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sociologia

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    Revisitando Dependncia e Desenvolvimento

    na Amrica Latina

    Jos Maurcio Domingues

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    Srie Cadernos FLACSO Nmero 1

    FLACSO Brasil Diretor: Pablo Gentili

    Coordenador Acadmico: Rodrigo Nbile Os Cadernos da FLACSO so publicados em verso eletrnica e grfica, com tiragem de 1.000 exemplares para distribuio em instituies acadmicas, no servio diplomtico e nos rgos de imprensa. Os textos publicados apresentam a opinio dos autores e no necessariamente sintetizam a posio da FLACSO Brasil sobre os temas em debate.

    Revisitando Dependncia e Desenvolvimento na Amrica Latina

    Jos Maurcio Domingues Outubro, 2010

    (c) FLACSO Brasil, Rio de Janeiro, 2010

    FLACSO - Brasil

    Rua So Francisco Xavier, 524 - Bloco F - 12 andar

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    ndice

    Introduo .................................................................................................................................... 7

    Os conceitos centrais de DDAL..................................................................................................... 8

    A Amrica Latina e outras semiperiferias e periferias .............................................................. 15

    Concluso.................................................................................................................................... 24

    Referncias ................................................................................................................................. 27

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    Introduo

    Dependncia e Desenvolvimento na Amrica Latina (Cardoso e Faletto, [1969]

    1970 daqui para frente DDAL) certamente o livro publicado por latino-americanos

    que teve jamais o maior impacto nas cincias sociais e no pensamento social e poltico

    atravs do mundo. Fernando Henrique Cardoso, um de seus autores, junto a Enzo

    Faletto, e anteriormente presidente do Brasil, recentemente ofereceu nas pginas de

    Studies in Comparative International Development uma reavaliao desta obra

    (Cardoso, 2009). Ele tentou tambm mostrar que o mtodo de anlise em que se

    calcaram o estruturalismo-histrico ainda vlido para analisar o mundo

    contemporneo, articulando-o a uma viso ampla da situao global, com referncia

    especial Amrica Latina.

    Nas pginas seguintes argumentarei, contudo, que a reavaliao que Cardoso

    faz do esquema conceitual de seu livro apenas parcial e que isso tem a ver com suas

    atuais concepes tericas e polticas, como se evidencia no mesmo artigo. Isto se

    vincula profundamente ao ngulo a partir do qual ele v a globalizao e

    especialmente a Amrica Latina hoje. Embora argumente em favor de uma social

    democracia global e rejeite a viso de que seu governo implantou reformas

    neoliberais, atacando tambm o que chama de populismo em novas vestes, essa

    auto-avaliao dificilmente pode ser vista como verdadeira, sendo seu argumento

    ademais tributrio de uma concepo de que haveria duas esquerdas na Amrica

    Latina, uma boa, racional, democrtica, a outra ruim, demaggica e ao menos

    potencialmente autoritria. No que se segue procederei sem intenes polmicas,

    portanto evitarei tanto quanto possvel discusses polticas mais especficas, assim

    como me prenderei basicamente a DDAL e recente, mais formal, avaliao de

    Cardoso do texto e sua viso do mundo contemporneo. Contudo, isso no

    inteiramente possvel, uma vez que uma anlise da Amrica Latina est em pauta, com

    referncia especificamente a esses conceitos. Aquelas questes devem ser, porm,

    enfrentadas tanto para uma avaliao das atuais possibilidades do livro quanto das

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    realidades latino-americana e global. verdade que se poderia sugerir que a teoria da

    dependncia no mais relevante. Ao contrrio, pode ser argumentado que a teoria

    da dependncia sumiu de vista em grande medida, mas que os problemas que ela

    enfrentou continuam to prementes como antes (cf. Pecaut, 1985). Este o caminho

    que este artigo seguir, apontando para as razes pelas quais isso permanece assim.

    Primeiramente assinalarei as limitaes da reconstruo de Cardoso de seu

    prprio argumento. Em seguida relacionarei isso a sua concepo da globalizao e a

    uma abordagem que considero mais adequada. Tratarei ento da dura situao da

    Amrica Latina, mobilizando tambm evidncias que corroboram a utilidade dos

    conceitos originalmente expostos no livro de Cardoso e Faletto. Finalmente, levantarei

    um ltimo ponto, na medida em que no contexto latino-americano DDLA funcionou

    exatamente como uma teoria crtica, questionando as concepes dominantes do

    desenvolvimento, conquanto recusasse a idia de uma estagnao absoluta e

    inevitvel. Como isso funcionaria agora algo que importante de ser ao menos

    brevemente tratado.

    Os conceitos centrais de DDAL

    Embora Cardoso afirme a validade de seu quadro conceitual anterior para uma

    anlise do mundo contemporneo, ele o faz de maneira muito seletiva. Na verdade, a

    nfase principal de seu argumento posta no elemento poltico que estava presente

    em DDAL. Este foi um avano decisivo, que de fato representou uma ruptura com as

    mais comuns teorias da dependncia, sobretudo com a definio de Frank (1967) de

    que o desenvolvimento necessariamente cria subdesenvolvimento, a despeito de

    qualquer coisa, a no ser que se tratasse da revoluo socialista, claro. No que

    Frank estivesse totalmente errado de um ponto de vista descritivo, como argumentarei

    abaixo. Ele havia, contudo, transformado o que muitas vezes uma situao

    empiricamente verificvel em uma necessidade teleolgica, com roupagens tericas.

    Cardoso e Faletto no aceitaram esse tipo de ponto de vista, embora o quanto o livro

    tenha sido uma reao a isso ou uma contribuio elaborada de maneira

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    independente deva estar aberto investigao, uma vez que a primeira verso de

    DDAL do mesmo ano da publicao do livro de Frank. provvel que a obra de

    Cardoso e Faletto tenha muito a ver com os debates latino-americanos sobre a

    estagnao insupervel que parecia haver se firmado no comeo da dcada de 1960

    nas economias regionais (ver Serra, 1976).

