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Ao final desta aula, você deverá: saber quais são os procedimentos metodológicos utilizados para a realização de pesquisa de cunho variacionista; perceber a importância desse tipo de pesquisa para a compreensão do fenômeno da variação. 9 aula Objetivos PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA: UMA AMOSTRA PRÁTICA

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Ao final desta aula, você deverá:

• saber quais são os procedimentos metodológicos utilizados para a realização de pesquisa de cunho variacionista;

• perceber a importância desse tipo de pesquisa para a compreensão do fenômeno da variação.

9aula

Obje

tivos

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA:

UMA AMOSTRA PRÁTICA

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AULA 9PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA: UMA AMOSTRA PRÁTICA

1 INTRODUÇÃO Finalmente, chegou a hora de você aprender como se

realiza uma pesquisa sociolinguística variacionista. Nesta aula, você

conhecerá os procedimentos metodológicos a serem utilizados no

desenvolvimento desse tipo de pesquisa, também conhecida como

sociolinguística quantitativa, por operar com números e possibilitar

um tratamento estatístico para o fenômeno da variação. A você será

apresentada uma amostra prática, para que conheça o passo a passo

desse tipo de investigação. Saiba que é uma aula muito importante,

pois, na próxima e última aula, você deverá aplicar o que aprendeu a

partir desta.

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Linguística II: sociolinguística

210 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

2 O QUE E ONDE PESQUISAR?

Pelo que você já estudou até aqui, já sabe

que a sociolinguística se preocupa basicamente em

compreender as relações entre linguagem e sociedade,

mais especificamente as heterogeneidades linguísticas e as

heterogeneidades sociais. Na perspectiva da sociolinguística

variacionista, a variação é descrita e analisada como

sendo uma propriedade inerente às línguas, responsável,

também, pelas mudanças linguísticas.

2.1 O objeto

O objeto de estudo da sociolinguística variacionista,

como o próprio nome já diz, é a variação, compreendida

como um fenômeno decorrente da influência de fatores de

natureza linguística (estrutural) e extralinguística (social).

Ela parte do pressuposto de que a heterogeneidade

linguística é regular, sistemática e previsível, pois os

usos são controlados por diferentes fatores, que podem

influenciar de forma categórica ou não no uso de uma

determinada variável.

Sobre a prática da pesquisa, saiba que é fundamental adotar uma postura ética no desenvolvimento da mesma, seja ela feita a partir de um corpus falado, seja de um corpus escrito. Não se deve fazer pesquisa de qualquer forma, pois se corre o risco de violar princípios éticos que regem a condu-ção correta de uma pesquisa. Por exem-plo, se a pesquisa for de corpus escrito, é necessária a indicação da fonte. Se for de língua falada, não se deve gravar a fala do entrevistado se não houver consentimen-to por escrito. A aparelhagem utilizada pode ser apresentada como importante e necessária para captar todos os detalhes da conversa. Por isso, deve informar ao entrevistado que a sua fala será gravada, desde que o procedimento seja autorizado por ele. Na área da Linguística, não temos ainda um tipo de manual que nos oriente quanto aos procedimentos a serem adota-dos no caso de uma investigação que en-volva seres humanos. Mas alguns autores já discutem sobre isso, por exemplo: Maria Antonieta A. Celani, no artigo Questões de ética na pesquisa em Lingüística Apli-cada, publicado na revista Linguagem & Ensino, em 2005, e que está disponível em: http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v8n1/antonieta.pdf, e Vera Lúcia Menezes de O. e Paiva, no artigo Reflexões sobre ética e pesquisa, publicado na Revista Brasileira de Linguística Aplicada, em 2005, disponível em: http://www.verame-nezes.com/etica.htm Recomendo, portan-to, a leitura desses artigos.

SAIBA MAIS

2.2 Onde pesquisar?

Para investigar a variação, inicialmente, as pesquisas de cunho

variacionista tomavam como ponto de partida a língua falada numa

determinada comunidade linguística. Mas, hoje em dia, a língua escrita

também é analisada a partir dessa perspectiva, dada a influência da

língua falada sobre ela.

Para estudar a língua falada, basicamente há três formas de

coletar os dados: por meio de interações livres, testes e entrevistas.

A primeira forma consiste na gravação de duas ou mais pessoas

conversando, interagindo de forma bastante natural. A segunda

permite a obtenção de dados desejados. A terceira forma, a entrevista,

é a mais utilizada nas pesquisas sociolinguísticas. “Consiste não

na interação de dois informantes entre si, mas na do pesquisador

ou de seu ajudante (entrevistador) com o informante ou falante

(entrevistado) (OLIVEIRA E SILVA, 2003, p. 125).

Na entrevista, o objetivo é captar o registro mais natural

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SAIBA MAIS

SAIBA MAISpossível da língua falada pelos informantes. Isso

é feito, normalmente, pela coleta de narrativas de

experiência, podendo ser guiada por roteiros de

perguntas. Conforme Tarallo (1999, p. 21), “de

gravador em punho, o pesquisador-sociolingüista

[...] deve coletar: 1. Situações naturais de

comunicação lingüística e 2. Grande quantidade

de material, de boa qualidade sonora”.

E, para conseguir naturalidade, o

pesquisador jamais deverá dizer a palavra

“língua”, pois o objetivo principal da coleta é que o

informante não dê atenção a sua maneira de falar.

Conforme Tarallo (1999),

[...] seja qual for a natureza da situação de comunicação, seja qual for o tópico central da conversa, seja quem for o informante, o pesquisador deverá tentar neutralizar a força exercida pela presença do gravador e por sua própria presença como elemento estranho à comunidade. Tal neutralização pode ser alcançada no momento em que o aprendiz se decide a representar o papel de aprendiz-interessado na comunidade de falantes e em seus problemas e peculiaridades. Seu objetivo central será, portanto, apreender tudo sobre a comunidade e sobre os informantes que a compõem (p. 21).

De modo geral, os estudos de narrativas

de experiência pessoal evidenciam que, nesse

tipo de gênero, o informante se envolve mais

com o que relata, desvencilhando-se de qualquer

preocupação com a forma, ou seja, não prestando

atenção ao como relata.

3 COMO PESQUISAR?

Nesta seção, elencaremos o passo a

passo da pesquisa variacionista. O primeiro deles

consiste na definição da variável dependente e do

chamado envelope de variação.

Para realizar uma pesquisa sociolinguística numa determinada comunidade, o investigador deve tomar certos cuidados para obter a fala da maneira mais natural possível. Conforme Labov (1972, apud OLIVEIRA E SILVA (2003, p. 118), o investigador deve se apresentar de modo simples, com sua fala natural, não devendo dizer que faz “parte de uma universidade, pois, embora a menção de universidade faça-lhe abrir mais as portas de certas comunidades onde ela é prestigiada, fará com que também os falantes dêem demasiada atenção à própria fala, o que é [...] a pior praga do sociolingüista”.

Depois de gravados os dados, a próxima etapa da pesquisa é transcrevê-los. Conforme Paiva (2003, p. 135),

[...] o objetivo básico de uma transcrição é transpor o discurso falado da forma mais fiel possível, para registros gráficos mais permanentes, necessidade que decorre do fato de que não conseguimos estudar o oral através do próprio oral. A tarefa da transcrição não tem, no entanto, nada de trivial, pois requer, além de um considerável dispêndio de tempo, uma série de decisões importantes por parte do pesquisador [...].

Uma das decisões mais importantes diz respeito à postura teórica. É ela que guiará, por exemplo, a transposição dos registros orais para uma forma gráfica, de modo que tenha, ao final, uma transcrição regular e coerente. De acordo com Paiva, “a grande maioria dos sistemas de transcrição toma como ponto de referência o sistema ortográfico, independentemente da pronúncia efetiva” (p. 137).

SAIBA MAIS

Sobre a metodologia da teoria da variação, Naro (2003, p. 25) afirma ser “uma ferramenta poderosa e segura que pode ser usada para o estudo de qualquer fenômeno variável nos diversos níveis e manifestações lingüísticas”. Segundo o autor,

as suas limitações são as do próprio lingüista, a quem cabe a responsabilidade de descobrir quais são os fatores relevantes, de levantar e codificar os dados empíricos corretamente, e, sobretudo, de interpretar os resultados numéricos dentro de uma visão teórica da língua. O progresso da ciência lingüística não está nos números em si, mas no que a análise dos números pode trazer para nosso entendimento das línguas humanas (p. 25).

