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Material de Apoio Língua Portuguesa I Profº William Sanches www.williamsanches.com.br “O mundo do Direito é o mundo da linguagem, falada e escrita.” Luis Roberto Barroso “O Direito é a alternativa que mundo concebeu contra a força bruta. Em lugar de guerras ou duelos, debates públicos; em vez de armas, 1déias e argumentos” Maria José C. Petri 1

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Material de Apoio

Língua Portuguesa I

Profº William Sanches

www.williamsanches.com.br

“O mundo do Direito é o mundo da linguagem, falada e escrita.” Luis Roberto Barroso

“O Direito é a alternativa que mundo concebeu contra a força bruta. Em lugar de guerras ou duelos, debates públicos; em vez de armas, 1déias e

argumentos”Maria José C. Petri

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Contatos com o ProfessorSite: www.williamsanches.com.brE-mail: [email protected]: @williamsanchesFacebook: William Sanches

DEFININDO ALGUNS CONCEITOS

LINGUAGEM:

Linguagem é toda e qualquer forma de comunicação, ou seja, a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas.

Existem muitos tipos de linguagem. A fala, os gestos, o desenho, a pintura, a música, a dança, o código Morse, o código de trânsito, tudo isso podemos classificar como sendo linguagem. As linguagens podem ser organizadas em dois grupos:

A linguagem verbal :

A Lingüística, que é um ramo da Semiótica, delimita seus estudos à LINGUAGEM VERBAL OU LÍNGUA, que, sabemos, pode ser oral e/ou escrita. O significante é um conjunto de letras e/ou de sons que, combinados, são dotados de significação. No Português, por exemplo, a seqüência CSAA não é significante porque não tem significado. O significado, por sua vez, é um conceito, é aquilo do mundo real que o signo está REPRESENTANDO lingüisticamente.

A seqüência CASA é significante porque significa, vale, representa, a “casa” que existe na realidade. Assim, só é significante o que tem significado, e um significado só pode ser materializado por um significante.

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A linguagem não verbal:

São códigos cujos signos são formas, símbolos, expressões corporais, cores, sons, etc, ou seja, a Mímica, a Dança, a Música, a Pintura, o Desenho, a Escultura, a Arquitetura, enfim, a Arte em geral, um olhar, uma expressão facial, uma manifestação física, etc.

Os signos não verbais também são representações daquilo que existe na realidade e um meio de comunicação: são diferentes formas de “ dizer” sem que se precise usar uma palavra falada ou escrita sequer. No farol de trânsito, a luz verde acesa significa “ pode passar”; a vermelha, “pare”; e a amarela, “ atenção”, sem que qualquer uma dessas palavras estejam escritas, pois ao invés de letras e sons, esses signos têm cores como significantes.

“Comunicação é o modo através do qual as pessoas compartilham experiências, ideias e sentimentos. Ao se relacionarem, como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente

e, juntas, modificam a realidade onde estão inseridas.” -

Juan Dias Bordenave

LÍNGUA : A Língua é um código de que se serve o homem para elaborar mensagens, para se comunicar e interagir com outras pessoas. Assim, quanto maior o domínio que temos da língua, maiores são as possibilidades de termos um desempenho lingüístico/comunicativo eficiente.Língua pertence a todos os membros de uma comunidade. Como ela é um código aceito convencionalmente, um único indivíduo não é capaz de criá-la ou modificá-la. A fala, entretanto, é sempre individual e seu uso depende da vontade do falante. Nem a língua nem a fala são imutáveis. A língua evolui, transformando-se historicamente.

DISCURSO: toda produção verbal inserida em determinado contexto interativo. Para depreender seu sentido, é fundamental que o ouvinte/leitor associe o texto produzido com a situação interlocutiva em que ele está inserido.

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Elementos da comunicação

Os elementos básicos que compõem uma situação de comunicação são :

  A própria situação (contexto) ou realidade de comunicação em que ela se realiza: o lugar, a época, o tipo de cultura a que pertencem as pessoas que se comunicam, o seu grau de escolaridade, sua faixa etária e tudo aquilo que pode modificar o sentido da mensagem que está sendo transmitida. São as CIRCUNSTÂNCIAS todas em que uma comunicação se efetiva.

  Os interlocutores que dela participam :

EMISSOR: é quem transmite uma mensagem durante a comunicação ( é a pessoa que fala no discurso – a 1ª pessoa – equivalente a EU ou NÓS);

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RECEPTOR: é para quem se transmite uma mensagem durante a comunicação (é a pessoa para quem se fala no discurso – a 2ª pessoa – equivalente a TU e VÓS);

Obs: durante a comunicação, normalmente esses papéis se invertem.

MENSAGEM: é cada conteúdo que os interlocutores compartilham. A mensagem normalmente tem um tema central, um assunto predominante. Ela pode ser sobre alguém, algo (real ou não, concreto ou abstrato), algum lugar, etc. Em comunicação, o objeto ou tema central da mensagem chama-se REFERENTE . Assim, o referente é sobre que ou sobre quem se fala na mensagem.

CANAL: é cada um dos meios de comunicação utilizados na transmissão de mensagens na comunicação. São os meios de comunicação. Ex.: revista, jornal, rádio, televisão, telefone, fax, telégrafo, computador (Internet), rádio, carta, etc

CÓDIGO: é a linguagem ou conjunto de signos usados na elaboração e/ou na transmissão da mensagem na comunicação.

RUÍDO é todo e qualquer problema que possa ocorrer na transmissão/elaboração ou na recepção/entendimento de uma mensagem. As diferenças culturais, as condições acústicas e/ou visuais da situação de comunicação, a predisposição dos interlocutores e suas diferenças e tantos outros fatores podem impedir que uma mensagem seja recebida da mesma maneira que foi enviada. O poder da comunicação e a comunicação do poder são temas importantes tratados em itens que aparecerão mais adiante.

Fonte: portalrosabeloto.sites.uol.com.br

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Funções da Linguagem

  Quando, num discurso, entram em ação os elementos estudados no item anterior, o uso da linguagem se efetiva através da comunicação. A linguagem passa a ter diferentes funções nesse discurso, dependendo da temática (do assunto, do referente) da mensagem veiculada.

Partindo desses seis elementos Roman Jakobson, lingüista russo, elaborou estudos acerca das funções da linguagem, os quais são muito úteis para a análise e produção de textos. As seis funções são:

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1. Função referencial: referente é o objeto ou situação de que a mensagem trata. A função referencial privilegia justamente o referente da mensagem, buscando transmitir informações objetivas sobre ele. Essa função predomina nos textos de caráter científico e é privilegiado nos textos jornalísticos.

2. Função emotiva: através dessa função, o emissor imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: emoções, avaliações, opiniões. O leitor sente no texto a presença do emissor.

3. Função poética: quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de idéias, temos a manifestação da função poética da linguagem.

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Notícia: Fósseis encontrados no nordeste da Colômbia identificaram a maior serpente já descoberta, muito maior que a cobra gigante do filme Anaconda, estrelado por Jennifer López em 1997. O réptil de cerca de 60 milhões de anos tinha entre 12,8 e 13,7 m de comprimento e pesava mais de 1 t. As informações são da agência AP. www.terra.com.br

Oi meu amor! Hoje passei o dia aguardando você. Sabe aquela garrafa de vinho tinto? Pois é! Ela está geladinha aguardando nós dois! Topa?Saudades de você.

Quantas vezes me desesperei, chorei e até pensei em me mudar de cidade só para não ver mais seu rosto. Tudo aquilo que me dizia era falso, logo que te encontrei percebi o quanto estava mentindo. Que pena, meu amor era tão verdadeiro...

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Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. É explorado na poesia e em textos publicitários.

Motivo 

Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.

Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.

Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se ficoou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.

Cecília Meireles

4. Função metalingüística: quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente, ocorre a função metalingüística.

Exemplo: A linguagem não verbal: São códigos cujos signos são formas, símbolos, expressões corporais, cores, sons, etc, ou seja, a Mímica, a Dança, a Música, a Pintura, o Desenho... (aqui temos a linguagem escrita falando sobre a linguagem não verbal, ou seja, uma linguagem falando dela mesma ou de outra.)

Respeito: sentimento que leva a tratar alguém com grande atenção ; consideração. Respeitoso - adjetivo.

Dicionário Houaiss

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Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu

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5. Função Apelativa (ou conativa): essa função procura organizar o texto de forma a que se imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em que predomina essa função, busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aquele comportamento.

Beba coca-cola!

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Compre agora e só pague depois do carnaval!!!

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6. Função fática: a palavra fático significa “ruído, rumor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas formas que se usam para chamar a atenção (ruídos como psiu, ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. Quando o apresentar Chacrinha gritava “Terezinhaaaa”. Era apenas um teste de canal para ver se estavam realmente prestando atenção nele.

Exemplos muito comuns:

Alô? Quem fala?

Ei! Hum...

* Essas funções não são exploradas isoladamente, de modo geral, ocorre a superposição de várias delas. Há, no entanto, aquela que se sobressai, assim podemos identificar a finalidade principal do texto.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Uma língua nunca é falada de maneira uniforme pelos seus usuários: ela está sujeita a muitas variações as quais, sinteticamente, podem ser:

de época para época: o português de nossos antepassados é diferente do que falamos hoje. Repare que em algumas obras literárias encontramos palavras como “cousa”, “pharmácia” etc.

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São perguntas como

“não é mesmo?” “você está entendendo?”

“cê tá ligado?” “ouviram?”,

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de uma região para região: o carioca, o baiano, o paulista e o gaúcho falam de maneiras nitidamente distintas observadas pelo emprego de palavras para dar nomes a alguns objetos, plantas, situações e também pela articulação fonética.

de grupo social para grupo social: pessoas com um nível de escolaridade maior conseqüentemente empregam a língua de uma forma considerada mais “culta” em relação àqueles que nunca freqüentaram uma escola. Aqui também encontramos a fala muito peculiar dos grupos de pessoas que compartilham os mesmos gostos, lugares, idéias, como a fala dos surfistas, dos roqueiros, dos que apreciam o funk; aqui entramos em contato com as gírias que, em determinadas situações, devem ser usadas com mais cuidado independentemente do grupo do qual fazemos parte.

de situação para situação: cada uma das variantes pode ser falada com mais cuidado e vigilância ( a fala formal ) e de modo mais espontâneo e menos controlado ( a fala informal). Um executivo, por exemplo, pode fazer uso da linguagem formal em seu ambiente de trabalho tendo em vista as pessoas com quem se relaciona, mas esse mesmo executivo pode fazer uso da linguagem informal se estiver com amigos numa conversa despreocupada e divertida.

Diante de tantas variantes lingüísticas, é possível que alguém pergunte qual delas é a correta. A resposta para esta pergunta é que não existe a mais correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada para cada contexto em que nos encontramos. Dessa maneira, fala bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a cada situação e consegue o máximo de eficiência dentro da variante escolhida.

Usar o português rígido, próprio da língua escrita formal, numa situação descontraída da comunicação oral é falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro lado, é inadequado em situação formal usar gírias, termos chulos, desrespeitosos. Usar a língua é parecido com vestir-se: assim como existe uma roupa adequada para cada situação, também existe uma variedade lingüística adequada a cada situação.

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Níveis de linguagem

Gíria: o termo gíria vem da palavra sinônima denominada geringonça, do espanhol jeringonza, ou ainda, jerga. Etimologistas acreditam que, por onomatopéia, jerga tenha nascido do verbo latino garrive que significa tagarelar: (falar sem conhecimento das regras da língua, falar sem parar, falar muito, bisbilhotar, barulho).