    Fato que Cardoso e Faletto argumentaram, diferentemente tambm da teoria

    da modernizao (que Cardoso, porm, parcialmente abraou anteriormente1 e qual

    ocasionalmente retorna), que os caminhos do desenvolvimento no so, por assim

    dizer, definidos divinamente. De acordo com uma convico muito disseminada, pelo

    mundo e na Amrica Latina, incluindo em particular a Comisso Econmica para a

    Amrica Latina (CEPAL) das Naes Unidas, o estado mobilizaria a sociedade e em

    grande medida assumiria a tarefa de promover o desenvolvimento, quando isso

    ocorresse (DDAL, pp. 4-6/10-12). Mas os pases se diferenciavam segundo as coalizes

    que chegariam ao poder em cada um deles e se utilizariam do estado para realizar seus

    projetos, nos quadros de condies estruturais que estabeleciam suas margens de

    manobra, os quais no eram, todavia, insuperveis (DDAL: caps. 3-5). Para fazer uso de

    um jargo corrente nas cincias sociais, a dependncia de trajetria era crucial, porm

    no determinava resultados, que seriam mediados pela ao humana. A dependncia

    era tanto uma relao externa quanto internamente estruturada como um tipo

    particular de relao em uma nao subdesenvolvida (DDAL, pp. 19/22-3). Na verdade,

    eles chegaram inclusive a observar, no Post scriptum de 1979 edio em ingls do

    livro, que no visavam medir graus de dependncia, mas sim inquirir sobre a

    quem, a que classes e grupos, o desenvolvimento servia (Cardoso e Faletto, 1979,

    pp. 201 e 212) perdendo contudo a oportunidade de compreender o que adiante

    ser discutido em termos da condio semiperifrica. curioso que Cardoso no d

    nenhuma ateno s coalizes polticas em seu comentrio recente ao texto clssico,

    sendo este um tema a ser explorado, porquanto nos diga muito sobre o

    desenvolvimento como tal e inclusive sobre as perspectivas de Cardoso.

    1 Ver Cardoso, 1967.

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    Ainda que as articulaes polticas fossem centrais, os elementos estruturais

    do livro eram tambm de enorme importncia para a anlise. Quero especificamente

    sublinhar as definies de dependncia, centro e periferia, desenvolvimento e

    subdesenvolvimento contidas em seu argumento fundamental. Conquanto Cardoso

    (2009, p. 301) mencione, de passagem, o subdesenvolvimento como uma

    caracterstica da economia brasileira em relao dos Estados Unidos, assim como a

    idia de centro e periferia, estas no cumprem praticamente nenhum papel em sua

    discusso recente. Alm do mais, se ele no descarta de fato a idia de dependncia,

    a torna menos importante, em seu lugar enfatizando o desenvolvimento como o

    cerne daquela obra (Cardoso, 2009, p. 298). Mas uma comparao com o prprio texto

    de Cardoso e Faletto no empresta, porm, suporte a essa viso.

    Eles definiram muito clara e cuidadosamente aqueles conceitos distintos e

    decisivos. Ao passo que a dependncia implicaria a relativa falta de poder dos pases

    latino-americanos perante os pases mais poderosos do mundo os Estados Unidos e a

    Europa, obviamente , ou seja, aqueles cujos estados e outros agentes econmicos

    possuam os meios para se engajar autonomamente em decises econmicas e

    polticas, as idias de centro e periferia se referiam aos papis que cada pas

    desempenhava na economia internacional. Estes eram, at ento, basicamente de dois

    tipos: produtores e exportadores de commodities, por um lado, e produtores e

    exportadores de manufaturados, por outro. Desenvolvimento e subdesenvolvimento

    eram caracterizados pelo nvel relativo de diferenciao das economias nacionais, de

    modo comparativo o que, quela altura, se relacionava ao grau de desenvolvimento

    industrial que fora alcanado em cada um deles (DDAL, pp. 22-8/25-30).

    Evidentemente, havia uma sobreposio dessas categorias, que formavam dois

    ncleos principais, reforando-se mutuamente. Ademais, embora Cardoso (2009, p.

    297) descarte agora as teoria vulgares do imperialismo (sem dizer-nos exatamente

    quais so), ele explicitamente incluiu o aparato conceitual de sua prpria teoria da

    dependncia, que no seria uma teoria enquanto tal, argumentava ento naquele

    momento, nos quadros da teoria de Lnin do imperialismo. Ela era, acrescentava,

    meramente complementar (Cardoso, 1975). nesse horizonte que se deve localizar

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    uma das grandes inovaes do livro: o desenvolvimento dependente (DDAL, cap. 6).

    Embora seja correto em parte falar disso como uma das primeiras fascas do que em

    geral equivocadamente chamado hoje de globalizao (termo demasiadamente

    vago, na verdade), o desenvolvimento dependente significa to-somente a

    continuao da falta de autonomia que acossava aqueles pases, meramente

    mitigando a sua posio perifrica, bem como implicando a relativa diminuio de seu

    carter subdesenvolvido. Cerne da estratgia de Ral Prebish e da CEPAL para superar

    os problemas que afligiam a periferia, a industrializao estava se revelando fenmeno

    mais complexo quela altura.

    verdade que muito mudou desde que o livro foi originalmente publicado em

    1969. No teria sentido demandar dos autores que permanecessem absolutamente

    consistentes com seu argumento original, em particular em um momento em que o

    mundo mudou tanto. Poder-se-ia, contudo, argumentar perfeitamente que a estrutura

    da economia global na realidade reproduz aqueles padres em grande medida, ainda

    que com mais variao, introduzindo cada vez mais complexidade. Logo, uma leitura

    mais fiel do livro parece ser absolutamente vlida.