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Linguística II: sociolinguística

212 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

SAIBA MAIS

SAIBA MAIS

SAIBA MAIS

3.1 Definição da variável dependente

Em nossa primeira aula, você viu que

as variantes linguísticas correspondem às

diversas maneiras de se dizer a mesma coisa

em um contexto, e com o mesmo valor de

verdade. Essas possibilidades são consideradas

como a “variável dependente” da pesquisa.

Normalmente, as variantes se encontram

numa relação de concorrência: padrão X não-

padrão; conservadora X inovadora; de prestígio

X estigmatizada.

Conforme Naro (2003), o problema principal para a teoria variacionista é a avaliação do quantum com que cada categoria postulada influencia na realização de uma ou outra variante das formas que competem entre si. E afirma:

Na prática, a operação de uma regra variável é sempre o efeito da atuação simultânea de vários fatores (...) é, em princípio, impossível medir diretamente, nos dados do uso real, a influência de uma dada categoria, sem medir simultaneamente o efeito das outras categorias, também obrigatoriamente presentes (p. 16-17).

Ou seja, para se constatar o quanto um determinado fator influencia numa das variáveis, é preciso levar em conta as inter-relações de outros fatores que atuam no uso de uma regra variável.

Nas palavras de Scherre e Naro (2003, p. 148), “os grupos de fatores são uma forma de operaciona-lizar hipóteses a respeito do funcionamento dos fe-nômenos lingüísticos vari-áveis, que podem ou não estar ligadas a modelos lingüísticos claramente es-tabelecidos”.

Além do número de fato-res, o número de falantes da amostra depende tam-bém do fenômeno pesqui-sado. Conforme Oliveira e Silva (2003, p. 119-120), a língua “é mais homogênea para alguns fenômenos do que para outros. A realiza-ção do i, por exemplo, não precisaria de amostra tão grande quanto o estudo da realização do s, bem mais variável”.

3.2 Definindo o envelope de variação

O envelope de variação consiste na definição das variáveis que

vão influenciar no uso da variante. As variáveis desempenham um

papel muito importante no “campo de batalha” em que as variantes

“lutam” para garantir o seu lugar no sistema de uma língua. São as

variáveis (chamadas também de grupo de fatores condicionadores)

que vão determinar o resultado dessa “batalha”. Elas são chamadas de

independentes, podendo ser de natureza linguística ou extralinguística.

Como você já sabe, define-se uma variável linguística

considerando a estrutura da língua; já a extralinguística é definida a

partir de agentes externos ao sistema linguístico.

3.3 O corpus e a organização das células sociais

Uma vez escolhido o corpus, se de língua falada, se de língua

escrita, você deverá estabelecer as “células” (“casas”, “estratos”),

cada uma composta de indivíduos com as mesmas características

sociais, para caracterizar o universo da amostra. Quanto mais fatores

você escolher, mais informantes deverão ser incluídos.

Por exemplo: suponha que você queira observar a influência de

dois fatores sociais (duas idades) e do sexo (masculino (A) e feminino

(B)) sobre o uso de determinadas variantes. Nesse caso, você terá as

seguintes células:

Masculino A (de 15 a 35 anos)

Feminino A (de 15 a 35 anos)

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VOCÊ SABIA?

Masculino B (de 35 a 60 anos)

Feminino B (de 35 a 60 anos)

Se você acrescentar mais uma idade, terá que ter

mais dois indivíduos:

Masculino A (de 15 a 35 anos)

Feminino A (de 15 a 35 anos)

Masculino B (de 35 a 55 anos)

Feminino B (de 35 a 55 anos)

Masculino C (mais de 55 anos)

Feminino C (mais de 55 anos)

Acrescentando mais um fator (escolaridade) a essas

células, você terá, então, doze possíveis combinações:

Masculino A (de 15 a 35 anos) (ensino médio completo)

Feminino A (de 15 a 35 anos) (ensino médio completo)

Masculino B (de 35 a 55 anos) (ensino médio completo)

Feminino B (de 35 a 55 anos) (ensino médio completo)

Masculino C (mais de 55 anos) (ensino médio completo)

Feminino C (mais de 55 anos) (ensino médio completo)

Masculino A (de 15 a 35 anos) (ensino superior completo)

Feminino A (de 15 a 35 anos) (ensino superior completo)

Masculino B (de 35 a 55 anos) (ensino superior completo)

Feminino B (de 35 a 55 anos) (ensino superior completo)

Masculino C (mais de 55 anos) (ensino superior completo)

Feminino C (mais de 55 anos) (ensino superior completo)

Se mais um fator envolvendo a escolaridade

for acrescentado, você necessitará de 18 informantes.

Percebeu que, quanto mais fatores envolvidos, maior deve

ser a amostra? Na verdade, é trabalho árduo!

3.4 Formulação das hipóteses

Após a definição da variável dependente e das

variáveis independentes, o próximo passo é formular as

hipóteses de trabalho. Para cada uma dessas variáveis,

poderá fazer uma previsão do que encontrará no corpus.

Por exemplo, em relação à variável dependente, se for

Você pode também traba-lhar com apenas uma va-riável social. Por exemplo, pode se ter, numa célula, 5 homens e, na outra, 5 mu-lheres; numa, 2 homens, noutra, 2 mulheres. O im-portante é ter o mesmo número em cada célula.

SAIBA MAIS

O procedimento ilustrado nesta seção é nomeado de estratificação aleatória. Há ainda outro método denominado de aleatório simples. Conforme Oliveira e Silva (2003, p. 120), esse método consiste em:

[...] colocar num recipiente uma identificação de cada indivíduo da população e retirar cada identificação uma a uma até completar o número desejado. Isso implica que todos os indivíduos têm exatamente igual probabilidade de escolha. [...] Pode-se usar este método quando a amostra é muito grande e a população é muito homogênea.

Assim como na estratificação aleatória, nesse outro método, deve-se considerar o “princípio da igualdade de chance de cada indivíduo da população poder ser escolhido” (OLIVEIRA E SILVA, 2003, p. 121).

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Linguística II: sociolinguística

214 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

uma forma padrão concorrendo com uma não-padrão, poderá prever

que a primeira será mais recorrente do que a outra, ou vice-versa.

Você já deve saber que a previsão é fundamental numa pesquisa!

3.5 Operacionalização dos dados

Com o corpus coletado, o próximo passo é operacionalizar os

dados. Nesta etapa, as ações básicas são:

1- Identificação e levantamento dos dados relevantes: é nessa etapa que você deverá localizar todas as ocorrências da variável dependente, bem como de todos os fatores elencados.

2- Codificação dos dados: consiste em transformar em código identificável pelos programas computacionais tudo aquilo que queremos que seja quantificado. Para isso, “o pesquisador deve escolher um símbolo – e apenas um – para cada uma das variantes da variável dependente [...] – um e apenas um – para cada um dos fatores das variáveis independentes” (SCHERRE; NARO, 2003, p. 155).

3- Transposição dos dados codificados para os programas “Varbrul” ou “pacote Varbrul”: nessa etapa, os dados são transpostos para os programas que, após as rodadas, fornecem os resultados estatísticos do efeito conjunto dos fatores sobre a variável dependente, bem como projetam os pesos relativos para cada uma das análises. Os pesos relativos são calculados em função de desvios em relação à média da variante analisada, medindo o efeito comparativo de cada fator considerado na rodada. São várias as operações que podem ser feitas nessa etapa, dado o interesse do pesquisador diante dos resultados apresentados pelos programas.

4- Leitura e interpretação dos dados: com os resultados numéricos obtidos pelos programas, o pesquisador deverá proceder à análise linguística, verificando se as hipóteses estabelecidas foram confirmadas ou refutadas. Esse é um momento de expectativa, afinal, os resultados indiciarão sobre a relevância da pesquisa. Sobre eles, Scherre e Naro (2003, p. 162) destacam:

[...] que os resultados numéricos obtidos pelos programas só têm valor estatístico. O seu valor lingüístico é atribuído e interpretado pelo lingüista. Se o lingüista for bom, certamente os resultados lhe permitirão refutar ou não as hipóteses estabelecidas quando da análise dos dados lingüísticos.

5- Distribuição dos dados em tabelas: essa distribuição permite visualizar os resultados estatísticos obtidos. Para cada tabela, além da descrição detalhada dos dados (número de ocorrências, percentuais e pesos relativos), deve-se criar um título que explicita o que foi de fato estudado.

Seguindo corretamente cada um desses passos, o pesquisador

Conforme Scherre e Naro (2003, p. 147), “uma dada variável dependente pode ser binária ou eneá-ria. Será binária se o nú-mero de variantes for dois; será eneária se o número de variantes for maior que dois”.