Para Deonísio da Silva, professor de Literatura Brasileira da Universidade São Carlos, o termo gíria viria do termo grego hiéros que significa aquilo que é oculto, sagrado, pois a gíria só é compreendida pelos membros pertencentes ao grupo falante. A gíria vem de grupos restritos – dos presos, dos malandros, dos surfistas, dos estudantes...

Muitas vezes, a gíria é assimilada pela língua oficial e acaba no dicionário ou permanece em grupos fechados, outras desaparecem por um tempo, mas nunca morrem.

Em princípio, quando há uma referência à norma culta ou à língua padrão associa-se, inevitavelmente, a linguagem verbal, tanto na modalidade escrita quanto na falada, à rigidez dos compêndios gramaticais. No entanto, sabe-se que os falantes de uma determinada língua já possuem uma estrutura gramatical internalizada, isto é, são capazes de conhecer o funcionamento da língua materna. Assim, nem sempre a gramática está relacionada à norma padrão, pois aquela é um conjunto de regras que organiza as línguas humanas. Por isso, pode-se afirmar que tanto as crianças, em suas primeiras manifestações orais, quanto os indivíduos não-letrados são capazes de se comunicarem como falantes de sua própria língua.

Não obstante a tudo isso, sabe-se que a norma culta, a língua padrão ou o prescritivismo são expressões que designam o ‘bem falar’ e o ‘bem escrever’. Historicamente, isso quer dizer que o domínio dessa modalidade de linguagem sempre pertenceu a um grupo seletivo da sociedade, cuja produção verbal está atrelada à língua do poder político, econômico e social. Daí dizer que a língua padrão é um processo social coercitivo, isto é, impõe as formas linguísticas adequadas de uma determinada classe social (a elite) àqueles que não a dominam. Esses, por sua vez, sentem-se subjugados à condição de incapazes, incompetentes e alijados do mundo dos letrados. Por isso, pode-se afirmar que a língua padrão é mais uma, das muitas variações linguísticas que permeiam a sociedade.

Na língua portuguesa, percebe-se claramente o surgimento de variações linguísticas devido às mais variadas causas: a de grupos sociais em que o falante pertence (variação sóciocultural), a de lugar em que ele nasceu ou vive (variação geográfica), a da época (variação histórica). Essa diferença pode manifestar-se tanto pelo vocabulário utilizado quanto pela pronúncia ou organização da frase.

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Isso posto, não se pode atribuir a nenhuma região do país, a competência linguística sob o ponto de vista do prescritivismo, ou seja, não se deve afirmar que em determinada região usa-se ‘melhor’ a língua portuguesa que em outras localidades. Há, sim, situações comunicativas que dependerão do maior ou menor grau de escolaridade do falante, que recebem ou receberam diversas influências linguísticas, sociais e econômicas. Essas diferenças constituem as variações linguísticas.

Entre as variedades da língua, há uma que tem maior prestígio: a variedade padrão conhecida também como língua padrão e norma culta. Essa variedade é utilizada nos livros, jornais, textos científicos e didáticos e é ensinada na escola. As outras variedades lingüísticas são chamadas de variedades não-padrão.

Tal imposição da normatividade é um fato histórico que iniciou-se no Brasil no período da colonização. Aqui, antes da invasão dos portugueses, falava-se o tupi-guarani e outras línguas indígenas advindas dessa mesma raiz. Com a chegada de Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, período pertencente ao reinado de D.Manuel de Portugal e, mais tarde, com a chegada de outros povos estrangeiros, o português do Brasil sofreu diversas influências. Inicialmente, o país era povoado por índios e a colonização só ocorreu por volta de 1532, período em que surgiram as capitanias hereditárias. Época em que os portugueses começam a importar um grande número de escravos provenientes da África. Assim, o português europeu, o índio e o negro, durante o período colonial, tornam-se as três bases da população brasileira e, mais tarde, recebe influência de espanhóis, italianos, franceses e, modernamente, americanos. Obviamente que a influência dos colonizadores portugueses foi muito mais evidente. Estes impuseram as ideologias imperantes na Europa e passaram a negar as crenças e a forma de se comunicar dos índios.

Resumidamente, os colonos portugueses utilizavam o português europeu, mas sofreram, também, as influências das línguas nativas que se acentuaram com o decorrer do tempo. Durante, a colonização, os jesuítas criaram a ‘língua geral’, que é um tupi simplificado, que também serviu muito para uma melhor comunicação entre os bandeirantes e os povos indígenas. Por volta de 1757, com a chegada do Marquês de Pombal proibiu-se o uso da língua geral. Obrigou-se que a língua oficial no Brasil seria o português de Portugal. Foi um período de forte influência da Corte, o que culminou com a expulsão dos jesuítas, os principais defensores daquela língua.

Apesar dos esforços de se impor a língua portuguesa de Portugal, verificou-se que o português no Brasil sofreu as mais variadas influências de outras origens, o que o particularizou. Pode-se afirmar que hoje na língua do Brasil há uma diversidade geográfica. Distinguem-se um Norte e um Sul. No entanto, a realidade é que as diferenças “dialetais” são muito mais socioculturais que geográficas. As diferenças mais perceptíveis, na maneira de falar, são maiores entre os falantes com escolaridade e os com nenhuma ou pouca instrução (os ditos analfabetos).

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Não obstante a imposição dos europeus, há o predomínio de certas particularidades que individualizam o português do Brasil que pode ser verificado no quadro abaixo:

A tabela abaixo ilustra outras diferenças lexicais:

Brasil Portugalabridor de garrafas ou saca-rolhas saca-rolhas

abridor de latas abre-latas

água-viva ou medusa alforreca ou medusa

alho-poró alho-porro

aquarela aguarela

arquivo (de computador) ficheiro

aterrissagem aterragem

banheiro casa-de-banho ou quarto-de-banho

brócolis brócolos

caminhão ou camião (linguagem oral) camião

calcinha cuecas femininas

carona boleia

carro conversível carro descapotável

carteira de identidade ou Registro Geral/RG bilhete de identidade/BI

carteira/carta de motorista carta de condução

chaveiro porta-chaves ou chaveiro

concreto betão

diretor (de cinema) realizador

esparadrapo, bandeide (band-aid) penso, penso-rápido

estúpido parvo

fila de pessoas fila ou bicha

fones de ouvido auscultadores, auriculares, fones

gol golo

grampeador agrafador

legal fixe

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maiô fato-de-banho

mamadeira biberão

metrô metro, metropolitano

nadadeiras, pé-de-pato barbatanas

ônibus autocarro

perua, van carrinha

salva-vidas ou guarda-vidas salva-vidas ou nadador-salvador

secretária eletrônica atendedor de chamadas

sunga ou calção de banho calções de banho, calção de banho

(telefone) celular telemóvel

terno fato

trem comboio

torcida claque

isopor esferovite

pebolim (ou totó) matraquilhos

água sanitária lixívia

descarga autoclismo

privada sanitária, vaso sanitário ou privada retrete ou sanita

Linguistas não defendem a denominação língua portuguesa brasileira, mas sim, português do Brasil, pois — mesmo que este receba muitas influências de outras regiões do mundo, da fala de grupos (tribos) ou da linguagem seletiva da mídia — isso não poderá desfigurar o idioma.

Pode-se afirmar que sempre ocorre uma evolução da língua, a qual se adapta aos novos tempos e acompanha as mudanças da sociedade. Segundo o linguista Luís Antônio Marcushi, da Universidade Federal de Pernambuco: "Além das modificações no campo do vocabulário, uma mudança tão profunda teria que incorporar novos fonemas e novas formas sintáticas, o que não acontece”. Geralmente, só serão dicionarizados termos ou expressões sedimentadas e veiculadas pela maior parte da população. São termos que foram transpostos para o português, por meio de um mecanismo pertencente ao sistema fonológico do português no Brasil.

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Texto: ORGANIZADORES: ALICE YOKO HORIKAWA - DIANA NAVAS - MARCIA DE MATTOS SANCHES - SERGIO LOURENÇO SIMÕES

TERMOS E GÍRIAS UTILIZADOS POR DETENTOS: Abanar: sinais criados pelas presas para se comunicar com os detentos da penitenciária masculina Ajudazinha : propina, suborno alcaguetar : Dedurar, passar informação ou acusar alguém Agá: Simular, dar cobertura Arregaçar: o mesmo que “botar pra quebrar”, espancar, se dar bem. Ex. : Vamos arregaçar a fita. Avião: indivíduo que repassa drogas, pratica a venda de drogas, ou apenas transporta para alguém. Ex.: fazer um avião, aviãozinho, etc. (Ver também mula) Bagulho: Maconha, também são assim chamadas as mercadorias resultantes de furtos e roubos Barca: viatura policial que realiza escoltas, significa apenas as viaturas maiores, tipo Blaser ou F-1000 - ROTAMBarulho ou fazer um barulho: revelar-se, promover gritarias Berro: revólver Bicuda : Estoque / faca Boi : Buraco dentro do coletivo, destinado à satisfação das necessidades fisiológicas Boiola : Homossexual Bomba: aparelho celular habilitado e utilizado pelos presos no interior de presídios ou Cabrito: veículo adulterado, roubado ou furtado; detento homossexual ou que é obrigado a ter relações sexuais com outros presos etc.Caído : mal vestido Cair: o mesmo que ser preso. Ex.: o “China” caiu (o “China” foi preso) Canelar : correr, fugir Cano: Arma , revólver Caôca : dar atenção, prestar atenção. O mesmo que “dar idéia”. Da atividade: Mesmo que olheiroDar mala: dispensar. Dar mio / milho : Matar / ficar em lugar visado e ir preso Dar um boi : liberar, soltar, perdoar alguém. Ex.: Vou dar um boi pro cara.Dormir no braço : Manter relações homossexuais Enquadrar : Tirar satisfação, acuar, ameaçar [Policial – emprego diverso: o assaltante está enquadrado (incurso) no artigo 157] Escrachado: fato que todos já tem conhecimento ou pessoa cuja atividade todos já sabem. Escravo : Agente penitenciário / carcereiro Estar Branco: Não tem ninguém na área / está tudo sob controle

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Faculdade: penitenciária (geralmente designa as penitenciárias de SP)Farinha : cocaínaFeinha: Esposa Gado: Mulher ou pessoa tola / ladrão rápido Gambé : Polícia militar Gancho: telefone, termo usado genericamente, designando aparelho telefônico ou celularGanso : Pessoa ruim, que fica olhando, encarando o outro Grampo: Algemas Interditar: Não permitir que a ex-companheira se relacione com outro bandido Irmão: Designa “parceiro” da mesma facção criminosa Ir para o piano: Ser torturado , interrogado Jega: cama. Joaninha: Carro de polícia tipo fusca Lampiana : Faca Laranja : Aquele que assume a culpa no lugar do outro Latrô : Pessoa que mata para roubar Malocar : Esconder , camuflar Mamãozinho : droga Microondas: Forma de homicídio em que são utilizados pneus ou similar , para circundar um corpo e após o que este vem a ser queimado. Moita: qualidade de quem não aparece, não se expõe, “fica na miúda”, fica na moitaNarizinho : Cocaína / ato de cheirar cocaína Na tora : na marra, à força, de qualquer jeito, na frente de todos, na cara-de-pau Noia : usuário ou dependente de drogas, fissura. Noiado significa doidão, drogado, alucinado.Pode também significar qualquer tipo de droga que se tem à mão. Oitão: revolver cal. 38 Olheiros: O mesmo que vigias, exercem um papel importante dentro da favela, são os primeiros aanunciar, por meio de morteiros, fogos ou rádio transmissor, a chegada de grupos rivais,Passar o cerol : matar Passarinho: informante, preso que entrega o outro e cuja identidade ninguém conhece. Ex.: tem passarinho no pavilhão; cuidado com o passarinho Pé de chinelo : É o preso caído, sem respaldo financeiro Pé de chinelo : É o preso caído, sem respaldo financeiro Pé de Porco : Agente penitenciário / guarda da cadeia Perdigão : Preso que trabalha como guarda

Veja como a variação linguística interfere na interação discursiva:

TEXTO 1

Assalto em vários estilos

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Assaltante NordestinoEi, bichim...Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem se cague e nem faça munganga... Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim se não enfio a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora! Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da moléstia ...

