude, a culturapopular e os meios eletronicos de massa.

Como em outras partes do mundo ocidental, a Australia terntestemunhado uma grande ofensiva cultural des de 0 final dos anos70, uma ofensiva que continuou durante todos os an os 80,orquestrada e planejada pela "Nova Direita". Como Apple(1988), entre muitm:/as outros/as, tern corretamente argumenta-do, deve-se comprecnder essa ofensiva nao apenas como umaresposta direta de parte do bloco dominante-cultural a umasupcsta "crise" no processo ord~nado de "reprodut;,:ac" social eeconomica, mas, tambem, de forma ironica, como uma at;,:aoqueretoma e reformula a propria tese da reprodut;,:ao, com suascorrespondentes retoricas e estrategias polfticas. 0 efeito disso euma enfase renovada na prodw;;ao cultural, especificamente porparte (e em favor) dos interesses da Direita e seus/suas eleitores/as.

Uma das caracterfsticas centrais dcssa ofensiva cultural ternsido os ataques insistentes a escola publica, a pedagogia da alfa-betizat;,:ao, ao progressismo educacional, a juventude contempo-ranea e a cu!tura popular. As manchetes de jornais, tais como"Escolas Geram Viciadcs em Cultura Popular" (1991) falam porsi mesmas. A materia em questio comet;,:a da seguinte maneira:"De acordo com urn relatorio ontem liberado, os departamentosestaduais de educa',;:ao estao produzindo uma gerat;,:ao de adultcsviciados em cultura popular (televisao, video e jogos de compu-tador), uma gera~ao sem qualquer sentido de historia". Esserelatorio, encomendado e financiado pelo Instituto de Quest6esPublicas, uma das principais e mais representativas instituit;,:6es depesquisa da Direita, na Australia (Kenway, 1990), colocava, espe-cificamente, a cultura popular contra a cultura alfabetica e aliteratura de "qualidade" contra a televisao. Invocando a retoricaagora ja bastante familiar da gerat;,:ao perdida e da patologia dacultura popular, a autora do relatorio, Dra. Susan Moore, e citadana reportagem como dando a seguinte declarat;,:ao: "Eles van para

Te.ndo em mente que estamos preocupados tanto com aal~~no sentido cIassico (p. ex., Fensham, 1986; Williams, ~pp.29-32) quanto com 0 sentido algo mais especulativo que introdu-zimos aqui, e importante relembrar que tern havido muitas dis-cuss6es e controversias ao longo das ultimas tres decadas, e talvez

a vida adulta muito menos informados do que precisariam estar,tanto sobre 0 mundo em que vivem quanto sobre seu Jugar nele.Eles nada sabem sobre a continuidade humana e 0 que outrospovos, em outras epocas, fizeram com suas vidas". A materia citaoutra academica da area de Literatura e antiga participante daABC,3 a professora Veronica BCldy, como se opendo a acusa~aode que e 0 sistema educacional que fracassou a esse respeito,apesar de ela ter "grande simpatia" pela substancia do relatorio:"Penso que voces devem culpar a televisao e a cultura de consumoque cerca as crian~as". De forma previsfvel, a materia provocou,no dia seguinte, um editorial ("Caminhando para urn pais igno-rante", 1991, p. 10) que se centra, especificamente, nas supostaspraticas e perspectivas falhas do en sino de Ingles, reativancio,desta forma, potencialmente, () assim chamado "debate sobre 0

alfabetismo" e sobre 0 discurso da crise educacional. "Quem, naverdade, ensinara as professores?", pergunta 0 editoriai, muitosdos quais saG descritos como "desorientados e preocupados coma exigencia de que eles ensinem literatura", ao lado dos textos damidia (supostamente nao-literarios), que se tornam, cad a vezmais, parte dos programas de Ingles, em todos os niveis daescolariza~ao (Beavis & Gough, 1991; Gill, 1991). Vale a penatranscrever 0 paragrafo final do editorial, em sua totalidade:

Contudo, em algum lugar, alguem deve estabelecer urn crite-rio, urn padrao. Nao irnporta quio sllbversivas sejam asfrivolidades da televisao, nao importa quao indiferente acultura pare~a estar em rela~ao a seu proprio declinio, existemprofessores, pais e educadores que sabem 0 que deve ser feito.Eles deveriam continuar dizendo aos diretores, aos conselhei-ros educacionais e aos secretarios de educa~ao que eles naoquerem que nosso pais se torne urn pais ignorante" ("Cami-nhando para urn pais ignorante", 1991, p. 10).

Quem pode resistir a urn tal apelo, a urn tao convincente chamadoas armas? Quem, na verdade?

Em outro local (Green, 1991), urn estudo cuidadoso de urnepisodio similar no trabalho hegemonico da midia impressa colo-

3 Australian Broadcasting Comission, a organiza~ao publica, estatal, de radio etelevlsao da Australia (N. do T.).

cava essa quesrao no contexto da ofensiva cultural e educacionalda Nova Direita, e sugeria que isso, por sua vez, precisava sercompreendido como sintomatico da cultura pos-moderna, espe-cificamente, em sua inflexao mais reacionaria e conservadora.Uma vez mais, a cultura popular era construida como 0 Outrodemoniaco cia cultura alfabetica e a literatUl:a era enfaticamentevalorizada em rela~ao 3:televisao. Estava em questao 0 que pareceser uma mudan~a cultural: nao simplesmente da cultura literaria z/para a cultura popular, mas tambem, mais especificamente, da £:--"'

cultura impressa para a cultura visual ("Perdendo nosso vinculocom a palavra impressa", 1987, p. 18). E precisamente essamudan~a que caracteriza aquilo que chamamos anteriormente devirada pos-moderna. De fato, 'larios/as analistas ligam 0 pos-mo-dernismo diretamente a cultura popular (p. ex., Collins, 1989;McRobbie, 1986; Milner, 1991). Alem disso, 0 pos-modernismoe a cultura popular SaGdiretamente associ ados, por sua vez, coma politica geracional e a emergencia da juven!ude como, ao mesmotempo, a cidadania do futuro, urn problema social crescente, urnnovo movimento social e urn mercado (Biguill, 1991; Gilbert,1992; Sherington & Irving, 1989). Dator (1989) identifiea adiferen~a entre "os alfabetizados na midia versus os alfabetizadesno impresso" como urn dos principais "fatores de transforma<;ao"cia cena atual, observando que "essa grande diferen<;a entre asculmras juvenis e as culturas dos mais ve1hos logo se tOfl1af<l(jase tornon?) urn fatar em si mesmo" nas imp0Lt~ntissimas mudan-7as globais en; curso. Como pe~g~nta~tor)1989, p. 363), t--'aqueles de nos que fomos condlClOnados, -durante toda nossa

vida, a pensar como urn livro, seremos capazes de lidar com essadiferen<;a?". Ele desconfia que nao.

