01 an edição extra

16
AGRISSÊNIOR AGRISSÊNIOR AGRISSÊNIOR AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS NOTÍCIAS NOTÍCIAS NOTÍCIAS Pasquim informativo virtual. Pasquim informativo virtual. Pasquim informativo virtual. Pasquim informativo virtual. Opiniões, humor e mensagens. Opiniões, humor e mensagens. Opiniões, humor e mensagens. Opiniões, humor e mensagens. EDITORES EDITORES EDITORES EDITORES: Luiz Ferreira da Silva : Luiz Ferreira da Silva : Luiz Ferreira da Silva : Luiz Ferreira da Silva ([email protected] [email protected] [email protected] [email protected]) e ) e ) e ) e Jefferson Dias ( Jefferson Dias ( Jefferson Dias ( Jefferson Dias ([email protected] [email protected] [email protected] [email protected]) Edição EXTRA Nº 01 – 06 de abril de 2012 2011 JOSÉ JOSÉ JOSÉ JOSÉ HAROLDO HAROLDO HAROLDO HAROLDO CASTRO VIEIRA CASTRO VIEIRA CASTRO VIEIRA CASTRO VIEIRA ( Zé Haroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em uma reunião de avaliação anual, ( Zé Haroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em uma reunião de avaliação anual, ( Zé Haroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em uma reunião de avaliação anual, ( Zé Haroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em uma reunião de avaliação anual, nas nas nas nas dependências da EMARC dependências da EMARC dependências da EMARC dependências da EMARC-Uruçuca) Uruçuca) Uruçuca) Uruçuca)

Upload: roberto-rabat-chame

Post on 13-Jul-2015

324 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: 01 an edição extra

AGRISSÊNIORAGRISSÊNIORAGRISSÊNIORAGRISSÊNIOR NOTÍCIASNOTÍCIASNOTÍCIASNOTÍCIAS

Pasquim informativo virtual. Pasquim informativo virtual. Pasquim informativo virtual. Pasquim informativo virtual. Opiniões, humor e mensagens.Opiniões, humor e mensagens.Opiniões, humor e mensagens.Opiniões, humor e mensagens.

EDITORESEDITORESEDITORESEDITORES: Luiz Ferreira da Silva : Luiz Ferreira da Silva : Luiz Ferreira da Silva : Luiz Ferreira da Silva (((([email protected]@[email protected]@gmail.com) e) e) e) e Jefferson Dias (Jefferson Dias (Jefferson Dias (Jefferson Dias ([email protected]@[email protected]@gmail.com))))

Edição EXTRA Nº 01 – 06 de abril de 2012

2011

JO SÉ JO SÉ JO SÉ JO SÉ H A R O L D OH A R O L D OH A R O L D OH A R O L D O CA STR O V IE IR ACA STR O V IE IR ACA STR O V IE IR ACA STR O V IE IR A

( Z é H aroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em um a reunião de avaliação anual, ( Z é H aroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em um a reunião de avaliação anual, ( Z é H aroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em um a reunião de avaliação anual, ( Z é H aroldo com sua equipe de dirigentes e técnicos, em um a reunião de avaliação anual, nas nas nas nas

dependências da E M A RCdependências da E M A RCdependências da E M A RCdependências da E M A RC ----U ruçuca)U ruçuca)U ruçuca)U ruçuca)

Page 2: 01 an edição extra

O Agrissênior Notícias lança essa Edição Extra para homenagear Zé Haroldo, como assim era conhecido, nesse dia 06 de abril, data em que ele completaria 85 anos (06 de abril de 1927). Ele foi por 17 anos Secretário-Geral da Instituição, responsável maior pela implantação da mais completa organização agrícola nesse país, conjuminando a pesquisa, a extensão, o ensino e o apoio ao desenvolvimento rural, a CEPLAC. Em razão da data, Lício Fontes, que trabalhou bem junto a ele, por muitos anos, teve a feliz ideia de lhe prestar uma homenagem ao articular-se com outros colegas e, em poucos dias, fez uma revolução, conseguindo a adesão de tanta gente amiga do Zé, criando uma corrente, cujos resultados apontam para

a publicação de um livro, nominação de logradouros públicos e a construção de um memorial, dentre outros eventos. Muitos de seus colegas, colaboradores, estão prestando depoimentos sobre a insigne figura, exaltando o quanto ele representou para o cacau, para o sul da Bahia e para a CEPLAC, exemplo em todos os sentidos: profissionalismo, dedicação, ética e liderança. Então, tomamos a liberdade de divulgar aos demais leitores do Agrissênior Notícias, através dessa edição extra, muitos deles desacreditados da natureza humana, para que se fortaleçam com o exemplo de vida desse Grande Homem, a quem reverenciamos e somos gratos eternamente. Os Editores.

ZÉ HAROLDO, O CHEFE QUE NUNCA FOI. Luiz Ferreira da Silva

Conheci Zé Haroldo em janeiro de 1962, ao me apresentar na CEPLAC, recém-contratado. Um pequeno birô denominado de “caixa pequeno”, onde ele dispunha de numerários para prover as despesas de pronto pagamento.

Pela sua compleição física, projetava-se em contraste com aquela escrivaninha. No entanto, transmitia humildade e bem-estar (áurea energética) para todos que se lhe acorriam.

Tempos depois, 1979, avistei-me em Brasília, quando fui discutir o meu plano de trabalho referente à administração do CEPEC, convidado que fora para exercer tão nobre missão técnica-gerencial.

Sentado à sua frente, numa luxuosa sala, com belo gabinete, de paletó e gravata, lembrei-me do “caixa pequeno” e constatei que se tratava da mesma pessoa. Nada mudara – o mesmo homem simples, educado e humilde. Eu me sentia tão à vontade como se o Secretário-Geral, José Haroldo de Castro Vieira, fosse o mesmo provedor, Zé Haroldo, de tempos idos naquele birô de três (3) gavetas.

Daí em diante, por força do cargo, mantive contatos de trabalho e participei de várias reuniões e eventos administrativos, tanto como Diretor do CEPEC, quanto como Diretor da CEPLAC-Amazônia. Em nenhum momento, mesmo no auge das discussões,

assisti o Zé Haroldo perder a calma, enervar-se, agredir, ser mal educado ou humilhar quaisquer de seus subordinados. Pelo contrário, sempre tinha uma palavra de incentivo.

Suas observações, determinações e cobranças eram facilmente absorvidas, transformando-se não em ordens, mas em tarefas magnânimas. Simplesmente porque ele era menos um Chefe e mais um Líder, impondo-se pelo consentimento.

Como nunca foi de se vangloriar, muitos de seus feitos passaram como simples obrigação funcional, poucos captando a sua extraordinária capacidade gerencial, eivada da sua entrega ao trabalho, visando sempre bem servir ao cacau, ao produtor e ao seu chão sulbaiano.

Assim, foram os milhares de hectares de cacau implantados na Amazônia, no retorno às suas origens, bem como os subprodutos de igual valor: a formação de extensionistas e pesquisadores; a base genética do cacau; um moderno Centro de Pesquisas e a infraestrutura operacional de campo. Colegas foram agentes importantes desta epopéia, mas nada teria acontecido sem o seu “dedo”.

No Sul da Bahia, a excelência técnica do CEPEC; a proficiência da Extensão Rural; a formação de mão-de-obra com enfoque nas EMARCs, o apoio efetivo à implantação da

Page 3: 01 an edição extra

Universidade (UESC), não seriam efetivadas, mesmo com o papel fundamental dos grandes gestores e auxiliares competentes, se não fosse a sua convicção. Zé Haroldo jamais media esforços pelo engrandecimento da Região Cacaueira.

Seguindo o seu antecessor, Carlos Brandão, colega do Banco do Brasil, amigo e fiel escudeiro, consolidou o chamado espírito de corpo, cujo mote era a CEPLAC acima de tudo, a Casa e a Escola de todos os seus servidores.