Assaltante MineiroÔ sô, prestenção ... Isso é um assarto, uai … Levanta os braço e fica quetin quesse trem na minhamão tá cheio de bala... Mió passá logo os trocados que eu num tô bão hoje. Vai andando, uai ! Tá esperando o que, uai !!

Assaltante GaúchoO gurí, ficas atento .... Báh, isso é um assalto … Levantas os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê. Passa as pilas prá cá ! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.

Assaltante CariocaSeguiiiinnte, bicho ... Tu te f… Isso é um assalto .. Passa a grana e levanta os braços rapá ... Não fica debobeira que eu atiro bem pra c… Vai andando e se olhar pra trás vira presunto ..

Assaltante BaianoÔ meu rei ... ( longa pausa ) Isso é um assalto .... ( longa pausa ) Levanta os braços, mas não se avexe não .. ( longa pausa ) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado ... Vai passando a grana, bem devagarinho .. ( longa pausa ) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado ... Não esquenta, meu irmãozinho, ( longa pausa ) Vou deixar teus documentos na encruzilhada ..

Assaltante PaulistaÔrra, meu ... Isso é um assalto, meu ... Alevanta os braços, meu .. Passa a grana logo, meu … Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pa comprar o ingresso do jogo do Curintia, meu ... Pô, se manda, meu ...

Assaltante de BrasíliaQuerido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: Energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, IPTU,

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IPVA, lincenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, imposto de renda, IPI, ICMS, PIS, COFINS ...

Dialetos regionais

Mato Grosso do Sul

Palavras indígenas e vocábulos em guarani (língua oficial do Paraguai) são empregadas amplamente nas regiões de fronteira. Alguns exemplos:

mitacunhã porã – moça bonita

galheta – bolacha

canha – pinga (em Bela Vista)

Em Campo Grande e outros municípios do Mato Grosso do Sul, os regionalismos mais freqüentes foram introduzidos por colonos gaúchos:

trompar – trombar

bolita – bola de gude

mate – chimarrão quente

tereré – chimarrão gelado

pandorga – pipa

vote! – interjeição de repulsa ou espanto (cruzes!)

guaiaca (tupi) – cinto de couro, dotado de bolsas externas, usado pelo boiadeiro

guaipesca (tupi) – cachorro vira-latas

Norte e Nordeste

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O uso das vogais abertas, no português falado na Bahia, revela traços conservadores da época do Descobrimento do Brasil, dizem os lingüistas.

baba (BA) – futebol amador, bate-bola, pelada

xexéu (BA) – homem afeminado

macaxeira – mandioca

jerimum – abóbora

laranja-cravo – mexerica, tangerina

baitolo – homossexual masculino

Rio Grande do Sul

gaudério – sinônimo de gaúcho; termo mais amplamente usado no interior

"te abanquetas" – expressão usada para convidar a pessoa a sentar-se

bergamota – mexerica, tangerina

redomão – potro que ainda não foi domado

atucanado – cheio de tarefas, atarefado

amargo – chimarrão

rapariga – termo ainda empregado pelos velhos para designar moça

piá – bebê, ou jovens até 14 anos

chinoca – na zona rural, moça promíscua

guampudo – indivíduo "corno"

mas que tal? – forma de cumprimento em cidades fronteiriças como Uruguaiana, por exemplo

bagaceiro – de mau gosto, "brega"

Pernambuco

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fiteiro – qualquer banca de rua. O termo relaciona-se, originalmente, ao vendedor de fitas que circulava pela cidade

então, pronto... – expressão de acordo ou confirmação

é o bicho – expressão de emprego recente, refere-se a algo muito bom ou interessante

fruta – homem afeminado, em Pernambuco

Sergipe

mercadinho – supermercado, hipermercado. "Mercado" refere-se apenas ao Mercado Municipal e, embora os grandes estabelecimentos sejam hoje relativamente bem maiores, eles continuam com o nome no diminutivo.

banca – aulas de reforço particulares ("dá-se banca", "colocar os filhos na banca", "professora de banca")

Maria clara – é a cachaça ("dormir com a Maria Clara", uma alternativa para os solteiros)

cabrunco – vocabulário pesado e grosseiro. O mesmo que o substantivo "peste", nas acepções seguintes: (1) coisa de causar espanto; (2) pessoa ruim.

marchante – galicismo encontrado no Aurélio como "comerciante de carnes, açougueiro" para o Norte e o Nordeste. Mais recentemente, o significado foi ampliado para pequeno comerciante, de qualquer gênero. A imprensa local usa correntemente.

ximango, xibunga, ximbunga – homem afeminado, o mesmo que "bicha" no Rio. Ximbunga pode ser também qualquer coisa de péssima qualidade.

peba (som de é) – Em SE e AL, adjetivo depreciativo, que se aplica a qualquer coisa de péssima qualidade inferior. Entretanto, a popular Praia do Peba é muito bonita... O nome neste caso veio do rio que ali desemboca.

Tulha – no interior de Sergipe, monte (de terra, lixo, entulho etc.)

dar uma camada de pau – dar uma grande surra

pegar ou tomar galha – ser traído

Palavras de origem tupi

socar – sok

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carpir – kopira, copyr (cortar o mato)

cutucar – kutug (espetar)

mingau – mingaú (aquilo que empapa)

coroca (ex.: "velha coroca") – kuruk (resmungar)

tiquinho – tykyra (gota)

peteca – petek (bater com a mão aberta)

chorar as pitangas – pitãg (vermelho); eqüivale a: "chorar lágrimas de sangue".

nhenhenhém – nheeng (falar sem parar)

estar jururu – aruru (tristonho)

Texto: ORGANIZADORES: ALICE YOKO HORIKAWA - DIANA NAVAS - MARCIA DE MATTOS

SANCHES - SERGIO LOURENÇO SIMÕES

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Texto para Leitura:

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A velhinha contrabandista

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha. Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela: - Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco? A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu: - É areia! Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás. Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com moamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia. Diz que foi aí que o fiscal se chateou: - Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com quarenta anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista. - Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs: - Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias? - O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha. - Juro - respondeu o fiscal. - É lambreta.  

Sérgio Porto -

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Estude Pouco!

Estude pouco, mas todos os dias! O hábito da leitura, por exemplo, tem que ser estimulado desde muito cedo. Acontece que, infelizmente, a maioria das pessoas foi criada sem o hábito, ou seja, a prática cotidiana de ler, estudar, ter contato com a cultura e o resultado disso tudo é a avalanche de carência cultural que comete nosso país.

Estudar, para alguns, é a pior fase do dia. Não se estuda algo pelo simples fato de

que “vai cair na prova”. O estudo tem que ser um prazer. A escola é útil e deve se ter a consciência de que estudar faz parte do processo de evolução do ser humano. Estude pouco, mas todos os dias! Assim, tornando-se um hábito, como escovar os dentes, por exemplo, estudar não se torna algo “chato” ou meramente obrigatório. Pode se começar lendo um jornal, uma revista, um livro pequeno... Como a leitura deve ser um prazer e não um castigo, os pais podem estimular contando pequenas histórias às crianças, sempre sem contar o final, aguçando a curiosidade. Assim, eles recorrem aos livros e descobrem o prazer de criar, imaginar e sonhar. Quando as crianças só assistem TV, esses prazeres são roubados, como elas recebem tudo pronto da telinha, nem criar e nem imaginar elas tem chance.

Cada um evolui de acordo com o que vive, estuda, viaja, cria, fala, escreve, lê... E essa evolução é constante. Não se faz um curso apenas por um diploma, mas sim pelo estímulo a inteligência e a margem de conhecimento adquirida. O prazer, a vontade de a realização de algo novo é indescritível. Quanto mais estudamos e aprendemos, descobrimos o quanto não sabemos nada.

O estudo não pode ser só responsabilidade das Instituições e dos profissionais de educação, o estudo também é de responsabilidade do aluno. Se o aluno não quer aprender, ele não vai aprender. Por isso, o trabalho dos professores tem sido tão árduo pela luta ao conhecimento e ao contato com a cultura. Um exemplo fácil são alunos do curso de Direito que estudam 5 anos e quando terminam o curso inscrevem-se para prestar o exame na Ordem dos Advogados do Brasil. Resultado? 80% dos candidatos ao exame são reprovados. Equivocadamente tanto autoridades, quanto Ministério da Educação culpam faculdades particulares pelo mal preparo dos alunos, mas essa não é a principal causa dessa situação, pois muitos dos reprovados também são de faculdades tradicionais e consideradas exemplos de qualidade. O motivo disso, além do mal preparo até chegar na faculdade, é que os alunos estudam para passar de ano, para não ficar em “DP”, quando na verdade é necessário estudar para aprender. Estudar para aprender significa estudar pouco, mas todos os dias. Estudar para a vida, para si e também para o outro. Prof. William Sanches

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DIFERENÇAS ENTRE A FALA E A ESCRITA

MODALIDADES ESCRITA E FALADA

FALA ESCRITA Interação face a face (identidade temporal –

possibilidade de usar elementos do contexto) Interação a distância (não identidade espaço-

temporal – sem possibilidades de utilizar elementos do contexto)

Supressões Sem supressões

Pausa Sem pausa [Só por meio da pontuação] Interrupções Sem interrupções Repetições Sem repetições

Expletivos/fáticos (bom..., aí..., né..., então...)

Sem expletivos

Linguagem informal Linguagem formal

Parênteses e retomadas Sem parênteses e retomadas

Possibilidade de reformulação (não é bem assim... isto é..., minto..., deixe-me esclarecer...), que pode ser promovida tanto pelo falante como pelo interlocutor

A reformulação pode ser promovida apenas pelo autor

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Planejamento simultâneo ou quase simultâneo à produção

Planejamento anterior à produção

Criação coletiva: administrada passo a passo Criação individual

Impossibilidade de apagamento Possibilidade de revisão

Acesso imediato às reações do interlocutor Sem possibilidade de acesso imediato

O falante pode processar o texto, redirecionando-o a partir das reações do interlocutor

O escritor pode processar o texto a partir das possíveis reações do leitor

ALGUNS TEXTOS INTENCIONAIS E ALGUNS TROPEÇOS NA RELAÇÃO FALA / ESCRITA:

Texto 1 A leitura de um trecho do poema de Antonino Sales, "Malinculia", mostra as

interferências da fala na escrita e como elas não anulam a expressividade poética de suas imagens.

Malinculia, Patrão, É um suspiro maguado Qui nace no coração! É o grito safucado Duma sodade iscundida Qui nos fala do passado Sem se torná cunhicida! É aquilo qui se sente Sem se pudê ispricá! Qui fala dentro da gente Mas qui não diz onde istá! (...)