Se uma variável dependen-te for binária, dois símbo-los serão necessários. Por exemplo: uma variante padrão e uma não-padrão são identificadas respecti-vamente pelas letras A e B; se for eneária, três símbo-los. Se um dos fatores for o sexo, pode ser identifica-do por M (masculino) ou F (feminino); se for escolari-dade, pode ser identificada por números 1, 2, 3... São várias as possibilidades de codificar. Podemos usar le-tras, números e caracteres especiais.

Pacote Varbrul é um con-junto de programas com-putacionais utilizados, na pesquisa sociolinguística variacionista, para des-crever as ocorrências da variável dependente, ana-lisada simultaneamente em função dos fatores estabe-lecidos. É uma ferramen-ta considerada de grande valor, que pode nos ajudar a compreender inúmeras particularidades de fenô-menos linguísticos, a par-tir de um grande número de dados. Para saber mais sobre esse pacote, poderá ler o capítulo introdutório do livro Fonologia e Va-riação: recortes do portu-guês brasileiro, organizado por Leda Bisol e Cláudia Brescancini, publicado pela EDIPUCRS, em 2002.

SAIBA MAIS

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre a téc-nica da pesquisa sociolin-guística, recomendo acessar o sitehttp://www.vertentes.ufba.

br/paradoxo.htm

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ATENÇÃO

alcançará, com certeza, êxito em sua pesquisa. Afinal, o sucesso dela

se deve, em grande parte, à metodologia adotada.

A seguir, apresento a você uma amostra prática para que

acompanhe o passo a passo desse tipo de pesquisa.

4 UMA AMOSTRA PRÁTICA: A REALIZAÇÃO VARIÁVEL DO OBJETO INDIRETO (DATIVO)

4.1 A Variável dependente

Como variável dependente, consideramos a realização do

dativo na forma de clítico (1a) e (1b) e na forma de pronome tônico

(1c) e (1d):

(1) a. Aí que me falaram que foi olho grande. (FLP 17).b. Mas eu estava te falando no livro da Isa. (FLP 22).c. Tem guria também que fala um monte pra mim. (FLP 13).

d. Ela telefona pra ti. (FLP 14).

4.2 As Variáveis independentes (linguísticas)

Com o propósito de verificar a aplicação da regra, isto é, a

realização do dativo na forma de clítico, elencamos as seguintes

variáveis linguísticas:

4.2.1 Pessoa do discurso

Com exceção da segunda pessoa do plural, todas as outras

pessoas do discurso foram consideradas. Vejamos os exemplos

abaixo:

a) Primeira pessoa do singular

(2) a. Elas me contam tudo. (FLP 13). b. Ela começou a falar de toda a vida dela pra mim. (FLP 13).

b) Segunda pessoa do singular

(3) a. Foi como eu te falei no começo da entrevista. (FLP 04). b. Como eu já lhe falei, eu fui um dos primeiros diretores. (FLP 21). c. Vou resumir pra ti que eu não quero dizer tudo. (FLP 13).

A pesquisa ilustrada nes-ta seção foi realizada por mim, em (2000), na Uni-versidade Federal de Santa Catarina, quando cursava o Doutorado em Linguística. Foi objeto de uma das mi-nhas qualificações (exigên-cia do Curso), que resultou no artigo publicado na re-vista Letras de Hoje, da PUC do Rio grande do Sul.

Esse código que se encontra após o exemplo identifica o local onde foi realizada a entre-vista, bem como o falante.

ATENÇÃO

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Linguística II: sociolinguística

216 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

c) Terceira pessoa do singular

(4) a. Eu peguei e dei-lhe uma porrada. (FLP 13). b. Demos uma força pra ela. (FLP 04).

d) Primeira pessoa do plural

(5) a. Nós até solicitávamos Secretário de Segurança que nos desse desse dado quais os artigos efetivos. (FLP 21).

b. Ela compra bastante coisa pra nós. (FLP 03). c. É ela que compra pra gente. (FLP 03).

e) Terceira pessoa do plural

(6) a. Eu ia agradecer profundamente a eles. (FLP 04). b. A gente pode adquirir pra eles um material didático. (FLP 18).

4.2.2 Transitividade do verbo

Para testar este grupo, consideramos dois tipos de estruturas:

com o verbo transitivo indireto, que seleciona como argumento interno

um objeto indireto; e com o verbo bitransitivo, que se caracteriza por

selecionar dois argumentos internos, um objeto direto e um objeto

indireto. Os exemplos que se seguem ilustram, respectivamente, os

dois tipos de estruturas:

(7) a. Eu ia dizer pra todo mundo que eles tinham me batido. (FLP 01). b. Todo mundo confia em mim. (FLP 13). c. Ele me deu a chave da loja. (FLP 04). d. A mãe ia comprar uma bola pra mim. (FLP 18).

4.2.3 Realização ou não do objeto direto

Com relação a essa variável, vale dizer que ela só se aplica

em construções com verbos bitransitivos, pois um dos objetos

selecionados é o direto. Os exemplos abaixo ilustram as construções

consideradas:

(8) a. Veio um senhor me oferecer um outro trabalho. (FLP 04). b. Ela ia contando as coisas pra mim. (FLP 04). c. Nós não merecemos, mas ele nos dá. (FLP 22). d. Ela logo dá pra gente. (FLP 04).

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Em 8a e 8b temos as estruturas em que o objeto direto aparece

expresso, e em 8c e 8d temos as estruturas em que o objeto direto

aparece apagado.

4.2.4 Forma verbal

Para essa variável, levamos em conta as estruturas simples

(9), que contêm apenas um verbo, e as estruturas complexas (10),

que apresentam mais de um verbo adjacente (as chamadas locuções

verbais):

(9) a. Por isso é que eu lhe falei. (FLP 21). b. Naquele campo que eu falei pra ti que hoje é o Instituto. (FLP 18).

(10) a. Eu estava te falando no livro da Isa. (FLP 22). b. O que que eu posso mais dizer pra ti? (FLP 18).

4.2.5 Tempo verbal

Neste grupo, consideramos sete tempos verbais, além de

sentenças que apresentam um só verbo infinitivo:

a) Presente do indicativo

(11) a. Nós não merecemos, mas ele nos dá. (FLP 22). b. Hoje, elas não dão nem uma calçadeira pra gente. (FLP 22).

b) Pretérito perfeito

(12) a. O Alexandre e o Tiago já me disseram isso. (FLP 13). b. Ele disse pra mim que eu pedisse. (FLP 04).

c) Pretérito imperfeito

(13) a. Ele me mostrava tudo. (FLP 06). b. Minha avó dava na minha irmã e já dava em mim também. (FLP

03).

d) Futuro do pretérito

(14) a. Não ia te fazer nada. (FLP 04). b. O americano não ia emprestar mais dinheiro pra gente. (FLP 06).

e) Futuro do presente

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Linguística II: sociolinguística

218 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

(15) a. Eu lhe contarei tudo. (FLP 18). b. Vou resumir pra ti. (FLP 13).

f) Futuro do subjuntivo

(16) a. Quando você me perguntar, vou responder. (FLP 17).

b. Qualquer coisa que disser pra ela. (FLP 14).

g) Imperfeito do subjuntivo

(17) a. Se ele me pedisse um maço de cigarro. (FLP 17). b. Se ele desse na gente, a mãe não podia socorrer. (FLP 18).

h) Infinitivo

(18) a. Eu sentava, assim, na máquina pra costureira me ensinar. (FLP 03). b. Tem uma bela duma escola pra falar pra gente. (FLP 04).

4.3 As Variáveis independentes (extralinguísticas)

Foram elencadas as seguintes variáveis: sexo, escolaridade e

idade. Na seção abaixo, você verá detalhadamente como foi constituído

o corpus, bem como foram organizadas as células sociais.

4.4 Constituição do corpus e organização das células sociais

Para a investigação do fenômeno, utilizamos o banco de dados

do Projeto VARSUL (Variação Linguística Urbana na Região Sul).

O corpus é composto de doze entrevistas de informantes da cidade

de Florianópolis, com controle dos seguintes fatores sociais: sexo

(masculino e feminino), nível de escolaridade (primário e colegial) e

faixa etária (até 25; 25 a 50; acima de 50). O quadro 1 fornece uma

visão global do universo social dos doze informantes utilizados para o

desenvolvimento da pesquisa:

Quadro 1: Universo social dos informantes

Escolaridade Primário Colegial Primário Colegial Primário Colegial

Faixa etária J J A A B B

Sexo M F M F M F M F M F M F

Nº entrevistas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

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Como você pode ver, temos seis informantes do sexo feminino

e seis do sexo masculino; quanto à escolaridade também foi observada

a equiparação, ou seja, um informante do sexo feminino e um do

sexo masculino de cada faixa etária, preenchendo os dois níveis de

escolaridade.