/ 0 que precisa ser enfatizado e investigado, entretanto, e quei essa grande mudan~a cultural e epistemologica envolve mudan<;as\ em termos de tecnologia e pedagogia e, portanto, novas com pre-

\~:~~:~ ~: r~:Ji:~ A;~~~~e~;z;;~:::~~~~~;;~~a:;~~c~l;;~~~~ : ;:importancia educacional e cuitural da imagem como urn novo g.princ:1pjoo-rgariizacional para as rela~6es sociais e as subj~tivida-de_soConsiderados em conjunto com a informa~ao, ess~s prind-,~/pios emergentes contribuem para moldar formas cambiantes de ~~-curriculo e alfabetismo, novas rela<;6es entre textualidade e sub-

jetivid<1.ci.~e IlQ"asefetiVA·0~ da racionalidade eda ~ogni<;:ao/-(HinksoQ, 19~J;_lJlr.ner, 19~2)) Esses argumentos pe~,·~1.lma iuz inteiram-en.te-nova, afirma~6es tais como a de que"estamos produzindo uma gerac;ao de jovens viciados em culturapopular" (Editorial, 1991) e "sem 0 vinculo com a palavra escrita,corremos 0 risco de adotar urn novo barbarismo", na medida emque esses processos sac diretamente asscciados com "0 declinioda leitura" e com a crescente imporrancia cultural e comunicativada televisao, da computas;ao e da onipresente "tela de video"(Editorial, 1987).

Nao e suficiente assinalar 0 processo de demonizac;ao dacultura popular e de produ<;:ao discursiva do panico moral emterno das forma<;:6es juvenis contemporaneas. Esses processosprecisam ser cliretamente relacionados com a crescente penetra-c;ao, na sociedad~ contemporanea, do fenomene que tern sidodescrito como "~cn~)Cultur~ (Penley & Ross, 1991). E necessa-rio enfatizar a crescente convergencia entre a cultura popular e atecnocultura no contexto das condi<,:6es pos-modernas. A questaofundamental e, pois, a da importi'tncia dessa "CUlturel tecno-popu-lar", concebida como 0 espac;o semi6tico distintivo que os/asjovens, cada vez mais, habitarao como seu ambiente natural, como

r se~ do~inio proprio ~-C\m;o 0 espac;o par excellence de sua/" sooerama.

Os progn6sticos e diagnosticos culturais pessimistas de ana-listas como Allan Bloom e Neil Postman, assim como de figurascomo Leonie Kramer e Susan Moore, na Australia, devem serreexaminados a luz desses argumentos. Para Postman, urn bornexemplo de urn convertido guardiao da cultura e da civilizac;aotais como uma vez as conhecemos e as vivcmos, 0 espectro datelevisao se aproxima e alguma medida deve ser urgentementetomada:

o "nos" a que Postman se refere e enganadoramente inclusivo,como e indicado na pagina seguinte: "Embora 0 carater geral dainteligen~a de base impressa seja conhecido de qualquer pessoaque esteja lendo este livro, voce pode chegar a uma definic;aorazoavelmente detalhada dessa inteligencia simplesmente pensan-do na capacidade que e exigida de voce quando Ie este livro" (p.25). "Voce" c "eu" se op6em a "eles", os outros abstraidos e~ou seja, as gera~6es emergentes, imersas como estao na"te1evisao e seu ambiente de comunicac;ao" (Ulmer, 1989, p. ix).

As lamurientas perambulac;6es de Bloom pelas s6rdidas masdessa nova era, em busca do valor literario e das verdades essen-ciais e permanentes, podem ser analisadas atraves dos argumentosgue estamos apresentando neste ensaio. Em desespero, per causada excessiva tolerancia que ele ve como caracteristica das formascontemporaneas de educac;ao e por causa da malaise cultural queele ve como 0 leg~do direto dos an os 60, ele volta sua atencaopara "nossos problemas educacionais" (Bloom, 1987, p, 23). P;raBloom, esses problemas estao ligados ao "declinio na capacidadede leitura" (p. (4), a decadencia e a malaise que marcam asinstituic;6es tradicionais (em particular, a religiao e a familia) e apenetrac;ao e invasao da cultura popular. Numa passagem que eemblemarica de sua ViS30de mundo profundamente conservado-ra, ele afirma:

Algumas formas de dizer a verdade sao melhores que outrase, port an to, tem uma influencia mais saudavel sobre a culturaque as adota ... Espero persuadi-los de que 0 declinio daepistemologia de base impressa e a paralela ascenc;ao daepistemologia de base televisiva tern tido conseqiiencias gra-ves para a vida publica. Estamos ficando cada vez maisestupidos (Postman, 1985, p. 24).

Os pais nao podem mais comrolar sequer 0 ambiente domcs-tico e perderam ate mesmo a vontade para faze-Io. Comgrande sutileza e energia, a televisao entra nao apenas noquarto, mas tambem nos gostos dos jovens e tambem dosvelhos, apelando ao imediatamente prazerozo e suovertendotudo 0 que que nao se conformar a ela (Bloom, 1987, p. 58).

Que nao se trata apenas de uma mutac;ao curiosa, de urn momentosintomatico de urn ataque manfaco contra as formas supostamentedegeneradas do mundo (p6s)moderno, e indicado nao apenaspelo status instantaneo de best-seller que 0 livro de Bloom alcan-c;ou e pelo feroz debate que provocou, tanto na Esquerda quantona Direita, mas tambem por editoriais da imprensa, com suasreferencias a "pobreza da cultura popular" e ao fracasso dasescolas, "produzindo, assim, urn grupo empobrecido de jovens".Sabemos bem 0 que esta em jogo nesse conflito: "0 apelo conser-

vador ao passado assume 0 carater de uma bandeira ideologicacontra 0 futuro" (Aronowitz & Giroux, 1988, p. 178).

A descri~ao que Bloom faz da musica e, mais geralmente, dacultura do rock, e bastante expressiva: "Embora os estudantes naotenham livros, eles com certeza tern musica. Nada e mais singulara respeito desta gera~ao que sua compulsao pela musica. Esta e asra da musica e dos estados de alma que a acompanham" (p. 68).E significativo que a questao mais importante para ele seja aintensa identifica~ao dos jovens com 0 nexo entre a musica dorock e a cultura da midia. A evoca~ao que Bloom faz da compulsaoe da rebeldia combinam com as da possessao e da paixao, todaselas focalizadas no/a jovem como 0 local mesmo da diferen~a edo desejo nao-natural: 0 outro, excmplificado e corporificado.Alem disso, e a alteridade de uma forma de comportamento alheia- uma alteridade texturada e mediada essencialmente atraves datecnologia - que esra sendo questionada quando Bloom enfatizaseu populismo e a inclnsividade que acompanna de perto sua totalpenetra~ao: "a musica dos novos devotos nao conhece nem ciassenem na~ao. Esta disponivel vinte quatro horas por dia, em todaparte. Nao existe lugar algum que possa evitar que os estudantescomunguem com sua Musa" (p. 68).