(BAGNO, Marcos. "A Língua de Eulália: Uma Novela Sociolingüística)

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Texto

"Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala."

Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi iscrevê.

O comentário é do humorista Jô Soares, para a revista Veja. Ele brinca com a diferença entre o português falado e escrito. Na verdade, em todas as línguas, as pessoas falam de um jeito e escrevem de outro. A fala e a escrita são duas modalidades diferentes da língua e é com esse fato que o Jô brincou.

ATIVIDADE

Atividade 1. Observe o texto abaixo. É a resposta de uma jovem ao repórter que lhe fez a seguinte pergunta: o que é, para você, ser feliz? Reescreva-a,, utilizando a variante padrão.

“Sei lá o que te dizer sobre esse negócio de ser feliz, mas acho que, pra todo mundo encontrar a felicidade, a gente tem que dizer um ‘não’ bem grande pras coisas ruins que acontecem pra gente na vida.”

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Atividade 2.

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Reescreva o texto oral abaixo, considerando a variante padrão:

F 1- o português então não é uma língua difícil?

F 2 - ... olha se você parte do princípio... que a língua portuguesa não é só regras gramaticais... não se você se apaixona pela língua que você... já domina que você já fala ao chegar na escola se o teu professor cativa você a ler obras de literatura... obras da/dos meios de comunicação... se você tem acesso a revistas... éh:: a livros didáticos... a::: livros de literatura o mais formal... o e/o difícil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais...

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Textos dos Seminários

TEXTO IEi, amizade!

(Vídeo exibido na Casa de Detenção, em São Paulo, realizado pela agência Adag e pela Tv Cultura)

Aqui é Plínio Marcos, bandido também. Atenção, malandragem! Eu não vou pedir nada, só vou dar um alô. Te liga aí!

Aids é uma praga que rói até os mais fortes. E rói devagarinho, deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pega essa praga está ralado de verde e amarelo, do primeiro ao quinto, sem vaselina. Não tem doutor que dê jeito. Nem reza brava. Nem choro, nem vela. Nem ‘ai Jesus’. Pegou Aids, foi pro brejo...Agora, sento o aroma da perpétua: Aids passa pelo esperma e pelo sangue. Entendeu? Pelo esperma e pelo sangue. Eu Não estou te dando este alô pra te assombrar. Então, se toca! Não é porque tu tá na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim. Mas é preciso que cada um se cuide. Ninguém pode valer pra ninguém esse negócio de Aids.

Então, já viu, transar, só de acordo com o parceiro e de camisinha. Tu aí que é metido a esculachar os outros, metido a ganhar o companheiro na força bruta, na congesta: pára

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com isso, senão tu vai acabar empesteado. Aids não toma conhecimento de macheza, pega pra lá e pega pra cá. Pega em homem, pega em bicha, pega em mulher, pega em roçadeira. Pra essa peste não tem bom: quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem saber...Daí, o mais malandro, no dia de visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra casa o Aids. E não é isso que tu quer, né, vago mestre? Então, te cuida! Sexo, só com camisinha. Quem descobre que pegou a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros outros. Sexo, só com camisinha. Não tem escolha, transar, só com camisinha.

Quanto a tu, mais chegado ao pico...Estou sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pro Aids. No desespero, tu não se toca, não vê, não quer nem saber. Ás vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue e tu mete ela direto em ti. Às vezes ela parece que vem limpona e vem com a praga. E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí, tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas não pode agüentar a tranca sem pico, te cuida. A farinha que tu cheira e a erva que tu barrufa enfraquecem o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos, e aí tu fica moleza pro Aids. Mas o pico é canal direto pra essa praga que está aí.

Então, malandro, se cobre! Quem gosta de tu é tu mesmo.A saúde é como liberdade. A gente só da valor pra ela quando ela já era.

/www.pliniomarcos.com/teatro_obracompleta.htm, pesquisado em 14 fev 2010

TEXTO II

N° Edição:  1778 |  29.Out - 10:00 |  Atualizado em 25.Nov.09 - 10:58

A turma da boquinha

Ministros criam constrangimento para Lula e secretário de Segurança perde o emprego

Luiz Cláudio Cunha

O PT e seus aliados caíram de cabeça no miolo da picanha: o partido tirou a boca do trombone da oposição, onde cresceu e apareceu, para se acomodar na boquinha do poder, onde deitou e agora cria fama. Numa única semana, dois ministros e um secretário nacional constrangeram o presidente Lula com um deslize que fazia a festa dos petistas na oposição: a confusão entre o dinheiro público e o privado. Na quarta-feira 22, depois de um mês de indecisão, a ministra da Ação Social, Benedita da Silva, fez o que todo mundo esperava: devolveu os R$ 4.816 de diárias que recebeu para uma viagem de oração com evangélicos em Buenos Aires.

O pecado não teria se revelado se não tivesse sido publicado no Diário Oficial da União. Às pressas, Benedita arranjou uma audiência com sua equivalente argentina, a ministra Alicia

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Kirchner. De volta a Brasília, pediu desculpas a Lula e foi perdoada. O Ministério Público e a oposição aumentaram o tom das críticas. Benedita bateu pé, disse que não fez nada errado, mas acabou admitindo depositar o valor em juízo, depois que foi repreendida pela Comissão de Ética do Planalto. Seu papelão acabou atrapalhando o domingo do presidente: sentado para ouvir Paulinho da Viola em Brasília, Lula teve que ouvir o coro popular de “devolve, devolve” que saudou a chegada de Benedita ao show. No dia seguinte, no Planalto, Lula deu o troco: deixou Benedita na primeira fila de autoridades, como um ministro qualquer, no lançamento do Bolsa-Família, que tem tudo a ver com a Ação Social. Cansada, Benedita capitulou – e, no mesmo dia, mandou um cheque pessoal para pagar a conta da oração.

Nem reza salvou, naquele dia, o emprego do secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares. Na véspera, o jornal O Globo revelou que ele fez um contrato de consultoria de R$ 24 mil com Bárbara Soares, sua ex-mulher. Na antevéspera, o jornal contara que, ressabiado pelo efeito Benedita, ele tinha cancelado outro contrato, de R$ 40 mil, desta vez com a atual mulher, Miriam Guindani, que chegou a receber R$ 1.856 em diárias, embora nem fosse servidora do Ministério.

O secretário pediu demissão denunciando “tramas sórdidas” para sua derrubada.

Escaldado, o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, deputado do PC do B, disparou antes de ser atingido pela imprensa. Anunciou, na quarta-feira 22, que devolveria metade dos R$ 10.872 que revelou ter recebido do governo para ficar 11 dias na República Dominicana, em agosto, durante os Jogos Pan-Americanos. O ministro lembrou que o hotel onde se hospedou foi pago pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), uma entidade privada. Para um partido acostumado a cobrar explicações de autoridades sobre o mau uso do dinheiro público, a semana deixou o PT vermelho de vergonha. E o presidente chamuscado no seu prestígio: a pesquisa Sensus, patrocinada pela Confederação Nacional dos Transportes, mostrou a maior queda na avaliação de Lula desdesua posse. A aprovação ao desempenho pessoal do presidente era de 76% em agosto e caiu para 70% em outubro. Neste caso, o PT preferiu fazer boca-de-siri.

TEXTO III

Jaws: adrenalina pura

Uma lua cheia maravilhosa e a boia prevendo ondas enormes tocaram a minha alma na noite do dia 9 de novembro. Fui dormir tranquilo, sabendo que o dia seguinte encheria de alegria todos os corações dos bigriders presentes em Maui. [...]

Aquele visual que sonhamos durante todo o ano se realizava diante de nossos olhos. Altas bombas entrando e Burle e Eraldo, que haviam saído alguns minutos antes de nós, já desciam ladeira abaixo. Ambos droparam ondas enormes, com destaque para uma de

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Burle, que ficou na boca de um tubo e quase se descontrolou devido à velocidade. Ele acertou o “timing” no último segundo antes do lip achatar sua cabeça.

Apesar de as ondas estarem gigantes e perfeitas, a infuência do swell de west tornou a situação uma corrida pela vida. Não tinha rabo, pois eram dois picos defInidos: o do outside e o do inside. [...]

Quando comecei a descer não tinha certeza de onde estava e me coloquei um pouco para o rabo, pois esse swell com tendência de west manda um bowl traiçoeiro que já tinha aniquilado alguns durante a session. Depois da curva vi uma parede imensa e inconscientemente tive a vontade de mandar uma rasgada. Foi demais a sensação, mas logo no começo da descida a prancha atingiu uma velocidade absurda. Um pequeno bump quase me descolou da parede. Eu ainda consegui controlá-la, porém a espuma que vinha atrás me aniquilou. [...]

Resultado final: vivo, com mais um caldaço e minha prancha mágica nas pedras. [...]

[MANCUSI, Sylvio. Fluir, São Paulo, mar.2004.Disponível em http://www.moderna.com.br/didaticos/em/portugues/port_contexto/usos/Unid1_cap1_linguagem.pdf, pesquisado em 14.fev.2010.

Vocabulário: “big riders” são surfstas que andam pelo mundo em busca das ondas gigantes. Maui – cidade do Havaí, pegar algumas “Bombas” são as próprias ondas; “dropar” significa pegar a onda, “descendo” por sua superfície, do ponto mais alto para o mais baixo.

Texto IV

Na noite desta segunda-feira (7), a família de Leila Lopes, encontrada morta em seu apartamento no último dia 3, divulgou a carta deixada pela atriz. Nela, Leila diz que não queria mais viver e que estava cansada. "Não chorem, não sofram, eu estou absolutamente feliz!!! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe."

Na noite em a atriz foi encontrada, a polícia afirmou que havia embalagens vazias de antidepressivos no apartamento. Leia abaixo, na íntegra, a carta deixada pela atriz

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"Não chorem, não sofram, eu estou ABSOLUTAMENTE FELIZ!!! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe. Eu não me suicidei, eu parti para junto de Deus. Fiquem cientes que não bebo e não uso drogas, eu decidi que já fiz tudo que podia fazer nessa vida. Tive uma vida linda, conheci o mundo, vivi em cidades maravilhosas, tive uma família digna e conceituada em Esteio, brilhei na minha carreira, ganhei muito dinheiro e ajudei muita gente com ele. Realmente não soube administrá-lo e fui ludibriada por pessoas de má fé várias vezes, mas sempre renasci como uma fênix que sou e sempre fiquei bem de novo. Aliás, eu nunca me importei com o ter. Bom, tem muito mais sobre a minha vida, isso é só para verem como não sou covarde não, fui uma guerreira, mas cansei. É preciso coragem para deixar esta vida. Saibam todos que tiverem conhecimento desse documento que não estou desistindo da vida, estou em busca de Deus. Não é por falta de dinheiro, pois com o que tenho posso morar aqui, em Floripa ou no Sul. Mas acontece que eu não quero mais morar em lugar nenhum. Eu não quero envelhecer e sofrer. Eu vi minha mãe sofrer até a morte e não quero isso para mim. Eu quero paz! Estou cansada, cansada de cabeça! Não agüento mais pensar, pagar contas, resolver problemas... Vocês dirão: Todos vivem!!! Mas eu decidi que posso parar com isso, ser feliz, porque sei que Deus me perdoará e me aceitará como uma filha bondosa e generosa que sempre fui.