4.5 Algumas Hipóteses

Geral

Na fala do florianopolitano, o objeto (dativo) indireto tende a se

realizar, preferencialmente, na forma tônica, tendo em vista o fato de

os clíticos estarem desaparecendo do sistema do português brasileiro.

Específicas

a) Quando o dativo se realiza na forma de clítico, tal realização ocorre

com maior frequência em construções em que o dativo se refere

à primeira e segunda pessoas do discurso. Quando ele se refere

à terceira pessoa, a realização se dá na forma tônica, já que os

clíticos de terceira pessoa praticamente desapareceram do sistema

do português brasileiro.

b) Com os verbos transitivos indiretos, o dativo se realiza

preferencialmente na forma tônica, pois esse tipo de verbo seleciona

apenas um argumento interno. Com os verbos bitransitivos, a

cliticização do dativo é mais recorrente quando o objeto direto

aparece expresso na sentença. Se este ocorre apagado, o dativo

se realiza na forma tônica.

c) Quando a forma verbal é complexa, o dativo se realiza na forma

tônica, pois os falantes têm dificuldades para posicionar o clítico

na frase (antes ou depois do verbo mais baixo, antes ou depois do

verbo mais alto). Com a forma simples, esperamos mais clíticos,

já que a sentença apresenta um só verbo.

d) Quanto ao tempo verbal, esperamos encontrar mais clíticos com

formas do subjuntivo.

e) Para os fatores sociais, postulamos: quanto maior o nível de

escolaridade, mais frequente será a realização do dativo na forma

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Linguística II: sociolinguística

220 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

de clítico. Quanto menor o grau de instrução, maior a frequência

do pronome tônico. Quanto mais elevada a faixa etária, maior a

frequência do clítico. Quanto menos elevada, menor a frequência

do clítico. Quanto ao fator sexo, não temos nenhuma expectativa.

4.6 Os resultados da pesquisa

Uma vez levantados os dados nas doze entrevistas e feita a

codificação, passamos para as rodadas estatísticas, utilizando para

tanto os programas do pacote VARBRUL (Pintzuk, 1988). Além

de calcular as frequências isoladas de cada fator de cada variável

postulada como relevante para o fenômeno investigado, o programa

calcula também os pesos relativos de todos os fatores, comparando o

efeito de todas as variáveis propostas, com o objetivo de estabelecer,

do ponto de vista estatístico, quais fatores dão conta da variação

do fenômeno a partir dos dados analisados. Ao fazer a análise

multifatorial, ainda seleciona numa ordem de importância os fatores

estatisticamente relevantes para a aplicação de determinada regra.

No presente estudo, é a realização do objeto indireto (dativo) na

forma de clítico.

4.6.1 Os fatores significativos

Feitas as rodadas, o corpus ficou assim constituído: 180

ocorrências de estruturas com o dativo, sendo que, em 49 ocorrências,

o objeto indireto se realiza na forma de clítico; e, em 131 ocorrências,

ele se realiza na forma tônica, revelando, portanto, um percentual de

27% de clíticos e 73% de pronomes tônicos. A pequena ocorrência

de clíticos, no corpus analisado, sustenta a nossa hipótese principal:

os falantes preferem realizar o dativo na forma de pronome tônico do

que na forma de clítico.

Veja, então, a tabela 1 com o cômputo geral dos dados,

distribuídos segundo as pessoas do discurso:

Clítico Tônico

Pessoa FrequênciaTotal/aplic. % Frequência

Total/aplic. %

1ª p. sing. 68/29 43 68/39 57

2ª p sing. 19/12 63 19/7 37

2ª p sing. (lhe) 5/5 100 5/0 0

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3ª p. sing. 40/1 2 40/39 98

1ª p. pl. 19/2 11 19/17 89

1ª p. pl. (a gente) 13/0 0 13/13 100

3ª p. pl. 16/0 0 16/16 100

Total 49 27 131 73

Tabela 1: Distribuição do objeto indireto conforme as pessoas do discurso

Esses resultados confirmam as nossas expectativas em relação

à resistência do clítico no PB: quando o dativo se realiza na forma de

clítico, verifica-se que tal realização privilegia a primeira e segunda

pessoas do discurso. O único caso em que o clítico foi categórico

(100%) envolve um clítico de função ambígua, o lhe, que pode ser

tanto usado para segunda quanto para terceira pessoa. Quanto à

terceira pessoa, o dativo se realiza, quase categoricamente, na

forma tônica, evidenciando, assim, o desaparecimento dos clíticos de

terceira pessoa no sistema dessa língua.

Dentre os grupos de fatores examinados e testados, apenas

dois mostraram-se estatisticamente significativos em relação à

aplicação da regra: em primeiro lugar, a pessoa do objeto indireto,

como mostra a tabela 2:

Pessoa/clítico FrequênciaTotal/aplic. % PR

2ª (sing.) /te-lhe 24/17 71 .95

1ª (sing.) / me 68/29 43 .80

1ª (pl.) / nos 32/2 6 .27

3ª (sing.) / lhe 56/1 2 .09

Tabela 2: Realização do objeto indireto na forma de clítico em função da variável Pessoa do discurso

Como você vê, os resultados são bastante significativos,

apontando para uma polarização no comportamento da primeira

(.80) e segunda (.95) pessoas versus a terceira pessoa (.09). Note

que a primeira pessoa, aquela que identifica o centro dêitico do ato

comunicativo, favorece o uso do clítico, enquanto a terceira pessoa

(P3) desfavorece. Quanto à segunda pessoa, observe-se que ela

tende a ser mais cliticizada (.95) do que a primeira pessoa do singular

(.80) e do plural (.27).

O segundo grupo de fatores estatisticamente relevante para

a realização do dativo na forma de clítico foi a realização ou não do

objeto direto:

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Linguística II: sociolinguística

222 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

Objeto direto Frequência Total/aplic. % PR

Apagado 38/18 23 .38

Não apagado 90/28 31 .61

Tabela 3: Realização do objeto indireto na forma de clítico em função da realização ou não do objeto direto

Você deve notar que, quando o objeto direto aparece expresso

na oração, o dativo tende a se cliticizar mais (. 61) do que quando o

objeto direto aparece apagado (.38). Esses resultados confirmam as

nossas hipóteses em relação a esse grupo de fator: quando os falantes

expressam os dois objetos exigidos pelo verbo, eles preferem colocar

um objeto antes e o outro depois do verbo, sendo que o anteposto se

realiza na forma de clítico.

Simultaneamente, em ordem decrescente, o programa

descartou os seguintes fatores: sexo, tempo verbal, escolaridade,

idade, forma verbal, tipo de objeto indireto e transitividade do verbo.

Mostraremos, a seguir, os cálculos de frequência e os percentuais de

cada um deles. Começaremos com os fatores linguísticos.

4.6.2 Os fatores linguísticos não-significativos

Em relação ao fator transitividade do verbo, a tabela 4

apresenta o número de ocorrências e seus respectivos percentuais.

Observe:

Clítico Tônico

Transitividade FrequênciaTotal/aplic. % Frequência

Total/aplic. %

Bitransitivo 169/46 27 169/123 73

Trans. Indireto 11/3 27 11/8 73

Tabela 4: Realização variável do objeto indireto em função datransitividade do verbo

Os resultados indicam que o número de construções com

verbos bitransitivos (169) é muito maior do que as construções com

verbo transitivo indireto (11). Entretanto, os percentuais não revelam

nenhuma diferença no que diz respeito à forma preferencial de

realização do dativo: 27% de dativos realizados na forma de clíticos,

tanto com verbos bitransitivos quanto com transitivos indiretos; 73%

de dativos realizados na forma de pronomes tônicos, para ambos os

tipos de verbos.

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223Letras VernáculasUESC

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ula

No que se refere à forma verbal, veja os números da tabela 5:

Clítico Tônico

Forma verbal FrequênciaTotal/aplic. % Frequência

Total/aplic. %

Composta 42/16 38 42/26 62

Simples 138/33 24 138/105 76

Tabela 5: Realização variável do objeto indireto em função da forma verbal

Dos 180 dados, 138 são verificados em construções simples e

42 em construções com mais de um verbo adjacente. Em ambas as

construções, o dativo se realiza preferencialmente na forma tônica.

No que se refere ao clítico, o resultado contraria a nossa hipótese.