    Dois elementos principais tm sido cruciais para as mudanas em relao aos

    anos 1970. A primeira a terceira revoluo industrial ou tecno-cientfica com todas

    as transformaes que lhe so associadas nos padres de produo e consumo: ps-

    fordismo, micro-eletrnica, acumulao flexvel e consumismo pluralizado , bem

    como uma maior financializao do capitalismo (ver por exemplo Harvey, 1991;

    Castells, [1996] 2000). Por outro lado, a emergncia de alguns pases que conseguiram

    se industrializar e de certo modo emular os padres das economias do chamado

    Norte tem sido outro aspecto do mesmo perodo. A primeira questo levou a um

    salto frente para o capitalismo, inaugurando um padro inteiramente novo de

    acumulao, um novo perodo, que deixou para trs precisamente aqueles pases no

    ento Terceiro Mundo que aparentemente estavam conseguindo se aproximar do

    centro, de forma mais dependente (como o Brasil) ou mais independente (como a

    ndia) (ver Amsden, 2001, para uma viso geral da industrializao global). Esses pases

    foram de qualquer modo relativamente bem-sucedidos em produzir manufaturas com

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    graus razoveis de valor agregado, parcialmente superando a fase anterior de mera

    produo de commodities. A diferenciao que isso implicou na economia global levou

    de fato ao que alguns autores chamariam de semiperiferia, embora amide o

    estado, antes que o pas, fosse a unidade de anlise dessas conceitualizaes

    (Wallerstein, 1974 e 1979, caps. 3 e 5).2 Enquanto que a existncia de um setor de

    bens de capital (ou Departamento I da economia, em uma concepo marxista) pode

    ser vista como diferenciando esses pases industrializados entre eles, como sugerido

    pela teoria da regulao francesa (Boyer e Saillard, 2000), graas a sua relativa

    fora tecnolgica pases como a Coria (e Taiwan, pode-se acrescentar) dificilmente se

    encaixam nessa definio, como observado por Evans (2009, p. 333). Mas o conceito

    parece descrever a emergncia de certo nmero de pases nos ltimos cinqenta anos,

    conquanto ele mesmo se mantenha bastante impreciso.

    Aquelas duas revolues do capital, tecno-cientfica e financeira, empurraram

    de qualquer forma a maioria daqueles pases fortemente de volta a sua posio

    anterior. Nesse sentido, o desenvolvimento gerou empiricamente subdesenvolvimento

    em escala relativa (embora reas da frica em particular, mas tambm partes da

    Amrica Latina, o tenham experimentado em termos absolutos). Deve-se reconhecer

    que uma mistura de dependncia de trajetria, com especialmente os Estados Unidos

    mais preparados para dar aquele salto, e de possibilidades polticas respondem por

    essa disjuno e os lugares ocupados pelos diversos pases nessa nova configurao. As

    diferenciaes de trajetria so grandes demais para serem tratadas aqui, mesmo se

    no levamos a Coria e Taiwan, para no falar da China, em considerao, mas mesmo

    entre o Brasil e a ndia, cujos rumos seriam relativamente similares em muitos

    aspectos (Pedersen, 2008). Nesse sentido, a teoria parece ainda suportar o nus da

    prova do confronto com a realidade, uma vez que seus conceitos principais

    dependncia, centro e periferia (mais a semiperiferia) e desenvolvimento e

    subdesenvolvimento tm bom desempenho ao enquadrar as realidades

    contemporneas. Essas questes, bem como a sobreposio entre essas categorias,

    2 Isso , contudo, redutivo, sendo melhor portanto manter o foco em pases em sua totalidade antes que meramente nos estados.

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    seguem sendo bastante concretas. Agregue-se a isso que as suposies da teoria

    realista das relaes internacionais sobre o peso de tamanho, populao, recursos,

    armamentos, vnculo do cidado, governo efetivo, diplomacia, etc. (Morgenthau,

    [1949] 1967), tambm devem, como de hbito, ser vistas como relevantes para definir

    o poder dos estados na arena global, assim como as relaes entre eles, incluindo-se a

    o tamanho do mercado, que se destaca nos casos da China e da ndia.

    Mas no se trata simplesmente de globalizao. Na verdade, nesse processo

    certas bifurcaes tm lugar. Alguns pases permanecem agrrios, como muitos na

    Amrica Latina, onde vrios foram reprimarizados, seja totalmente, como o Chile,

    seja parcialmente, como a Argentina, perdendo seja inteiramente seja muito da sua

    indstria at mesmo o Brasil sofrendo parcialmente desta sndrome. Outros

    enveredaram sobretudo pelo caminho do desenvolvimento dependente, como Brasil e

    Mxico os casos da Coria e de Taiwan sendo, como j assinalado, mais complicados,

    demandando talvez uma categoria que pudesse tornar mais relativa sua posio no

    Sul global ou at mesmo os retirando dele. Se as corporaes multinacionais ou

    transnacionais, assim como o capital financeiro, tm seus prprios interesses, eles

    permanecem firmemente ligados aos pases centrais do ocidente e ao Japo. A China

    tem tido realmente muito mais autonomia, que se vincula a seu passado

    revolucionrio, mas mesmo neste caso ainda est para ser visto como ela se

    desenvolver, sem prejulgar sua posio futura na sociedade global, conquanto o

    simples tamanho de sua economia seja esmagador.

    Kohli (2004 e 2009) insistiu no papel do estado, mas em suas relaes com as

    classes sociais tambm, para uma adequada compreenso dos padres e

    potencialidades do desenvolvimento no Sul. Nesse sentido, embora sua nfase nas

    virtudes industrializantes do estado capitalista coeso seja problemtica, funcionando

    sobretudo para pases pequenos e em condies geopolticas especficas, ele

    compartilha com o livro de Cardoso e Faletto o entendimento correto de que coalizes

    dominantes so cruciais para os resultados do desenvolvimento. Na verdade, Cardoso

    e Faletto assinalaram que os casos de sucesso eram aqueles em que coalizes de

    elites com alguma inclinao para o desenvolvimento haviam sido capazes de criar

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    legitimidade e certa estabilidade na medida em que solucionaram problemas por cima,

    intra-elites, mas tambm por baixo, ou seja, atraindo as massas, as classes

    populares, para a coalizo dominante, embora de maneira subordinada (DDAL, cap. 5).