Para Bloom, a combina~ao da music:! de rock com a juventudee potente e corruptora. Isso porque "a musica, ou a poesia, que eo que a musica se torna quando a razao emerge, sempre envolveurn delicado equilfbrio entre razao e paixao", urn equilibrio que"esra sempre inclinado, embora levemente, para 0 lado da paixao"(pp. 71-72). Como tal, ela e perigosa, sempre amea~ando ass altare avassalar a propria razao, a qual, portanto, esta necessariamenteem perigo. Ele registra, de forma aprovadora, 0 argumento dePlatao, de que "0 ritmo e a melodia, ac::>mpanhados pela dan~a,sac a expressao barbara da alma" (p. 71).

o que isto implica e exige e uma luta constante entre aracio~alidade e a irracionalidade, entre as for~as da treva e as daluz. E aqui que uma perspectiva focalizada nas relac6es entregenero e tecnologia se torna particularmente pertinent~. Uma talperspectiva nos leva a questionar nao apenas a politica de generoda racionalidade masculina hegem6nica, oculta sob a mascara dapropria "razao", mas tambem a racionalidade normativa associa-

da com a tecnologia ("tecno-logica"). A uniao entre a culturapopular e a tecnocultura - a cultura tecno-popular - torna-se 0

foco sobredeterrninado de varias e poderosas ansiedades e 0 localde multiplos investimentos. Alem disso, 0 panico moral queatualmente tern como alvo a juventude contemporanea e dirigidopelas tens6es sociais/subjetivas associadas com a sexualidade, coma (ir)racionalidade e 'Com aquilo que pode ser chamado de ins-consciente tecnologico, aquele dominio de sonhos e desejos,fantasias e fobias que inspiram e subjazem a cultur}~midia, emgeral (Sofia, 1993; Springer, 1991). 0 proprio'B~~ forneceuma imagem expressiva desse outro alienigena:- apesar de deproprio registrar de forma clara a ameafa, 0 perigo que essa figurarcpresenta na e para a imagiila~ao dominante-cultural, normativa:

Imagine 'Q.mgaroto de treze anos sentado na sala de estar dacasa de sua familia, fazendo sua tarefa de Matematica, aomesmo tempo que tern aos ouvidos os fones de seu walkmanou que ve a MTV. Ele desfruta das liberdades arduamenteconquistadas ao longo dos seculos pela alians;a do geniofilosofico e do heroisrno politico e consagrada pdo sanguedos martires; ele desfruta do conforto e do lazer fornecidospela economia mais produtiva de toda a historia da humani-dade. A ciencia penetrou os segredos da natureza para lhepermitir a maravilhosa, fiel reprodu~ao eletr6nica de imageme som que ele esta desfrutando. E 0 progresso culmina emque? Numa crian~a pubescente cujo corpo pulsa com ritmosorgasmicos; cujos sentimentos sac articulados em hinos aoprazer do onanismo ou ao assassinato dos pais; cuja ambi~aoe ganhar fama e riqueza, imitando a drag-queen que faz a

/musica. Em suma, a vida e transformada numa fantasia inces-sante, comercialmente pre-embalada, de masturbas;ao (Blo-om, 1987, pp. 74-75).

E diffcil resistir a tenta~ao de sujeitar esse discurso a uma cdticaradical que, como a propria psicanalise, seria simples mente inter-minavel; talvez sua simples cita~ao aqui seja suficiente, Os/asvandalos/as estao a porta da cidade, so que desta vez sac criaturasextraidas da fic~ao cientffica. Olha para a crian~a que te olha: seusolhos estao frios.

As implica~6es desses processos para a escolariza~ao e para a

educa~ao sac consideraveis e claramente perturbadoras e desafi-adoras. Acultura da midi a, entendida em sentido amplo, produznovas foin:;-a-s~aevidaepeloinenos algumas dessassaoliumanas()ll_E~~()~_~~~fii~i_~_<;:gmotal. E compreensivel, como Ha~les(1~sugere, que sintamos uma certa ambivalencia em re1i~ao a essastransforma~6es, porque elas nos obrigam a confrontar a diferen~ae a ideia de que escolarizar 0 futuro significa necessariamenteensinar para e com a diferen~a.

Ohservamos, pois, uma crescente prolifera~ao do panicomoral em torno da escola, dos/as jovens e da midia popular. Naopodemos deixar de observar tambem 0 predominio da tese dadeficiencia que quase invariavelmente marca esses debates. Eisaqui uma expressao particularmente sucinta desse scntimento: "afilosofia da gera~ao da MTV - intervalos curtos de aten~ao,processamemo rapido da informa~ao e uma enxurrada de ima-gens rapidamente cambiantes" (Switch 011 TV-.L.1990~3). Essaexpressao se refere especificamente a urn novo programa detelevisao dirigido aos/as jovens, que deveria ser levado ao ar naepoca ("este novo program a de cultura pop", como e globalrnentedescrito). Mas ela e sintornatica e expressiva de urna visao gene-ralizada em rela~ao as capacidades cognitivas dos/as estudantes ecaracteriza, ainda mais aguda e enfaticamente que em qualqlleroutro periodo da hist6ria, urn fosso entre gera~6es.

Educacionalmente, essa visao_b~~adE-D'Lde.ficiencia e parti-cularrnente significativa, especialmcnte quando consideramos 0

nexo cada vez mais estreito entre 0 processo de escolariza~ao e acultura da midia. "Entretanto, a cultura popular e ainda vista comsuspeita ou franca hostilidade por muitas pessoas envolvidas noprocesso de escolariza~ao", em parte por causa de "uma aversaopelo assunto" e, em parte, "por causa do medo de que eladeslocara a 'alta cultura' ou destruira 0 alfabetismo cultural"(Beavis & Gough, 1991, p. 123). E, certamente, disso que se trata,mas hi, aqui, algo mais em jogo. 0 que e preciso e uma compre-ensao ativa da deficiencia como diferen~a e urn reconhecimento,por parte dos educadores/as, de que 0 jogo mudou radicalmente.Como criaturas surgidas de baixo da terra, novos sujeitos estaoemergindo, novas formas de vida.

TECNONATUREZA, MUNDOS VIRTU~IS E CYBORGS:

o SUJEITO DA "IT"

Idhe (1982) observou que "0 mundo da midia e urn ~undotransformado" e "a experiencia da midia torna-se generahzada,efamiliar e come~a a dirigir nossas formas de compreender a n?spr6prios" (pp. 67,.69). Nossas inter~~6es c~m a tec~ologla,especialmente com as novas tecnologlas da mforma~ao ~ ~acomunica~ao, tornam-se tanto urn recurso para noss~ propnaauto-produ~ao quanto instrumental nessa auto-p:odu~ao. e? por,-tanto, de forma mais geral, para nossa produ~ao-d~-suJelto. ~neste ponto que se torn a apropriado e rel~vante conslde,~ar m~lsdiretamente algumas das implica<;:6esdo "dlSCurSOcybo~g (Spnn-ger, 1991, p. 321) e do conceito de su~jetivi~ade sOClai. Comoafirma Springer, ao discutir a emergenCla da l~age~n d? .cyb~rgem uma ampla serie de locais populares/culturals e ~lentlf1Cos/m-teleciuais e ao deb<lter a politic:l. contradit6ria assoClada com essamistura de categorias e apagamento de fronteiras:

Fronteiras tran'"sgredidas, de fato, definem 0 cyborg, tornan-do-o 0 conceito p6s-moderno maximo. Quando os humanosformam uma interface com os computadores nos textos dacultura popular, 0 processo consiste em mais do que apenasacrescentar proteses rob6ticas extern as a seus corpos. Envolve

. '.' •. omhinanr1o ~transformar 0 en em algo mrelramen,e novo, c - ~ ~1 ~ -: a

identidade tecnol6gica com a humana. Embora, a .su~Jr~tlv~da-de humana nao figue perdida no processo, ela e slgmnCatlva-mente alterada (p. 306).