Os percentuais revelam que ele é mais frequente em sentenças

compostas (38%) do que em sentenças simples (24%). Já com a

forma tônica há uma inversão: o tônico ocorre mais em sentenças

simples (76%) do que nas compostas (62%).

Com relação ao tempo verbal, os dados apontaram três tempos

mais recorrentes: em primeiro lugar, o pretérito perfeito do indicativo,

(72 casos); em segundo, o presente (44 casos); e, em terceiro, o

pretérito imperfeito (39 casos), ambos também do indicativo. Veja a

tabela 6:

Clítico Tônico

TempoFrequênciaTotal/aplic.

%FrequênciaTotal/aplic.

%

Presente ind. 44/11 25 44/33 75

Pret. Perf. Ind. 72/22 31 72/50 69

Pret. Imp. Ind. 39/6 15 39/33 85

Fut. pret. Ind. 5/1 20 5/4 80

Imp. Subjuntivo 5/3 60 5/2 40

Infinitivo 9/2 22 9/7 78

Fut. pres. Ind. 4/3 75 4/1 25

Fut. subjuntivo 2/1 50 2/1 50

Tabela 6: Realização variável do objeto indireto em função do tempo verbal

Dos tempos verbais mais recorrentes, note que o que mais

favorece o uso do clítico é o pretérito perfeito: (31%). Quanto ao

pretérito imperfeito do indicativo, perceba que há mais ocorrências

de dativos na forma tônica (85%) do que na forma de clítico (15%).

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Linguística II: sociolinguística

224 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

No que se refere aos outros tempos verbais, você pode ver que

o imperfeito do subjuntivo e o futuro do presente do indicativo

favorecem a realização do dativo na forma de clítico. Das ocorrências

encontradas com o imperfeito, 60% são de clíticos e 40% são de

tônicos. Com o futuro do presente do indicativo, constatamos 75% de

dativos na forma de clítico e apenas 25% na forma tônica.

4.6.3 Os fatores extralinguísticos não-significativos

No que diz respeito ao fator social sexo, não se verificou nenhum

contraste significativo, como mostram o número e o percentual de

ocorrências das variantes na tabela 7:

Clítico Tônico

Sexo FrequênciaTotal/aplic. % Frequência

Total/aplic. %

Masculino 94/25 27 94/69 73

Feminino 86/24 28 86/62 72

Tabela 7: Realização variável do objeto indireto em função do sexo do informante

Quanto ao fator escolaridade, veja a tabela 8:

Clítico Tônico

Escolaridade FrequênciaTotal/aplic. % Frequência

Total/aplic. %

Colegial 67/21 31 67/46 69

Primário 113/28 25 113/85 75

Tabela 8: Realização variável do objeto indireto em função da escolaridade do informante

Como esperávamos, realmente os falantes mais escolarizados

usam mais clíticos do que os informantes de nível escolar mais

baixo, já que o uso do clítico se deve à ação normativa da escola.

Do total de 49 clíticos, 31% estão presentes na fala daqueles com

grau colegial, e 25% estão presentes na fala dos informantes com

grau primário. Quanto à realização do dativo na forma tônica, das

131 ocorrências, 75% estão presentes na fala daqueles informantes

menos escolarizados, enquanto que 69% estão na fala dos mais

escolarizados.

Em relação à idade, verificamos a seguinte distribuição:

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225Letras VernáculasUESC

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Clítico Tônico

Idade FrequênciaTotal/aplic. % Frequência

Total/aplic. %

25 a 50 78/19 24 78/59 76

Até 25 64/17 27 64/47 73

Acima de 50 38/13 34 38/25 66

Tabela 9: Realização variável do objeto indireto em função da faixa etária do informante

Como estava previsto, os falantes mais jovens tendem a

realizar mais o dativo na forma tônica (76% e 73%) do que os mais

velhos (66%). Em relação aos clíticos, eles ocorrem em maior número

na fala dos informantes mais velhos (34%), enquanto que na fala dos

mais novos se observa um percentual mais baixo: 24% e 27%.

4.7 A “batalha”...

Pelos resultados da pesquisa, você viu que, realmente, duas

estruturas sintáticas estão em “competição” no português brasileiro,

ambas “batalhando” por um espaço na sintaxe dessa língua: o dativo

realizado na forma de clítico versus o dativo realizado na forma de

pronome tônico.

Embora o uso dos clíticos seja pouco frequente, a regra

considerada na pesquisa, você viu que, em algumas situações,

eles ainda resistem: quando o objeto indireto se refere à primeira

e segunda pessoas do discurso e quando o objeto direto aparece

expresso na sentença. Cumpre, então, fazermos a seguinte pergunta:

até quando irá essa resistência dos clíticos no português brasileiro?

O que é bastante evidente, como mostraram os resultados da nossa

investigação, é que a sobrevivência de tais elementos se vê ameaçada.

No caso pesquisado, o pronome tônico é a forma que compete com

o clítico. Esse tipo de substituição integra o conjunto de modificações

que vem sofrendo o sistema pronominal do português brasileiro.

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Linguística II: sociolinguística

226 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

ATIVIDADES

LEITURA RECOMENDADA

Para complementar esta aula, recomendo ler o livro de TARALLO, F. A Pesquisa

Sociolingüística. São Paulo: Ática, 1999.

1 Você deverá ler o texto em anexo, de Rosane de Andrade Berlinck, uma das referências utilizadas em minha pesquisa, e responder:

1.1 Qual foi a variável dependente investigada? Ela é binária ou eneária?

1.2 Quais foram as variáveis linguísticas pesquisadas? A autora considerou alguma variável extralinguística?

1.3 Qual foi o corpus utilizado?

1.4 Quais fatores se mostraram relevantes para a aplicação da regra padrão, aquela prescrita pela gramática normativa?

RESUMINDO

Nesta aula, você viu:

● Os procedimentos metodológicos necessários para a realização de pesquisa de cunho variacionista.

● Uma amostra prática de uma pesquisa dessa natureza.

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227Letras VernáculasUESC

9A

ula

RE

FE

NC

IAS

BERLINCK, R. de A. Sobre a realização do objeto indireto no português do Brasil. In: Anais do II Encontro do CELSUL (Círculo de Estudos lingüísticos do Sul). Florianópolis: UFSC, 1997. Disponível em CD.

BISOL, L.; BRESCANCINI C. (Orgs.). Fonologia e Variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2002.

NARO, A. J. Modelos quantitativos e tratamento estatístico. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística Variacionista: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-25.

OLIVEIRA E SILVA, G. M. Coleta de dados. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística Variacionista: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003, p.117-133.

PAIVA, M. da C. de. Transcrição de dados lingüísticos. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística Variacionista: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003, p. 135-146.

SCHERRE, M. M. P.; NARO, A. J. Análise quantitativa e tópicos de intepretação do Varbrul. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística Variacionista: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003, p. 147-177.

SILVEIRA, G. A realização variável do objeto indireto (dativo) na fala de Florianópolis. In: LETRAS de Hoje: A variação no sistema. Porto Alegre: EDIPUCRS. V. 35, n.1, 2000, p. 189 - 207.

TARALLO, F. A Pesquisa Sociolingüística. São Paulo: Ática, 1999.

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Linguística II: sociolinguística

228 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

SOBRE A REALIZAÇÃO DO OBJETO INDIRETO NO PORTUGUÊS DO BRASIL

Rosane de ANDRADE BERLINCK (Unesp-Araraquara/ CNPq)

0. Introdução

O complemento “objeto indireto” (OI) ou complemento dativo apresenta três possibilidades de realização no português brasileiro (doravante, PB): sintagma preposicionado (1a-b), pronome clítico dativo (1c) e categoria vazia (1d) 1, 2 .

(1) a. João deu o livro {para/a} Pedro. b. João deu o livro {para /a} ele. c. João deu-lhe o livro. d. João deu o livro [cv].

O presente estudo analisa as condições de ocorrência dessas possibilidades, em amostras de fala colhidas a partir de entrevistas informais 3 . A análise enfatiza os casos em que o complemento tem um valor anafórico (1b-d). A utilização da categoria vazia, representada em (1d), exige, no entanto, um comentário à parte. Nesse caso, há duas possibilidades de interpretação do complemento: ou ele se encontra numa relação de correferência com um elemento já mencionado anteriormente (valor anafórico), ou ele não se refere a uma entidade única e específica, permitindo uma interpretação arbitrária de seu referente. A análise contemplou essas duas possibilidades de realização, exemplificadas, respectivamente em (2a) e (2b).