Aos meus fãs verdadeiros; aos jornalistas imparciais; ao Walter Negrão e sua esposa Orphilia; a LBV; ao Eduardo Gomes; ao prefeito de Itu, Herculano Neto e toda a sua equipe e ao meu amigo Zé meu muito obrigado. Às emissoras que trabalhei, obrigada. E aos colegas maravilhosos, muita luz! A todos os sites dignos que acompanharam a minha vida, SUCESSO!!! Ego, Esther Rocha, Thiago, Odair Del Pozzo, Felipe Campos, não se sintam esquecidos. Não posso citar nomes de amigas, pois aí seria um livro, mas Sueli você é a irmã que eu não tive. Márcia, seja sempre feliz amiga. Magrid, obrigada por tudo! Andréia, do TV Fama, beijo amiga. Tadeu (di Pietro) cadê você??? Desculpe a quem eu esqueci, a vida foi muito mais maravilhosa do que sofrida para mim. Obrigado Jesus, Nossa Senhora e meu Deus, perdoem-me e recebem-me como a filha honesta e bondosa que sempre procurei ser! Fiquem com Deus, todos! Leila Lopes.

Se existe sentimento maior que o amor, eu desconheço!" Leila Lopes

Fonte: www.globo.com

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Texto V

AMOR É PROSA, SEXO É POESIA

Sábado, fui andar na praia em busca de inspiração para meu artigo de jornal. Encontro duas amigas no calçadão do Leblon:- Teu artigo sobre amor deu o maior auê... – me diz uma delas.- Aquele das mulheres raspadinhas também... Aliás, que você tem contra as mulheres que barbeiam as partes? – questiona a outra.- Nada... – respondo. – Acho lindo, mas não consigo deixar de ver ali nas partes dessas moças um bigodinho sexy... não consigo evitar... Penso no bigodinho do Hitler, do Sarney... Lembram um sarneyzinho vertical nas modelos nuas... Por isso, acho que vou escrever ainda sobre sexo...Uma delas (solteira e lírica) me diz:- Sexo e amor são a mesma coisa...A outra (casada e prática) retruca:- Não são a mesma coisa não...

Sim, não, sim, não, nasceu a doce polêmica ali à beira-mar. Continuei meu cooper e deixei as duas lindas discutindo e bebendo água-de-coco. E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito.

As duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa.

O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.

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No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.

Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.

Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se não for eterno, não era amor” (Nelson Rodrigues). O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.

O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.

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Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR.

O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR.

O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust).

O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita.

Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... e-mails de quem souber para o autor.

Arnaldo Jabor

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Carta de atirador do Realengo fala sobre perdão de Deus e a volta de CristoOVERBO 8 DE ABRIL DE 2011

Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, já tinha planejado o atentado na escola municipal Tasso da Silveira, de Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, onde mais de 10 crianças morreram e mais de 20 foram feridas.

O ex-aluno deixou uma carta contando como queria que fosse enterrado e ainda dando a casa onde morava para que seja construído um abrigo para animais abandonados.

Os trechos da carta revelam que o assassino tinha possíveis ligações com o Islamismo, pois ele fala sobre o perdão de Deus e também sobre a volta de Jesus e a ressurreição dos mortos.

As primeiras informações que ligavam Wellington com fundamentalismo islã partiu de uma irmã de criação do atirador, Rosilane Menezes de Oliveira, 49 anos, segundo ela, ele ficava muito tempo no computador, saía pouco para a rua, vivia isolado, falava frequentemente coisas ininteligíveis sobre islamismo e havia deixado a barba crescer.

Mas os trechos da carta que foram divulgados não mostra nenhum relação com o islamismo, ele pede que um “fiel seguidor de Deus” esteja orando em sua sepultura “pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida.”

Na carta que levou consigo para cometer o atentado Wellington escreveu que era um homem puro e que não deixaria que pessoas impuras tocassem nele. A polícia agora investiga se as referências feitas na carta a “pessoas impuras” seriam referência a mulheres, já que dez das vítimas fatais do massacre eram meninas.

Confira a carta na íntegra:

Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem usar luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou

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adúltero poderá ter contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está nesse prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem nesse lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme, minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso da visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.

Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se sustentar, os animais não podem pedir comida ou trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço por favor que tenham bom senso e cumpram o meu pedido, pois cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não têm nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi.

Wellington Menezes de Oliveira.

Fonte: Gospel Prime

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QUADRO EXPLICATIVO SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE AS GRAMÁTICAS

Gramática normativa = conjunto de regras que devem ser seguidas

Gramática descritiva =conjunto de regras que são seguidas

Gramática internalizada =conjunto de regras que o falante domina

Regra

obrigação:

assemelha-se à lei jurídica: “é o que deve ser”

busca pelas regularidades da língua:

assemelha-se à lei da natureza: “é o que é”

é a língua em situações de uso pelo falante:são os conhecimentos/usos lingüísticos dos falantes, com regras implícitas (sem que se tenha consciência delas, muitas vezes)

Língua

--expressão das pessoas cultas-regras baseadas apenas na modalidade escrita-critério literário;-norma culta ou variante padrão ou dialeto padrão

regularidades-não existem línguas uniformes;-o critério não é apenas literário

Erro/inadequação

o que foge da boa linguagem, segundo a norma culta. Tudo o que não está prevista na gramática é considerado como erro.

-há variáveis entre padrões de uso-só é erro o que não faz parte sistemática de nenhuma variante da língua. Há inadequações.

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Hermetismo jurídico

Tecnicidade da linguagem pode afastar sociedade da Justiça

(por Vivianne Rodrigues de Melo)

Estudos atuais da linguística, da filosofia da linguagem e de diversos ramos do Direito apontam a existência de uma linguagem jurídica dotada de características que a investem de juridicidade, diferenciando-a de outras linguagens técnicas.

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O Direito nos é dado a conhecer por meio de palavras, manifestadas em todos os sentidos: nas leis, nos atos judiciais e em outras formas diversas que não dispensam a ferramenta da linguagem para o conhecimento da matéria jurídica.

Resta evidente, pois, que o Direito é ciência dotada de linguagem técnica e específica, com espaço de sentido e espaço estrutural autônomos (gramática e dicionário jurídicos próprios).

Seguramente observa-se que tantas outras ciências possuem vocabulário próprio, tais como a medicina, a informática e a economia, não diferentemente do Direito. Entretanto, o tecnicismo deste último tem sido alvo de antigas preocupações, no que diz respeito à própria razão de existir do Direito, em função da garantira do bem-estar da coletividade: o Direito possui um léxico e um campo semântico peculiares e a cientifização descontrolada da linguagem jurídica pode ser fator de distanciamento, inclusive ideológico, daqueles que do Direito precisam se servir.

Miguel Reale, em antiga e prudente preocupação com a introdução dos iniciantes na linguagem do Direito, já estabelecia recomendações propedêuticas ao estudo do Direito, pois, “às vezes, expressões correntes, de uso comum do povo, adquirem, no mundo jurídico, um sentido técnico especial”.

O hermetismo da linguagem jurídica é sintomático pois o Direito, por ser uma ciência, é investido de um método próprio que requer a configuração de um vocabulário técnico, não facilmente apreendido pelo homem comum.

Em acertada crítica, o linguista Adalberto J. Kaspary estabelece abordagem categórica a respeito da questão do hermetismo da linguagem jurídica:

“O desenvolvimento da técnica jurídica fez com que surgissem termos não-usuais para os leigos. A linguagem jurídica, no entanto, não é mais hermética para o leigo que qualquer outra linguagem científica ou técnica. Aí estão, apenas para exemplificar, a medicina, a matemática e a informática com seus termos tão peculiares e tão esotéricos quanto os do Direito. Ocorre que o desenvolvimento da ciência jurídica se cristalizou em instrumentos e instituições cujo uso reiterado e cuja precisão exigiam termos próprios: servidão, novação, sub-rogação, enfiteuse, fideicomisso, retrovenda, evicção, distrato, curatela, concussão, litispendência, aqüestros (esta a forma oficial), etc. são termos sintéticos que traduzem um amplo conteúdo jurídico, de emprego forçado para um entendimento rápido e uniforme. O que se critica, e com razão, é o rebuscamento gratuito, oco, balofo, expediente muitas vezes providencial para disfarçar a pobreza das idéias e a inconsistência dos argumentos. O Direito deve sempre ser expresso num idioma bem-feito; conceitualmente preciso, formalmente elegante, discreto e funcional. A arte do jurista é declarar cristalinamente o Direito”. (grifo nosso)

Tem-se observado que a linguagem jurídica recorrentemente praticada com excessivo preciosismo, arcaísmo, latinismo e polissemia contribui para o afastamento da própria sociedade em relação ao Direito, sendo que do fundamento ontológico deste ramo do conhecimento, infere-se que a linguagem jurídica deveria apresentar-se mais diáfana aos olhos dos cidadãos, como verdadeiro instrumento a serviço da sociedade e de busca

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pela excelência da prestação jurisdicional. Relevante é a ressalva de que o acesso ao conhecimento do Direito constitui uma das modalidades de acesso à Justiça, na lição clássica de Cappelletti.

A propalada indissociabiliade entre linguagem e Direito nos indica que os aplicadores do Direito devem investir em uma melhor comunicação jurídica e primar pela depuração da linguagem jurídica e pelo controle do rigor técnico formal excessivo, por vezes frutos de egoística afeição ao vernáculo, todavia tão prejudicial aos jurisdicionados e à sociedade de forma geral, que quedam alijados de conhecimentos sequer rudimentares do Direito.

Observa-se, muitas vezes, sentenças cujo teor não é possível que as partes conheçam sem a interferência de seu advogado, porque a leitura da peça é de total incompreensão, haja vista o abuso de termos jurídicos obsoletos, em manifesta exacerbação estilística. Assim sendo, a liberdade das partes litigarem em sede de Juizado Especial sem constituir advogado, respeitando o limite legal do valor da causa, pode restar frustrada no campo da efetividade, diante do alheamento dos cidadãos em relação às especificidades da linguagem jurídica.

Variegadas e insurgentes são as possíveis soluções práticas para a maior afinidade da população com informações basilares sobre cidadania e direito, dentre as quais a realização de cursos de capacitação promovidos pelos tribunais e pelos diversos órgãos públicos, no sentido de qualificar os integrantes de seus quadros a destinarem tratamento condigno aos cidadãos. Por exemplo, em prol de melhor atendimento sobre os direitos e informação nos Juizados Especiais, Procons, etc., todos quantos atestadores do primado da ética e da igualdade material nas atribuições do serviço público.

Também de premente importância é o exercício do direito social da educação, com a confecção de cartilhas a serem elaboradas pelos tribunais e órgãos públicos, inclusive em parcerias com a pesquisa e a extensão das universidades, e depois distribuídas à população, juntamente com a realização de campanhas com o apoio da mídia, bem como, a implantação obrigatória de disciplina de noções elementares de cidadania e direito nos currículos escolares, para fomentar a educação cidadã. Trata-se, ao que se depreende, de modestos exemplos de iniciativas simples a serem tomadas para a inclusão dos cidadãos ao conhecimento do Direito a partir da integração com a linguagem jurídica.

Os aplicadores do Direito, em seu múnus, enfim, devem dignificar a humanização das leis, tornando-as socialmente mais úteis e apreensíveis, ao conhecimento primário da população como um todo.

A educação se apresenta como direito social da cidadania ou direito público subjetivo que, incorporado nas cartas políticas atuais, revela o caminhar dos direitos humanos para a necessidade natural de evolução do ser humano e de sua integração à instrução e ao conhecimento, devendo o Estado equiparar-se com políticas públicas adequadas para a institucionalização e desenvolvimento da educação como forma de inclusão às vicissitudes do Direito por meio da linguagem jurídica, mitigando o seu hermetismo sem fronteiras.