Idealmente essa discussao deveria considerar seriamente no~6esde sexualid~de, desejo, (des)corporifica~ao, fratura de identi?a.dese tambem aquilo que chamamos de insconsciente tecnologlcO.

1 1·' (Nossas ambi~6es, entretanto, sac restringidas, pe os m:lte~ ,osnoSSOSpr6prios e os do. pre~ente ensai~) que no~,fo~am a~n~~ldos,as implica~6es educaclOnals da rela~ao entre alzen-a<;:ao e IT

4 "IT" refere-se a forma neutra pronominal da terceira pessoa, em !ngles, etambem a sigla IT, Information Technology (Tecnol_ogla de Informa<;:ao), numjogo de palavras que os autores exphcltam nesta se<;:ao(N.do T.). "."

5 0 "alien" nessa expressao, se refere, evidentemente, a palavra mglesa alren ,no sentid~ de "estranho" ou de "alienfgena" (N. do T.).

(Information Technology, Tecnologia de Informa~ao). Aqui noslimitaremos a enfatizar uma forma especifica de sllbjetividademoderna - uma subjetividade construida diretamente a partir derela~6es sociais e praticas, tecnologicamente mediadas - e suascodifica~oes psico-simbolicas. A sigla IT permite, conseqiiente-mente, urn jogo de palavras conceitual, nos termos de Ulmer(1988), colocando imediatamente em foco urn jogo entre "it" e"id" e provocando, assim, uma compreensao psicanalftica dasubjetividade como sendo, em pane, uma func;:ao das operac;:oesdo inconsciente e, portanto, de urn envolvimento com a alteridaderadical. Isso significa, por sua vez, descrever tanto a "diferen~a nointerior" quanto a "diferenc;:a entre", uma questao que e claramen-te relevante para nossos propositos, j;j que buscamos compreendera complex a relac;:ao entre humanos e maquinas, alienigenas e IT.

o aspecto a enfatizar e que as novas imagina~oes do corpo eos novos discursos sobre 0 corpo, t~is como os que caracterizamas im~gens !"elativas ao cyhorg e similares, implicam nao apenasnovas perspectivas sobre 0 dualismo mente/corpo, mas tambemsobre a propria noc;:ao de mente. Se a mente e 0 corpo, nessesregimes de representac;:ao e na pratica bio-tecnologica, sac agoraliteralmente desvinculaveis, dissociaveis, entao 0 fato de que 0

corpo humano possa ser reconstruido e regenerado, tanto simbo-lica quanto literalmente e que, portanto, potencialmente, senaoessencialmente, seja '.1ma "montagem" (Haraway, 1991, p. 212),desestabiliza ainda mais a persistente (in)seguran~a de uma certaimagem de subjetividade (0 eu como autor, como ego). Isso eassim porque essa visao - uma antiga ficc;:ao-com-efeitos (Hirst& Woolley, 1982) - tern sempre dependido de seu Outro, 0

corpo, meSillO quando este e radicalmente expulso dos dominiosapropriados da racionalidade, do conhecimento e da conscienciae, ponanto, efetivarnente reprimido. A distinc;:ao e clara, assimcomo 0 sac as atribuic;:oes de caracterfsticas de genero (veja, porexemplo, Curry Jansen, 1990; Walkerdine, 1989) a ciencia e aosujeito do conhecimento (mente), de urn lado t, de outro, atecnologia como 0 (in)animado e necessario outro (corpo) - urnprocesso que e elevado a novas dimensoes pela in(ter)venc;:ao dasnovas tecnologias de informac;:ao. No que se segue, discutiremosapenas certos aspectos dessa questao, mas esperamos que 0 campoconceitual mais ample aqui delineado possa contribuir para uma

compreensao da problematica mais geral.Numa era na qual a tecnologiza~ao da natureza e a naturali-

zac;:aoda tecnologia apagaram antigase confortadoras fronteiras,tern emergido novos descritores para dar conta das intimas asso-cia~6es que os humanos tern com suas tecnologias. Assim, Ha-raway (1991) fala de "cyborgs", ou organismos cibernetico.s, eRomanyshyn (1989) de "astronautas", ambos os termos assma-lando uma caracterfstica qualitativamente diferente das novastecnologias as quais estamos cada vez mais conectados/as e atravesdas quais somos, sob varios aspectos, proteticamente ampliados/ase estendidos/as. Novas categorias, particularmente aquelas quedesafiam visoes ha muito estabelecidas de nos mesmos, sao, aprincipio, desconforraveis e ate mesmo estranhas. Entreta~to,term os como "cyborg" ou "alienigena", bem como novos quaarosdiscursivos, sac necessarios para se come~ar a lidar com as com-plexas interac;:6es que localizam a educac;:ao no contexto de umaecologia digital. C.-2IDpj"efncleress~ecologiae urn pouco comoestar voltado para outro .21<lneta,ond~QQ1tC~sdasformas de \,i~aparecem famillares.- C~~preensivelmente, agimos de forma a nosapegar ao familiar, asCOisaSque se parecem com as que conhece-me)s no planeta Terra, mas 0 tempo todo explorando novascateg()rias e novas formas de descric;:ao.

Numa ecologia digital emergente, as coisasque nos, comocyborgs <!clllI!OS,preferimos nao notar sac as coisas nao-familiares.Afinal, encontramos formas de negociar a tecnocultura, usando 0

passado (pedras de toque?) para nos ancorar nas estonteantescorrentes do video, do audio, do filme, do radio e dos camposinformaticos da informac;:ao e da imagem. Assim, quando lemossobre jovens vendo de forma atenta dois filmes sendo projetados,ao mesmo tempo, lado a lado, numa ~~J'h-e os adultos, naassistencia, se levantando e indo embora (Adams, 199}); quandoos adolescentes nos dizem que "voces nao entendem a MTV,voces a processam" (David Smith, Faculdade de Educac;:ao, Uni-versity of Sydney, comunicac;:ao pessoal); quando vemos crianc;:asde tres e quatro anos usar os con troles remotos de aparelhos devideo para repetir urn segmento p!"eferido de urn desenho anima-do inumeras vezes; quando vemos crianc;:as de cinco anos quasefundidas com 0 controle de seu Nintendo; e quando vemoscrian~as extremamente novas explorar urn prograrna de desenho

num Macintosh, de uma forma que nunea aereditariamos possi-vel, llossas pereep~6essao limitadas e filtradas. Apegamo-nos a,e~tegorias_~~~()£!~doras e a memorias de uma era na quar 0munoo'pareeia mais previsivel, menos fragmentado e a eertezamais imediatamente tang,lve!. Para e~iear_Q_gl!~ vemQs•....f!pela-mosp_<lrClde.scri~6_es<:.ausais.quese bas~iam emexperi~nc:j'!..s_,deurn periodo em que a midia digital era muito menos penetrante:

U~a vez que vivemos no interior das agonizantes (ou margi-nahzadas) eulturas impressas e das emergentes eulturas audio-visuais, aqueles de nos que fomos condieionados toda a nossavida a "pensar. como urn livro" usualmente ignoramos, des-prezamos, ou simpiesmente nao podemos eompreender aque-Ies que podem aprender a pensar e a expressar seuspensamentos atraves de imagens holograficas em movimento.!endo sofrido uma tao grande lavagern cerebral atraves daImprensa, as novas cllituras que estao nos inundando sac taoverdJdeiramente incompreensiveis auanto as "mentes seIva-gens" das sociedades pre-alfabeticas ·que nos distorcemos oudestruimos (Dator, 1989, p. 363).