(2) a. O Luís faz um ano que liga pra mim e eu não ligo pra ele. E eu preciso ligar [cv], mas é que eu sou tão relapsa. (19:550)

b. Você escutou rock’n roll do Jerry Adriani? Não é comercial. Você escutou do Jerry Adriani só o que é comercial. Eles só mostravam o que vendia [ cv]. (4:160)

Num primeiro momento da exposição, vou me limitar às realizações anafóricas do complemento. Em seguida serão discutidos os resultados obtidos na análise das categorias vazias com interpretação arbitrária.

1. A expressão anafórica do OI

Das três possibilidades de realização do OI com interpretação anafórica, a categoria vazia é aquela que predomina no conjunto de dados analisados, representando mais da metade das ocorrências: 57% (275 casos em 484). O pronome clítico é a segunda forma mais freqüente (26% - 126/484), restando ao sintagma preposicionado com pronome tônico a última posição em termos de uso (17% - 83/484). Esses resultados gerais, no entanto, são relativizados, quando cada um dos tipos de complemento é considerado segundo a pessoa gramatical que expressa . Os índices apresentados na Tabela 1 revelam um quadro bem mais complexo. Primeiramente, a categoria vazia constitui a forma predominante apenas para a 1a e a 3a pessoas. Quando a referência do complemento é de 2a pessoa, a maioria dos dados foi expressa por meio de um pronome clítico. Note-se ainda um contraste significativo entre pronome clítico e pronome tônico: enquanto o uso do primeiro praticamente se restringe às pessoas do discurso, o segundo aparece preferencialmente com a 3a pessoa gramatical.

Tabela 1. Forma do OI anafórico segundo a pessoa gramatical do complemento

tipo de complemento pronome clítico pronome tônico categoria vazia pessoa gramatical

ANEXO VII

SOBRE A REALIZAÇÃO DO OBJETO INDIRETO NO PORTUGUÊS DO BRASIL

Rosane de ANDRADE BERLINCK (Unesp-Araraquara/ CNPq)

0. Introdução

O complemento “objeto indireto” (OI) ou complemento dativo apresenta três possibilidades de realização no português brasileiro (doravante, PB): sintagma preposicionado (1a-b), pronome clítico dativo (1c) e categoria vazia (1d) 1, 2 .

(1) a. João deu o livro {para/a} Pedro. b. João deu o livro {para /a} ele. c. João deu-lhe o livro. d. João deu o livro [cv].

O presente estudo analisa as condições de ocorrência dessas possibilidades, em amostras de fala colhidas a partir de entrevistas informais 3 . A análise enfatiza os casos em que o complemento tem um valor anafórico (1b-d). A utilização da categoria vazia, representada em (1d), exige, no entanto, um comentário à parte. Nesse caso, há duas possibilidades de interpretação do complemento: ou ele se encontra numa relação de correferência com um elemento já mencionado anteriormente (valor anafórico), ou ele não se refere a uma entidade única e específica, permitindo uma interpretação arbitrária de seu referente. A análise contemplou essas duas possibilidades de realização, exemplificadas, respectivamente em (2a) e (2b).

(2) a. O Luís faz um ano que liga pra mim e eu não ligo pra ele. E eu preciso ligar [cv], mas é que eu sou tão relapsa. (19:550)

b. Você escutou rock’n roll do Jerry Adriani? Não é comercial. Você escutou do Jerry Adriani só o que é comercial. Eles só mostravam o que vendia [ cv]. (4:160)

Num primeiro momento da exposição, vou me limitar às realizações anafóricas do complemento. Em seguida serão discutidos os resultados obtidos na análise das categorias vazias com interpretação arbitrária.

1. A expressão anafórica do OI

Das três possibilidades de realização do OI com interpretação anafórica, a categoria vazia é aquela que predomina no conjunto de dados analisados, representando mais da metade das ocorrências: 57% (275 casos em 484). O pronome clítico é a segunda forma mais freqüente (26% - 126/484), restando ao sintagma preposicionado com pronome tônico a última posição em termos de uso (17% - 83/484). Esses resultados gerais, no entanto, são relativizados, quando cada um dos tipos de complemento é considerado segundo a pessoa gramatical que expressa . Os índices apresentados na Tabela 1 revelam um quadro bem mais complexo. Primeiramente, a categoria vazia constitui a forma predominante apenas para a 1a e a 3a pessoas. Quando a referência do complemento é de 2a pessoa, a maioria dos dados foi expressa por meio de um pronome clítico. Note-se ainda um contraste significativo entre pronome clítico e pronome tônico: enquanto o uso do primeiro praticamente se restringe às pessoas do discurso, o segundo aparece preferencialmente com a 3a pessoa gramatical.

Tabela 1. Forma do OI anafórico segundo a pessoa gramatical do complemento

tipo de complemento pronome clítico pronome tônico categoria vazia pessoa gramatical

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ula

1a. pessoa 38% (88/229) 8% (17/229) 54% (124/229) 2a. pessoa 61% (37/61) 18% (11/61) 21% (13/61) 3a. pessoa 0.5% (1/194) 28.5% (55/194) 71% (138/194) total 26% (126/484) 17% (83/484) 57% (275/484)

Embora as diferenças de comportamento apontadas na Tabela 1 indiquem a necessidade de se considerar essas distinções na análise de outros fatores, nem sempre elas se mantêm, quando se toma um parâmetro diferente de avaliação. É o que se dá com o fator papel temático do complemento, cujos resultados comento em seguida. A grande maioria dos dados (77%) se caracteriza por um papel temático [meta], o que se explica, em parte, pelo fato de os verbos dicendi serem os mais freqüentes na amostra analisada. Apesar de apresentarem um número relativamente mais reduzido de ocorrências, os papéis [beneficiário], [meta +beneficiário] 4 e [experienciador] estabelecem um contraste importante com os resultados obtidos para os casos de papel [meta], como se pode observar na Tabela 2.

Tabela 2. Forma do OI anafórico segundo o papel temático do complemento.

tipo de complemento pronome clítico pronome tônico categoria vazia papel temático meta 18% (68/374) 14.5% (54/374) 67.5% (252/374) beneficiário 54% (28/52) 29% (15/52) 17% (9/52) meta + beneficiário 48% (13/27) 11% (3/27) 41% (11/27) experienciador 65% (17/26) 27% (7/26) 8% (2/26)

Enquanto os casos de [meta] se realizam predominantemente como categoria vazia, os complementos com valor [beneficiário] e [experienciador] apresentam uma tendência inversa, sendo expressos em sua maioria por um pronome clítico. Percebe-se claramente que a forma pronome tônicoconstitui uma categoria intermediária, especialmente para os dois últimos tipos de papel temático. A categoria [meta + beneficiário] oscila entre uma e outra tendência, provavelmente como efeito de sua natureza híbrida. Se repensarmos os resultados da Tabela 2 em função daqueles apresentados na Tabela 1, podemos concluir que os OIs com valor [beneficiário] e [experienciador] têm uma referência de 1a ou de 2a pessoa. Já os casos de [meta] devem se distribuir entre a 1a e a 3a pessoas. De fato, o cruzamento dos dois fatores vem comprovar essa hipótese. A motivação para uma tal distribuição resta a determinar. Vale lembrar que o sistema pronominal do PB tem passado por um processo bastante profundo de mudança (cf. Omena,1981; Galves, 1984, 1989; Tarallo, 1983,1985; Duarte, 1989; Kato, 1991; Cyrino, 1993,1995), que inclui como tendência principal a forte diminuição do uso de pronomes clíticos, e o conseqüente aumento na utilização do pronome tônico e da categoria vazia em função de objeto. Os resultados obtidos na presente análise têm, necessariamente, de ser considerados nesse quadro mais amplo. Nesse sentido, seria possível sugerir que, no caso do OI, o processo de mudança atinge especialmente os casos em que o complemento tem um papel temático [meta] e uma referência de 3a pessoa.