E, para complementar, Zé Haroldo foi de uma probidade sem escala. Por 17 anos, como Secretário-Geral, deve ter administrado mais de 2 bilhões de reais, com zelo pela boa aplicação e honestidade de propósitos. Tanto é que, ao falecer, deixou um modesto apartamento de fundos no Campo Grande, Salvador, e uma pensão para a viúva em torno de R$ 5.000,00, oriunda dos seus tempos no Banco do Brasil.

Por tudo isso, é fácil concluir que todos nós devemos ao Zé Haroldo, seja a nossa evolução nos diversos campos do trabalho,

bem como o respeito à causa pública e a ética profissional, pelo seu exemplo e pelo seu incentivo.

E, pelo outro lado, também se deduz que ele foi um dos maiores empreendedores do nosso País, nos últimos 50 anos que, mesmo sem ser diplomado em Ciências Agrárias e, tampouco empresário rural ou lavrador, mas filho de cacauicultor, prestou relevantes serviços à agricultura brasileira, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento rural (Sul da Bahia e Pólos cacaueiros da Amazônia), a uma lavoura (cacau) e a uma Instituição Agrícola (CEPLAC). Em seu sistema circulatório corria um sangue impregnado do mel do fruto-ouro (Theobroma cacao), eivado de nutrientes dos solos férteis da Região cacaueira Baiana e das terras roxas amazônicas, distribuindo bônus por onde passasse.

Acima de tudo, como já explicitado, um Líder com ideias consentidas. Jamais fora um Chefe!

ZÉ HAROLDO: UMA VIDA DEDICADA A CEPLAC E AO CACAU, Emo Ruy de Miranda

É importante e oportuna a homenagem póstuma que os funcionários (ativos e inativos) da Ceplac prestam ao grande, incansável e líder Zé Haroldo, pelo trabalho realizado na instituição Ceplac e para as regiões que direta ou indiretamente tinham alguma vinculação com esta importante organização. Filho e neto de cacauicultores, Zé Haroldo, como era conhecido nos meios da cacauicultura brasileira, iniciou a sua vida profissional muito cedo, aos 15 anos de idade, atuando mais tarde, no período de 1945 a 1954, como sócio das Empresa J. Vieira & Irmão, Souza Vieira & Cia e Quixadá Exportação Comércio e Industria Ltda., em Ilhéus e Itabuna. Quis o destino que ele se vinculasse a economia cacaueira, quando foi aprovado em concurso público para o Banco do Brasil, indo exercer as suas funções na agência de Ilhéus na Carteira de Comércio Exterior – Cacex, no esquema de intervenção na exportação do cacau. Quem sabe, a partir daquele momento,

deu-se inicio a sua participação com os problemas da economia cacaueira. A partir de 1958, como funcionário do Banco do Brasil, foi colocado à disposição da Ceplac – Comissão Excecutiva do Plano de Recuperação Econômico Rural da Lavoura Cacaueira e passou a exercer diversos cargos na Superintendência Regional, em Itabuna. É importante destacar a atuação de Zé Haroldo como Coordenador Administrativo Geral à frente do Escritório Central de Coordenação, responsabilizando-se pela instalação dos serviços da Ceplac nas regiões cacaueiras da Bahia e Espírito Santo. No período de 1958 a 1969, quando a Ceplac era dirigida por Carlos Brandão, como Secretário Geral, Zé Haroldo teve a oportunidade de demonstrar a sua capacidade administrativa, visão de futuro e espírito inovador, que, certamente, contribuiu para que, por sugestão do então Secretário Geral, fosse o Zé Haroldo indicado para substituí-lo. Evidentemente, que não foi muito fácil que as forças políticas da época aprovassem o seu

Page 4: 01 an edição extra

nome para dirigir a Ceplac, pois, outros nomes foram colocados à disposição do governo central para ocupar este cargo que, na época, não era de importância transcendental para a economia cacaueira brasileira. Delfim Neto, Ministro da Fazenda, à época, ministério no qual a Ceplac estava vinculada, confidenciou que as principais pressões contra a indicação do nome de Zé, eram exercidas pelo então Governador da Bahia, Luiz Viana Filho. Comentou-se, inclusive, que após vencer todas as barreiras, finalmente o Zé Haroldo foi nomeado para ocupar o cargo de Secretário Geral da Ceplac. Muito tímido ainda, sem muita experiência a nível nacional, Zé Haroldo comunicou, oficialmente, a sua nomeação, em caráter de interinidade, ao Governador da Bahia e recebeu deste um documento, cujo teor dizia o seguinte: “Em resposta a sua informação, desejo feliz interinidade neste cargo”. Esta interinidade foi realmente feliz porque durou mais de 16 anos, graças a competência, desprendimento e dedicação integral do Zé Haroldo aos problemas da Ceplac e do cacau. A Ceplac, quando Zé Haroldo foi nomeado, já desempenhava um papel importante para a economia cacaueira da Bahia e Espirito Santo, porém tinha a sua área de atuação restrita ao campo técnico-agronômico, com a responsabilidade de gerar, adaptar e transferir tecnologia para o produtor de cacau. A partir de 1961, houve a equalização da cota de contribuição cambial de cacau em 10%, permitindo que a Ceplac dispusesse de recursos financeiros oriundos desta cota para serem empregados nos seus programas. Os recursos financeiros da Ceplac se vinculavam ao orçamento monetário da União e por se tratar de cota de contribição, tais recursos poderiam ser direcionados para uma atividade específica, no caso, o cacau. Ou seja, os recursos gerados a partir da exportação do cacau eram creditados pelo Banco Central nos cofres da Ceplac, sem ser necessário passar pelos canais de dificuldades do Ministério da Agricultura. Estando, pois, a Ceplac ligada ao Ministério da Fazenda e dispondo, com regularidade, da liberação dos recursos financeiros, gerados em função das exportações de cacau,

permitiu que o principal dirigente da Ceplac pensasse mais alto. Neste aspecto é que Zé Haroldo, com a sua visão progressista e já conhecedor das negociações a nível nacional, consegue que os objetivos da Ceplac sejam ampliados e ela passa a ser considerada como um órgão de desenvolvimento regional integrado, com a responsabilidade de, além de gerar e transferir tecnologias para o produtor, realizar ações nos campos do desenvolvimento regional (construção de escolas, estradas, eletrificação rural, abastecimento de água, postos de saúde, fortalecimento do sindicalismo rural, cooperativismo, etc) . Zé Haroldo, com o seu poder de convencimento e conseguindo a aprovação do Conselho Deliberativo da Ceplac (Codel), do qual faziam parte os Ministérios da Agricultura, da Fazenda, das Relações Exteriores, da Industria e do Comércio, o Governo da Bahia, através do ICB e dos Produtores de Cacau (CCPC), conseguiu, aprovação no seu orçamento para realizar ações nos campos do desenvolvimento regional, cuja verba não poderia ultrapassar 10% do orçamento da Ceplac. E Zé sempre nos confidenciava que esses recursos financeiros eram altamente importantes para atender as necessidades regionais e contribuiriam para gerar emprego e renda nas regiões cacaueiras da Bahia e Espírito Santo. E asseverava, “in-off”, que se esses recursos não fossem direcionados para fortalecer as citadas regiões, provavelmente, seriam subtraídos do orçamento da Ceplac para atender outras necessidades que não aquelas verificadas nas regiões sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Outro aspecto que o Zé Haroldo nos confidenciava era que conseguindo a aprovação do Codel para destinar recursos financeiros para os programas de apoio a infra estrutura regional e assinar Convênios com diferentes Secretarias de Estado, de certa forma, estava envolvendo tais Secretarias em Programas de interesse regional e com recursos financeiros também dos Estados da Bahia e Espírito Santo. Ou seja, inteligentemente, nas negociações, Zé Haroldo, como principal dirigente da Ceplac, conseguia multiplicar os recursos do cacau,

