08 - o surgimento dos blocos de trio e o papel do artista no carnaval de salvador_pend (1)

5/24/2018 08 - O Surgimento Dos Blocos de Trio e o Papel Do Artista No Carnaval de Salvador...

http:///reader/full/08-o-surgimento-dos-blocos-de-trio-e-o-papel-do-artista-no-carnava

O surgimento dos blocos de trio e o papel do artista no carnaval de Salvador:

das agremiaes tradicionais ao estrelato na ax music1

Ruydemberg Trindade Junior

1 Introduo

!os "ltimos anos da dcada de 1#$%& o carnaval de Salvador passou por diversas

trans'ormaes (ue provocaram mudanas pro'undas na 'orma de baianos e turistas

brincarem a 'olia de )omo* + cidade vivia novos tempos, a instalao de pro-etos

industriais nas dcadas anteriores promoveu o surgimento e o adensamento de classes

sociais at ento inexistentes ou inexpressivas na capital baiana* So essas classes

mdias e altas (ue& ao alterarem a sua participao no cen.rio das 'estas& sero as

respons.veis pelo processo (ue resultou na perda de import/ncia (ue agremiaes

tradicionais apresentavam at ento e na conse(uente trans'er0ncia das atenes a

artistas e bandas ligadas aos camados blocos de trio*

Saem de cena grupos como as escolas de samba& blocos de 2ndios& cordes (ue

mobili3avam diversas comunidades em torno do des'ile& envolvendo pessoas (ue

guardavam na identi'icao com a entidade carnavalesca a motivao pra 'a3er dela a

atrao mais bonita da avenida* 4ntram os blocos de trio (ue& ap5s a dcada de 1#6%&

estaro intimamente vinculados a alguns artistas (ue passariam a ser os maiores

atrativos do 'este-o& posio ocupada anteriormente pelas agremiaes*

7o-e& os gestores do carnaval soteropolitano en'rentam a tenso de conciliar o

espao ocupado pelos blocos de trio e pelos artistas a eles ligados com a demanda pela

valori3ao das demais mani'estaes* Trata8se de uma disputa (ue envolve desde o

espao '2sico ocupado nas principais avenidas das 'estas at os melores or.rios para o

des'ile& passando pelo apoio 'inanceiro 'ornecidos por 5rgos p"blicos e pelas gordas

verbas publicit.rias*

Sendo assim& entender os contornos do carnaval de Salvador nos primeiros anos

do sculo 99I exige um recuo dcada de 1#$%& (uando relevantes mudanas

econ;micas convergiram com um ambiente cultural agitado dando origem a um modelo

de 'esta (ue se tornar. s2mbolo da cultura de todo estado*

1 4ste cap2tulo uma condensao da )onogra'ia de



@ O ambiente socioecon;mico da cidade (uando do surgimento dos blocos de trio

+ an.lise de elementos econ;micos a-udam a explicar o processo (ue culminou

na criao dos blocos de trio em 'ins da dcada de 1#$%*



macia de debates sobre o assunto nos -ornais de grande circulao da capital* 4ra&

portanto& uma situao presente na vida dos baianos tanto pelas suas conse(u0ncias

econ;micas diretas& nas pssimas condies de vida& por exemplo, como tambm na

percepo autorre'lexiva (ue o soteropolitano tina de si, a'inal& o atraso era matria

nos peri5dicos mais populares& re'letindo diretamente na viso (ue os soteropolitanos

'ormavam da con-untura (ue os cercava* Sendo assim& o clima era de baixa autoestima*

Form& a partir da dcada de 1#A%& a economia baiana passou por signi'icativas

mudanas& in'luenciando diretamente na trans'ormao do cotidiano de sua vela

capital* Inicialmente& a instalao da Fetrobr.s na sua regio metropolitana comeou a

mudar as 'eies de Salvador*



industriais das dcadas anteriores& uma mudana radical no somente na economia&

como em todos os aspectos da vida dos baianos*



dirige um apelo ao leitor: GOriente sua vida para o mar da Fituba& e vena descobrir o

local de maior valori3ao da ?aia nos "ltimos temposH* !o dia 6 do mesmo m0s e

ano& a construtora Socipt 4ngenaria S*+* o'ereceu unidades no edi'2cio +ngelina& cu-a

propaganda ressaltou as vantagens do bairro (ue contava com escolas& supermercados&