A observação dos dados me levou a hipotetizar uma possível influência do tempo verbal na determinação da forma que o objeto indireto assume. A Tabela 3 apresenta esses resultados para os OIs com valor anafórico 5 . Algumas correlações merecem destaque. Se nas frases em que o verbo está no presente do indicativo observou-se um equilíbrio entre pronome clítico e categoria vazia, o mesmo não se dá nos demais tempos examinados. Para as formas do pretérito - perfeito e imperfeito - do indicativo, há uma predominância dos casos de categoria vazia. Já no caso do futuro do presente do indicativo, a maioria das ocorrências deu-se sob a forma de um pronome clítico. Tabela 3. Forma do OI anafórico segundo o tempo verbal expresso na frase.

tipo de complemento pronome clítico pronome tônico categoria vazia tempo verbal presente do ind. 37% (28/76) 26% (20/76) 37% (28/76) pret. perfeito do ind. 20% (54/271) 11% (30/271) 69% (187/271) pret.imperfeito do ind. 23% (11/47) 28% (13/47) 49% (23/47)

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Linguística II: sociolinguística

230 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

futuro do presente 60% (15/25) 16% (04/25) 24% (06/25) total 26% (108/419) 16% (67/419) 58% (244/419)

Esses resultados, por si só, pouco dizem. É necessário considerar o valor (ou valores) que cada um dos tempos expressa. É notório, por exemplo, o uso do presente do indicativo para indicar ações habituais ou ações e estados permanentes. Esse mesmo tempo pode ainda ter valor de futuro. Tanto para o presente, como para o imperfeito do indicativo o aspecto da duração é fundamental. O mesmo não se dá com o pretérito perfeito do indicativo, que expressa, na maioria das vezes, uma ação pontual e acabada. Como se vê, a análise do tempo verbal conduz naturalmente ao exame das noções aspectuais concretizadas na frase.

O aspecto verbal foi analisado aqui apenas no que se refere à noção de duração. Sigo o quadro aspectual proposto em Travaglia (1985:97), que aponta as seguintes distinções para o português: durativo, iterativo, indeterminado, habitual, pontual (ou ausência de duração) e não-realização de aspecto.Remeto a essa obra para uma definição detalhada de cada valor aspectual e limito-me a oferecer alguns exemplos retirados do corpus.

(3) a. Bom, vocês tão me devendo, porque vocês não tiram nota e vocês tão me devendo também, porque vão ser uns tapado quando crescer. (14:440) -- durativo --

b. O Luís faz um ano que liga pra mim e eu não ligo pra ele. (19:549) -- iterativo --

c. Por exemplo, me interessa muito coisas de estética, sabe? (22:659) -- indeterminado --

d.A psicóloga é bem isso. Ela deixa que você/ Ela se emociona, ela te dá apoio, mas ela deixa que você sinta a dor, que você sofra com aquilo, entendeu? (6:63) -- habitual --

e.Aí começou a me contar da vida dela. De repente ela me chama na sala dela e me mostra a fotografia de dois meninos. (3:666) -- pontual --

f. Eu vou emprestar uma fita pra ela depois pra gravar o resto. (17:704) -- não-realização de aspecto --

Os resultados da análise desse parâmetro estão indicados na Tabela 4. Por meio deles, ficam melhor caracterizados os contextos em que ocorrepreferencialmente uma ou outra forma de expressão do complemento. Embora não haja associação exclusiva entre um determinado aspecto e um certo tipo de complemento, os índices de freqüência sugerem algumas correlações. Assim, os pronomes clíticosaparecem mais ligados a contextos de aspecto durativo e não-realizado. Os pronomes tônicos não parecem se associar preferencialmente a nenhum dos aspectos, com resultados bastante similares para todos eles, com exceção do aspecto pontual. Nesse caso, o pronome tônico é a alternativa menos usada. As correlações mais acentuadas dizem respeito à categoria vazia. Os resultados não deixam dúvida quanto à associação dessa possibilidade de expressão do complemento e o valor aspectual pontual.Também os aspectos iterativo e habitual apresentaram um percentual relativamente mais alto de categorias vazias.

Tabela 4. Forma do OI anafórico segundo o aspecto verbal.

tipo de complemento pronome clítico pronome tônico categoria vazia aspecto durativo 46% (11/24) 29% (7/24) 25% (6/24) iterativo 31% (12/39) 20% (8/39) 49% (19/39) indeterminado (5/8) (1/8) (2/8) habitual 26% (9/35) 28.5% (10/35) 45.5% (16/35) pontual 19% (55/285) 11% (31/285) 70% (199/285)

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não-realizado 38% (35/93) 27% (25/93) 35% (33/93)

O último fator analisado para os casos de objeto indireto anafórico foi a distância entre o antecedente e o complemento anafórico. Esse parâmetro baseia-se diretamente no trabalho de Ariel (1988) sobre referência e acessibilidade. Nesse estudo, a autora defende a idéia de que diferentes expressões anafóricas correspondem a diferentes graus de acessibilidade da informação. O uso de uma ou de outra expressão seria um índice de que a entidade referida seria menos ou mais acessível ao destinatário da mensagem. Haveria ainda uma relação entre a quantidade de material fônico de cada expressão e seu grau de acessibilidade: entidades relativamente menos acessíveis necessitariam de uma expressão anafórica fonicamente mais “carregada” e vice-versa. Inspirada por essa idéia, decidi verificar se alternância entre OIs anafóricos lexicalizados e OIs representados por categorias vazias seguiria ou não esse princípio. Naturalmente, a análise da distância referencial é pertinente apenas para os casos de 3a pessoa gramatical. Os resultados vêm confirmar a hipótese estabelecida (cf. Tabela 5).

Tabela 5. Forma do OI anafórico segundo a distância entre o antecedente e o complemento.

tipo de complemento pronome tônico categoria vazia distância oração imediatamente anterior 23% (21/92) 77% (71/92) de 2 a 5 orações ant. 30% (25/84) 70% (59/84) de 6 a 9 orações ant. 50% (6/12) 50% (6/12) de 10 a 19 orações ant. (3/4) (1/4)

2. A categoria vazia com interpretação arbitrária

Vários dos fatores analisados em relação ao objeto indireto anafórico não são pertinentes quando o complemento se realiza na forma de uma categoria vazia com interpretação arbitrária. É o caso da pessoa gramatical e da distância referencial. Quanto ao fator papel temático do complemento, a análise revela que 84% dos casos de categoria vazia com interpretação arbitrária têm o valor semântico [meta]. Esse resultado vem reforçar o índice observado para as categorias vazias com valor anafórico, definindo o papel temático [meta] como marca de contexto típico de categorias vazias, tenham elas interpretação anafórica ou não, por oposição às demais possibilidades de expressão do complemento. Mas são os fatores tempo e aspecto verbal que fornecem as indicações mais significativas sobre o contexto em que as CVs de tipo arbitrário ocorrem. Os resultados do primeiro desses parâmetros mostram que os tempos presente e pretérito perfeito do indicativo reúnem a maioria dos casos de CV [arbitrária]: 37% (69/186) e 34% (63/186) dos dados, respectivamente. 13% das ocorrências aparecem em frases com imperfeito do indicativo e o restante se distribui em números pouco expressivos entre os demais tempos verbais. O fator aspecto verbal complementa as informações obtidas para o tempo, revelando os valores veiculados no contexto em que aparece a CV. Em consonância com os resultados descritos acima, as categorias vazias de tipo [arbitrário] ocorrem predominantemente em frases com valor habitual (33% - 60/180) ou pontual (34% - 62/180), e, em menor número, em sentenças sem realização de aspecto (18% - 32/180).

3. Conclusão

Os fatores analisados nesse estudo certamente não esgotam a caracterização das condições de ocorrência das várias alternativas de expressão do objeto indireto no português brasileiro. Acredito, porém, que algumas indicações relevantes foram obtidas. De uma maneira geral, ficou evidenciada a importância da categoria vazia, não só por constituir a forma mais freqüente pela qual o complemento se realiza, mas também pela associação que estabelece com o papel temático [meta] (seja ela anafórica ou de interpretação arbitrária), com os tempos presente, pretérito imperfeito e pretérito perfeito do indicativo e com os valores aspectuais pontual, habitual e iterativo. Os resultados apontam ainda caminhos que merecem ser explorados com maior profundidade. O fator distância entre o antecedente e o complemento anafórico é um deles, na medida em que indica a

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Linguística II: sociolinguística

232 Módulo 2 I Volume 5 EAD

Procedimentos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista: uma amostra prática

necessidade de superação do limite da sentença como espaço de análise. Os fatores tempo e aspecto verbal também exigem um maior detalhamento da investigação. Nesses três casos, fica claro que a variação da expressão do complemento não se resolve completamente no âmbito da estrutura argumental do verbo. Finalmente, vale salientar que a situação descrita constitui parte de um estudo mais amplo, que incluirá a análise da expressão do objeto indireto também em amostras de língua escrita e, posteriormente, numa perspectiva diacrônica.