Nalini, na esteira de tantos outros juristas, manifesta oportunamente sobre o dever ético do juiz na divulgação do Direito e na facilitação do discurso jurídico veiculado na linguagem jurídica:

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“Além dessa divulgação operacional, as entidades promoveriam a divulgação institucional, propiciadora de informações sobre o funcionamento do Judiciário no Brasil. Não se pode nutrir afeição por aquilo que não se conhece. Isso explica os índices de comprometimento afetivo demonstrado pela população brasileira a seu Judiciário, em qualquer pesquisa realizada nesta década (...) a assessoria de mídia, anexa a cada organismo, deve desempenhar sua parte e fazer a aproximação entre mediática e Justiça, decodificando o hermetismo da linguagem e o distanciamento que o Judiciário só nutrir em relação aos mass media”.

Em tempo, mais producente seria se os juristas se aliassem ao poeta Manuel Bandeira (in Azevedo, 1996: 86)2, cuja maturidade e inspiração compreendeu a importância social de se evitar o hermetismo no fazer versos: com maior simplicidade e clareza das palavras deverá ser o fazer justiça, para a segurança dos cidadãos e sua real participação no modus vivendi do Estado Democrático de Direito.

Ante o exposto, sem a pretensão de exaurir o rico tema posto em discussão, forçoso concluir que o hermetismo da linguagem jurídica justifica-se pela tecnicismo desta, sendo necessário um engajamento dos aplicadores do Direito para em diversas e criativas medidas tornar mais acessível a linguagem jurídica ao conhecimento da sociedade, tendo em vista o conhecimento do Direito como acesso à Justiça e direito fundamental dos cidadãos.

À luz das reflexões sobre a linguagem jurídica elaboradas por Vivianne Rodrigues de Melo, analise os textos jurídicos que seguem:

1.V. Exª., data máxima vênia, não adentrou às entranhas meritórias doutrinárias e

jurisprudenciais acopladas na inicial, que caracterizam, hialinamente, o dano sofrido.

2.Com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo consuetudinário,

por entendimento turmário iterativo e remansoso, e com amplo supedâneo na Carta Política, que não preceitua garantia ao contencioso nem absoluta nem ilimitada, padecendo ao revés dos temperamentos constritores limados pela dicção do legislador infraconstitucional, resulta de meridiana clareza, tornando despicienda maior peroração, que o apelo a este Pretório se compadece do imperioso prequestionamento da matéria abojada na insurgência, tal entendido como expressamente abordada no Acórdão guerreado, sem o que estéril se mostrará a irresignação, inviablizada ab ovo por carecer de pressuposto essencial ao desabrochar da operação cognitiva.

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3. Ré SUZANE LOUISE VON RICHTHOFEN : Pelo homicídio praticado contra Manfred Albert Von Richthofen, atento aos

elementos norteadores do artigo 59 do Código Penal, considerando a culpabilidade, intensidade do dolo, clamor público e conseqüências do crime, incidindo três qualificadoras, uma funcionará para fixação da pena base, enquanto as outras duas servirão como agravantes para o cálculo da pena definitiva (RT 624/290). Assim, fixo a pena base em dezesseis (16) anos de reclusão, a qual aumento de quatro (04) anos, totalizando vinte (20) anos de reclusão. Reconhecida a presença de circunstâncias atenuantes, que no caso deve ser considerada a menoridade à época dos fatos, reduzo a pena de seis (06) meses, resultando em dezenove (19) anos e seis (06) meses de reclusão.

Pelo crime no tocante à vítima Marísia Von Richthofen, atento aos elementos norteadores do artigo 59 do Código Penal, considerando a culpabilidade, intensidade do dolo, clamor público e conseqüências do crime, incidindo três qualificadoras, uma funcionará para fixação da pena base, enquanto as outras duas servirão como agravantes para o cálculo da pena definitiva (RT 624/290). Assim, fixo a pena base em dezesseis (16) anos de reclusão, a qual aumento de quatro (04) anos, totalizando vinte (20) anos de reclusão. Reconhecida a presença de circunstâncias atenuantes, que no caso deve ser considerada a menoridade à época dos fatos, reduzo a pena de seis (06) meses, resultando em dezenove (19) anos e seis (06) meses de reclusão.

Pelo crime de fraude processual, artigo 347, parágrafo único do C.Penal, fixo a pena em seis (06) meses de detenção e dez dias multa, fixados estes no valor mínimo legal de 1/30 do salário mínimo vigente no pais à época dos fatos, devidamente corrigido até o efetivo pagamento.

No caso há evidente concurso material, nos termos do artigo 69 do Código Penal. Com efeito, a ré participou de dois crimes de homicídio, mediante ações dirigidas

contra vítimas diferentes, no caso seus próprios pais. Além desses, também, praticou o crime de fraude processual.

Assim, as penas somam-se, ficando a ré SUZANE LOUISE VON RICHTHOFEN, condenada à pena de trinta e nove (39) anos de reclusão e seis (06) meses de detenção, bem como, ao pagamento de dez dias-multa no valor já estabelecido, por infração ao artigo 121, §2º, inciso I, III e IV (por duas vezes) e, artigo 347, parágrafo único, c.c. artigo 69, todos do C.Penal.

Torno as penas definitivas à míngua de outras circunstâncias. Por serem crimes hediondos os homicídios qualificados, a ré cumprirá a pena de

reclusão, em regime integralmente fechado e, a de detenção em regime semi-aberto, primeiro a de reclusão e finalmente a de detenção.

Estando presa preventivamente e, considerando a evidente periculosidade da ré, não poderá recorrer da presente sentença em liberdade, devendo ser expedido mandado de prisão contra a ré SUZANE LOUISE VON RICHTHOFEN.

Após o trânsito em julgado, lancem-se os nomes dos réus no rol dos culpados. Sentença publicada em plenário, dou as partes por intimadas. Registre-se e

comunique-se. Sala das deliberações do Primeiro Tribunal do Júri, plenário 8, às 02:00 horas, do dia 22 de julho de 2006.

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ALBERTO ANDERSON FILHO Juiz Presidente

DISTINÇÃO ENTRE MORFOLOGIA E SINTAXE

A palavra morfologia origina-se do grego Morphê=figura + logias=estudo e significa o estudo da forma (em seu sentido literal) ou estudo da figura, como salienta Napoleão Mendes Almeida.

Por que é importante classificar?

Classificar significa dividir em classes. As classes reúnem um conjunto de elementos que tem uma ou mais propriedades em comum. A importância de se classificar termos ou palavras é que facilita a organização das palavras na língua portuguesa. A classificação reúne palavras de natureza e características idênticas. As classes se dividem em dez, mas definem-se a partir de três critérios: semântiCo, morfológico e sintático.

I – MÓRFICO: Classificar palavras segundo esse critério significa levar-se em conta características formais dos vocábulos. Algumas propriedades formais que ocorrem em determinadas classes indicam pertinência de uma determinada classe.

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O verbo, por exemplo, é a única classe em que o tempo se apresenta por meio de desinências próprias: amo (presente); amei (passado); amarei (futuro). Outro exemplo, pode ser o adjetivo que é a única classe de palavras que admite o sufixo –íssimo em suas formas masculina e feminina. Exemplo: calmo – calmíssima(o).Morfologia – parte da gramática que se dedica ao estudo da palavra, considerando-se sua estrutura, formação, classificação e flexões. Quanto à estrutura e formação, a palavra é constituída por elementos indecomponíveis. Por exemplo em subescolarizado, temos o sufixo sub (que indica noção de inferioridade); o radical escol, do qual se originam outras palavras, como escolarização, escolar, escolaridade; os sufixos ar – que marca pertinência - e ado – que indica condição, caráter de. No que se refere à classificação, as palavras podem ser substantivo, adjetivo, artigo, verbo, pronome, preposição, conjunção, advérbio, numeral e interjeição. Quanto à flexão, algumas palavras podem variar segundo o gênero – masculino/feminino -, o número – singular e plural – e o grau – aumentativo/diminutivo para substantivos; comparativo/superlativo para adjetivos.

II - SEMÂNTICO: É tudo o que se refere ao significado, ao sentido das palavras no texto.

II – SINTÁTICO: É tudo o que se refere à combinação das palavras na frase. Há aquelas que se combinam entre si, assim como há as que não se combinam. Por exemplo: Ao se afirmar que um artigo sempre se refere a um substantivo e nunca virá depois deste, utiliza-se um critério sintático de classificação   

As gramáticas, por uma questão didática, separam a morfologia da sintaxe e da semântica, enquanto a primeira estuda a formação, a estrutura e a flexão das palavras, além de descrever tudo o que se refere às categorias gramaticais, as quais serão sucintamente apresentadas mais adiante; a segunda, analisa aspectos mais complexos: concordância, regência, uso e colocação de pronomes. Já a terceira (semântica) preocupa-se com os sentidos que a palavra ou os termos suscitam no leitor. De acordo com a NGB, a morfologia trata das palavras quanto à sua estrutura e formação, suas flexões e sua classificação. Aqui preocupar-nos-emos em apresentar as classes de palavras, com ênfase, nos substantivos (gênero e número), pronomes oblíquos, demonstrativos e colocação pronominal, adjetivo (concordância nominal – sintaxe) e advérbio, além de apresentar distinção do “a” como artigo, pronome e preposição.

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Classes de palavras

Na língua portuguesa, essas classes são dez: seis variáveis, e quatro invariáveis. Isto é, são palavras que não vão para o plural, nem para o feminino.

São variáveis os artigos, adjetivos, numerais, pronomes, substantivos e verbos. Já invariáveis são os advérbios, as conjunções, as interjeições e as preposições. (Observe as tabelas a seguir):

a) VARIÁVEIS

Classes gramaticais Função ou sentido

1) SubstantivoPalavra que designa seres, atos ou conceitos;

nome: Amor, guerra, homem, casa, Pedro etc

2) Verbo

Palavra que expressa ação, estado ou fenômeno. É a classe gramatical mais rica

em variação de formas, podendo mudar para exprimir modo, tempo, pessoa, número e voz. No dicionário, são encontrados no

modo infinitivo, que é, por assim dizer, o nome do verbo. Exemplos: dançar, estar,

nevar, amar, ser, amanhecer.

3) Adjetivo

Palavra que se relaciona com o substantivo para lhe atribuir uma qualidade. Exemplos: mulher linda, livro divertido, árvore alta,

olhos azuis.

4) ArtigoArtigo definido

Artigo indefinido

Palavra que se coloca antes do substantivo, determinando-o e indicando seu gênero e número (artigo definido: a, as, o, os) ou

(artigo indefinido: um, uma, uns, umas).

5) Pronome

Palavra que substitui o nome ou que o acompanha tornar claro o seu significado. Os pronomes se dividem nas seis grandes

classes a seguir:

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b) INVARIÁVEIS

Classes gramaticais Função ou sentido

Advérbio

Palavra que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio, expressando uma

circunstância. Exemplos:Lugar/ tempo: Acolá, ali: lá,naquele

lugar.Expressa negação Não, nunca, jamais etc.

Conclusão: Assim, logo, etc.Iminência: Imediatamente, etc

Preposição

Termo que subordina uma palavra a outra. Exemplos:

Casa de Maria é bela./ O livro está sobre a mesa./ /A casa está entre as árvores. Marta

mora em São Paulo.

Conjunção

Termo que liga duas palavras, dois membros de uma oração ou duas orações. Exemplos: Estudou e passou. (exprime idéia de adição-

aditiva). João foi trabalhar, mas estava doente. (relaciona pensamentos em contraste

ou oposição). Ana passeata havia muitas pessoas, quando a polícia chegou.