Page 5: 01 an edição extra

porque, via de regra, os estados colocavam fortes recursos financeiros à disposição dos convênios. Como dizia ele: ”os recursos oriundos da taxa de contribuição cambial contribuíam para gerar empregos e rendas nas zonas cacaueiras da Bahia e Espírito Santo” . Inúmeras escolas primárias, centro de abastecimento de água, postos de saúde, estradas vicinais, eletrificação rural, faculdade de ilhéus e Itabuna, hoje denominada de UESC, escolas médias de agricultura, foram realizadas através dos mencionados convênios. Em diferentes reuniões que participamos, o Zé Haroldo demonstrava a paciência de ouvir e a capacidade de argumentar com dados e fatos capazes de conduzir os debatedores a aceitarem as argumentações por ele apresentadas. Sempre demonstrou a capacidade de defender com firmeza as suas argumentações e, por acreditar nelas, nunca desistia facilmente de conseguir alcançar os objetivos que pretendia. Assim foi quando defendeu, junto ao Governo brasileiro e aos produtores, a aprovação do Procacau, a criação do Ceplus, a aprovação do financiamento de veículos para servidores da Ceplac, a participação da Ceplac na criação da Itaisa, a criação do fundo de aval – Fusec, fundo de materiais – Fumar, a criação da Ceplac como Superintendência do cacau, este ultimo infelizmente não obtendo êxito. Em todas as empreitadas citadas, o Zé Haroldo lutava arduamente, discutindo com diferentes autoridades, inclusive o Presidente da República, com objetivo principal de fortalecer a Ceplac e a economia cacaueira. Claro que os embates eram, muitas vezes, desproporcionais ao tamanho da organização que ele dirigia, porém, sempre contando com o apoio dos Governos dos Estados da Bahia, do Espírito Santo, dos Produtores de cacau e, principalmente, dos seus colegas, funcionários da Ceplac, não parava de pensar e defender as suas ideias. Para se ter uma ideia, Zé Haroldo era responsável pela administração de um orçamento que, em média, representou 70 milhões de dólares anuais e com o seu exemplo de honestidade e lisura, conseguiu contar com o apoio dos seus colegas sem ter

sido observado nenhum desvio de conduta ao longo da sua gestão e dos seus colaboradores. Em todas os pareceres das contas analisadas pelo Tribunal de Contas da União - TCU não foi observado nenhum relatório que detectasse desvios de finalidades dos recursos financeiros aplicados. O importante é que, diuturnamente, em todos os momentos, o Zé Haroldo fazia questão de ressaltar que devíamos falar a verdade para os produtores, quaisquer que fossem as consequências. Tinha por hábito contatar, com muita frequência, com o Presidente do CNPC anteriormente CCPC, para discutir propostas de interesse para a cacauicultura e através de contatos telefônicos ou nas reuniões do Codel, ou mesmo no CNPC, as discussões apesar de serem acaloradas, ele não perdia a calma e na maioria das vezes conseguia convencer os seus interlocutores. Quando não conseguia convencer com as suas argumentações, os seus interlocutores, passava a defender a ideia surgida das discussões, porém, este fato era raro, porque quando o Zé Haroldo iniciava uma discussão sobre um assunto que ele defendia, normalmente ele varava dias estudando a proposta e analisando efeitos positivos e negativos dela. Em muitos casos, ele, ao pensar uma ideia, convocava os seus auxiliares mais próximos e a submetia ao crivo deles. A partir de tais discussões que, muitas vezes, duravam dias, ele incorporava no seu texto as contribuições que considerava importantes e, então, partia para defendê-la em quaisquer instâncias. Tinha grande facilidade para redigir e com muita propriedade colocava no papel aquilo que pensava, fosse documento para ser apresentado internamente à Ceplac, para os produtores ou mesmo para autoridades, inclusive para o Presidente da República. Em palestras proferidas, principalmente, para o pessoal da Ceplac, fazia questão de dedicar algum tempo para conversar sobre o Decálogo da Ceplac e o apresentava com muita maestria e firmeza: 1.- Cultivo ao idealismo 2.- Conservação da unidade interna 3.- Estímulo ao estudo e ao aperfeiçoamento

Page 6: 01 an edição extra

4.- Manutenção do moral elevado do grupo 5.- Ausência de injunções políticas 6.- Continuidade administrativa 7.- Administração descentralizada e delegada 8.- Combate à dúvida e ao pessimismo 9.- Integração com outros órgãos 10.- A verdade para o agricultor. Em nenhum momento, ao longo dos 07 anos que estive ocupando o cargo de Secretário Adjunto da Ceplac, observei ou mesmo notei que o Zé Haroldo defendesse algum programa com interesse pessoal. Sempre ele pensava na Ceplac e nas regiões cacaueiras do Brasil. Quando não estava viajando, após o expediente sempre conversávamos e nas conversas o Zé, claro contava piadas,

historias, porém, 90% dos nossos diálogos eram direcionados para a Ceplac e para o cacau. Sabia fazer e cultivar amizades, enfim Zé Haroldo vivia a Ceplac e o cacau 24 horas por dia, mesmo após se desvincular dela, já aposentado. Na condição de servidor inativo, não deixou de se preocupar com a situação da Ceplac e do cacau, pois, continuou participando, discutindo e elaborando documentos com este mister. Por tudo o que esta grande figura realizou pela Ceplac, pela cacauicultura e pelas regiões produtoras de cacau, a homenagem que o seus colegas prestam é mais do que justa e oportuna.

ZÉ HAROLDO, O “CARVALHO” QUE PRODUZIU MUITOS FRUTOS. Derval Evangelista de Magalhães

Quando intitulei “o Carvalho que produziu muitos frutos” eu fiz uma apologia ao Livro de Exupery, Terra dos Homens, no qual ele diz: “SERIA INÚTIL PLANTAR UM CARVALHO TENDO EM BREVE A SOMBRA DE SUAS FOLHAS” Conheci Zé Haroldo por volta de 1977 justamente no seu apartamento no Edifício Dois de Julho, já citado por Luiz Ferreira, através do seu filho Sérgio Lima Vieira, que ingressara na Coelba como Administrador de Empresa, onde nos conhecemos. Sérgio deixou a Coelba e foi para a CEPLAC na Amazônia. Numa das minhas férias fui visita-lo em Belém e, por coincidência, encontrei com Zé e ele me falou que o Frederico Afonso andava lhe cobrando a necessidade da presença de um advogado. Questionou-me se houvesse essa possibilidade se eu me mudaria para Belém. Eu respondi afirmativamente. Ele então me disse que iria conversar com Frederico Afonso e Hírcio Ismar, respectivamente à época, diretor e vice do DEPARTAMENTO ESPECIAL DA AMAZÔNIA - DEPEA e com o Advogado de Brasília Dr. Lauro Newton Zack que estava indo para Belém para resolver alguma questão de natureza jurídica, Zé conversou com ele para que fizesse uma entrevista comigo para avaliar meu conhecimento no âmbito jurídico e que, diante

do resultado da sua avaliação haveria a possibilidade da minha contratação. Foi marcado o horário em que o assessor jurídico da Secretaria Geral promoveria esse encontro na sede do DEPEA e, testado que fui, resultou da sua avaliação a minha aprovação. No mesmo dia adentramos ao gabinete de Frederico onde lá estava conversando com Hírcio, ocasião em que foi dito a ambos pelo Assessor que por ele eu estava aprovado.. Lauro Zack comunicou a Zé Haroldo na sua volta a Brasília e os entendimentos decorreram com certa lentidão, o que não me cabe aventar, o certo é que em 07 de agosto de 1978 ocorreu a minha contratação. Uma questão relevante para mim é que, neste mesmo dia, Edson Medeiros chefe da Divisão Administrativa junto com Renato Navarro, Chefe de Pessoal, me entregaram uma reclamação trabalhista cuja audiência estava designada para o dia 08 de setembro e o DEPEA não dispunha de nenhum material técnico-jurídico para eu me fundamentar e nem os meus livros de direito ainda estavam em Salvador. Preparei um Ofício, assinado pelo Dr. Frederico, para comunicar Seção da Ordem dos Advogados que eu iria representar a Reclamada naquela audiência até obter o registro suplementar.