    Isso muito relevante e, conquanto, claro, questo tais como a insero de

    uma burocracia autnoma na sociedade (Evans, 1995) no devam ser desconsideradas,

    a deciso de analisar as foras sociais em sua relao com o estado ajuda a capturar

    muito da histria do desenvolvimento econmico, se no levada a cabo de modo

    reducionista ou determinista. Contudo, coalizes devem ser tambm mais fortemente

    remetidas a quadros geopolticos e culturais e polticos, amplos. Isso nos permitiria

    uma avaliao melhor dos diferentes caminhos pelos quais a globalizao se

    desdobrou no Sul. Cardoso (2009) no trata realmente deste tipo de questo em sua

    discusso ao analisar as mudanas recentes que ocorreram nas relaes da Amrica

    Latina com o governo dos Estados Unidos, as instituies financeiras internacionais e

    corporaes transnacionais. Esses agentes tm tido enorme poder sobre a Amrica

    Latina, que tem constitudo a zona de influncia direta, conquanto no

    particularmente relevante, daquele pas. Mas, mais seriamente, Cardoso menciona

    apenas de passagem as alianas que tm sido estabelecidas internamente visando

    dirigir o desenvolvimento (ou seu contrrio) em uma direo ou outra (Cardoso,

    2009, p. 306). Tudo se resolve atravs de um confronto entre a boa social democracia

    global (cuja definio permanece obscura) e o mau populismo. Nem movimentos

    sociais (os sindicatos so descartados como irrelevantes no caso do Brasil), nem classes

    sociais, nem alinhamentos direita ou esquerda, tm espao em sua anlise. Isso

    totalmente contrrio ao mtodo e aos procedimentos efetivamente presentes em

    DDAL. Com efeito, como Evans (2009, p. 323ss) apontou, com relao s chamadas

    foras globalizadas Cardoso parece simplesmente aceitar a inevitabilidade de mera

    adaptao (Cardoso, 2009, especialmente pp. 300-1 e 306).

    Esses so os pontos principais que uma leitura menos enviesada do livro de

    Cardoso e Faletto pode apresentar. Eles o tornam, creio, ainda mais contemporneo.

    Seus conceitos, certamente, carecem de adaptao, mas se mantm altamente

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    relevantes para uma compreenso da sociedade global que o sculo XXI vem

    construindo.

    A Amrica Latina e outras semiperiferias e periferi as

    Para algum que um dia criticou to fortemente as economias de enclave e

    abraou o ponto de vista prebishiano de que seguir atado exportao de

    commodities no poderia ser de bom augrio para um pas no longo prazo (DDAL,

    passim), o apoio de Cardoso (2009, pp. 309-10) ao modelo chileno (apenas

    parcialmente transformado desde o fim da ditadura militar) poderia surgir como uma

    surpresa. A Argentina pagou caro por seu fracasso em se industrializar mais, na

    verdade involuindo nos militarizados anos 1970 em parte devido a ter sido muito rica

    como pas exportador de carne e trigo na primeira metade do sculo XX, a despeito de,

    como seu livro mostrara, ter sido includa entre aqueles pases de desenvolvimento

    dependente que ele e Faletto haviam identificado como uma novidade. O Chile no

    chegou nem perto disso. Mas na medida em que a perspectiva atual de Cardoso inclui,

    no plano econmico, o que se pode definir como uma bastante passiva adaptao

    globalizao, que de fato continuou em larga medida durante o primeiro governo de

    Lus Incio Lula da Silva (Domingues, 2007), isso perfeitamente compreensvel.3 Da

    mesma forma, difcil entender como ele pode encarar o Mxico como um caso de

    sucesso, com seu desenvolvimento torto baseado na mera montagem de produtos

    manufaturados em sua regio mais ao norte visando a sua exportao para os Estados

    Unidos, a no ser que compreendamos tambm sua afirmao de que agarrar

    oportunidades no mercado global a nica maneira possvel de proceder no mundo

    contemporneo (Cardoso, 2009, pp. 310-13). Isso seria vlido no caso do Mxico no

    obstante a construo de relaes assimtricas com os Estados Unidos ou de sua

    dependncia em relao a ele, na verdade, se recorremos a sua antiga formulao,

    que no mobilizada ao tratar do tema, implicando contudo questo que no deveria

    3 Contudo, verdade que a diplomacia brasileira tem sido muito ativa, embora se encontrem variaes nos governo de Cardoso e Lula.

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    ser deixada de lado se este tipo de teorizao das relaes internacionais e de sua

    governana calcada na interdependncia introduzido (como de resto observado

    por Keohane e Nye, 1977, pp. 9-11).

    igualmente verdade que o Brasil tem uma economia muito maior e mais

    diversificada, com inclusive um setor de bens de capital comparvel apenas ao da ndia

    no antigo Terceiro Mundo. Isso lhe deu mais margem de manobra, contudo o pas

    tomou realmente uma rota neoliberal, embora mais tardiamente e com menos

    profundidade que a maioria de seus vizinhos. Cardoso foi decisivo nesse sentido,

    frente de uma coalizo de foras de centro e de direita, incluindo as antigas

    oligarquias, rejeitando qualquer aliana com os movimentos sociais e foras sociais

    organizadas (at mesmo com os empresrios industriais as relaes eram na melhor

    das hipteses truncadas; o capital financeiro e os novos scios dos mercados

    privatizados, especialmente nas telecomunicaes, eram suas estrelas). Tambm

    programas de alvio pobreza foram iniciados durante sua presidncia, mas em sua

    forma e extenso eram parte da agenda neoliberal. Junto s necessidades da

    estabilidade macroeconmica, mas para alm dela tambm, o uso poltico da taxa de

    cmbio, forando uma semi-paridade com o dlar conquanto nunca to absurda

    como a que efetivou Carlos Menem na Argentina tornou possvel a estabilidade de

    seu governo e de fato sua reeleio, levando a uma quebra da moeda logo aps o

    trmino do processo eleitoral (ver Lautier e Marques Pereira, 2004).