Os perturbadores olhares das crian~as "ampliadas" pelas protesesdas novas .tecnologias, crian~as que existem em algum lugar noespa~o delmeado pelo humano, pdo p6s-humano e pelo aliellige-na nos fazem lembrar que, emhora partilhemos, com os jovens,urn esp~~o geofisico comum, podemos aehar dificil, e talvezn:esmo Impossive!, partilhar os muitos espa~os eu munaos virtu-alS que eles habitam no ecosistema digitaL

Os/as hurnanos/as sempre riveram associa\;6es intimas corn osdispositivos e tec~010gj3j_qi'ie_"~~L~§~:coQs.t~JJ;g,tp, mas nunea,

~{,.< antes, corn tecnologias que operam a velocidade d~s"~~~~~~~"no-1· 1?~i~,~4ajJ:1f~r~~:~sao.Cgnectar urn organismo cujos mecanismos

sln~l1Zador~~_()l?e~a~;}.,~ogl11etros por segundo com uma tecno-10g}~~~~~!:'!_<:.~r~?deumml1b.~Q"cie'vezes matS 'rapidamentea1?!!!I,t~parJ. 1l,l11a}l11portantecaracteristica dess'!~}lOvas pr6te.ses:-Y' su~ veloCldade. Anteriormet1"te;" as/as' humanos/as construiramaispositivos que eram, dentro de urna ordem de magnitude, de

velocidade similar ados human os. A velocidade dessas teenologiastendia a distoreer as escalas geografieas, mas de uma forma tal queas pessoas podiam pronta e adequadamente lidar com a distor~ao,ao integra-l a a geografias anteriormente conheeidas. Agora, en-tretanto, "com 0 advento da comunica~ao instantanea (satelite,TV, fibra otica, telematiea), a chegada supera a partida, tudo chegasem necessariamente ter que partir" (Virilio, 1987, p. 19). Em vezde distorcer a velha realidade espa~o-tempo, vivemos num "espa-~o-velocidade", urn espa~o no qual a velocidade das novas tecno-logias de informa~ao distorce "a ordem ilusoria da percep~aonormal" (ib., p. 100). 0 espa~o-velocidade de Virilio e ecnstruidocom "vetores", urn termo que ele usa para deserever as trajet6riaspotenciais ae longo das quais carpos, informa~6es ou ogivaspodem passar. Em particular, a distribui~ao instantanea de ima-gens e informa~6es, a partir virtualmente de qualquer lugar paraqualquer outro lugar na superficie aa terra, esta baseada numaimportante transforma~ao, caraeteristicd da ecologia digital. Se-parar a mensagem do contexto era uma transforma\;ao necessariapara os primeiros experimentos de envio informa~ao atraves deurn fio. As recnologias que se desenvolveram a partir disso funda-mentam agora uma condi~ao eulturJl (Hayles, 1990, p. 271), naqual 0 texto e 0 contexto tornam-se intercambiaveis e na qualqualquer texto pode ser loealizado ern qualquer contexto (p. ex.,MTV). Neste sentido, 0 eontexto e construido, fugidio e indeter-minJdo e "novos tipos de unidades - contexto-mais-texto -estao emergindo" (p. 274). Trow (1978) sugere que estamosvivendo "no interior de urn eontexto sem nenhum contexto"(Hayles, 1990, p. 275).

A permutabilidade entre texto e contexto caraeteriza 0 livrode Gibson, Neuromancer(1984), no qual cowboys da informaticapenetram nos computadores atraves de seus sistemas nervosos eentram no "eiberespa~o" (Benedikt, 1991), urn termo agoraeomumente usado para descrever 0 espa\;o vetorial atraves do qualmilhoes de computadores estao interconectados. Nesse espa~o,no qual pouco resta do eontexto no sentido tradieional, moder-nista, imensas quantidades de informa~ao sac injetadas e mantidasnuma espeeie de nebulosidade ruidosa de "ls" e "Os". Projeta-senesse espa~o virtualmente qualquer eoisa, desde receitas, previ-soes do tempo e cota\;oes da bolsa ate discussoes politieas, ideias

re1igiosas e fantasias sexuais. Mais recentemente, as/as academi-cos/as come~am a "assistir" a conferencias no ciberespa~o.

A fim de se conectar com 0 ciberespa~o (Hafner & Markoff1991), os humanos precis am tel' acesso ao terminal local de u~v~t?r,. usualmente urn computador Iigado a rede de liga~oes~IgltaiS que envolvem. a terra. 0 numero de humanos/as agorahgados/as ~ urn ou maiS veto res da rede exige novas imagens deespa~o SOCIal,exatamente da mesma forma que a imagem de urnhumano us and? u~ u~ico computa~or exige novas descri~6espara dar conta dO vmculo entre orgallismo e maquina cibernetica(ou cyborg):

Fisicamente intacto, 0 jogador e, nao obstante jd urn cyborrrpois ,eIe [sic]6 esta Ii?ado ao computador pOl' 'uma intcra~;~contmua ent~e_seu sIs~ema nervoso e 0 circuito do computa-d.or.. ~essa Visao, tel' Implantes ciberneticos nao-destacaveissIglllfIca apenas reificar as coneXOtS destacaveis que ja ligamos human os aos computadores em milhares de lojas de flipe-ram a e centros de computa~ao em todo 0 pais (Hayles 1990p.277). ' ,

Nun: t,~lvinc,~lo entre o/a hun:ano/a e,a,;naquina, quem ou aquiloque e texto e.que~ ou a~Ullo que e contexto" sac coisas queflC,am. confundI~as a medida que a fronteira de tempo entremaquma e orgamsmo tambem Sf confunde: () lento texto humanos?fr~llma_rransforma~ao~os<::ircllitQs g~aI~a~~Jocidade, rever-sIv~~~,A().s()~~~!or e, pOl' slld vez,_~s d~~conectados-(para oS/ashumanos/as) m0.mento~_~~_c_<!.1!!'p'uta5i9rinterrompem- asrelatlva-m~Q!~JeDJ<lSe ..Irreyer~iV'e!~seqiienciis co'gnltlvas -e-"perceptuaisdos/as humanos/as (BaIley 1992) De f'·· '1·· ..·----.. I . ---- ...-_.-- .L..... • orma Simt ar, mas numaesca a m~Is ampla, atraves da grava~ao, da transmissao e dar.etransmissao de eventos, os meios eIetr6nicos de massa possibi-~ttam deslocam~ntos no tempo linear. As imagens que e1es enviamas nossas casas lllterrompem os cidos biol6gicos dependentes dotempo cia natureza, .mas nao afetam 0 tempo das maquinas, queoperam numa ve10cidade tal que, como sugere ViriIio, s6 indire-

6 ~rd~i~~rros ter consta~temente ern mente 0 vies masculinista da "tecnocultura"_ A scurso CybOTl? ; aSSlmcomo devemos ter em mente aquelas formas de

(r~slstlenClae reapropnas;ao associadas com as formas;6es de genera e de geras;aoen ey & Ross, 1991; SofIa, 1993).

tamente "atraves da grava~ao possibilitada pe10 videocassete,atraves da ciencia da informa~ao e atraves dos sistemas robotiza-dos" (Dercon, 1986, p. 36), podemos participar do processo.