Page 7: 01 an edição extra

No dia da audiência apresentei a defesa por escrito e foi sustentada a tese de que a CEPLAC não poderia ser julgada pela Justiça do Trabalho, embora também Federal, porque era um Órgão Autônomo da Administração Direta e, por conseguinte, havia a incompetência legal para julgar a reclamação. Não houve proposta de acordo e aguardei a sentença. Tomei 1x0. Comecei perdendo o que assustou a Direção e ficou a preocupação de se a CEPLAC perdesse como ficaria a minha reputação e do próprio Órgão. Num ambiente de constrangimento o fato foi comunicado a Zé Haroldo. Dentro do prazo legal ingressei com um Recurso de Apelação para o Tribunal. A ansiedade era maior do que o próprio processo. Eu precisava mostrar que eu não era tão incompetente. No primeiro round eu não iria à lona. O Pleno do Tribunal acolheu a minha tese da INCOMPETENCIA DAQUELA JUSTIÇA e mandou remeter os Autos para a Justiça Federal. Meio tempo ganho. Agora viria a segunda etapa. Dirigi-me à Justiça Federal e conheci o Dr. Anselmo Santiago (Juiz Federal) que me recebeu e disse que já havia despachado o processo oferecendo o prazo de 30 dias para a manifestação do Reclamante, sob a pena de arquivamento do processo. Contava os dias como se debulhasse uma espiga de milho. Grão por grão até que a espiga virou capucho. Voltei à Justiça Federal e lá requeri uma certidão de que o Reclamante não havia usado o seu prazo para promover sua defesa. O processo fora arquivado. O meu primeiro gol depois de tanta angústia, ansiedade e seguidos de alegria dos meus superiores. Dias depois Zé me manda uma procuração, na condição de representante legal da CEPLAC, com validade de um ano, renovada a cada período de 12 meses para representa-lo junto aos poderes públicos. Eu já havia regularizado minha situação na OAB/Pará, com a inscrição suplementar. Logo após poucos meses ele expediu uma Portaria me designando Assessor para assuntos jurídicos da Amazônia Legal que compreendia a jurisdição dos Estados do

Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso (ainda unificado), Goiás (especificamente Tocantinópolis) Rondônia e Acre. Em verdade, no meu curriculum escolar não constava a matéria de Direito Agrário e o que mais fiz foi queimar a pestana para enfrentar este novo desafio. Diante de algumas dificuldades que pareciam impossíveis promoverem a defesa da CEPLAC ou de seu interesse ele dizia: “Não sei por que advogado gosta de complicar”. Várias vezes fui a Brasília, o seu convite, para lhe apresentar dados que eram de caráter informal, sendo que não caberia formalizar e tentar conduzir de maneira mais política, porque ninguém como ele tinha essa capacidade. Destaquei aqui quatro difíceis tarefas de capital importância para a CEPLAC, as quais eram parte dos seus sonhos vê-las realizadas. Para atingir essas metas ele me orientou, politicamente, como conduzir no meio das autoridades competentes. 1) produzir junto com o governo do Maranhão um documento que suprisse a garantia da posse das áreas ocupadas por pequenos cacauicultores quando do processo discriminatório daquelas terras, a fim de servir como uma garantia do Governo de que os títulos de posse lhes seriam asseguradas para fins de obtenção do financiamento do FUSEC. Esse documento foi intitulado como: A CARTA DE ANUÊNCIA DO MARANHÃO E SUA VALIDADE JURÍDICA, escrita a várias mãos e, combinada a data de sua assinatura, o Zé esteve presente e me convidou para a sua assinatura no Gabinete do Governador. 2) a aquisição da sede no interior de Rondônia (se não me falha a memória foi a de Jaru) através de doação de um cacauicultor, cujo registro do seu nome não consta agora no meu arquivo cerebral. Eu falava com o Nilton Camargo em Porto Velho através do rádio e este pelo telefone repassava para Brasília as negociações e retornavam para mim através do rádio. Finalmente, saiu a doação, mas o doador não detinha o título de posse. Resolvemos voltar a Porto Velho e no Cartório elaboramos um Termo próprio e a Sede saiu.

Page 8: 01 an edição extra

3) Alta Floresta / MT – Uma aventura do colonizador Ariosto da Riva, amigo de Collor de Melo, conseguiu aprovação de seu projeto de colonização privada, e Zé Haroldo com uma visão ímpar, conseguiu o contato político e expôs porque seria viável a implantação da cacauicultura junto com outras culturas, a exemplo de guaraná. Mais uma vez ele venceu e o cacau lá está. 4) A sede do DEPEA. Cinco anos depois de ter ingressado na CEPLAC já havia sido contratado outro advogado e eu acometido seriamente com um problema de saúde me dirigi a Zé Haroldo, e pedi que se fosse possível me transferisse para a Bahia. Ele me respondeu que assim que houvesse uma oportunidade ele o faria. Na Assessoria Jurídica da Sede Regional, em Itabuna, o advogado Sílvio José Tude Freire pediu exoneração e Zé, cumprindo sua promessa, me transferiu para a Bahia. Jamais me esqueci das vezes em que ele chegava tanto no DEPEA quanto na SEDE REGIONAL, principalmente nesta, a alegria e a concentração de funcionários para cumprimentá-lo. E lembrando a colocação de Luiz Ferreira na sua homenagem, não havia distinção entre aqueles que o saudavam. Do Chefe do Departamento, Lício que confirme, ao operário de campo ele falava, cumprimentava e abraçava a todos. Por ocasião do Natal quando Zé chegava à Sede Regional parecia não um político, porque não

cabia nele esta pejorativa designação, mas se aproximava mais da figura de um “deus” e quando ele falava quer no auditório do CEPEC ou no refeitório duvido que não tenha alguém que tivesse escondido lágrimas. Depois de ter sido requisitado para trabalhar na Procuradoria Geral da União, atendendo ao pedido do Dr. Aristides Junqueira, então titular daquela Chefia feito ao Senhor Ministro da Agricultura fui procurar Zé Haroldo, no Campo Grande, para lhe agradecer pela oportunidade que me havia concedido e acreditado na minha possibilidade de crescer profissional e pessoalmente. Às vezes há quem possua potencial, mas lhe falta oportunidade embora outros tenham oportunidade, mas lhe falta a capacidade. Não me considero um excelente nem superior a outrem, mas ele acreditava no meu esforço. Zé, com sua marcante humildade e simplicidade, me abraçou e eu sem palavras para agradecê-lo ele me disse que o mérito teria sido meu. Ele nunca se vangloriava. Dizia que sempre tinha muito mais para realizar e ressaltava: “Eu não faço nada sozinho. Vocês me ajudam a realizar o que me vem à imaginação para elevar a CEPLAC como um grande monumento vivo da história”. Lamentavelmente ele se foi precocemente, mas nunca será cedo ou tarde para homenageá-lo.