    No custa sublinhar que no viso a polmica ao mencionar essas questes. Dois

    pontos precisam, todavia, ser destacados. Primeiro, se brigar por palavras

    certamente intil, parece-me evidente demais que as metas dos governos de Cardoso

    foram exatamente as mesmas que foram impostas ou estimuladas em muitos pases

    pelo governo dos Estados Unidos e pelas instituies financeiras internacionais (o

    Fundo Monetrio Internacional FMI e o Banco Mundial): abertura comercial,

    privatizaes, ortodoxia fiscal e monetria, at mesmo os programas de alvio

    pobreza, etc. Cardoso no faz justia a seu perodo como presidente, nem a sua

    avaliao histrica futura, ao insistir que este no o caso. Mas o efeito generalizado

    da estabilizao monetria tampouco poderia ser exagerado, evidenciando-se dois

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    aspectos. Se a tentativa de domar a inflao para sempre estava em seu cerne, um

    aspecto poltico logo se fez to importante quanto essa meta econmica, com efeito,

    converteu-se na questo principal, juntamente com os interesses daqueles envolvidos

    no novo mercado financeiro brasileiro globalizado: trazer para si os pobres do pas,

    conquanto no suas organizaes, com as quais o governo de Cardoso no tinha

    dilogo, ou seja, como indivduos que desesperadamente necessitavam de segurana

    econmica. Cardoso mostrou com isso que aprendera as lies de seu prprio livro:

    uma coalizo de elites tinha de ser armada, incluindo o capital estrangeiro, que

    pudesse cimentar uma aliana com os setores populares, mas, neste caso, a despeito e

    de fato em grande medida contra os movimentos sociais e as organizaes populares.

    Sem dvida outros pases latino-americanos levaram isso muito mais longe

    culminando em particular na tragdia argentina de 2001 no que pode ser chamado

    de via transformista tomada no subcontinente na ltima dcada do sculo XX,

    mudando de modo a no mudar muito. O modelo o mesmo, com diferenas de grau

    e nfase (Lautier e Marques Pereira, 2004; Boyer e Neffa, 2004; Domingues, [2008]

    2009: cap. 2). E isso tambm verdadeiro no que tange aceitao de Cardoso das

    regras da economia global conduzida de modo neoliberal, como Evans, j mencionado

    anteriormente, destacou.

    Na ordem atual a situao da Amrica Latina no de modo algum confortvel.

    Se o Brasil parece fazer certo progresso, embora seu crescimento econmico tenha se

    firmado com mais sustentabilidade apenas muito recentemente e sua estrutura

    econmica seja subdesenvolvida em relao aos pases centrais (Estados Unidos,

    Europa, Japo e mesmo em relao Coria), ante aos quais um pas bastante

    dependente e semiperifrico, a maioria dos outros pases se encontra em posio

    ainda pior (Domingues, [2008] 2009: cap. 2). O Chile se fez prisioneiro de seu padro

    primrio exportador, a Argentina sofreu uma involuo industrial, o Mxico caiu na

    armadilha do padro maquiladora de montagem de produtos de baixo valor

    agregado. Os outros pases da regio se industrializaram muito pouco. Eles exportam

    petrleo e gs, com a Venezuela alcanando a riqueza de um estado rentista, ou

    commodities agropecurias e minerais ou ento pasta de coca, para a produo de

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    cocana. Investimentos em cincia e tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, subiram

    recentemente, mas no passam de 1,0% no Brasil, 0,5% na Argentina e no Mxico,

    enquanto que os outros pases da regio no investem quase nada nessa rea, que

    absolutamente decisiva para o desenvolvimento econmico contemporneo (dados

    para 2008, da RICYT, 2008). Clusters de inovao, tambm nesse sentido

    fundamentais, praticamente no existem na regio, com a exceo de uma meia-dzia

    no Brasil (Botagaray e Tiffin, 2002). Esse tipo de questo pode ser facilmente

    acomodado no quadro conceitual de DDAL.

    Contudo, um rumo diferente tem sido traado pela democracia, implicando

    uma disjuno complicada e tensa na histria recente do subcontinente. Cardoso

    (2009, pp. 304-08) reconhece isso, embora devidamente qualifique certos aspectos,

    como problemas com o imprio da lei, e equivocadamente aponte outros,

    especialmente a ausncia de uma cultura democrtica que no precisa ser

    protestante e individualista, ao contrrio do que seu curioso retorno teoria da

    modernizao demanda. Uma verdadeira revoluo democrtica molecular tem tido

    lugar em toda a Amrica Latina, liderada pelos movimentos populares nas dcadas de

    1980 e 1990. Essa revoluo engendrou mudanas de grande alcance na cultura

    poltica, na construo de instituies, com limites em particular no que diz respeito

    cidadania civil das classes populares, expostas violncia social e inclusive ainda

    violncia do estado (conquanto no haja limites no que se refere propriedade

    privada das classes dominantes, h dois sculos protegida acima de qualquer coisa).

    Esse processo de transformao implicou ainda muito mais participao popular, em

    uma situao de crescente complexidade social, pluralismo e um padro transformado

    de movimentos sociais, eles mesmos muito pluralizados. A cidadania social ainda

    meta de fato distante de ser alcanada, mas isso no tem nada a ver com falta de

    cultura poltica democrtica, mas sim com a prpria implantao do neoliberalismo

    (lvarez, Dagnino e Escobar, 1998; Avritzer, 2002; ODonnell et al., 2004; Domingues,

    [2008] 2009, cap. 1). Cardoso passa por cima desses desenvolvimentos, preferindo

    concentrar-se em uma nica questo, que falsifica esse processo singular de

    desenvolvimento democrtico: a oposio dos maus populistas aos bons sociais

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    democratas globais. Assim, governos de direita, altamente autoritrios, como o da

    Colmbia, somem do quadro, com ataques focalizados somente na anacrnica

    guerrilha colombiana e a na luta armada que insiste em levar a cabo naquele pas.