'arm.cias& praas* !o dia @6& a construtora E) anunciou casas no loteamento



comrcio da cidade* Segundo a nota com o sugestivo nome G+venida de ru2nas& uma

srie de prdios desmoronando& a demolio de construes para utili3ao como

estacionamentos& 'a3iam da +v* Sete uma cadeia de ru2nas com pre-u23o para o

panorama urbano*HB+E4!I+ 4 R=V!+S* )+TRI+ S4) +SSI!+T=R+& 1#$6D

+ preocupao esttica com uma das principais vias da cidade evidencia o modelo de

urbe (ue Salvador alme-ava e (ue& de alguma 'orma& 'oi alcanado nos novos bairros de

classes mdias e altas (ue surgiram com as tr0s dcadas de industriali3ao& a partir de

1#A%* O texto 'ornece ainda mais elementos (ue nos a-udam a entender o (ue se

esperava da cidade: Gcada dia (ue passa mais deteriora8se o seu aspecto& (ue deveria ser

o de uma via p"blica bem cuidada& bem iluminada& bem arbori3ada& de passeios sem

de'eitos& com lo-as elegantes P***Q*HB>OROS 4



'oros de civili3ao reivindicados pelo -ornal& bem ao gosto das camadas mdias e altas&

no devem admitir uma mani'estao como a(uela proporcionada pelo trio eltrico sem

cordas, aos olos dos mesmos 'oros& o carnaval se con'igurava como um espao

violento* Re"nem8se ra3es para a'irmar& ento& (ue os blocos de trio integram o

con-unto de trans'ormaes da cidade no contexto da 'olia*



como o espao emblem.tico desse 'ormato& sendo o principal lugar de onde os trios

comandavam a 'olia ao som do 'revo baiano, a2& nenuma 'ronteira o'erecia resist0ncia

ao ir e vir de (ual(uer 'olio* +s avenidas recebiam blocos das mais variadas

caracter2sticas: pe(uenos clubes& escolas de samba& blocos de 2ndios& a'oxs& todos eles

inundavam a cobertura da imprensa sobre as 'estas na ?aia* Sendo assim& tratou8se de

uma experi0ncia "nica na ist5ria do carnaval de Salvador*

+inda o-e& o carnaval desse intervalo de tempo reivindicado como uma 'esta

popular& democr.tica& sobretudo pelos cr2ticos do modelo de 'esta (ue 'oi 'or-ado a

partir da dcada de 1#6%& com os blocos de trio* + ideia a(ui no re'orar tal

concepo& at por(ue de'endemos (ue expresses da cultura de um lugar no so

cristali3.veis, pelo contr.rio& so'rem mudanas& trans'ormam8se& ressigni'icam8se,

en'im& longe de serem est.ticas& so din/micas* 4ntretanto& not.vel (ue o modelo de

'esta da(ueles instantes 'avoreceu& como em nenum outro per2odo& a no restrio da

ocupao do espao 'estivo por (uem (uer (ue se-a, portanto& avia poucos

mecanismos& expl2citos ou impl2citos& 'ormais ou in'ormais& (ue inviabili3assem a

participao de algum interessado*

!o se pretende a(ui desenvolver uma avaliao ing0nua da experi0ncia acima

descrita, apesar da inexist0ncia de barreiras& alguns elementos podiam ser imperiosos na

determinao da(ueles (ue pulariam atr.s dos trios* Zs classes mdias e altas& (ue

tinam seus gostos caracter2sticos& no cabia se espremer atr.s do trio eltrico entre os

cotovelos da massa& muitas ve3es descontrolada* Isso em grande medida por conta da

possibilidade de participao irrestrita& o (ue atra2a para 'esta& um p"blico no muito

agrad.vel aos olos das classes mais abastadas* a2 o carnaval& desse momento& ser

costumeiramente caracteri3ado como um carnaval de participao popular& popular

entendido como de participao ma-orit.ria de indiv2duos mais pobres*

Sendo assim& a grande caracter2stica do carnaval at o surgimento dos blocos de

trio 'oi a diversidade de mani'estaes (ue recebiam ateno de 'olies& gestores e

imprensa* )atria deA Tardecon'ere n"meros variedade: Gestaro 1AN associaes

no maior carnaval de rua do ?rasilH* Segundo dados da >ederao de



+t ento& tais trios apresentavam8se alguns em movimento& outros em pontos

'ixos* Segundo matria deA Tardeem 1# de -aneiro de 1#$6& Go ag0ncia estadual de

turismo instalar. # trios eltricos em pontos 'ixos P***Q distribu2dos pelo Terreiro de