(conjunção temporal)./ Se Maria for ao cinema, eu não irei. (conjunção que exprime

condição).

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Atividade 1. Leia o texto “Circuito Fechado” e responda a algumas questões

Circuito Fechado Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.(Ricardo Ramos)

a) “Circuito Fechado” pode ser considerado um texto ou meras palavras soltas? Justifique.

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b) A predominância e a sequência de substantivos permitem ao leitor compreender o

enredo do texto? Qual é a temática apresentada neste texto?

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c) Qual a intenção do autor ao escrever um texto rompendo com a linearidade textual?

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d) Pode-se “construir imagens” da personagem e dos ambientes apresentados na crônica?

Reflita a partir das indagações abaixo:

- Qual é o trecho que indica os hábitos rotineiros da personagem ao acordar?

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- Qual é o trecho que informa se a personagem pertence ao sexo masculino ou feminino?

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- Quais os substantivos que indicam o nível social da personagem? A qual classe social

ela pertence?

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- Quais os indicadores de que a personagem foi para o trabalho?

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- Há indícios de que a personagem é fumante? Percebe-se que é um fumante contumaz

ou esporádico?

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e) O texto “Circuito Fechado” é uma crônica, pois trata-se de uma breve narrativa

humorada que leva o autor a refletir sobre a vida. Assim, utilizando basicamente

substantivos Ricardo Ramos produz um texto que termina onde começou. A partir dessa

assertiva, relacione o título do texto com essa estrutura textual.

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“Bem aventurados os homens de boa redação. Deles será o reino das diretorias”.

“O pensamento voa e as palavras andam a pé. Aí está o drama de quem escreve”.Jullien Green

De um modo geral as pessoas gostariam de escrever bem ou, pelo menos, comunicar-se com certa fluência.

Um aspecto a ser esclarecido a quem procura melhorar seu desempenho em redação é perceber a diferença existente entre a comunicação oral e a escrita. É preciso registrar que num país civilizado, ninguém fala como escreve. Tanto a língua oral como a escrita apresenta peculiaridades e variações próprias, ditadas por influências geográficas, sociais e até mesmo ambientais: a linguagem do gaúcho, por exemplo, apresenta aspectos diferentes da linguagem do nordestino; a fala de um médico não é a mesma que a fala de um lixeiro, e assim por diante.

Em vista dessas diferenças não devemos pensar em escrever como se fala, pois trata-se de dois tipos de comunicação bem distintos.

Lembre-se um texto escrito sempre pode ser melhorado e não deve tomar como modelo a língua oral.

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Veja exemplo na figura abaixo.

(SARMENTO, Leila Luar.Oficina de redação.2ed.São Paulo:Moderna,2003)

Uma forma de melhorar sua escrita é ler (e entender, pensar sobre) diferentes tipos de textos: jornais, revistas, romances, poesias, músicas, etc. Quem lê muito, escreve bem.

DICAS PARA ESCREVER BEM

1- Escreva sem medo.2- Use vocabulário conhecido.3- Construa frases curtas.4- Evite repetir palavras e idéias.5- Evite lugares-comuns. (repetição de idéias sem conhecimento)6- Em textos formais, seja impessoal.7- Elabore roteiros e planejamento. (rascunhos)8- Não escreva para o professor, escreva para o seu leitor.9- Releia o texto antes de terminar.10- Consulte dicionários e gramáticas.11- Leia, leia muito. Comece lendo textos que te dêem prazer.

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Quem não escreve bem perde o trem!

A história do gerente apressado

Certa vez, um apressado gerente de uma grande empresa paulista precisava ir ao Rio de Janeiro para tratar de alguns negócios urgentes. Como tivesse muito medo de viajar de avião, o gerente deixou o seguinte bilhete para a sua recém-contratada secretária:

Maria: devo ir ao Rio amanhã sem falta.

Quero que você me rezerve, à noite, um lugar, no

trem das 8 para o Rio.

Sabe o que aconteceu?

O gerente, simplesmente, perdeu o trem!

Por quê? Bem, acontece que Maria, a nova secretária, ao ler o bilhete, franziu a testa e, com uma cara desanimada e cheia de dúvidas, ficou pensando, pensando… até que finalmente decidiu: foi, à noite, à estação ferroviária e reservou um lugar, para o dia seguinte, no trem das 8 h da manhã. Cumprida a tarefa, Maria foi para casa, com um sorriso nos lábios e muita alegria na alma, contente por ter resolvido bem o primeiro problema em seu novo trabalho. Mas… a sua alegria ia durar pouco! Ao chegar ao emprego, no dia seguinte, a dedicada secretária teve a estranha impressão de estar vendo um fantasma diante de si: lá estava o gerente, tranqüilo, fumando o seu perfumado cachimbo e assinando papéis, em meio a lentas e gostosas baforadas.

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Atônita, a secretária, como fulminada por um raio, desabou na cadeira, diante de sua mesa de trabalho. Depois, pouco a pouco, foi recobrando os sentidos e recuperando as cores do rosto, ao mesmo tempo em que ia disfarçando o mal-estar, arrumando papéis e limpando caprichosamente a mesa com um pano úmido.

─ Então, Maria, tudo certo com o trem das 8, hoje à noite? – perguntou o gerente.

─ Oi? – retrucou a secretária.

─ Estou perguntando se está tudo certo com o trem do Rio?

─ Oi? – repetiu Maria.

─ Que mania é essa de oi? Você não pode responder direito? Afinal, cadê a passagem? – retomou o já intrigado gerente, levantando a cabeça e encarando a enigmática moça.

─ Passagem? Mas que passagem? O senhor só pediu para reservar um lugar… Ah! Já ia esquecendo: o senhor não leve a mal, por favor, mas… reservar se escreve com s e não com z… – explicou Maria sorrindo e piscando muito os olhos.

─ Escute aqui moça: não preciso de suas lições. Sei muito bem como as palavras se escrevem! Seus comentários são perfeitamente dispensáveis. O que eu quero simplesmente é a minha passagem para o Rio, pode ser?

─ Não, infelizmente não pode ser, porque… reservar um lugar é uma coisa e comprar uma passagem já é outra bem diferente…

─ Como assim? Olhe aqui mocinha, ontem eu deixei um bilhete, pedindo para você me comprar uma passagem para o Rio, no trem das 8, de hoje à noite! Foi só isso que eu pedi. Mais claro do que isso é impossível!

─ Não seu gerente, não está nada claro! O senhor está completamente enganado! Não foi nada disso que o senhor escreveu! Veja aqui o seu bilhete, veja o que o senhor escreveu: o senhor me pede, aqui no bilhete, para reservar, à noite, um lugar no trem das 8 para o Rio, tá? E como o senhor deveria viajar no dia seguinte, então eu fiz exatamente o que o senhor mandou: fui à estação, à noite, e pedi uma reserva, para o dia seguinte, no trem das 8 da manhã para o Rio. Era só o senhor chegar hoje lá na estação, um pouquinho antes das 8, comprar a passagem, entrar no trem, dar uma boa cochilada no seu lugar ao

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lado da janela e acordar de cara com aquela lindeza, o Corcovado, as praias…ai aquilo é bom demais!

De pé, boquiaberto, pálido, o gerente deixou o cachimbo cair sobre os papéis espalhados na mesa.

─ Você vai é comprar essa passagem agora mesmo, no trem das 8 da noite para o Rio, antes que eu faça um estrago por aqui!

Mais que depressa, a secretária saltou sobre o telefone e ligou para a estação. Esforço inútil: o trem da noite estava lotado. Aí quem desabou foi o gerente:

─ Onde foi que eu errei? Me explique! Será que eu escrevo tão mal assim? Meu bilhete está tão claro, tão simples… eu só pedi uma passagem no trem das 8 para o Rio e veja o que você me aprontou! Agora eu vou perder um dos nossos melhores clientes lá no Rio! Todo mundo na firma já está cansado de saber que eu não gosto de viajar de avião, que eu só viajo de trem noturno, que sempre me reservam uma cabina com leito, que eu adoro viajar em cabina com leito… Onde foi que eu errei? Posso saber?

─ Sim senhor, vou mostrar direitinho onde foi que o senhor errou: veja, seu gerente, pra começar eu não sabia que o senhor só gostava de viajar de trem, e ainda mais de trem noturno, em cabina com leito. No bilhete o senhor não disse nada disso.

─ Mas será que era preciso dizer mais alguma coisa? Estava tudo tão claro na minha cabeça… será que a sua cabeça é assim tão diferente da minha, que você não é capaz de entender uma idéia tão simples?

─ Bem, já que o senhor perguntou, então eu explico: nossas cabeças são sim muito diferentes uma da outra, aliás, não existem duas cabeças iguais nesse mundo; o senhor tem certas idéias na sua cabeça, eu tenho outras, o vizinho ao lado já tem outras bem diferentes, e assim por diante. Se a pessoa não explicar direitinho o que ela quer, ninguém vai adivinhar, porque os pensamentos não estão grudados na testa da gente, eles estão dentro da nossa cabeça e nós temos de saber colocar para fora essas idéias. O senhor, por exemplo, queria que eu comprasse uma passagem, para o Rio de Janeiro, no trem das 8 da noite, cabina com leito, não é mesmo? Mas acontece que o senhor não conseguiu passar essa idéia para a minha cabeça, porque, pelo seu bilhete, eu entendi outra coisa completamente diferente da que o senhor tinha na cabeça.

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Quer ver? Vamos começar por este trecho:

“(…) me rezerve , à noite, um lugar, (…)”

─ Bem, o senhor já sabe que reservar é com s, mas há erros mais graves aqui. Em primeiro lugar, se o senhor queria que eu comprasse uma passagem, o certo, então, era escrever “compre uma passagem”, ou “providencie uma passagem”! Segundo problema: o senhor não fala em cabina com leito, mas em lugar; ora, lugar é uma palavra que pode significar muitas coisas ao mesmo tempo: pode ser uma poltrona de 1ª ou 2ª classe, no meio ou na ponta do vagão, do lado da janela ou do corredor, e pode até ser uma cabina com leito, ou seja, há várias possibilidades. Terceiro problema, e este é de sintaxe…

─ Sintaxe? E eu vou lá me lembrar das regras dessa maldita análise lógica?

─ Não, seu gerente, sintaxe não trata só de análise lógica… sintaxe é a parte da gramática que cuida da ordem e das relações das palavras na frase, das relações entre as frases, entre os períodos, etc. Eu falo isso porque é minha obrigação saber um mínimo de gramática, senão pra que serve uma secretária que não conhece um pouco das regras da língua que usa? Então, como eu ia dizendo, a sintaxe do seu recado está bem ruim. Se o senhor observar bem o trecho que eu citei – “… me reserve, à noite, um lugar, …”- vai ver que a ordem das palavras e, principalmente, a posição das vírgulas dão um duplo sentido à frase. O senhor duvida? Então veja bem: como existe um aposto entre duas vírgulas (“, à noite, ”) separando a forma verbal reserve do objeto direto lugar, e como há uma segunda vírgula logo depois de lugar, o leitor do bilhete pode juntar reserve com à noite e pensar que, em vez de reservar um lugar noturno, o senhor, como autor do bilhete, mandou fazer a reserva depois do expediente de trabalho, ou seja, à noite. Pode até ser que a minha explicação seja confusa, mas eu vou fazer um esqueminha aqui no papel, pra ficar mais claro o que eu expliquei:

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→ UM LUGAR À NOITE (= lugar noturno)

RESERVAR

→ À NOITE (= depois de encerrado o dia) → UM LUGAR

─ Entendeu agora, seu gerente? A frase tem dois sentidos. Minha cabeça foi pelo segundo sentido, por isto é que eu fui à noite à estação para reservar o lugar do senhor. Ah, e uma última falha ainda, para terminar. Me diga uma coisa: se o seu trem era o das 8 da noite, por que é que o senhor não escreveu logo: trem das 20 h? Com um bilhete assim, com tantas falhas de sintaxe, de pontuação de vocabulário e até de ortografia, o senhor não acha que muita confusão poderia ter sido evitada com essa simples indicação de horário?