PENSANDO NO JOSÉ HAROLDO Jorge Raymundo Vieira

Nesta manifestação de saudades, de reconhecimentos e talvez até de agradecimentos da turma de ceplaqueanos para o nosso Zé Haroldo pensei e apresento alguns momentos de sua vida profissional. Por muitos anos vivi ao seu lado, na luta difícil, mas idealista e sonhadora por um futuro regional. Era exigido constantemente espírito tranquilo para convencer os descrentes ou uma dose dupla de animação para a conquista de adeptos à grande ideia inovadora para o sul da Bahia - a CEPLAC. Fixei minhas lembranças nos seus momentos mais difíceis. Uma decisão errônea ou

apressada poderia criar um clima insatisfatório à realização do novo projeto regional. Revi sua primeira decisão profissional: abandonar a tentativa de ser empresário, deixando “J.Vieira e Irmão” para aventurar na profissão de bancário no Banco do Brasil. Único aprovado no concurso do Banco foi designado para atender a carência de funcionários da agencia de Ilhéus. Logo, logo antes de desenvolver a carreira no Banco decidiu atender o convite da CEPLAC para completar a equipe que administrava este importante projeto governamental, cujo

Page 9: 01 an edição extra

objetivo principal era solucionar os problemas e desenvolver a economia cacaueira baiana. Aí marcou sua presença e difundiu seu entusiasmo, idealismo e o desejo de ver toda a região desenvolvida econômica e socialmente. A crença do Secretário Geral Carlos Brandão nesta ideia levou a solicitar do funcionalismo, até então coordenado por uma única Superintendência Regional em Itabuna, um Projeto de reestruturação e ampliação dos serviços a serem prestados aos produtores de cacau. Após algum tempo veio a cobrança do Secretário Geral julgando que nada havia sido feito. O José Haroldo com seu jeito maneiroso disse existir um Plano de Expansão por ele elaborado e que estava com a Superintendência. Foi um momento difícil exigindo o respeito e a consideração aos seus superiores ao tornar público e aberto suas ideias neste novo projeto. O Plano de Expansão veio à discussão e daí surgiu, a criação de outras Superintendências - Ipiaú, Canavieiras, Ubaitaba, coordenando Escritórios Locais, uma estrutura mais eficiente no atendimento aos produtores em financiamentos e numa efetiva assistência técnica agronômica. Assim, deu-se inicio a ampliação da Ceplac nas suas atividades técnicas prestando melhor serviço àqueles que legalmente contribuíam financeiramente para sua manutenção - os produtores de cacau. Tornou-se Coordenador Administrativo Regional do recém-criado Escritório Central de Coordenação ao lado do cientista Dr. Paulo Alvim, como Coordenador Técnico Geral, supervisionando e orientando todo o programa da CEPLAC. A nova estrutura passou a constituir-se do Centro de Pesquisas do Cacau, do Departamento de Extensão, do Departamento Administrativo e das quatro Superintendências Regionais. Muitas outras decisões e influências pessoais existiram na administração e crescimento da Ceplac: com funcionários, com autoridades, com políticos regionais sempre visualizando o futuro da economia cacaueira, a diversificação, a expansão para a Amazônia, a preservação do meio ambiente e a

integração entre produtores, exportadores e industriais chocolateiros. O apoio à organização dos produtores de cacau, através do CCPC - Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau trouxe alegrias, compreensão e aceite às ideias novas. Todavia, existiram preocupações sérias nas tentativas de evitar discórdias e competições indesejáveis entre eles. Algumas de suas decisões foram sofridas e difíceis de serem tomadas. O coração não podia sobrepor ao interesse regional, daí a análise de dados e fatos, o diálogo constante com as lideranças, a compreensão e visão futura levavam a decisões que melhor atendessem o futuro regional. Assim foi a localização da sede da Ceplac e do Centro de Pesquisas do Cacau. As desavenças culturais entre Ilhéus e Itabuna não poderiam afetar tal procedimento decisório. Foram importantes suas considerações ponderando vários aspectos na decisão do então Secretário Geral. Em outra oportunidade, teve sobre sua responsabilidade a localização da atual UESC. Esta foi uma importante e difícil decisão. Era preciso que a CEPLAC, maior entusiasta e de elevado apoio financeiro da Universidade, não ficasse desgastada no ambiente político, ou junto à classe produtora e às sociedades ilheense e itabunense. Com coragem e visão futura decidiu localizar no município de Ilhéus em terreno ofertado por um produtor rural também idealista. Mas, as críticas existiram. O ciúme prevaleceu naqueles ainda arraigados com as tradicionais disputas entre as duas cidades. Todavia o José Haroldo sabia que estas duas importantes cidades representariam no futuro um grande centro metropolitano do sul do estado; sabia que as lideranças inteligentes e progressistas dos dois municípios iriam conduzir ações dentro desta ideia de desenvolvimento regional. E aí está. Não existem fronteiras entre os dois municípios. Para eles convergem o comercio, os acontecimentos culturais, econômicos e sociais; misturam-se os jovens, hoje com uma nova concepção de vida e de relacionamento humano. Nas salas de aula não existe separação nem identificação de origem ou de

Page 10: 01 an edição extra

residência. Somente a UESC tem mais de 7.000 alunos que não sentem esta disputa retrograda e antiga, que desapareceu no mundo em que vivem. Este era o sentimento de JH. Infelizmente os “políticos regionais”, sem visão futura, ainda perseguem ações e decisões governamentais, estimulando uma nova rixa e separação entre empresários, estudantes, professores e toda sociedade, com o único propósito eleitoreiro. O relacionamento com os líderes políticos regionais nunca foi fácil; desde os que apoiavam permanentemente a Ceplac e sua ações oferecendo um apoio desinteressado; outros, impertinentes, sem se importar com a economia do cacau e o “bem estar” da população, a querer (e conseguiram), dominar a instituição, injetando apenas procedimentos político partidários. Começou no governo Sarney. A Ceplac foi entregue ao correligionário político regional para as suas promessas sem o devido atendimento, mas com boas colheitas de votos. Acabou-se o idealismo, o amor à instituição, contagiando o funcionalismo com ofertas especiais para os adeptos à política partidária dirigente. José Haroldo sentiu isto. Tentou por diversas vezes salvar a instituição. Escreveu artigos,

planos e projetos. Visitou governantes, mais puros e idealistas, tentou explicar a todos o verdadeiro papel de uma organização técnica e necessária ao desenvolvimento da região. Deixou a direção da Ceplac triste quando anteviu o futuro da instituição e seu reflexo na região e na economia do cacau, agora com o predomínio da ingerência política partidária regional. Seu último Projeto de reorganização da Ceplac (ou salvação), escrito e impresso por ele, entregue a todos os dirigentes, autoridades, políticos e lideres da economia nacional do cacau não teve acolhida. A maioria nem leu a documentação. Nenhum político desejava ser o responsável pelo fim da instituição ou de sua remodelação apagando todo o seu passado. O melhor de José Haroldo foi ter tido uma vida profissional elogiável, ter contribuído decisivamente para o progresso e melhoria dos produtores de cacau da Bahia e da Amazônia, da evolução profissional dos técnicos e em especial de ter contribuído marcadamente para a construção da UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz.

DEPOIMENTO DE PAULO SERGIO B. MENEZES SOBRE JOSÉ HAROLDO

O destino me proporcionou a felicidade de encontrar Zé Haroldo na minha trajetória profissional. Por afinidades e oportunidades me dediquei a estudar e trabalhar na aérea de recursos humanos da CEPLAC e foi nessa experiência que pude conhecer, mais de perto, quem era essa pessoa, então Secretário Geral da CEPLAC, que tinha sob sua responsabilidade o enorme desafio de decidir, também, sobre a vida de inúmeras pessoas que trabalhavam na CEPLAC e, por consequência, de seus respectivos dependentes. Zé Haroldo tinha em sua alma uma enorme sensibilidade para compreender o ser humano. Tinha uma capacidade extraordinária para projetar, assimilar, estimular e concordar com as propostas de melhorias das políticas de recursos humanos da CEPLAC, sempre demonstrando que tudo isto era absolutamente possível, sem

comprometer sua posição de dirigente maior e sem assumir postura paternalista, pois nunca lhe faltava a compreensão de justiça e resultados. Sua visão de futuro era demonstrada em cada decisão relacionada com os recursos humanos. Os funcionários menos qualificados tinham uma especial atenção do Seu Zé. Lembro-me quando a CEPLAC contava em seu quadro de pessoal com um grupo de Trabalhadores Rurais que representava 30% do seu contingente, aproximadamente. Esses trabalhadores tinham legislação própria e não se vinculavam à Previdência Social, portanto, não tinham os mesmos direitos e benefícios dos demais funcionários. Isso o incomodava sobremaneira. Então ele recomendou-me examinar junto com a área jurídica e junto à Previdência a possibilidade de alteração de vínculo desse grupo, o que veio acontecer,