    Cardoso claramente se apia aqui na diviso entre as duas esquerdas

    articulada por Castaeda (2006). Para esse autor, populistas como Chvez e Morales

    so atrasados, ao passo que modernizadores como os socialistas e democratas

    chilenos, bem como Lula, so o caminho por onde avanar. Mas essa caracterizao

    no corresponde realidade: a esquerda latino-americana muito mais diversificada

    e, alm disso, misturar Chvez e Morales, por exemplo, propor uma compreenso

    totalmente equivocada de processos distintos, um calcado no aparelho de estado na

    Venezuela (uma espcie de cesarismo orientado para os pobres), o outro em uma

    democratizao de grande alcance de baixo para cima, levada a cabo por movimentos

    sociais sob a liderana e influncia da populao originria da Bolvia. difcil ver em

    que Evo Morales poderia ser caracterizado como um populista (Domingues,

    Guimares, Mota e Pereira da Silva 2009), j para no falar da vacuidade do conceito,

    problemtico no passado e na melhor das hipteses inteiramente inespecfico hoje (e,

    na pior delas, mais um termo de abuso que uma categoria interpretativa). Em relao

    a Lula, Cardoso chega mesmo a falar de populismo, embora de maneira mais suave.

    difcil ver como Lula poderia ser classificado como um populista, em qualquer sentido.

    No deixa de ser verdade que seu governo vem, desde sua reeleio, alterando seu

    curso na direo do que alguns vm chamando de um novo desenvolvimentismo

    (Boschi e Gaitn, 2008), que de toda maneira ainda uma plida rplica do que se

    pode encontrar em outras regies do planeta, especialmente na China e nos pases do

    leste da sia. Se no h rupturas na poltica econmica, o investimento em cincia e

    tecnologia aumentou, como observado anteriormente, e polticas sociais voltadas para

    os pobres, especialmente o Bolsa Famlia, tm levado a um reforo do mercado

    interno (uma tima opo quando o capitalismo global parece sofrer de problemas

    crnicos de superacumulao e excesso de oferta como argumenta Brenner,

    2008). Novos laos com o empresariado e o trabalho organizado, bem como com os

    movimentos sociais de modo geral, tm sido estabelecidos tambm (Pedersen, 2008,

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    p. 156). Se isto chegar a configurar um novo padro de poltica econmica e um novo

    modelo desenvolvimentista algo ainda a ser comprovado.

    A questo da social-democracia poderia nos levar muito longe e no seria

    factvel entrar nisso em maiores detalhes aqui. Basta notar que nessas coordenadas

    especficas este rtulo provavelmente confunde mais que esclarece. Primeiro porque

    se baseia na falsa distino entre as duas esquerdas; mas tambm porque o contexto,

    as bases sociais e especialmente as polticas da social-democracia costumavam ser

    bem diferentes do que tem sido posto em prtica na Amrica Latina. Isso ocorre em

    particular no que se refere aos bnus, planos e bolsas focalizadas que hoje

    caracterizam muito do bem-estar latino-americano (Haggard e Kaufman, 2008), bem

    como a uma variedade de novas questes, levantadas por novos movimentos sociais,

    que tm estado na linha de frente da agenda poltica. necessrio investig-las sem

    pressuposies demasiado fortes, mas tentar faz-lo aqui nos levaria a uma discusso

    de definies que este texto no comporta.

    Eu gostaria de expandir o argumento comparando o Brasil e a ndia

    economicamente, pases que Evans (1995) e Kohli (2004) na verdade, merc de seu

    mtodo ideal-tpico, sequer reconheceram como estados desenvolvimentistas, ainda

    que este ltimo autor parea ter certa esperana de que um estado mais orientado

    para a classe capitalista estaria emergindo em fins da dcada de 1990 no sul da sia.

    Tanto o Brasil quanto a ndia possuem importantes infra-estruturas industriais. Estas

    foram desenvolvidas em parte pelo estado. O Brasil foi sempre muito mais aberto ao

    capital transnacional. Como se sabe, este pas tem enfrentado enormes dificuldades na

    construo de qualquer rea fundamental de alta tecnologia. A ndia tem se mostrado

    muito mais fechada e recorrido muito menos ao capital transnacional, com uma

    estrutura econmica baseada no estado, mas tem crescido muito mais rpido.

    Enquanto que outras questes respondem por suas recentes altas taxas de

    crescimento, isso tem ocorrido com bastante impulso da parte de seus setores de

    software e call-center. Se o Brasil tem tido dificuldades em desenvolver alta

    tecnologia, o setor de software da ndia permanece atado tambm sobretudo s

    operaes de baixo valor agregado do capitalismo global: suas firmas so em grande

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    medida basicamente sub-contratatadas, terceirizadas, por companhias estrangeiras.

    As limitaes dos call-centers falam por si mesmas (Domingues, [2008] 2009, cap. 2;

    Pedersen, 2008, pp. 94-7; Lima, 2009). Em outras palavras, nenhum dos dois pases se

    mostrou capaz de avanar decisivamente para uma posio de controle das principais

    tecnologias e padres de acumulao do centro do sistema capitalista hodierno e suas

    economias seguem sendo bastante subdesenvolvidas em relao s dos Estados

    Unidos, Europa e Japo. A ndia parece ser menos dependente, mas ambos

    permanecem firmemente na semiperiferia, devido ao tipo de produo que so

    realmente capazes de efetivar, exceto no que concerne a alguns nichos mais ou menos

    importantes que logram ocupar, os quais por vezes so apresentados de forma

    anedtica como prova de suas realizaes. Ao passo que, como discutido

    anteriormente, outros pases na Amrica Latina tomaram um rumo involutivo, com o

    Mxico sendo pego pela armadilha das maquiladoras, os outros pases do sul da sia

    permaneceram sobretudo agrrios, caso do Paquisto, ou desenvolveram apenas uma

    industrializao leve, no que se destaca Bangladesh (Zaidi, 2004; Milam, 2009).