TEXTO EXTRAÍDO DE: -BLIKSTEIN, Isidoro. Técnicas de comunicação escrita. SP, Ática, 1988, p. 5-12.

Adjetivo

O uso de adjetivo em textos jurídicos, em artigos de opinião e em textos expositivos, basicamente, apóiam-se na objetividade, mas o autor pode, por meio de escolhas lexicais, destruir a imagem do objeto analisado, pode retratar detalhes minuciosos de ambientes, além de enaltecer ou denegrir a personalidade de pessoas entre outras intencionalidades.

Sublinhe as palavras u expressões que caracterizam cada um dos envolvidos e analise os textos abaixo, no sentido de identificar a imagem construída, pelos jornalistas, a respeito dos protagonistas dos relatos.

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Texto 1

São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

Bancado pelo pai, Nardoni queria ser policial CINTHIA RODRIGUESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alexandre Alves Nardoni, 29, formou-se em direito em 2006 e ainda não tem registro na OAB, onde é definido como estagiário. Por cinco anos foi um aluno mediano e assíduo em um curso noturno das Faculdades Integradas de Guarulhos. Dizia a colegas que queria ser delegado da Polícia Federal.

Antes de iniciar o curso superior, era dono de uma franquia da 775 na avenida Guilherme Cotching, na Vila Maria, zona norte. Gostava de carros e motos, usava roupas de surfista e corrente prateada no pescoço.

Para alguns dos antigos vizinhos, era um playboy simpático; para outros, um briguento. Na época em que namorava a mãe de Isabella, Ana Carolina de Oliveira, fez inimigos na Vila Gustavo, perto da casa dela. Em uma das brigas, teria sido alvo de tiros que atingiram o seu Vectra. Depois disso, teria passado a andar armado.

Os donos de lojas de veículos que ele freqüentava estranharam quando souberam que o atual carro de Nardoni era um Ford Ka. Ele gostava de esportivos. Apenas em uma loja comprou uma moto CBR, um Mitsubishi Eclipse e uma Saveiro.

Quando fechou a 775, deixou dívidas na Vila Maria. Um rapaz que havia deixado uma prancha de surfe em consignação nunca foi pago. Em uma das revendedoras de carro, o pai dele, Antonio Nardoni, apareceu meses depois para acertar pendências. O pai, advogado, também pagava a pensão de Isabella, de R$ 250, e foi quem comprou dois apartamentos de cerca de R$ 250 mil no edifício onde a menina morreu, na Vila Mazei. O outro imóvel é da irmã de Alexandre.

Segundo moradores da rua onde Antonio vive em um sobrado protegido por cerca elétrica, a família é reservada, mas quando Alexandre os visitava com a menina, os avós a recebiam no portão, com festa.

Já na casa da mãe de Isabella Nardoni não costumava entrar. Em dias de visita, aguardava no carro enquanto sua atual mulher, Anna Carolina Jatobá, 24, pegava a menina.Segundo vizinhos, a atual mulher tinha ciúmes da xará. Esse seria um dos motivos pelos

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quais o casal era conhecido por brigas no apartamento onde moravam até o ano passado, também na Vila Mazei.

Sobre a menina, todos dizem que era esperta, ativa, inteligente. "Ela deixava desenhos e falava até palavras em inglês", conta Kassy Navarro, 21, vendedora da loja infantil que fica ao lado da loja de um dos avós da menina, fechada por luto.

Texto 2

A morte inaceitável de Isabella

Na história da menina que queria ser bailarina, a mãe se desentendia com o ex-marido por causa da pensão, ele dependia da ajuda financeira do pai e a madrasta tem um passado de agressões na própria família

Extrovertida, alegre e graciosa, Isabella Oliveira Nardoni, de cinco anos, era o centro das atenções nas reuniões de família. Carinhosa, vivia pedindo colo e distribuindo beijos. Seus programas preferidos nos fins de semana eram viajar para a praia e brincar no parquinho. Vaidosa, adorava vestidos, bolsinhas cor-de-rosa e era vidrada na bonexca hello Kitty. ‘Sou superchique’, dizia aos adultos. Ela estava empolgada com um peixinho que havia ganhado de uma prima, que batizou de Biel, mas sua paixão, mesmo, era o balé. Isabella ensaiava os primeiros passos na escola e dizia a todos que queria ser bailarina quando crescesse. O sonho, tão comum a meninas desta idade, nunca se realizará. Ele foi brutalmente interrompido na noite do sábado, 29, quando Isabella foi encontrada caída de bruços no jardim do prédio, onde morava seu pai, Alexandre Nardoni, na zona norte de São Paulo. Minutos depois, ela faleceu. (Revista IstoÉ, (09/04/2008).

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Texto para Análise

Domingo no ParqueGilberto GilComposição: Gilberto Gil O rei da brincadeiraÊ, José!O rei da confusãoÊ, João!Um trabalhava na feiraÊ, José!Outro na construçãoÊ, João!...A semana passadaNo fim da semanaJoão resolveu não brigarNo domingo de tardeSaiu apressadoE não foi prá Ribeira jogarCapoeira!Não foi prá láPra Ribeira, foi namorar...O José como sempreNo fim da semanaGuardou a barraca e sumiuFoi fazer no domingoUm passeio no parqueLá perto da Boca do Rio...Foi no parqueQue ele avistouJulianaFoi que ele viuFoi que ele viu Juliana na roda com JoãoUma rosa e um sorvete na mãoJuliana seu sonho, uma ilusãoJuliana e o amigo João...O espinho da rosa feriu Zé(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)E o sorvete gelou seu coraçãoO sorvete e a rosaÔ, José!A rosa e o sorveteÔ, José!Foi dançando no peitoÔ, José!Do José brincalhãoÔ, José!...O sorvete e a rosaÔ, José!A rosa e o sorveteÔ, José!Oi girando na menteÔ, José!Do José brincalhãoÔ, José!...

Juliana girandoOi girando!Oi, na roda giganteOi, girando!Oi, na roda giganteOi, girando!O amigo João (João)...O sorvete é morangoÉ vermelho!Oi, girando e a rosaÉ vermelha!Oi girando, girandoÉ vermelha!Oi, girando, girando...Olha a faca! (Olha a faca!)Olha o sangue na mãoÊ, José!Juliana no chãoÊ, José!Outro corpo caídoÊ, José!Seu amigo JoãoÊ, José!...Amanhã não tem feiraÊ, José!Não tem mais construçãoÊ, João!Não tem mais brincadeiraÊ, José!Não tem mais confusãoÊ, João!...Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!...

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ÁREAS DE ESTUDO DA GRAMÁTICA: Aspectos da ortoepia

Ortoépia ou Ortoepia: derivação do grego orthós que significa reto, direito, mais epós que significa palavra. É a parte da gramática que se preocupa com a correta articulação e pronúncia dos grupos fônicos. Quando não se respeita a correta pronúncia de determinada palavra, o indivíduo pode ser tachado de ignorante ou, por ter utilizado a linguagem vulgar ao articular uma palavra, de tê-lo feito devido à “lei do menor esforço”. A ortoepia está relacionada à perfeita emissão das vogais, à correta articulação das consoantes e à ligação dos vocábulos dentro de contextos. No entanto, muitas palavras sofrem ao longo do tempo algumas modificações e quando passam a fazer parte da linguagem de uma comunidade são dicionarizadas. Verifique alguns exemplos:

O pronome de tratamento você é uma redução de vossa mercê que, muitas vezes, se ouve ocê, caso seja aceita pela maioria pode passar a fazer parte do vocabulário da língua portuguesa.

A palavra bom na variante regional do interior, como o roceiro, pode ser falada ‘bão’; quem sabe ainda faça parte da linguagem oficial, assim como non passou a ser ‘não’, tornando-se arcaica a forma antiga.

Obligação, do latim obligatio, não é mais correta, pois transformou-se em obrigação. Tal fenômeno pode ocorrer em dois momentos:

erros ortográficos:acontecem quando se escreve a palavra de forma errada. erros ortoépicos : acontecem quando se escreve e se pronuncia de maneira incorreta.

Erros cometidos contra a ortoépia são chamados de cacoepia. Alguns exemplos:

     a- pronunciar erradamente vogais quanto ao timbre: 

Pronuncia-se com timbre fechado (ê, ô): omelete, alcova, crosta, etc e não com timbre aberto (é, ó):omelete, alcova,crosta... 

     b- omitir fonemas: cantar/ canta, trabalhar/trabalha, amor/amo, abóbora/abóbra,prostrar/ prostar, reivindicar/revindicar...

     c- acréscimo de  fonemas: pneu/peneu, freada/ freiada,bandeja/ bandeija...

     d- substituição de fonemas: cutia/cotia, cabeçalho/ cabeçário, bueiro/ boeiro

      e- troca de posição de um ou mais fonemas: caderneta/ cardeneta, bicarbonato/ bicabornato, muçulmano/ mulçumano

      f- nasalização de vogais: sobrancelha/ sombrancelha, mendigo/ mendingo, bugiganga/ bungiganga ou buginganga

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EQUÍVOCOS MAIS COMUNS:. beneficência (e nunca beneficiência). exacerbar (e nunca exarcebar). fratricídio (e nunca fraticídio). fetiche (e nunca feitiche). losango (e nunca losângulo). geminado (e nunca germinado). meteorologia (e nunca metereologia). muçulmano (e nunca mulçumano). plebiscito (e nunca plesbicito). reivindicar (e nunca reinvindicar). sobrancelha (e nunca sombrancelha)

Cacoépia: são os erros contra a ortoépia, que indicam a alteração da grafia devido a erros de pronúncia. Eles permanecem devido à aceitação popular e forçam as mudanças ortográficas. A escrita ajuda a conter esse fenômeno, contudo não o impede. A linguagem oral predomina e comanda a dita modernidade da língua.

Modernamente ouvimos: miupia/ miopia; cartulina/ cartolina; tiatro/teatro, cumpanheiro/ companheiro; cúbiça/ cobiça; culégio/colégio; pudêr/ poder; etc. {mas não são aceitas pela norma culta)

Nasalização de vogais: consiste em tornar vogais não-nasaladas em nasais: mendigando / mendingando; bugiganga / bungiganga ou buginganga.

Troca de posição de um ou mais fonemas: há uma intercalação ou deslocamento de fonemas dentro da própria palavra: muçulmano / mulçumano; cadarço / cardaço; lagartixa / largatixa etc.

Substituição de fonemas: coloquialmente, ocorre com a troca indevida de fonemas por outros muito parecidos, como: bueiro / boeiro, cabeçalho / cabeçário etc. Acréscimo de fonemas: é a inserção de fonema no vocábulo. Geralmente ocorre em consoantes mudas, como pneu (peneu); advogado (adevogado) etc. Ocorre em demais situações também, como: cabeleireiro (cabeileireiro), bandeja (bandeija) etc.

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