A escola torna-se urn importante espa~o nesse c~~rio. Urn /dos alvos primeiros da comercializa~ao de produtos de Tecnolo-gia de Informa~ao - e exercendo agora urn papeI cada vez maisimportante no uso das novas tecnologias de informac;ao - asescolas, a despeito de sua hist6ria, tern se constituido sempre em"rerugios,,7 da midia eletronica. Muitos estudos apontam para ashoras que as crian~as gas tam nas salas de aula, em compara~aocom 0 tempo gasto em frente da TV. No case dos computadores,as escolas, com raras excc~oes, nao poderao chegar a fornecercomputadores suficientes para realizar as conexoes que sac en-contradas nas casas ou, como nos prim6rdios do processo deinformatiza~ao, em lojas de fliperama. Nao existe ainda nenhumestudo australiano que de uma indica~ao da quantidade e do tipode usa dos comoutadores em casa. Nos Estados Unidos, entretan-to, Negropont~ (1991, p. 78) relata que existem mais de 30milh6es de maquinas de videogame e que eIas podem ser encon-tradas em mais de 70 pOl' cento de todas as casas que tenhamcrian~as entre oito e doze anos. Dada a inclina~ao da Australia aconsumir produtos de Tecnologia da Informa~ao mais rapida-mente que a maioria dOS paises desenvolvidos comparaveis, aporcentagem de penetra~ao sera provavelmentc mais aha. A-in!£-orrancia educacio_l}1!LQQSComputadores domesticos e2~bli-nhada ela es uisa_atullLde5eymourPaperLcom o~jQg()~ da

lllte!1do (Negr~£!1.te1_JJ2J~_.p·_ZS) e pdo seu.trab<l1hoc?mLego e Logo (Brand,.l2S7, p, 1,2.5). Ate agora as escolas tern sidorelativamente bem-sucedidas na tarefa de "escolarizar" as novastecnologias de informa~ao; pOl' quanto tempo elas continuaraofazendo isso, entretanto, ainda nao esta claro (Bigum, 1992). Ateo presente momento, 0 apagamento de fronteiras e a inclina~aoa reconfigura~ao espacial demonstrados pelas novas tecnologiasde informa~ao e comunica~ao sugerem que as escolas e outras

7 Existe uma certa ambivalencia aqui, no fato de que as escolas podem serconcebidas tanto como "lugares seguros" quanto como "unidades de privas;aosensoria". Como Sachs, Smith e Chant (1989, p. 14) observam: "As escol.aspodem perfeitamente fornecer urn dos poucos lugares onde as cnans;as saGfors;adas a se retirar, por um certo tempo, de urn fluxc constante de sons eimagens eletronicamente produzidos".

in~t~tuis;6e~ s~c~ais,.tais como bibliotecas publicas, deverao ser, nomlll!n:o, SI?lllfIc~tlvamente reconstruidas (Bigum, 1991). Numcenano malS radIcal, a medida que a casa 0 carro e os pronr'. d' 'd - d . ' • IOSIII IVI uos ~ao ca a vez maIs tratados como consumidores deprodutos htgh t~ch,. ~s escolas tenderao a participar cad a vezme~os da ecologIa dIgItal extern a, tornando-se, afinal, realmenteextlntas.

~ Exatam~nte da mesma forma que 0 novo ecossistema e\ gerado a partIr do apagamento de fronteiras, assim tambem 0 sac~seus/suas habit~tes (Haraway, 1991, pp. 177-178). Embora

possamos ter dJfl(:u!d~~e em aceitar as ironicas afirmas;oes deHara:vay ~obre as. hIbndas;oes entre o/a humano/as e maquina eem v:s~ahzar, ass1m, nosso proprio envolvimento em circuitose~etromcos ~ numa rede eletronica de constituir,:ao e transforma-r,:ao do eu, Ja podemos identificar uma propors;ao significativacom~ portadora de mar~a-passos eletronicos, membros e orgaosproteticos e peles e artlC,ula~6es .a~tificiais (Hayles, 1990, pp.2.16-277). ~odemos tambem IdentlfIcar formas extremas ou des-VIantes de 1.lgar,:,aoentre o/a humano/a e maquina, particularmentecon: resl?eIto a computar,:ao (p. ex., Springer, 1991). ExistemmUltas hIstorias sobre "malucos" da Informatica e soore cyber-punks (Hafner & Ma~koff, 1991; Turkle, 1984). 0 esrereotipodo homem obeso, sOClalmente estranho, vivendo a base de junkfood e passan?o ho~as e horas, na madrugada, a freme de urncomput~dor, e uma lm~gem comum, assim como 0 e a imagemdo malllaco por TV cUJOteclado e urn dispositivo de controleremoto. 0 que ouvimos menos sac hist6rias sobre crians;as eadultos "normais" que tambem gastem longos periodos de temponum teclado d.e_computador, num controle de videogame ou em~re"?teda televlsao. Estab~lecer "fronteiras" em torno daquilo quee VIS~Ocomo uso normal torna-se cada vez mais probJematico amedida que aumenta a difusao das novas tecnologias e elas set~rnan:,. cad a vez mais, incrustradas em nos e na maioria dos~lSPOSItl~OSqu~ usamos rotineiran:ente (Weisner, 1991). Estaom questao ~qUl tanto ~s desenvolvimentos materiais quanto suas

representas;oes culturais. Hayles (1990) registra as imagens _

presentes em desenhos anirnados infantis e em filmes comoRobocop - dos/as humanos/as vistos como "simples nudeos nosquais se podem in crus tar mecanismos ciberneticos": "essas ima-gens implicam algo mais que a duvida, usual entre os/as jovens, Vde que a historia, em geral, e a geras;ao mais velha, em particular,tenha qualquer coisa de Util a lhes ensinar" (pp. 280-281).

Para a maioda dos adultos, a ecologia digital na qual agoranos encontramos desenvolveu-se ao redor de nos e nos nos !'

~adaptamos a ela, alguns mais prontamente que outros. Em cons- 1traste, nossos/as jovens nasceram nela; e seu ambiente natural.Para eles/as, a alta densidade dos vetores de comunicar,:ao e itJ.teira IIe inequivocamente natural, algo ao qual eles/as aprcndem a se Iiadaptar, algo que aprendem a usar e a explorar, exatamente da I"'mesma forma como nos aprendemos a nos adaptar a rarefeita iecologia eletronica na qual nos nos desenvolvemos. Na visao que 1consideramos equivocada, os "jovens cyborgs" sac vistos simples-mente como mais uma nova geraS;ao, de urna forma em nadadiferente das novas geras;6es do passado. 0 assirn charnado "fossoentre gera~6es" e visto, nessa perspectiva, simplesmente como 0

equivalente, nessa era cia informatica, do sentimento de distanciaque nossos pais e nossas maes experimentavam em re1ar,:ao a i

seus/suas filhos/as. Formular a questao geracional dessa maneirae confortador para pais, maes e professores/as. Vis to dessa forma,os jogos da Nintendo S'eriam simplesmente uma versao high-techde alguns dos jogos de fantasia que eles/e1as pr6prios/as constru-iam a partir de brinquedos que nao eram feitos para golpes dekarate e de Nunchukus.8 Trata-se de uma resposta similar a dealguns/algumas profess ores/as quando os computadores chegarampela primeira vez a sala de aula - isto e, "continuemos fazendoo de sempre, so que agora usando urn computador". ~-se aignor~ssa pers~tiv~_;'~.ilo 311e_~_I1!en~s_visivel -=isto_~.2 anatureza especifica da tecnolOgiaque envolve 0 jovem cyborg e,em particular~ su~ veloc~dade e_~~·~~-.~~i~~§r.!~5:l~a~~~~~~~onals:-