    Permanecem subdesenvolvidos, dependentes e perifricos.

    A China nos pe problemas mais complexos. Nolan (2004, especialmente p. 24),

    por exemplo, observou que a China de fato, no obstante seu tamanho, um pas

    subdesenvolvido, cada vez mais dependente, e que encara tremendos desafios para

    seu desenvolvimento. Outros autores sublinham o impulso para o desenvolvimento da

    economia chinesa, seu controle paulatino de produtos mais sofisticados, bem como

    sua adoo de formas de produo em rede, incluindo alianas com as transnacionais,

    que tm estado na linha de frente de desenvolvimentos econmicos avanados por

    todo o planeta. Isso verdadeiro em particular no que se refere s indstrias de

    tecnologia da informao, que Evans (1995, pp. 7 e 11) apontou como o setor a partir

    do qual uma conspirao para o desenvolvimento poderia ganhar fora e onde as

    fortunas relativas da Coria e de Taiwan se fizeram. Outros ainda sublinham a grande

    autonomia da China em relao aos Estados Unidos. Embora o desenvolvimento seja

    agora um tema-chave da vida chinesa, e o presente e o futuro da China se mantenham

    altamente controversos, poucos negariam que ela se tornar nas prximas dcadas

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    uma das principais economias do mundo talvez se movendo para o centro do

    sistema , segundo alguns inclusive deslocando os Estados Unidos como o pas mais

    poderoso, o que sem dvida um grande exagero (cf. Naughton, 2007; Arrighi, 2007;

    Macnally, 2008; Brandt e Rawski, 2008). Na direo oposta seguem outras economias

    anteriormente socialistas. A Rssia, que a teoria wallersteiniana considerava um pas

    semiperifrico ao fim da Segunda Guerra Mundial, tendendo a ascender ao ncleo

    na dcada de 1970, acabou ficando presa na semiperiferia, sua situao econmica se

    deteriorando muito na verdade nas ltimas dcadas, incluindo forte dependncia da

    exportao de petrleo e gs: todos os indicadores, em especial, pode-se argumentar,

    seu atraso em termos de inovao tecnolgica, a amarram a uma posio muito pouco

    auspiciosa, inclusive no que diz respeito ao futuro (Lande, 2009).4 Na Europa oriental,

    por sua vez, muitas diferenas emergiram. Alguns pases da regio do Visegrado

    (Hungria, Polnia, Eslovnia, a Repblica Checa), medraram em certa medida,

    tornando-se contudo dependentes de corporaes estrangeiras, aparentemente talvez

    avanando rumo a uma posio prxima ao centro, de todo modo por hora mantendo-

    se na semiperiferia. A maioria dos outros pases, como a Estnia, foi convertida em

    grandes sweat shops e plataformas de exportao baseadas em trabalho intensivo

    relativamente barato, visando o mercado da Europa ocidental, com pouca

    diferenciao da estrutura econmica interna (Bohle e Greskovits, 2007).

    Em todos esses casos a dependncia de trajetria conta muito. A situao em

    que cada um desses pases encarou a nova fase de acumulao capitalista e, mais

    genericamente, da modernidade, que comeou fundamentalmente em meados da

    dcada de 1990, ou seja, seu grau prvio de desenvolvimento tem sido crucial para seu

    desenvolvimento posterior (como de fato indicado por Cardoso, 2009, pp. 300 e 315,

    no que se refere Amrica Latina). Somam-se a isso como decisivas tambm as

    coalizes internas, os distintos sistemas polticos, como as coletividades dominantes

    no apenas chegam a acordos entre elas, mas arrastam consigo a populao em um

    4 Ao lado de Wallerstein, que afirmou que a semiperiferia somente uma posio transitria (rumo ao centro ou periferia), mas tambm contrariamente a ele, Lande enfatiza, com referncia Rssia, que ela tambm uma posio fixa. Seria provavelmente melhor olhar a questo com uma perspectiva mais aberta: a semiperiferia poderia ser vista ento como em geral bastante estvel, mas permitindo muita mudana dinmica.

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    projeto hegemnico, traos culturais, etc., seu resultado lquido sendo ento

    distintas opes. Estas respondem pelo que podemos chamar de diferentes e

    contingentes giros modernizadores (mais ou menos centrados, ou seja, com

    intencionalidade mais ou menos definida e curso mais ou menos intencional), que so

    responsveis pelas formas e contedos especficos que o desenvolvimento assume em

    cada um deles. A China em particular parece estar se aproveitando de certo nmero

    de elementos favorveis, embora o futuro esteja em aberto, em funo de sua prpria

    dinmica, bem como de suas relaes com o mundo exterior.