Jesus& Fraa de S& Fraa )unicipal& Rua


http:///reader/full/08-o-surgimento-dos-blocos-de-trio-e-o-papel-do-artista-no-carnaval

inexist0ncia da bateria (ue& en(uanto um elemento (ue ligava a 'esta a um passado

reivindicado& teria merecido a sobreviv0ncia*

Sendo assim& os blocos de trio surgiram no momento em (ue as agremiaes

carnavalescas (ue at ento se apresentavam com baterias passaram a des'ilar com trios*

Os motivos so diversos* + apresentao com o trio representava para o bloco a

possibilidade de terceiri3ar a apresentao dos m"sicos& -. (ue& com a contratao de

uma empresa especiali3ada& esta se responsabili3aria por tudo (ue envolvesse a

execuo do som* anilo ?otelo& relaes p"blica da Tapa-5s& empresa (ue alugava

trios nesse momento& explica as 'acilidades:

P***Q os trios 'acilitam tudo para os blocos P***Q no existe nenumapreocupao por parte da direo do bloco por(ue toda a responsabilidade'ica por conta da Tapa-5sP***Q ao contr.rio das baterias tradicionais& um

blocotrio no precisa se preocupar com os m"sicos& pois eles no bebemdurante o trabalo& nem tampouco 'icam enrolando* So m"sicos bemremunerados* BA Tarde& @6%@1#$6D

+ um s5 tempo& a pr.tica revela o car.ter pro'issionali3ante dessa tend0ncia&

como ainda demonstra o amadorismo possivelmente 're(uente na 'orma como a 'esta

era encarada at ento* oram poss2veis inovaes tcnicas* eu8se a incorporao de

estruturas (ue permitiram ao carnaval de Salvador receber um p"blico mais exigente&com alto poder de compra& o (ue tornou o carnaval um neg5cio altamente rent.vel&



na poca era o mais populoso bairro de Salvador* Segundo relatos& Gos componentes

acabaram 'eridos a garra'adas*H )ais uma ve3 os blocos de trio& ao garantir a segurana

dos seus 'olies& 'uncionaram como o espao apropriado para a 'olia dos mais ricos na

avenida*

nesse sentido (ue alguns anos mais tarde& o ?loco )el& bloco de trio surgido

em 1#6K& anunciaria na Tribuna da Bahiaem @A de 'evereiro de 1#6$& (ue Gsegurana

prioridade no )el& (ue (uer muita pa3 na avenidaH* O bloco des'ilaria com mais de @%%

omens tratando Gexclusivamente da segurana& uma das metas priorit.rias*H*4sse item

surge& portanto& como um dos atrativos*

4ssas agremiaes se constitu2ram& portanto& en(uanto um espao privilegiado

onde as classes mdias e altas puderam usu'ruir -unto aos seus pares da eu'oria do trio

eltrico* For toda estrutura (ue o'ereciam& os blocos de trios vinculavam a participao

no interior de suas cordas de nylon ao pagamento de uma determinada taxa, (uanto

melor a (ualidade do servio o'erecido& maiores os valores*



agremiaes aparecem como as grandes estrelas& os grandes desta(ues* Frepar.8los&

assisti8los& ver o reconecimento ap5s os des'iles parecia to importante (uanto a

pr5pria diverso em si* not.vel (ue +lco'oradoB1#$6D& ao citar a pr.tica de assistir o

des'ile das caladas& no menciona o dese-o dos espectadores em ver artistas ou bandas

espec2'icas* O interesse maior na(uele momento eram os pr5prios blocos& cordes&

escolas de samba etc* + partir dos anos 1#6%& as agremiaes perderam espao no gosto

dos 'olies& lugar (ue ser. ocupado pelas grandes estrelas& sobretudo do axmusic*

Outros aspectos da 'esta tambm caem em desuso seguindo a mesma tend0ncia*

+t a dcada de 1#$%& os concursos entre grupos carnavalescos atraiam grande ateno&

tendo vasta repercusso na m2dia* Tais certames eram reali3ados pela ?aiatursa* Todos

os anos& nas (uartas8'eiras de cin3as& resultados eram contestados& bairros

comemoravam vit5rias& dirigentes ressaltavam o trabalo reali3ado etc* nesse sentido