Os produtos de alta tecnologia, particularmente os ccmputa-do res, podem ser caratterizados (tal como os/as humanos/as) emterm os de geras;6es. Trata-se de uma forma abreviada e conveni-ente de se referir a gran des mudanr,:as na arquitetura e no desenho

de hardware e de software (usados em seu sentido mais geral demidia). Embora haja defini~6es formais das caracteristicas de cadageras;:ao, a medida que a velocidade da tecnologia transfere-se paraa velocidade com a qual novos produtos sac produzidos, os fossosgeracionais (em termos de anos e outros registros cronologicos)tornam-se mais curtos. Em termos gerais, a caracteristica quedistingiie uma determinada gera~ao e que ela e - diferentementedos/as humanos/as - mais rapida que as gera~6es anteriores. Istosignifica nao apenas que os dispositivos separados que atualmentechamamos de computadores, mas tambem os computadores queestao embutidos na maioria dos aparelhos e equipamentos eletro-nicos que usamos, tornam-se mais rapidos. A velocidade se traduzna capacidade de fazer mais coisas no tempo equivalente ao limiteinferior da percep~ao humana - "0 piscar de olhos". as vinculosperceptuais - isto e, 0 som e a imagem - tern, cad a vez men os,aparencia de m~.quina e, conseqiientemente, as uni6es feitas entrea maquina e o/a humano/a (cyborgs) rornam-se mais "ndturais".

Para aqueles/as de nos que vimos passar varias gera~6es decomputadores, 2S mudans;:as de velocidade sac acomodadas quaseda mesma forma pela qual 0 encurtamento da terra, atraves dastecnologias rapidas de transporte, foi acomodado por nossos/asavos/avos. ~a!~ aqueles/as nascidos/as numa gera(ao particular dedispositivos baseados no computadQI, sua ~~12.cLet~deL~~lg:a.Iaternatu~~l,-_suaJorma partirulauie dispositiyCl '~alTIigA,,~l'~ygI;l_o/ausuarjo/;l' pC2nitiWJ~mii.JIQrma; eksJ...asna.Q_tem l1en1:mm<l;e-x.:peri-en cia basica c2.l!JJ1~rav~L~-!!2.s2a.Sua escolha de uni6es cern amaquina e feita a partir da disponibilidade do conjunto contem-poraneo de dispositivos que ajudam a constituir seu ecossistemadigital. Dessa forma, cada geras;:ao de jovens vivencia uma "tec-nonatureza" unica que se torna a base para nomear 0 ecossistemadigital em que vivem. Aqueles/as que vendem produtos high-techestao estreitamente sintonizados com as mudans;:as gerdcionaisque descrevemos. Neste sentido, UUl tanto ironicamente, aque-les/as que chamamos aqui de "alienigenas" sac produzidos/ascomo tais por humanos/as que atualmente ocupam posi<;:6es deinfluencia e poder, tanto comercial quanto culturalmente. Filmestais como Bladerunner e 0 Exterminador 2, e as sucessivas gera-s;:6esde videogames domesticos constituem dramatiza~6es extre-mas e efetivas desse argumento (Provenza, 1991, p. 11).

L<!!!§. categoria-chave e a ~9cidade: .cada gera~ao ~yborg ,. itest<iassociada com as caractenstlcas de veloCldade do ecosslstema i idigital na qual ela nasceu. De forma mais importante, a velocidadepropicia urn meio para se teorizar os mundos nos quais os/asjovens habitam. 0 trabalho de Virilio tern tentado compreendero novo fenomello sacio-tecnolagico da velocidade e das rela<;:6essociais que moldam a velocidade-espa<;:o e sac moidadas-I2or de.Ao escrever sobre a percep~ao, ele evoca urn termo, "pi£nol~para descrever 0 que ele chama de "tempo perdido". A rupturano tempo e instantanea - uma xfcara pode cair e, de uma formaigualmente rapida, 0 tempo consciente se recomp6e, como se 0

momento da quedd nunea tivesse existido. "0 tempo conscienterecomp6e-se automaticamente, formando urn tempo continuo,sem rupturas aparentes" (Virilio, 1991, p. 9). Para Virilio, apicnolepsia e urn fenomeno de massa, urn estado paradoxal devigilia (vigilia rapida) que complement a 0 estado paradoxal desono (correspondente it velocidade de UIllmovimento ocular). Eleargumenta que a exposi<;:aoaos simboios e sinais de alta velocidadeda tecnocultura popular agrava os efeitos da picnolepsia, "umavez que provoca uma retirada - perpetuamente repetida - porparte do sujeito, de qualquer contexto espas;:o-temporal" (p. 101).

ala jovem cyborg, cuja experiencia e constituida de uma ricagama de contextos esp.ls;:o-temporais tecnologicamente capacita-dos e rdor<;:ados - ou, nos term os da informatica, de "mundosvirtuais" - e necessariamente diferente de cyborgs mais ve-lhos/as. Para ~as jovens cyborgs, sair desses espa<;:ose neles entrar- num certo sentido, v~ajar no tempo - pode, pois, ser urnmomenta picnoleptico.9 E interessante observar que a tecnologiaque sustenta a velocidade-espa<;:o come~ou a fazer capias davelocidade-espa~o para os/as humanos/as. 0 desenvolvimento desistemas de realidade virtual (veja, por exemplo, Hillis, 1992;Rheingold, 1991) tacitamente afirma a fugacidade e a virtualidadede todos os mundos ou espa<;:osque os humanos tern explorado

9 Um ponto a registrar aqui e que parece existir vinculos intrigantes a serconstruidos entre a "picnolepsia" de Virilio e 0 conceito de "sutura", da teonapsicanalitica de Lacan sobre a linguagem e a subjetividade: lacunas, temp~perdido, rupturas ou (des)continuidades, como quando 0 sUJelto.(escolar) epercebido como nao presente para si mesma, esra ausente ou talvez dlstraldo(Veja Harpold, 1991; Henriques, Holloway, Urwin, Venn, & Walkerdme,1984). .