    Seja como for, essas novas questes de modo algum tornam o quadro

    interpretativo de DDAL obsoleto, embora algumas requeiram mais sutileza, como o

    prprio Cardoso (2009, p. 296) demanda, e bastante atualizao. Isso verdade em

    termos tericos e metodolgicos. Em grande medida herdeiro da economia poltica

    clssica, atravs da antiga CEPAL, e do marxismo, esse livro no se ocupava de fato da

    cultura e no tinha portanto feito um argumento contra a teoria da modernizao,

    nem esboado uma alternativa nessa dimenso. Isso pode ser certamente til para

    analisar vias de desenvolvimento distintas, sem culturalismos e, menos ainda,

    essencialismos o que chamei anteriormente de giros modernizadores vindo a

    substituir a teleologia da teoria da modernizao. Mais complexidade social, graas ao

    pluralismo interno e a presses globalizantes precisam ser tratadas tambm, uma vez

    que implicam, por exemplo, diferentes movimentos sociais e orientaes para o

    consumo. Mais empiricamente, padres civilizatrios, a situao econmica global, as

    regras do comrcio, investimento e propriedade intelectual globais, democracia e

    mediaes sociais entre estado e sociedade, poder militar e questes geopolticas,

    novos movimentos sociais, ndices de desenvolvimento humano e polticas sociais,

    para referir-me apenas aos temas mais evidentes, na Amrica Latina e fora dela,

    devem ser tratados em anlises renovadas. Realmente, a teoria sociolgica, poltica e

    social contempornea tem de modo geral que ser mobilizada nesse esforo de

    renovao (o que tentei fazer ao discutir a questo a partir da definio de uma

    terceira fase da modernidade, analisada de modo multidimensional em particular em

    Domingues, [2008] 2009).

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    Contudo, DDAL ainda um clssico vigoroso, que fala ao presente, no apenas

    como um exemplo de boa cincia social, mas como uma elaborao terica cuja

    realidade social subjacente, lamentavelmente, no mudou tanto quanto seus autores

    esperavam. Novos elementos no debate sobre o desenvolvimento devem ser tambm

    tratados, que no se encaixam bem com este tipo de teoria tal qual existe hoje, sem

    perder de vista porm seu cerne, ou seja, a discusso sobre a desigualdade de riqueza

    e poder dentro das naes e entre elas, o que uma clara conseqncia da

    dependncia, das relaes centro-periferia e do subdesenvolvimento, bem como de

    estruturas internas desiguais em cada pas.

    Concluso

    Este artigo props uma leitura mais ampla do clssico de Cardoso e Faletto,

    enfatizando alguns aspectos diferente em relao queles que destaca hoje um de

    seus autores. Isso natural: uma obra to importante e rica como essa, conquanto no

    muito longa, permite distintas leituras e selees interpretativa. Para alm disso,

    DDAL, embora em geral ausente das discusses sobre o desenvolvimento, perdura

    como um instrumento conceitual til para analisar o mundo contemporneo

    globalizado. Suas principais contribuies devem, contudo, como tentei mostrar ao

    retomar a discusso de Cardoso sobre a Amrica Latina, mas apontando tambm para

    as situaes de pases na sia e na Europa oriental e central, ser revisitadas e mais

    fortemente sublinhadas. A poltica enquanto tal importante, assim como a anlise

    histrico-estrutural que seus autores ofereceram. Em particular a Amrica Latina,

    junto com a frica, parece estar distante de uma superao das questes e problemas

    que levaram ao surgimento da teoria da dependncia e especificamente de DDAL. Se

    questes internas devem ser tratadas, verdade tambm que o meio global em que o

    desenvolvimento se desdobra deve ser posto em tela de juzo.

    A democracia na Amrica Latina tem ao menos se desenvolvido de modo

    contnuo e isso pode levar a um novo limiar, quaisquer que seja as outras vias de

    desenvolvimento que se possam encontrar em outras regies. impossvel imaginar

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    que estados autoritrios poderiam ser hoje capazes de mobilizar as populaes latino-

    americanas para a realizao dessa meta, provavelmente a mobilizao democrtica

    de seus cidados sendo em vez disso o nico caminho pelo qual se pode retomar esse

    tipo de esforo. Ao menos no Brasil o desenvolvimento est se tornando um tema

    mais debatido, concentrando pensamentos e energias e atravessando diferenas

    polticas e ideolgicas. A Amrica Latina pode tomar a mesma direo logo mais

    adiante. Uma vez mais, esse livro clssico pode ter um papel importante a cumprir no

    debate.

    Enfim, uma palavra sobre o tema da crtica. DDAL e suas contrapartes da teoria

    da dependncia, no obstante suas limitaes e virtudes, foram muito importantes

    para o desenvolvimento da crtica na Amrica Latina, penetrando outras abordagens

    crticas ao redor do mundo. Duas questes aqui se destacam. A primeira que os

    conceitos que Cardoso e Faletto elaboraram no livro, complementado pela idia de

    semiperiferia, so muito mais precisos, embora talvez menos efetivos retoricamente,

    que as vagas noes de Norte global e de Sul global. Em segundo lugar, isso se

    vincula diretamente ao poder global desigual e s condies materiais desiguais que se

    delineiam na descrio do livro e em sua interpretao da histria latino-americana, de

    seu presente e perspectivas futuras. Isso ocorre a despeito de certa ambivalncia

    sobre o significado do desenvolvimento dependente. Ele pode receber um sinal mais

    positivo, como simplesmente o incio da globalizao, o que o caso por exemplo na

    recente avaliao de Cardoso (2009, pp. 298 e 315), reservas quanto s diferentes

    possibilidades que se abrem para os vrios pases no mundo no obstante; ou um sinal

    mais negativo, como por exemplo em especial no Post scriptum edio em ingls

    de DDAL, no qual os autores afirmavam que apenas o socialismo seria a soluo para a

    dependncia, a periferalizao e o subdesenvolvimento (Cardoso e Faletto, 1979, p.

    216). Como escapar dessa situao permanece de todo modo uma questo crucial

    para a Amrica Latina e de fato para o mundo em seu conjunto. Uma base para a

    crtica da modernidade realmente existente segue sendo vlida hoje, tanto quanto

    anteriormente, de um ponto de vista perifrico ou semiperifrico. Afinal a liberdade, a

    igualdade, a solidariedade e a responsabilidade, nos planos individual e coletivo, se

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    encontram no corao do projeto moderno, juntamente com a questo do desfrute

    dos benefcios que o desenvolvimento material pode proporcionar (Domingues, 2002).

    Eles parecem perdurar na conscincia contempornea da espcie humana, ao menos

    como um potencial a ser explorado de maneira emancipadora.

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