Page 11: 01 an edição extra

após várias considerações, projeções e visitas à Superintendência do então Instituto Nacional de Previdência Social-INPS, culminando com a unificação do regime, internamente na CEPLAC, o que se consolidou, inclusive, com o novo Plano de Cargos e Salários implantado em 1974, também outro marco importante na história da CEPLAC durante a sua gestão. No plano social Zé Haroldo foi um grande líder. Promoveu a criação do Instituto CEPLAC de Seguridade Social-CEPLUS que, se teve vida curta por motivos outros, a todos funcionários vinculados muito beneficiou, inclusive com o recebimento do fundo de reserva. Liderou a construção de conjuntos habitacionais para servidores. Aprovou o Plano de Assistência Médica, ginásio esportivo, apoiou a criação de Associações representativas dos funcionários, entre várias outras ações. No tocante a carreira dos funcionários da CEPLAC é sabido e notório o seu empenho em manter quadros qualificados com a aprovação de programas de treinamento em todos os níveis, especialmente a nível de

Mestrado e Doutorado, o que muito notabilizou a Instituição. Para fixar e estimular tão qualificado patrimônio humano apoiou e implantou várias melhorias nos sistemas de remuneração, sempre disposto a dialogar com as autoridades que, a nivel do Conselho Nacional de Política Salarial-CNPS, aprovavam tais mudanças. Essas rápidas palavras são, apenas, um testemunho do que pude observar e nunca esquecer, durante meu trabalho na área de recursos humanos, junto a uma pessoa iluminada que marcou várias gerações, pela liderança que exerceu em prol das regiões produtoras de cacau no Brasil. Enfim, Zé Haroldo era um homem com uma visão que extrapolava a sua época e colocou isto na sua maneira de administrar, sempre com lisura e competência, e se relacionar com as pessoas. Com ele tive o privilégio de conviver e muito aprender. Que Deus sempre o proteja, onde quer que esteja. Brasília, março de 2012

ZÉ HAROLDO – UM EXEMPLO DE LIDERANÇA Antônio Manuel Freire de Carvalho

Conheci Zé Haroldo ao ingressar na CEPLAC em janeiro de 1964 quando participava de um treinamento pré-serviço em Itabuna. Em uma das aulas, fomos apresentados ao então Coordenador Sr. José Haroldo Castro Vieira e ali se evidenciava sua grande luta, de motivar a todos para um sonho que virou comum aos CEPLAQUIANOS – o de fazer a maior e melhor instituição agrícola, no início, e de desenvolvimento regional, de forma consolidada, no futuro. O idealismo e a competência técnica era nossa força e Zé Haroldo era um dos esteios que contávamos. O CEPEC já existia e suas unidades localizadas nas sedes das fazendas adquiridas para o Centro de Pesquisas. Algumas bem rústicas e sem qualquer conforto, mas o desejo de produzir superava tudo. O antigo DEPEX, criado em 1963, iniciava sua trajetória com a inauguração do escritório local de Coarací, o primeiro de uma série de 20 inaugurados em 1964. Zé Haroldo

foi inaugurar aquele escritório e ele mesmo lembra em um de seu livros o comentário de seu motorista, amigo e colaborador direto, Diomedes, que seu discurso não foi dos melhores mas que ele iria se acostumar e melhorar. Realmente a prática o levou a ser um dos melhores e eficientes oradores, cuja mensagem, sempre sensata e construtiva, nos levava a acreditar nos seus objetivos e abraçar a luta.. Com seu estilo afável e com a humildade que sempre caracterizou sua personalidade Zé Haroldo passava a ser uma referência como eram Dr. Alvim, Jorge Vieira, Pedro Pinto e o então Secretário Geral, Carlos Brandão que, cada um com seu estilo, nos doutrinavam e eram exemplos a ser seguidos. As dificuldades eram grandes, a região cacaueira com uma estrutura débil apesar da riqueza gerada pelo cacau dificultava o acesso aos Municípios e em especial às fazendas de cacau. Os jipes pretos, as

Page 12: 01 an edição extra

canoas e barcos rústicos, os burros eram nossos meios de deslocamento. O olho grande e ambicioso pelo crescimento da CEPLAC já era visível. As lutas vitoriosas contra os inimigos invejosos e políticos que queriam o comando ou a extinção do órgão, eram vencidas pelo trabalho, dedicação e posicionamento de nossos líderes e entre eles, Zé Haroldo era o homem da linha de frente. A CEPLAC começava a se firmar com a aceitação e aprovação das comunidades. Veio a incorporação das Estações Experimentais de Una e Jussari, a Estação de Uruçuca, com todo acervo técnico e profissionais de renome como os Drs. Carlleto, Pedrito Silva, Lélis e tantos outros que vieram dar exemplo e maturidade aos iniciantes. Veio a EMARC e com isso a consolidação da instituição. O tripé – Pesquisa, Extensão e Ensino – formava um modelo que passou a ser a marco do desenvolvimento regional. .Por iniciativa da própria CEPLAC foi criado o então CNPC congregando os Sindicatos patronais rurais da região e, com isso, os produtores passaram a dispor de assento efetivo no Conselho de Administração da CEPLAC. Zé Haroldo foi o grande articulador dessa organização e como reconhecimento pelos relevantes trabalhos chegou a receber a maior comenda concedida a beneméritos Com minhas promoções a Agrônomo Regional e Assessoria do DEPEX nosso relacionamento profissional e pessoal passou a ser mais frequente e, a cada dia, mais aprendia suas lições e admirava seus posicionamentos e exemplos. Ao ser indicado para o curso de pós-graduação na Colômbia contei com o apoio incondicional do Secretário José Haroldo, nesta época sediado no Rio de Janeiro e após o curso, nomeou-me Coordenador do

PROAPE, do Diagnostico Socioeconômico do Sul da Bahia – um marco técnico para o planejamento regional – Diretor do DEPEX e posteriormente para Coordenador Regional Adjunto. Enfim, minha vida profissional cresceu sob a liderança, seu exemplo e sua confiança pessoal. Sou muito agradecido a Zé Haroldo pela minha formação pessoal e profissional. E, ao deixar a Direção do DEPEX, em 1983, recebi de Zé Haroldo a sua melhor lição de vida quando disse ¨a gestão de Tonhel foi o melhor período de relacionamento com a lavoura¨ Juntos recebemos títulos de cidadãos de vários Municípios do sul da Bahia pelo trabalho realizado. Já amadurecido profissionalmente, encarei todos os cargos e encargos que assumi com confiança e certo que daria conta do recado. Zé Haroldo me transmitia força e orientava mesmo quando já aposentado da CEPLAC assumia a CEASA, a FAEB e o SENAR e hoje, mesmo ausente, pode ter certeza que em todas aquelas instituições foi deixado um pouco do seu idealismo e forma de administrar. Em vida Zé Haroldo estaria com 85 anos de idade. Pena que tenha ido tão prematuramente, pois sua presença, suas ideias e posicionamentos seriam fundamentais para superarem as dificuldades da crise que tanto assolou a região cacaueira da Bahia. Mais de que justas as homenagens que seus colegas, admiradores e liderados farão em sua homenagem. Por mais que façamos é ainda muito pouco para evidenciar o quanto devemos ao Zé – sua capacidade de trabalho, sua liderança, sua dignidade, suas ideias brilhantes e seu exemplo pessoal e profissional – continuarão marcando e orientando nossos caminhos.