na matriz da computas;:ao e da telecomunicas;:ao. A realidadevirtual ja e urn simulacro total(izador), urn simulacro no qual nos,tambem cyborgs, estivemos vivendo, num certo sentido, ja poralgum tempo. 0 tinico problema e que somos incapazes delembrar os momentos picnoIepticos quando vestimos e desvesti-mos luvas e capacetes. Para os jovens cyhorgs, as escolas tambempodem simplesmente ser apenasuln_o.YJg)e_sp~S;:_Q..Y.irtual(Luke &Luke, 199Q), no. interi6i-ao-q~ala influencia das experiencias deoutros espas;:os pode ser reproduzlda~a~~]orma_ininteirupta esimultaneamente recontextualizada e desco.nt~)(tl)a1izada. Pro-venzo (1991; p. 92) relata ocaso de urn garoto pre-escolar cujadescris;:ao da forma como ele tinha tido problemas com a profes-sora era felta "como se ele tivesse numa fase de urn jogo daNintendo, tal como 0 Super Mario Brothers 2". A crian<;:adescre-veu sua professora. como urn "chefe", uma referencia aos "peque-nos chefes que controlam as diferentes fases do mundo dossonhos". Dadas essas condis;aes tecno-culturais -- transformadase cambiantcs -, 0 que e necessario ser rigorosarnente e mesmoradicalmente reavaliado em relas;:ao a noss::! compreensao dasubjetividade e da ordem simbolica?

descrito como uma estrutura pos-moderna de~mL~.r:w-_~xidgeque aquel~_~Las__de_n6s-_.qUL.CarregamDs--a_res-POl}s~1:JUldade eescoEiri~ar 0 futl1rOIl~_o.<lpeIlasdesen'loJ~~_l!QYasj;;QJ~pt::een- /saes e novos re~ursos~ mas talllbem umsentimeIltQ:apr~pn~~o dehumildade, juntamel1te coill 0reconb,eci~entod.a-lt'...eV1tabllldadeda diferens;:a. Como argumenta McRobble (1986):

Nao existe como voltar atras ... Para popu~as;:6es tr~sfixa?asem imagens que sap elas proprias reahdades, na~. ~xlstenenhum retorno a urn modo de representas;:ao qu.e POl1tl~e.dealguma suposta forma direta, "digna" .. A sene televlslvaDallas est:].destinada a se situar ao lado de Imagens da r~voltanegra. E naa e mais possivel, vivendo com 0 p.6s-modern~s~o,falar sobre imagens inequivocamente negatlvas ou pOSltlvaS(p. 115).

Embora seja ainda mais apropriado, por exemplo, ~ telenovelaaustraliana, Chances, ao lado das impresslOnantes Imagens doespancamento de Rodney King. pela pol~c!a d~ ,Los Angeles, ~scontradis;:6es sac inevitciveis, aSSlm como e mevltavel a complexl-dade de se viver emJillY.O.S.-t.e.mpDs.McRobbie argumenta em favorde uma visao positiva, competente, dos/as jovens e das e~e.r?entesculturas da imagem e de urn reconhecimento das posslblhdadeseducacionais e polfticas a serem construidas ~anto na cult~rapopular quanta no pos-moJemismo. Sem duvlda, tanto 0 pos-modernismo quanta a nos;:ao de "alien-a.s;:ao",tal co~o a desen-volvemos aqui, devem ser vistos como ef~ltOSde uma ahans;:aentreo bloco dominante-cult.ural - essenClalmente, neste caso~ asgeras;:aes adultas - e 0 complexo industrial-militar que efe~lva-mente subjaz a cu.!J;uralglobal da mfdia. Tra~al~a~do contra lSS~O,entretanto estao formas importantes de reslstenCla, apropnas;:aoe redesenh~ por parte dos grupos subordinados, c i.sso e algo quesempre deve ser levado em conta. Sem perder de v~sta, portanto,a contextualiza~ao global da cultura da midia e do dls,;~rso cy~~r~no contexto daquilo que Haraway (1991) chama de mf?rm~atl~ada dominas;:ao", 0 que queremos enf~tizar aqui e a ~mbt:alenclaaberta e a polfti,<;:9:co~:lt!:(l(Et2Ti~assoCl~Qas co~ no<;:oestal,~c?m?~cul;~yE;rge, na verdade, com_q.p'[oJ2t:f_<!._~1!!~,t.:!P_de -"ahe~l-g-enas".O que fazer com i~2~ e preClsa e hteralmente 0 de~flOque~nfrentamos.'-

Somos convocados de volta a Terra e devemos confrontar 0espectro da segunda-feira. Qile implicaS;:6es essa discussao dacultura da midi::!, da tecnologia e da subjetividade tern para aescolariza<;:ao e, de forma mais geral, para a educas;:ao pos-moder-na? Uma coisa que parece clara e que a propria ambivalenciadaquilo que chamamos aqui de "alienfgenas" - compreendidoscomo novas form as de vida - representam urn desafio radical.Naoy~(L~.[i1()s_ignorar,nem,a...profunda,aliena¥{)-que-rnuitos,Lasjovens -experimen.tJ.!ILhQi~ __~0.11£mJ1taI1cl2~l!.rgfutur:2~ myitofreqiientemente parece ja es.gmadc ....meSillQ_ameS de JeLcheg'!d_o,marcado sempre por umaincerteza fundamental-seusentimen-tacre serem-,-cad_a.Ez.iiiaIs,_~~iLiQli~~/ as.numa terraestranha _,n~m a probabilidade ~e1es!as este~orn..ando distintivaec g~_lleriSl!11.~m~ilif~!.ente~_~~os de~~~_~_<lQ<lEi<i,<l4C:~I.~~asestru~llr<l~ cl~jg~l1tida(k.--k..s..eu.s_v.alor.es.l)~<.:ul!ladeguad~nteessa diferens;:a e respo~d~~_~gllH2-.g!:!~_.pQ..d~_J_eE_p_~~feit~mente-------_ ..__ .--,:

Os alienfgenas da fiq:ao cientffica sao criaturas de outrosmundos. Em nossa presente e emergente ecologia digital, existemmuitos desses mundos que estao aparentemente fora do alcancede cyborgs mais ve1hos, mas no interior dos quais as/as jovenscyborgs estao ocupados, neste exato momenta, na tarefa demoldar e fabricar suas identidades. As escolas podem perfeitamen-te se tornar locais singulares, como mundos proprios nos quaiscyborgs geracionalmente diferentes se encontram e trocam narra-tivas sobre suas viagens na tecno-realidade - desde que nos nospermitamos reimagina-Ios e reconstrui-Ios de uma forma inteira-mente nova, em negocias;ao com aque1es que urn dia tomaraonosso lugar.

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AGRADECIMENTOS

. . t de pesquisa, "Schoo-Este estudO esta assoClado ~ urn proJe 0 ld

rd d Educa<;:ao,

lin and theYnttire", reahzado na Facu a e.e , h...g---,. . d pdo Austrahan Re:;earcDeakin Umverslty, e patrocma. 0

Commlttee.. . L; d 'Fitzc1arence, Rob Walker

Integram a eqUlpe do proJeto ,n say d t ensaio Queremose Richard Bates, ass~m ~omoL~~~~~yor;~tz~:r~nce, p~las discus-agi'adecer, em partlcUlar, a . . . . a'

s6es e :;ugest6es nos estagios mlClalS deste ",nsato.

•, . foi ublicado inicialmente no Australian !ournal of

Est~densat~ f7(2) 1993: 119-141. publicado aqUl com a£, ucatzon" . T d rao de Tomazautorizas;ao dos autores e da re".lsta. ra u~

Tadeu da SlIva.

•Bill Green e Chris Bigum sao profesfores ~~ Fac.uld~~:t~i;du-

ca<;:aoda Deakin University, Gee ong, lCtona,. .