NOTAS

1 A noção de categoria vazia vem de Chomsky (1981,1982) e deriva do “Princípio de Projeção”. Segundo esse princípio, le lexique spécifie les propriétés inhérentes des items lexicaux. En particulier, il détermine ce que j’appellerai les propriétés de marquage thématique des items lexicaux qui fonctionnent comme tête de construction (Chomsky 1987:80). As propriedades definidas no léxico, uma vez projetadas, são recuperáveis em todos os níveis de representação. Assim, essas propriedades, que incluem a subcategorização de complementos, devem estar necessariamente acessíveis também no nível do enunciado. Desse modo, a ausência “lexical” de um complemento não implica na sua ausência da estrutura argumental do verbo. Deve-se supor a existência de uma categoria vazia no lugar normalmente ocupado pelo complemento na estrutura frasal. Isso fica representado na sentença (1d) pelo símbolo [cv].

2 Para uma descrição detalhada e uma proposta de tipologia do objeto indireto ou dativo em português, ver também Andrade Berlinck (1996).

3 Os dados analisados provêm do corpus “A Fala dos Universitários de Curitiba”, composto de 20 horas de gravação. O mesmo corpus já serviu de base a análises anteriores (Andrade Berlinck 1988, 1989).

4 Estou chamando de [meta + beneficiário] os casos em que esses dois valores parecem estar simultaneamente presentes, como no exemplo abaixo: “Pois esse final de semana o Eric aparece com quatro filmes lá em casa. E um deles o Subway, né? Ele disse: ó, esse eu trouxe para vocês.” (2:1094)

5 A tabela 3 apenas apresenta os resultados dos tempos verbais mais freqüentes nos dados. Tanto os outros tempos do indicativo, assim como os tempos do subjuntivo, não perfizeram um número significativo de ocorrências.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE BERLINCK, R. de (1988) A Ordem V SN no Português do Brasil - Sincronia e Diacronia. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. ___ (1989) “A construção V SN no português do Brasil: uma visão diacrônica do fenômeno da ordem. In F. Tarallo (ed.) Fotografias Sociolingüísticas. Campinas,SP: Pontes. pp. 95-112. ___ (1996) “The Portuguese Dative”. InW. Van Belle & W. Van Langendonck (eds.) Case and Grammatical Relations Across Languages. The Dative. Vol. I: Descriptive Studies. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. ARIEL, M. (1988) “Referring and accessibility” Journal of Linguistics 24: 65-87. CHOMSKY, N. (1981) Lectures on Government and Binding. Dordrecht: Foris. ___ (1982) Some Concepts and Consequences of the Theory of Governmente and Binding. Linguistic Inquiry monograph, no 6. Cambridge, Mass.: MIT Press. ___ (1987) La Nouvelle Syntaxe. Concepts et conséquences de la Théorie du Gouvernment et du Liage. (trad. de Chomsky, 1982). Présentation et commentaire de A. Rouveret. Paris: Editions du Seuil. CYRINO, S. L. (1993) “Observações sobre a mudança diacrônica no português do Brasil: objeto nulo e clíticos. In I. Roberts & M.A.Kato (eds.) Português Brasileiro - uma viagem diacrônica. Campinas, SP: Editora da UNICAMP. pp. 163-184. ___ (1994) O objeto nulo no português do Brasil: um estudo sintático-diacrônico. Tese de Doutorado. UNICAMP.DUARTE, M.E.L. (1989) “Clíticos acusativos, pronome lexical e categoria vazia no Português do Brasil. In F. Tarallo (ed.) Fotografias Sociolingüísticas. Campinas,SP: Pontes. GALVES, C. C. (1984) “Pronomes e categorias vazias em Português do Brasil. Cadernos de Estudos Lingüísticos (IEL - UNICAMP), 7: 107-136.

necessidade de superação do limite da sentença como espaço de análise. Os fatores tempo e aspecto verbal também exigem um maior detalhamento da investigação. Nesses três casos, fica claro que a variação da expressão do complemento não se resolve completamente no âmbito da estrutura argumental do verbo. Finalmente, vale salientar que a situação descrita constitui parte de um estudo mais amplo, que incluirá a análise da expressão do objeto indireto também em amostras de língua escrita e, posteriormente, numa perspectiva diacrônica.

NOTAS

1 A noção de categoria vazia vem de Chomsky (1981,1982) e deriva do “Princípio de Projeção”. Segundo esse princípio, le lexique spécifie les propriétés inhérentes des items lexicaux. En particulier, il détermine ce que j’appellerai les propriétés de marquage thématique des items lexicaux qui fonctionnent comme tête de construction (Chomsky 1987:80). As propriedades definidas no léxico, uma vez projetadas, são recuperáveis em todos os níveis de representação. Assim, essas propriedades, que incluem a subcategorização de complementos, devem estar necessariamente acessíveis também no nível do enunciado. Desse modo, a ausência “lexical” de um complemento não implica na sua ausência da estrutura argumental do verbo. Deve-se supor a existência de uma categoria vazia no lugar normalmente ocupado pelo complemento na estrutura frasal. Isso fica representado na sentença (1d) pelo símbolo [cv].

2 Para uma descrição detalhada e uma proposta de tipologia do objeto indireto ou dativo em português, ver também Andrade Berlinck (1996).

3 Os dados analisados provêm do corpus “A Fala dos Universitários de Curitiba”, composto de 20 horas de gravação. O mesmo corpus já serviu de base a análises anteriores (Andrade Berlinck 1988, 1989).

4 Estou chamando de [meta + beneficiário] os casos em que esses dois valores parecem estar simultaneamente presentes, como no exemplo abaixo: “Pois esse final de semana o Eric aparece com quatro filmes lá em casa. E um deles o Subway, né? Ele disse: ó, esse eu trouxe para vocês.” (2:1094)

5 A tabela 3 apenas apresenta os resultados dos tempos verbais mais freqüentes nos dados. Tanto os outros tempos do indicativo, assim como os tempos do subjuntivo, não perfizeram um número significativo de ocorrências.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE BERLINCK, R. de (1988) A Ordem V SN no Português do Brasil - Sincronia e Diacronia. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. ___ (1989) “A construção V SN no português do Brasil: uma visão diacrônica do fenômeno da ordem. In F. Tarallo (ed.) Fotografias Sociolingüísticas. Campinas,SP: Pontes. pp. 95-112. ___ (1996) “The Portuguese Dative”. InW. Van Belle & W. Van Langendonck (eds.) Case and Grammatical Relations Across Languages. The Dative. Vol. I: Descriptive Studies. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. ARIEL, M. (1988) “Referring and accessibility” Journal of Linguistics 24: 65-87. CHOMSKY, N. (1981) Lectures on Government and Binding. Dordrecht: Foris. ___ (1982) Some Concepts and Consequences of the Theory of Governmente and Binding. Linguistic Inquiry monograph, no 6. Cambridge, Mass.: MIT Press. ___ (1987) La Nouvelle Syntaxe. Concepts et conséquences de la Théorie du Gouvernment et du Liage. (trad. de Chomsky, 1982). Présentation et commentaire de A. Rouveret. Paris: Editions du Seuil. CYRINO, S. L. (1993) “Observações sobre a mudança diacrônica no português do Brasil: objeto nulo e clíticos. In I. Roberts & M.A.Kato (eds.) Português Brasileiro - uma viagem diacrônica. Campinas, SP: Editora da UNICAMP. pp. 163-184. ___ (1994) O objeto nulo no português do Brasil: um estudo sintático-diacrônico. Tese de Doutorado. UNICAMP.DUARTE, M.E.L. (1989) “Clíticos acusativos, pronome lexical e categoria vazia no Português do Brasil. In F. Tarallo (ed.) Fotografias Sociolingüísticas. Campinas,SP: Pontes. GALVES, C. C. (1984) “Pronomes e categorias vazias em Português do Brasil. Cadernos de Estudos Lingüísticos (IEL - UNICAMP), 7: 107-136.

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233Letras VernáculasUESC

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___ (1989) “O objeto nulo no português brasileiro: percurso de uma pesquisa”. Cadernos de Estudos Lingüísticos, 17: 65-90. KATO, M.A. (1991) “The distribution of pronouns and null elements in object position in Brazilian Portuguese”, in W. Ashby et alii (eds.) Linguistic Perspectives on Romance Languages: selected papers from the XXI Linguistic Symposium on Romance Languages. Philadephia: J. Benjamins. OMENA, N. (1981) “Pronom personnel de la troisième personne: ses formes variantes en fonction accusative. In D. Sankoff & H. Cedergreen, Variation Omnbus.TARALLO, F. (1983) Relativization Strategies in Brazilian Portuguese. Ph. D. thesis. University of Pennsylvania: University Microfilms International. ___ (1985) “The filling of the gap: PRO-DROP rules in Brazilian Portuguese. In L. D. King & C.A. Maley (eds.) , Selected papers from the XIIIth Linguistic Symposium on Romance Languages. (Current Issues in Linguistic Theory, 36). Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins.

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Suas anotações

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