DEPOIMENTO DE ROBERTO MIDLEJ

Sinceramente, não sei como começar a atender ao seu chamamento, para registrarmos, juntos, a passagem dos 85 anos do nosso sempre lembrado Zé Haroldo. Eu, particularmente, estou sempre homenageando a memória do grande amigo,

seja através dos seus escritos, seja por força das lembranças dos 50 anos do convívio quase diário. Por isso, voltando a um passado bem distante, remeto-me ao ano de 1958, quando

Page 13: 01 an edição extra

ingressei na CEPLAC, e, por coincidência, me fez retornar a Itabuna, terra natal. Nessa época, o quadro da CEPLAC era só formado por pessoal do Banco do Brasil, talvez uns quarenta, vindos de várias cidades da região cacaueira, senão de outros Estados. Lembro-me bem do Urbano Brandão, Antônio Juvenal Guerra e Carlos Meireles, que, de certa a forma, comandavam o ressurgimento da região cacaueira, através de refinanciamento de dívidas. Acima dessas pessoas despontava a figura do jovem Carlos Brandão, homem de confiança de Tosta Filho, então Diretor da CACEX, e indicado pelo Presidente Juscelino para reerguer a economia da tão sofrida região. Feito esse extenso preâmbulo, aí é que entra a figura do Zé Haroldo, na época encarregado da parte contábil das operações financeiras. O nosso contato foi fácil, pois eu já servira, anos atrás, ao Tiro de Guerra em Ilhéus, quando ouvi falar em figuras tradicionais e quatrocentonas da bela cidade praiana, entre as quais despontava o clã dos Melo Vieira. Zé, antes de entrar para o Banco, teve uma passagem rápida como comerciante, quando eu o conheci, como espectador, jogando tênis no Clube Social de Ilhéus. Figura discreta, de bom papo, e já com muitas ideias na cabeça, foi, de mansinho, se destacando no grupo, graças a uma grande vocação de liderança. Com a criação do SETAG (Setor Técnico Agrícola), a CEPLAC começou a estender sua missão, que era, principalmente, a de recuperar a lavoura cacaueira, após o saneamento das dívidas dos produtores. Poucos anos se passaram, até que, por ato do Governo Federal, foi decretada a desapropriação de uma área nobre de mais de 700 hectares, no eixo da Rodovia Ilhéus/Itabuna, km. 22. Carlos Brandão, com a acuidade tão própria dos mineiros, escolheu Zé Haroldo para ser Superintendente regional do Órgão. A essa altura o quadro de agrônomos da CEPLAC era enriquecido com a colaboração de respeitáveis figuras oriundas da Estação Experimental de Uruçuca, então pertencente ao Instituto de Cacau da Bahia, cuja missão

definhava por falta de recursos adicionais do Estado. Outras figuras como o Silvio Midlej, Cícero Milmo, Osmundo Teixeira, José Maria Vasconcelos, José Amorim e tantos outros continuávamos sediados em Itabuna, ainda acompanhando casos remanescentes de composição de dívidas. Por força do cargo, lembro-me bem que o nosso Zé Haroldo tinha que realizar frequentes viagens ao Rio de Janeiro, então sede institucional da CEPLAC. Só que viajava sempre de carro (diga-se Rural Willys), pois tinha pavor de avião. Ao superar esse medo, ninguém o segurou mais, forçado, que era, de fazer viagens de Teco - Teco, dentro da Região, e até voos internacionais. A essa altura, sob a batuta do Paulo Alvim, o quadro de agrônomos já alcançava quase uma centena, espalhados por toda uma região, de Jequié até o extremo sul. Como os nossos recursos eram oriundos de uma taxa de retenção (10%) de toda de toda a produção, fomos estendendo atividades, levando dezenas de agrônomos a fazerem pós- graduação no Brasil e no exterior, até formarmos um exemplar Centro de Pesquisa. Nessa época, já usufruíamos de nova sede regional com projeto do renomado arquiteto Sérgio Bernardes e, com isso, recebíamos figuras importantes, não só do Brasil como do exterior. É importante que se registre o fato de que tínhamos autonomia de recursos financeiros, já que as receitas da taxa entravam diretamente em conta do Banco do Brasil. Isto permitia ficarmos fora do orçamento da União, com disponibilidade de recursos de 1ºde janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Carlos Brandão, a essa altura, deixava a CEPLAC e ingressava no Banco Central, como Diretor Financeiro, salvo engano. Aí é que entra a figura do Zé Haroldo, mais uma vez.Graças ao seu excelente trabalho à frente da direção regional, é convidado por Brandão para, com muita justiça, substituí-lo na CEPLAC como Secretário Geral. Ao assinar a posse, lembro-me bem que Zé Haroldo recebeu do então Governador do Estado, telegrama parabenizando-o pela “interinidade”. Esse mesmo Governador que,

Page 14: 01 an edição extra

meses, messes antes, ao assinar dezenas de convênios com a CEPLAC dissera que, afinal, estava recebendo de volta um pouco dos recursos que pertenciam, de fato, ao Estado. Não dava para entender tal colocação, senão mera “dor de cotovelo” por ver a CEPLAC, então, pontificando em uma centena de municípios da região, onde o Estado, certamente por falta de recursos, não pudera atuar. Não é preciso lembrar que o nosso Zé “tirou de letra” a ironia do governador, pois que a “interinidade” durou por cerca de três décadas. Vale lembrar que, entre os anos de 1977 a 1982, a CEPLAC contava com orçamentos altamente significativos, chegando a dispor de quase 120 milhões de dólares para o orçamento de 1978, graças à conjunção de boa produção (mais de 4oo mil toneladas) e preços internacionais (pique de mais de 3.000 dólares). Com esses recursos o nosso prezado Secretário Geral adquiriu nova sede em Brasília, Construiu a sede regional em Belém, construiu a sede do Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau-CCPC, agora agregando quase cem Sindicatos Rurais, e pôde, principalmente, adquirir, a “fórceps”, a área sonhada, entre Ilhéus e Itabuna para a construção física da Universidade. A essa época Dr. Érito Machado, então Diretor da Universidade de Santa Cruz - FUSC me “azucrinava” na região, para liberar mais recursos para apressar a construção as sede, enquanto Soane Nazaré, dirigindo a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna-FESPI, atuava junto a Zé Haroldo para consolidar o trabalho de formação de novos cursos, com o que não contava com dificuldade, já que a Universidade era a “menina dos olhos” do Zé Haroldo. Com essa fase de ouro do cacau, é claro que todo Estado da federação queria plantar cacau. Além da expansão tradicional no norte do País, apareciam pedidos até de Tocantins (o Governador foi à sede regional de avião particular, para obter sementes), enquanto o jornalista Rezende Peres defendia o plantio na região fluminense. E Zé Haroldo, com a habilidade que Deus lhe deu, e o Ministro Paulinelli ajudou, ia driblando tais pretensões, eis que, na maioria dos casos não havia a menor vocação para essa lavoura, que sempre exigia condições especiais de clima e

solo para prosperar. Passados tais registros “históricos”, cabe-nos falar da parte mais alegre e agradável, que é a da tentativa de ressaltar as muitas qualidades do Zé. E aí não sei se falo mais da amizade ou da obstinação, da sua lealdade ou da força de criatividade. Mas o que sei, com certeza, é que sua dedicação à CEPLAC era constante, com plantão de 24 horas ao dia. Não posso esquecer, também, da sua eterna paciência, de estar sempre disposto a ouvir pedidos dos mais absurdos, e, ao dizer um “não”, o fazia com tal habilidade que o interlocutor ainda saía satisfeito. Poucas vezes o vi irritado, mas me lembro de um episódio que, a propósito, vale registrar: íamos à noite a um evento em Ubaitaba, quando o nosso prezado motorista, o Diomedes, famoso “munheca de pau”, parou a rural que acusou um problema no motor. O motorista, que entendia ainda menos de mecânica que de direção, suspendeu o capô, como se fosse resolver o grande enigma. Zé, que era rigoroso com horário de compromissos (chegava sempre, pelo menos uma hora antes), já estaca estourando a paciência, quando apareceu uma alma salvadora, na pessoa de outro motorista da comitiva. E, assim a agenda foi cumprida, e comprida... Não posso me esquecer, também, quando, depois de uma jornada exaustiva que ia das oito da manhã às oito da noite, tínhamos que comparecer a uma reunião extraordinária do CCPC, que, por vezes, varava a madrugada. E o Zé, sempre paciente, a tudo ouvia, sem levantar a voz, mesmo diante de tantos “destemperos” Tentei, por algum tempo, rever documentos e anotações, para não confiar só na memória, que, por vezes, é falha. Na verdade, a documentação de que disponho, é mais de papéis oficiais e de origem burocrática, que nada acrescentam. Mesmo assim, fiz questão de realizar essa tarefa sumamente agradável, passando a melhor compreender os argumentos do colega Cícero. Cabe-nos, talvez, por último, missão de relatar, no meu parco entendimento,, ressaltar os fatos e momentos mais marcantes na vida ceplaqueana do nosso Haroldo.