(ue em 1# de -aneiro de 1#$6& A Tardeanunciava (ue Gas +r(uibancadas -. esto no

ilos

de andivenceram na afox, Os )ercadores de ?agd. entre os pe(uenos clubes, Os

Secos e )olados entre os blocos, os +paces do Toror5 entre os blocos de 2ndio, e&

por 'im& Os oi o caso do

cordo Os Internacionais (ue& apesar dos investimentos de (uase



principalmente pelos mames8sacodes branco e amareloH& ganando espao assim para

os cordes Os Internacionais e Os



de -aneiro& outra matria voltou a tocar no assunto& declarando (ue GN*A%% l/mpadas

brilaram na cidade durante o carnavalH& de acordo com o pro-eto do artista Juare3

Fara23o*

!o dia 1 de 'evereiro& novamente A Tarde& comentou o assunto elogiando Ga

bonita decorao (ue a e(uipe de ?elas +rtes& dirigido por Juare3 Fara2so criou este ano

para decorar as ruas de Salvador*H 4m 1C de -aneiro& uma pe(uena nota& G+ Fre'eitura

ornamenta bairrosH& in'ormou (ue mais de C miles de cru3eiros seriam destinados

para tal* !o ano seguinte& em @% de 'evereiro de 1#$#& uma matria in'ormou (ue

G?airros tambm (uerem seu carnaval decoradoH* !o dia 16 de 'evereiro& uma nota

in'ormou (ue at o dia @@ a decorao reali3ada pela 'irma Jatob. ecoraes e

Fromoes estaria pronta* O cumprimento ou no do pra3o no cegou a ser not2cia&

mas o (ue 'ica claro a partir das re'er0ncias acima a ateno dedicada a elementos da

'esta (ue& a partir dos anos (ue se seguiram& viriam a perder import/ncia e cair no

es(uecimento*

+ decorao dos trios tambm era levada em conta* 4m 6 de 'evereiro de 1#$6&

uma nota a'irmava (ue Gmais uma ve3 os trios eltricos 'oram a atrao do carnaval de

rua baiano& embora o coment.rio dos 'olies 'osse de (ue 'altou criatividade na

decoraoH* +inda o-e a cidade decorada& mas longe de receber desta(ue da

imprensa& este item tornou8se um pe(ueno detale diante do estrelato dos artistas

vinculado aos blocos*

Sendo assim& observa8se (ue& ainda nesse 'inal da dcada de 1#$%& o carnaval

guardava caracter2sticas (ue desapareceriam nos momentos seguintes*



1#$#& o



mesmo se es'orando para pagar um carn0 durante o ano& seriam recusados pelos blocos

de trio por no se en(uadrar na proposta esttica da agremiao* Rostos (ue passaram a

se espremer entre um bloco e outro espera do aceno dos grandes artistas*

REFERNCIAS

1AN +SSO



RISRIO& +nt;nio* &ma his"ria da Bahia* @* ed* Rio de Janeiro: Eersal& @%%C*

RIOS& Ricardo ?aia* O porto de +ratu no contexto industrial baiano: indicadores dedesempeno e os operados portu.rios*Revisa 'ociedade $ (aure)a& =berl/ndia& v*@1& n* K& p* KC18KA%& de3*& @%%#*

R4=R?+!IW+XYO da ?aixa dos Sapateiros inicia mudanas para melorar o tr.'ego*A Tarde& Salvador& @A out* 1#$$*

S4=R+!X+ prioridade do )el (ue (uer muita pa3 na avenida*Tribuna da Bahia&Salvador& @A 'ev* 1#6$*

T=O pode acontecer*A Tarde& Salvador& 6 'ev* 1#$6*

T4I94IR+& >rancisco, =4RR+& O* A% +nos da Industriali3ao ?aiana: do enigma auma din/mica ex5gena e espasm5dica*Bahia An#lise $ %ados& Salvador& v* 1%& n* 1& p*

6$8#6& -ul*& @%%%*

08 - o surgimento dos blocos de trio e o papel do artista no carnaval de salvador_pend (1)

Documents