Page 15: 01 an edição extra

Fora a tarefa diária de tomar decisões importantes, destaco o seu empenho em “perseguir” a criação da Universidade, que, hoje nos dá tanto orgulho, ao acolher cerca de dez mil alunos, voltados para os cursos das mais diversas áreas. No centro das discussões sobre o futuro da Universidade havia a questão de sua estadualização, a que a CEPLAC teve que se render, eis que, a essa altura o nosso orçamento estava atrelado ao da União, e os recursos começavam a declinar. Outro projeto que o Zé Haroldo deu o maior apoio, em parceria com o Onaldo Xavier foi a criação do PACCE, destinado a revelar talentos regionais, nos mais diversos setores da arte. Para coordenar tal projeto foi convidado o escritor e poeta Telmo Padilha. Uma outra tarefa importante que mereceu a atenção do Zé Haroldo foi a de ampliar as atividades da EMARC, criando, com a colaboração do então Governador Roberto Santos, mais escolas, destinadas a formar técnicos agrícolas, que desenvolviam suas tarefas, coadjuvando os trabalhos dos extensionistas e toda a região cacaueira

Não posso deixar de registrar, também, a importância que o nosso homenageado reservava para o programa de estradas vicinais (milhares de quilômetros) e de pontes para assegurar o melhor escoamento da produção cacaueira. Ao lado disso, foram construídas dezenas de sedes de sindicatos rurais, equipados com gabinetes dentários e pequenos centros médicos. Ao redigir este texto, sinto falta (e que falta), da habilidade do Sílvio e do estilo preciso e lapidar do Cícero Milmo. Mas me sinto, ao mesmo tempo, feliz por saber que o escrevi com a memória e o coração, o que era bem do agrado do nosso Zé. Nessa hora de muitas lembranças, vários fatos e episódios me veem à mente, mas o foco deve estar voltado para o homenageado, razão pela qual peço minhas escusas por certas omissões que, em outros momentos seriam imperdoáveis. Agora é só a hora do Zé Haroldo, amigo, colega, e mais que tudo, o irmão de todos nós, que, com ele, tanto aprendemos a viver e amar a CEPLAC

DISCURSO PROFERIDO POR LICIO DE A. FONTES EM FEV/2005.

Recebi a honrosa incumbência de falar a respeito do querido e saudoso amigo José Haroldo Castro Vieira nesta merecida homenagem que a academia de letras de Ilheus vem lhe prestar. Falar sobre Zé Haroldo seria uma tarefa fácil se ele ainda se encontrasse entre nós, pelas inúmeras virtudes de que era possuidor, pelo cidadão exemplar, pelo homem público sem mácula, pelo filho apaixonado pela sua terra e pela sua região, enfim, por tudo o que representava como homem íntegro, personalidade cativante e amigo leal. Entretanto, inconformado pela sua ausência esta tarefa me será também dolorosa por ainda não ter me acostumado com a ideia da sua partida de nosso meio. Conviví com é Zé Haroldo durante cerca de 40 anos. Muito desse convívio foi diuturno, de grande intimidade e fraternal amizade. Sinto-me portanto apto a prestar um depoimento sobre uma pessoa com quem tive uma relação muito próxima e com a qual troquei

muitas confidências compartilhando de muitas vitorias, tristezas, ansiedades e sobretudo testemunhando os seus grandes ideais. Por mais que a grande amizade e admiração que sempre nutri pelo Zé Haroldo possam influenciar estas minhas palavras, com certeza não representarão um falso testemunho, vez que, elas jamais seriam desmentidas até mesmo por qualquer desafeto de Zé Haroldo, se por ventura existisse. Admirava-me ver como Zé Haroldo amava a sua região e particularmente a cidade em que nasceu, assim como respeitava e considerava aqueles homens que plantaram a grande riqueza do cacau, à custa de suor e sangue . Contagiava-me a sua indignação pelos maltratos e injustiças sofridos pelos produtores de cacau. Não conheci até hoje alguém que respeitasse ou se preocupasse mais com o produtor de cacau, que Zé Haroldo

Page 16: 01 an edição extra

Afirmo sem medo de ser contestado que as grandes conquistas da região cacaueira nestes últimos 50 anos foram consequência da ação benéfica, do trabalho abnegado e da visão empreendedora de Zé Haroldo. Permito-me lembrar: a Universidade de Santa Cruz, o Centro de Pesquisas do Cacau, os hospitais em grande parte da região, as telecomunicações, a eletrificação rural, as estradas vicinais, as pontes, as escolas técnicas de agricultura, as cooperativas, os parques de exposição agropecuários, os portos, aeroportos, o polo de informática e um imenso numero de outras realizações que engrandeceram a região, tudo feito dentro de um critério de inatacável lisura e honestidade. A personalidade de Zé Haroldo era fascinante. Todas as pessoas que trabalharam ou conviveram com ele foram cativadas pela sua maneira de ser. Durante todo o nosso longo convívio nunca tomei conhecimento de qualquer atitude de intolerância ou impaciência de sua parte contra quem quer que fosse. Os seus colegas e subordinados da CEPLAC em todos os níveis, eram tratados por ele com um carinho e uma atenção incomuns. Dele ouvi várias vezes a lição de grandeza e tolerância ao dizer que devemos ter sempre paciência com os mais humildes pois a vida para essas pessoas é mais difícil e mais sofrida já que eles não tiveram a sorte de nascer em berço de ouro. Que aqueles que ocupavam cargos de comando nunca deveriam negar atenção a um funcionário de escalão mais baixo, mesmo que não pudéssemos resolver o seu problema, pois ao nos procurar ele acha que nós representamos a ultima esperança para a solução do seu problema. Durante 29 anos Zé Haroldo ocupou os cargos mais importantes da CEPLAC e tinha a responsabilidade de gerir um dos maiores orçamentos de empresas públicas do Brasil. E o fez com tal correção, honestidade e zelo que a CEPLAC era considerada nacionalmente como um paradigma de operosidade, eficiência e retidão.

Não fez fortuna. Morreu sem ter acumulado bens materiais, mas amealhou um invejável patrimônio moral. Foi algumas vezes incompreensivelmente combatido, mas ninguém nunca ouviu de sua parte uma reação raivosa ou uma atitude revanchista. A sua capacidade de resignação e tolerância era traduzida em outro ensinamento que ele nos passava sempre ao dizer: “o melhor lutador não é o que mais bate nem o que mais agride e sim o que mais sabe absorver os golpes.” A sua capacidade de convencimento, de gerenciamento de conflitos, de pacificação de espíritos era admirável. Considero-me um privilegiado por ter convivido e trabalhado com Zé Haroldo que inspirou o melhor da minha formação como profissional e como ser humano. A região cacaueira e a Bahia ainda não se deram conta plenamente da importância que Zé Haroldo representou para todos. E a falta que ele nos faz. Após a sua morte, os seus familiares encontraram entre alguns dos seus escritos inéditos mais um sábio conselho em forma de oração e que traduz bem o caráter e a grandeza desse homem que viveu e morreu em paz consigo mesmo, com o próximo e com a vida: “-persigam os seus sonhos e ideais, mas não se esqueçam que se a vida é a procura da felicidade, esta não se encontra no dinheiro, nem no poder ou nas posições ocupadas e nem mesmo num estado de plena saúde. Ela está tão perto de cada um! A felicidade é a paz interior, a consciência do dever cumprido, especialmente em relação ao seu semelhante. Cultivem o bem-querer, sem excessos ou pieguices, mas com sincero sentimento, pois aí está a essência de uma vida feliz.” José Haroldo nasceu em 6 de abril de 1927 e morreu em 6 de fevereiro de 2004. Assim como fez com a sua vida, Zé Haroldo ofereceu esta oração também a todas as pessoas que o conheceram

oOo

Acessar: www.r2cpress.com.br